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PROPRIEDADE CONJUNTA: DO CONDOMÍNIO EDILÍCIO AO TIME SHARING Ana Cláudia Lessa dos Santos Sandriely Souza de Sena Prof. Alexis Magno Azevedo de Jesus Universidade Federal de Sergipe – UFS Curso de bacharelado em Direito 29/05/2022 RESUMO Este artigo tem como objetivo aprofundar os principais aspectos do condomínio, espécie do gênero composse, cada vez mais relevante dentro do sistema jurídico brasileiro atual, sobretudo com a urbanização em massa e consequente engessamento das cidades, que ocasionou a construção dos grandes prédios e arranha-céus símbolo das grandes metrópoles, suscitando maior interesse quanto ao estudo do escopo jurídico dessa figura jurídica. Será apresentado ainda, novas tendências condominiais, como a denominada multipropriedade ou Time Sharing e o condomínio de fato, e debatido polêmicas em torno do assunto. Em conclusão, possibilitará ao leitor um conhecimento amplo acerca do tema ora analisado. Palavras-chaves: Composse ; Condomínio; Urbanização; Tendências Condominiais. 1 NOTAS INTRODUTÓRIAS Entende-se por propriedade o direito de usar, gozar e dispor de um bem. Nos primórdios da humanidade, a propriedade sobre as coisas era concebida como pertencente à coletividade. Até os dias atuais é possível observar tal fato tomando como exemplo as sociedades tribais, nas quais a terra utilizada como moradia e meio de subsistência constitui propriedade de todos os indivíduos que ali vivem. Entretanto, com o advento de ideais mais liberais e individualistas no decurso do tempo, surgiu também a ideia de individualização da titularidade sob um único proprietário. Dentre os atributos inerentes à propriedade estão a exclusividade, a perpetuidade e a elasticidade. No caso da propriedade conjunta (condomínio), o direito vem relativizando o atributo da exclusividade, tendo em vista que existe nela uma pluralidade de sujeitos exercendo direito de propriedade sobre uma mesma coisa de forma simultânea, cabendo a cada um dos seus titulares igual direito. Na doutrina existem diversas classificações atribuídas ao condomínio. Algumas dessas classificações serão abordadas ao longo do presente trabalho. 2 CONDOMÍNIO VOLUNTÁRIO OU CONVENCIONAL Tal modalidade é resultado da manifestação de vontade das partes. Em geral, instaura-se quando dois ou mais indivíduos adquirem uma mesma coisa móvel ou imóvel ou quando um proprietário aliena parte da coisa. É um exemplo desta modalidade o Regime de comunhão de bens. 2.1 ADMINISTRAÇÃO DO CONDOMÍNIO VOLUNTÁRIO A administração deste tipo de condomínio é regida pelos artigos 1.323 a 1326 do Código Civil Brasileiro. Em resumo, a administração deverá ser realizada por um gestor – condômino ou não – e eleito pela maioria, que será calculada conforme a quota-parte de cada coproprietário. Os quinhões também são considerados na divisão dos frutos gerados pela propriedade, que deverão ser distribuídos entre todos conforme suas partes da coisa. 2.2 DIREITOS E DEVERES DOS CONDÔMINOS Entre os artigos 1.314 e 1.322, o CC, constam os direitos e deveres a serem exercidos pelos condôminos. Todos os condôminos podem exercer seus direitos de propriedade sobre a coisa, sendo eles: direito de uso e fruição proporcional ao seu quinhão; direito de defender a propriedade por um todo, tanto em sede possessória (por meio de ação possessória ou desforço incontinenti) quanto em sede reivindicatória (por meio de ação reivindicatória); o direito de alienar sua quota-parte ou dá-la em garantia em contratos; direito de prelação legal e direito ao voto nas decisões. Quanto aos deverem, podemos citar: dever de respeitar a decisão da maioria quanto à destinação do bem; dever de não oferecer posse, uso ou gozo a terceiros sem antes obter o consentimento dos demais consortes; o dever de, na proporção de sua parte, contribuir com as despesas comuns geradas para a conservação ou divisão da coisa; e o dever de responder aos consortes pelos frutos percebidos e possíveis danos causados. 2.3 DA VENDA DE BENS EM CONDOMÍNIO OU VENDA DE COISA COMUM: O DIREITO DE PRELAÇÃO LEGAL De acordo com o artigo 504 do Código Civil, o condômino ou coproprietário de uma coisa indivisível não poderá vender a sua parte a um estranho sem antes observar se há interesse de um outro consorte em adquirir tal coisa. Portanto, a prelação legal é a preferência que é dada ao condômino no momento da venda de bem indivisível, seja ele móvel ou imóvel. O direito de prelação tem como objetivo facilitar a administração do bem indivisível, tendo em vista que a inserção de um novo coproprietário poderá acarretar em discordância e levar a situações de conflito. De acordo com o artigo 504 do Código Civil, o condômino (ou coproprietário) de uma coisa indivisível não poderá vender a sua parte a um estranho sem antes observar se há interesse de um outro consorte em adquirir tal coisa sob as mesmas condições de pagamento Ou seja, é estabelecido um caso de direito de preferência em que, ao se alienar um bem comum indivisível ou um bem em condomínio, primeiro se deve oferecer o bem aos demais condôminos e só depois se poderá oferecer o bem a terceiros. Cabe comentarmos sobre os dois tipos de condomínios: o pro indiviso e o pro diviso. O pro indiviso é aquele em que o bem não se encontra dividido no plano físico, de modo que seus donos possuem frações do bem. Já no pro diviso a divisão é delimitada no plano físico. A esse tipo de bem a restrição contida no artigo 504 não se aplica. É o caso do condomínio edilício, do qual trataremos posteriormente. O artigo 504 do CC também prevê que outro condômino ou coproprietário que não tenha tido ciência da venda poderá adquirir para si a parte que foi vendida a estranhos, observando-se o prazo decadencial de 180 dias e realizando, o comprador, o depósito integral do valor cobrado pelo bem. No que tange ao parágrafo único de tal artigo, consta que, em caso de interesse de muitos condôminos, haverá também uma ordem de preferência entre eles. A prelação seguirá a seguinte ordem: Primeiro terá preferência o condômino que tiver benfeitorias de maior valor; Na falta de benfeitorias, terá preferência o dono do quinhão maior; E, por último, na falta de benfeitorias e, caso de todos os quinhões forem iguais, a preferência será daquele que depositar previamente o valor. 3 CONDOMÍNIO LEGAL Trata-se de um tipo de condomínio gerado a partir da imposição da lei. Seus aspectos estão descriminados entre os artigos 1.327 e 1.330 do Código Civil de 2002. A modalidade de condomínio chamada de forçada, estão reguladas no CC nos artigos 1.297 e 1.298 e entre os artigos 1.304 a 1.307. Dispõe sobre bens que a lei considera como propriedade conjunta até que se prove o contrário, sendo esses bens as paredes divisórias, cercas, muros e valas, itens que comumente se encontram em limites de propriedades. 4 VENDA ENTRE CÔNJUGES No que se refere à comunhão parcial de bens, se instaura uma relação mista quanto à compra e venda patrimonial, uma vez que neste tipo de regime há bens tanto individuais, pertencentes a cada um dos cônjuges, como também há bens pertencentes ao casal em conjunto. Em virtude disso, somente aqueles patrimônios que são excluídos da comunhão serão passíveis de venda e compra entre o casal. Todavia, é imprescindível ressaltar que os cônjuges não estão libertos da vênia conjugal constante no art. 1.647, que diz: Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I – alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II – pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; III – prestar fiança ou aval; IV – fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. Logo, como expresso acima,o aceite de uma venda ou demais práticas constantes no art. 1.647, não são confundidas com a transferência da propriedade para si. Assim, por exemplo, se Paulo e Carla são casados com regime de comunhão parcial de bens e Paulo recebe de um parente próximo um patrimônio por meio de doação e decide vender essa propriedade a um terceiro, precisará do aceite de Carla. Mas, caso deseje vender esse bem a Carla, deverá ter ciência de que, assim que Carla adquirir a propriedade para si por meio de alienação, se tornará um bem comum entre eles, o que traria como consequência o pertencimento da metade do bem para cada um dos dois, salvo esteja previsto em uma cláusula no contrato em que conste que a aquisição da propriedade foi realizada totalmente por meio de um capital pertencente a Carla. Somente neste caso há a possibilidade, então, do bem permanecer particular e ser transferido o cônjuge em regime de comunhão parcial de bens. Por fim, agora sobre o regime universal de bens – quando todos os bens dos cônjuges são pertencentes ao casal – só haverá uma única possibilidade de transferência patrimonial, que é através de uma cláusula de incomunicabilidade também constante na escritura do bem recebido individualmente. Assim, se Carla – agora casada com Pedro em regime universal de bens – recebe de sua irmã a doação de um patrimônio em que conste uma cláusula de incomunicabilidade, lhe será permitida a possibilidade de venda para seu cônjuge. Mas, assim como no regime de comunhão parcial, se não constar uma cláusula de incomunicabilidade também na venda para Vinícius, 50% do patrimônio permanecerá de Carla. 5 CONDOMÍNIO EDILÍCIO 5.1 CONCEITO Outra espécie de condomínio é o edilício, forma de composse onde os proprietários de um mesmo imóvel desfrutam de áreas e exclusivas e áreas comuns. Diferentemente do condomínio geral onde os possuidores detém conjuntamente todo a coisa, no condomínio edilício apenas uma fração de um bem, obrigatoriamente imóvel, é partilhada, sendo a outra individualizada. “Por exemplo: num edifício residencial, o apartamento é propriedade exclusiva e partes como elevadores, piscinas, portaria etc., são partes comuns, sendo que cada condômino é dono de seu apartamento mais uma fração ideal nas partes comuns.” (STOLZE, Pablo apud CAMILO COLANI, n.p) A urbanização e crescimento vertiginoso das cidades, fomentou a verticalização das construções, como é possível apreender a partir dos altos edifícios e arranha-céus que tornou-se símbolo das grandes metrópoles. Com isso, o estudo dos condomínios edilícios tem adquirido cada vez mais maior relevância. Destarte, começaremos a aprofundar o tema. 5.2 CRIAÇÃO E NATUREZA JURÍDICA O condomínio edilício nasce a parti de um ato de vontade, seja inter vivos ou por testamento. Para adquirir validade, no entanto, é necessário ainda seu registro no cartório de imóveis. Constando a discriminação das partes exclusivas e das partes comuns além da determinação territorial de cada unidade e dos fins a que se destinam. Como ato normativo de grande relevância, tem-se a convenção de condomínio, que versa sobre informações fundamentais relativas a sua estrutura, sendo por isso essencial a sua constituição, diferencia-se, assim do regulamento cuja regras são de caráter cotidiano, visando solucionar possíveis litígios acerca de questões rotineiras entre o moradores. É necessário enfatizar que, uma vez constituído um condomínio edilício jamais poderá ser desfeito, senão com a própria destruição material do bem sobre o qual recai. Existe polêmica controvérsia doutrinária acerca da natureza jurídica dessa espécie condominial. Embora se aproxime dos institutos dispostos no art. 44 e 45 do Código Civil (sociedades e associações privadas), figuras típicas de Direito Privado, sua natureza é peculiar. Nesse sentido, julgado do STJ tem reafirmado a natureza despersonificada do condomínio, apenas considerando-o pessoa jurídica, fictamente, para efeitos tributário. 5.3 DIREITOS E DEVERES DOS CONDOMÍNIOS Se, conforme a visão Hobbesiana, viver em sociedade dar margem a discórdia e ao conflito, partilhar de um mesmo edifício residencial pode se tornar ainda mais difícil. Posto isso, para facilitar a convivência entre os condôminos é essencial estabelecer direitos e deveres. Consoante disposto no art. 1.335, CC/2002, são direitos do condômino: a) Usar, fruir e livremente dispor das suas unidades b) Usar das partes comuns, conforme a sua destinação, desde que não impeça a utilização dos demais compossuidores; c) Participar e votar nas deliberações da assembleia e delas participar, assembleia e delas, estando quite. Observe-se que pelo caráter peculiar desse instituto jurídico, o direito do condômino usar, gozar e fluir a coisa encontra-se limitado pelos deveres adstritos a assegurar a não exclusão da utilização ou turbação do exercício dos mesmos pelos demais compossuidores. Ademais, pelo parâmetro constitucional do Direito de Propriedade, tais direitos também devem resguardar o princípio da função social. Assim, não pode, por exemplo, o condômino no exercício dos seus direitos violar normas ambientais ou utilizá-lo para fins de atividades ilícitas. Além desses, constitui de igual modo direito dos compossuidores a preferência em caso de venda ou locação de uma das unidades condominiais, que caso não acatada, possibilita ao condômino, 180 dias, logo que souber da realização do negócio com terceiro, realizar o depósito compulsório do valor integral, tomando a coisa para si. Por entrave jurídico é proibida a alienação ou locação das áreas comuns ou das áreas exclusivas em separado das áreas compartilhadas. Poderá, no entanto, o condômino alienar parte assessória da sua unidade a outro, ou a terceiro desde que conste do ato constitutivo do condomínio, e se a ela não se opuser a assembleia geral. Conforme o art. 1.336, CC/2002, são deveres do condômino: a) Contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção; b) Não realizar obras que comprometam a segurança de edificação; c) Não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; d) Dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes. Cabe ressaltar que, o não pagamento da taxa de contribuição condominial, que deverá ser proporcional a quota parte de cada condômino, em acordo com o art. 1.336 do CC/2002, resulta na cobrança de juros de 1% ao mês e multa de até 2% sobre débito, quando não convencionado coisa diversa. E, caso não quitada a dívida, segundo recente entendimento do STJ, pode ocasionar até mesmo a perda do direito do condômino sobre o imóvel, que deverá ser penhorado para adimpli-la, ainda que único do seu titular, não se podendo invocar a proteção do bem de família. 5.4 DA ADMINISTRAÇÃO DO CONDOMÍNIO A Assembleia Geral, é o órgão deliberativo do condomínio, a força de suas decisões é tamanha que só poderá ser anulada por decisão judicial. Cabe a está nomear um síndico que ficará a cargo da administração do imóvel residencial. Lembrando que o sindico também deve se submeter as decisões da Assembleia, podendo, inclusive ser por está desconstituído. Seu mandato é de 2 anos renováveis, e entre as suas diversas funções encontram-se, atuar como representante do condomínio ativa e passivamente, praticando, em juízo ou fora dele, os atos necessários à defesa dos interesses comuns, como ainda dar conhecimento à assembleia da existência de procedimento judicial ou administrativo, de interesse do condomínio, cumprir e fazer cumprir a convenção, o regimento interno e determinações da assembleia; além de diligenciar a conservação e a guardadas partes comuns e zelar pela prestação dos serviços que interessem aos possuidores. Em caso da necessidade de tomada de alguma decisão de maior interesse do condomínio deverá o sindico convocar a Assembleia, as deliberações serão tomadas, por maioria de votos dos condôminos presentes que representem pelo menos metade das frações ideais. Porém, esse quorum poderá se modificar de acordo com a relevância do assunto a ser votado, a exemplo da realização de obras, em partes comuns, em acréscimo às já existentes, que depende da aprovação de dois terços dos votos dos condôminos, e a construção de outro pavimento, ou edifício em solo comum, destinado a conter novas unidades imobiliárias, que para ocorrer depende da aprovação da unanimidade. 5.5 DA EXTINÇÃO DO CONDOMÍNIO Conforme asseverado anteriormente por ser de prazo ilimitado, uma vez constituído o condomínio edilício não pode ser desfeito por um processo jurídico em específico. No entanto, como resultado da realidade fática, poderá ser extinguido com o perecimento do seu objeto ou se todas as unidades que o compõem forem alienadas a um mesmo titular. 5.6 CONDOMÍNIO DE LOTES Como espécie do gênero condomínio edilício, temos o condomínio de lotes recém adicionado pelo Código Civil, através no art. 1.358-A. Que estabelece a possibilidade de terrenos ainda sem construções serem subdivididos em lotes com propriedades comuns e propriedades exclusivas. O novo regramento possibilitou a atualização do direito trazendo maior segurança jurídica ao instituto, uma vez que a doutrina já defendia a sua possibilidade, agora já é viável juridicamente a incorporação imobiliária em imóveis destinada à venda de lotes sob o âmbito de um condomínio. 6 NOVAS TENDÊNCIAS CONDOMINIAS 6.1 MULTIPROPRIEDADE OU TIME SHARING O Time Sharing é a nova tendência de partilha residencial que tem se expandindo, sobretudo em regiões de grande atração turística, como cidades praianas, montanhas, dumas etc. Esse sistema costuma ser adotado em propriedades destinadas ao lazer (casas de praia, chalés, chácaras), e permite aos coproprietários desfrutar do imóvel em períodos específicos do ano e por determinado tempo. De acordo com Andrade: “A vantagem é puramente econômica, permitindo ao adquirente usufruir, de um imóvel para seu descanso de cada ano, sem suportar gastos astronômicos, bem como isentar-se do possível “sofrimento” e mesmo desagrado das reservas de hotéis ou mesmo possibilidade de nada encontrar para o merecido repouso, enfim, com dificuldades para um alojamento cômodo e saudável.” STOLZE, Pablo apud RESENDE, Afonso, n.p) Exemplo, Maria, ao compor multipropriedade com outras cinco pessoas, estabeleceu que no período dos dois últimos meses do ano, quando recebe férias, desfrutará de imóvel localizado em frente ao mar. Em geral, é cobrado um preço ao condômino que varia conforme o tempo de sua utilização e a temporada (alta, média ou baixa). Por isso, há quem considere que o Time Sharing se aproxima mais do instituto obrigacional da locação. Em 2016, o STJ pois fim a acirrada discursão, decidindo por maioria que o sistema imobiliário tem natureza de direito real, reconhecendo, inclusive, a possibilidade de o coproprietário se valer de embaraços de terceiro para defender a sua posse. 6.1 CONDOMÍNIO DE FATO A margem do sistema jurídico encontra-se, ainda, o condomínio de fato, também chamado de irregular ou por adesão. Constitui espécie de condomínio onde proprietários de diversos imóveis vizinhos, sejam em mesmo bairro ou em parte de uma rua, se reúnem e se apossam de áreas de domínios público, restringindo a entrada de pessoas, assim comportando-se como se condôminos fossem. Isso costuma ocorrer como meio de aumentar a segurança nessas regiões, sendo construídas cancelas, guaridas e instaladas câmeras de segurança com o rateio do valor pelos moradores, para garantir somente a entrada de pessoa autorizada. O problema é que, por não constituir um direito real, essa espécie de condomínio não pode ser levada a registro no cartório e, portanto, não pode ser oponível contra terceiros (art. 1.333 do CC), já entendendo o STJ, por unanimidade, a desobrigação quanto ao pagamento da taxa condominial nesses casos. Soma-se a isso o condão de que a autonomia privada não pode se apossar de bens de uso comum do povo, como praças e ruas e passar a restringir o seu acesso. Não obstante, alguns municípios percebendo que o fechamento de certos logradouros e a criação de condomínio em áreas mal conservadas e inseguras fomenta uma melhor conservação desses espaço, tiveram a iniciativa de aprovar leis que viabilizasse a concessão legislativa de uso especial privativo a esses bens, desde que preenchidos certos critérios, como a garantia da entrada de veículos e pedestres de não moradores mediante simples identificação ou cadastramento. 8 CONCLUSÃO No decorrer do atual artigo analisamos aspectos conceituais e normativos que envolvem o instituto da propriedade conjunta. Passamos por meios comuns de condomínio que estão presentes na sociedade e abordamos as tendências que envolvem o compartilhamento de propriedade. O direito de propriedade é um dos direitos e garantias fundamentais previstos pela nossa atual Constituição Federal. Observa-se, no entanto, que tal direito deve se submete-se ao interesse coletivo de forma a favorecer o planejamento urbanístico e a harmônica convivência entre os indivíduos, devendo, dessa forma, acompanhar a dinâmica da sociedade, com o fim de efetivamente lograr o imperioso princípio da função social. Diante disso, é preciso aceitar a natureza relativa dos direitos reais e abrir o sistema para que situações do mundo fático possam efetivamente penetrar o âmbito do Direito, suscitando a aproximação entre realidade social e sistema jurídico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em 27 de maio de 2022. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de Direito Civil. Volume 5: direitos reais. 21ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019. MELO, Marcelo Augusto Santana de. Multipropriedade imobiliária. Disponível em: <http://iregistradores.org.br/multipropriedade-imobiliaria/. Acesso em 27 de maio de 2022. MAIA, Luciano Soares. Direitos Reais e Condomínio de Fato. pag 2842 à 2852.