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L L L O impacto do envelhecimento sobre o sistema digestório pode variar tanto na intensidade como na natureza e está relacionado com alterações estruturais, de motilidade e da função secretória. As repercussões clínicas dessas alterações são, na maioria dos casos, pouco perceptíveis, mas, em seu conjunto, podem adquirir importância para a compreensão e o manuseio de sintomas e para a previsão de alterações na farmacocinética de diversas medicações.¹ Envelhecimento SISTEMA DIGESTÓRIO, ÓSTEOARTICULAR, MUSCULAR E O EXERCÍCIO FÍSICO P/ O IDOSO SISTEMA DIGESTÓRIO Lorena Lima, M7 ESÔFAGO O esôfago é composto por musculatura estriada no seu 1/3 proximal e musculatura lisa no 2/3 distal, fato esse que se associa a deglutição espontânea e aos movimentos de peristalse, respectivamente. Além disso, a inervação intrínseca e extrínseca que se comunicam com núcleo no sistema nervoso central controlam sua motilidade por meio das peristalses que promovem seu esvaziamento. Durante a velhice, a musculatura lisa não se altera significativamente, contudo a inervação Discreta a moderada elevação no tempo do esvaziamento gástrico. Uma possível redução da secreção ácida secundária a uma redução de células parietais. intrínseca é progressivamente reduzida. De maneira geral, sabe-se sobre alterações no relaxamento do esfíncter superior do esôfago, aumento da incidência de contrações não peristálticas e o relaxamento incompleto ou ausente do esfíncter inferior do esôfago. O sintoma mais associado a essas alterações é a disfagia alta.¹ Estudos também demonstraram que mesmo em idosos assintomáticos, quando ocorriam episódios de refluxos eles tinham maior duração. Isso se torna relevante para uma conduta vigilante para com os idosos em que é necessário fazer a administração oral de medicamento em posição ortostática e acompanhado de quantidade adequada de líquido.¹ Dessa forma, como alterações de motilidade esofágica em idosos são frequentes mas raramente associadas a sintomas, recomenda-se que todo idoso com disfagia ou outro sintoma esofágico sejam investigados minunciosamente, considerando outras causas é não apenas o envelhecimento. Até porque teoriza-se sobre a população idosa ter maior limiar de dor esofágica, o que justifica a pouca associação sintomática neles.¹ ESTÔMAGO As alterações relacionadas à senilidade tem pouca expressão clínica. Mas dentre os achados têm-se: Isso torna-se relevante por alterar em algum grau de absorção de medicações em que o contato prolongado a ácidos gástrico é crítica (cetoconazol, fluconazol, tetraciclinas).¹ Contudo, estudo mais recentes afirmam que essa redução de secreção ácida gástrica não ocorre em idosos saudáveis.¹ Secreção basal e estimulada de pepsina também está reduzida.¹ O fator intrínseco necessário para absorção de vitamina B12 se encontra reduzida, mas não ao ponto de causa anemia. A absorção de Ferro também se encontra reduzida pela hipocloridria, mas também não a ponte de causa anemia ferropriva.¹ A redução de fatores protetores da mucosa como bicarbonato, sódio e secreção não parietal e conhecida, além da diminuição significativa de prostaglandinas na mucosa gástrica. Redução da secreção de lipase e de bicarbonato. Esses últimos podem estar associado ao aumento de doenças peptídicas e aparente maior sensibilidade a fatores agressores como anti-inflamatórios não esteroidais na velhice.¹ PÂNCREAS O pâncreas sobre alterações significantes na velhice, seu peso declina de mais ou menos 60g para 40g na 9º década de vida. Há alterações histológicas como: dilatação do ducto principal, proliferação do epitélio ductal e formação de cistos. Há também fibrose e lipoatrofia local que aparecem como aumento da densidade do parênquima nas radiografias. Isso causa: Contudo, esses dados não tem valor aparente, visto que não ficou claro até hoje alterações no processo digestório devido a alterações da função pancreática.¹ FÍGADO O fígado tem sido amplamente estudo no processo de envelhecimento, porém com mais relação a metabolização medicamentosa do que alterações estruturais e secretivas. Contudo, seu volume reduz de 30 a 40% até a 9ºdécada de vida, com redução do fluxo sanguíneo em 35% possivelmente relacionado ao menor tamanho. Quanto a função secretora, são descritas a diminuição de: L L L Lorena Lima, M7 albumina, colesterol, glicoproteínas e ácidos biliares.¹ As alterações na secreção de albumina e glicoproteínas podem interferir na farmacocinética de medicações que têm importante ligação à albumina (fenitoína, antipsicóticos), e às glicoproteínas (lidocaína e propranolol).¹ Quanto a metabolização de medicamento pelo fígado, que é classificada em duas etapas, terá sua função significativamente afetada apenas a I. A fase I consiste na ação enzimática (citocromo P-450) que faz a oxidação, redução ou hidrólise da medicação original convertendo-os em compostos mais polares. Supõem-se uma redução de 5 a 30% dessa função, e quanto ao citocromo P-450, sua afinidade e efetividade também se mostra alterada.¹ Contudo, os teste de avaliação de função hepática se mostram praticamente inalterados.¹ INTESTINO DELGADO Quanto a alterações estruturais, há uma relativa redução da vilosidades, da superfície da mucosa e do fluxo esplâncnico (40% a 50%). O tempo de trânsito intestinal não apresenta alterações significativas, mas isso não exclui possíveis alterações do padrão de motilidade, o qual permite a hiperproliferação bacteriana, uma das causas de perda de peso no idoso. A função absortiva é pouco alterada para os nutrientes, mas a avaliação de carboidratos pelo teste da D-xilose se reduz em até 35%, mas a causa disso se dá na função renal e não intestinal.¹ Os lipídeos possuem um complexo processo digestivo e absortivo, então é percebido uma discreta redução na absorção lipídica, em especial quanto há sobrecarga, que está diretamente relacionada com as alterações pancreática e dos sais biliares, bem como a redução da ressíntese de triglicerídeos pela mucosa.¹ Contudo, essas alterações não críticas para a manutenção nutricional do idoso. Já alguns estudos demonstram diminuição na capacidade absortiva dos seguintes nutrientes: Vitamina D, Ácido Fólico, Vitamina B12, Cálcio, Cobre, Zinco, Ácidos Graxos e Colesterol. Porém outros, como a Vitamina A e a Glicose, pode estar aumentadas-esses achados, são controversos e questionáveis clinicamente.¹ CÓLON Três fatos evidentemente idade- relacionados ocorrem, no que se refere ao cólon: (1) o aumento da prevalência de constipação intestinal; (2) o aumento da incidência de neoplasias e (3) o aumento da prevalência de doença diverticular. A constipação intestinal pode ser explicada por fatores extrínsecos ao cólon, como sedentarismo, redução da ingestão de fibras e líquidos, e as alterações hormonais. Uma possível causa intrínseca seria a redução dos neurônios do plexo mioentérico associada ao envelhecimento.¹ Sobre a prevalência da diverticulite em idosos, ela se relaciona a alterações morfológicas e biomecânicas do cólon. Por exemplo o colágeno e a elastina que compõe a parede intestinal conferindo distensibilidade, irão sofrer alterações como a maior agregação do colágeno e a degeneração da fibrina, resultando em menor distensibilidade e resistência. Somado a isso tem-se os mesmo fatores extrínsecos já citados que também contribuem para sua patogênese. ¹ A incidência das neoplasias tem diversas teorias complementares, sabe-se que a exposição da mucosa por períodos prolongados a agentes carcinogênicos, a hiperproliferação das células crípticas e o aumento da suscetibilidade da mucosa com o envelhecimento à malignidade, contribuem para essa incidência.¹ L L L Lorena Lima, M7 déficit cognitivo impactação fecal acidentes vasculares encefálicos neuropatia diabética. RETO e ÂNUS A prevalência de incontinência fecal aumenta claramente com o envelhecimento, diversos mecanismo extrínsecos contribuem para isso: Quanto aos fatores intrínsecos, sabe-se sobre: Alterações no esfíncter externo, espessamento ealterações teciduais do colágeno, redução da força muscular, diminuição da capacidade de retenção fecal voluntária. Há lesão mecânica crônica nos nervos do pudendo alterando essa autonomia muscular esquelética.¹L L LAVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL A Miniavaliação Nutricional (MAN), de Guigoz et al. (1994), foi o primeiro e é ainda o único instrumento validado para avaliação nutricional especificamente do idoso. O objetivo da MAN é avaliar o risco de desnutrição para poder intervir quando necessário. Inclui 18 itens, atingindo um escore máximo de 30 pontos, sendo que entre 17 e 23,5 há risco de desnutrição; abaixo de 17, caracteriza desnutrição; e, acima de 24, considera-se bom o estado nutricional. As perguntas são sobre medidas antropométricas, como peso, altura, perda de peso, informações dietéticas, referentes à alimentação, informações sobre estilo de vida, medicação, além da autopercepção sobre o estado de saúde.¹ Informações sobre o estado nutricional são importantes na avaliação da condição de saúde de um indivíduo. Sendo assim, principalmente para o idoso, não existe um método único e eficiente para estabelecer as condições nutricionais, carecendo de valor preditivo para a mortalidade. Inúmeros motivos podem levar o idoso ao quadro de desnutrição. Viver sozinho desestimula o indivíduo a preparar alimentos; restrições funcionais podem incapacitá-lo de ir às compras e de cozinhar, por exemplo. Pacientes em condições sociais adversas e do sexo masculino são mais suscetíveis aos quadros de desnutrição.¹ Um estudo feito com idosos de mais de 75 anos durante 3 anos, não encontrou relação entre IMC de 25 a 27 como fator de risco para mortalidade cardiovascular ou outros em idosos, enquanto outros três estudo viram como fator de risco o IMC maior ou igual a 27. Assim como O IMC maior igual a 28 também foi visto uma maior associação com a mortalidade do idoso.¹ O aumento de peso eleva consistentemente os riscos das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), entre elas as doenças cardiovasculares, acidente vascular encefálico, diabetes e certos tipos de câncer (MS, 2011). Por outro lado, a desnutrição está associada ao aumento da mortalidade e da suscetibilidade às infecções e à redução da qualidade de vida. Outra condição clínica atualmente bastante estudada no envelhecimento e que pode coexistir com as DCNT é a sarcopenia.¹ Lorena Lima, M7 A sarcopenia é um processo progressivo e lento, caracterizado por redução da massa muscular de 3 a 8% por década após os 30 anos. Sua prevalência é estimada por alguns autores em 30% entre os idosos com 60 anos ou mais, chegando a atingir até 50% daqueles com mais de 80 anos.¹ A associação da sarcopenia à obesidade, denominada obesidade sarcopênica, é atualmente considerada uma das piores condições clínicas por sua associação positiva com pior sobrevida e declínio funcional quando comparada com outras condições nutricionais. A alimentação inadequada e o sedentarismo figuram entre os fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento dessas doenças. L L LEstaturaA estatura é uma medida de difícilconferência em idosos devido àsalterações associadas à idade, cifoses,escolioses e a diminuição dos discos decartilagens entre as vértebras, a qual leva ao seu achatamento, estão entre as principais alterações anatômicas que afetam a postura e a estatura dos idosos. Para calcular essa medida, deve ser usado o antropômetro fixado em balança do tipo plataforma.¹ Circunferência da panturrilha A circunferência da panturrilha fornece uma medida sensível da massa muscular em idosos, segundo a Organização Mundial da Saúde, pois apresenta boa correlação com os níveis de albumina sérica. A medição é realizada na perna esquerda com uma fita métrica inelástica, na sua parte mais protuberante. Deve ser considerada adequada circunferência igual ou superior a 31 cm para homens e mulheres Peso O peso é uma medida simples de ser realizada e deve ser efetuada em todas as consultas, sua utilização isolada, mesmo não fornecendo indicações tão precisas do diagnóstico nutricional, permite verificar a velocidade de uma possível perda de peso no decorrer do tratamento.¹ A velocidade de perda de peso (VPP) significativa está associada à diminuição preponderante de massa muscular, um importante marcador de desnutrição.¹ Circunferência do braço Essa medida deve ser feita no braço esquerdo, no ponto médio entre o acrômio da escápula e o olécrano da ulna. O ponto médio é obtido com o braço flexionado a 90° e o valor da circunferência do braço (CB) é obtido com o braço relaxado. Essa medida oferece um índice aproximado da reserva calórica e proteica. Devem ser considerados adequados valores > 22 cm. Dessa forma, a partir da terceira década de vida, iniciam-se alterações na composição corporal, com perda de massa magra e aumento no tecido adiposo. Essas modificações podem explicar o aumento de peso nos adultos jovens e as perdas involuntárias a partir de 60 anos. No entanto, embora comuns e esperadas, as perdas de peso corpóreo dos idosos devem ser sempre investigadas.¹ Embora a desnutrição seja subnotificada em registros de óbitos, ou que seja mais comumente apontada como causa secundária de doenças pulmonares, neurológicas e imunológicas, sua relação com a morbidade e a mortalidade na velhice não pode ser negligenciada.¹ Lorena Lima, M7