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AULA 5 ESTRATÉGIA DE OPERAÇÕES E FATORES COMPETITIVOS Profª Carla Gomes Beuter Diógenes 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos conhecer alguns parâmetros gerais dos sistemas de medição nos processos produtivos, aprofundando a importância do controle da produtividade nas operações. Na sequência, trataremos dos benefícios da gestão de qualidade nas rotinas de produção, detalhando a utilização de duas ferramentas de melhoria de desempenho: benchmarking e just in time (JIT). TEMA 1 – MEDIDAS DE DESEMPENHO EM OPERAÇÕES “O que não é medido não é gerenciado”: essa famosa frase de Robert Kaplan e David Norton, autores da metodologia balanced scorecard, mostra como a prática de acompanhar os processos é indispensável para o bom desempenho das operações de uma organização, principalmente porque os processos produtivos têm um impacto muito forte no desempenho de toda a organização, uma vez que, na maioria das vezes, esse setor abrange o maior volume de ativos. Alguma forma de mensuração é necessária para que se tenha um mínimo controle e se consiga avaliar se uma operação é boa, má ou indiferente. Uma operação bem conduzida geralmente busca a melhoria constante de seu desempenho, adquirindo competências difíceis de imitar. Mas, quando as operações não são conduzidas adequadamente, as falhas nos processos aumentam, afetando a satisfação dos clientes e os gastos da organização. De forma geral, as organizações esperam que seus processos e operações se desenvolvam seguindo dois parâmetros: 1. eficácia, ou seja, o alcance dos objetivos (exemplo: quando as necessidades do cliente são atendidas); 2. eficiência, quando os objetivos são alcançados da forma mais otimizada possível. Além da eficiência e da eficácia, o desempenho dos processos produtivos também deve ser avaliado de acordo com cinco fatores: 1. Qualidade: esse é um aspecto muito importante para a satisfação ou insatisfação do cliente, além de contribuir para a redução de custos e para o aumento da confiabilidade. 3 2. Velocidade: aspecto muito valorizado quando se trata de serviços ao cliente. Também colabora para a diminuição dos estoques e do tempo de produção. 3. Confiabilidade: esse aspecto dá maior estabilidade à operação e faz parte da expectativa do cliente. 4. Flexibilidade: é a capacidade da empresa de produzir novos produtos e serviços, em diferentes quantidades e situações. 5. Menor custo: custos baixos ajudam a empresa a reduzir o preço do produto/serviço, aumentado o volume de vendas e a lucratividade. 1.1 Características de boas medidas de desempenho Para Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018, p. 169), “Um sistema de avaliação de desempenho é um modo sistemático de avaliar entradas, saídas, eficiências e eficácias do processo de transformação de uma operação”. Quando a organização se prepara para construir seu sistema de medição precisa considerar alguns parâmetros. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) apresentam algumas características que a medida de desempenho deve ter: • ser derivada da estratégia organizacional; • ser simples de entender e aplicar; • possibilitar feedback, ao longo do tempo; • buscar melhoramentos. 1.2 Fatores sociais e econômicos das medidas de desempenho Além do controle de qualidade, velocidade, confiabilidade, flexibilidade e custo das operações, o sistema de medição pode contemplar índices em outros dois níveis: social e estratégico. Segundo Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), o nível social contempla a consideração de fatores sociais, ambientais e econômicos. O Quadro 1 apresenta alguns exemplos de medidas de desempenho no nível social. 4 Quadro 1 – Medidas de desempenho no nível social Nível social Social (pessoas) Econômico (lucro) Ambiental (planeta) • Satisfação do funcionário • Saúde e segurança • Programas comunitários • Retorno do capital investido • Preço das ações • Crescimento lucrativo • Emissões de CO2 • Resíduos de embalagens • Uso da água Fonte: Elaborado com base em Slack; Brandon-Jones; Johnston, 2018. Já o nível estratégico abrange o desempenho e contempla riscos, capital, inovação e lucratividade. O Quadro 2 apresenta alguns exemplos de medidas de desempenho no nível estratégico. Quadro 2 – Medidas de desempenho no nível estratégico Nível estratégico Risco e Resiliência Utilização de capital Serviços e faturamento/ eficiência e custo Capacidade para a inovação • Interrupções de serviços • Resposta à continuidade do negócio • Retorno em patrimônio líquido • Utilização de capacidade • Lucratividade • Bem-estar por unidade de gasto • Receita vinda de novas ofertas • Canalização de ofertas inovadoras Fonte: Elaborado com base em Slack; Brandon-Jones; Johnston, 2018. Todas essas medições podem ser desdobradas em outras formas mais detalhadas de controle. Além disso, a gestão de operações precisa buscar um equilíbrio entre algumas medidas-chave e outras mais detalhadas. Esse conjunto de indicadores deve refletir o atingimento dos objetivos predefinidos para a operação, pela organização. 1.3 A abordagem balanced scorecard Uma forma de mensuração de desempenho muito utilizada nas organizações é a abordagem balanced scorecard. Essa técnica avalia o desempenho da organização em quatro perspectivas: 1. Perspectiva financeira: avalia como as expectativas dos acionistas estão sendo atendidas. 5 2. Perspectiva do processo interno: busca alcançar a excelência em todos os processos. 3. Perspectiva dos clientes: busca alcançar a satisfação e fidelidade dos clientes. 4. Perspectiva de aprendizagem e crescimento: voltada para a melhoria e construção de novas competências. Uma das maiores vantagens da utilização do balanced scorecard está no fato de ele apresentar um painel geral do desempenho da organização, incentivando que as suas decisões sejam tomadas visando ao interesse dela como um todo. 1.4 Trade-offs (conflitos) entre os objetivos de desempenho Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) alertam que, muitas vezes, a melhora no desempenho de um objetivo pode ser alcançada somente mediante o sacrifício do desempenho de outro. Por exemplo, uma organização pode desejar melhorar sua eficiência em custo; mas, para isso, terá que diminuir a variedade de produtos ou serviços que ela oferece. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018, p. 70) deixam claro que, “[...] no curto prazo, as operações não podem atingir desempenho notável em todos os seus objetivos operacionais”. Por isso, existem duas visões de trade-offs que, em um momento ou outro, a maioria das organizações adotará: 1. Na primeira, a organização decide aceitar a redução no desempenho da operação de um objetivo para alavancar o desempenho em outro. 2. Na segunda, a empresa busca aumentar a eficácia da operação, de forma a superar os trade-offs. A melhoria em um ou mais aspectos é alcançada sem qualquer redução no desempenho de outros. TEMA 2 – MEDIÇÃO DA PRODUTIVIDADE NAS OPERAÇÕES Um sistema de medição de desempenho não pode menosprezar as medidas voltadas ao controle da produtividade das operações. Corrêa e Corrêa (2012) lembram que um sistema de medição de desempenho envolve um conjunto coerente de métricas usado para quantificar a eficiência e a eficácia das ações. Muitas organizações medem a eficiência de uma operação ou processo por meio do índice de produtividade. Trata-se de uma medida em que recursos de 6 entrada (insumos) de um sistema são transformados em saídas (produtos). Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018, p. 804) definem a produtividade como sendo o “[...] índice do que é produzido por uma operação o processo em relação ao que é necessário produzir, a saber, o output de uma operação dividido por seu input”. Essa expressão pode ser descrita da seguinte forma: 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒= 𝑆𝑎í𝑑𝑎𝑠 𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠 . Vamos considerar como exemplo uma clínica médica que atenda 200 pacientes por semana, tendo 5 funcionários. A produtividade da sua mão de obra pode ser calculada da seguinte forma: 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑎 𝑚ã𝑜 𝑑𝑒 𝑜𝑏𝑟𝑎 = 200 5 = 40 𝑝𝑎𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑠𝑒𝑚𝑎𝑛𝑎. 2.1 Fatores internos e externos que influenciam a produtividade A produtividade pode sofrer influência de fatores externos e internos à empresa. O Quadro 3 lista esses fatores, segundo Corrêa e Corrêa (2012). Quadro 3 – Fatores que influenciam a produtividade Fatores externos Fatores internos • Situação econômica do país e do setor • Situação científica e tecnológica do país e do setor • Regulamentação governamental e legislação trabalhista • Situação da concorrência • Situação da mão de obra, especificidades e treinamentos • Situação do mercado de insumos (terceiros) • Grau de uso do estoque disponível de bens de capital e tecnologia • Atualidade, intensidade e adequação tecnológica • Estratégia competitiva • Métodos gerenciais e organização do trabalho • Habilidade, qualificação, motivação e competição da força de trabalho Fonte: Elaborado com base em Corrêa; Corrêa, 2012. Para melhorar a produtividade, as operações devem reduzir desperdícios, seja de materiais, seja de tempo, seja de trabalho, seja de subutilização das instalações. 7 2.2 Produtividade total Ao considerar essa variedade de fatores que influenciam a produtividade, Correa e Corrêa (2012) explicam que ela também pode ser medida como produtividade total dos fatores (PTF), que representa a razão entre o produto real bruto mensurável (unidades prontas ou parcialmente acabadas e outros produtos ou serviços associados à produção) e a soma de todos os correspondentes insumos mensuráveis (trabalho, capital, despesas com computação, automação, materiais, energia, despesas administrativas). Essa é a medida mais ampla da produtividade, pois é a que considera todos os recursos de entrada alcançados no seu cálculo. No entanto, a produtividade total pode apresentar alguns problemas metodológicos de aplicação. Um deles é a dificuldade de se padronizar as medidas dos diferentes tipos de insumo, que são heterogêneos por natureza. É impossível somar, por exemplo, homens-hora com killowatts-horas. Para homogeneizar essas medidas, utilizam-se medidas de valor, como custos de homens-hora e custos de killowatts-hora, permitindo, assim, a soma. A mesma lógica se aplica aos diferentes tipos de produtos, que também podem ser somados se forem convertidos em receitas obtidas pelos vários produtos. O exemplo a seguir demonstra um cálculo de PTF considerando apenas um produto e três diferentes insumos utilizados para produzi-lo: materiais, energia e mão de obra: Receita com Vendas 10.000 Materiais 4.000 Energia 600 Mão de obra 3.000 Total dos insumos 7.600 PTF 1,31 Quanto maior for o índice da PTF, mais benéfico a produtividade será para a organização. 2.3 A importância da medição da produtividade para os gestores de operações A medição da produtividade em operações em praticamente qualquer setor da economia é crescentemente importante. Corrêa e Corrêa (2012) comentam que os gestores têm tido cada vez menos espaço para operar, pois são 8 constantemente pressionados para redução de custos e aumento da produtividade de diversos lados: os acionistas pressionam por maior retorno dos investimentos, os concorrentes travam guerras de preços, os clientes podem escolher diante de uma gama cada vez maior de opções para atendimento de suas necessidades. Diante de tantas cobranças, sem um conjunto de métricas abrangentes, que reflitam com exatidão as eficiências e ineficiências das operações e como elas estão evoluindo, os gestores de operações ficam numa situação parecida com a de um piloto de aeronave voando em meio a uma tempestade turbulenta e sem instrumentos que guiem suas ações ou utilizando instrumentos mal calibrados. O risco de a organização tomar más decisões cresce substancialmente nesse tipo de cenário (Corrêa; Corrêa, 2012). TEMA 3 – GESTÃO DA QUALIDADE NAS OPERAÇÕES A gestão da qualidade é vista como um processo muito importante pela maioria das organizações. Isso porque a qualidade está relacionada a uma série de benefícios: o faturamento pode aumentar com melhores preços e vendas no mercado. Ao mesmo tempo, os custos podem cair em decorrência de maior eficiência, produtividade, ou seja, o objetivo principal da gestão de operações deve ser “[...] assegurar que está fornecendo bens e serviços de qualidade a seus clientes internos e externos” (Slack; Brandon-Jones; Johnston, 2018, p. 644). De acordo com Paris e Guolo (2015, p. 135), qualidade é um “[...] grupo de características definidas para um produto ou serviço, buscando a satisfação e a superação das necessidades e expectativas do cliente, observando todos os aspectos que afetam sua percepção de valor”. De forma mais resumida, é a “[...] conformidade consistente com as expectativas dos clientes” (Slack; Brandon- Jones; Johnston, 2018, p. 644). Quando tratamos de gestão da qualidade, vemos uma abordagem mais ampla, um princípio de negócio que garante a excelência em produtos, serviços e processos internos das empresas. As organizações que utilizam programas de gestão da qualidade usam informações e ferramentas para identificar seus pontos fracos, suas falhas, oportunidades de melhoria e pontos fortes (Paris; Guolo, 2015). 9 Segundo Paris e Guolo (2015), existem três fatores principais que fazem com que a qualidade seja considerada um fator crítico de sucesso pelas organizações: 1. o nível de qualidade dos produtos e serviços oferecidos; 2. a agilidade exigida no desenvolvimento de novos produtos e na solução de problemas repentinos; 3. a crescente exigência de altos índices de produtividade, buscando a redução dos custos. 3.1 Gestão da qualidade total (TQM) Um dos primeiros movimentos que as organizações tiveram em relação à qualidade foi a implantação de programas de gestão da qualidade total (do inglês Total Quality Management – TQM). Segundo Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018, p. 671), a TQM “[...] é um sistema eficaz para integrar o desenvolvimento, a manutenção e os esforços de melhoria da qualidade dos diversos grupos de uma organização, de modo a fornecer produtos e serviços em níveis mais econômicos que permitam a plena satisfação do cliente”. Em outras palavras, nos programas de TQM, a qualidade está no centro de tudo o que é feito na empresa. Segundo Paris e Guolo (2015), um sistema de gestão baseado na qualidade total pode gerar uma série de vantagens, como: • redução do tempo de desenvolvimento de produtos, serviços e processos; • redução do tempo para as mudanças de produtos e processos; • redução das reclamações dos clientes e aumento da eficiência no atendimento às suas expectativas; • redução dos custos de produção, com minimização das perdas; • minimização de problemas internos e melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho; • aprimoramento da comunicação e do aprendizado organizacional. Segundo Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), o termo total, na TQM, está alicerçado em cinco pilares. Vamos conhecer em detalhes cada um deles. 10 3.1.1 Atender às necessidades e expectativas dos clientes Os objetivos da TQM têm o seu foco no cliente e buscam conhecer e atender com excelência suas necessidades, desejos, percepções e preferências. 3.1.2 Cobrir todas as partes da organização Para que uma empresa seja realmente eficaz, é necessário que cada parte dela (departamentos, atividades, pessoas) trabalhe junto com as outras, de forma integrada. O princípio é que cada pessoa e cada operação afetam e são afetadas por outras, ou seja, todos são, ao mesmo tempo,clientes internos e fornecedores internos. 3.1.3 Incluir todas as pessoas da organização O programa de TQM reconhece que qualquer pessoa tem potencial para contribuir com a qualidade, com a inovação e com a criatividade, na empresa. Há um incentivo para que a força de trabalho se envolva nos processos de qualidade da organização. Além disso, a maior parte das organizações reconhece que os problemas de qualidade quase sempre são resultados de erros humanos. 3.1.4 Examinar todos os custos que estão relacionados à qualidade e fazer as coisas corretas na primeira vez Os custos para controlar a qualidade podem ser grandes. Por isso, a relação custo/benefício precisa ser examinada com cautela. Os custos da qualidade podem ser classificados de quatro formas: 1. Custos de prevenção de problemas, falhas e erros: envolvem a identificação e correção de problemas potenciais; projetos e melhorias do design de produtos, serviços e processos; e treinamento de pessoal. 2. Custos de avaliação: verificam se ocorreram problemas ou erros durante e após a criação do produto/serviço. Podem incluir a realização de auditorias e a elaboração de relatórios de qualidade. Considera-se o princípio de que o investimento efetivo na prevenção de erros pode reduzir significativamente os custos de avaliação e de falhas. 11 3. Custos de falhas internas: abrangem os custos de peças e materiais refugados ou retrabalhados e também o tempo de produção perdido em razão do tratamento de erros. 4. Custos de falhas externas: são as falhas detectadas pelos clientes, identificadas fora da operação. Envolvem custos relativos à perda de confiança do cliente, afetando futuros negócios, e também custos causados por clientes aborrecidos, que podem consumir tempo, exigir o pagamento de indenizações e a utilização de garantias. 3.1.5 Desenvolver os sistemas e procedimentos que apoiam a qualidade e a melhoria Destacamos, a seguir, dois dos modelos e sistemas que apoiam a TQM e que são mais adotados pelas organizações: 1. Abordagem ISO 9000: é formada por normas que instituem diretrizes para a gestão da qualidade para garantir a conformidade de um processo e atender às expectativas dos clientes. Está alicerçada em quatro princípios: a. a gestão da qualidade deve estar focada no cliente, com a mensuração de sua satisfação e implementação de melhorias; b. o desempenho da qualidade deve ser mensurado – é necessário medir e analisar o desempenho dos processos; c. a gestão da qualidade deve estar orientada para a melhoria contínua; d. a alta administração precisa estar comprometida com manter e melhorar o sistema de gestão – deve-se estabelecer uma política da qualidade, com objetivos definidos, e assegurar os recursos necessários para manter o sistema de qualidade. 2. Prêmios da qualidade: desde 1991, a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) administra o Prêmio Nacional da Qualidade e outras atividades a ele relacionadas. O prêmio tem como objetivo conscientizar e disseminar conceitos e fundamentos da excelência na gestão, por meio de critérios de excelência. Atualmente, o prêmio anual é conhecido como Melhores em Gestão. 12 TEMA 4 – BENCHMARKING E SISTEMAS DE MELHORIA DAS OPERAÇÕES Muitos autores reconhecem a busca pela excelência e pelo melhoramento como a principal responsabilidade da gestão de operações. Isso porque todas as operações podem ser melhoradas, independentemente de quão bem geridas elas sejam. Essa responsabilidade está intrínseca, conforme defendido por Corrêa e Corrêa (2012, p. 227), ao conceito de gestão estratégica de operações, que se refere “[...] ao processo de tomada de decisões sobre os recursos de forma a obter níveis de desempenho que levem a operação a níveis superiores aos da concorrência e a mantenham aí segundo critérios considerados importantes pelo mercado a ser atingido”. A busca pelo melhoramento das operações nas organizações pode ter diversas razões, como as apontadas por Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018): • o aumento das pressões competitivas (mais concorrência); • a oferta de produtos estrangeiros a um baixo custo; • a necessidade de gerenciar cadeias de suprimentos complexas; • o aparecimento de novas tecnologias (e-commerce, por exemplo). Mas o melhoramento dos processos e operações não acontece por acaso. Ele precisa ser organizado, de modo que as informações e os recursos necessários para isso estejam disponíveis. Também é necessário que o processo de melhoramento esteja alinhado à estratégia geral da organização. 4.1 Mudança de ruptura versus mudança incremental As melhorias dos processos produtivos, numa empresa, podem ter características diferentes. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) fazem uma distinção importante entre dois tipos de melhoramentos (ou mudanças) que uma organização pode promover: mudanças de ruptura (ou radicais) e mudanças incrementais (ou contínuas). O melhoramento de ruptura radical envolve uma mudança grande e significativa da forma como a operação é realizada que, geralmente, está baseada na inovação e na criatividade. Esse tipo de melhoria costuma exigir alto investimento de capital e pode promover mudanças drásticas no produto/serviço ou na tecnologia do processo, exigindo, por exemplo, a compra de uma máquina mais eficiente. 13 Já o melhoramento contínuo se dá com pequenas etapas de melhorias incrementais. Não importa se os sucessivos melhoramentos são pequenos. Valoriza-se que, em cada período (mês, semana, trimestre etc.), algum tipo de melhoria vá ocorrer. Essa prática também é conhecida como ferramenta kaizen (palavra japonesa que significa melhoria). 4.2 Gerenciando o melhoramento dos processos produtivos Mesmo em diferentes abordagens de como o melhoramento dos processos produtivos é praticado nas organizações, há alguns elementos comuns. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) destacam algumas dessas abordagens: • TQM: enfatiza o melhoramento dos processos produtivos, abrangendo todas as partes e todas as pessoas da organização; incentiva que as coisas sejam feitas corretamente na primeira vez; e desenvolve sistemas que apoiam esse melhoramento. • Filosofia enxuta: visa a atender instantaneamente a demanda, com qualidade perfeita e sem desperdício; está centrada no cliente e tem a perfeição como meta, buscando eliminar o desperdício. • Reengenharia de processo de negócio: trata-se de uma abordagem de melhoramento radical dos processos produtivos de uma organização. Busca redesenhar as operações, de forma que elas agreguem valor ao cliente, para obtenção de resultados mais drásticos e em prazos mais curtos. • Seis Sigma: metodologia criada pela Motorola, utilizada para definir, medir, analisar, melhorar e controlar a qualidade de qualquer projeto, produto, processo ou serviço. Busca eliminar praticamente todos os defeitos encontrados e alcançar a satisfação do cliente. Procura insistentemente reduzir as variabilidades dos processos. 4.3 Metas não alcançáveis A busca por estabelecer metas ideais de desempenho das operações está embutida nos métodos de melhoramento dos processos produtivos. Mas algumas dessas metas não são possíveis de serem alcançadas, como zero defeito ou quebra zero de equipamento. A ideia de se estabelecer metas inalcançáveis é 14 evitar que os responsáveis pelas operações se autolimitem ou que fiquem restritos às metas preestabelecidas (Corrêa; Corrêa, 2012). 4.4 Benchmarking A ferramenta de benchmarking também é usada com bastante frequência, pelas organizações, como forma de se obter padrões de desempenho da concorrência e também das organizações de referência. Segundo Slack, Brandon- Jones e Johnston (2018), o termo benchmarking está relacionado à ideia de encontrar inspiração fora da organização, ou seja, é um processo de aprendizagem com base em outros. Está baseadono método contínuo de comparar um desempenho ou prática de alguma empresa a outras operações similares e executadas de maneira mais eficaz e eficiente. Busca conhecer os motivos do desempenho superior para, então, adaptar essas soluções à realidade da empresa e alcançar as melhorias desejadas. Vale ressaltar que benchmarking não é uma simples cópia. É necessário que as boas práticas inspiradoras sejam bem adaptadas para que sejam implementadas com eficácia na organização que as adote. Segundo Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), há diferentes maneiras de uma organização realizar benchmarking, podendo este ser: • de processos, práticas, produtos ou resultados; • interno ou externo à organização; • com concorrentes ou não concorrentes. 4.5 Fatores críticos para o sucesso do benchmarking Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) chamam a atenção para alguns fatores que devem ser considerados na utilização do benchmarking. Eles reforçam que o benchmarking não se trata de um projeto isolado, mas de um processo contínuo. Também destacam, como já dito, que o benchmarking não é cópia de ideias e soluções, mas seu uso com criatividade e adaptações. O processo de benchmarking ainda precisa ser realizado de forma ética e estar fundamentado, especialmente, nos princípios da troca e da confidencialidade. 15 TEMA 5 – PRODUÇÃO ENXUTA (OU JUST IN TIME – JIT) NAS OPERAÇÕES A abordagem JIT ou produção enxuta surgiu no Japão, na década de 1970. Diferentemente de outras abordagens tradicionais, a produção enxuta é uma abordagem considerada por organizações que esperam que suas operações atendam instantaneamente à demanda, com qualidade perfeita e sem desperdícios. A abordagem da produção enxuta prepara a organização para oferecer exatamente o que os clientes desejam (qualidade perfeita), na quantidade exata (nem mais, nem menos), no tempo exato (nem antes, nem depois), entregue no local correto e com o menor custo possível. Essa agilidade nas operações permite que os estoques das organizações que adotam a produção enxuta estejam sempre baixos e haja menor necessidade de capital de giro, o que melhora, principalmente, a eficiência da operação, seja de manufatura, seja de serviços. 5.1 Problemas evitados pela abordagem JIT Segundo Corrêa e Correa (2012), o JIT tem como objetivo evitar os seguintes problemas nos sistemas produtivos: • problemas de qualidade, que gerem refugo; • problemas de quebra de máquinas, que provoquem paradas nas operações; • problemas de preparação de máquinas, quando as máquinas são utilizadas para processar mais de um item, o que gera custos referentes ao tempo que essas máquinas ficam sem operar. Para evitar esses problemas, a filosofia do JIT utiliza três pilares, conforme destacam Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018): 1. eliminação de todas as formas de desperdício; 2. inclusão de todos os empregados responsáveis pela operação na sua melhoria, encorajando que haja um alto grau de responsabilidade pessoal, engajamento e posse das tarefas pelos trabalhadores; 3. a ideia de que qualquer melhoria deve ser contínua, na busca por alcançar o ideal de atender a demanda no momento certo, na qualidade perfeita e sem desperdício. 16 Além do esforço para eliminar o desperdício, a metodologia JIT tem como característica recusar a situação atual até que algumas metas sejam alcançadas. Segundo Corrêa e Corrêa (2012), essas metas são: zero defeito, tempo zero de preparação, estoque zero, movimentação zero e quebra zero. Mesmo que, na prática, essas metas pareçam inalcançáveis, elas garantem que a organização permaneça no esforço pela melhoria contínua de suas operações. 5.2 Eliminação de desperdícios A eliminação do desperdício é um dos principais pilares da abordagem da produção enxuta. Para Corrêa e Corrêa (2012), isso significa analisar todas as atividades e descontinuar aquelas que não agreguem valor à produção. Segundo Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), as principais causas de desperdícios nas operações são: • objetivos mal comunicados e utilização inadequada dos recursos; • falta de padrões bem definidos, isso resultando em sobrecarga de pessoal ou equipamentos; • falha no planejamento das operações básicas, como na definição do melhor sequenciamento das atividades, para que sejam realizadas no menor tempo e com os recursos adequados. Esses desperdícios, juntos, podem contribuir para o aparecimento de quatro barreiras que prejudicam a produção enxuta. 5.3 Desperdício do fluxo irregular A perfeita sincronização das operações implica a existência de um fluxo regular. Mas, na prática, essa sincronia pode ser prejudicada por alguns fatores: • tempo demasiado de espera por uma informação, por um equipamento ou por pessoas; • falhas no transporte de itens em torno da operação, especialmente causadas por arranjos físicos mal definidos; • ineficiências do processo, que podem criar operações desnecessárias; • grandes estoques, provocados por fluxos mal definidos; • movimentação desperdiçada, que não agrega valor ao trabalho. 17 5.4 Desperdício do suprimento inexato Na abordagem JIT, o hábito de produzir antecipadamente à demanda para o caso de os produtos serem requeridos no futuro é considerado um desperdício. Busca-se produzir somente o que é necessário no momento. No entanto, algumas barreiras podem atrapalhar essa premissa: • superprodução ou subprodução, produzindo-se mais ou menos do que é necessário (essa costuma ser a maior causa de desperdício na produção); • entrega antecipada ou atrasada; • estoques em demasia, especialmente quando há falhas no planejamento do suprimento. 5.5 Desperdício da resposta inflexível Responder às demandas dos clientes de forma precisa exige flexibilidade das operações, mas alguns fatores podem prejudicar esse atendimento, como quando: • o atendimento envolve grandes lotes, formando maior estoque; • há atrasos entre atividades – quanto maior o tempo e o custo para mudar de uma atividade para outra, mais difícil é sincronizar o fluxo da produção e responder ao cliente. 5.6 Desperdício oriundo da variabilidade A entrega de itens com qualidade perfeita é um dos principais fundamentos da produção enxuta. Mas essa premissa pode ser prejudicada quando há: • pouca confiabilidade do equipamento, prejudicando os níveis de conformidade do produto; • alto número de produtos ou serviços defeituosos, causando perda de tempo para clientes e processos, até que sejam corrigidos. 18 REFERÊNCIAS CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações: uma abordagem estratégica. 2. ed. 8. reimpr. São Paulo: Atlas, 2012. PARIS, W.; GUOLO, A. Gestão da produção. Curitiba: Universidade Positivo, 2015. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
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