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AULA 3 ESTRATÉGIA DE OPERAÇÕES E FATORES COMPETITIVOS Profa Carla Gomes Beuter Diógenes 2 INTRODUÇÃO Começamos a aula apresentando as principais decisões que envolvem os processos de programação e controle de operações. Na sequência, abordaremos os fatores estratégicos envolvidos na definição da localização e do arranjo produtivo das operações, seguido dos aspectos críticos da gestão da força de trabalho, dos programas de inovação e do relacionamento com fornecedores. TEMA 1 – PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DE OPERAÇÕES O processo de programar a produção predefinida nas operações é bastante desafiador. Contempla um conjunto de decisões e envolve variáveis distintas (tempo e volume das atividades de produção), além da capacidade de influenciar os diferentes – e, às vezes, conflitantes – objetivos de desempenho do sistema produtivo. Inicialmente, é importante entender o papel do chamado centro de trabalho, que corresponde a uma área ou setor de um negócio na qual recursos (pessoas, máquinas, computadores) são organizados e o trabalho é realizado por atividades agregadoras de valor (Corrêa; Corrêa, 2012). Além disso, no planejamento e no controle do volume e do tempo das atividades na produção, Slack et al. (2018) apontam para a necessidade de quatro atividades distintas: carregamento, sequenciamento, programação e monitoramento/controle de operações. Na sequência, vamos comentar mais detalhadamente sobre cada uma dessas atividades. 1.1 Carregamento A atividade de carregamento é responsável por determinar a quantidade de trabalho que será alocada a um centro de trabalho, ou seja, ela dita a carga de trabalho para cada parte da operação. Podemos dividir essa a atividade em duas abordagens: • Carregamento finito dos recursos: aloca o trabalho para o centro de trabalho somente até o limite da capacidade estimada. Trabalhos acima dessa capacidade não são aceitos. Usado com frequência em consultórios médicos, aviões ou por empresas que trabalham com produtos exclusivos. • Carregamento infinito dos recursos: aloca tarefas a recursos simplesmente com base nas necessidades de prazos. Não há limite para a aceitação do 3 trabalho. Programa as atividades sem considerar restrições de capacidade, ou seja, considerando os recursos como se fossem infinitos. É usado em pronto-socorro, restaurantes fast-food ou por empresas que não podem recusar clientes (bancos). 1.2 Sequenciamento Quando vários pedidos estão na fila em um centro de trabalho, é necessário definir o melhor sequenciamento das ordens (ou pedido de um cliente), ou seja, a ordem que deve ser a primeira a ser executada, a seguinte, e assim por diante (Paris; Guolo, 2015). Quando uma tarefa chega a determinado centro de trabalho, ela entra numa fila. É necessário, então, que a gestão da operação decida qual posição na fila que a ordem merece. Essa posição altera-se contínua e dinamicamente à medida que mais ordens chegam ao centro de trabalho, levando em conta as variáveis citadas por Corrêa e Corrêa (2018): • as ordens de produção apresentam diferentes datas de entrega, previamente prometidas pelo setor comercial; • cada ordem, geralmente, está em um estado diferente de realização – para algumas, muitas operações ainda faltam ser feitas, para outras, faltam poucas operações; • às vezes vale a pena colocar duas ordens em sequência, por terem a mesma preparação; • as ordens podem ser de clientes com importância relativa diferente. O trabalho também pode ser priorizado em função de restrições físicas: • máquinas podem quebrar ou estar em manutenção; • matérias-primas podem não estar disponíveis; • funcionários podem faltar; • operações podem requerer uma quantidade mínima de produção. Para ajudar na definição do sequenciamento das atividades, muitas organizações utilizam regras de sequenciamento, conforme exemplificado por Corrêa e Corrêa (2012): • FIFO (First in First Out) – primeira tarefa a chegar no centro de trabalho é a primeira a ser atendida. 4 • SOT (Shortest Operation Time) – tarefa com o menor tempo de operação no centro de trabalho é a primeira a ser atendida. • EDD (Earliest Due Date) – a tarefa com a data prometida mais próxima é processada antes. Lembramos que não existe uma regra de sequenciamento única e mágica que maximize o desempenho da unidade produtiva em todos os aspectos (Corrêa; Corrêa, 2012). 1.3 Programação Após o sequenciamento das tarefas, é necessário definir os tempos detalhados das atividades, e quando elas serão iniciadas e concluídas. Esse é o papel da programação. Trata-se de uma das tarefas mais complexas na gestão de operações. Segundo Corrêa e Corrêa (2012), os sistemas de programação de operações podem ter diferentes características: • Programação para trás (backward): planeja as atividades em algum ponto no futuro (em geral o momento em que a atividade precisa estar finalizada). Então, considerando a duração das atividades, programa suas datas de início, descontando para trás, no tempo, a duração da atividade. • Programação para frente (forward): programa as atividades para a data mais cedo (tão logo ele chegue) e acrescenta, para frente, a duração da atividade, para então, definir sua data de término. • Gráfico de Gantt: é o método de programação mais simples e mais usado, em que o tempo é representado por uma barra num gráfico. Os tempos de inicio e fim das atividades são indicados no gráfico, permitindo acompanhar o progresso real do trabalho. 1.4 Monitoramento e controle É responsável por coletar e analisar informações, detectando o que está ocorrendo na operação e, se necessário, replanejando e determinando novos planos (Corrêa; Corrêa, 2012; Slack et al., 2018). Para tanto, deve contemplar as seguintes funções: • manter informações sobre quantidades de estoque em processo; 5 • comunicar situações correntes de ordens de produção para a gestão; • prover dados sobre saídas efetivas para suportar atividades de controle da capacidade produtiva; • prover mensuração de eficiência, utilização e produtividade da força de trabalho e dos equipamentos. TEMA 2 – LOCALIZAÇÃO E ARRANJO FÍSICO DAS INSTALAÇÕES Encontrar a localização certa para uma organização e seu ambiente produtivo é, sem dúvida, um grande desafio. Isso porque a localização afetará a produtividade e sua capacidade competitiva da empresa. Decisões erradas de localização não são apenas caras do ponto de vista das consequências, mas também difíceis de serem revertidas. Corrêa e Corrêa (2012) comentam como a localização afeta os custos diretos numa organização de manufatura: • custo de transporte (das matérias-primas e componentes para a operação e dos produtos acabados até os clientes); • custo de mão de obra (diferentes locais têm diferentes níveis salariais e até legislações diferentes); • custo e disponibilidade de energia. Já em operações de serviços, a localização pode afetar a conveniência do cliente, o volume de tráfego em torno da operação e a visibilidade da operação (Corrêa; Corrêa, 2012). 2.1 Fatores que afetam a localização das unidades de operação Diversos fatores podem afetar a decisão de localização. Corrêa e Corrêa (2012) listam alguns deles: • Proximidade de fontes qualificadas de suprimento (material): é o caso de empresas extrativistas, ou que utilizam insumos perecíveis, ou ainda que buscam diminuir o custo de transporte, no caso de matérias-primas muito volumosas, caras e difíceis de transportar. • Proximidade de mão de obra qualificada ou de preço mais baixo: comum em negócios intensivos em mão de obra ou em conhecimento. 6 • Proximidade dos clientes: quando os produtos comercializados são perecíveis, ou no caso de operações que necessitam a presença do cliente para executarem suas atividades de agregação de valor; ou, ainda, quandopriorizam regiões altamente densas, com grande acesso ao público-alvo. • Fatores referentes ao ambiente físico e de negócio: envolvem preço, qualidade e disponibilidade de espaço físico; utilidades (água, energia elétrica, internet, serviços públicos); incentivos fiscais (zonas livres de comércio); impactos ambientais, condições de solo; acesso à infraestrutura de transporte. • Fatores que afetem a qualidade de vida dos colaboradores: consideram infraestrutura de segurança, lazer, educação, moradia, transporte público, clima, estilo de vida, entre outros. • Fatores referentes à comunidade: o sucesso de um negócio pode ser limitado em relação a ele ser aceito ou não pela comunidade local. Muitas comunidades recebem bem novos negócios quando eles trazem empregos e outros benefícios. No entanto, as comunidades rejeitam negócios vistos como poluidores (poluição visual, sonora, de ar, de água etc.). • Fatores referentes à globalização: quando envolvem expansão das atividades em outros países, ou para explorar novos mercados, ou, ainda, para aproveitar vantagens referentes a algum insumo (mão de obra mais barata, matéria-prima mais abundante, legislação menos restritiva). Envolvem ainda fatores culturais e políticos. 2.2 Hierarquia das decisões de localização Geralmente, as decisões sobre localização são tomadas de forma hierárquica, dos fatores mais gerais para os mais particulares. O Quadro 1 apresenta essa hierarquia: Quadro 1 – Hierarquia das decisões de localização Nível hierárquico Decisão Fatores principais Região global Região do mundo ou país • Potencial de mercado • Custos operacionais • Estabilidade política • Aceitação cultural • Adequação ao clima e temperatura • Infraestrutura global de utilidades e serviços 7 Sub-região País ou região do país • Custos de transporte • Impostos e incentivos • Custos e disponibilidade de insumos materiais e humanos • Legislação e incentivos fiscais regionais • Legislação trabalhista • Protecionismo • Infraestrutura interna de utilidades e serviços • Potencial de mercado Comunidade Cidade • Acesso a mercados • Custos e disponibilidade de insumos materiais e humanos • Legislação e incentivos fiscais locais • Atitude da comunidade • Disponibilidade de locais e custo de espaço • Infraestrutura interna de utilidades e serviços • Fatores referentes à qualidade de vida Local especifico Endereço • Acesso a infraestrutura de transporte • Acesso a mercados locais • Infraestrutura micro-local de utilidades e serviços • Custo de espaço e disponibilidade para expansão • Impostos territoriais • Incentivos locais (fiscais ou outros) • Fatores referentes à qualidade de vida Fonte: Elaborado com base em Corrêa; Corrêa, 2012, p. 402. 2.3 Arranjo físico Definida a localização da unidade de operação, a organização precisa decidir qual o melhor arranjo físico (ou layout) da sua instalação. Geralmente, o arranjo físico é aquilo que a maioria de nós observa primeiro ao entrar em uma unidade produtiva, porque ele determina a aparência da operação. “Arranjo físico significa decidir onde colocar toda as instalações, mesas, máquinas, equipamentos e pessoas” (Slack et al., 2018, p. 237). As decisões sobre arranjo físico apoiam a estratégia competitiva da operação e, consequentemente, da organização. Um bom projeto de arranjo físico pode trazer inúmeras vantagens, segundo Corrêa e Corrêa (2012): • minimizar os custos de manuseio e movimentação interna de materiais; • utilizar o espaço físico e a mão de obra de forma eficiente; • facilitar a comunicação entre as pessoas envolvidas na operação; • reduzir tempos de ciclo dentro da operação; • facilitar a manutenção dos recursos. 8 2.4 Tipos de arranjo físico Corrêa e Corrêa (2012) relatam quatro tipos básicos de arranjos físicos. Veja no Quadro 2. Quadro 2 – Tipos básicos de arranjo físico Tipo de arranjo físico Características Por processo • Agrupa recursos com função ou processo similar, em setores • É usado quando os fluxos que passam pelos setores são muito variados e ocorrem intermitentemente • Privilegia a flexibilidade dos fluxos mas pode piorar a eficiência • Adapta-se melhor a operações que lidam com grande variedade de produtos. • Ex.: lojas de departamentos, supermercados, hospitais Por produto ou em linha • Privilegia a sequência de tapas do processo de agregação de valor • Usado por empresas que produzem um ou poucos produtos em altos volumes • Mantém um fluxo com eficiência máxima e é menos flexível • Ou que atenda a grandes volumes de clientes que passam por uma sequência comum de etapas no processo de atendimento • Ex.: linhas de montagens de veículos, aparelhos eletrônicos Posicional • O objeto da operação fica estacionado • Os recursos se deslocam até ele • Produtos únicos em pequenas quantidades • Permite grau máximo de customização • Ex.: construção civil, estaleiros, aviões, UTIs Celular • Recursos (máquinas e pessoas) são agrupados de forma que consigam, com suficiência, processar as famílias de itens que requeriam etapas de processamento similares, definindo células • Ganha-se velocidade e eficiência de fluxo, pois os recursos da célula estão próximos, numa pequena operação • Ex.: célula de material esportivo numa loja de departamento Fonte: Elaborado com base em Corrêa; Corrêa, 2012, p. 402. Cada organização deve estudar qual modelo de arranjo físico é mais adequado para ela como um todo, ou para determinado setor ou departamento, de acordo com sua estratégia de operações. TEMA 3 – GESTÃO DA FORÇA DE TRABALHO NAS OPERAÇÕES Entre as diversas responsabilidades que o gestor de operações tem está a de fazer a gestão das pessoas que realizam as operações. A pluralidade cultural e de pretensões da força de trabalho, além das frequentes mudanças decorrentes de um ambiente competitivo, exigem uma grande habilidade de gerenciamento de 9 pessoas. A forma como os recursos humanos são gerenciados tem um impacto profundo sobre a eficácia da função operacional da organização. Corrêa e Corrêa (2012) apresentam uma série de decisões que o gestor deve tomar quanto ao projeto da força de trabalho. Veja no Quadro 3. Quadro 3 – Decisões relacionadas à força de trabalho O quê? Qual a tarefa a ser executada em cada fase da operação? Quem? Que características físicas e psicológicas são necessárias para execução da tarefa? Que habilidades são necessárias? Que treinamento é necessário? Quando? Quando a tarefa deverá ser executada? Onde? Onde será executada a tarefa? Por quê? Por que a tarefa deverá ser executada? Qual o seu objetivo? Como? Qual o método para realizar a tarefa? Fonte: Elaborado com base em Corrêa; Corrêa, 2012, p. 402. 3.1 Especialização do trabalho Slack et al. (2018) comentam que toda operação deve decidir sobre o equilíbrio entre usar especialistas e generalistas. Essa ideia diz respeito à divisão do trabalho – dividindo o trabalho total em partes menores, cada uma é realizada por uma pessoa ou equipe. Corrêa e Corrêa (2012) acrescentam que o aspecto da especialização é o que mais está diretamente ligado à forma de a operação competir, ou seja, à sua estratégia. A divisão do trabalho provoca efeitos positivos e negativos. O Quadro 4 aponta algumas vantagens e desvantagens. Quadro 4 – Vantagens e desvantagens da divisão do trabalho Vantagens Desvantagens Promove maior rapidez na aprendizagem Monotonia A automação fica mais fácil Lesão física Redução do trabalho não produtivo Baixa flexibilidade Fonte: Elaborado com base em Slack et al., 2018. 3.2 Componentes psicológicos Segundo Corrêa e Corrêa (2012), é desejável que um projeto de trabalho tenha cinco características básicas: a) variedade de habilidades; b) identidade do 10 trabalho, com início e fim; c)significância do trabalho (sobre a organização e sociedade); d) autonomia; e e) retorno (feedback). 3.3 Expansão do trabalho A expansão do trabalho no ambiente de operações envolve diversos aspectos, apontados por Corrêa e Corrêa (2012): • o alargamento do trabalho (o colaborador passa a executar uma proporção maior de tarefas no mesmo nível); • a rotação do trabalho (quando os trabalhadores trocam de tarefas periodicamente); • o enriquecimento do trabalho (quando o trabalhador assume maior responsabilidade pelo planejamento e controle do seu próprio trabalho); • o empoderamento (os funcionários também assumem decisões que normalmente seriam da gerência). 3.4 Motivação O desempenho das pessoas ou grupos dentro das organizações é afetado por muitos fatores do que apenas pela remuneração recebida pelo trabalho feito. Diversas teorias foram desenvolvidas para estudar e compreender as variáveis motivacionais dos trabalhadores, como a Pirâmide da Hierarquia de Necessidades de Maslow; a Teoria X e Y de McGregor; e a Teoria dos Fatores Higiênicos e Motivacionais de Herzberg. 3.5 Ergonomia Seja qual for o trabalho, sempre haverá interação entre pessoas e recursos físicos. A forma como ocorrem estas interações pode tornar o trabalho simples ou impossível de ser realizado. Corrêa e Corrêa (2012) afirmam que a ergonomia tem como objetivo fazer com que o trabalho se ajuste à pessoa em todos os aspectos, respeitando suas características e limitações relativas à anatomia, à fisiologia e à psicologia. Slack et al. (2018) acrescentam que a ergonomia também examina como as pessoas se relacionam com seu ambiente de trabalho, ou seja, com temperatura, iluminação, ruído e assim por diante. 11 3.6 Padrões e medição de trabalho Várias decisões na gestão de operações dependerão da existência de padrões para o trabalho a ser realizado, ou seja, “conhecer o quanto de trabalho uma pessoa ou equipe tem capacidade de realizar” (Corrêa; Corrêa, 2012, p. 365). Essas informações podem ser obtidas por meio de dados históricos, estudos de tempos, padrões predeterminados e amostragem do trabalho. 3.7 Gestão de pessoas É claro que sistemas de trabalho, instalações, tecnologias e outros recursos têm um papel relevante no desempenho das operações, mas em última análise, a vantagem competitiva está fortemente atrelada às habilidades das pessoas. Corrêa e Corrêa (2012) comentam que o recrutamento e seleção de pessoas em operações deve ser alicerçado nas atitudes desejadas, em vez de dar ênfase ao nível certo de habilidade. Esta pode ser desenvolvida com treinamentos; o que é mais difícil de se conseguir são as atitudes. A motivação dos funcionários também é um aspecto importante da gestão de pessoas. Corrêa e Corrêa (2012) sugerem algumas ações para motivação dos funcionários em operações: deixar claro a eles por que são importantes; realizar treinamentos em habilidades interpessoais; prover treinamento e ferramentas necessárias para que o funcionário possa desempenhar melhor seu trabalho; manter suporte da supervisão; e manter sistemas de avaliação de desempenho. Por fim, a forma como os funcionários estão organizados também impacta fortemente o desempenho das operações, A estrutura organizacional adotada simboliza essa organização. Corrêa e Corrêa (2012, p. 387) definem estrutura organizacional como “a forma com que tarefas e responsabilidades são distribuídas entre agrupamentos de pessoas (e outros recursos) e como as relações de responsabilidade e coordenação entre os agrupamentos são definidos”. TEMA 4 – INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NAS OPERAÇÕES Para algumas pessoas, a inovação é vista como uma atividade arriscada. No contexto organizacional, sabemos que nem toda ideia pode ser transformada em um produto ou serviço bem-sucedido ou mesmo trazer uma melhoria significativa nos processos das operações. É possível que essa dificuldade se dê 12 porque uma ideia inovadora é muito difícil de ser implantada com a tecnologia disponível. Também pode decorrer de exigir um alto custo de desenvolvimento. Por essas e outras razões, as ideias podem ser abundantes, mas os recursos são limitados (Slack et al., 2018). Apesar de tantas dificuldades, quase todas as empresas buscam a inovação. Isso porque a inovação pode proporcionar a tão desejada vantagem competitiva. Slack et al. (2018, p. 120), comentam que “a inovação implica não apenas a novidade, mas também o processo de transformar a ideia em algo que forneça retorno para os clientes de uma organização, seus proprietários ou ambos”. Há ainda um atributo particular que é central para a inovação: a criatividade. Esta pode ser conceituada como “a capacidade de ir além das ideias, regras ou suposições convencionais, a fim de gerar novas ideias significativas” (idem, p. 120). 4.1 Curva S da inovação Nas organizações, o processo que transforma as ideias inovadoras em algo mais concreto é chamado de projeto. A inovação cria a nova ideia e é o projeto que faz a inovação funcionar na prática. Mas é necessário superar algumas etapas para que a inovação proporcione a melhoria no desempenho esperada. Slack et al. (2018) explicam que quando novas ideias são introduzidas em serviços, produtos ou processos, o desempenho começa lento no início. Passa a crescer na fase intermediária e diminui até chegar ao nivelamento, quando dá espaço para que novas e melhores ideias apareçam. Essa dinâmica pode ser visualizada no chamada Curva S da inovação, conforme ilustrado na Figura 1: Figura 1 – Curva S da inovação Fonte: Elaborado com base em Slack et al., 2018, p. 122. 13 4.2 Inovações incrementais e radicais Existem diferentes tipos de ideias e, consequentemente, inovações nas organizações. Uma distinção importante é a das inovações incrementais e inovações radicais. Elas se diferenciam na maneira como usam o conhecimento. Slack et al. (2018) explicam que, normalmente, a inovação radical exige recursos e/ou conhecimentos totalmente novos, tornando obsoletos os produtos ou serviços existentes. Já a inovação incremental é desenvolvida com base no conhecimento e/ou dos recursos já existentes. 4.3 Estágios da inovação Inovações completamente delimitadas raramente surgem totalmente formadas da imaginação de uma pessoa. A geração de uma inovação passa por vários estágios, apresentados na Figura 2. Vale destacar, contudo, que, na prática, é possível voltar atrás nas etapas. Figura 2 – Estágios da inovação Fonte: Elaborado com base em Slack et al., 2018, p. 131. A geração do conceito transforma uma ideia em um conceito, com a natureza do produto ou serviço e uma especificação global para o projeto da inovação. A etapa da triagem do conceito consiste em examinar sua viabilidade, aceitabilidade e vulnerabilidade. O projeto preliminar consiste na identificação de todas as partes componentes do serviço ou produto e no modo como elas se ajustam. A avaliação e a melhoria do projeto incluem o reexame do projeto para verificar se ele pode ser feito de maneira melhor, mais barata ou mais fácil. Finalmente, a prototipagem e o projeto final definem os últimos detalhes que permitem que a oferta seja criada. O resultado é uma especificação plenamente desenvolvida, incluindo a embalagem do produto, bem como uma especificação dos processos que os fabricarão e os entregarão aos clientes. 14 4.4 Avaliação do desempenho da inovação O processo de geração de inovações e seu desempenho deve ser avaliado da mesma forma como qualquer processo, conforme os critérios elencados por Slack et al., 2018: • qualidade: dependendo de sua capacidade de atender às exigências do mercado, a inovação pode ser jugada de alta ou baixa qualidade; • velocidade: a rapidez no lançamento de uma inovação traz vantagens como a inserção antecipada no mercado, comreceitas por mais tempo; • confiabilidade: a falta de confiabilidade, especialmente com prazos não cumpridos, aumenta a incerteza em torno do projeto de inovação; • custo: envolve três categorias: o custo de compra dos insumos para o processo; o custo de fornecer a mão de obra no processo; e os outros custos gerais na execução do projeto de inovação. • sustentabilidade: representa a extensão em que a inovação beneficia o tripé composto por pessoas, ambiente e lucro. TEMA 5 – INTERAÇÃO COM FORNECEDORES NAS OPERAÇÕES A compra de insumos, matérias-primas e produtos acabados representa fator crítico nos processos de operações. Isso porque boa parte dos ganhos das vendas é comprometida com o pagamento de fornecedores por materiais comprados, de forma que pequenas reduções na compra de materiais podem gerar aumentos significativos nos lucros. 5.1 Etapas do processo de aquisição Segundo Slack et al. (2018), o processo de aquisição pode ser dividido em: 1. Preparação e planejamento: envolve o recebimento das informações, como dados técnicos e elaboração de condições do produto a ser adquirido. 2. Seleção dos fornecedores: alguns critérios, como certificações de sistema de gestão, podem ser usados tanto para a seleção quanto para auditoria dos fornecedores. 3. Cotações, preços e acompanhamentos: solicitando essas informações e definindo de qual fornecedor comprar, o acompanhamento do pedido deve ser bem criterioso. 15 5.2 Verticalização versus horizontalização A decisão de comprar ou produzir é uma dúvida que tem levado muitos gestores a encontrar estratégias para tentar reduzir custos e aumentar a competitividade de seus produtos. Eles decidem se suas empresas devem fabricar algumas peças ou subcontratar outra empresa para fornecê-las (Caxito, 2019). Dentre as decisões estratégicas envolvendo fornecedores nas operações, está a escolha sobre verticalização e horizontalização. Segundo Martins (2009 citado por Caxito, 2019, p. 195), verticalização é a estratégia em que a empresa produzirá internamente tudo o que puder, ou pelo menos tentará produzir. É a estratégia em que a empresa “faz tudo”. No entanto, o grande número de atividades realizadas internamente pode acarretar problemas gerenciais devido ao aumento de parte da empresa e atividades não ligadas diretamente ao negócio principal, podendo resultar em perda da eficiência e aumento do custo de produção. O Quadro 5 apresenta algumas vantagens e desvantagens da verticalização: Quadro 5 – Vantagens e desvantagens da verticalização VANTAGENS DESVANTAGENS Independência de terceiros Maior investimento em equipamentos Maiores lucros Menor flexibilidade (perda de foco) Maior autonomia Aumento da estrutura da empresa Domínio sobre tecnologia própria Fonte: Elaborado com base em Caxito, 2019. Já o conceito de horizontalização utiliza a estratégia de comprar com terceiros o máximo de componentes de seu produto final. O Quadro 6 apresenta as vantagens e desvantagens dessa estratégia. Quadro 6 – Vantagens e desvantagens da horizontalização VANTAGENS DESVANTAGENS Redução de custos Menor controle tecnológico Flexibilidade para definir volumes de produção Maior exposição a problemas de qualidade 16 Incorporação de novas tecnologias Alta dependência de terceiros Foco no produto principal da empresa Fonte: Elaborado com base em Caxito, 2019. 5.3 Relacionamento do mercado puro com fornecedores Uma organização pode manter diferentes tipos de relacionamento com diferentes fornecedores. Slack et al. (2015) apresentam um primeiro tipo de interação com fornecedores, chamado “relacionamento mercado puro” (ou transacionais baseados em contrato). Caracteriza-se por uma troca limitada de informações, em geral, restringindo-se à especificação da compra, quantidades e prazos de entrega, preço e condições de pagamento. As vantagens desse relacionamento são: • manter a concorrência entre fornecedores, incentivando a oferta por melhores preços; • possibilitar que as inovações sejam exploradas independentemente de onde se originam. Mas também existem algumas desvantagens: a primeira delas é que os fornecedores devem pouca lealdade aos clientes. A segunda é que escolher de quem comprar consome tempo e esforço. Vale lembrar que, muitas vezes, empresas relacionam-se comercialmente por longos períodos sem ter entre si um contrato formal que regule legalmente esse relacionamento. No entanto, à medida que crescem os custos de troca e a centralidade da atividade terceirizada, cresce também a conveniência em regular mais formalmente a relação entre terceirizado e contratante (Slack et al., 2018). 5.4 Relacionamento com fornecedores estratégicos Algumas parcerias podem ser consideradas estratégicas, especialmente nas que possuem um relacionamento com alto nível de comprometimento. Nesses casos, os parceiros estão mais dependentes e seus destinos interligados. Uma intensa troca de informações é usual e a presença de funcionários de um parceiro nas dependências do outro é comum. Os contratos tendem a ser complexos e difíceis de elaborar. Slack et al (2018) apontam as características deste tipo de relacionamento: • altos níveis de confiança e colaboração para solução de problemas; 17 • comunicação frequente e eficaz; • ênfase na solução conjunta dos problemas durante episódios de falha, em vez de atribuir culpa. 5.5 Escolha dos fornecedores Para Slack et al. (2018), duas questões devem ser consideradas no processo de escolha do fornecedor de um produto ou serviço: 1. Quantos fornecedores serão utilizados pela operação? (Desde utilizar muitos fornecedores para desempenhar o mesmo conjunto de atividades até a utilização de apenas um fornecedor para cada atividade, no outro extremo); 2. Quão próximos estão os relacionamentos? (Desde relacionamentos independentes em situação de igualdade até relacionamentos fechados e próximos, no outro extremo). Qualquer que seja o arranjo com os fornecedores que uma empresa escolha adotar, ele deve ser pautado pelo equilíbrio entre contratos e relacionamentos. Eles se complementam e podem variar conforme a empresa desejar manter relacionamento de longo prazo ou de curto prazo com o fornecedor (Slack et al., 2018). 18 REFERÊNCIAS CAXITO, F. (Coord). Logística: um enfoque prático. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações: uma abordagem estratégica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. PARIS, W.; GUOLO, A. Gestão da produção. Curitiba: Universidade Positivo, 2015 SLACK, N. et al. Administração da produção. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
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