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Hanseníase Conceito: doença infectocontagiosa – Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, que e acomete principalmente pele e/ou nervos periféricos. Afeta quase todos os órgãos e sistemas em que existam macrófagos, exceto SNC. É crônica, com períodos de agudização ¨reações¨, granulomatosa, curável. OMS: define como caso de hanseníase aquela pessoa que apresente 1 ou + das seguintes características: (1) lesão(ões) de pele com alteração da sensibilidade; (2) acometimento de nervo(s) com espessamento neural; (3) baciloscopia positiva para M. leprae (no entanto, a baciloscopia negativa não afasta o diagnóstico). Notificação compulsória em todo território nacional e é de investigação obrigatória. Atinge todas as idades; Ambos os sexos; Raramente ocorre em crianças abaixo de 5 anos. Mycobacterium Leprae - bacilo álcool- ácidoresistente; É parasita intracitoplasmático de macrófagos e apresenta tropismo pelas células de Schwann, células da pele e da mucosa nasal; Ciclo evolutivo lento (11 a 16 dias); Incubação de anos, em média de 2 - 5 anos, podendo ser de meses a mais de 10 anos; Preferencia por temperaturas mais baixas (<36,5°) Podem ser observados isolados ou em agrupamentos característicos denominados globias, que se encontram unidos por uma substancia denominada gleia; O M.Leprae não cresce em culturas. O homem é considerado o único reservatório natural do bacilo e a principal fonte de infecção; As vias aéreas superiores constituem a principal via de inoculação e eliminação do bacilo; Soluções de continuidade na pele eventualmente podem ser porta de entrada da infecção, já que o bacilo não é capaz de penetrar a pele íntegra; A infectividade é elevada, embora sua patogenicidade seja relativamente baixa. Introdução Epidemiologia Agente etiológico Transmissão Após a penetração do M. Leprae, inicia-se uma luta entre o bacilo e as defesas do individuo, sendo o resultado - grau de patogenicidade. Rabello (1938) definiu tipos polares, isto é, um polo benigno (hanseníase tuberculoide - HT) e um maligno (hanseníase virchowiana - HV); Se o sistema linfócito-macrofágico é competente (imunulógico), a pessoa infectada não adoece, ou seja, estabelece-se uma infecção subclínica demonstrada por testes imunológicos (MIF - fator inibidor da migração de macrófagos, transformação blástica, e outros), culminando com a eliminação dos bacilos. No entanto, se essas defesas forem parcialmente deficientes, surge a forma indeterminada ou incaracterística (I), podendo assim permanecer por meses ou anos, até que sofra uma definição imunopatológica no sentido da cura ou de evolução para um dos polos da doença (HT ou HV) ou para um tipo que incluiria aqueles pacientes imunologicamente mais instáveis, com características dos polos tuberculoide e virchowiano, a hanseníase dimorfa ou borderline (HD). Outra possibilidade é a de a doença estabelecer-se desde o princípio, de maneira definida, ou seja, ab initio, no sentido do polo tuberculoide ou no sentido do polo virchowiano. A tendência natural dos pacientes multibacilares é a evolução para o polo virchowiano que, devido à grande carga bacilar, acaba por deprimir ainda mais a imunidade celular. A capacidade de resistência à infecção baseia-se na capacidade de o macrófago lisar ou não o M. leprae. A característica maior da HV é a incapacidade de os macrófagos lisarem o M. leprae, decorrendo daí a transformação do macrófago em célula de Virchow, que nada mais é do que um macrófago com grande quantidade de M. leprae. Por outro lado, os macrófagos dos indivíduos infectados sem doença, ou de pacientes com HT, são capazes de lisar o M. leprae. Após a entrada do M. leprae pelas vias respiratórias, e caso o sistema imunitário seja incapaz de deter a doença nessa fase, haverá invasão dos gânglios linfáticos, de onde partem êmbolos micobacterianos que passam a se localizar na pele e/ou nos nervos periféricos, produzindo os primeiros sintomas da doença. Etiopatogenia @isabeldantasdias Esse início, na maioria dos casos, ocorre de maneira insidiosa e eminentemente crônica (tempo de incubação, em média, de 2 a 5 anos); tende a ser mais precoce na forma tuberculoide, pois as manifestações clínicas são decorrentes da atividade da imunidade celular. Ao contrário, na forma virchowiana, as manifestações clínicas são principalmente decorrentes da existência do bacilo e, portanto, há necessidade de tempo maior para que a multiplicação bacilar leve às manifestações clínicas. Em alguns casos, os êmbolos bacterianos são tão numerosos que provocam uma verdadeira bacilemia e, então, o início ocorre de maneira abrupta, como um quadro agudo de infecção ou de autoagressão grave. A defesa do hospedeiro contra o bacilo pode ser inata ou adaptativa (imunidade celular e humoral). A imunidade inata desempenha papel importante na resposta inicial ao M. leprae. Os receptores toll-like (TLR) fazem parte desta, sendo importantes no reconhecimento dos patógenos pelas células dendríticas e macrófagos. Os TLR são proteínas transmembrana que reconhecem sequências de aminoácidos de microrganismos, induzindo à produção de IL-12, responsável pela resposta Th1. Na hanseníase, existem evidências da participação dos TLR 1, 2 e 4. Este último parece ser importante no reconhecimento da micobactéria. A fagocitose do M. leprae pode ocorrer diretamente pelos macrófagos ou ele pode ser apresentado pelas células dendríticas (células de Langerhans – CL), queratinócitos, células de Schwann e células endoteliais a linfócitos T. Bacilos no interior dos macrófagos induzem sua ativação, resultando na produção de IL-1, TNF-α e IL-12 que, por sua vez, atuam sobre linfócitos T CD4+. Estes então vão produzir IFN-γ, que estimula ainda mais a ativação macrofágica. Dependendo da subpopulação de linfócitos T que for estimulada, haverá predominância de mecanismos de contenção ou disseminação da infecção. Assim, no polo tuberculoide, predomina uma resposta celular Th1, com liberação de citocinas como IL-2, IFN[1]γ, TNF-α e IL-12. Já no polo virchowiano, há predomínio de resposta Th2, com liberação de citocinas IL-4, IL-6 e IL-10, que diminuem a ativação de macrófagos e estimulam linfócitos B e mastócito. Com relação à imunidade humoral, o paciente apresenta anticorpos séricos específicos contra o M. leprae, como o anti-PGL1 que apresenta níveis elevados nas formas bacilíferas e baixo ou negativo nas apresentações paucibacilares. Um quadro sorológico reacional inespecífico a diversos antígenos é demonstrado pelo aumento dos anticorpos antilipídicos (VDRL positivo), assim como encontram-se presentes o fator reumatoide, antiestreptolisina O, anticorpos antitireoglobulina, anticélulas germinativas, antinucleares (FAN, células LE), antipele (intercelular, tipo pênfigo, e membrana basal, tipo penfigoide) e com níveis elevados de imunoglobulinas. 3 classificações diferentes: Classificação de Madri: considera critérios de ordens clínica, imunológica, bacteriológica, histopatológica e evolutiva. Consideram-se 2 polos estáveis e opostos (virchowiano e tuberculoide) e 2 grupos instáveis (indeterminado e dimorfo), que pode evoluir para qualquer tipo polar da hanseníase, permanecer como tal ou curar-se espontaneamente. Classificação de Ridley e Jopling: Nessa classificação, a apresentação dimorfa ou borderline se divide em 3 subgrupos: borderline-tuberculoi-de (BT), borderline- borderline (BB) e borderline-lepromatoso (BL). As apresentações polares tuberculoide e virchowiana são denominadas tuberculoide (TT) e lepromatosa (LL). Classificação operacional: A OMS, adotou uma classificação operacional para o tratamento dos pacientes com base no número de lesões de pele. São considerados casos paucibacilares (PB) aqueles com até 5 lesões de pele, e multibacilares (MB) aqueles com mais de 5 lesões de pele. No caso da disponibilidade do exame baciloscópico, a positividade com qualquer número de lesões faz com que o caso seja considerado MB. Paucibacilares e multibacilares, por sua vez, serão tratados com esquemas diferentes. Sistemas de classificação1. 2. 3. Hanseníase indeterminada (HI): em geral, é a forma Clínica ATENÇÃO!! Qual a outra doença causada por uma micobactéria, que o pact pode ter sido infectado, mas não adoeceu? Exatamente - a TUBERCULOSE! E é assim que a Hanseníase deve ser lembrada - uma doença semelhante à tuberculose. Inclusive a própria transmissão se dá pela via respiratoria! A diferença está ·basicamente no tipo de lugar que esta bactéria “gosta” de fazer lesão! Podemos marcar a hanseníase como uma doença de duplo acometimento: dermatoneurológica! E se tivermos um sinal marcante para destacarmos na hanseníase, este é, sem dúvidas, a perda de sensibilidade nas áreas afetadas pelas lesões (ou em outras áreas inervadas por nervos periféricos)! inicial da doença. Caracteriza-se por manchas hipocrômicas ou eritemato-hipocrômicas com hipoestesia. Geralmente, são poucas lesões, as bordas podem ter boa ou má definição e não há local preferencial. Em crianças, é comum a localização na face e nos membros inferiores. Não há comprometimento de troncos nervosos, apenas ramúsculos nervosos cutâneos. A baciloscopia é negativa. Diagnostico diferencial: pitiríase alba, pitiríase versicolor, vitiligo, pinta, leucodermia gutata, nevo acrômico, nevo anêmico, hipomelanose idiopática do tronco, entre outros. Hanseníase tuberculoide (HT): as lesões podem apresentar aspecto papuloso ou tuberoso, na maior parte das vezes agrupando-se em placas, de tamanhos variados, com uma boa delimitação. Outras vezes, formam lesões circinadas ou anulares, assimétricas, quase sempre únicas ou pouco numerosas A hipo ou anestesia é precoce e sempre ocorre. Em geral, o comprometimento neurítico é de um ou poucos nervos. A neurite normalmente se apresenta com um quadro agudo de dor intensa e edema, sem que haja, a principio, comprometimento funcional do nervo. Contudo, a lesão se torna crônica e passa a evidenciar o dano, identificado por anidrose e ressecamento cutâneo; alopecia; alteração sensitiva (na ordem em que é perdida: térmica, dolorosa e tátil) e motora, cursando com dormência e perda da força muscular. Em raros casos (elevada resistência), pode haver necrose do nervo (neurite coliquativa, impropriamente chamada abscesso de nervo). O sinal de raquete (fig.7) é caracterizado por um nervo espessado que forma um trajeto a partir de uma lesão cutânea, em geral mais perceptivos nas reações. Os principais troncos nervosos periféricos acometidos na hanseníase são: Face – Trigêmio e Facial: podem causar alterações na face, nos olhos e no nariz; Braços – Radial, Ulnar e Mediano: podem causar alterações nos braços e nas mãos; Pernas – Fibular e Tibial: podem causar alterações nas pernas e nos pés. E as suas consequências estão descritas abaixo: Hanseníase dimorfa ou borderline: as lesões são infiltradas e a cor varia do eritema à coloração ferrugínea. Lesões anulares com borda interna nítida e externa apagada (denominadas “esburacadas” ou em “queijo suíço”) são encontradas com frequência. Sua distribuição é assimétrica. Eventualmente, a infiltração de um único lóbulo auricular sela o diagnóstico. Alguns casos apresentam muitas características da apresentação virchowiana e outros exibem características da tuberculoide; ainda, podem existir lesões com características de ambas as apresentações no mesmo paciente O comprometimento dos nervos é assimétrico e a instabilidade imunológica faz com que, nesses pacientes, os episódios reacionais sejam frequentes. As lesões neurais são precoces, assimétricas e, com frequência, levam a incapacidades físicas. Hanseníase virchowiana (HV): Esta é a forma multibacilar da hanseníase (também chamada de lepra ou hanseníase lepromatosa). É caracterizada por lesões cutâneas eritematoinfiltradas com limites externos pouco nítidos. A cor das lesões é eritematoacastanhada e eritematoamarelada; Na pele, descrevem-se máculas, pápulas; Tubérculos e nódulos ocorrem com frequência. São, em geral, simétricas e localizam-se em praticamente todo o corpo. Na face, as infiltrações com madarose sem queda de cabelo, produzem a chamada fácies leonina. Os pavilhões auriculares, sobretudo os lóbulos, apresentam-se infiltrados; ocorre madarose (queda dos terços externos dos supercílios) bilateral. A anestesia é mais tardia, “em luva” ou “em bota”, bilateral; É comum a polineurite simétrica. As mucosas nasal, orofaríngea e ocular apresentam-se infiltradas; podendo afetar, ainda, os linfonodos, o fígado e o baço (hepatoesplenomegalia) Pode haver adenopatia e comprometimento de outros órgãos (laringe, testículos, baço, fígado, dentre outros). São sinais precoces de HV a obstrução nasal, rinorreia serossanguinolenta e edema de membros inferiores. A HV apresenta baciloscopia fortemente positiva (multibacilar). Chamamos a atenção para algumas variedades da hanseníase virchowiana: *Forma difusa: ¨Hanseníase de Lucio¨ - diferencia-se pela ausência das lesões características da hanseníase (placas, tubérculos etc.). O tegumento apresenta-se como uma única infiltração, conferindo à pele um aspecto luzidio (hanseníase bonita de Latapi); com perda dos pelos e alterações sensitivas. Nestes pacientes, embora não exclusivamente neles, foram descritas lesões necróticas de aparecimento súbito (fenômeno de Lucio). *Forma histoide: É caracterizada por lesões que lembram, clínica e histologicamente, dermatofibromas (Azulay e Wade). É rica em bacilos e, algumas vezes, há relato em pacientes resistentes à terapia. Lesões histoides podem também ser encontradas nas ocorrências habituais da forma virchowiana; por vezes formam placas e lesões molusco-símile. Hanseníase na infância: é possível observar todas as Os quadros reacionais da hanseníase podem ocorrer antes, durante ou após a instituição do tratamento específico. São fenômenos agudos que interrompem a evolução crônica da doença. Vários fatores desencadeantes foram correlacionados com as reações (infecções intercorrentes, estresse, trauma físico ou psicológico, contraceptivos orais e outras substâncias, vacinas), contudo, sem comprovação por estudos clínicos controlados. Os eventos reacionais podem incidir em qualquer uma das manifestações clínicas, exceto na HI e nas formas polares da doença. Reação tipo 1: A reação tipo 1 corresponde a um súbito aumento da imunidade mediada por células, constituindo um exemplo típico da reação de hipersensibilidade tardia in vivo, reação tipo IV na classificação de Gell e Coombs. Tem sido observada em pacientes com AIDS, em torno do terceiro mês de iniciado o tratamento antirretroviral, na síndrome inflamatória de reconstituição imune. As lesões cutâneas preexistentes tornam-se mais eritematosas, intumescidas, edematosas e infiltradas e nos casos mais graves podem ulcerar. Os sintomas sistêmicos variam (geralmente uma febre baixa). Os limites das lesões tornam-se mais evidentes e definidos apresentações de hanseníase. Existe uma variante particular do tipo tuberculoide, que acomete crianças de 1 a 4 anos de idade, chamada impropriamente de hanseníase nodular infantil (Souza Campos, 1937), caracterizada por lesão tuberonodular e não por um nódulo. Em geral, é única, ocorrendo com maior frequência na face. No entanto, podem ocorrer casos com mais de uma lesão e localização em outras partes do corpo. Uma característica importante é a involução espontânea, deixando cicatriz atrófica. Quando a manifestação clínica é a da hanseníase virchowiana, pode haver grave repercussão no desenvolvimento da criança. Reações 1. Novas lesões com as mesmas características podem surgir. Pode ocorrer hiperestesia ou acentuação da parestesia sobre as lesões cutâneas. Intumescimento e dor espontânea ou à palpação dos troncos nervosos caracterizam a neurite aguda, que pode acarretar deficiência sensorimotora permanente. As neurites podem ser silenciosas, ou seja, o dano funcional do nervo se instala sem quadro clínico de dor e espessamento do nervo. Reação do tipo 1 Reação do tipo 2: A reação tipo 2 é reconhecida como alteração da imunidade humoral, sendo um exemploda reação por complexos imunes circulantes e que corresponde à hipersensibilidade tipo III de Gell e Coombs. A reação tipo 2 acomete pacientes virchowianos e dimorfo-virchowianos. Podemos observar o aparecimento de pápulas, nódulos e placas, eritematosas ou eritematovioláceas, dolorosas, na pele de aspecto normal, distribuindo-se universalmente em todo o corpo, com preferência pelas superfícies extensoras dos membros e face. Essas lesões podem evoluir raramente com necrose central (eritema nodoso necrosante. Simultaneamente, há sintomatologia sistêmica e manifestações extracutâneas, podendo ocorrer febre, mal-estar, hiporexia, perda de peso, neuropatia, orquiepididimite, glomerulonefrite por imunocomplexos, miosite, artralgia, artrite de grandes articulações, sinovite, dactilite, dores ósseas, iridociclite e uveíte, comprometimento da faringe, laringe e traqueia. Hepatoesplenomegalia, infartamento ganglionar generalizado, edema acrofacial ou generalizado, rinite e epistaxe podem ser observados. Fenômeno de Lucio: Após o início da PQT, o quadro se resolve e não há repetição, o que difere dos quadros reacionais tipos 1 e 2. O fenômeno de Lucio pode ocorrer nos pacientes de hanseníase de Lucio e em virchowianos. Pode variar de um quadro discreto, com poucas lesões, até casos que chegam ao óbito. Clinicamente, caracteriza-se por máculas eritematopurpúricas que evoluem formando escaras castanho-escuras finas, as quais, ao se desprenderem, podem ou não deixar área cicatricial, dependendo da extensão da necrose. De configuração variável (poligonais, estelares e triangulares), acomete, em ordem decrescente, pés, pernas, mãos, antebraços, coxas e braços, e também nádegas, tronco, pavilhões auriculares e, raramente, face. 1. 2. 3. As lesões podem ser dolorosas, enegrecidas (necróticas), com bordas talhadas a pique. Trata-se, fundamentalmente, de um processo trombótico-oclusivo. Caracteriza-se por trombose de pequenos vasos da derme superior e média, resultando em ulceração da epiderme; @ISABELDANTASDIAS Fametro/Medicina Referência Azulay, 7°edição Podem ocorrer antes mesmo do aparecimento das lesões cutâneas por meio de sensações parestésicas nas extremidades, embora sejam mais frequentes as alterações progressivas de sensibilidade (térmica, dolorosa e tátil) nas lesões; outras vezes, as neurites acompanham os quadros reacionais. O acometimento neurológico ocorre apenas nos nervos periféricos; as terminações nervosas sensitivas, motoras e autonômicas da pele estão comprometidas nas áreas das lesões. Os troncos nervosos também podem ser afetados. A reação inflamatória causa o espessamento dos nervos, que pode ser comprovado pela palpação. Os nervos acometidos com maior frequência são: cubital, ciático, poplíteo externo, radial, mediano, tibial posterior e auricular. A neurite hansênica é, muitas vezes, intensamente dolorosa, e é um dos maiores fatores de risco para o aparecimento de incapacidades. O acometimento neurológico ocorre em qualquer das formas clínicas da hanseníase; contudo, não observamos distúrbios motores e tróficos na indeterminada, pois constituem as alterações mais tardias da doença. Testar a sensibilidade é etapa essencial e deve incluir principalmente olhos, mãos e pés. A pesquisa da sensibilidade nas lesões deve comparar a área suspeita e a área contralateral sadia. Em resumo, teremos: distúrbios sensitivos (Sensações parestésicas nos casos iniciais e depois hipoestesia e anestesia) , motores ( paralisias e amiotrofias), tróficos (Mal perfurante plantar, panarício analgésico, reabsorção óssea dos dígitos) e distúrbios vasomotores e secretórios (Perda de pelos nas lesões, diminuição ou abolição da sudorese (anidrose) e do reflexo de vasodilatação (resposta incompleta à pilocarpina e à histamina). Quando o acometimento neural não é diagnosticado precocemente e o seu tratamento não é realizado de maneira adequada, podem ocorrer as complicações mais temidas – incapacidades e deformidades, que também são responsáveis pelo estigma da doença Para definir incapacidade, é necessário realizar o teste de sensibilidades usando o conjunto de monofilamentos de Semmes-Weinstein (6 monofilamentos: 0,05 g, 0,2 g, 2 g, 4 g, 10 g e 300 g) nos pontos de avaliação das mãos e pés. Caso não haja disponibilidade dos monofilamentos, use a ponta de uma caneta esferográfica. Na avaliação dos olhos, é usado o fio dental sem sabor. Grau 0. Nenhum problema com os olhos, mãos e pés devido à hanseníase. Manifestações neurológicas Grau de incapacidade Grau I. Olhos: diminuição ou perda da sensibilidade. Mãos e pés: diminuição ou perda da sensibilidade (não sente 2 g ou toque da caneta) Grau II. Olhos: lagoftalmo e/ou ectrópio; triquíase; opacidade corneana central; acuidade visual menor que 0,1 ou não conta dedos a 6 m. Mãos: lesões tróficas e/ou lesões traumáticas, garras, reabsorção, mão caída. Pés: lesões tróficas e/ou traumáticas, garras, reabsorção, pé caído, contratura do tornozelo. É necessário fazer o diagnóstico da doença e o diagnóstico da forma clínica. O diagnóstico da hanseníase é eminentemente clínico pelo estudo pormenorizado das lesões cutâneas e do acometimento neurológico. Os exames complementares da bacterioscopia, histopatologia da lesão cutânea e, por exceção, do nervo periférico e o teste de Mitsuda (hoje já não é utilizado rotineiramente) auxiliam na classificação que vai orientar o tratamento do paciente. O diagnóstico dos distúrbios neurológicos é realizado pela palpação dos nervos à procura de espessamento e pela pesquisa da sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. Lesão cutânea com diminuição ou ausência da sensibilidade torna possível, com muita segurança, o diagnóstico da doença, que pode ser corroborado pelos testes de histamina (ausência do eritema pseudopódico) e/ou da pilocarpina (anidrose). A baciloscopia é o exame com plementar mais útil no diagnóstico. Deve ser feito com a linfa obtida em pelo menos quatro locais (lóbu los das orelhas direita e esquerda, cotovelos direito e esquerdo) e em lesão cutânea suspeita. A coloração é feita pelo método de Ziehl-Neelsen e apresenta-se o resultado sob a forma de Índice Baciloscópico (IB), numa escala que vai de 0 a 6+. A baciloscopia mostra-se negativa (IB = 0) nas formas tuberculoide e indeterminada, forte mente positiva na forma virchowiana e revela resultado variável na forma dimorfa. A definição do esquema antimicrobiano para hanseníase depende da classificação operacional do caso, baseada no número de lesões cutâneas: Paucibacilares (PB) (formas tuberculoide e indeterminada) – casos com até cinco lesões de pele; 3 DROGAS durante 6 meses. Multibacilares (MB) (formas dimorfa e virchowiana) – casos com mais de cinco lesões de pele (seis ou mais); 3 DROGAS durante 12 meses. PS:.A baciloscopia positiva classifica o caso como multibacilar, independentemente do número de lesões. Diagnóstico Tratamento
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