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1 Louyse Jerônimo de Morais Tema principal: nefrologia Anatomia renal A vascularização renal segue o perfil dos lobos renais. Existem artérias interlobares, por exemplo. A papila renal é o último local do parênquima a ser perfundido. Vasculopatia diabética, uso de AINEs e outras condições podem impedir o fluxo sanguíneo de chegar até a papila, gerando isquemia e consequente necrose de papila renal. • Necrose de papila: clínica de dor lombar; por conta da isquemia, surge hematúria. A artéria renal não tem como objetivo perfundir o rim, mas está encarregada de fazer o papel inicial de levar o sangue para ser filtrado – e não perfundir o próprio parênquima. Ela vai se ramificando até passar entre os lobos renais, na chamada artéria interlobar, que se divide em artérias arqueadas. • Poliarterite nodosa: aneurismas nas artérias interlobares. • Artéria interlobular: alvo de HAS e esclerodermia. A artéria aferente se capilariza no glomérulo, daí sai a artéria eferente e por fim começa a perfusão renal. Começa no córtex e segue em direção à medula renal. Ao conjunto dos vasos retos advindos da arteríola eferente, damos o nome de “vasa reta”. A medula é pobremente vascularizada – na ponta da pirâmide, temos a papila renal, que é mais sensível a dano vascular. • Anemia falciforme: a hemácia falcêmica pode desidratar, falcizar e entupir na medula (porque é muito hipertônica). Isso culmina em necrose de papila (localiza-se na ponta do tubo coletor). 2 Louyse Jerônimo de Morais • Cápsula de Bowman: direciona o filtrado para os túbulos renais. • Néfron: unidade funcional do rim. Glomérulo renal • Podócitos: folheto interno da cápsula de Bowman. Ao envolver minuciosamente as alças capilares, formam uma verdadeira barreira de filtração. Barreira de filtração Para uma substância do sangue aparecer na urina, ela tem que vencer essa barreira de filtração. Vencer o capilar glomerular é mais fácil, porque ele é fenestrado, agora o que envolve isso é a barreira mecânica (barreiras de filtração – podócitos). Entre essas duas estruturas, temos a membrana basal. Com a pressão hidrostática do sangue, passa líquido, o qual vai se formar, um dia, na urina. A membrana basal envolve um conjunto de alças capilares. Existe um tecido de sustentação no meio dessas alças, o que damos o nome de mesângio. Este último é alvo de várias condições, como, por exemplo, diabetes, doença de Berget, LES etc. Acometimento mesangial = maior tendência a ter hematúria. Imagem esquemática mostrando as três camadas: endotélio, membrana basal e epitélio dos podócitos, respectivamente. Um imunocomplexo circulante pode se depositar entre endotélio e membrana nasal – depósito subendotelial. Também pode acontecer de um anticorpo agredir diretamente a membrana basal ou um antígeno circulante qualquer grudar na passagem entre membrana basal e epitélio, e aí vem o anticorpo e gruda, formando imunocomplexo (depósito subepitelial). 3 Louyse Jerônimo de Morais Imunofluorescência • Padrão completamente borrado e irregular: padrão granular. • Padrão mais certinho: padrão linear. Quando há depósitos subendoteliais e/ou subepiteliais, a imunofluorescência vai mostrar um padrão granular, porque o endotélio e o epitélio são estruturas irregulares. Por outro lado, no depósito imunológico na membrana basal, que é a única estrutura contínua no glomérulo, enxerga-se um padrão linear. QUESTÕES 1. Na figura, a flecha está apontada para qual estrutura anatômica? a. Endotélio b. Processo podocitário c. Mesângio d. Célula mesangial e. Célula parietal GABARITO: B Lesões renais • Síndromes glomerulares • Síndromes tubulares • Síndromes vasculares • Distúrbios eletrolíticos/ácido-base • Síndrome urêmica Síndromes glomerulares Quando o glomérulo é acometido de alguma forma, existem cinco formas de síndromes: • Síndrome nefrítica • Alterações assintomáticas • GNRP • Síndrome nefrótica • Trombose glomerular (SHU) Síndrome nefrítica - (GNDA) “glomerulite” O primeiro sinal clínico a aparecer é a oligúria, porque tudo está obstruído pela inflamação (tudo cheio de leucócitos), assim, o líquido entra, mas não sai. A própria oligúria vai levar a uma congestão volêmica, que se manifesta como HAS volume- dependente e edema pressórico, pela hipervolemia. Estes são sinais que fazem parte classicamente da síndrome nefrítica. O fato de tê-los não significa que a doença é mais grave. A hipertensão pode evoluir de forma muito grave, assim como o edema, pois pode gerar edema agudo de pulmão, por exemplo. • Hematúria: por definição, encontra-se mais de 3 hemácias por campo em grande aumento (400x). É descrito como uma urina escura, cor de coca cola. Hematúria glomerular vs. não glomerular • Hematúria glomerular: a hemácia é rasgada ao passar pelas fendas de filtração. • Hematúria não glomerular: morfologia normal. Hematúria não glomerular Hematúria glomerular - dismórfica. Isso é um sinônimo de síndrome nefrítica, porque ela é a principal causa de lesão glomerular. 4 Louyse Jerônimo de Morais Laboratório • Hematúria dismórfica • Piúria (leucocitúria) • Cilindros celulares Cilindro hialino A alça de Henle secreta as proteínas grudentas de Tamm Horsfall. Dessa forma, vai se formando um emaranhado proteico ali nos túbulos renais. Chega uma hora que descama, podendo aparecer na urina na forma do túbulo renal, que é cilíndrica. Isso é normal. Em uma situação de mais desidratação, febre importante ou exercício físico extenuante, por exemplo, existe uma concentração maior de cilindros hialinos. Quando o cilindro descama cheio de hemácia, chamamos de cilindro eritrocitário ou hemático. Isso, na prova, vai ser sinônimo de síndrome nefrítica. Cilindro eritrocitário Cilindro leucocitário - ele assume importância maior quando tem inflamação direta no túbulo e no interstício. Cilindro granuloso - necrose epitelial aguda: as próprias células epiteliais também descamam. Cilindro graxo – síndrome nefrótica Continuando o laboratório… • Proteinúria: entre 150 mg e 3,5 g/d. • Dependendo da oligúria, se for muito intensa, vai reter ureia e creatinina, que vão estar aumentadas. Etiologia • Glomerulonefrite pós-estreptocócica • Glomerulonefrite não-pós-estreptocócica o Infecciosas ▪ Bacterianas: endocardite, sepse e abscessos. ▪ Virais: hepatites, caxumba, sarampo. ▪ Parasitárias: malária e toxoplasmose. o Sistêmicas: LES, Henoch-Schonlein, Vasculites, Goodpasture, tumores, crioglobulinemias. o Primárias: Berger, GN mesangiocapilar, mesangial “imunocomplexos” idiopática. Estudaremos: • Glomerulonefrite pós-estreptocócica • Doença de Goodpasture • Doença de Berger Glomerulonefrite pós-estreptocócica É a causa comum de síndrome nefrítica, acometendo crianças entre 2 e 15 anos, com 5 Louyse Jerônimo de Morais predomínio 2:1 em meninos. São as pessoas que têm muito mais infecção estreptocócica. A GNPE é a sequela de uma infecção por S. pyogenes, beta-hemolítico do grupo A, que têm cepas específicas nefrogênicas - proteína M específica. Esses antígenos estreptocócicos grudam no glomérulo, levando à produção de anticorpos que atacam o antígeno, o que ocasiona uma inflamação, mas também pode ocorrer de o próprio imunocomplexo já circulante grudar e inflamar. O rim não vai ser destruído, então não há sequela renal, mas sim da infecção estreptocócica. Ocorre tempos depois, porque é preciso recrutar resposta imunológica contra os estreptococos. A infecção pode ser de garganta ou de pele. • Incubação: faringe (>1 semana) / pele (> 2 semanas). Faringoamigdalite: purulento, petéquias, adenomegalia, febrão. A maior chance é que seja viral, masainda assim trata, por conta das complicações Impetigo Clínica • Síndrome nefrítica: oligúria, hipertensão, edema, hematúria. Diagnóstico • Houve faringite ou piodermite recente? • O período de incubação é compatível? • A infecção foi estreptocócica? Pesquisar antiestreptolisina O (ASLO) – mais sensível na garganta / anti-DNAse B - mais sensível na pele. • Houve queda transitória do C3? O complemento é consumido, não pela via clássica, mas pela via alternativa, gerando queda de C3 e CH50. O complemento é baixo e permanece assim por até 8 semanas. Prognóstico muito bom. É grave em 1 a 5% dos casos. História natural • Oligúria: até 7 dias. • Hipocomplementemia: até 8 semanas. • Hematúria microscópica: 1 a 2 anos. • Proteinúria < 1 g/d: 2 a 5 anos. Critérios de biópsia - "estranheza" do quadro • Anúria/IR acelerada • Oligúria > 1 semana • Hipocomplementemia > 8 semanas (ou normal) • Proteinúria na faixa nefrótica • Hematúria macroscópica / HAS > 4 semanas (SBP) • Evidência clínica ou laboratorial de doença sistêmica Biópsia Normal vs. proliferativo-difuso. • Proliferativo difuso: difuso, porque envolve quase todos os glomérulos, e proliferativo, porque aumenta o número de células (um monte de leucócitos). É muito inespecífico, dizendo só que tem inflamação local. Microscopia eletrônica: alteração patognomônica – GIBA. São depósitos subepiteliais, levando a formação dessa corcova. 6 Louyse Jerônimo de Morais O diagnóstico não necessita de biópsia. Tratamento • Restrição hidrossalina • Diuréticos: furosemida. Não tem ação tão eficaz, por conta do quadro de oligúria. • Vasodilatadores: hidralazina. Se muito grave, pode fazer droga venosa, como nitroprussiato. • Diálise: se necessário. Antibióticos??? • Há benefício? Não. Não há infecção, mas sim sequelas imunológicas. • A terapia precoce previne a GNPE? Não. • Está indicada profilaxia na GNPE? Não. • Está indicado ATB na GNPE? Sim, porque o paciente ainda pode estar colonizado com as cepas e passar para outras pessoas. É uma medida epidemiológica. Nefropatia por IgA ou Doença de Berger Glomerulopatia primária mais comum no mundo. • Faixa etária: 10 a 40 anos. 2:1 meninos em relação a meninas. Muito rara em pessoas negras. • Depósito de IgA no mesângio. Clínica • Hematúria macroscópica recorrente em 50% dos casos, após fatores precipitantes - infecção, quadro febril, exercício físico extenuante. Entra no grupo das alterações urinárias assintomáticas. • Hematúria microscópica persistente em 40% dos casos. Prognóstico pior. • Síndrome nefrítica em 10% dos casos. Essa síndrome pode ser precipitada por infecção, inclusive estreptocócica. Vai fazer diagnóstico diferencial com a GNPE. A diferença é que não respeita período de incubação e não reduz complemento. Existe uma associação estatística entre doença de Berger, cirrose, doença celíaca e HIV. Diagnóstico • O padrão-ouro é a biópsia renal. • Clínica + complemento normal, aumento de IgA no sangue (50%) e pele (50%). Tratamento • Acompanhamento • IECA / corticoide • Prognóstico: variável. o Critérios de pior prognóstico: sexo masculino, idade avançada, hematúria microscópica, HAS, proteinúria > 1 g/d, Cr > 1,5. São pacientes em que a gente pensa em dar corticoide. Glomerulonefrite rapidamente progressiva Uma lesão glomerular que atinge membrana basal tem chance maior de evoluir para a GNRP. • Crescente: é como se fosse um tumor do glomérulo - rede de fibrina, monócitos etc. É um glomérulo fadado a morrer. o Mais de 50% dos glomérulos acometidos por crescentes = forma rapidamente progressiva. • Etiologia o Anti-membrana basal (10%): doença de Goodpasture o Depósito de imunocomplexos (45%): GNPE, Berger, LES… o Pauci-imune (45%): Wegener, poliangeíte. Doença de Goodpasture • Rara • 20 a 40 anos • Mais frequente em homens: 6:1 • Tabagismo Nessa doença, forma-se um anticorpo contra a membrana basal glomerular e alveolar. Púrpura de Henoch-Schonlein – tétrade 1. Artrite 2. Dor abdominal 3. Púrpura/petéquia em MMII, principalmente 4. Lesão renal por depósitos de IgA no mesângio. 7 Louyse Jerônimo de Morais • Clínica: glomerulonefrite, hemorragia pulmonar – síndrome pulmão-rim. • Diagnóstico: anti-MB, biópsia renal encontra padrão linear à imunofluorescência. • Tratamento: corticoide e imunossupressor para a produção de anticorpos. Para atuar contra os anticorpos que já existem, faz plasmaférese. Trombose glomerular (síndrome hemolítico-urêmica) Ocorre um dano epitelial após infecção por E. coli O:157-H7, o que ativa plaquetas e cascata da coagulação, formando um trombo. Se trombosou o glomérulo, ele para de funcionar, então vem a uremia, isto é, insuficiência renal. A hemácia, ao passar, é destruída na própria circulação, desenvolvendo hemólise. Como tem consumo plaquetário, a pessoa tem pla quetopenia. • Síndrome: trombose glomerular, consequente a uma infecção por E. coli que fez dano endotelial e trombose. • Tríade: anemia hemolítica, plaquetopenia e insuficiência renal. • Tratamento: feito com suporte. Pode ser em adulto, mas tradicionalmente ocorre em um lactente. Síndrome nefrótica Definição • Proteinúria > 3,5g em 24h ou 50 mg/kg/24h ou 40 mg/m²/h. o O normal é até 150 mg de proteína por dia. • Relação proteína/creatinina urinária > 2 mg/mg. O normal é < 0,2. Entre 0,2 e 2 seria como se fosse uma faixa nefrítica. Isso é para saber em amostra aleatória. As proteínas não são perdidas normalmente. Existe uma barreira física e mecânica, que impede que substâncias grandes passem e apareçam na urina. Chamamos isso de barreira glomerular – barreira mecânica (epitélio). Ela é não-seletiva, segurando macromoléculas. A albumina é uma proteína pequena que, em teoria, poderia ser filtrada e eliminada constantemente pelos rins. Contudo, embaixo do epitélio, temos uma única estrutura contínua no glomérulo, que é a membrana basal, a qual possui carga negativa e repele ânions do sangue, como é o caso da albumina. • Carga (membrana basal) = seletiva; “segura carga negativa”. • Mecânica (epitélio) = não seletiva; “segura macromoléculas”. O paciente com síndrome nefrótica apresenta hipoalbuminemia (inativa a carga) + perda de outras proteínas. É isso que confere o resto das características. • Outras proteínas: antitrombina III (um dos principais anticoagulantes endógenos, funcionando como cofator para a ação da heparina). O paciente desenvolve um estado de hipercoagulabilidade, começando a apresentar episódios de trombose. Além disso, a pessoa também perde imunoglobulinas pela urina, como IgG, então ela fica predisposta a infecções por germes encapsulados (Streptococcus pneumoniae é o principal). • Perda de transferrina: proteína que carreia o ferro na nossa circulação. A pessoa vai desenvolver anemia por falta de ferro. Essa anemia, inclusive, é refratária ao sulfato ferroso. O paciente vai responder mal à heparina, porque não vai haver o cofator antitrombina para que o medicamento haja. • Proteína muito grande não é eliminada, que é a alfa-2-globulina. Como não se consegue eliminá-la, ela vai acumular no corpo. Por conta da perda de albumina e proteínas, ocorre redução de pressão oncótica, o que culmina na formação de edema. Este último vai ser perimaleolar, periorbitário, pode fazer ascite e a pessoa pode entrar em anasarca. A pessoa também pode fazer pneumonite por pneumococo. 8 Louyse Jerônimo de Morais O fígado tenta compensar produzindo cada vez mais proteínas, sendo que o ralo está aberto. No meio dessas proteínas também estão as lipoproteínas, o que gera hiperlipidemia. Tem tanta gordura que há perda na urina - hiperlipidemia (lipidúria) e cilindros graxos.Em resumo: 1. Proteinúria maior: 3,5 g/24h ou 50 mg/kg/24h 2. Hipoalbuminemia + outras (antitrombina III, IgG, transferrina...) 3. Edema 4. Hiperlipidemia/lipidúria (cilindros graxos) Clínica Urina espumosa + edema + complicações Complicações • Trombose venosa profunda: veia renal - aumenta rim, distende cápsula e dói, gerando dor lombar; mais do que isso, os vasos túrgidos rompem, gerando sangramento na forma de hematúria; No homem, a drenagem ocorre da seguinte forma: a veia gonadal direita drena diretamente para a cava inferior, mas a veia gonadal esquerda drena para a renal esquerda. Então, se tiver um trombo na veia renal desse lado, pode haver dificuldade para drenar o sangue advindo da gonadal ipsilateral, o que culmina em uma varicocele súbita. o Condições mais relacionadas à trombose da veia renal: amiloidose, nefropatia membranosa e glomerulonefrite mesangiocapilar. • Infecção: peritonite bacteriana espontânea no líquido ascítico por pneumococo. • Aterogênese acelerada: hiperlipidemia. Etiologia • Formas primárias: lesão mínima, glomeruloesclerose focal e segmentar, glomerulonefrite proliferativa mesangial, nefropatia membranosa, glomerulonefrite mesangiocapilar (membranoproliferativa). • Formas secundárias A primeira coisa a fazer é pedir biópsia, com uma exceção. Lesão mínima • Causa mais comum em crianças de 1 a 8 anos, principalmente. • É mínima porque só é vista à microscopia eletrônica. Fusão e retração podocitária • Associação: linfoma de Hodgkin e uso de AINES. • Evolução: a criança apresenta episódios intensos de proteinúria e suas complicações e depois não tem nada, e fica dessa forma, bem intermitente. • Tratamento: resposta dramática ao uso de corticoide. É a única forma de síndrome nefrótica que responde bem. Tem que ter cuidado com diurético na síndrome nefrótica, porque pode piorar hipovolemia, gerando desidratação intravascular, o que pode causar trombose. Dessa forma, o que se faz é a restrição salina, não hídrica, para melhorar o edema. Há consumo de complemento? NÃO. Glomeruloesclerose focal e segmentar • Causa mais comum de nefrose em adultos. Analisando vários glomérulos: difuso vs. focal 9 Louyse Jerônimo de Morais Analisando um único glomérulo: global vs. segmentar O acometimento global do glomérulo é normal no envelhecimento, mas, sendo segmentar, é algo patológico. Histopatológico da lesão Na forma primária, os glomérulos que não têm lesão da GESF, tem lesão mínima. Quando a GESF é secundária, ela pode ser secundária a uma condição necrosante qualquer, gerando uma sequela. Por exemplo, no LES. Também pode ser em situação de sobrecarga glomerular, por funcionamento excessivo, ou mesmo um hiperfluxo, que não deixa de ser, também, uma sobrecarga. • Associação: HAS, obesidade mórbida, anemia falciforme, pré-eclâmpsia etc. • Evolução: HAS. • Tratamento: corticoide, IECA/BRA. Não há consumo de complemento. GN proliferativa mesangial • Nefropatia membranosa: pode ser sinal inicial de uma neoplasia oculta, do lúpus, associação com hepatite B e uso de alguns medicamentos, como captopril, sais de ouro e d-penicilamina. o É a segunda mais comum nos adultos. o Lesão: espessamento da membrana basal. Como pode ser sinal inicial de uma neoplasia oculta, sempre se deve investigar e rastrear com marcadores laboratoriais, exames de imagem etc. Enfim, tem que investigar as causas. • Evolução: variável. É a que tem mais risco de evoluir com trombose da veia renal. • Tratamento: corticoide não funciona tão bem, IECA/BRA (não usa captopril, mas outros da mesma classe), profilaxia antitrombótica. NÃO consome complemento. GN mesangiocapilar: hepatite C. • Relação com hepatite C • Complemento permanece baixo por mais de 8 semanas. É igual GNPE na clínica, mas tem faixa nefrótica e complemento baixo prolongado. • Diagnóstico diferencial com GNPE • Lesão: expansão mesangial. O mesângio começa a dissecar o espaço entre o endotélio e a membrana basal. Na clínica, a pessoa vai tendo dificuldade de filtrar, gerando oligúria, HAS, edema. • Aspecto de duplo contorno na microscopia eletrônica • Associação: hepatite C, crioglobulinemia. • Evolução: trombose da veia renal, é uma mistura de nefrítica com nefrótica. • Tratamento: pode tentar corticoide, IECA/BRA. SIM, é a única que consome complemento. Glomerulopatias secundárias 1. Nefropatia diabética Existem algumas complicações que são específicas da DM, decorrentes da hiperglicemia, como as microvasculares - nefro, neuro e retinopatia. Por trás da consulta de um paciente diabético, sempre temos que rastrear e investigar se o paciente está a caminho das complicações microvasculares. 10 Louyse Jerônimo de Morais Diabetes é a principal causa de IRC no mundo. No Brasil, falamos mais do HAS, mas em segundo lugar fica a DM. • Risco: 20 a 40% de destruição renal em 10 anos. Evolução 1.1 Hiperfluxo Todo diabético tem hiperfluxo glomerular, porque ele é hiperglicêmico. A glicose é osmolar e carreia a água em volta dela. Dessa forma, o diabético vai filtrar mais do que uma pessoa normal. Por conta do hiperfluxo, o paciente vai ter uma sobrecarga glomerular. A glomerulopatia vai ser a GEFS. Não deixa de ser uma glomeruloesclerose, mas tem uma classificação própria. Como o órgão trabalha em excesso, ele vai aumentar de tamanho. • Sobrecarga • Aumento do tamanho dos rins • Espessamento da membrana basal: não é lesão, mas uma alteração que todo diabético tem. Isso é completamente reversível, a partir do controle da glicemia. Não precisa tratar o glomérulo, mas sim a doença DM. A lesão começa quando? Quando o paciente começa a desenvolver a albuminúria aumentada ou uma microalbuminúria. O normal é até 30 mg de albumina em 24h. 1.2 Microalbuminúria Caracteriza-se pela excreção urinária de albumina entre 30 e 300 mg por dia. Aqui começou a lesão. Isso é detectado na urina de 24h. Não é fácil fazer urina de 24h em um paciente ambulatorial. No dia a dia, existe um outro método para detectar a albumina. • Urina 24h: clássico • Amostra aleatória: albumina / creatinina = 30 a 300 mg/g. Quanto tempo demora na pessoa com DM para desenvolver a lesão renal? Leva cerca de cinco anos tendo a alteração de hiperfluxo para chegar à microalbuminúria. Portanto, cabe a nós rastrear todo paciente diabético. Quando rastrear? • DM1: cinco anos após, porque a DM1 começa no dia do diagnóstico já avisando que vai matar. • DM2: agora! É uma doença traiçoeira. Se encontrar, faz PRIL + controle glicêmico. De quanto em quanto tempo? Anualmente. Se não tiver nada, só mantém controle glicêmico. • Associação com doença cardiovascular: 5x mais chance de ter quando já há microalbuminúria. 1.3 Proteinúria • > 300 mg/dia de albuminúria • Lesão renal diabética declarada: o paciente, nessa fase, desenvolve HAS, retinopatia e edema. Se tem no rim, tem que ter na retina, se retina normal, pensa em outra causa para o rim. Por que a pessoa desenvolve a HAS nessa fase? Ninguém sabe, mas você vai somar uma outra condição para agredir o glomérulo. Sendo assim, nessa fase, faz controle rigoroso da PA. 1.4 Aumento da creatinina Marca a glomerulopatia. Inicialmente, vai existir, pelo hiperfluxo, um espessamento da membrana basal. • Espessamento da membrana basal • Expansão do mesângio: a membrana basal espessa forma carapaça, o mesângio começa a expandir e começa a esmagar as alças capilares, consequentemente, aquilo esclerosa, ou seja, fibrosa. Isso gera uma forma de GEFS. A glomerulopatia pode ser: • Focal: glomeruloesclerose nodular - Kimmelstiel-Wilson. Mais específica de DM. • Difusa: glomeruloesclerose difusa - lesão mais comum em diabetes. Tratamento •Controle rigoroso da glicemia: HbAc ≤ 7% • IECA ou BRA: fase de microalbuminúria • Controle da pressão arterial: fase da proteinúria, manter < 130x80 • Restrição proteica: fase da insuficiência renal. Tem que ter bom senso com o que se lê. Na prática, tem que pesar e individualizar. Rim vs. DM • IRC com aumento do rim • Predisposição a ITU e necrose de papila (vasculopatia diabética). 11 Louyse Jerônimo de Morais • Acidose tubular renal do tipo IV (hipoaldosteronismo hiporreninêmico): a DM destrói o aparelho justaglomerular. O diabético não produz mais renina. Com isso, não vai ter angiotensina I, II nem aldosterona. 2. HAS e RIM - nefroesclerose hipertensiva A HAS agride uma arteríola, que é um vaso. O glomérulo é uma arteríola. Ele sofre uma agressão direta da hipertensão. • Lesão arteriolar gera isquemia glomerular. A pressão, do nada, começa a aumentar. Se a pressão está mais alta, a arteríola percebe que pode romper a qualquer momento. Como forma de adaptação a isso, ela desenvolve uma hipertrofia da camada média muscular. Isso pode ser avaliado na retinopatia. Na primeira fase, há estreitamento arteriolar, porque o que se vê na retina é o vermelho do sangue passando ali. A arteríola vai ficar com a parede mais hipertrófica. Então, a luz arteriolar fica menor. Daqui a pouco, fica tudo tão duro que chega a um grau II. A partir disso, como a arteríola está hipertrófica, quando ela cruza com a vênula, ela a amassa. Quando estreita bastante, surge uma isquemia. A partir disso, surgem exsudatos na terceira fase. A quarta fase já é o papiledema. No rim, é praticamente a mesma ideia, porque a arteríola vai estreitando para compensar o excesso de pressão. Então, a arteríola vai se estreitando e aquele órgão que está ali não recebe sangue de forma adequada. Ocorre, assim, isquemia glomerular. Com isso, o glomérulo vai morrer. Com a morte dos glomérulos, isso caminha para necrose e consequente fibrose = GEFS. 3. Nefropatia por HIV • HIV - GEFS colapsante. É o próprio anticorpo que vai sequelando as alças, evoluindo como uma forma de GEFS. É grave. 4. Nefropatia por refluxo vesicoureteral O refluxo gera pielonefrite, que cicatriza e vai ocorrendo isso repetidamente. Os glomérulos que sobram ficam sobrecarregados, o que é igual a GEFS. • Causas de GEFS: HAS, DM, HIV, uso de heroína, refluxo VU, anemia falciforme, pós-transplante, pré-eclâmpsia. Amiloidose renal • Síndrome nefrótica com proteinúria intensa • Trombose de veia renal + IRC com aumento do rim • Coloração do material de biópsia pelo: vermelho do congo.
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