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1 GESTÃO DA MARCA Estratégias de branding: fundamentos mercadológicos Professor: Ricardo Poli Referência Bibliográfica AAKER, D. A. Marcas Brand Equity Gerenciando o Valor da Marca. São Paulo: Negócio, 1998. KELLER, K.L.; MACHADO, M. Gestão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de Marketing, 14ª edição. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. ROCHA, A. DA; SILVA, J. C. F. DA. Consumo na base da Pirâmide. Rio de Janeiro: Mauad, 2009. SERRALVO, F. A. (org). Gestão de marcas no contexto brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008. Resumo O PENSAMENTO MERCADOLÓGICO Os princípios do pensamento mercadológico Antes de adentrar profundamente ao assunto relacionado a estratégias de branding, se faz necessário rever alguns conceitos mercadológicos importantes. Dessa forma, pode-se construir uma lógica de raciocínio sobre branding que esteja ancorada nos mesmos princípios. Sendo assim, e como o tema “gestão de marcas” é parte de um tema muito mais amplo, o primeiro passo é conceber marketing. A definição clássica de Kotler resume em uma frase tudo aquilo que se deriva de marketing: “Satisfazer as necessidades dos clientes, com lucro, num relacionamento de longo prazo”. Todo e qualquer conceito presente no universo de marketing deriva-se desse conceito. A gestão de marcas de ter essa concepção como sua “pedra fundamental”, afinal, marcas são criadas, extintas e gerenciadas a partir da satisfação de desejos e necessidades dos clientes. O modelo do brand equity baseado no cliente é puro reflexo disso. A lógica do pensamento mercadológico considera que um bom produto/serviço é aquele que tem bom desempenho em vendas e que isso só acontece porque os desejos e necessidades dos clientes são atendidos. Se esse é o princípio, pode-se concluir que o processo de marketing inteligente não se presta a questionar tais desejos e necessidades, mas se atenta a entendê-los e atendê-los. “Se um produto existe e vende, é porque atende a um conjunto de necessidades. O processo de marketing não questiona esse conjunto de necessidades, eles as entede e atende.” 2 Ser fiel a esse princípio implica, muitas vezes, em estabelecer uma nova visão de mundo. Diante dele, fica impossível caracterizar um produto de bom desempenho em vendas como um produto ruim, como comumente acontece com aqueles com forte identidade popular. Um bom gestor de marketing compreende um show de música sertaneja da mesma forma que entende um concerto de música de clássica. Ambos existem, podem ter vendas de ingressos esgotadas, mas atendem desejos e necessidades diferentes, ainda que presentes na mente de um mesmo consumidor final. Porque seriam necessariamente desejos e necessidades excludentes? A visão mais evoluída do conceito de marketing leva em consideração que não basta atender desejos e necessidades somente dos clientes, mas também de todos os stakeholders. É o que se denomina como “visão holística de marketing”. Obviamente, sabe-se que empresas possuem uma quantidade imensa de grupos de interesse relacionados a seu negócio e, por causa disso, deve estabelecer uma hierarquia nesse sentido. A título de exemplo, pode-se pensar que os fabricantes de remédio não-OTC tem como alvo principal de suas campanhas de marketing os médicos, aqueles que não vão fazer uso de seu remédio, tão pouco comprá-lo e pagar por ele. Outra ressalva importante é considerar como princípio mercadológico que o processo de marketing não cria necessidades, todas elas já existem. Até mesmo aquelas a serem atendidas por produtos que ainda não existem. Pensemos na época que os fornos de microondas não existiam, pensemos nas necessidades atendidas por quem compra esse eletrodoméstico, elas já não existiam anteriormente? Na verdade, o processo de marketing cria desejos, mas não necessidades. Tais desejos mudam ao longo do tempo, afinal, os desejos atendidos por um microondas na época de seu lançamento eram muito próximos das necessidades atendidas por ele. Atualmente, vai muito além disso. Outra forma de se conceber o pensamento mercadológico é partir do pressuposto de que um produto é vendido em função do confronto existente entre o valor que se percebe nele e valor do dinheiro necessário para adquiri-lo. Se essa diferença for positiva a favor do valor percebido, o produto é adquirido. Caso, contrário, não. Mas exceções existem. E esse valor percebido, atualmente, é construído por meio de grandes investimentos em gestão de marcas. Marcas são signos que carregam um conjunto de significados e associações responsáveis por fazer com que o valor percebido em um produto se dê muito mais em função de questões emocionais do que racionais. Por fim, pensar mercadologicamente implica em conceber ou analisar um produto, antes de tudo, em função do conjunto de desejos e necessidades atendidos por ele. Esse conjunto é tão importante que o processo de marketing o considera como “o próprio produto”. Um bom profissional de marketing encara um shampoo feminino em função da necessidade de higiene pessoal a ser atendida. Essa que é comum a todo e qualquer cosmético desse tipo – ponto de paridade. Mas encara principalmente em função do desejo presente, em maior ou menor grau, na mente de toda mulher, a vaidade. E a manifestação concreta dessa vaidade é o produto estampado com uma marca, juntamente com seu preço, o lugar onde se pode adquiri-lo e a forma como é promovido. 3 As variáveis do composto de marketing e a gestão de portifólio Define-se como composto de marketing o conjunto de variáveis fundamentais para concepção de uma visão estratégica mercadológica inteligente. Na versão mais simples, são elas: produto/serviço, preço, distribuição e comunicação. Considerando a denominação em inglês, têm-se os 4P´s. É por meio da integração dessas quatro variáveis que desejos e necessidades serão atendidos. Trata-se de pensar, conceber, planejar e executar estratégias levando-se em conta tais variáveis de forma indissociável. A isso se denomina estratégia de marketing-mix. Em relação a variável produto/serviço, se dará foco aqui ao assunto relacionado a gestão de portifólio, visto que ele terá relação direta com o assunto relacionado a arquitetura de marca. Entende-se como portifólio de produtos o conjunto de todos os produtos que uma empresa disponibiliza para o mercado. Esse conjunto é composto por itens, ou seja, a versão final de cada produto. Os agrupamentos de itens se denominam linhas de produto. A maneira como uma empresa organiza seu portifólio de produtos acontece por meio de critérios estabelecidos por ela, podendo gerar configurações distintas em função disso. Empresas podem definir suas linhas em função da categoria de produto, das marcas que possui ou pela combinação dos dois. A gestão de portifólio é caracterizada em função das decisões a serem tomadas em relação a variedade de itens e linhas. Entende-se como extensão de um portifólio a quantidade total de itens presente nele. À quantidade de linhas de produto se denomina abrangência do portifólio. A profundidade leva em consideração os conceitos anteriores e está relacionada à variedade de itens dentro de uma linha ou de um portifólio. A consistência trata do grau de relacionamento de itens e alinhas em relação a: fabricação, distribuição e uso final. O maior desafio é estabelecer uma quantidade de itens e linhas, com a maior consistência possível, para atender a maior quantidade de desejos e necessidades possíveis, concomitantemente à maximização dos lucros. A variável preço do composto de marketing deve ser tratada, antes de tudo, a partir do princípio da satisfação dos desejos e necessidades dos clientes, ou seja, um produto/serviço deve ter um preço que o cliente esteja disposto a pagar. Entretanto, não se pode negar quea política de preços de uma empresa é influenciada, em maior ou menor grau, por seus concorrentes. Por consequência, tal política de preços também afeta os preços da concorrência. O maior desafio passa por estabelecer um preço que satisfaça desejos e necessidades, ao mesmo tempo que gere lucratividade significativa para a corporação. Resumindo: uma política de preços deve ser estabelecida, em primeiro lugar, em função de três variáveis: mercado, concorrência e custos. A variável distribuição leva em conta que desejos e necessidades são atendidos também em função da forma como um produto/serviço se torna disponível. Evidentemente, a escolha da forma de distribuição leva em conta o posicionamento estabelecido. Não se espera que produtos com alto nível de sofisticação sejam disponibilizados numa grande quantidade de pontos-de-venda, como acontece com os bens de conveniência. 4 A estratégia de distribuição intensiva segue nesse sentido, ou seja, busca disponibilizar produtos na maior quantidade de pontos-de-venda possíveis e imagináveis. Onde se pode comprar uma Coca-Cola? A distribuição seletiva tem como pressuposto a seleção de pontos-de-venda em sinergia com o posicionamento e a estratégia de marketing-mix. Onde se pode comprar um perfume Chanel? A distribuição exclusiva define um único canal como aquele que será responsável por tonar o produto disponível. Onde se pode comprar um produto da Boticário? Por fim, a variável comunicação do composto de marketing trata da forma e da intensidade com qie um produto/serviço será promovido. Muitas são as ferramentas para se fazer isso: propaganda, publicidade, marketing direto, relações públicas, comunicação de vendas, marketing digital, dentre outros. O ponto de partida se dá pela escolha da intensidade, em outras palavras, da opção de se fazer comunicação de massa ou dirigida. A estratégia de comunicação de massa é aquela que se executa de forma abrangente, com grande amplitude e frequência para se alcançar a maior quantidade de pessoas possível. A estratégia de comunicação dirigida é o oposto disso, ou seja, busca a entrega de uma mensagem de forma específica para um ou mais segmentos de mercado específicos (one-to-one). O desafio atual das estratégias de comunicação passa pelo uso da maior quantidade de ferramentas de comunicação possível, a chamada estratégia 360º, fazendo uso de uma mensagem específica, para um público de massa. Por fim, fica o desafio: como pensar e aplicar todos esses conceitos anteriores num processo de gestão da marca? 5 Exercícios 1. Considere as seguintes afirmações: I - Em uma organização com orientação de marketing, primeiro seleciona-se o cliente que se deseja atrair e manter, para só então desenvolver a oferta para ele. II - Em uma organização com orientação de marketing, busca-se o lucro por meio da captura do valor do cliente. III - Em uma organização com orientação de marketing, a satisfação do cliente é a sua principal meta. Pode-se afirmar que: a) todas as afirmações estão corretas. b) a afirmação I é falsa. c) a afirmação II é falsa. d) a afirmação III é falsa. e) somente I e II são verdadeiras. 2. Ao se adentrar em hipermercado, seja ele o Extra, Carrefour, Wall Mart ou qualquer outro, pode constatar, em termos de gestão de portifólio de produtos, que: a) a extensão é pequena. b) a abrangência é grande. c) a profundidade é grande. d) a consistência é pequena. e) nenhuma das anteriores. 3. O composto de marketing no contexto de um varejo leva em consideração mais duas variáveis para o estabelecimento de uma estratégia inteligente de marketing-mix: pessoas e apresentação da loja. Qual das empresas abaixo leva em conta contundentemente esses dois fatores como forma de diferenciação? a) Natura. b) Netshoes. c) Drogasil. d) Boticário. e) nenhuma das anteriores. 6 Gabarito 1. A Nada do que se constata no conteúdo das afirmativas nega os princípios do pensamento mercadológico. 2. B Grandes redes de hipermercado, buscando facilitar as compras de seus clientes, organizam seus portifólios de produtos tendo como critério categorias de produto. Em outras palavras, as linhas de produto são definidas em função disso. Logo, pode se chegar a conclusão de que se trata de portifólio muito abrangente, visto que a quantidade de categorias oferecidas é muito grande. 3. D O Boticário é um fabricante de cosméticos com redes de lojas físicas, o maior deles no Brasil com essa configuração. Sendo assim, a atratividade de seu negócio por parte de seus clientes se dá em função das características físicas da loja e do atendimento prestado pelas pessoas lá presentes. Não é o caso da Natura e da Netshoes, onde lojas físicas são inexistentes, logo, o fator “presentation” tem pouca relevância como forma de difrenciação. No caso da rede de farmácias Drogasil esse fator também é minimizado, pois grandes redes de farmácia possuem lojas praticamente idênticas. Isso ocorre por fatores ligados a legislação e característica intrínsecas do negócio. Exercício de contextualização 1. Nos áureos tempos do licenciamento de produtos com a marca Xuxa, um grande fabricante de goma de mascar, vulgo chicletes, decidiu lançar uma versão de seu produto com a marca dessa aprensentadora: XUCLET´S. Crianças e adolescentes são usuários típicos dessa categoria de produto e a chance de obter sucesso em vendas com o produto licenciado eram enormes. O produto nada tinha de novo em termos gosto, aroma e características físicas, salvo pequenas adequações em função das cores típicas dos produtos Xuxa. O referido fabricante era um dos líderes na categoria de goma de mascar, atuando há décadas no país. O produto foi um fracasso. Você consegue imaginar o porquê? 7 Gabarito 1. Para responder a pergunta, e diante do contexto apresentado, é fundamental o uso do conceito de marketing-mix. O sucesso de vendas de um produto está ligado diretamente ao desempenho dessa estratégia. No caso apresentado, pode-se inferir que o fracasso das vendas do produto não estava ligado às suas características físicas, pois sofreu poucas adequações em relação aos produtos já existentes. Por ser um bem de conveniência, muitas vezes adqurido por impulso, tinha sua distribuição intensiva garantida, visto que essa era realizada por um fabricante que já atuava com essa categoria, sendo um dos líderes. Obviamente, já tinha presença em todos os canais de distribuição possíveis. O apelo de comunicação ligado a XUXA tinha poucas chances de fracasso, visto o sucesso de muitos outros produtos que foram licenciados com essa marca. Resta, então, uma variável, o preço. Na esperança de uma grande demanda gerada pelo licenciamento, e também pelos custos envolvidos, o fabricante lançou a goma de mascar com o dobro do preço. Ainda que isso representasse pouco em termos absolutos, representava muito para aquisição de um chiclete. Atividade extra Nome da atividade: visita ao site da Johnson & Johnson para aplicação dos conceitos básicos de gestão de portifólio de produtos. www.jnjbrasil.com.br http://www.jnjbrasil.com.br/