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Nutrição parenteral Prof. Ms. Kelly Uniat Quem eu sou? Nutricionista Clínica do Hospital Marcelino Champagnat; Membra da Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional; Membra da comissão de Cuidados Paliativos; Mestre em Alimentação e Nutrição pela Universidade Federal do Paraná; Residência em Atenção Hospitalar em Saúde do Adulto e do Idoso pelo Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. 2 Tópicos abordados ✓ Conceito de nutrição parenteral; ✓ Vias de administração; ✓ Indicações e contraindicações; ✓ Composição da nutrição parenteral; ✓ Cálculos nutricionais; ✓ Complicações (mecânica, metabólicas e infecciosas); ✓ Nutrição Parenteral Domiciliar; ✓ Caso clínico. 3 4 Em nutrição parenteral, uma solução estéril de nutrientes é infundida, via intravenosa, de modo que o trato gastrointestinal é excluído do processo. Será que sempre que o paciente não puder usar o trato gastrointestinal ele será candidato para a terapia nutricional parenteral? O que considerar antes de iniciar uma NPT? 5 Vias de acesso de alimentação enteral e parenteral 6 Indicações e contraindicações 1 7 ✓ Interferência de doença de base em ingestão, digestão ou a absorção dos alimentos; ✓ Estados hipermetabólicos como grandes queimados, pacientes sépticos, politraumatismo extenso, pancreatite aguda, fístulas intestinais de alto débito; ✓ Falência intestinal devido a: Íleo paralítico e mecânico (pós- operatório); ✓ Trauma; ✓ Doença inflamatória intestinal; Indicação da nutrição parenteral 8 Compêndio de Nutrição Parenteral, 2018; Carvalho, et al., 2014; Marchinni, et al., 1998 ✓ Enterocolite (aids, quimioterapia/ radioterapia); ✓ Ressecção intestinal (síndrome do intestino curto); ✓ Câncer gastrointestinal; ✓ Pacientes pediátricos neonatos; ✓ Colite ulcerativa complicada ou em período perioperatório; ✓ Hemorragia gastrointestinal persistente; ✓ Abdome Agudo/Íleo paralítico prolongado. Indicação da nutrição parenteral 9 Compêndio de Nutrição Parenteral, 2018; Carvalho, et al., 2014; Marchinni, et al., 1998 ✓ Quando o risco de NP é julgado excessivo para o potencial benefício; ✓ Pacientes hemodinamicamente instáveis; ✓ Fase aguda (“fase de refluxo”) durante as primeiras horas após o trauma, cirurgia ou o aparecimento de uma infecção grave; ✓ Insuficiência cardíaca crônica com retenção hídrica (exceto em pacientes com evidente má absorção e a nutrição enteral mostrou-se inefetiva); ✓ Insuficiência renal crônica sem tratamento dialítico (exceto em pacientes com perda calórico-protéica severa ou com severas alterações gastrointestinais). 10 Carvalho, et al., 2014 Contraindica- ções da terapia parenteral Conceitos Afinal, o que é nutrição parenteral? 2 11 “ (Portaria 272, de 08 de abril de 1998): Solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídeos, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou à manutenção dos tecidos, órgãos e sistemas. 12 Administração de nutrientes na corrente sanguínea através de acesso venoso central ou periférico, de forma que o trato gastrointestinal seja totalmente excluído do processo. 13Regulamento técnico para terapia nutricional parenteral - ANVISA Histórico Utilizada desde 1960. Terapia nutricional utilizada em pacientes com trato gastrointestinal não funcionante. Dudrick et al., 1968 14 Vias de administração 15 Gastaldi, et al., 2009; Carvalho, et al., 2014. Central Administrada por uma veia de grande diâmetro, que chega diretamente no coração. Curta, média e longa duração; Catéter central e PICC. Vias de administração Periférica Administrada através de uma veia menor; Curta duração (5-7 dias); Hiperosmolaridade. 16 Gastaldi, et al., 2009; Carvalho, et al., 2014. 17 Solução (sem lipídeos) Solução 2:1 Carboidratos, aminoácidos e micronutrientes Tipos de parenteral Emulsão (com lipídeos) Solução 3:1 Carboidratos, aminoácidos, lipídeos e micronutrientes 18 Gastaldi, et al., 2009; Carvalho, et al., 2014. Sistema 2:1 ▹ Solução aquosa; ▹ Recomendado para pacientes com intolerância na utilização de lipídeos; ▹ Pode ser infundida tanto em via central ou periférica; ▹ Maior osmolaridade. 19 Carvalho, et al., 2014; Waitzberg, 2017 Sistema 2:1 desvantagens ▹ Intolerância à glicose; ▹ Deficiência de ácidos graxos essenciais; ▹ Insuficiência respiratória por acidose metabólica; 20 Carvalho, et al., 2014; Waitzberg, 2017 Sistema 3:1 Vantagens ▹ Reduz a oferta de glicose; ▹ Aumenta a densidade calórica; ▹ Impede deficiência de AGE; ▹ Isotônica- melhor tolerabilidade no periférico; ▹ Osmolaridade mais baixa (600-950 mOsm). 21 Carvalho, et al., 2014; Waitzberg, 2017 Sistema 3:1 Desvantagens ▹ Elevação de TG e COL; ▹ Risco de tromboflebite venosa periférica; ▹ Pancreatite aguda; ▹ Insuficiência hepática. 22 Carvalho, et al., 2014; Waitzberg, 2017 23 Agora que já sabemos o que é nutrição parenteral, como começar a planejar a terapia nutricional parenteral? Composição e cálculos nutricionais 3 24 Composição Proteínas Solução utilizada atualmente “synthetic amino acids and dextrose” (SAAD) Não permite o crescimento bacteriano como as soluções antigas de hidrolisados proteicos 25 Driscoll, 2003 (JPEN) Composição Proteínas Solução de aminoácidos a 10% (10 a 20%) 1g = 4 kcal Aminoácidos de cadeia ramificada Uso limitado na parenteral tanto em pacientes sépticos quanto em encefalopatia hepática 26 Waitzberg, 2017 Composição Carboidratos Principal fonte de energia da parenteral (40-70%) Glicose 50% (via central) 1g = 4 kcal – glicose anidra 1g = 3,4 kcal – glicose monohidratada 27 Waitzberg, 2017 Composição Lipídeos ✓ São isotônicos (glicerol) ✓ Precursores do ácido aracdônico ✓ Contém fósforo orgânico, vitamina E e vitamina K1 28 Waitzberg, 2017 Composição Micronutrientes Vitaminas e oligoelementos Recomendado pela DRIs Necessidades de zinco e potencial efeito anti- oxidante do selênio (críticos) Cuidado com cálcio e fósforo 29 Waitzberg, 2017 Composição Resumo ✓ Carboidratos (glicose); ✓ Gorduras (emulsões com AG cadeia longa e média e TG de cadeias longas); ✓ Aminoácidos (glicina, leucina, fenilalanina, alanil- glutamina, alanil-tirosina); ✓ Eletrólitos (K, Na, P, mg, Ca, Cl); ✓ Minerais (Zn, Cu, Cr, Mn); ✓ Vitaminas (A ,D, E, C, folacina, niacina, riboflavina, tiamina, B6, B12, ácido pantotênico e biotina). 30 Compêndio de Nutrição Parenteral, 2018; Resolução RDC nº 63/2000 Cálculos nutricionais O cálculo do que será ofertado ao paciente é relacionado ao valor estimado para o metabolismo basal (GEB), uma das maneiras de estimar é por meio da equação de Harris – Benedict. Harris Benedict: Homens: GEB: 66 + (13,7 x Peso) + (5 x Altura) - (6,8 x Idade) Mulheres: GEB: 655 + (9,6 x Peso) + (1,7 x Altura) - (4,7 x Idade) (Fator injúria: 1,1 a 1,45 câncer; 1,5 queimados) No cotidiano, temos opção da regra de bolso (30 kcal/kg/dia) 31 Cuppari, 2019 Cálculos nutricionais Recomendações pacientes críticos: Proteínas: 1,2 a 1,5 g/kg/ dia; Carboidratos: <4mg/kg/min; Lipidíos: 1g/kg/dia; Recomendações pacientes estáveis: Proteínas: 0,8 a 1,0 g/kg/ dia; Carboidratos: <7mg/kg/min; Lipidíos: 1g/kg/dia; Líquidos: 30- 40 ml/kg/dia; 32 Waitzberg, 2017 Cálculos nutricionais Pediatria Recomendações de macronutrientes: Proteínas: 8 a 20% do VET; Carboidratos: 40 a 50% do VET; Lipidíos: 30 a 40% do VET; 33 Necessidades energéticas diárias (não proteica kcal/kg) Idade: Necessidade calórica: Recém nascido prematuros 120-140 kcal/kg/dia < 6 meses 90 – 120 6-12 meses 80 – 100 1-7 anos 75 – 90 7-12 anos 60 – 75 12-18 anos 30 – 60 Waitzberg, 2017 Caso clínico A.M.S., sexomasculino, 40 anos, P = 70 kg, E = 1,80 m, com diagnóstico de pancreatite aguda necrohemorrágica, com piora do quadro clínico e laboratorial com a administração de nutrição enteral e já com 8 dias de jejum. Qual o tipo de terapia nutricional você indica? Prescreva. 34 Caso clínico 1o passo: Estimar a necessidade energética a) Fórmula de Harris-Benedict Homens = 66,5 + (13,7 x peso atual) + (5 x estatura) – (6,8 x idade) GER = 1653,5 kcal GET = GER + FI 35 Caso clínico 2º passo: Fator injúria 1,2 a 1,5: Para a maioria dos casos. Grande estresse metabólico: usar fator de correção maior. Ex.: queimaduras GET = 1653,5 x 1,3 = 2149,5 kcal/dia 36 Caso clínico 3º passo: Estabelecer a necessidade proteica NP = 1,5 x 70 = 105 g/dia 37 Injúria Proteína/kg/dia (g) Insuficiência renal aguda ou crônica em tratamento conservador, encefalopatia hepática 0,6 – 0,8 Eutrofia, sobrepeso, obesidade 0,8 – 1,2 Desnutrição, sepsis, trauma, infecção 1,2 – 2,0 Caso clínico 4º passo: Distribuição de macronutrientes a) Proteína ⎯ (15-20%) 1 g ⎯ 4 kcal 2100 kcal ⎯ 100% 105 g ⎯ x 420 kcal ⎯ x x = 420 kcal x = 20% b) Lipídio ⎯(25-30%) 2100 kcal ⎯ 100% x ⎯ 25% x = 525 kcal c) Glicose ⎯(55-60%) 2100 kcal ⎯ 100% x ⎯ 55% x = 1155 kcal 38 Caso clínico 5º passo: Transformar kcal em gramas a) Proteína 420 kcal ⎯ 105 g b) Lipídeo 1 mL ⎯ 2 kcal x ⎯ 525 kcal x = 262,5 250 mL 500 kcal ⎯ 250 mL c) Glicose 1 g ⎯ 4 kcal x ⎯ 1155 kcal x = 288,7 g 1155 kcal ⎯ 288,7g 39 Caso clínico 5º passo: Transformar gramas para ml a) Proteína Solução de aa 10%: 100 mL ⎯ 10 g x ⎯ 105 g x = 1050 mL 1000 mL b) Lipídio x = 250 mL c) Glicose Solução de glicose 50%: 100 mL ⎯ 50 g x ⎯ 288,7 g x = 577,4 mL 600 mL 40 Caso clínico Prescrição de macronutrientes ✓ Solução de aminoácidos a 10%: 1000 mL ✓ Solução de glicose a 50%: 600 mL ✓ Solução de lipídios a 20%: 250 mL 41 Caso clínico 6º passo: Prescrever os micronutrientes a) Vitaminas Polivitamínico A: 10 mL Polivitamínico B: 10 mL ou Polivitamínico A+B: 5 mL 42 Caso clínico 6º passo: Prescrever os micronutrientes b) Minerais Oligoelementos: 2 mL (01 ampola) Composição: Zn, Cu, Mn, Cr Eletrólitos: de acordo com os níveis séricos* 43 Caso clínico Prescrição final ✓ Solução de aa 10%: 1000 mL ✓ Solução de Glicose 50%: 600 mL ✓ Solução de Lipídeos 20%: 250 mL ✓ Oligoelementos: 2 mL ✓ Polivitamínico A + B: 5 mL ✓ Cloreto de Potássio 19,1%: 10 mL ✓ Cloreto de Sódio 20%: 20 mL ✓ Fosfato de Potássio 2 mEq/mL: 4 mL ✓ Sulfato de Mg 10%: 10 mL ✓ Gluconato de cálcio 10%: 10 mL Volume Total: 1911 mL Infusão mL/h: 79,6 mL/h 44 Nutrição parenteral domiciliar 4 45 Parenteral domiciliar A nutrição parenteral domiciliar deve ser administrada em pacientes que não conseguem atingir meta de prescrição nutricional via oral ou enteral. ✓ Pacientes diagnosticados com perda de função intestinal; ✓ Pacientes em estágios terminais que estão sob cuidados paliativos; ✓ Tratamento de indivíduos desnutridos com função intestinal normalizada. 46 Projeto diretrizes, 2011 Parenteral domiciliar 47 Parenteral domiciliar Vantagens Proporciona ao paciente um cuidado à saúde de alta qualidade Mantem ainda sua independência, autonomia e melhor qualidade de vida. 48 ESPEN, 2020 Parenteral domiciliar desvantagens ✓ Contaminação; ✓ Não monitoramento de exames; ✓ Manuseio incorreto; 49 ESPEN, 2020 Parâmetros de controle da parenteral 5 50 Monitorização ▹ Acompanhamento nutricional diário; ▹ Controle clínico: sinais vitais, exame físico e pesagem diária. ▹ Exames laboratoriais (concentração sérica de albumina e eletrólitos); ▹ Vigilância de infecções; ▹ Reavaliação nutricional de 7 a 10 dias; 51 Complicações O que pode dar errado? 6 52 Complicações Mecânicas Metabólicas Infecciosas 53 Waitzberg, 2017 Complicações mecânica ✓ Relacionadas ao cateter: deslocamento em direção cefálica; ✓ Perfuração do vaso; ✓ Pneumotórax e hemotórax; ✓ Desconexão do cateter com perda sanguínea; ✓ Embolia gasosa. 54 Waitzberg, 2017 Complicações mecânica 55 Complicações metabólicas ✓ Gastroparesia; ✓ Esteatose hepática; ✓ Lama biliar; ✓ Colelitíase, colecistite e colestase; ✓ Atrofia de mucosa intestinal; ✓ Gastrite e úlcera. 56 Waitzberg, 2017 Complicações metabólicas 57 Complicações metabólicas ✓ Coma hiperglicêmico hiperosmolar não-cetótico ✓ Hipoglicemia; ✓ Hiperglicemia; ✓ Hipercapnia; ✓ Sobrecarga de aminoácidos; ✓ Insuficiência de Ácidos Graxos; ✓ Deficiência de vitaminas e de micronutrientes; ✓ Síndrome de realimentação. 58 Waitzberg, 2017 Complicações infecciosa Sepse relacionada ao cateter, tendo como agentes etiológicos mais frequentes: ✓ Staphylococcus epidermidis; ✓ Fungos; ✓ bacilos Gram negativos (Escherichia coli, Serratia marcescens, Enterobacter cloacae); ✓ Staphylococcus aureus. 59 Waitzberg, 2017 Experiência Como é no dia a dia? 7 60 61 Equipe de EMTN 62 Nutricionista Quem calcula as necessidades nutricionais e o cálculo da parenteral? EMTN Quem realiza o controle de qualidade da nutrição pareneral? Médico nutrólogo Quem prescreve a nutrição parenteral? 63 64 Obrigada! Dúvidas? kellyuniat@ufpr.br Slide 1: Nutrição parenteral Slide 2 Slide 3: Tópicos abordados Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7: Indicações e contraindicações Slide 8: Indicação da nutrição parenteral Slide 9: Indicação da nutrição parenteral Slide 10 Slide 11: Conceitos Slide 12 Slide 13 Slide 14: Histórico Slide 15: Vias de administração Slide 16: Vias de administração Slide 17 Slide 18: Tipos de parenteral Slide 19: Sistema 2:1 Slide 20: Sistema 2:1 desvantagens Slide 21: Sistema 3:1 Vantagens Slide 22: Sistema 3:1 Desvantagens Slide 23 Slide 24: Composição e cálculos nutricionais Slide 25: Composição Proteínas Slide 26: Composição Proteínas Slide 27: Composição Carboidratos Slide 28: Composição Lipídeos Slide 29: Composição Micronutrientes Slide 30: Composição Resumo Slide 31: Cálculos nutricionais Slide 32: Cálculos nutricionais Slide 33: Cálculos nutricionais Pediatria Slide 34: Caso clínico Slide 35: Caso clínico Slide 36: Caso clínico Slide 37: Caso clínico Slide 38: Caso clínico Slide 39: Caso clínico Slide 40: Caso clínico Slide 41: Caso clínico Slide 42: Caso clínico Slide 43: Caso clínico Slide 44: Caso clínico Prescrição final Slide 45: Nutrição parenteral domiciliar Slide 46: Parenteral domiciliar Slide 47: Parenteral domiciliar Slide 48: Parenteral domiciliar Vantagens Slide 49: Parenteral domiciliar desvantagens Slide 50: Parâmetros de controle da parenteral Slide 51: Monitorização Slide 52: Complicações Slide 53: Complicações Slide 54: Complicaçõesmecânica Slide 55: Complicaçõesmecânica Slide 56: Complicaçõesmetabólicas Slide 57: Complicaçõesmetabólicas Slide 58: Complicaçõesmetabólicas Slide 59: Complicaçõesinfecciosa Slide 60: Experiência Slide 61 Slide 62: Nutricionista Slide 63 Slide 64: Obrigada!