Prévia do material em texto
PEDRO SANTOS – PROLIFERAÇÃO CELULAR CÂNCER DE COLO DO ÚTERO CONCEITO O câncer de colo uterino é um dos mais frequentes dos tumores malignos ginecológicos, contudo, é facilmente acessível ao diagnóstico precoce e, condicionado pela sua histologia e tipo de disseminação linfática, é passível a um tratamento curativo. EPIDEMIOLOGIA Estimativas de novos casos: 16.590 (2020 - INCA) Número de mortes: 6.596 (2019 - Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM) FATORES DE RISCO Exposição ao HPV, em especial os de alto risco (16,18, 33, 35 e 38): 75% dos casos de colo uterino tem relação com o HPV, sendo este, então, o principal fator de risco para o câncer de colo uterino; Início da atividade sexual precoce, antes dos 16 anos: quanto mais cedo o início da atividade sexual acontecer, maior será a chance de desenvolver agressões ao epitélio e um processo inflamatório ginecológico, que podem repercutir, em um tempo não muito longo, em lesão maligna; Multiparidade: quanto maior o número de filhos, mais propenso a chance de desenvolver câncer de colo uterino. Principalmente, o tumor se desenvolve a partir de partos mal assistidos, como aqueles realizados por parteiras. Nestes casos, quando há lesão do colo, dificilmente será feita a colorrafia (sutura da lesão do colo), o que leva a uma cicatrização por segunda intenção, gerando uma área desvitalizada e sem irrigação. Com o advento de traumas ou partos subsequentes, os processos inflamatórios vão se instalando em locais já previamente alterados do ponto de vista histológico, servindo como uma área de propensão ao câncer de colo uterino; Múltiplos parceiros: principalmente, aqueles parceiros não circuncisados; Fatores socioeconômicos, educacionais e culturais: a maioria dos pacientes de baixa renda apresenta receio ao exame clínico, principalmente, quando se trata de sangramento intermenstrual, o que dificulta o diagnóstico; Substância cancerigêna do esmegma e sêmen (histona e porfirina); Infecções ginecológicas não tratadas convenientemente; Pólipo cervical; Fatores genéticos. SINAIS E SINTOMAS O câncer do colo do útero é uma doença de desenvolvimento lento, que pode não apresentar sintomas em fase inicial. O sintoma mais acusado pela paciente é uma perda sanguínea vaginal começando com uma sinusorragia, com aumento gradativo do sangramento, que é proporcional ao crescimento da tumoração, podendo chegar a um quadro de hemorragia. Quando o tumor já é avançado, aparece um corrimento seroso definido como água de carne, fétido devido à necrose e à infecção da tumoração. As principais manifestações clínicas de pacientes sintomáticas são: Corrimento de odor fétido; Sangramento intermenstrual; Dispareunia (dor ao ato sexual); Sinusorragia (sangramento durante o ato sexual): pode ser causada por lesões durante o coito ou devido à neovascularização tumoral. PEDRO SANTOS – PROLIFERAÇÃO CELULAR Dor epigástrica e dor pélvica aparecem quando o tumor está em fase mais avançada. Edema dos membros inferiores também caracteriza fase avançada da doença e é causado por obstrução do fluxo linfovascular. PATOLOGIA Cerca de 90% dos tumores de colo uterino (carcinomas cervicais) são carcinomas epidermoides (de células escamosas). Os outros 10% são variantes como adenocarcinomas e, raramente, sarcomas, linfomas ou melanoma. Com relação ao carcinoma epidermoide, existem alguns variantes mais agressivos como o carcinoma mesonéfro (ou de células claras) e o carcinoma adenoescamoso. Esta agressividade é maior por conta da própria biologia tumoral, sendo menos responsivos ao tratamento. A patologia dos carcinomas cervicais é dividida de acordo com suas características macroscópicas e microscópicas. Nem o carcinoma in situ nem o carcinoma oculto do cérvice exibem anormalidades à apresentação. Embora as lesões visíveis possam ser classificadas como endofíticas ou exofíticas, as características microscópicas dizem respeito às alterações morfológicas e identificam o tipo celular no qual o carcinoma teve origem. Os principais subtipos histológicos são: Carcinoma Epidermoide, Verrucoso, Adenoescamoso, Adenocistico, Ca. De Células Claras ou Mesonefro, De Pequenas Células, Ca. Basaloide, Adenocarcinoma, Sarcoma, Linfoma e Melanoma. DETECÇÃO PRECOCE A detecção precoce do câncer é uma estratégia para encontrar um tumor numa fase inicial e, assim, possibilitar maior chance de tratamento. Ela pode ser feita por meio da investigação com exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos, de pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença (diagnóstico precoce), ou com o uso de exames periódicos em pessoas sem sinais ou sintomas (rastreamento) pertencentes a grupos com maior chance de ter a doença. Existe uma fase pré-clínica (sem sintomas) do câncer do colo do útero, em que a detecção de lesões precursoras (que antecedem o aparecimento da doença) pode ser feita através do exame preventivo (Papanicolaou). Quando diagnosticado na fase inicial, as chances de cura do câncer cervical são de 100%. COLPOCITOLOGIA (Citopatológico = Papa Nicolau = Preventivo) É o exame de rastreio padrão para o câncer de colo uterino (e não para diagnóstico definitivo). Portanto, a finalidade da colpocitologia se resume em definir lesões suspeitas que serão candidatas à colposcopia (exame este que tem a finalidade de guiar a biópsia, fundamental ao diagnóstico). Quando colher: Ministério da Saúde: 1x por ano e, após 2 resultados negativos (consecutivos e normais), colher a cada 3 anos. Iniciar para mulheres entre 25 e 64 anos, após ter iniciado a vida sexual (sexarca). Situações especiais: Gestante: faz-se o protocolo igual, sem alterações. O MS considera, inclusive, a gestação como para colher o exame, aproveitando o pré-natal. HIV positiva: devido à situação de baixa imunidade, deve-se colher de 6 em 6 meses no 1º ano após a sexarca e, logo então, colher anualmente (exceção: se a mulher com HIV tiver CD4 < 200, devemos continuar o rastreio de 6 em 6 meses, até ela melhorar os níveis de CD4). Virgem: não colher, pois o risco de uma mulher que não tenha iniciado a atividade PEDRO SANTOS – PROLIFERAÇÃO CELULAR sexual desenvolver essa neoplasia é desprezível. Como colher: Coleta dupla: Ectocervical (com a espátula de Ayre, pra colher amostra do epitélio escamoso) + Endocervical (com a escova endocervical ou cito- brush, para colher amostra da Junção Escamo- celular). Lembrar de fixar e identificar a lâmina. Para mulheres histerectomizadas, recomenda-se a obtenção de um esfregaço do fundo de saco vaginal. Em mulheres com útero, a coleta do fundo de saco é desnecessária. Se o exame não mostrar epitélio colunar (glândulas), existe um indicativo de coleta inadequada (e não coleta logo em seguida pode se esperar a próxima coleta já preconizada (em 1 ano) contanto que o material do epitélio escamoso esteja satisfatório. A época mais propícia para a coleta é o período periovulatório. Como interpretar e conduzir (isto é, quem vai e quem não vai para a colposcopia): Classificação de Richards Classificação de Richardt (1967): considerou as displasias como um processo de proliferação neoplásica intraepitelial e introduziu o termo Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC): NIC I: presença de células atípicas em até 1/3 do epitélio. NIC II: presença de células atípicas em até 1/3 do epitélio. NIC III: presença de células atípicas em mais de 2/3 do epitélio. Carcinoma in situ: quando a atipia celular atinge todas as espessuras do epitélio, mas não ultrapassa a membrana basal. DIAGNÓSTICO Os seguintes testes podem ser utilizados: 1. Exame pélvico e história clínica: exameda vagina, colo do útero, útero, ovário e reto através de avaliação com espéculo, toque vaginal e toque retal. 2. Exame Preventivo (Papanicolau) 3. Colposcopia – exame que permite visualizar a vagina e o colo de útero com um aparelho chamado colposcópio, capaz de detectar lesões anormais nessas regiões 4. Biópsia – se células anormais são detectadas no exame preventivo (Papanicolau), é necessário realizar uma biópsia, com a retirada de pequena amostra de tecido para análise no microscópio. DISSEMINAÇÃO A disseminação do carcinoma cervical se dá por contiguidade, por via linfática e por via hematogênica. Quanto à direção de propagação, temos: Lateralmente aos paramétrios (corresponde ao ligamento largo do útero) Aos gânglios, por contiguidade e migração retrógada Para baixo em direção a vagina Para cima em direção ao corpo uterino Para frente em direção a bexiga Para trás seguindo os paramétrios póstero- laterais Metástases a distância Inicialmente, ocorrem metástases locais, ou seja, próximas ao tumor (metástase ganglionar: linfonodos ilíacos, hipogástricos, paraórticos e inguinais). Contudo, pode acontecer uma metástase não muito comum que, via ducto linfático direito, chega à fossa supraclavicular esquerda, associando-se a Síndrome de Claude- Bernard-Horner (ptose palpebral e miose). Pode ocorrer ainda invasão da cavidade abdominal através do peritônio, ocorrendo comprometimento de fígado, pulmão ossos do quadril ou coluna lombar e, mais dificilmente, cérebro. PEDRO SANTOS – PROLIFERAÇÃO CELULAR ESTADIAMENTO Uma vez estabelecido o diagnóstico, é necessário realizar o estadiamento, ou seja, saber a fase em que a doença se encontra. Para cada estadiamento, independente do local da doença, há um tratamento específico. Para o quadro de câncer de colo de útero, o estadiamento é dado pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). TRATAMENTO O tratamento do carcinoma de colo uterino pode ser individualizado de acordo com o estágio da doença. O carcinoma cervical microinvasivo pode ser tratado por histerectomia simples. Algumas opções de tratamento, embora associadas a possíveis riscos, podem acomodar o desejo da paciente de manter sua fertilidade. As lesões com disseminação além da cérvice deverão ser tratadas com associação de radioquimioterapia, com cisplatina semanal e, posteriormente, braquiterapia. Tratamento Cirúrgico Conservador É indicado nas lesões iniciais (estadio IB1, até 4 cm), principalmente, nas lesões microscópicas. Faz somente a conização do colo uterino, de modo que a paciente poderá engravidar. Tratamento Cirúrgico Radical (Wertheims- Meigs) É feita em um único tempo, ocorrendo a retirada de toda peça cirúrgica em monobloco (útero, anexos, gânglios de dissecção pélvica). Muitas vezes, ocorrem lesões uretrais devido a relação da uretra com o paramétrio. Toda cirurgia radical é para pacientes com lesões iniciais que busca a cura completa. É necessária dissecção do ureter até seu ponto de desembocadura na bexiga. Trata-se de uma opção de escolha para tumores com estadio IB2 em diante. Exenteração Pélvica Primária É considerada uma cirurgia ultrarradical, sendo o método de escolha para pacientes com estadio IV, com fístula vésico-vaginal ou reto-vaginal. Intuito de beneficiar a qualidade de vida do paciente (que, na maioria dos casos, experimenta a saída de fezes e urina pela vagina), por melhorar a qualidade do ponto de vista higiênico. Entretanto, a cura não é obtida. Radioterapia Exclusiva Em algumas situações, indica-se este tipo de tratamento. São elas: Recusa do paciente em submeter-se à cirurgia; Patologia associada que contraindique a anestesia; Pacientes com obesidade mórbida, de modo que a cirurgia seja dificultada do ponto de vista técnico. Apresenta taxa de cura como os tratamentos cirúrgicos. Radioterapia Paliativa Utilizada para casos mais avançados, de IIB em diante. Radioterapia + Quimioterapia Utilizado para pacientes com idade abaixo de 60 anos, que tenha um bom estado clínico. Gera uma resposta rápida, com grande eficácia. PEDRO SANTOS – PROLIFERAÇÃO CELULAR Muita usada em pacientes com estadio III. PREVENÇÃO A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo Papilomavírus Humano (HPV). A transmissão da infecção ocorre por via sexual, presumidamente por meio de abrasões (desgaste por atrito ou fricção) microscópicas na mucosa ou na pele da região anogenital. Consequentemente, o uso de preservativos (camisinha masculina ou feminina) durante a relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer pelo contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal. Vacinação contra o HPV O Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal, em 2014, a vacina tetravalente contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos. A partir de 2017, o Ministério estendeu a vacina para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Essa vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero. A vacinação e a realização do exame preventivo (Papanicolau) se complementam como ações de prevenção desse tipo de câncer. Mesmo as mulheres vacinadas, quando alcançarem a idade preconizada (a partir dos 25 anos), deverão fazer o exame preventivo periodicamente, pois a vacina não protege contra todos os tipos oncogênicos do HPV. Para mulheres com imunossupressão (diminuição de resposta imunológica), vivendo com HIV/Aids, transplantadas e portadoras de cânceres, a vacina é indicada até 45 anos de idade.