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Guilherme Rios – Módulo II – p5 1. DEFINIR A PANCREATITE AGUDA: → A pancreatite aguda é definida como uma condição inflamatória aguda do pâncreas, com acometimento variável das estruturas peripancreáticas e órgãos à distância, cuja gênese depende da autodigestão tecidual pelas próprias enzimas pancreáticas. → Pode se manifestar desde formas leves, mais comuns e que respondem bem ao tratamento conservador, a formas graves, que podem necessitar de internações prolongadas em UTI, uso de antimicrobianos de amplo espectro e intervenções cirúrgicas. → É ima causa importante e prevalente de abdome agudo (inflamatório). 2. COMPREENDER A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA E OS FATORES DE RISCO PARA A PANCREATITE AGUDA: EPIDEMIOLOGIA: → É uma doença comum e com amplo aspecto de apresentação. ○ Morbimortalidade são baixas nos casos leves (cerca de 3%) e elevadas nos graves (até 35% de mortalidade em algumas casuísticas), sobretudo naqueles com necrose pancreática infectada. → Cerca de 80-90% dos casos trata-se de uma doença benigna, leve e autolimitada. → A mortalidade na pancreatite aguda respeita um padrão bimodal: OBJETIVOS: 1. Definir a pancreatite aguda. 2. Compreender a epidemiologia, etiologia e os fatores de risco para a pancreatite aguda. 3. Entender a fisiopatologia, quadro clínico e os fatores prognósticos da pancreatite aguda. 4. Caracterizar os principais recursos diagnósticos da pancreatite aguda. 5. Elucidar as complicações e tratamento da pancreatite aguda. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ PRIMEIRAS DUAS SEMANAS: Decorrente da resposta inflamatória sistêmica (SRIS) e das disfunções orgânicas por ela induzidas. ○ APÓS DUAS SEMANAS: Costuma ocorrer por causa das complicações infecciosas da doença. → A mortalidade nos casos graves pode atingir cerca de 35%. ○ Em maior parte, de etiologia biliar. → A incidência varia de 4,8 a 24,2 casos/100.000 habitantes em países desenvolvidos. → No Brasil, dados epidemiológicos são escassos. ○ Registrados cerca de 15-20 casos por 100 mil habitantes (subnotificação). OBS: TIPOS DE PANCREATITE AGUDA → INTERSTICIAL ou EDEMATOSA: Mais comum, leve e autolimitada. → NECROTIZANTE (5 a 10%): Ocorre necrose do parênquima pancreático e/ou estruturas adjacentes com maior risco de mortalidade, podendo ser estéril ou infectada. ETIOLOGIA: → LITÍASE BILIAR: ○ A migração dos cálculos biliares é a principal causa de pancreatite aguda (>40% dos casos). • Apenas 3 a 7% dos pacientes portadores de cálculos desenvolvem a doença. ○ As hipóteses mais prováveis são: 1. Passagem de um cálculo gerando edema transitório da papila, com discreta obstrução à drenagem do ducto pancreático principal. 2. Durante a passagem do cálculo através da ampola hepatopancreática (de Vater) pode ocorrer uma obstrução que, da mesma maneira, impede a passagem do suco pancreático. ○ A obstrução à passagem do suco pancreático gera dilatação do ducto pancreático principal, que pode gerar compressão de vasos, seguida de isquemia das células pancreáticas capaz de lesar as células acinares. Com a destruição de células acinares ocorre a ativação, bem como o extravasamento de enzimas, as quais promovem as lesões parenquimatosas e iniciam o processo inflamatório. OBS: Apesar de a pancreatite aguda ocorrer mais em homens, a pancreatite biliar é mais comum em mulheres, uma vez que a litíase é mais comum entre elas do que entre os homens. → ÁLCOOL: ○ Responsável por 30% das pancreatites agudas. ○ Afeta, principalmente, homens jovens com relato de consumo abusivo de álcool. ○ O etanol e seus metabólitos geram EROS que lesam as células pancreáticas. Essa lesão inicia o processo inflamatório no pâncreas. ○ Além disso, o álcool estimula a secreção pancreática e promove a contração do esfíncter de Oddi, o que aumenta a pressão intraductal, comprometendo o fluxo sanguíneo e causando isquemia. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Outra hipótese é que, como o álcool é, em parte, metabolizado no pâncreas, seus metabólitos poderiam ativar a tripsina ainda dentro das células acinares. OBS: Devido à presença de evidências funcionais ou morfológicas de pancreatite crônica em indivíduos com pancreatite aguda por álcool, a classificação mais correta seria pancreatite crônica agudizada ou crise de agudização de uma pancreatite crônica. → HIPERTRIGLICERIDEMIA: ○ Importante causa de pancreatite aguda não traumática em pacientes sem litíase biliar ou antecedentes de uso de álcool. ○ Esses pacientes, devido aos elevados níveis de triglicerídeos plasmáticos (> 1.000 mg/dL) apresentam um soro lipêmico, havendo claro predomínio de VLDL e quilomícrons. ○ A fisiopatologia decorrente dessa etiologia parece estar relacionada à lesão direta das células acinares pancreáticas e do endotélio pelos ácidos graxos livres. OBS: É importante pesquisar a hiperlipidemia secundária a medicamentos (estrógenos, tamoxifeno, inibidores de protease, corticosteroides, entre outros), diabetes, hipotireoidismo, síndrome nefrótica e outras causas de hiperlipidemia. ○ Os principais perfis de pacientes com pancreatite aguda decorrente de hipertrigliceridemia são: • Diabéticos não controlados com antecedentes de hipertrigliceridemia. • Alcoolistas com hipertrigliceridemia. • Indivíduos magros, não diabéticos e não alcoolistas, com hipertrigliceridemia induzida por drogas. → HIPERCALCEMIA: ○ Raro. ○ Decorre de exposição excessiva de cálcio no ducto pancreático com ativação prematura do tripsinogênio. ○ Pode ocorrer em pacientes com hiperparatireoidismo, hipercalcemia paraneoplásica, sarcoidose, toxicidade por vitamina D ou no intraoperatório de cirurgias cardíacas (infusão frequente de altas doses de cálcio). → INFECÇÕES: ○ Possui frequência de ocorrência desconhecida. ○ A pancreatite pode ser causada por vários agentes. ○ O diagnóstico etiológico, nesses casos, é complexo e depende da definição do quadro de pancreatite paralelamente à definição da existência da infecção. ○ Pancreatite aguda de causa infecciosa deve ser cogitada se o paciente apresentar a síndrome causada pelo agente infeccioso. → COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETRÓGRADA ENDOSCÓPICA (CPRE): Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ O quadro de pancreatite aguda pode ser observado após 5% das CPRE diagnósticas e 7% das CPRE terapêuticas. ○ Os fatores de risco envolvem pacientes com histórico de pancreatite, sexo feminino, bilirrubinas séricas normais, ausência de pancreatite crônica, canulação difícil, dilatação biliar por balão, esfincterotomia, múltiplas injeções de contraste e suspeita de disfunção do esfíncter de Oddi. → DROGAS: ○ Causa incomum de pancreatite aguda (1,4%) → Demora de diagnósticas (emergência médica). ○ Os mecanismos responsáveis são variáveis, incluindo efeito tóxico direto da droga, reações de hipersensibilidade ou efeito tóxico indireto, mediado por hipertrigliceridemia ou outras anormalidades metabólicas. → TUMORES: ○ Quaisquer tumores pancreáticos ou papilares que provoquem obstrução à drenagem do suco pancreático podem levar a quadros de pancreatite aguda, principalmente em indivíduos > 40 anos de idade. ○ Os principais responsáveis são os adenocarcinomas ductais pancreáticos e neoplasias intraductais mucinosas. Guilherme Rios – Módulo II – p5 FATORES DE RISCO: → Sexo masculino. → Doença biliar calculosa. ○ Especialmente em mulheres. → Cálculos < 5mm. → Presença de lama biliar (uma vez que nessa suspensão viscosa de bile pode ser identificados cálculos pequenos ou microlitíase [< 3mm]). → Etilismo. → Uso de determinados fármacos. → Traumas no andar superior do abdome. → Cirurgias abdominais prévias. 3. ENTENDER A FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO E OS FATORES PROGNÓSTICOS DA PANCREATITE AGUDA: FISIOPATOLOGIA: → O evento inicial da pancreatite é a ativação prematura do tripsinogênio no interiordas células pancreáticas em quantidades suficientes para superar os mecanismos de defesa capazes de proteger o pâncreas da tripsina elevada. OBS: Em condições normais, o tripsinogênio é ativado pela enteroquinase, na borda em escova dos enterócitos, assim que chega ao duodeno. → A ativação prematura do tripsinogênio leva à ativação seriada dos demais zimogênios e da fosfolipase A2, promovendo a autodigestão do parênquima pancreático. OBS: Zimogênios são enzimas sintetizadas na forma inativa dentro das células e, para que se tornem ativos, é necessário que haja hidrólise de determinadas ligações peptídicas. OBS: A tripsina ativada promove a digestão do parênquima, ativa outras pró-enzimas, como elastase e fosfolipase, que resultam, respectivamente, em lesão vascular e esteatonecrose. Guilherme Rios – Módulo II – p5 → Essa agressão inicial leva a complicações inflamatórias locais e ao desencadeamento de uma RESPOSTA INFLAMATÓRIA SISTÊMICA. → Os mecanismos implicados incluem: ○ Lesão endotelial. ○ Liberação de citocinas pró e anti-inflamatórias. ○ Estresse inflamatório. ○ Translocação bacteriana a partir do TGI, sobretudo, cólon. → A migração de grande quantidade de células inflamatórias para o pâncreas faz com o que a agressão se perpetue e possa se generalizar. → A fisiopatologia da pancreatite aguda grave está relacionada, também, a alterações microcirculatórias, como: ○ Vasoconstrição, estase capilar, shunts arteriovenosos, aumento da permeabilidade capilar e isquemia tecidual. ○ Todos esses fatores podem levar a edema local e, nos casos mais graves, o processo pode se generalizar, com extravasamento de quantidades relevantes de água livre do plasma para o terceiro espaço, provocando hipotensão e hemoconcentração. → A circulação sistêmica de CITOCINAS (IL-1, IL-8, IL-6, TNF-alfa), FOSFOLIPASE A2 e espécies reativas do oxigênio (EROS) provoca lesões em órgãos à distância e disfunção de múltiplos órgãos, destacando-se, principalmente, a síndrome do desconforto respiratório do adulto (SDRA). ○ A SDRA ocorre devido à destruição dos alvéolos. → Na fase tardia das pancreatites agudas graves (>14 dias), INFECÇÕES dos tecidos pancreático e peripancreático surgem como principal causa de mortalidade. → Mais tardiamente, pode ocorrer uma hipotensão secundária ao extravasamento de água livre para o terceiro espaço (devido à alteração da permeabilidade capilar) e isso pode resultar em isquemia intestinal e queda da barreira mucosa. ○ Esses eventos podem provocar microfraturas epiteliais que permitem o deslocamento de microrganismos provenientes da luz do cólon para a circulação linfática ou venosa. ○ Muitas vezes, esses pacientes possuem algum grau de supercrescimento bacteriano subclínico, seja por íleo prolongado ou uso concomitante de antimicrobianos de amplo espectro. ○ Uma vez em contato com o tecido pancreático necrótico, tais microrganismos encontram um ambiente propício para proliferação. QUADRO CLÍNICO: → DOR ABDOMINAL: ○ Descrita como sendo “em faixa”. ○ É a principal queixa da maioria dos pacientes com pancreatite aguda. ○ Sua intensidade varia de leve desconforto à dor incapacitante. ○ É uma dor contínua, mal definida, localizada no epigástrio ou no andar superior do abdome. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Normalmente, a dor irradia para o dorso (50%), mas também pode atingir o flanco direito ou esquerdo. ○ O alívio da dor ocorre em posição genupeitoral (prece maometana). ○ A dor piora com a adoção da posição supina ou com o esforço. → NÁUSEAS E VÔMITOS: ○ Presentes em 90% dos casos. ○ Estão, possivelmente, associadas à intensidade da dor ou à inflamação da parede posterior do estômago. OBS: Os sintomas, normalmente, pioraram após a alimentação. OBS: Os pacientes podem, também, apresentar colestase (icterícia, colúria e/ou acolia fecal), desidratação, torpor, dispneia e parada da eliminação de gases e fezes. → ACHADOS DO EXAME FÍSICO: ○ QUADROS LEVES: • Desconforto abdominal à palpação do epigástrio e do andar superior do abdome. • É possível notar um plastrão (massa) inflamatório. • Não há distensão abdominal ou sinais de descompensação hemodinâmica. ○ QUADROS GRAVES: • Pacientes com sinais de toxemia. • Abdome doloroso e distendido. • Respirações aumentadas e superficiais (em virtude da irritação frênica pelo processo inflamatório). • Observa-se sinais de irritação peritoneal. • Outros sinais de gravidade incluem hipotensão, febre, íleo paralítico e sinais de encefalopatia pancreática. • Pacientes com quadros graves de pancreatite necro-hemorrágica podem apresentar os sinais de sangramento retroperitoneal (não é patognomônico de pancreatite). ♦ Equimose periumbilical → Sinal de Cullen. (sinal de Fox e sinal de Frei outros) ♦ Equimose em flanco → Sinal de Gray-Turner. ○ Pacientes com pancreatite aguda se encontram ictéricos em 25% dos casos. FATORES PROGNÓSTICOS: → O curso clínico da pancreatite vai depender da sua gravidade. → FORMA LEVE: ○ As formas leves correspondem a 85% dos casos. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Se caracterizam por serem autolimitada, com melhora clínica em até sete dias, sob tratamento conservador com jejum e analgésicos. ○ Nesses casos, a mortalidade é de, aproximadamente, 3%. → FORMA GRAVE: ○ Os pacientes costumam apresentar disfunções múltiplas, complicações infecciosas e necessidade de internação prolongada em ambiente de terapia intensiva. ○ Nesses casos, a mortalidade é de, aproximadamente, 30%. ○ Devido ao fato de poder apresentar amplos espectros, faz-se necessário uma determinação prognóstica e o reconhecimento precoce dessas formas graves com a finalidade de implementar medidas de monitorização e tratamento intensivo nos casos de maior gravidade. → Alguns scores foram criados para predizer a gravidade mediante a dados clínicos e laboratoriais apresentados pelos pacientes. → SCORE DE RANSON: ○ Mais tradicional. ○ Desvantagem → Necessidade de, pelo menos, 48h de observação após admissão para definição do prognóstico. ○ Uma pontuação ≥ 3 indica quadros graves. → SCORE DE APACHE II: ○ Também avalia parâmetros clínicos e laboratoriais e, apesar de mais complexo, permite avaliar o paciente de forma mais rápida do que o score de Ranson (esse score pode ser calculado várias vezes ao longo dia). ○ Uma pontuação ≥ 8 sugere quadros graves. Guilherme Rios – Módulo II – p5 → SCORE DE BALTHAZAR-RANSON: ○ Baseia-se nos achados da TC de abdome para predizer gravidade. ○ Não considera os parâmetros clínicos ou laboratoriais. ○ Uma pontuação ≥ 6 sugere quadros graves. Guilherme Rios – Módulo II – p5 OBS: PARÂMETROS CLÍNICOS → Idade avançada (>55 anos), obesidade (IMC > 30 kg/m2) e presença de disfunções orgânicas à admissão sem reversão por mais de 48h são parâmetros clínicos simples que sugerem quadros mais graves. OBS: PARÂMETROS LABORATORIAIS → Hemoconcentração, altos níveis de proteína C reativa e dosagens elevadas de IL-6 e IL-8, elastase neutrofílica, fosfolipase A2 e peptídeo ativador do tripsinogênio (esses últimos são menos disponíveis na prática clínica diária). OBS: (QUICK) SEQUENTIAL ORGAN FAILURE ASSESMENT (SOFA) e (qSOFA) ○ (Rápida) Avaliação Sequencial de Falência Orgânica ((q)SOFA). → CLASSIFICAÇÃO DA PANCREATITE AGUDA ATLANTA: 4. CARACTERIZAR OS PRINCIPAIS RECURSOS DIAGNÓSTICOS DA PANCREATITE AGUDA: → O diagnóstico da pancreatite aguda envolve achados clínicos, laboratoriais e de imagem. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Dor abdominal persistente, de forte intensidade, localizada no andar superior do abdome com irradiação para o dorso e associada a náuseas e vômitos. ○ A AMILASE ou LIPASE ≥ 3 vezes o limite superior da normalidade e achados tomográficos compatíveis com pancreatite aguda. ○ É necessárioter, ao menos, 2 dos 3 critérios para fechar o diagnóstico de pancreatite aguda. • Quadro clínico e/ou amilase/lipase ≥ 3x e/ou exame de imagem. EXAMES LABORATORIAIS: → A dosagem de enzimas pancreáticas é o exame mais indicado para o diagnóstico da pancreatite aguda, ainda que a elevação desses componentes não seja tão específica, podendo ter causas pancreáticas ou não. ○ Valores ≥ 3 vezes o limite superior de normalidade fala mais a favor de pancreatite aguda. OBS: Os níveis séricos dessas enzimas não possuem qualquer implicação prognóstica. → O intervalo de tempo entre início dos sintomas e dosagem das enzimas deve ser lembrado, pois elevações persistentes das enzimas após a resolução do quadro sugerem presença de complicações, como pseudocistos. OBS: Se a pancreatite aguda for decorrente de uma associação de lama biliar ou colelitíase, podem ser identificadas alterações em FA, GGT, AST e ALT. OBS: Devido à desidratação, o paciente pode apresentar creatinina e ureia elevadas. Guilherme Rios – Módulo II – p5 EXAMES DE IMAGEM: → O exame padrão-ouro é TC de abdome com contraste endovenoso. • Preferível que seja realizado tardiamente (em cerca de 72h até 4 dias após o início do quadro), se possível, pois torna mais fácil a percepção de possíveis alterações a nível pancreático que não seriam identificadas tão brevemente. OBS: É dispensável o exame de imagem caso a clínica e o laboratório sejam sugestivos de pancreatite aguda. OBS: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ○ Doenças que geram abdome agudo, em especial, o inflamatório (p. ex., coledocolitíase, colecistite aguda, apendicite). ○ Síndromes dispépticas, neoplasias e etc. 5. ELUCIDAR AS COMPLICAÇÕES E TRATAMENTO DA PANCREATITE AGUDA: COMPLICAÇÕES: DURANTE A PANCREATITE AGUDA: → COLEÇÕES: ○ Acúmulo de líquido ao redor do pâncreas. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Ocorrem devido a fístulas pancreáticas que resultam em periviscerite (presença de líquido inflamatório em torno das vísceras). → NECROSE: ○ Houve morte de células pancreáticas. ○ Favorece o aparecimento de infecções. ○ Ocorre lesão pancreática direta (ação enzimática) e indireta (isquemia). → SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO DO ADULTO (SDRA): ○ A circulação sistêmica de CITOCINAS (IL-1, IL-8, IL-6, TNF-alfa), FOSFOLIPASE A2 e espécies reativas do oxigênio (EROS) provoca lesões em órgãos à distância e disfunção de múltiplos órgãos. ○ A SDRA ocorre, entre outras coisas, devido à destruição dos alvéolos pelas EROS. ○ Derrame pleural que ocorre devido à síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS) que gera o aumento da permeabilidade sistêmica. ○ A inflamação do diafragma leva à dor e isso leva o paciente a diminuir a amplitude respiratória e aumentar a frequência. → INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA: ○ Ocorre, entre outras coisas, devido à hipovolemia secundária ao sequestro de grandes quantidades de líquido para o terceiro espaço. APÓS A PANCREATITE AGUDA: → PSEUDOCISTO PANCREÁTICO: ○ Organização encistada derivada da coleção líquida. → NECROSE DE PAREDES ESPESSADAS: ○ Organização encistada derivada da necrose pancreática. → PANCREATITE CRÔNICA: ○ Caracteriza-se pela substituição irreversível do parênquima pancreático normal por áreas de fibrose e pelo surgimento de estenoses e irregularidades nos ductos pancreáticos. Tais lesões são, em geral, progressivas, mesmo com a retirada do fator causal. ○ Seus principais tipos são as calcificantes (quase a totalidade) ou oclusivas. OBS: OUTRAS COMPLICAÇÕES → Redução da volemia, íleo paralítico, icterícia, diabetes e pré-diabetes, CIVD, choque hipovolêmico, trombose e etc. TRATAMENTOS: MEDIDAS GERAIS: → Ainda não existe um fármaco específico para pancreatite aguda. Guilherme Rios – Módulo II – p5 → Avaliação dos sinais vitais (frequências cardíaca e respiratória, pressão arterial, saturação periférica de O2, temperatura e diurese) deve ser realizada nas primeiras 24h. → Se o paciente estiver fazendo uso de opioides ou apresentar queda na saturação, oxigênio suplementar deve ser fornecido. → Realizar gasometria arterial se a saturação de oxigênio for ≤ 95%, se houver hipotensão ou alteração do parâmetro respiratório por causa do alto risco de complicações respiratórias associadas às formas graves. REPOSIÇÃO VOLÊMICA: → Devido à hipovolemia secundária ao sequestro de grandes quantidades e líquido para o terceiro espaço que ocorre nos casos de pancreatite aguda grave, ocorre acentuação dos fenômenos isquêmicos no pâncreas inflamado, aumentando o risco de necrose e outras complicações secundárias à hipovolemia, como insuficiência renal aguda. → A hidratação deve ser vigorosa! → A reposição deve ser iniciada precoce e agressivamente, visando manter a estabilidade hemodinâmica, diurese ≥ 0,5 a 1 mL/kg/hora e normalização do hematócrito. → De modo geral, nas primeiras 24h, infunde-se 30 a 40 ml/kg de cristaloides (SF 0,9%/ Ringer lactato), sendo metade deste volume nas primeiras seis horas de observação, não havendo evidências suficientes que favoreçam o uso de coloides em relação aos cristaloides. → Utiliza-se a via periférica para os casos de pancreatite aguda leve e recomenda-se o uso de veia central em portadores de pancreatite agudas graves. ANALGESIA: → É necessária em virtude da dor abdominal. → Analgésicos como a dipirona podem ser utilizados. → Analgésicos opioides por via endovenosa são preferíveis, pois a via subcutânea não é recomendada, sobretudo em pacientes com instabilidade hemodinâmica não revertida. ○ De preferência, a meperidina. OBS: A morfina, devido a seus efeitos constritores do esfíncter de Oddi, com risco TEÓRICO (sem confirmação prática) de agravamento da pancreatite, “não é recomendada”. Entretanto, caso só se disponha dela, pode ser utilizada. OBS: O pâncreas com pancreatite encontra-se mal perfundido, uma vez que, além das lesões, a demanda está sendo maior que a oferta e isso gera uma dor isquêmica. Dessa forma, a reanimação volêmica também auxilia nessa analgesia por aumentar o aporte sanguíneo para esse órgão. ANTIEMÉTICOS: → Bromoprida/Metoclopramida. → Ondasetrona. → Dimenidrinato. NUTRIÇÃO: → Embora seja considerado o padrão-ouro para os quadros leves, REPOUSO PANCREÁTICO COM JEJUM ORAL não foi testado com ensaios clínicos delineados adequadamente. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Essa técnica baseia-se no conceito fisiológico de que a alimentação aumenta a secreção de enzimas pancreáticas e isso, no contexto de uma pancreatite aguda, aumentaria o processo inflamatório local e perpetuaria a agressão sistêmica. ○ Dessa forma, pacientes com pancreatite aguda leve são mantidos, habitualmente, em jejum oral por 3 a 7 dias até que seja possível reintroduzir a dieta. ○ Deve ser administrado, dessa forma, soro de manutenção endovenoso. OBS: Ainda que polêmico, recomenda-se, de modo geral, o retorno da alimentação por VO quando houver melhora da dor e retorno dos ruídos hidroaéreos. → Na pancreatite aguda grave, sempre que possível, deve-se optar pela introdução da dieta por via enteral após a estabilização hemodinâmica, pois seus efeitos tróficos sobre a mucosa intestinal reduzem a translocação bacteriana e incidência de complicações infecciosas. → As complicações da dieta enteral também são menores do que as da via parenteral (p. ex., infecção de cateter, trombose de vasos profundos), bem como seu custo. → A forma de administração da dieta enteral é mal definida, mas a maioria dos consensos recomenda uso de sondas nasojejunais, embora dados preliminares sugiram que sondas nasogástricas seriam eficazes e não implicariam exacerbação da pancreatite. OBS: Aqueles que não tolerarem a via enteral, seja por íleo paralítico ou outras complicações, e aqueles cuja meta calóricanão foi atingida somente com dieta enteral até 48 horas após sua introdução devem receber nutrição parenteral. ANTIMICROBIANOS PROFILÁTICOS: → Não há consenso a respeito do uso de profilático de antimicrobianos nos casos graves, mas é interessante destacar que a maior parte da mortalidade relacionada à pancreatite aguda se dá nesses casos, dos quais cerca de 30% apresentam necrose pancreática. → A maior parte das infecções ocorre por translocação bacteriana a partir do intestino, sendo, em grande parte, monobacteriana, → Os principais patógenos são E. coli, Klebsiella, Staphylococcus e Pseudomonas. → Devem ser utilizados antimicrobianos de amplo espectro e com boa penetração no tecido pancreático, como carbapenêmicos, metronidazol, fluoroquinolonas, clindamicina e cefalosporinas. → Em pacientes com necrose superior a 30% do tecido pancreático e disfunções orgânicas clinicamente significativas, podem ser usados antimicrobianos profilaticamente. → Quando iniciados, devem ser mantidos por 7 a 14 dias ou até que tenha sido totalmente descartada a possibilidade de infecção. OBS: Deve-se ter em mente que o uso profilático de antimicrobianos pode aumentar o risco de resistência bacteriana, além de propiciar infecções fúngicas. OBS: A sepse fúngica é muito mais difícil de se resolver. OBS: Algumas literaturas aconselham a não utilizar ATB terapia precocemente, pois a pancreatite cursa com síndrome da resposta imunológica sistêmica (SRIS) que é inflamatória, não infecciosa. ○ Antes de 14 dias → SRIS. ○ Após 14 dias → Suspeitar de infecção. MANEJO DA NECROSE PANCREÁTICA: Guilherme Rios – Módulo II – p5 → A necrose pancreática é um marcador de gravidade, reflete maior dano ao parênquima e disfunção microcirculatória mais grave. → O diagnóstico é feito, preferencialmente, por TC com contraste venoso, mas pode ser suspeitado quando há sinais inflamatórios persistentes (p. ex. febre, leucocitose, proteína C reativa elevada [>15 mg/dL], após 48h de doença), instabilidade hemodinâmica e disfunção de órgãos e sistemas. OBS: É importante definir se a necrose está estéril ou infectada. → Na tomografia abdominal, a presença de bolhas no retroperitônio sugere infecção. ○ Nesses casos, deve-se realizar a aspiração percutânea guiada por TC de áreas suspeitas com coloração pelo Gram e cultura do material obtido. → A NECROSE ESTÉRIL deve ser tratada conservadoramente, e uma necrosectomia deve ser adiada, desde que as condições clínicas do paciente o permitam, até a 3ª ou 4ª semana de evolução para permitir melhor organização do processo inflamatório e demarcação do tecido viável em relação ao inviável. Após esse período, caso a dor abdominal impeça a alimentação oral ou gere disfunções orgânicas significativas, a cirurgia é indicada. → A NECROSE INFECTADA caracteriza evolução da pancreatite aguda grave, pois sua instalação se traduz em agravamento clínico e aumento de mortalidade. O tratamento é o desbridamento, por necrosectomia cirúrgica convencional ou procedimentos menos invasivos (p. ex. drenagem percutânea guiada por TC, endoscopia, retroperitoneoscopia e etc). TRATAMENTO ENDOSCÓPICO: → A CPRE com esfincterotomia é indicada para remoção de cálculos biliares em pacientes com colangite associada à pancreatite aguda, pancreatites agudas graves, colecistectomizados com pancreatite aguda biliar, pacientes com evidências de obstrução biliar significativa e naqueles que não são bons candidatos a uma colecistectomia. → Idealmente, deve ser realizada nas primeiras 48 a 72 horas do início do quadro. COLECISTECTOMIA: → Em casos de pancreatite biliar leve, indica que seja feita a colecistectomia precoce, uma vez que a chance de um novo episódio é alta. Guilherme Rios – Módulo II – p5 → Em casos de pancreatite aguda grave de causa biliar, a colecistectomia pode deve ser eletiva (após, aproximadamente, 6 semanas).
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