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1 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S 2 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S 3 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino Revisão Ortográfica: Clarice Virgilio Gomes / Bianca Yureidini Santos PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S 6 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professor: Ana Daniela Coutinho Vieira 7 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Esta unidade analisará a estruturação de um laboratório clí- nico com base nos requisitos legais e nas recomendações técnicas referentes à qualidade analítica e à gestão de processos, visando uma abordagem clara e próxima à realidade das análises clínicas e toxico- lógicas. Serão abordados temas como biossegurança, processos e etapas analíticas, tipos de amostras biológicas, métodos de análise, sistemas de controle interno e externo da qualidade e certificação la- boratorial. A unidade é estruturada de forma que permita o desenvol- vimento técnico do analista clínico ao mesmo tempo em que comple- menta seu repertório com temas administrativos e focados na gestão, ampliando a sua atuação e desenvolvendo conceitos cada vez mais importantes na prática laboratorial moderna. Controle de Qualidade. Gestão Laboratorial. Qualidade Analítica. 9 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 BIOSSEGURANÇA E PRÁTICAS LABORATORIAIS Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 12 34 14 O Laboratório Clínico e o Ofício Diagnóstico _____________________ Obtenção de Amostras Biológicas ______________________________ Montagem e Estruturação de Laboratórios Clínicos ______________ CAPÍTULO 02 AMOSTRAS BIOLÓGICAS Principais Tipos de Amostras Biológicas _________________________ 31 26Recapitulando ________________________________________________ Recapitulando _________________________________________________ 47 15 Biossegurança em Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológi- cas ____________________________________________________________ 35Coleta de Amostras Sanguíneas ________________________________ 18Métodos Analíticos ______________________________________________ 23Validação de Métodos Analíticos ________________________________ 38Coleta de Amostras de Urina __________________________________ 40Interferentes Analíticos em Amostras Biológicas ________________ 10 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Controle de Qualidade Interno ___________________________________ 54 Controle de Qualidade Externo __________________________________ 61 Indicadores da Qualidade _______________________________________ 61 Recapitulando __________________________________________________ 63 Fechando a Unidade ____________________________________________ 68 Referências _____________________________________________________ 71 CAPÍTULO 03 CONTROLE DE QUALIDADE E CERTIFICAÇÕES LABORATORIAIS Garantia da Qualidade ________________________________________ 52 11 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Há poucas décadas, os laboratórios clínicos consistiam em empresas pequenas, com estrutura e equipamentos básicos, em sua maioria para atender a uma restrita população regional. Porém, com o desenvolvimento da ciência e da medicina, e com a criação de novas formas de acesso aos exames através de convênios e planosde saúde, o mercado de análises clínicas entrou em crescimento exponencial e, com isso, trouxe mudanças significativas ao cenário. Primeiramente, em um âmbito mais administrativo, houve adap- tações em relação às margens de lucro e formas de pagamento e acesso aos exames. O que anteriormente acontecia, basicamente, através de pagamentos diretos dos clientes, agora envolve toda uma cadeia econô- mica, especialmente na utilização de planos de saúde terceirizados. Esse novo formato de mercado trouxe maior competitividade e a necessidade de adaptação. Além disso, a criação de grandes corpora- ções de redes de laboratório baseadas na aquisição de laboratórios de menor porte provocou uma expansão geográfica no atendimento. De forma mais técnica, as adaptações ocorreram a partir de diretrizes e normas, frequentemente revisadas, que buscam a melhoria contínua das metodologias e práticas aplicadas aos laboratórios clíni- cos. Com isso, padronizações e exigências relacionadas a estruturação, execução de processos e monitoramento da qualidade foram criadas e fazem parte da realidade diária dos laboratórios. Por isso, cada vez mais, há a necessidade de uma formação e atualização contínua dos profissionais atuantes nesse segmento. A com- provação de qualidade laboratorial há muito deixou de ser um diferencial opcional e passou a ser um pré-requisito na execução das análises labo- ratoriais, tornando indispensável a educação voltada para este segmento. 12 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S O LABORATÓRIO CLÍNICO E O OFÍCIO DIAGNÓSTICO O laboratório clínico é responsável pelo processamento de amostras clínicas de forma segura e competente, a fim de gerar informa- ções relevantes que afetam diretamente a tomada de decisões quanto ao diagnóstico e tratamento de pacientes, atuando no suporte às resoluções clínicas e na saúde como um todo. Neste sentido, uma série de proces- sos, metodologias e profissionais dedicam-se a executar os exames labo- ratoriais com qualidade, gerando resultados fidedignos e úteis. Neste cenário, é cada vez mais necessário que os profissionais envolvidos com as análises laboratoriais possam associar suas competên- cias técnicas com a capacidade de gestão administrativa e da qualidade. Um bom exemplo da evolução deste segmento, são os programas de cer- BIOSSEGURANÇA E PRÁTICAS LABORATORIAIS G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O XI C O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S 12 13 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S tificação e acreditação laboratoriais, que eram inicialmente vistos como di- ferencial atingível por poucos laboratórios e hoje em dia são uma exigência do mercado para os laboratórios que pretendem se manter competitivos. Para que um laboratório consiga atingir tais objetivos, de qua- lidade e competitividade, é essencial que haja consciência de todos os processos envolvidos no fluxo de trabalho, desde produtos, fornecedo- res, equipamentos, metodologias utilizadas à gestão de funcionários, clientes e legislações envolvidas neste segmento. Para facilitar o geren- ciamento de tais processos, diversas ferramentas podem ser utilizadas, como os já bastante conhecidos ciclo PDCA, matriz SWOT e Seis Sig- ma, que são abordados de forma resumida no Quadro 1. Quadro 1 – Ferramentas de gestão administrativa e da qualidade Fonte: Thompson AA, 2011; McPherson A, 2012 Para um melhor gerenciamento desses processos, as rotinas la- boratoriais são frequentemente divididas em três fases: pré-analítica, analí- tica e pós analítica. A fase pré-analítica envolve toda a preparação para que um exame seja realizado. Começa desde a requisição médica, envolvendo a orientação do paciente e a correta solicitação de exames por parte do clí- nico, passando pela recepção do paciente no laboratório, onde os exames a serem realizados deverão ser identificados corretamente e o paciente será orientado quanto às condições de preparo necessárias para a realiza- ção do exame, também envolvendo o recebimento e a coleta de amostras biológicas. Ainda nesta etapa ocorrem o acondicionamento e o transporte das amostras coletadas. Pode-se dizer que a fase pré-analítica envolve to- dos os processos que ocorrem antes de o analista iniciar o processamento da amostra, e que a maioria dos erros ocorre nesta fase, pois é quando a amostra está sujeita a uma maior quantidade de variáveis. 14 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Já a fase analítica envolve a execução do exame propriamente dito. É nesta etapa que são aplicadas técnicas manuais e automatizadas para que o material recebido pelo laboratório possa fornecer as informa- ções acerca dos analitos-alvo. Nessa fase, os analistas clínicos utilizam toda a sua bagagem teórica e científica para executarem metodologias nos mais diversos setores laboratoriais, tais como: microbiologia, bioquí- mica, hematologia, imunologia, urinálise, biologia molecular, entre outros. Por sua vez, na fase pós-analítica são realizadas as avaliações e liberações das informações geradas na fase anterior. Estes dados são transformados em um resultado (qualitativo ou quantitativo) que é liberado através do laudo, um documento que formaliza a execução do trabalho e repassa os resultados para o paciente e para o médico. Além disso, a fase pós-analítica envolve a assessoria científica, que consiste no esclarecimento de possíveis dúvidas de pacientes e médicos sobre os resultados e/ou metodologia. Entretanto, apesar de operar através de processos bem defi- nidos e sequenciais, a execução de exames laboratoriais está ineren- temente sujeita a ocorrência de erros. Por isso, é de suma importância que sejam inseridos sistemas de gestão da qualidade visando a detec- ção, o rastreio, a correção e a prevenção de tais erros, bem como a execução de boas práticas laboratoriais. Sabe-se que a fase pré-analítica engloba a maior parte dos erros laboratoriais e, por isso, uma atenção redobrada deve ser des- pendida aos processos desta etapa, visto que a qualidade da amostra recebida para a análise no setor técnico é absolutamente dependente da eficiência desta fase. Caso não sejam respeitadas recomendações, por exemplo, de jejum, temperatura de armazenamento e transporte e recipientes de co- leta, os componentes da amostra podem ser deteriorados ou adultera- dos, comprometendo as propriedades do analito e, consequentemente, o laudo laboratorial. MONTAGEM E ESTRUTURAÇÃO DE LABORATÓRIOS CLÍNICOS Com a variedade de particularidades que envolvem o serviço de análises clínicas e toxicológicas é imprescindível que os laboratórios sigam padronizações e recomendações técnicas a fim de estabelecer critérios de qualidade nos serviços. Neste sentido, algumas recomenda- ções são voluntárias, como as acreditações, e outras são mandatórias, como veremos a seguir. As principais bases legais para a montagem e para o funciona- 15 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S mento dos laboratórios clínicos no Brasil são as RDCs 302/2005 e 50/2002, ambas amparadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A RDC 302/2005 determina o “Regulamento Técnico para Fun- cionamento de Laboratórios Clínicos”, sejam estes privados ou públi- cos, e engloba orientações sobre responsabilidade técnica, obrigações legais, estrutura organizacional, infraestrutura, processos operacionais, registros, controle e gestão da qualidade e biossegurança.Esta é a prin- cipal base legal para a fiscalização dos laboratórios no Brasil e, por isso, deve sempre ser consultada antes de se iniciar a implantação ou a adequação de um estabelecimento, bem como, é utilizada como fun- damento para a estruturação de programas da qualidade, juntamente com outras diretrizes. De acordo com as necessidades e prerrogativas locais, as Secretarias de Saúde dos Municípios, Estados e Distrito Fe- deral também podem criar normas complementares à RDC 302/2005. Já a RDC 50/2002 dispõe sobre questões relacionadas ao pro- jeto físico dos laboratórios, com recomendações arquitetônicas e estru- turais, que vão desde as dimensões mínimas para o laboratório e para os seus setores aos materiais permitidos na construção e revestimento e aos requisitos de ventilação e iluminação, entre outras determinações. Todo laboratório clínico atuante no país deve estar alinhado com as recomendações destas RDCs e, em caso de inadequações, pode sofrer as devidas penalizações. As RDCs regulamentam a montagem e o funcionamento dos laboratórios clínicos, por isso é de grande importância que todo profissional atuante nesse segmento tenha conhecimento sobre as suas particularidades e exigências, e embase suas tomadas de deci- sões em tais critérios. Para leitura destes documentos, acesse: RDC 302/2005: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopa- ciente/index.php/legislacao/item/rdc-302-de-13-de-outubro-de-2005 RDC 50/2002: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopa- ciente/index.php/legislacao/item/rdc-50-de-21-de-fevereiro-de-2002 BIOSSEGURANÇA EM LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS Além da adequação às normas regulamentadoras, o labora- 16 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S tório deve prover um ambiente seguro para que seus colaboradores possam exercer suas atividades com o menor risco possível de conta- minação e acidentes com materiais biológicos, químicos e até mesmo físicos. Por isso, medidas de segurança e prevenção são um tema fun- damental na gestão laboratorial. A exposição aos riscos é inerente à medicina diagnóstica e deve ser tratada de forma a minimizar seus danos, com foco na segu- rança dos profissionais e da comunidade. Para isso, práticas seguras devem fazer parte da cultura da empresa e da rotina de trabalho. Uma das primeiras etapas na gestão de riscos ocupacionais é a definição dos níveis de segurança dos setores laboratoriais. Atual- mente, os laboratórios clínicos englobam quatro níveis de biosseguran- ça, de acordo com os microrganismos envolvidos nas atividades: • Nível 1: são laboratórios ou setores que manipulam agentes biológicos de classe de risco 1, ou seja, com baixo risco individual e coletivo e que não requerem processos diferenciais, além das boas prá- ticas laboratoriais. São, por exemplo, os laboratórios de ensino. • Nível 2: são os laboratórios que manipulam agentes biológicos de classe de risco 2, ou seja, aqueles que apresentam moderado risco individual e limitado risco para a comunidade. Nesta categoria encaixam- -se, por exemplo, a maioria dos laboratórios com setor de microbiologia, onde são realizados testes para diagnóstico de doenças infecciosas. São necessárias, além das boas práticas laboratoriais, medidas de contenção primária, como a utilização de cabine de segurança biológica. Além disso, o desenho estrutural do laboratório deve favorecer o isolamento do setor. • Nível 3: são laboratórios que manipulam, além de agentes biológicos de classe de risco 2, os microrganismos de classe 3, que apresentam risco infeccioso elevado e, por isso, as medidas de prote- ção devem ser ainda mais rígidas e o acesso deve ser mais controlado. Um exemplo clássico deste tipo de laboratório é aquele onde é feita a manipulação de micobactérias. Nestes casos, sugere-se que a cabine de segurança biológica possua um sistema de ventilação que reduza a possibilidade de contaminação. • Nível 4: neste tipo de laboratório são manipulados agentes biológicos com alto poder de transmissão ou para os quais ainda não profilaxia e terapia eficaz (classe de risco 4). Por isso, são necessá- rias medidas especiais de segurança, além de barreiras de contenção, visando o isolamento das demais áreas. Laboratórios deste nível são adequados, por exemplo, para a manipulação de vírus Ebola. Além da categorização e adequação dos laboratórios quanto ao risco biológico, as boas práticas laboratoriais envolvem uma série de condutas visando à proteção do profissional. A mais básica e essencial 17 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S destas condutas é o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), como jalecos, luvas, máscara e touca; e coletiva (EPC), como o chuvei- ro de emergência e a cabine de segurança biológica. As cabines de segurança biológica são especialmente impor- tantes neste contexto, pois são estruturas cuja principal função é pro- teger o manipulador, o ambiente e as amostras manipuladas, em dife- rentes níveis. Também possuem uma classificação de acordo com o tipo de material e agente biológico manipulado no seu interior, como é demonstrado no Quadro 2. Quadro 2 – Classificação das cabines de segurança biológica Fonte: Autora, 2020. Mesmo com o arsenal de EPIs e EPCs disponíveis em um la- boratório, é importante salientar que tais medidas só serão efetivas se estiverem alinhadas com um comportamento adequado dos funcioná- rios, praticando a biossegurança no dia a dia do ofício. Por isso, cada laboratório deve desenvolver documentos e prá- ticas que visem a educação contínua dos seus funcionários. O manual de biossegurança é um documento-chave e que deve ser apresentado 18 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S a todos os colaboradores, além de ficar disponível para consulta sem- pre que necessário. Neste manual devem estar esclarecidas as atitudes esperadas em relação à manipulação de materiais biológicos e ao cui- dado com possíveis agente nocivos. Outro documento importante neste sentido é o mapa de riscos que, como o nome propõe, faz um mapeamento dos possíveis riscos dentro do laboratório clínico, sejam estes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos ou de acidente. Os riscos biológicos incluem, principal- mente, os microrganismos como bactérias, fungos, vírus e parasitas. É importante salientar que todo material biológico manipulado deve ser considerado potencialmente infeccioso, pois não é possível afirmar que está livre destes agentes, e, portanto, deve ser manipulado com extre- ma cautela e com uso de EPIs e EPCs adequados, principalmente em amostras e processos com potencial risco de formação de aerossóis. Os riscos químicos, por sua vez, englobam substâncias que possam, de alguma forma, ser absorvidas pelo organismo humano, seja por inalação ou outro tipo de contato. Já os riscos físicos envolvem o am- biente onde a função é desempenhada, com suas características de ilu- minação, pressão, temperatura, ruídos, umidade e possíveis radiações. Além disso, qualquer atividade que possa gerar alterações psi- cofisiológicas no profissional, afetando a sua saúde e bem-estar, podem ser consideradas como risco ergonômico. E, por fim, os possíveis aci- dentes durante a jornada de trabalho, que coloquem a integridade do profissional em risco, também são considerados riscos. Os acidentes mais comumente encontrados na execução de tarefas laboratoriais são os com materiais perfurocortantes, como agulhas, lancetas, lâminas, entre outros. Por isso, é de grande importância que estes materiais sejam corretamente manipulados e descartados, em recipientes rígidos e específicos paraeste fim. MÉTODOS ANALÍTICOS Atualmente, devido à modernização e à necessidade de realiza- ção de testes em larga escala e com resultados mais rápidos, a grande par- te dos exames realizados em laboratório utilizam sistema de automação. Essa modernização permite que os setores sejam cada vez mais interliga- 19 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S dos e que o fluxo de trabalho ocorra de forma mais independente de ma- nipulação. O compartilhamento de diferentes metodologias em um mesmo equipamento, por exemplo, facilita a rotina, pois amplia a capacidade e a variedade de exames que podem ser realizados simultaneamente, o que é notável em laboratórios com grandes núcleos automatizados ou mes- mo de automação total. Porém, mesmo em laboratórios de menor fluxo e complexidade há a necessidade de equipamentos e técnicas que facilitem a execução dos exames, pelo menos em setores com maior fluxo e com automações mais popularizadas, como bioquímica e hematologia. A automação na etapa analítica gera um enorme ganho em questão de tempo de execução e padronização, pois a maioria dos ana- lisadores realiza a análise desde a leitura de códigos de barra nos tubos de amostra, realizando a pipetagem, a manipulação de reagentes, a incu- bação, a leitura das reações, os cálculos e a transmissão de resultados. É importante salientar, entretanto, que os processos automati- zados não estão livres de falhas e erros e, portanto, juntamente com a utilização desses analisadores, é necessário que os laboratórios condu- zam rigorosos processos internos e externos de controle de qualidade. Por este motivo, é essencial que os analistas clínicos conheçam a fundo os princípios e os parâmetros das principais metodologias e equipa- mentos utilizados. Como será exposto a seguir, variadas metodologias podem ser utilizadas para a mensuração de analitos-alvo, tais como técnicas cito- métricas, fotométricas, eletroquímicas, eletroforéticas, cromatográficas, imunoensaios e espectrometria de massa, e com o avanço das auto- mações, alguns equipamentos oferecem a integração de mais de uma metodologia para resultados mais sensíveis e/ou específicos. É essencial que todo profissional responsável pela manipula- ção de equipamentos analíticos conheça seus princípios e seu funcio- namento, tanto para uma melhor interpretação dos resultados, quanto para eventuais necessidades de manutenção e calibração. Nas análises celulares, a metodologia mais frequentemente utili- zada é a citometria de fluxo, consistindo na mensuração das células sus- pensas em uma matriz líquida, que ao passarem por uma fonte luminosa podem ser identificadas de acordo com as suas características de tama- nho e complexidade, pois dispersam a luz emitida de diferentes formas, de acordo da célula. Os citômetros são amplamente utilizados em hema- tologia e citologia, mas também podem ser utilizados para a mensura- ção de partículas virais, bactérias e fragmentos de DNA. Adicionalmente, podem ser incorporados processos de coloração com fluorocromo para a associação de luz fluorescente na identificação das partículas. De forma resumida, em um citômetro, as amostras são intro- 20 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S duzidas e posteriormente suspensas em uma câmara de fluxo, com a utilização de pressão de ar. Nesta câmara, forma-se um fluxo laminar a partir da inserção de uma corrente líquida, alinhando as células em filas únicas. Neste processo, também chamado de focagem hidrodinâmica, as células enfileiradas passam por um feixe de luz e é então que elas podem ser identificadas por três mecanismos principais: dispersão da luz em ângulo reto (características nucleares e de granularidade celu- lar), dispersão da luz frontal (tamanho da célula) e detecção de fluoro- cromos (marcadores específicos). Já nas análises imunoquímicas, a maior parte das metodolo- gias se baseia na medida de energia radiante posteriormente detectada por sensor, seja esta energia refletida, dispersa, emitida ou absorvida. Quando a energia absorvida ou transmitida encontra-se na forma de energia luminosa, as metodologias são chamadas de fotométricas e avaliam as reações químicas por meio da interação da luz com os subs- tratos consumidos ou com os produtos formados na reação. Uma das principais técnicas fotométricas é a espectrofoto- metria. Nela, a determinação da concentração de um analito em uma amostra é feita com base na absorção de luz monocromática por uma solução. Nessa metodologia, a intensidade da luz emitida diminui ao passar por uma solução, pois ela é absorvida pelo produto gerado em uma reação química. A quantidade de luz absorvida é chamada de ab- sorbância. Nesse método também é mensurada a quantidade de luz que consegue passar sem ser absorvida pela solução, a transmitância. Quanto maior for a concentração da solução, maior será a ab- sorbância e menor será a transmitância; por outro lado, quanto menor for a concentração, menor será a absorbância e maior será a transmi- tância. A concentração da solução, por sua vez, estará relacionada à quantidade de produto formado a partir de uma reação química especí- fica que é utilizada para quantificar um analito. Sendo assim, um espectrofotômetro deve ser capaz de utilizar a energia luminosa para gerar informações sobre a concentração de uma solução e, para isso, é composto basicamente por seis elementos: fonte, seletor de comprimento de onda, cubeta, fotodetector, proces- sador de sinal e dispositivo de leitura. Diferentes métodos podem ser analisados em um espectrofotômetro. Os métodos mais utilizados para análises em espectrofotôme- tros são os colorimétricos, nos quais o produto da reação forma uma coloração no espectro de luz visível, e os UVs — nestes, as moléculas absorvem a energia luminosa no espectro UV. A metodologia colorimétrica é a mais frequente nas análises bioquímicas e se baseia na intensidade da cor e, consequentemente, 21 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S da reação química. Ela é utilizada na mensuração de diversos analitos e pode ser associada a técnicas enzimáticas, ou seja, técnicas que me- dem a atividade de uma enzima por intermédio da sua interação com um substrato, gerando, portanto, um produto colorido. Já a metodologia UV é independente da formação de compostos de cor, pois seus espec- tros de leitura atuam em uma faixa diferente de comprimento de onda. Nesse caso, a reação é avaliada pela quantidade de luz absorvida pelos substratos NAD e NADP em uma reação. Para a leitura de tais reações, podem ser utilizados métodos de ponto final, em que a atividade enzimática é medida levando em conside- ração a mensuração do produto ao final da reação; já nas leituras cinéti- cas, a atividade enzimática é mensurada em diferentes intervalos de tem- po durante a formação do produto, sendo por este motivo mais precisa. É importante salientar que a espectrofotometria utiliza química úmida, ou seja, soluções líquidas para as análises, e por isso o controle de qualidade da água reagente é fundamental. Já reflectometria, apesar de bastante semelhante à espectrofotometria, utiliza química seca e, por isso, a mensuração dos analitos se baseia na luz refletida, e não na absorvida. Os reflectômetros são bastante semelhantes aos fotômetros em sua composição, com diferenças básicas em relação aos suportes sólidos utilizados para a reflexão da luz. Por sua vez, a luminescência se baseia na troca de energia gera- da a partir da absorção de radiação eletromagnética pelos compostos. Tal absorção gera uma agitação que pode ser quantificada pela emissão de luzfluorescente que é detectável por fluorômetros e espectrofluorômetros. A luminescência tem sensibilidade e especificidade bastante altas, mas que foram melhoradas ainda mais na quimioluminescência, muito utilizada em imunoensaios. Esta variação da técnica que utiliza substâncias quími- cas ou reações eletroquímicas para a produção de compostos excitados. Já na dosagem de íons podem ser utilizadas diversas metodo- logias. Entre elas, a fotometria de chama, em que há a emissão de luz a partir da excitação dos átomos da solução pela exposição a uma cha- ma. Os átomos emitem luz quando retornam do estado excitado para o de repouso e, a partir de comprimentos de onda específicos, a luz emitida pode ser quantificada. De forma similar, e mais utilizadas atualmente, outras metodo- logias baseiam-se na excitação de átomos. A espectrometria de emissão atômica fundamenta-se na capacidade dos átomos ou íons emitirem ra- diações com comprimento de onda específicos quando excitados, sendo a intensidade dessa radiação luminosa proporcional ao conteúdo de me- tal na amostra. E a espectrometria de absorção atômica, por sua vez, ba- seia-se na medida da absorção de luz por átomos metálicos em repouso. 22 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Ainda em relação a métodos fotométricos, a turbidimetria e a nefelometria são utilizadas para a medida de partículas de maior ta- manho, como as proteínas. Nessas técnicas, avalia-se a dispersão da luz após atingir os compostos em suspensão na solução, uma vez que essas partículas dispersam a luz de forma proporcional à sua concen- tração na solução. A principal diferença entre os nefelômetros e os turbi- dímetros é que os primeiros detectam a luz dispersa em vários ângulos, já os segundos mensuram a diminuição da transmissão de luz pela for- mação de partículas na solução. Além de técnicas fotométricas, as análises imunoquímicas, tam- bém podem utilizar métodos eletroquímicos, especialmente através de potenciometria e eletrodos íons seletivos (ISE). Estes métodos realizam a medida da voltagem entre dois eletrodos (um de referência e um teste) em uma solução. Essa voltagem é o potencial e deve ser comparado entre os dois eletrodos, sendo útil na detecção de íons, pois estes são capazes de causar alterações entre os potenciais. Um bom exemplo da aplicação deste tipo de metodologia é a gasometria, em que realiza-se a quantificação de gases sanguíneos e a determinação de pH no sangue. Porém, outros metabólitos e eletrólitos podem ser dosados por essa me- todologia, como cálcio ionizado, sódio, potássio, chumbo e cloro. Já para a dosagem de macromoléculas, proteínas plasmáticas e algumas drogas, a eletroforese apresenta-se como uma alternativa viável. Esse método utiliza uma corrente elétrica para gerar um fluxo que separa os compostos de uma solução iônica de acordo com a car- ga elétrica e o tamanho dos seus compostos. Nesse fluxo, os cátions, carregados positivamente, migram para o polo negativo enquanto os ânions, carregados negativamente, migram para o polo positivo. Essa separação forma bandas que podem ser identificadas e quantificadas, permitindo, assim, a análise destes compostos. Outra forma de dosagem destes compostos é através de me- todologias de cromatografia. Neste método ocorre a separação de uma solução com base nas interações físicas e químicas dos compostos com uma fase móvel e uma fase estacionária, sendo a fase móvel res- ponsável por transportar a amostra pela fase estacionária. Atualmente, existem diversos tipos de cromatografia que podem ser utilizadas iso- ladas ou em associação a outras técnicas analíticas, como a cromato- grafia líquida de alta resolução, que pode realizar a mensuração dos compostos por fotometria e potenciometria, por exemplo. Estas técnicas são bastante utilizadas em ensaios de toxicolo- gia, para a detecção e mensuração de drogas e fármacos, mas também podem ser utilizadas para detecção qualitativa e quantitativa de amino- ácidos, fosfolipídios, vitaminas e ácidos orgânicos. 23 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S A detecção de fármacos também pode ser realizada por imu- noensaios, apesar de estes métodos serem mais utilizados para o diag- nóstico de doenças infecciosas e para a detecção e mensuração de marcadores tumorais e de hormônios. Os imunoensaios baseiam-se em reações de antígeno-an- ticorpo para detectar imunocomplexos, anticorpos ou antígenos, com ou sem reagentes marcadores. Estes reagentes podem ser marcado- res enzimáticos, fluorescentes ou quimioluminescentes, e sua principal vantagem é o aumento da sensibilidade do método quando utilizados. Por fim, uma metodologia cada vez mais presente nos labora- tórios clínicos é a espectrometria de massas, que se baseia na fragmen- tação e ionização de moléculas. Nesse tipo de método, a abundância relativa de cada íon produz um espectro de massa característico e a ionização da molécula-alvo de análise a separa das demais substâncias presentes na amostra, tornando possível a sua identificação e quantifi- cação na amostra com base na sua relação massa/carga. Os equipamentos atuais podem utilizar uma combinação de duas ou mais destas metodologias, fazendo com que as análises sejam cada vez mais precisas e diversas. VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS Para que um teste laboratorial seja considerado válido, é ne- cessário que atenda a alguns critérios básicos que avaliam, principal- mente, seu desempenho e confiabilidade. Sendo assim, a eficiência de um método pode ser avaliada, principalmente, pela sensibilidade e pela especificidade do teste. A especificidade pode ser descrita como a capacidade de um teste gerar um resultado negativo na ausência da doença, ou seja, um verdadeiro negativo. Já a sensibilidade seria o oposto, a capacidade de um teste obter um resultado positivo na presença da doença: um verdadeiro positivo. É importante destacar que esta é uma forma didática e resumi- da de explicar esses conceitos, pois a “presença da doença” abrange também uma abordagem clínica e não necessariamente será possível de identificar através de testes, por isso, em muitos casos, utiliza-se um marcador laboratorial relacionado a esta doença. Para a obtenção destes valores, são usados os seguintes cál- culos: Sensibilidade = VP___________ x 100 VP + FN 24 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Especificidade = VN___________ x 100 VN + FP Acurácia = VP + VN__________ VP + VN + FP + FN Onde: VP: verdadeiros positivos VN: verdadeiros negativos FP: falsos positivos FP: falsos negativos A sensibilidade exemplificada no texto reflete a sensibilidade diagnóstica, que é diferente da sensibilidade analítica. A sensibilida- de analítica é referente ao limiar de detecção de um método, ou seja, ao menor nível de um analito que um determinado método consegue detectar com precisão. Esse parâmetro também deve ser levado em consideração no momento de escolha de um método analítico. Além de auxiliar na determinação de especificidade e sensibi- lidade, os valores de verdadeiro positivo e verdadeiro negativo auxiliam na elaboração da acurácia do método, que é avaliado através dos va- lores preditivos negativos e positivos. Já que o valor preditivo negativo (VPN) demonstra a capacidade do método apresentar resultado nega- tivo em pacientes que não estão com a doença e/ou seu marcador, testes com alto VPN são bastante úteis em testes de triagem, nos quais é importante que os pacientes saudáveis (sem adoença) sejam identi- ficados corretamente, com alta sensibilidade. Por sua vez, o valor preditivo positivo (VPP) reflete a capacida- de de obter-se um resultado positivo em uma pessoa que possui a do- ença e/ou o marcador e, portanto, é útil para testes de caráter confirma- tório, em que é necessário que se identifique corretamente os pacientes doentes, e por isso devem ser altamente específicos. Ainda nesse tema, a precisão do teste revela a sua capacidade de fornecer resultados que, em repetidas corridas analíticas sob condi- ções semelhantes, apresentam resultados próximos entre si. Por exem- plo, se um mesmo analito for dosado 10 vezes em um mesmo aparelho, com os mesmos reagentes, através da mesma metodologia, espera-se que os resultados gerados sejam muito próximos entre si, com peque- nas variações acima e abaixo da média. Este critério corresponde à 25 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S reprodutibilidade do método e é frequentemente avaliado através dos ensaios de Controle Interno da Qualidade (CIQ). Já a exatidão de um teste corresponde à sua capacidade de gerar resultados próximos ao valor real do analito. Neste caso, é ne- cessário que o valor real seja conhecido, e quanto mais próximo deste valor a análise do teste estiver, maior será a sua exatidão. Para averi- guar esta característica podem ser utilizados Ensaios de Proficiência, através da participação do laboratório em programas de Controle Ex- terno da Qualidade (CEQ). Nestes programas, também chamados de controle interlaboratorial, uma amostra com valor conhecido é avaliada simultaneamente por diferentes laboratórios participantes, sem que es- tes saibam qual é o valor real do analito e, posteriormente, seus resulta- dos são comparados e avaliados, gerando uma média e um relatório de proficiência, avaliando a capacidade de exatidão do método utilizado. Atualmente existem diversos programas de proficiência dispo- níveis, sendo os mais conhecidos o Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ), a Proficiência em Ensaios Laboratoriais da Con- trollab e o Programa do College of American Pathologists (CAP). Mas existem outras opções comercialmente disponíveis que podem ser ava- liadas de acordo com as necessidades de cada laboratório. 26 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2014 Banca: FAURGS Órgão: HCPA Prova: BIOMÉDICO I ou FARMACÊUTICO-BIOQUÍMICO I (Bioquímica Clínica e Diagnóstico Personalizado) Nível: Superior. O desenvolvimento tecnológico levou à automação de várias téc- nicas laboratoriais buscando aumento da eficiência e eficácia. Em relação às metodologias empregadas nas automações é INCOR- RETO afirmar que: a) a nefelometria é um método de medida do espalhamento de luz inci- dente por partículas em suspensão. Esta técnica é sensível para quan- tificar as reações de precipitação entre antígeno e anticorpo. b) a quimioluminescência tem como princípio a detecção da reação an- tígeno-anticorpo através da luz emitida pelo conjugado formado após a incidência de luz fluorescente, que produz compostos intermediários em estado excitado, que quando retornam ao estado inicial, emitem luz. c) a turbidimetria é um método de medida da diminuição da intensidade da luz transmitida em relação à incidente. d) a citometria de fluxo tem sido utilizada para contagem e diferenciação de células. A adição de flourocromos permite, ainda, diferenciar células maduras de imaturas. e) na eletroforese capilar pode-se utilizar diferentes métodos de sepa- ração, como, por exemplo, eletroforese capilar em gel e cromatografia eletrocinética micelar. Esta versatilidade permite analisar desde íons até macromoléculas, como proteínas. QUESTÃO 2 Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: EBSERH Prova: Biomédico Nível: Superior. No que tange a procedimentos e a diversos equipamentos utiliza- dos em laboratórios clínicos, julgue os itens seguintes como cer- tos (C) ou errados (E): ( ) A eletroforese consiste na separação de compostos carregados com base na carga elétrica, ocorrendo a redução da condutividade de uma solução com o aumento da concentração iônica total. ( ) A cromatografia é um método de separação em que, quanto maior a interação do composto com a fase estacionária, menor será o tempo de eluição. ( ) Uma vantagem da cromatografia líquida em relação à cromatografia gasosa é a possibilidade de análise, na primeira, de compostos termo- lábeis, sem a necessidade de derivatização prévia da amostra. 27 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S ( ) O termociclador é um equipamento imprescindível para a amplifica- ção do DNA pela reação em cadeia da polimerase (PCR), pois controla precisamente a temperatura, o tempo em que ocorrem as etapas e o número de ciclos. ( ) O espectrofotômetro é um equipamento utilizado para realizar a quantificação da fluorescência absorvida ou transmitida por uma amos- tra laboratorial. QUESTÃO 3 Ano: 2009 Banca: UEM Órgão: SESA Paraná Prova: Farmacêutico- -Bioquímico Nível: Superior. A RDC Nº 302/2005 dispõe sobre Regulamento Técnico para fun- cionamento de laboratórios clínicos. De acordo com a resolução, é incorreto afirmar: a) O laboratório clínico pode contar com laboratórios de apoio para a realização de exames. b) O laboratório clínico deve participar de ensaios de proficiência para todos os exames realizados na sua rotina. c) O posto de coleta laboratorial deve possuir vínculo com apenas um laboratório clínico. d) Todo laboratório clínico e posto de coleta laboratorial, público e pri- vado, devem estar inscritos no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. e) As cópias dos laudos de análise bem como os dados brutos devem ser arquivados pelo prazo de 1 (um) ano, facilmente recuperáveis e de forma a garantir a sua rastreabilidade. QUESTÃO 4 Ano: 2007 Banca: FAURGS Órgão: HCPA Prova: BIOMÉDICO ou FARMACÊUTICO-BIOQUÍMICO (Bioquímica e/ou Imunoensaios) Nível: Superior. Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, associando os analitos a serem dosados com os métodos bioquímicos. (1) Espectrofotometria (2) Nefelometria (3) Reflectância (4) fotometria de chama ( ) Lítio ( ) fitas de urina ( ) glicose ( ) proteína C reativa - PCR A sequência numérica correta de preenchimento dos parênteses 28 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S da segunda coluna, de cima para baixo, é: a) 1 – 2 – 3 – 4. b) 4 – 2 – 1 – 3. c) 4 – 3 – 1 – 2. d) 2 – 3 – 4 – 1. e) 2 – 1 – 4 – 3. QUESTÃO 5 Ano: 2013 Banca: MAKIYAMA Órgão: Prefeitura do Município de Jundiaí Prova: Biologista (Análise Clínica) Nível: Superior. Considerando os fatores que podem afetar a interpretação dos resultados de exames laboratoriais, avalie as afirmativas que se- guem e assinale a que CORRETAMENTE conceitua especificidade: a) Refere-se à capacidade do exame em detectar pacientes com algu- ma doença específica. b) Descreve o grau com que a anormalidade do teste se restringe aos indivíduos que possuem a doença em questão. c) Demonstra o impacto da prevalência de doença na interpretação de resultados de exames laboratoriais. d) Refere-se à obtenção de resultados iguais em testes realizados com a mesma amostra do material biológico, quando feitos por diferentes pessoas em diferentes locais. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE A RDC 302/2005 da ANVISA é o principal documento relacionado com a fiscalização e inspeção de laboratórios clínicos no Brasil. Este regulamento técnico apresenta os requisitos mínimos para o funcionamentodos labora- tórios e possui um foco na gestão de riscos potenciais e na rastreabilidade de processo. De acordo com a RDC 302/2005, quais são as condutas reco- mendadas a partir da ocorrência de resultados críticos laboratoriais? TREINO INÉDITO A classificação do risco biológico dos setores laboratoriais é de extrema importância para a gestão dos riscos ocupacionais e para a determinação de medidas de biossegurança, através da classifi- cação em níveis. Neste sentido, um laboratório, ou setor, em nível 3 de biossegurança é aquele que: a) manipula agente biológicos de classe de risco 2 e 3, com moderado risco individual e limitado risco para a comunidade. b) manipula agentes biológicos de classe de risco 3, para os quais ainda não existe profilaxia ou tratamento. c) manipula agentes biológicos de classe de risco 3, com baixo risco 29 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S individual e para a comunidade. d) manipula agentes biológicos de classe de risco 2 e 3, com elevado risco infeccioso. e) manipula agentes biológicos de classe de risco 3, com baixo risco individual e elevado risco para a comunidade. NA MÍDIA MUDANÇAS EM REGRAS DE COLETA DE EXAME PREOCUPA PROFISSIONAIS A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disponibilizou as con- sultas públicas, para comentários e sugestões do público geral, da RDC nº 44/2009, que dispõe sobre as Boas Práticas Farmacêuticas, e da RDC nº 302/2005, que trata sobre requisitos técnicos para a execução das ati- vidades relacionadas aos Testes de Análises Clínicas (TAC) na prestação de Serviços de Apoio ao Diagnóstico e Terapêutico (SADT). As Consultas Públicas (CPs) 911 e 912 relacionadas a serviços de saúde recebem a partir desta quarta-feira (9/9) comentários e sugestões da so- ciedade. Publicadas no Diário Oficial da União (D.O.U.) de 2/9, elas perma- necerão abertas por 45 dias a contar desta quarta-feira, ou seja, até 23/10. A consulta pública recebeu críticas do Conselho Federal de Farmácia que afirmou que o conteúdo formulado pela Anvisa agride parâmetros legalmente estabelecidos. Fonte: Folha BV Data: 25 set. 2020. Leia a notícia na íntegra: https://folhabv.com.br/noticia/SAUDE/Saude/Mudancas-em-regras-de- -coleta-de-exame-preocupa-profissionais-/69188 NA PRÁTICA Serviços de assistência à saúde e pacientes têm se beneficiado de inú- meros avanços tecnológicos que, se por um lado contribuem para uma melhor qualidade de vida, por outro, pela complexidade que trazem, são responsáveis por incidentes que afetam a segurança dos pacientes e podem causar danos desnecessários, denominados “eventos adversos” (EAs). O impacto econômico desses eventos é crítico, constrangedor e resulta em atrasos de diagnóstico e tratamentos, gastos com prolonga- mento de hospitalização ou incapacidades geradas e litígios. A realização de exames laboratoriais também ocorre num ambiente complexo, propício ao aparecimento de problemas que, se não forem adequadamente controlados, impactam os próprios laboratórios clíni- cos, médicos e pacientes. (...) 30 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S A criação do Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC), pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), representou uma resposta a persistentes alegações e vá- rias evidências de más práticas, erros, inexistência de padrões e frau- des. Significou uma iniciativa de garantia da qualidade e melhoria con- tínua nos laboratórios. Título: Exames laboratoriais: a certeza de bons resultados Data da publicação: julho de 2017. Link: http://www.bibliotecasbpc.org.br/pags/view.archive.php?I- D=1855&PATH=pdf PARA SABER MAIS Acesse os links: http://www.bibliotecasbpc.org.br/index.php?P=4&C=0.2 e https://www. gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/laboratorios 31 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S PRINCIPAIS TIPOS DE AMOSTRAS BIOLÓGICAS É de amplo conhecimento que a qualidade de um exame la- boratorial está diretamente conectada à qualidade da amostra recebida no setor técnico. Quanto melhor for a preservação da amostra e a sua adequação para os fins a que se destina, maior será a probabilidade de o resultado gerado representar, de fato, a realidade em que o paciente se encontra, seja para uma avaliação de metabolismo, investigação de doenças ou pesquisa de substâncias específicas. A maioria dos exames utiliza amostras de sangue ou de urina para suas análises. Esse fato é reforçado pela facilidade de obtenção de tais amostras, porém, em determinadas investigações clínicas, podem ser utilizadas diversas outros espécimes, tais como fezes, saliva, líqui- AMOSTRAS BIOLÓGICAS G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S 31 32 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S do cefalorraquidiano (LCR), líquidos serosos (ascítico, sinovial, pleural), líquido amniótico, aspirados, secreções, fragmentos de cálculos, pelos e de tecidos. Entretanto, de modo geral, é a amostra sanguínea a mais fre- quentemente utilizada. Esse material fornece uma ampla variedade de informações laboratoriais e pode ser obtido e processado de diferen- tes formas: sangue total, soro, plasma, sangue venoso, sangue arterial, sangue capilar. No Quadro 3 há uma demonstração das diferenças bá- sicas entre soro e plasma sanguíneo. Quadro 3 – Diferenças essenciais entre soro e plasma Fonte: Autora, 2020. A partir destas amostras sanguíneas podem ser realizados exames laboratoriais extensamente variados, desde os mais básicos, como hemograma e perfis bioquímicos, até análises genéticas e busca por marcadores específicos para determinadas doenças ou condições. De forma ainda mais simples, as amostras de urina são bas- tante fáceis de serem coletadas e, na maioria dos casos, não necessi- tam de dispositivos invasivos, sendo coletadas pelo próprio paciente. Coletas realizadas pelo próprio paciente, como a coleta de urina, fezes, escarro ou esperma são ainda mais suscetíveis a fa- lhas pré-analíticas; por isso, nestes casos, a orientação ao pacien- 33 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S te deve ser realizada da forma mais clara e instrutiva possível, a fim de evitar erros na coleta e no acondicionamento dos espécimes. A coleta urinária pode apresentar algumas especificidades de acordo com o fim a que se destina, ou seja, de acordo com o exame que será realizado. A forma mais comumente solicitada é a urina aleatória ou isolada, que pode ser utilizada para análises bioquímicas, microscó- picas, toxicológicas e microbiológicas. Para exames bioquímicos, prefe- rencialmente, as amostras devem ser coletadas no período da manhã, pois é quando sua concentração atinge o ápice devido ao prolongado tempo sem micção e pelo pH reduzido devido à diminuição da frequên- cia respiratória durante a noite. Em alguns casos, podem ser solicitadas amostras de urina de 24 horas, que consistem na coleta do volume total das micções neste período (obtida a partir da segunda micção da manhã — a primeira deve ser descartada — e deve compreender todas as micções sub- sequentes no período de 24 horas). Além disso, em algumas análises toxicológicas, podem ser solicitadas urinas de início e de final de jorna- da, ou coletas assistidas, em que um profissionaldo laboratório deve acompanhar a coleta de amostra realizada pelo paciente. Dependendo do analito a ser dosado ou da quantidade de tem- po que a amostra ficará acondicionada antes da análise, alguns conser- vantes podem ser adicionados para a preservação dos metabólitos e para evitar contaminação microbiana. Quando não é possível que o paciente realize a coleta através de micção controlada, como em crianças, podem ser utilizados sacos coletores específicos. Entretanto esta não é a coleta ideal, especialmen- te para análises microbiológicas, pois gera um alto índice de contami- nação, apresentando uma melhor correlação de valor preditivo negativo do que de positividade e identificação. Além disso, em alguns casos, pode ser necessário obter a amostra urinária através de procedimentos mais invasivos, como cateterismo ou coleta suprapúbica. Nestes casos, a coleta deve ser bem indicada, a fim de evitar procedimentos desne- cessários, e bem executada por profissionais qualificados para tal. Para a obtenção de amostras de outros tipos de líquidos cor- porais, são necessários procedimentos médicos invasivos e, portanto, a amostra é considerada nobre e deve ser manipulada com o maior rigor técnico e analítico, evitando possíveis recoletas. São os casos dos se- guintes procedimentos: • Punção lombar: utilizada para a obtenção de LCR, geralmen- te indicada na investigação de meningites, hemorragias, neoplasias ou doenças neurodegenerativas. 34 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S • Paracentese: para obtenção de líquido ascítico, na avaliação de distúrbios hidroeletrolíticos e derrames peritoneais. • Toracentese: para avaliação de derrames pleurais através da punção de líquido pleural. • Artrocentese: utilizada para obtenção de líquido sinovial, para diagnóstico de doenças articulares de origem infecciosa ou inflamatória. • Amniocentese: para avaliação do estado de saúde e maturi- dade fetal, através da punção e análise do líquido amniótico. OBTENÇÃO DE AMOSTRAS BIOLÓGICAS A etapa de obtenção de amostras biológicas é um dos pilares mais críticos para a qualidade dos exames realizados em laboratórios clínicos. É um dos primeiros passos que ocorrem dentro do laboratório e está inserido dentro da fase pré-analítica. Como já citado anteriormente, a qualidade de um exame é fortemente dependente da qualidade da amostra obtida e, portanto, requer cuidados e atenção especial. O material coletado precisa ser representativo da real condição na qual o paciente se encontra, deve estar corretamente acondicionado e em quantidade suficiente para a realização de todos os procedimen- tos necessários. Além disso, deve haver uma boa correlação entre a indicação clínica da solicitação do exame, a amostra obtida e os proce- dimentos realizados, para que o diagnóstico seja útil e confiável. Antes mesmo do procedimento de coleta, o cadastro do pacien- te deve seguir etapas que visam não apenas a identificação do pacien- te, mas também a segurança de informações geradas pelo laboratório, como a garantia de que o material coletado e processado foi realmente coletado da pessoa que estará identificada no laudo. Segundo a RDC 302/2005 da ANVISA, o cadastro de pacientes deve incluir, no mínimo: - Número de identificação do paciente no sistema interno do laboratório. - Nome completo do paciente. - Idade do paciente. - Sexo do paciente. - Local de procedência do paciente (hospital, posto de coleta “X”, ambulatório, etc.). - Telefone do paciente. - Endereço do paciente. - Nome do solicitante. - Exames requisitados. - Tipo de amostra. 35 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Em caso de pacientes menores de idade ou incapacitados, ain- da deve-se cadastrar nome e contato de um responsável. Para garantir a rastreabilidade das amostras, é recomendado que sejam inseridas no sistema informações quanto a data, horário e responsável pela coleta. É nesse momento, também, que devem ser conferidas infor- mações quanto à adequação e o atendimento às solicitações de jejum, dieta, uso de medicamentos, atividades físicas e quaisquer outros da- dos que possam ser relevantes para a interpretação dos resultados e exames. Da mesma forma, sempre que for possível, recomenda-se que o paciente repouse por 15 a 20 minutos antes da realização da coleta, para evitar possíveis interferentes em decorrência de movimentação. Para alguns exames, como dosagem de prolactina, catecola- minas e testes funcionais, recomenda-se um repouso de 30 minutos. COLETA DE AMOSTRAS SANGUÍNEAS Para a coleta das amostras de sangue venoso é recomendado que o paciente seja acomodado em uma cadeira própria para este fim, com apoio para o braço, porém, em ambientes hospitalares essa coleta também pode ser realizada na beira do leito. É extremamente importan- te que seja feita a conferência de identificação do paciente, sempre que possível com um documento de identificação com foto ou outro recurso. Antes de iniciar a coleta, o profissional deve conferir se possui todos os materiais necessários para a realização do procedimento em fácil acesso. Atualmente, os materiais utilizados na coleta sanguínea são descartáveis em sua maioria, elevando o nível de biossegurança do procedimento. Após a coleta é recomendado que o profissional confira juntamente com o paciente se a identificação dos recipientes de coleta está correta, visando novamente reduzir possíveis trocas de amostras e erros pré-analíticos. A técnica pela qual o sangue é coletado é chamada de venopun- ção ou flebotomia, e tradicionalmente é realizada na fossa antecubital, na área anterior do antebraço, pois é um local com mais fácil acesso a veias de bom calibre e bom fluxo, como a cubital mediana e a cefálica. 36 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Imagem 1 – Veias dos membros superiores Fonte: Recomendações da SBPC/ML, 2010 (pág. 19). Em casos em que não é possível realizar a coleta na fossa cubital, as veias do dorso da mão podem ser utilizadas e, em últimos casos, de outros locais. Vale lembrar que a coleta de outros locais favo- rece o aparecimento de hematomas e costuma ser mais desconfortável e dolorosa para o paciente, por isso não são as mais recomendadas. O primeiro passo da coleta propriamente dita se inicia com a visualização das veias, que nem sempre são facilmente identificáveis e, por isso, podem ser utilizados artifícios como a palpação, o garrotea- mento e o uso de scanners de visualização transdérmica, caso estejam disponíveis no laboratório. Após a identificação da veia, o garroteamento deve ser iniciado a, aproximadamente, 7 cm acima do local da punção. É importante que essa etapa não exceda o tempo de 1 minuto, pois pode gerar interfe- rentes analíticos como hemoconcentração. Ainda é recomendado que o garroteamento não seja realizado em amostras para avaliação dos níveis de lactato e cálcio. Com a visualização e determinação da veia a ser utilizada na punção, realiza-se a assepsia local, com gaze ou algodão umedecido com álcool 70% ou álcool isopropílico em movimentos circulares no sentido “de dentro para fora”, para evitar que locais previamente limpos sejam contaminados. É importante que a punção seja realizada apenas após a completa secagem do álcool e sem a contaminação do local com novos toques ou contatos. 37 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Para a coleta de amostras podem ser utilizadas duas técnicas tradicionais, a punção com agulha e seringa e a coleta à vácuo,sendo a segunda fortemente recomendada pela sua maior segurança e eficácia. Na punção a vácuo, o sistema de coleta é fechado, ou seja, sofre menor interferência e gera menor manipulação dos instrumentos, reduzindo a chance de acidentes perfurocortantes, por exemplo. Além disso, por utilizar o sistema de vácuo, coleta o volume de sangue exato para cada tipo de tubo, garantindo a proporção de sangue e anticoagulante, e evi- tando a formação de microcoágulos, gerando amostras mais padroniza- das e de maior qualidade. A padronização da ordem dos tubos de coleta também é uma etapa crítica na fase pré-analítica, pois evita possíveis contaminações de anticoagulantes entre os tubos e interferência analítica. O correto é que se siga a seguinte ordem, de acordo com a necessidade dos tubos: frascos de hemocultura, tubo de citrato de sódio, tubo de soro (com ou sem ativador ou gel separador), tubo com heparina, tubo com EDTA e, por último, tubo com fluoreto. O conhecimento sobre a utilidade de cada anticoagulante tam- bém é relevante, e por isso um breve resumo sobre os mais utilizados será abordado a seguir. - Heparina lítica ou sódica: inibe a coagulação pela ação da an- titrombina III, neutralizando a trombina e evitando a formação de fibrina. É utilizada para a obtenção de plasma, geralmente, utilizado no setor de bioquímica clínica, e a cor padronizada para a tampa dos tubos é verde. - EDTA (ácido etileno-diamino-tetracético: inibe a coagulação através da quelação do cálcio. Pode ser utilizado para obtenção de san- gue total, em hematologia principalmente, pois é um ótimo conservante de morfologia celular, ou para obtenção de plasma utilizado, por exem- plo, em ensaios de biologia molecular. - Fluoreto de sódio e iodoacetato de lítio: mais do que a função de anticoagulante, destaca-se pela inibição da via glicolítica, preservan- do os níveis de glicose sérica, por isso, torna-se o aditivo ideal para provas glicêmicas. - Citrato de sódio: é o aditivo de escolha para obtenção de plasma para as provas de coagulação, pois apresenta a melhor preser- vação dos fatores de coagulação. Sua atividade anticoagulante ocorre por quelação do cálcio. Da mesma forma que a escolha do tubo correto é essencial, a escolha da agulha correta também é importante, uma vez que a in- compatibilidade entre o volume de sangue a ser coletado e o calibre da agulha pode gerar interferentes, como a hemólise, em casos de calibres inferiores ao necessário. 38 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S O acondicionamento das amostras coletadas deve levar em con- sideração a necessidade ou não de centrifugação das mesmas, e a esta- bilidade dos analitos. Sempre que possível, as amostras devem ser enca- minhadas para a análise o mais rápido possível em temperatura ambiente, porém, quando não for possível, devem ser acondicionadas de acordo com as recomendações específicas para cada análise, seja em refrigeração en- tre 2 e 8°C ou congeladas, pois não aconselha-se que as amostras de soro e plasma permaneçam em temperatura ambiente por mais de 8 horas. Por sua vez, a coleta de sangue arterial é mais complexa e menos requisitada que a coleta de sangue venoso. Utilizada principalmente para a dosagem de gases sanguíneos, a coleta arterial geralmente é realizada por enfermeiros e requer um cuidado especial devido à localização das artérias e ao intenso fluxo que, por vezes, pode ser de difícil estancamento pela elevada pressão das artérias, em comparação com as veias. Neste tipo de coleta utilizam-se seringas com anticoagulante heparina, que devem ser encaminhadas para o laboratório imediatamente, de preferência em até 15 minutos, para evitar evaporação de gases e alterações analíticas. COLETA DE AMOSTRAS DE URINA Juntamente com as amostras sanguíneas, as amostras urinárias conferem o maior volume de tipos de coletas realizadas em laboratórios clínicos. A principal diferença entre essas coletas é que a urinária é, ge- ralmente, realizada pelo próprio paciente, através de micção espontânea. Por isso, é fundamental que o laboratório forneça aos pacien- tes todas as informações referentes a requisitos e cuidados na coleta, no acondicionamento e no transporte dessas amostras, de preferência, de forma verbal e escrita. Mesmo em coletas realizadas fora do laboratório, ou por outras pessoas, a responsabilidade pela qualidade da amostra aceita é inteiramente do laboratório. Por isso, há a necessidade de orientação e inspeção de tais processos, a fim de garantir resulta- dos fidedignos e o mais livre de interferentes possível. A coleta de urina pode ter uma variedade de formas de coleta, desde períodos de retenção ou horários de coleta diferentes a formas 39 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S de obtenção da urina. Por isso, a tabela a seguir apresenta um resumo dos principais tipos de coleta de urina utilizados em laboratórios clínicos. Quadro 4 – Principais tipos de amostras de urina utilizadas em laboratório 40 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S Fonte: adaptado de Mundt (2012) e SBPC/ML (2017) É importante destacar que as amostras de urina devem ser coletadas em frascos descartáveis próprios para este fim e, no caso de amostras direcionadas para exames microbiológicos os frascos de- verão ser estéreis. Após a coleta, as amostras devem, de preferência, serem mantidas em temperatura ambiente, ou refrigeradas e protegidas da luz, caso não possam ser analisadas em até 2 horas. INTERFERENTES ANALÍTICOS EM AMOSTRAS BIOLÓGICAS A qualidade do resultado de um exame é estreitamente depen- dente da qualidade da amostra processada pelo laboratório. Sendo as- sim, resultados fidedignos e com boa correlação com a condição clínica do paciente serão obtidos somente a partir de amostras corretamente coletadas e bem acondicionadas. Neste sentido, é imprescindível que as etapas de requisição, preparo, cadastro, coleta e acondicionamento de amostras estejam bem delineadas e embasadas, e que todos os profissionais envolvidos nesses processos sigam as recomendações estabelecidas. A fase pré-analítica envolve toda a manipulação da amostra antes da sua chegada ao setor técnico e, portanto, é a fase mais deci- siva para a ocorrência ou não de interferentes analíticos. Mesmo amos- tras coletadas pelos pacientes permanecem sob a responsabilidade do laboratório, devendo este orientar e prover os materiais necessários para uma coleta que forneça bons espécimes. Também cabe ao laboratório orientar o paciente sobre as re- comendações pré-coleta, como jejum, utilização de medicamentos e prática de atividades físicas, a fim de evitar interferentes nas análises. Em geral, o tempo de jejum necessário costuma ser de 8 horas sem a ingestão de alimentos, mas pode ser reduzido para até 4 horas em al- 41 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S guns casos, como em exames em lactentes por exemplo, pois há uma dificuldade em manter um jejum prolongado. O jejum excessivo, acima de 12 horas, por outro lado, pode induzir a situações de estresse fisiológico para o corpo causando altera- ções hormonais como elevação de cortisol e redução de TSH (hormônio estimulador da tireoide), LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo estimulante), além de alterações em dosagens bioquímicas de bilirrubina, triglicerídeos, glicerol ácidos graxos, ureia e ácido úrico. A ingestão de água deve permanecer como de costume, assim como a utilização de medicamentos de uso contínuo,a não ser que haja indica- ção médica para alterações. O “Consenso Brasileiro para a Normatização da Determi- nação Laboratorial do Perfil Lipídico”, publicado em 2016, imple- mentou a possibilidade de flexibilização do jejum para os testes de perfil lipídico, tais como colesterol total, colesterol LDL, coles- terol HDL, colesterol não HDL e triglicérides. Segundo esta nova recomendação assinada por sociedades médicas e voltadas para as análises clínicas, é possível que, mediante solicitação médica, sejam realizadas as dosagens desses analitos sem a necessidade de jejum, desde que esta condição esteja especificada no laudo e que não sejam dosados outros analitos que requisitem jejum. Essa decisão levou em consideração o fato de que é o estado alimentado que perdura durante a maior parte do dia, e não o jejum, podendo, assim, o exame neste formato fornecer uma representação mais realista do risco cardiovascular do paciente. Além disso, con- siderou-se a modernização das técnicas analíticas, que atualmente sofrem menor interferência pela turbidez das amostras e a praticidade de uma maior amplitude de horários para a realização de exames. Porém, em alguns casos, mesmo com a correta realização do jejum, a dieta adotada pelo paciente pode influenciar nos resultados la- boratoriais. Pessoas com hábitos alimentares vegetarianos, por exem- plo, podem apresentar redução das lipoproteínas LDL e VLDL, além de colesterol total e triglicérides. Já pessoas com dietas ricas em carnes vermelhas e outras fontes proteicas podem apresentar elevações nos níveis séricos de ureia e amônia, e se a dieta rica em proteínas for acompanhada de quantidades diminutas de carboidratos, pode haver 42 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S um aumento na concentração urinária de cetonas. Dietas ricas em lipídios e carboidratos podem gerar amostras com lipemia, que também consiste em um interferente bastante frequente nas amostras sanguíneas. A lipemia pode ser descrita como a presença de lipídios em excesso no sangue e pode ocorrer, por exemplo, a partir de níveis de triglicérides acima de 400 mg/dL, em distúrbios metabólicos e em amostras de coleta pós-prandial, ou seja, logo após uma refeição. Os níveis elevados de lipídios consistem em um interferente laboratorial pelo fato de causarem turbidez na amostra, em decorrência das numerosas partículas lipídicas, e por interferirem em metodologias turbidimétricas, como em dosagens de colesterol, bilirrubinas, coleste- rol, albumina, enzimas hepáticas, cálcio, creatinina, entre outras. Outra alteração relacionada ao aspecto do soro é a hiperbilirru- binemia, que ocorre quando a concentração sérica de bilirrubinas totais se encontra acima de 2,5 mg/dL, fazendo com que o plasma e o soro adquiram colorações ictéricas, ou seja, alaranjadas, podendo interferir em dosagens colorimétricas. Além disso, hábitos como o consumo de álcool podem afetar as análises laboratoriais, uma vez que as bebidas alcoólicas ingeridas no dia que antecede a coleta podem gerar alterações nos níveis séricos de glicose, lactato e triglicerídeos, e a ingestão crônica pode estar rela- cionada à elevação dos níveis séricos da enzima hepática GGT (gama glutamiltransferase). Da mesma forma, o hábito de tabagismo está rela- cionado a reduções nos níveis de colesterol HDL e aumentos nos níveis de cortisol, adrenalina, hormônio do crescimento, lactato e insulina. O exercício físico, por sua vez, mesmo sendo um hábito de ma- nutenção e promoção da saúde, é contraindicado na véspera da colheita de material biológico. A depender da intensidade e do condicionamento físico do paciente, o exercício pode causar alterações bioquímicas con- sideráveis, como a elevação do lactato e de enzimas relacionadas ao metabolismo muscular como creatina quinase (CK), aldolase e aspartato aminotransferase (AST), além da redução dos níveis séricos de glicose. Até mesmo a posição corporal pode influenciar nos níveis de analitos dosados. Quando um paciente muda a posição, de decúbito para uma posição ereta, por exemplo, pode ocorrer extravasamento de líquido (água e substâncias filtráveis) do espaço intravascular para o in- tersticial, elevando a concentração do sangue. Com essa falsa concen- tração, podem ocorrer dosagens erroneamente elevadas de proteínas, especialmente albumina, e lipoproteínas como HDL, LDL e VLDL. Além disso, alguns analitos podem apresentar variações em suas dosagens devido a variações cronobiológicas, ou seja, que são relacionadas com os ciclos circadiano, ultradiano e infradiano. O ciclo 43 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S circadiano pode ser descrito como um ciclo de variabilidade que ocorre em um período de um dia (24 horas), e determina as recomendações para uma série de exames bioquímicos. Como exemplos, tem-se as dosagens séricas de ferro, creatinina e ACTH (hormônio adrenocortico- trófico), que devem ser realizadas no período da manhã, pois é quan- do apresentam seus níveis mais elevados, proporcionando condições ótimas de resultados. De forma semelhante, a maioria dos eletrólitos, como sódio, potássio e fosfato, apresenta maiores concentrações em urinas coletadas pela manhã. O ciclo ultradiano, por sua vez, engloba alterações que ocorrem em um período inferior a 24 horas, como é o caso dos picos hormonais de testosterona. Já o ciclo infradiano envolve variações mais espaçadas, acima de 24 horas, como a variação hormonal durante o ciclo menstrual, por exemplo. Por isso, o conhecimento sobre o horário de coleta é crítico, principalmente em exames hormonais, e por isso sempre que possível deve ser realizado um agendamento para data e horários de coleta. Po- rém, quando não for possível realizar a coleta nos parâmetros recomen- dados, sugere-se que o horário da coleta seja liberado juntamente com o resultado no laudo, para uma melhor interpretação clínica. Os medicamentos utilizados pelo paciente também podem cau- sar alterações in vivo e in vitro nos exames laboratoriais. Um exemplo de interferência in vivo, ou seja, que afeta o metabolismo do paciente, é a administração de glicocorticoesteroide, que pode causar uma ele- vação na concentração de glicose no sangue, por ser um medicamen- to diabetogênico. Porém, com a suspensão da medicação, os níveis provavelmente retornariam ao normal, pois não se trata de um quadro diabético verdadeiro, apesar de o resultado de um exame realizado du- rante esta terapia possivelmente indicar isso. Outras formas de alterações medicamentosas in vivo podem ocorrer pela lesão tecidual e por alterações de funções dos órgãos, como acontece com uma série de medicamentos que sobrecarregam o fígado e geram alterações nos marcadores hepáticos. Já as alterações in vitro são relacionadas à interferência pela interação entre um determinado medicamento e a técnica analítica usa- da na amostra já coletada. Por exemplo, doses elevadas de ácido as- córbico (vitamina C) podem interferir em metodologias de dosagem de glicose que sejam baseadas em reações redutoras, causando resulta- dos falsamente elevados. A presença de paracetamol em doses elevadas na corrente san- guínea também é um bom exemplo, pois pode causar valores reduzidos nas dosagens de analitos quando a metodologia é baseada na reação de Trinder, como pode ser o caso de testes de creatinina, glicose, LDH (lactato 44 G E ST Ã O E C O N TR O LE D E Q U A LI D A D E E M A N Á LI SE S C LÍ N IC A E T O X IC O LÓ G IC A S - G R U P O P R O M IN A S desidrogenase) e alguns lipídios Ainda neste tópico, para a monitorização dos níveis de medicamentos terapêuticos, o planejamento da coleta de ma- terial biológico deve adequar-se à farmacocinética