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Análises Bromatológicas e Toxicológicas Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Esp. Flávia Bonfim Lima Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Revisão Técnica: Prof. Everton Carlos Gomes Aspectos Bromatológicos I Aspectos Bromatológicos I • Apresentar ao aluno as bases da Bromatologia, o avanço da análise dos alimentos e sua importância e desdobramento social; • Apresentar os aspectos legais da área; • Abordar as principais técnicas de análises e suas aplicações em controle de qualidade e demais áreas. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • As Principais Análises dos Alimentos. UNIDADE Aspectos Bromatológicos I As Principais Análises dos Alimentos As análises feitas nos alimentos apresentam grande importância e representam avanço na garantia da qualidade e segurança dos alimentos. Por meio delas, é possível conhecer a composição dos alimentos, garantir a qua- lidade da matéria-prima, estabelecer padrões de qualidade, compor a Tabela Nutri- cional nos rótulos dos alimentos e também contribuir, gerando novos dados a serem incluídos nos Bancos de Dados de composição dos alimentos. As várias formas de aplicação das análises dos alimentos contribuem de forma importante para o controle de qualidade de alimentos em indústrias alimentícias em todas as etapas de produção, desde a matéria-prima até o produto acabado. Em Universidades e Institutos de Pesquisa, as análises de alimentos podem ser melhoradas e servir de base para o desenvolvimento de novas metodologias, pes- quisas de novos componentes benéficos e monitoramento de alimentos que estão disponíveis no mercado. No final dessa cadeia dinâmica, todas essas informações geradas a partir das análi- ses dos alimentos podem ser utilizadas como ferramenta para órgãos como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), FDI (Food and Drug Administration) e outros órgãos governamentais, na fiscalização e no controle sanitário dos alimentos, proporcionando maior segurança para a população. Figura 1 – Site da ANVISA indicando avanços na área dos alimentos e outras informações Fonte: Acervo do conteudista Tendo em mente a composição básica dos alimentos, isto é, seus principais nutrientes (água, carboidratos, lipídeos, proteínas e fibras), podemos assumir um ponto de partida para entender como a análise dos alimentos ocorre. Vejamos as principais análises a seguir. 8 9 Composição Centesimal Conforme a imagem a seguir, a composição centesimal dos alimentos engloba os 6 principais constituintes do alimento: lipídeos, carboidratos, proteínas, fibras, água e minerais. Dessa forma, podemos concluir que, por meio da composição centesimal, podemos conhecer os principais nutrientes presentes em um dado alimento e suas respectivas quantidades e o seu valor calórico. Composição centesimal em alimentos CINZAS FIBRAS CARBOIDRATOS UMIDADE PROTEÍNAS LIPÍDEOS Teor de minerais está nas Compostos glicosídicos presentes nos Compostos apolares estão nos Compostos nitrogenados incluídos nas Ponto de partida é a Fração não metabolizável presente nas Figura 2 – Esquema da composição centesimal Essa ideia de conhecer a composição dos alimentos partindo de uma composição básica surgiu em 1864 e foi proposta pelo alemão Henneberg, que desenvolveu o método de análise chamado Weede, o mesmo nome da estação de estudos onde o método foi desenvolvido. De acordo com Henneberg, apresenta uma estrutura básica conforme o esquema a seguir: Alimento Extratos não nitrogenados Extratos etério Compostos nitrogenados (proteínas) Matéria inorgânica (cinzas) Água Carboidatos FibrasCompostos nãoNitrogenados Matéria Seca Matéria Orgânica Figura 3 – Representação esquemática do Sistema Weende 9 UNIDADE Aspectos Bromatológicos I Moléculas de água – ligadas – quimicamente Moléculas de água – livre água total Figura 3 – Água ligada, total e livre Fonte: Reprodução O teor de umidade pode variar mesmo dentro de uma mesma classe de alimento. Veja o exemplo a seguir: Tabela 1 – Tabela de parâmetros complementares de qualidade para produtos panificados Produtos Pão Francês Pão de Forma Dog-Hamburger Pão Italiano Ciabatta Pão de Queijo Torrada Magic Toast Porosidade complementares de qualidade área mín. (mm2) 0,016±0,00a 0,016±0,00a 0,016±0,00a 0,016±0,00a 0,016±0,00a 0,016±0,00a 0,016±0,00a 0,016±0,00a área máx. (mm2) 122,81±70,54abc 59,05±25,62ab 191,70±77,74cd 131,41±45,85abc 392,03±37,84e 281,27±20,04de 31,61±6,41a 181,84±19,77bcd área média (mm2) 0,56±0,18ab 0,41±0,02ab 0,43±0,04ab 0,41±0,03ab 0,57±0,28ab 0,79±0,20b 0,20±0,01a 0,85±0,32b diâmetro mín. (mm) 0,06±0,00 a 0,06±0,00a 0,06±0,00a 0,06±0,00a 0,06±0,00a 0,06±0,00a 0,06±0,00a 0,06±0,00a diâmetro máx. (mm) 14,00±2,69 ab 9,35±2,67a 15,04±4,25ab 19,29±5,79b 35,71±1,86c 31,19±0,74c 7,09±0,90a 20,37±0,73b diâmetro médio (mm) 0,41±0,10 b 0,38±0,01a 0,34±0,01a 0,36±0,02a 0,45±0,02a 0,38±0,03a 0,33±0,01a 0,49±0,14a perímetro mín. (mm) 0,13±0,00 a 0,13±0,00a 0,13±0,00a 0,13±0,00a 0,13±0,00a 0,13±0,00a 0,13±0,00a 0,13±0,00a perímetro máx. (mm) 109,93±31,04 abc 77,37±16,06ab 134,34±28,17bcd 133,03±22,58bcd 188,73±50,45e 155,89±2,61cd 52,80±9,05a 175,99±14,85cd perímetro médio (mm) 1,46±0,40 a 1,37±0,06a 1,24±0,05a 1,19±0,12a 1,71±0,20a 1,65±0,12a 0,95±0,07a 1,75±0,12a Textura firmeza (n) 0,72±0,16a 1,56±0,15a 1,44±0,94a 7,42±3,23a 1,36±0,48a 2,49±1,77a 47,28±14,07c 30,77±3,72b coesividade 0,80±0,03c 0,67±0,06c 0,41±0,02b 0,73±0,03c 0,79±0,01c 0,61±0,17b mastigabilidade N.mm 0,54±0,09 a 0,94±0,19a 0,47±0,10a 4,69±2,02b 0,99±0,33a 1,29±0,80a elasticidade 0,94±0,03b 0,89±0,01b 0,92±0,01b 0,87±0,03b 0,92±0,03b 0,77±0,24b adesividade mJ 1,46±0,40a 0,25±0,01d 0,001±0,04a 0,0006±0,0084b 0,004±0,001c 0,004±0,006c Cor L (crosta) (**) 65,31±6,48c 48,14±0,94ab 57,68±2,44bc 44,30±6,46a 65,05±1,20c 79,93±2,63d 50,45±1,06ab 53,05±1,91ab a (crosta) 8,61±3,66a,b 17,19±0,13d 12,09±0,67bcd 11,71±6,63bcd 3,35±0,81a 5,30±2,26ab 16,71±0,22cd 9,18±0,58abc b (crosta) 25,54±4,33ab 29,01±0,66ab 20,52±2,18a 22,80±8,36ab 22,61±0,85ab 33,21±4,25b 30,65±0,85ab 25,39±1,36ab L (miolo) 63,25±3,23 62,37±2,05 66,60±4,56 56,60±6,35 65,34±6,94 61,81±2,23 63,16±2,72 65,32±1,80 a (miolo) 0,40±0,09b 1,14±0,07d 0,72±0,09c 0,06±0,18a 0,09±0,19a 0,48±0,45b 3,36±0,90e 3,41±0,93e b (miolo) 6,36±0,68a 10,88±0,63b 6,88±0,98a 11,57±1,33b 11,84±0,59b 16,57±0,75c 24,90±1,98d 22,30±1,20d Outros volume específico (mL/g) 4,63±0,27 bc 4,10±0,19bc 5,99±0,62d 3,88±0,15b 4,54±0,17bc 2,58±0,22a 4,72±0,20c 7,07±0,25e densidade (g/mL) 0,22±0,01bc 0,24±0,01c 0,17±0,02ab 0,26±0,01c 0,22±0,04bc 0,39±0,03d 0,21±0,02bc 0,14±0,02a umidade (%) 26,00±1,34b 29,99±0,65c 33,28±2,75d 30,08±0,63c 28,03±0,27bc 29,42±0,38c 5,84±0,53a 4,88±0,42a (*) Representados pelos pães com maior consumo no mercado: (**) Magic Toast: leituras da crosta e fundo: (***) Para torradas, o método utilizado permitiu avaliar a crocância da amostra associada à força máxima sobre a fatia. Letras iguais na mesma linha (p<0,05) representam variação não significativa no parâmetro analisado Tukey HSD. Fonte: Adaptado de ESTELLER, 2005 10 11 Na figura acima, vemos diferentes tipos de produtos panificados e seus respectivos parâmetros de qualidade. A umidade de cada produto varia de acordo com as características especificas de cada tipo de pão. Comparando o pão francês, que apresenta uma maciez característica, e a torrada, que apresenta textura crocante, vemos que a umidade do pão francês é de 26%, enquanto a da torrada é de apenas 4,88%. A determinação da Matéria Seca é feita em laboratório, utilizando em torno de 1,0 g de amostra moída, a qual deve ser seca em estufa de circulação forçada de ar à temperatura de 100 ºC -105 ºC por 12 horas. Figura 5 – Alimentos na estufa de secagem Fonte: unijui.edu.br Determinação de Gordura Bruta Utilizando o método de extrato etéreo, é possível separar a fração lipídica bruta do alimento dos demais componentes. O método utilizado baseia-se na diferençade peso (gravimetria) entre a amostra antes e depois de ser submetida ao procedimento de extração dos compostos lipos- solúveis por meio de solventes orgânicos como o éter sob aquecimento. É um método fácil de conduzir, evita a contaminação com outros componentes e é de fácil recuperação do solvente. Para essa análise, o ideal é que o alimento esteja seco, para maior interação com o solvente. Mas no caso de alimentos como leite, laticínios e produtos de origem animal, pode ser necessário um outro tratamento prévio com ácido clorídrico ou hidróxido de sódio. 11 UNIDADE Aspectos Bromatológicos I O aparelho utilizado é um extrator tipo Soxhlet: Figura 6 – Extrator tipo Soxhlet Fonte: Adaptado de Wikmedia Commons | Divulgação A determinação final é feita por meio de um cálculo no qual: • EE: P – P’ X100 / Peso da amostra (g); • EE: extrato etéreo; • P: Peso do balão com o EE; • P’: Peso do balão vazio. • Qual a importância das análises dos alimentos? • Qual a contribuição das informações geradas a partir das análises dos alimentos? • Cite os nutrientes contemplados dentro do conceito de “composição centesimal”; • Por que a análise de matéria seca está diretamente relacionada à estabilidade dos alimentos? • Qual o método empregado para determinação de gordura bruta em alimentos? Determinação de Fração Nitrogenada (Proteínas) A fração bruta de compostos nitrogenados contempla substâncias como proteí- nas, ácidos nucleicos, nitratos e bases purínicas, entre outros. Dessa forma, devemos considerar que, além das proteínas de interesse, encontra- remos outros compostos que não necessariamente nos interessam durante a análise do alimento. 12 13 Vejamos estes outros elementos: Nitrogênio não proteico Proteína de interesse PIDA Figura 7 Quadro 1 Nitrogênio Não Proteico Proveniente de compostos como bases nucleicas e nitratos, não são constituintes de proteínas, embora apresentem o átomo de nitrogênio em sua composição. Proteína de Interesse (Verdadeira) Trata-se da verdadeira fração proteica, composta por amino- ácidos e que caracteriza o teor proteico presente no alimento. PIDA – Proteína Indisponível em Detergente Ácido Representa uma fração de proteínas ligada às fibras brutas. Dessa forma, não é possível mensurar juntamente com a fra- ção da proteína de interesse. O método de terminação de proteínas mais utilizado é o método de Kjeldahl. Esse método foi desenvolvido em 1883, por Johann Kjeldahl, e consiste na deter- minação de nitrogênio total, dividido em 4 etapas: • Digestão da amostra: em ácido sulfúrico concentrado sob aquecimento (350 a 400 ºC) e catalisador; • Neutralização e destilação: feita com aquecimento direto ou arraste a vapor; • Titulação: titula-se o borato de amônio formado como produto da destilação contra uma solução padrão de ácido clorídrico e se determina a concentração de nitrogênio total; • Conversão do teor de nitrogênio total em proteínas: a concentração de nitrogênio obtida no término das análises deve ser calculada para conhecermos qual a real quantidade de proteínas na amostra. Para isso, usamos o seguinte cálculo: PB = NT X FN Onde: • PB: Proteína bruta; • NT: Nitrogênio total; • FN: Fator de conversão; Para chegarmos ao valor correspondente ao teor de proteínas verdadeiras, é necessário multiplicar a concentração de nitrogênio total encontrada no ensaio de Kjedahl pelo fator de correção 6,25. Esse fator considera que a maioria das proteínas presentes nos alimentos apresenta cerca de 16% de nitrogênio em sua composição. 13 UNIDADE Aspectos Bromatológicos I Figura 8 – Destilador de Nitrogênio Fonte: Divulgação Cinzas A matéria mineral, resíduo mineral fixo ou simplesmente cinzas, corresponde à fração da amostra pertencente ao produto inorgânico da queima intensa da amostra. Basicamente, a amostra é submetida à temperatura próxima de 550 ºC -570 °C em forno mufla até que se torne branco ou cinza, ou ainda até que apresente um peso constante. Vale lembrar-se de que alguns componentes podem se perder por volatilização em virtude da alta temperatura (como alguns sais). A amostra que foi submetida ao teste de matéria seca pode ser encaminhada para o teste de cinzas por um tempo menor. Pela diferença entre o valor da Matéria Seca e do Material Mineral, estima-se o teor de Matéria Orgânica (MO) da amostra (CAMPOS et al., 2004). A combinação dessa técnica com outras mais específicas, como espectroscopia de absorção atômica, dá a possibilidade de identificar a presença de cálcio, fósforo e ou- tros elementos separadamente, e também de os quantificar (SILVA; QUEIROZ, 2002). Colaboradora do Sucre coloca amostras de palha em mufla (forno) para determinar a quan- tidade de cinzas presente no material, disponível em: https://bit.ly/3k1Niye • Quais compostos estão presentes na fração proteica bruta de um alimento? • Qual a fração de interesse durante a determinação de nitrogênio proteico? • Quais são as etapas da determinação de nitrogênio? • Como se dá o cálculo do teor de Matéria Orgânica (MO)? 14 15 Fibra Bruta É a fração menos digerida do alimento ou a não digerida. Ela é composta por carboidratos que possuem na sua maioria função estrutura (hemicelulose, celulose, lignina), mas que, no alimento, estão associados a outras substâncias, como proteí- nas, outros carboidratos, lipídeos e alguns compostos minoritários (taninos, cutina). Para que a análise de fibra bruta aconteça, é importante isolar as fibras desses outros componentes. Sendo assim, após a obtenção da amostra seca e desengordurada por processo de extração etérea, que passa por uma digestão ácida (adiciona-se ácido), seguida de uma digestão alcalina (adiciona uma base). Feito isso, a amostra é filtrada e o resíduo gerado é colocado em mufla para ser queimado em altas temperaturas (CAMPOS et al., 2004). Como vimos anteriormente, essa análise apresenta limitações quanto à estimativa de fibras reais e devido às condições drásticas de pH e da temperatura. Atualmente, esse método não vem sendo adequado para esse tipo de análise. Ou tros métodos são propostos como alternativa para a análise de fibras, como método de Van Soest (1967). A ideia central é dividir os compostos em dois grandes grupos: conteúdo celular (lipídios, compostos nitrogenados, gorduras, amido e outros compostos solúveis em água) e parede celular (proteína insolúvel, hemicelulose, celulose e lignina) (EMBRAPA, 2010): • Os insolúveis em detergente neutro (F.N.D): celulose, hemicelulose e lignina; • Os Insolúveis em Detergente Ácido (F.D.A): solubiliza açúcares, amidos, algu- mas pectinas e remove algumas proteínas, e isola a celulose e a lignina. Do ponto de vista nutricional, esse método é mais eficiente na separação dos diferentes compostos que estão associados à fração correspondente às fibras. Mas para a determinação dos nutrientes digestíveis totais ainda se adota o método tradicional de fibra bruta. Conteúdo Mineral Os minerais desempenham papel igualmente essencial na alimentação, assim como os macronutrientes. Conhecer a sua composição nos alimentos é importante para identificar quais deles estão presentes e sinalizam benefícios para a saúde, e quais causam malefícios. Alguns minerais como cálcio, ferro, potássio e sódio estão presentes em diversos alimentos naturais ou industrializados. Outros elementos como chumbo, mercúrio e alumínio, são tóxicos ao organismo. 15 UNIDADE Aspectos Bromatológicos I Do ponto de vista de qualidade, os minerais presentes nos alimentos podem ser- vir de indicadores pois, em alguns alimentos, como as frutas, características como sabor, dulçor, textura, aparência e estabilidade estão diretamente relacionados à con- centração de determinados minerais presentes. Anteriormente, vimos que, por meio das análises de cinzas, podemos identificar os minerais também. Então, qual seria a diferença entre os dois métodos? Basicamente, a análise de cinzas nos diz o conteúdo total de mineraispresentes no alimento. Já a análise de conteúdo mineral pode dizer especificamente a quanti- dade de cada elemento presente no alimento (cálcio, ferro etc.). Para alimentos que apresentam alta concentração de minerais, pode ser utilizado o método gravimétrico, que consiste na precipitação do mineral de interesse utili- zando um agente complexante. Em seguida, o complexo formado com o mineral é filtrado e pesado. Para quantidades menores e especificações de elementos “traços”, utilizam-se mé- todos colorimétricos mais sensíveis, como espectrometria no UV/VIS, espectrometria de absorção atômica e de emissão. Por meio desses métodos, é possível detectar a presença de ppm (partes por milhão) de um determinado mineral no alimento. Espectrofotômetro de absorção atômica, disponível em: https://bit.ly/32mMZbq Tabela TACO Provavelmente você já deve ter visto esta imagem: Figura 9 – Tabela de informação nutricional Fonte: Wikimedia Commons 16 17 Esta imagem é um exemplo muito conhecido de uma Tabela de Informa- ções Nutricionais. Todos os alimentos industrializados devem apresentar a Tabela de Informações Nutricionais em suas embalagens. Por meio dela, temos conhecimento da composi- ção do alimento e das quantidades de cada nutriente presente nesse alimento. Isso auxilia na tomada de decisão pelo alimento ideal para o consumo de cada pessoa. Quando falamos de grupos de consumidores específicos, essas informações ganham proporções ainda maiores, como no caso de celíacos, diabéticos, hipertensos, intolerantes ao glúten, pessoas que apresentam alergia a componentes específicos que podem estar presentes mesmo que na forma de traços no alimento, entre outros. As informações também são importantes para a fiscalização sanitária, controle de qualidade e combate a adulteração. No Brasil, as informações utilizadas eram extraídas de Tabelas que, ao longo do tempo e com o avanço da tecnologia dos alimentos, foram sendo insuficientes para a demanda. Atualmente usa-se como referência a Tabela TACO (Tabela Brasileira de Compo- sição de Alimentos). O projeto TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos), coordenado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA) da UNICAMP e com financiamento do Ministério da Saúde – MS e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à FOME – MDS é uma iniciativa para proporcionar dados de um grande número de nutrientes em alimentos nacionais e regionais obtidos por meio de amostragem representativa e análises realizadas por laboratórios com competência analítica comprovada por estudos interlaboratoriais, segundo critérios internacionais. (NEPA, 2020) Figura 10 – TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos) Fonte: nepa.unicamp.br A Tabela TACO tem abrangência nacional, o que a torna específica para o nosso país, pois nela estão contidos os mais variados alimentos, oriundos das diferentes regiões do Brasil. 17 UNIDADE Aspectos Bromatológicos I Trata-se de um Banco de Dados abrangente que acompanha as mudanças dos hábitos alimentares, da tecnologia dos alimentos industrializados e dos alimentos geneticamente melhorados. Esse grande trabalho foi desempenhado em 4 fases considerando as metodolo- gias a serem empregadas e a diversificação dos alimentos a serem analisados: • Fase I-1996: I Estudo Interlaboratorial Cooperativo sobre composição centesi- mal, vitaminas, minerais, ácidos graxos e colesterol, iniciando o processo seletivo para definir os Laboratórios com reconhecida capacidade técnica, que iriam efetivamente produzir os dados para a composição da Tabela; • Fase II – 1999-2001: execução do II Estudo Interlaboratorial Cooperativo, ela- boração do Plano de Amostragem, indicação dos representantes regionais das 5 regiões geopolíticas brasileiras escolhidas para amostragem, identificação das marcas comerciais mais consumidas dos alimentos que seriam analisados, aqui- sição dos alimentos industrializados, vegetais in natura (frutas, verduras, legu- mes), carnes bovinas, aves e pescados, e realização das análises laboratoriais; • Fase III – 2003: contempla a análise de 200 alimentos, com financiamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS; • Fase IV – 2003: contempla a análise de 70 alimentos com financiamento do Ministério da Saúde. (TACO, 2020. A tabela TACO está na sua 4a edição revisada e ampliada. Vamos conhecer um pouco desse importante material: Tabela 2 – Composição de alimentos por 100 gramas de parte comestível: Centesimal, minerais, vitaminas e colesterol Número do Alimento Descrição dos Alimentos Umidade (%) Energia Proteína (g) Lipídeos (g) Colesterol (mg) Carboidrato (g) Fibra Alimentar (g) Cinzas (g) Cálcio (mg) Magnésio (mg)(kcal) (kJ) Cereais e derivados 1 Arroz, integral, cozido 70,1 124 517 2,6 1,0 NA 25,8 2,7 0,5 5 59 2 Arroz, integral, cru 12,2 360 1505 7,3 1,9 NA 77,5 4,8 1,2 8 110 3 Arroz, tipo 1, cozido 69,1 128 537 2,5 0,2 NA 28,1 1,6 0,1 4 2 4 Arroz, tipo 1, cru 13,2 358 1497 7,2 0,3 NA 78,8 1,6 0,5 4 30 5 Arroz, tipo 2, cozido 68,7 130 544 2,6 0,4 NA 28,2 1,1 0,1 3 6 6 Arroz, tipo 2, cru 13,2 358 1498 7,2 0,3 NA 78,9 1,7 0,4 5 29 7 Aveia, flocos, crua 9,1 394 1648 13,9 8,5 NA 66,6 9,1 1,8 48 119 8 Biscoito, doce, maisena 3,2 443 1853 8,1 12,0 NA 75,2 2,1 1,5 54 37 9 Biscoito, doce, recheado com chocolate 2,2 472 1974 6,4 19,6 Tr 70,5 3,0 1,3 27 48 10 Biscoito, doce, recheado com morango 2,7 471 1971 5,7 19,6 Tr 71,0 1,5 1,0 36 27 11 Biscoito, doce, wafer, recheado de morango 1,2 502 2102 5,6 24,7 Tr 67,5 1,8 1,1 23 48 12 Biscoito, doce, wafer recheado de chocolate 1,2 513 2148 4,5 26,4 1 67,4 0,8 0,6 14 19 13 Biscoito, salgado, cream cracker 4,1 432 1806 10,1 14,4 NA 68,7 2,5 2,7 20 40 14 Bolo, mistura para 1,0 419 1752 6,2 6,1 Tr 84,7 1,7 2,0 59 28 18 19 Número do Alimento Descrição dos Alimentos Umidade (%) Energia Proteína (g) Lipídeos (g) Colesterol (mg) Carboidrato (g) Fibra Alimentar (g) Cinzas (g) Cálcio (mg) Magnésio (mg)(kcal) (kJ) 15 Bolo, pronto, aipim 34,1 324 1355 4,4 12,7 73 47,9 0,7 0,8 85 10 16 Bolo, pronto, chocolate 19,3 410 1715 6,2 18,5 77 54,7 1,4 2,5 75 28 17 Bolo, pronto, coco 29,3 333 1395 5,7 11,3 63 52,3 1,1 1,7 57 16 18 Bolo, pronto, milho 36,7 311 1303 4,8 12,4 82 45,1 0,7 0,7 83 10 19 Canjica, branca, crua 13,6 358 1496 7,2 1,0 NA 78,1 5,5 5,5 2 12 20 Canjica, com leite, integral 72,5 112 471 2,4 1,2 1 23,6 1,2 1,2 43 6 21 Cereais, milho, flocos, com sal 9,3 370 1546 7,3 1,6 NA 80,8 5,3 5,3 2 20 22 Cereais, milho, flocos, sem sal 11,2 363 1520 6,9 1,2 NA 80,4 1,8 1,8 2 17 23 Cereais, mingau, milho, infantil 4,7 394 1650 6,4 1,1 NA 87,3 3,2 3,2 219 16 24 Cereais, mistura para vitamina, trigo, cevada e aveia 4,4 381 1595 8,9 2,1 NA 81,6 5,0 3,0 584 72 Fonte: Adaptado de Tabela TACO, 2020 Na tabela acima, podemos ver um como é organizada a Tabela TACO. A análise considera 100g do alimento, e as análises realizadas referem-se à análise centesimal. Sendo assim, temos análise de umidade, energia (calorias), proteínas, lipídeos, fibras, cinzas e conteúdo mineral. Por meio da Tabela TACO, é possível comparar diferentes parâmetros e utilizar como ferramenta na escolha do alimento ideal para o consumo. No caso do arroz cozido integral, o teor de fibras alimentares é de 2,7g por 100g de alimento. Já o arroz cozido tipo 1 é de 1,6g por 100g de alimento, ou seja, o arroz integral apresenta maior teor de fibras que o arroz convencional. • Quais são as limitações do teste de determinação de fibras brutas? • Por que é necessário realizar pré tratamentos (tratamento ácido e alcalino) na amos- tra antes da análise de fibras brutas?; • Quais equipamentos e métodos são empregados na determinação de conteúdo mi- neral e minerais traços? • Qual a importância da Tabela Nutricional presente nos rótulos dos alimentos? • Qual a contribuição da tabela TACO? • Quais as informações podemos extrair da tabela TACO? 19 UNIDADEAspectos Bromatológicos I Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura TACO – Tabela Brasileira de composição Alimentar https://bit.ly/33jKZQj Estrutura dos grânulos de amido e sua relação com propriedades físico-químicas DENARDIN, C. C.; SILVA, L. P. da. Estrutura dos grânulos de amido e sua relação com propriedades físico-químicas. Cienc. Rural, Santa Maria, v. 39, n. 3, p. 945- 954, jun. 2009. https://bit.ly/3mnQVAy Parâmetros complementares para fixação de identidade e qualidade de produtos panificados ESTELLER, M. S.; LANNES, S. C. da S. Parâmetros complementares para fixação de identidade e qualidade de produtos panificados. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 25, n. 4, p. 802-806, dez. 2005 https://bit.ly/33owvyw Physicochemical and functional properties of oilseed proteins with emphasis on soy proteins in New Protein Foods: Seed Storage Proteins KINSELLA, J. E. et al. Physicochemical and functional properties of oilseed proteins with emphasis on soy proteins in New Protein Foods: Seed Storage Proteins, Altshul, A. M. e Wilcke, H. L. London, Academic Press, p. 107–79. 1985. 20 21 Referências BER NAUD, R. S. F.; RODRIGUES, C. T. Fibra alimentar – Ingestão adequada e efeitos sobre a saúde do metabolismo, Arq. 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Ciência dos alimentos: princí- pios de Bromatologia. São Paulo: Rúbio, 2017. SILVA, C. A. O. Análise de Alimentos: uma abordagem multidisciplinar, Belo Horizonte: Editora, jul. 2012. 21 UNIDADE Aspectos Bromatológicos I SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. de. Análise de alimentos: métodos químicos e bio- lógicos 3.ed. Viçosa: UFV, 2002. 235p. SRINIVASAN, D., PARKER, K. L. Química de Alimentos de Fennema. 5.ed. São Paulo: Artemed, 2019 Cap. 1. p. 1-4. (e-book) Sites Visitados EMBRAPA. Documento 136. Metodologias para avaliação de alimentos para rumi- nantes domésticos. Disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bits- tream/doc/884369/1/doc136alimentacaoderuminantes.pdf>. NEPA. Definição da TACO (Tabela Brasileira de composição Alimentar). Dispo- nível em: <http://www.nepa.unicamp.br/publicacoes/projeto-taco>. Acesso em: 14/02/2020. TACO. Fases da construção da Tabela Brasileira de composição Alimentar. Disponível em: <http://www.nepa.unicamp.br/taco/fases.php?ativo=fases>. 22
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