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Aula 7: 8 de abril 7-1 Curso: Relatividade 01/2019 Aula 7: 8 de abril Profa. Raissa F. P. Mendes 7.22 Tensores Para reformularmos a mecânica Newtoniana, introduzimos a noção de quadri-vetores, objetos in- variantes por uma transformação que nos leva de um referencial inercial a outro (transformação de Lorentz). Mas para escrevermos as leis do Eletromagnetismo ou da Hidrodinâmica (e, mais à frente, da Gravitação!) de uma forma manifestamente compat́ıvel com o primeiro postulado da Relatividade Especial, precisaremos generalizar a noção de vetores e introduzir o que chamamos de tensores. Um tensor do tipo ( 0N ) é uma função de N vetores nos reais, que é linear em cada argumento. A notação ficará clara depois. Note que a nossa definição de produto escalar satisfaz os critérios para um tensor do tipo ( 02 ), uma vez que ela associa a dois vetores ~A e ~B o número ~A · ~B. Linearidade no primeiro argumento implica que (α ~A) · ~B = α( ~A · ~B) e ( ~A+ ~B) · ~C = ~A · ~C + ~B · ~C (ou seja, o mapa preserva as operações de adição e multiplicação por escalar). O mesmo vale para o segundo argumento: ~A · (β ~B) = β( ~A · ~B) e ~A · ( ~B + ~C) = ~A · ~B + ~A · ~C. Para deixar mais concreto qual é o novo objeto (o tensor métrico) que está sendo definido, vale a pena introduzir uma outra notação para o produto escalar: se g é o tensor métrico, temos que g( ~A, ~B) ≡ ~A · ~B. Linearidade no primeiro argumento se traduz na condição g(α ~A+ β ~B, ~C) = αg( ~A, ~C) + βg( ~B, ~C). Antes de entrarmos em mais detalhes sobre o tensor definido dessa forma, vamos dar um passo atrás e discutir um tipo ainda mais simples de tensor. Aula 7: 8 de abril 7-2 7.22.1 1-formas Um tensor do tipo ( 00 ) é simplesmente um número, e o campo tensorial do tipo ( 0 0 ) corresponde a uma função. A seguir, temos tensores do tipo ( 01 ), que são chamados de covetores, vetores covariantes ou 1-formas. Vamos denotar uma 1-forma com um til: p̃. Temos que p̃( ~A) é um número real. Linearidade implica que p̃(α ~A+ β ~B) = αp̃( ~A) + βp̃( ~B). Uma 1-forma é completamente especificada se dizemos qual é o resultado de sua atuação nos vetores de base {~eα}. Por exemplo, se p̃(~e0) = 2, p̃(~e1) = −1, p̃(~e2) = 4 e p̃(~e3) = −3, a atuação dessa 1-forma num vetor arbitrário ~A = Aµ~eµ é o número real p̃( ~A) = 2A 0 −A1 + 4A2 − 3A3 (confira! ). Podemos definir a operação de soma de 1-formas e multiplicação por escalar de modo que, se s̃ = p̃ + q̃ e r̃ = αp̃, então s̃( ~A) = p̃( ~A) + q̃( ~A) e r̃( ~A) = αp̃( ~A). Com essas definições, podemos mostrar que o espaço de 1-formas é fechado por adição e multiplicação por escalar, sendo, ele mesmo, um espaço vetorial (no sentido abstrato do mesmo)17. 7.22.1.1 Base de 1-formas O espaço de todas as 1-formas é um espaço vetorial quadri-dimensional (precisamos de 4 números para especificar uma 1-forma arbitrária). Portanto, podemos escolher qualquer conjunto de 4 1- formas linearmente independentes como base desse espaço. Será conveniente escolhermos uma base {ω̃α} que está associada à base de vetores {~eα} da seguinte forma: ω̃α(~eβ) = δ α β. (7.14) Essa é chamada base dual. Vamos ver a consequência disso. Seja p̃ = pαω̃ α uma 1-forma, onde pα são as componentes da 1-forma na base {ω̃α}18. Note que as componentes podem ser obtidas como pα = p̃(~eα). A Eq. (7.14) implica que as componentes das 1-formas de base são ω̃ 0 →O (1, 0, 0, 0), etc. Seja ~A = Aβ~eβ um vetor arbitrário. Temos: p̃( ~A) = pαω̃ α( ~A) = pαω̃ α(Aβ~eβ) = pαA βω̃α(~eβ) = pαA βδαβ = pαA α = p0A 0 + p1A 1 + p2A 2 + p3A 3. A operação p̃( ~A) é chamada de contração, e é mais fundamental em análise tensorial que o produto escalar, porque só depende da 1-forma e do vetor (sem fazer referência a outros vetores). Como as componentes de uma 1-forma se transformam? Temos que pβ̄ = p̃(~eβ̄) = p̃(Λ α β̄~eα) = Λ α β̄ p̃(~eα) = Λ α β̄pα As componentes da 1-forma se transformam da mesma forma que os vetores de base e de modo inverso às componentes de vetores. Isso garante que a contração de uma 1-forma e um vetor seja independente do sistema de coordenadas: Aᾱpβ̄ = A βpβ. As 1-formas de base se transformam como ω̃ᾱ = Λᾱβω̃ β, de modo inverso aos vetores de base e análogo às componentes dos vetores. 17O espaço de 1-formas é também chamado espaço vetorial dual, ou espaço cotangente. 18A notação é que vα indica as componentes de um vetor e vα indica as componentes de uma 1-forma. Aula 7: 8 de abril 7-3 7.22.1.2 Interpretação geométrica Embora possamos definir um vetor ou uma 1-forma por um conjunto de 4 componentes, a inter- pretação geométrica desses objetos é bem diferente. Da mesma forma que podemos visualizar veto- res como segmentos de reta orientados, a interpretação usual de 1-formas é como (hiper)-superf́ıcies de ńıvel (digamos, com espaçamento unitário) de forma que o número produzido quando uma 1- forma atua sobre um vetor é o número de superf́ıcies que ele perfura. Se essas são superf́ıcies de ńıvel de uma função (exemplo: função x), a contração é simplesmente a diferença dos valores da função nos pontos extremos do vetor. Note que, da mesma forma que um vetor representa o comportamento local de uma curva (uma linha de mundo, no caso do vetor velocidade), uma 1-forma também representa a forma local das superf́ıcies de ńıvel (superf́ıcies planas e igualmente espaçadas). A 1-forma mais conhecida é o gradiente de uma função, que denotaremos d̃f . O gradiente é uma 1-forma? Não é um vetor? Para falarmos de vetor gradiente (vamos defini-lo mais adi- ante), precisamos de algo que seja perpendicular às superf́ıcies de ńıvel. Mas o conceito de Aula 7: 8 de abril 7-4 “perpendicular” depende do conceito de produto escalar ou métrica, que é algo mais sofisticado que 1-formas! Logo, o gradiente é mais bem representado por uma 1-forma, com componentes d̃f →O (∂f/∂t, ∂f/∂x, ∂f/∂y, ∂f/∂z). As hipersuperf́ıcies que representam d̃f num ponto P são as próprias superf́ıcies de ńıvel de f , exceto que planas e com mesmo espaçamento. Ou seja, elas são as superf́ıcies de ńıvel da função linear que aproxima f numa vizinhança infinitesimal de P . E qual é o resultado da ação de d̃f num vetor ~v? Vamos lembrar que podemos representar ~v de forma que ~v →O dxµ(λ)/dλ, onde xµ(λ) = xµ0 + λ(x µ 1 − x µ 0 ). Temos, portanto: d̃f(~v) = ∂f ∂t dt dλ + ∂f ∂x dx dλ + ∂f ∂y dy dλ + ∂f ∂z dz dλ = df dλ ∣∣∣∣ λ=0 . Logo, d̃f é uma máquina linear para calcular a taxa de variação de f ao longo do vetor desejado ~v. O resultado, d̃f(~v), é, para um vetor suficientemente pequeno, apenas a diferença de f entre a ponta e a cauda de ~v. (Note que d̃f é normal às superf́ıcies de f constante, no sentido que o resultado da aplicação dessa 1-forma a vetores paralelos a tais superf́ıcies é zero.) Note que as componentes do gradiente se transformam de fato como as componentes de uma 1- forma. Sabemos como derivadas parciais se transformam: ∂f/∂xᾱ = (∂f/∂xβ)(∂xβ/∂xᾱ). Mas xβ = Λβᾱx ᾱ, onde Λβᾱ são constantes. Portanto, (df)ᾱ = (∂x β/∂xᾱ)(df)β = Λ β ᾱ(df)β. O entendimento de 1-formas como gradientes nos permite definir a base de 1-formas como ω̃α = d̃xα. Note que as componentes de d̃xα são (d̃xα)β = ∂βx α = δαβ , de acordo com a nossa definição de ω̃ α. Notação para derivadas: Vamos escrever ∂f/∂x = ∂xf = f,x e ∂f/∂x α = ∂αf = f,α. Note que a “derivada exterior” ou “gradiente” de uma função, d̃f é uma versão mais rigorosa do conceito de diferencial, df , que representa uma variação infinitesimal da função f , mas numa direção não especificada. Se escolhemos um vetor infinitesimal no ponto P , obtemos d̃f(~v) = vµ∂µf = df/dλ. Então d̃f , sem um vetor especificado, dá a variação da função em uma direção arbitrária, ao passo que sua atuação num vetor dá o gradiente da função numa direção espećıfica. Paracasa: Ler de 3.1 a 3.3 do Schutz. Fazer o exerćıcio 1 da Lista 3. 7-5 Tensores 1-formas Base de 1-formas Interpretação geométrica
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