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1 ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................... 3 PORTUGUÊS .................................................................................................. 3 ......................................................................................................................... 4 2 - LINHA DO TEMPO DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL ............................................................................................................... 5 3 - Ensino da Língua Portuguesa .................................................................... 6 3.1 - IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA ......................................... 8 4 - DESAFIOS DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA ............................ 13 5 - A LÍNGUA PORTUGUESA SOB A ÓTICA DA LINGUÍSTICA - ABORDAGENS METODOLÓGICAS ....................................................................... 15 6 - O QUE ENSINAR EM LÍNGUA PORTUGUESA ...................................... 17 O ensino atual da disciplina foca a prática no dia a dia e mescla atividades de fala, leitura e produção de textos desde cedo. ................................................ 17 6.1 - Concepções de linguagem alteram modo de ensinar ............... 19 6.2 - Metodologias mais comuns no ensino de língua portuguesa.. 20 7 - As contribuições de Piaget e Vygostsky....................................... 22 8 - 8 MITOS SOBRE ALFABETIZAÇÃO ....................................................... 24 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 1 - INTRODUÇÃO PORTUGUÊS Nossa língua é um legado de diversidades múltiplas de linguagem e é dividida em duas partes: a fala e a escrita. A princípio se definiu a fala como individual, algo próprio, passível de ser moldada, de acordo com os grupos lingüísticos. Já a escrita é social, a fim de termos uma convenção ao escrevermos, algo que será compreendido ao ser lido em todo âmbito social em que a língua é falada. No entanto, com o passar dos anos, falamos de discursos e tipologia de discurso, ou seja, dos tipos de comunicação existentes. Há tipos de discurso para todas as ocasiões: para conversas formais e informais, com os colegas de sala, com os pais, msn, orkut. Não falamos com o nosso professor assim como falamos com nosso pai, como também não vamos escrever uma carta a um amigo do mesmo modo que se fôssemos escrever ao presidente. A linguagem dos internautas está sendo inserida nas salas de aula, porém de forma errônea, nas redações, por exemplo. Por isso, é tão importante trabalhar em sala os discursos lingüísticos, para que o jovem saiba que há meios sociais adequados para cada tipo de linguagem. Ainda temos outra gama de conhecimento quando se trata da linguagem não-verbal: os quadrinhos, charges, gráficos, símbolos, arte, os gestos. A linguagem não verbalizada nos diz muito do que acontece em nosso meio social, principalmente através da mídia. Além disso, temos a combinação da linguagem verbal e não-verbal, que resulta na linguagem verbo-visual, muito utilizada pelos publicitários, os quais ao mesmo tempo trazem uma mensagem escrita, juntamente com o chamativo das cores e formas da imagem. É importante trabalhar o texto não-verbal em sala de aula, para os alunos desenvolverem a crítica a respeito da linguagem subliminar existente nesse tipo de discurso, utilizado além da mídia, também pela política. 4 Os surdos-mudos utilizam a linguagem dos gestos e é fundamental a eles, já que é sua própria fala. Utilizamos o gesto também como complemento da nossa fala. Logo, a língua portuguesa é a própria essência de quem somos, já que está a nossa volta a todo tempo e lugar e é necessário trabalhar os vários tipos de linguagem pra que possamos, dessa forma, desenvolver cidadãos reflexivos e críticos de sua própria realidade. Por Sabrina Vilarinho Graduada em Letras 5 2 - LINHA DO TEMPO DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL 1759 A Reforma Pombalina torna obrigatório no Brasil o ensino de Língua Portuguesa nas escolas. A intenção é transmitir o conhecimento da norma culta da língua materna aos filhos das classes mais abastadas. 1800 A linguagem é vista como uma expressão do pensamento e a capacidade de escrever é consequência do pensar. Na escola, os textos literários são valorizados, e os regionalismos, ignorados. 1850 A maneira unânime de ensinar a ler é o método sintético. As letras, as sílabas e o valor sonoro das letras servem de ponto de partida para o entendimento das palavras. 1860 Desde os primeiros registros sobre o ensino da língua, a escrita é vista independentemente da leitura e como uma habilidade motora, que demanda treino e cópia do formato da letra por parte do aprendiz. 1876 O poeta João de Deus (1830-1896) lança a Cartilha Maternal. Defende a palavração, modelo que mostra que o aprendizado deve se basear na análise de palavras inteiras. É um dos marcos de criação do método analítico. 1911 O método analítico se torna obrigatório no ensino da alfabetização no estado de São Paulo. A regra é válida até 1920, quando a Reforma Sampaio Dória passa a garantir autonomia didática aos professores. 1920 Inicia-se uma disputa acirrada entre os defensores dos métodos analíticos e sintéticos. Alguns professores passam a mesclar as ideias básicas defendidas até então, dando origem aos métodos mistos. 1930 O termo alfabetização é usado para determinar o processo inicial de aprendizagem de leitura e escrita. Esta passa a ser considerada um instrumento de 6 linguagem e é ensinada junto com a leitura. 1940 As primeiras edições das cartilhas Caminho Suave e Sodré são lançadas nessa década, respeitando a técnica dos métodos mistos, e marcam a aprendizagem de gerações. 1970 A linguagem passa a ser vista como um instrumento de comunicação. O aluno deve respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens. Os gêneros não literários são incorporados às aulas. 1984 Lançamento do livro Psicogênese da Língua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. A concepção de linguagem é modificada nessa década e influencia o ensino até hoje: o foco deveria estar na interação entre as pessoas. 1997 São publicados os PCNs pelo governo federal para todo o Ensino Fundamental, defendendo as práticas sociais (interação) de linguagem no ensino da Língua Portuguesa. Fontes: Os sentidos da alfabetização, Maria do Rosário Longo Mortatti e PCNS 3 - Ensinoda Língua Portuguesa Por Maíra Althoff De Bettio Desde o início da década de 80, o ensino da língua portuguesa vem sido muito discutido acerca da necessidade de melhorar a educação do país. Uma das maiores dificuldades das escolas é ensinar seus alunos a ler e a escrever, tal barreira reflete num índice de pessoas alfabetizadas não muito favorável. Este obstáculo é encontrado no fim da primeira série do ensino fundamental (alfabetização) e na quinta série do mesmo (ineficiência da linguagem). Através do PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), o professor encontra uma espécie de síntese mostrando um possível avanço hoje, comparado a anos anteriores. Nos anos 60, por exemplo, buscava-se no aluno o fracasso escolar; 7 havendo lógica, visto que em parte dos discentes o ensino parecia funcionar. Nos anos oitenta, começava a circular entre os educadores livros e artigos que davam conta de uma mudança no processo de alfabetização: “Como se ensina” e “Como se aprende”. Esse seguimento ajudou os professores a compreenderem aspectos importantes de aprendizagem da leitura e da escrita. Deduziu-se que as crianças de famílias favorecidas, financeiramente, desenvolviam um melhor aprendizado em virtude de viverem em círculos sociais mais cultos e estarem mais perto de escritores e leitores “assíduos” e, muitas vezes, praticantes. Essas investigações também favoreceram para o entendimento que o processo de alfabetização não é um processo baseado em memorização, mas sim um seguimento no qual o aluno, para aprender a ler e escrever, precisa construir um conhecimento de natureza conceitual, ou seja, ele precisa entender não só o que a escrita representa, mas de que forma representa graficamente. O professor de Língua Portuguesa que tem como base as indicações dos Parâmetros Curriculares Nacionais utiliza-se de boas dicas e exemplos a serem usados em sala de aula. O PCN tem como objetivo auxiliar o educador no cumprimento de seu trabalho juntamente aos educandos, visando assim um bom aproveitamento de ambos; mestre e aluno. O acesso aos recursos culturais vai depender do espírito empreendedor de cada professor, este pode ser criativo, utilizando o que a escola tem a oferecer a seus alunos, e a partir disso trabalhar em sala de aula. A Língua Portuguesa requer muitas atividades, nas quais os gêneros textuais estejam inseridos, ou seja, o uso de propagandas, revistas, jornais, folhetins, bilhetes, receitas, enfim. Estes materiais não são de difícil acesso, independente da situação em que a instituição encontra-se. E o fundamental e essencial a ser repassado aos estudantes não é tarefa difícil, um professor que esteja em constante evolução saberá como trabalhar assuntos interessantes de acordo a idade e série a ser ensinada. Porém é fato que uma escola, onde o acervo de materiais, fornecidos a alunos e professores, seja de grande proporção, ajudará e colaborará numa melhor aprendizagem e formação dos estudantes. Uma biblioteca que tenha um grande acervo de livros, recurso áudio-visual, laboratórios de informática, entre outros; fará com que os educadores estejam frente a frente com uma infinidade de opções e formas de ensinar. Mas sempre com a prioridade de educar os alunos para a vida, 8 lidando com as realidades do dia a dia, usufruindo as mais variadas culturas que cada sala de aula possui (alunos). Sendo assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais servem, também, como instrumento de discussão entre professores e orientadores na elaboração das aulas, criação de projetos, feiras estudantis e, finalizando, como atualização e crescimento profissional a todos educadores que usarem do PCN para fins dentro de cada instituição 3.1 - IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA Sempre quando se inicia um novo ano letivo, iniciam, juntamente com o educador, novas esperanças, novos propósitos, novos anseios de que a jornada em questão será, sem sombra de dúvida, bastante promissora. Sim, promissora, pois quanto mais promissor se apresentar o cenário em que o trabalho docente se desenvolve, mais prováveis serão as chances de se materializar um feedback positivo. 9 Dessa feita, pelos corredores do colégio sempre circulam professores de Língua Portuguesa que, alheios às concepções que os aprendizes atribuem à disciplina que lecionam, incessantemente almejam que sejam positivas essas atribuições, que eles (os alunos), na qualidade de usuários, realmente concedam ao idioma que falam a credibilidade necessária, a importância por ela requerida, enfim. Assim, mais especificamente nos referindo ao primeiro dia de aula, sustentados pelo anseio já citado, os educadores pensam na melhor estratégia para conduzir a aula inaugural da melhor forma possível. Como proposta, nada melhor que ceder brechas para que uma envolvente discussão se desenvolva e se torne fértil para que esse “captar” de impressões se torne efetivado, haja vista que somente por meio desse procedimento esse grande mestre sentir-se-á munido de “forças” para atuar de forma plena. Sem nenhuma dúvida que posicionamentos diversos se farão materializados, pois haverá aqueles que repudiam a disciplina em decorrência das muitas regras e das inevitáveis exceções; haverá também alguns que até gostam da gramática, embora não se familiarizem com a escrita, enfim, distintas serão as manifestações. Obviamente que o momento irá se assemelhar a um debate, cuja liberdade de expressão se tornará fator preponderante. Assim, torna-se recomendável que o educador seja paciente para acatar todos os pontos de vista, fazendo algumas intervenções quando necessário. Somente depois, ao se certificar de que todos já concluíram suas ideias, é que ele deverá tomar a palavra e fazer algumas pontuações que acreditamos serem válidas para o repensar de algumas consciências. Diante disso, parece não haver outro momento mais propício para abordar acerca de algumas variedades linguísticas, inclusive a de prestígio, aproveitando que algumas manifestações irão se pender para o uso da linguagem abreviada, sobretudo dizendo respeito àquela que faz parte do universo dos internautas. Subsidiando nessa recorrência, relevante é estabelecer a comparação entre o uso da forma culta e os trajes que fazemos uso no dia a dia, haja vista que para cada situação, para cada circunstância do cotidiano temos de nos adequar quanto à forma em que nos posicionamos, lembrando que esse aspecto prevalece tanto para a fala quanto para a escrita. Assim, ao citar exemplos bem claros, bem familiares ao cotidiano dos aprendizes, como a roupa que usamos para ir a uma solenidade de formatura, que não pode ser a mesma que fazemos uso para ir ao clube, podemos trazer isso para a comunicação 10 cotidiana, ou seja, estando inseridos numa roda de amigos podemos ser maleáveis com nosso vocabulário, isso também se dá quando estamos inseridos em uma situação informal, como ocorre na maioria das vezes. Assim, outra dica sugestiva é apresentar situações reais em que até para cargos considerados não tanto complexos se faz necessário que nos dispusemos de algumas habilidades no momento da escrita, haja vista que ela está condicionada a regras, passíveis, portanto, de serem incorporadas ao nosso conhecimento o quanto antes. Outra dica é apresentar casos reais em que a falta de domínio do idioma leva pessoas, muitas vezes hábeis em outras instâncias, a serem desclassificadas de concursos, de processos seletivos, enfim. Ao final de todas as discussões, caro(a) educador(a), é bem possível que algumas mentes, antes enfraquecidas, contaminadas pela repulsa que muitos têm do estudo de língua materna, aos poucos se tornem mais abertas, e os propósitos, em relação ao aprimoramento de algumas habilidades, tornem-se mais priorizados, haja vista que saber falar e escrever corretamente,sobretudo adequando tais habilidades às situações formais de interlocução, é, sem dúvida, dever de qualquer usuário desse nosso idioma. Por isso, vale a pena colocar em prática e conferir!!! Por Vânia Duarte Graduada em Letras 11 3.2 - PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais O PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais – é uma base desenvolvida pelo Governo Federal, na qual educadores encontram referências para preparar suas aulas em todas as disciplinas e séries escolares. Aqui, a intenção é expor algumas ideias encontradas a partir da leitura do PCN no que diz respeito à Língua Portuguesa. A linguagem e participação social têm estreita relação com o domínio da língua, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso a informações, expressa e defende seu ponto de vista, partilha e/ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto educativo contribui para a formação de cidadãos. A linguagem pode estar em várias praticas sociais, e é produzida numa conversa de bar, numa lista de compras, numa carta. A Língua evolui a cada momento histórico. A partir desta perspectiva, ela é um sistema de signos históricos e sociais que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Todo texto se organiza dentro de um determinado gênero; que constitui formas diferentes de enunciados disponíveis na cultura, caracterizado por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Os gêneros dão forma ao texto e é por isso que quando um começa com “Era uma vez” não há dúvidas que aí encontra-se um conto. Diante de “Senhoras e senhores”, a expectativa é ouvir um pronunciamento. E assim por diante. Pode-se considerar o ensino da aprendizagem em três variáveis: aluno, língua e ensino. O primeiro é o sujeito da ação; aquele que age sobre o conhecimento. O segundo elemento tem como objeto do conhecimento a LP, tal como se fala e se escreve fora da escola. E a última variável corresponde ao ensino e à prática educacional, que organiza a medição entre sujeito e objeto do conhecimento. A importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente, segundo as demandas sociais de cada momento; atualmente existem vários níveis de leitura e escrita. Cabe, portanto, à escola viabilizar o acesso dos alunos ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Um exemplo; nas aulas de LP não se ensina a trabalhar com textos expositivos, como os utilizados na área de história, geografia, ciências. E nem nas próprias matérias tais 12 textos são usados, pois os professores consideram que trabalhar com esses escritos, é uma atividade específica da LP. Todas as disciplinas têm a responsabilidade de ensinar e utilizar os textos de que fazem uso, mas é a LP que tem o papel de fazê-lo de modo sistemático. No Brasil existem variedades linguísticas em decorrência de cada classe social e estados (geograficamente falando), e essa diversidade muitas vezes é sinônimo de preconceito na sociedade. Este último deve ser enfrentado na escola como parte do objeto educacional; para isso a LP deve se livrar do mito “do que é certo”, que defende que se deve transmitir a escrita sendo o espelho da fala, e com isso seria preciso consertar a fala do aluno para que ele escreva bem. Esse tipo de conduta, além de desvalorizar a forma de falar de cada estudante, denota desconhecimento que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum dos seus dialetos, por mais que eles tenham prestigio num determinado momento histórico. A questão não é falar certo ou errado, mas saber com que forma utilizar a linguagem dentro de sala de aula. Cabe à instituição educacional ensinar ao aluno a usufruir a língua oral nas diversas situações comunicativas. Não é papel da escola, ensinar o aluno a falar, isso é aprendido pela criança muito antes da idade escolar. Expressar-se oralmente é algo que requer confiança de si mesmo. Para ocorrer a produção oral deve-se fazer o seguinte: atividades em grupo, no qual haja pesquisas e apresentação dos resultados; debates entre os alunos; oralidade de um texto criado pelo estudante e sua análise. Durante o estágio de alfabetização, o professor deveria ensinar o sistema alfabético da escrita e algumas conversações ortográficas do Português, o que garante ao aluno ler e escrever por si só. O segundo estágio se desenvolveria em duas linhas básicas: exercícios de redação e treinos ortográficos e gramaticais. Por trás desses dois estágios está a teoria que concebe a capacidade de produzir textos pelo próprio punho. Os dois processos ocorrem de forma simultânea, um diz respeito à aprendizagem de um conhecimento de natureza notacional: a escrita alfabética. O outro se refere à aprendizagem da língua escrita. Deve-se trabalhar a leitura em sala de aula diariamente de forma silenciosa e em voz alta, porém, alguns cuidados devem ser tomados. Antes do aluno, ou grupo, fazer a leitura para o restante da classe, esta deve ser lida com os olhos, para uma análise 13 prévia e conclusão de possíveis dúvidas. No caso de um texto gerar mais de uma interpretação entre as pessoas, estas deverão discutir até chegarem numa interpretação coerente entre todos. O professor deve, apenas, mediar tal discussão. O ensino da ortografia se dá em forma de ditados, redações etc. Ainda que tenha um forte apelo à memória, a aprendizagem de tal não é um processo passivo, trata-se de uma construção individual. O trabalho com a normatização deve estar contextualizado nas situações em que os alunos tenham razões para escrever corretamente, em que a legibilidade seja fundamental, por que existem, de fato, leitores para a escrita que produzem. Diferente de outros aspectos, como a pontuação, as restrições ortográficas estão definidas basicamente no nível da palavra. A primeira ideia é que a pontuação serviria para indicar as pausas na leitura em voz alta. Aprender a pontuar é aprender a reagrupar o fluxo do texto, de forma a indicar ao leitor os sentidos propostos pelo autor, obtendo os efeitos estilísticos. O escritor indica as separações (pontuando) e sua natureza (escolhendo o sinal), e com isso, estabelece as formas de articulação entre as partes que afetam as possibilidades de sentido. A LP deve levar em consideração os seguintes aspectos: sua utilização nas diferentes situações de comunicação de fato; as necessidades colocadas pelas situações de ensino e aprendizagem. É interessante levar os alunos para a biblioteca, para pesquisarem. Deve existir a disposição deles: textos de variados gêneros, livros dos mais diversos estilos, vídeos, jornais, revistas, recursos áudio-visual, slides, cartazes, fotografias, transparências, gravador. Este, por exemplo, é útil para revisão oral: entonação, ritmo, redundância no uso de certos termos. 4 - DESAFIOS DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA A língua portuguesa abrange uma variedade tão grande de conteúdos didáticos que, muitas vezes, nem mesmo o professor sabe por onde iniciar seu trabalho. Redação, leitura, compreensão de textos, tipos de textos, gramática; o que deve ser ensinado primeiro? Como inserir tais conhecimentos em situações reais de utilização da língua materna? Estes e muitos outros questionamentos têm atormentado profissionais de letras de todo o país. Com isso, também, novas reflexões têm sido feitas a respeito do modo como o nosso idioma é ensinado nas escolas. 14 É fato que a língua portuguesa apresenta um considerável grau de complexidade; porém, é importante lembrar que quem dá vida à língua são seus próprios falantes e que, uma vez adquirida a experiência lingüística oral, todo e qualquer indivíduo é capaz de aprender sua estrutura gramatical. Os povos que dominam o idioma português, desde a infância, apresentam uma “gramática internalizada”;assim, instintivamente, sabem reconhecer “as palavras e formações de sua língua em quaisquer contextos em que as encontrar, interpretando- as e compreendendo-as, além de combiná-las das maneiras mais variadas possíveis, expressando-se em diversas situações de comunicação” (EDUCAÇÃO SEM FRONTEIRAS, 2006, p.47). Entretanto, o ensino de língua portuguesa ainda necessita de novas avaliações. E apesar da importância existente em cada conteúdo, é imprescindível que este seja planejado e organizado de forma estratégica, ou seja, de modo que os objetivos do professor sejam alcançados com êxito. É propício considerar a posição de Bechara (1985; 40) e de Travaglia (1996; 17), respectivamente, quanto a este assunto: “... podemos dizer que o objetivo precípuo da escola consiste na formação, aperfeiçoamento e controle das diversas competências lingüísticas do aluno”. “... O objetivo de ensino de língua materna é prioritariamente desenvolver a competência comunicativa...”. Imprescindível, também, é lembrar que não basta alguns poucos estudiosos realizarem pesquisas, criarem novas teorias de ensino e publicarem seus conhecimentos se os profissionais da educação – neste caso, os professores de língua portuguesa – não estiverem dispostos a reverem sua prática em sala de aula e não optarem pela mudança de estratégia, em busca de melhores resultados. Com isso, podemos inferir que é o comprometimento e a responsabilidade dos nossos educadores que farão com que o ensino da língua materna tome nova direção e torne- se mais adequado às expectativas e necessidades de seus aprendizes. Publicado por: Michele Rosa Nascimento 15 5 - A LÍNGUA PORTUGUESA SOB A ÓTICA DA LINGUÍSTICA - ABORDAGENS METODOLÓGICAS Seria inviável discutirmos acerca das contribuições que a Linguística proporcionou ao longo dos anos em que se faz presente enquanto ciência, sem enfatizarmos acerca da efemeridade da gramática tradicional, vista como elemento prioritário, em termos didáticos. Tal fato decorre de uma prática cristalizada ao longo dos séculos – mais precisamente desde a Antiguidade Clássica, em que o grego era o idioma dominante, visto como objeto de inteira preservação –, razão pela qual a atitude da maioria dos educadores frente a esta realidade é, senão, sentirem-se despreparados e até mesmo intimidados em promover algum tipo de mudança que pudesse contrariar algo já tão consagrado. Contudo, o que atualmente se percebe é que há renomados autores, longe de intenções retóricas de representarem um modelo teórico pronto e acabado que pudesse substituir o convencional, que se propuseram a questionar os conceitos preconizados à gramática normativa, sobretudo a forma pela qual esta vem sendo ensinada nos ambientes escolares. Tal intento subsiste na formulação de princípios que incidam numa reanálise, obtida com base numa dimensão semântica e/ou discursiva da língua. Desta forma, tendo em vista o aspecto funcional da língua, a proposta é trabalhar os conteúdos – uma vez explorados de forma isolada– de forma contextualizada, analisados sob o âmbito do próprio discurso. Tais pressupostos parecem ter ganhado alguma adesão, como é o caso dos livros didáticos, que atualmente já são editados com base nesta perspectiva. Porém as 16 evidências não demonstram grande avanço, pois mesmo em se tratando de textos, os adjetivos, os advérbios, os substantivos, entre outros elementos, ainda continuam sobressaindo por meio de frase isoladas – retiradas do texto-base. Em meio a esse ínterim, não podemos deixar de mencionar a existência da gramática descritiva, cuja proposta não se baseia na noção de certo ou errado, mas sim na análise das diferenças ou uniformidades existentes entre os diversos registros de uma língua. Com base nesse pressuposto, propõe-se uma metodologia voltada para evidenciar os pontos que demarcam a língua falada da língua escrita, sem que esta possa se sobrepor àquela. O ideal é que o educador se paute por evidenciar que em determinadas situações de interlocução há um sistema que as rege, ora tido como convencional. Mas que a linguagem oral é constituída pelas suas próprias marcas. Para tanto, sugere-se como recurso didático o trabalho com dois enunciados linguísticos, nos quais o discurso se evidencia da seguinte forma: Tendo em vista que a letra “h”, no que tange a aspectos fonéticos, é destituída de som, há que se constatar que o trocadilho atribuído aos vocábulos demonstra alguma relevância. Logo, constata-se que independentemente de tais fatores a interlocução foi concretizada de forma plausível. Com base no segundo exemplo, a conclusão a que podemos chegar é que o termo “afrodisíaco” estaria adequado à mensagem que ora nos é transmitida. Entretanto, em termos sonoros, tal colocação se revela como pertinente, sem deixar de mencionarmos acerca de um detalhe singular, cuja ocorrência poderá permitir que o educador se “embrenhe” nos túneis da história. Assim, a título de esclarecimento, façamos a seguinte análise: A fror de zíaco – Neste caso, o enunciador decidiu optar por flor, visto que mediante a linguagem cotidiana, tal expressão poderia “soar” mal. Entretanto, torna-se passível 17 de mencionar que esta forma já fez parte do português arcaico, amplamente explorada nas cantigas trovadorescas, cuja ocorrência configurava o que chamamos de rotacismo (pronúncia que consiste na troca do l pelo r). Frente a tais elucidações, reforçamos nossos propósitos a partir das palavras expressas por André Martinet, em Elementos de linguística geral, e esperamos ter revelado nossa parcela de contribuição a respeito do assunto abordado. Estas, uma vez assim expressas: “A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico quando se baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princípios estéticos ou morais. Científico opõe-se a prescritivo. No caso da linguística, importa essencialmente insistir no caráter científico e não prescritivo do estudo: como o objeto desta ciência constitui uma atividade humana, é grande a tentação de abandonar o domínio da observação imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que deve dizer –se.” Por Vânia Duarte Graduada em Letras Equipe Brasil Escola 6 - O QUE ENSINAR EM LÍNGUA PORTUGUESA O ensino atual da disciplina foca a prática no dia a dia e mescla atividades de fala, leitura e produção de textos desde cedo. Até os anos 1970, o processo de aprendizagem da Língua Portuguesa era comparado a um foguete em dois estágios, como bem pontuam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). O primeiro ia até a criança ser alfabetizada, aprendendo o sistema de escrita. Já o seguinte começaria quando ela tivesse o domínio básico dessa 18 habilidade e seria convidada a produzir textos, notar as normas gramaticais e ler produções clássicas. PRODUÇÃO E REFLEXÃO (à esq.) Nas situações práticas da análise e construção de textos, os estudantes sistematizam regras. LEITURA DIÁRIA (à dir.) Ao ler gêneros e autores diversos, a turma passa a reconhecer as características das obras A partir dos anos 1980, o ensino não é mais visto como uma sucessão de etapas, e sim um processo contínuo. "O aluno precisa entrar em contato com dificuldades progressivas do conteúdo. Desse modo, desenvolve competências e habilidades diferentes ao longo dos anos", diz Maria Teresa Tedesco, professora do Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). As situações didáticas essenciais para o Ensino Fundamental passaram a ser: ler e ouvir a leitura do docente, escrever, produzir textos oralmente para um educador escriba (quando o aluno ainda nãocompreende o sistema) e fazer atividades para desenvolver a linguagem oral, além de enfrentar situações de análise e reflexão sobre a língua e a sistematização de suas características e normas. Essa nova concepção apresentava inúmeras diferenças em relação a perspectivas anteriores. Desde o século 19 até meados dos 20, a linguagem era tida como uma expressão do pensamento. Ler e escrever bem eram uma consequência do pensar e as propostas dos professores se baseavam na discussão sobre as características descritivas e normativas da língua. "O objeto de ensino não precisava ser a linguagem", explica Kátia Lomba Bräkling, coautora dos PCNs e professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, em São Paulo. 19 Os primeiros anos da disciplina deveriam garantir a aprendizagem da escrita, considerada um código de transcrição da fala. Dois tipos de método de alfabetização reinaram por anos: os sintéticos e os analíticos. Os primeiros começavam da parte e iam para o todo, mostrando pequenas partes das palavras, como as letras e as sílabas, para, então, formar sentenças. Compõem o grupo os métodos alfabético, fônico e silábico. Já os analíticos propunham começar no sentido oposto, o que garantiria uma visão mais ampliada do aluno sobre aquilo que estava no papel, facilitando o seu entendimento. Pelo modelo, o ensino partia das frases e palavras, decompostas em sílabas ou letras. "Nesses métodos, o essencial era o treinamento da capacidade de identificar, suprimir, agregar ou comparar fonemas. Feito isso, estaria formado um leitor", explica Maria do Rosário Longo Mortatti, coordenadora do grupo de pesquisa em História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Marília. Aqueles que já dominavam essa primeira etapa de aprendizagem passavam para a seguinte. Na escrita, os alunos deveriam reproduzir modelos de textos consagrados da literatura e caprichar no desenho do formato das letras. Para fazer uma leitura de qualidade, o estudante tinha como tarefa compreender o que o autor quis dizer - sem interpretar ou encontrar outros sentidos. As aulas focavam os aspectos normativos e descritivos da língua e textos não literários - como o acadêmico e o jornalístico - não eram estudados. "O coloquial ou informal eram considerados inadequados para ser trabalhados em sala de aula", explica Egon de Oliveira Rangel, professor do Departamento de Linguística da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. 6.1 - Concepções de linguagem alteram modo de ensinar Na década de 1970, uma nova transformação conceitual mudou as práticas escolares. A linguagem deixou de ser entendida apenas como a expressão do pensamento para ser vista também como um instrumento de comunicação, envolvendo um interlocutor e uma mensagem que precisa ser compreendida. Todos os gêneros passaram a ser vistos como importantes instrumentos de transmissão de 20 mensagens: o aluno precisaria aprender as características de cada um deles para reproduzi-los na escrita e também para identificá-los nos textos lidos. Ainda era essencial seguir um padrão preestabelecido, e qualquer anormalidade seria um ruído. Para contemplar a perspectiva, o acervo de obras estudadas acabou ampliado, já que o formato dos textos clássicos não servia de subsídio para a escrita de cartas, por exemplo. Em pouco tempo, no entanto, as correntes acadêmicas avançaram mais. Mikhail Bakhtin (1895-1975) apresentou uma nova concepção de linguagem, a enunciativo- discursiva, que considera o discurso uma prática social e uma forma de interação - tese que vigora até hoje. A relação interpessoal, o contexto de produção dos textos, as diferentes situações de comunicação, os gêneros, a interpretação e a intenção de quem o produz passaram a ser peças-chave. A expressão não era mais vista como uma representação da realidade, mas o resultado das intenções de quem a produziu e o impacto que terá no receptor. O aluno passou a ser visto como sujeito ativo, e não um reprodutor de modelos, e atuante - em vez de ser passivo no momento de ler e escutar. 6.2 - Metodologias mais comuns no ensino de língua portuguesa As aulas de Língua Portuguesa, desde o século 19, foram marcadas pelos métodos de ensino de leitura e escrita nos anos iniciais de escolaridade e normativos nos anos seguintes. Foram as pesquisas dos últimos 30 anos que mudaram esse enfoque. Leia o perfil de cada fase. MÉTODOS SINTÉTICOS Foram predominantes no ensino da leitura desde meados do século 19. A escrita era vista como uma habilidade motora que requeria prática mecânica. Passada a alfabetização, os alunos deveriam aprender regras gramaticais. 21 Foco A alfabetização se inicia com o ensino de letras e sílabas e sua correspondência com os sons para a leitura de sentenças. Nas séries finais, só os clássicos são trabalhados, já que a intenção é ensinar a escrever usando a língua culta e a ler para conhecer modelos consagrados. Estratégia de ensino As técnicas de leitura adotadas desde cedo são a silábica, alfabética ou fônica. Os mais velhos copiam textos literários sem levar em conta o contexto e o interlocutor. MÉTODOS ANALÍTICOS Surgiram no fim do século 19, em contraposição aos sintéticos. A alfabetização segue como uma questão de treino e o enfoque dos anos seguintes voltado ao debate das normas. Foco A alfabetização parte do todo para o entendimento das sílabas e letras. Pouco muda nas técnicas para as séries finais do Ensino Fundamental. Estratégia de ensino Mostrar pequenos textos, sentenças ou palavras para, então, analisar suas partes constituintes e o funcionamento da língua. PROPOSTA CONSTRUTIVISTA Ganhou força na década de 1980, com as pesquisas psicogenéticas e didáticas e a concepção interacionista de linguagem. Foco O estudante deve refletir sobre o sistema de escrita, seus usos e suas funções. Os objetos de ensino são o sistema alfabético e os comportamentos leitores e escritores. Estratégia de ensino Leitura e escrita feitas pelo professor, produção de textos, leitura (individual e coletiva) dos próprios estudantes e reflexão sobre a língua. Textos 22 de diversos gêneros devem ser trabalhados desde o início da alfabetização até os anos finais. 7 - As contribuições de Piaget e Vygostsky Essas ideias ganharam suporte das pesquisas que têm em comum as concepções de aprendizagem socioconstrutivistas, que consideram o conhecimento como sendo elaborado pelo sujeito, e não só transmitido pelo mestre. Entre os principais pensadores estão Lev Vygostsky (1896-1934) - que mostrou a importância da interação social e das trocas de saberes entre as crianças - e Jean Piaget (1896- 1980) - pai da teoria construtivista. Nos anos 1980, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, autoras do livro Psicogênese da Língua Escrita, apresentaram resultados de suas pesquisas sobre a alfabetização, mostrando que o aluno constrói hipóteses sobre a escrita e também aprende ao reorganizar os dados que têm em sua mente. Em seguida, as pesquisas de didática da leitura e escrita produziram conhecimentos sobre o ensino e a aprendizagem desses conteúdos. Hoje, a tendência propõe que certas atividades sejam feitas diariamente com os alunos de todos os anos para desenvolver habilidades leitoras e escritoras. Entre elas, estão a leitura e escrita feita pelos próprios estudantes e pelo professor para a turma (enquanto eles não compreendem o sistema de escrita), as práticas de comunicação oral para aprender os gêneros do discurso e as atividades de análise e reflexão sobre a língua. A leitura, coletiva e individualmente, em voz alta ou baixa, precisa fazer parte do cotidiano na sala. "O mesmo acontece com a escrita, no convívio com diferentes gêneros e propostas diretivas do professor. O propósitomaior deve ser ver a linguagem como uma interação", explica Francisca Maciel, diretora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), em Belo Horizonte. O desenvolvimento da linguagem oral, por sua vez, apesar de ainda pouco priorizado na escola, precisa ser trabalhado com exposições sobre um conteúdo, debates e 23 argumentações, explanação sobre um tema lido ou leituras de poesias. "O importante é oferecer oportunidades de fala, mostrando a adequação da língua a cada situação social de comunicação oral". Por esse entendimento da leitura, da escrita e da oralidade, mudam os objetivos da Educação. "Considerar que o objeto de ensino se constrói tomando como referência as práticas de leitura e escrita supõe determinar um lugar importante para o que os leitores e escritores fazem, supõe conceber como conteúdos fundamentais do ensino os comportamentos do leitor, os comportamentos do escritor", diz Delia Lerner no livro Ler e Escrever na Escola, O Real, o Possível e o Necessário. Para que a aprendizagem seja efetiva, a intenção do educador deve ser a de extrapolar as situações de escrita puramente escolares e remeter às práticas sociais. Dessa forma, possibilita-se aos alunos o contato com gêneros que existem na vida real - e não propor a elaboração de redações escolares sem contexto. "A proficiência do aluno requer a aprendizagem não apenas dos conteúdos gramaticais mas também dos discursivos", diz Kátia. 24 8 - 8 MITOS SOBRE ALFABETIZAÇÃO Wellington Soares, Patrick Cassimiro e Laís Semis Alfabetização é um dos temas mais polêmicos da Educação - no Brasil e no mundo. É um caso clássico de como brigas teóricas se refletem nas salas de aula. Nos Estados Unidos, por exemplo, são famosas as Reading Wars (Guerras da leitura, em tradução livre), disputas entre pensadores para determinar qual seria a melhor maneira de alfabetizar. No Brasil, vivemos algo parecido, na briga entre os métodos fônicos - baseados na decodificação - e a abordagem construtivista. "Durante décadas, ficamos discutindo qual é o melhor método para alfabetizar. Não se trata do método", diz Magda Soares, uma das maiores autoridades no assunto. Magda, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), tentou emergir nesse cenário como uma apaziguadora. "Trata-se de envergar a vara na direção que me parece cientificamente correta", afirma. Sua perspectiva tenta conciliar a reflexão sobre o sistema alfabético, propondo que as crianças passem por momentos para aprender as relações entre letras e sons, com a inserção dos alunos no mundo letrado, a que ela chama de letramento. A visão da especialista não vem sem polêmicas: o grupo de pesquisadores que defende essa linha ainda vive em debates com os outros especialistas. Há dez anos, Magda coordena o Núcleo de Alfabetização e Letramento no município de Lagoa Santa, a 35 quilômetros de Belo Horizonte. Ali, ela atua diretamente com a formação dos professores que trabalham na rede. Parte da prática está registrada em uma série de vídeos produzida pela Atta Mídia e Educação com financiamento da Fundação Lemann - mantenedora de NOVA ESCOLA -, e que agora está disponível em bit.ly/Alfaletrar. 25 A seguir, esclarecemos oito mitos sobre alfabetização que são desconstruídos na série de vídeo e podem atrapalhar os professores - qualquer que seja a abordagem que ele prefira seguir. Mais abaixo, Magda fala sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a presença do ensino da escrita na Educação Infantil. 1. As crianças não devem acessar livros até que aprendam a ler Não é porque os pequenos não dominam a leitura que não devam ter acesso a livros desde cedo. "Muitos professores sonegam o livro às crianças. Mas é importante que elas estejam expostas a um ambiente alfabetizador", avalia. Magda diz que o coração do projeto que coordena em Lagoa Santa são as bibliotecas infantis. Mais do que tarefas mecânicas, de cópia e repetição de sílabas, é necessário que os alunos reflitam sobre o sistema de escrita com base em textos que são atraentes para eles, como parlendas, jogos e também livros infantis. 2. O alfabetizador não precisa de conhecimentos específicos Alfabetizar exige conhecimentos específicos sobre o processo e também sensibilidade sobre os avanços e as dificuldades da criança para saber como aplicá- los. "Se o papel do professor é orientar o aluno para que ele se aproprie de um objeto, o educador tem de saber como este se dá não só em termos de conteúdo mas do processo. Isso exige conhecimentos de várias ciências, como a Psicologia, a Linguística e a Pedagogia", afirma Magda. Parte desses conceitos são ensinados durante a formação inicial, mas eles por si sós não são suficientes. A maioria dos conhecimentos mais atuais demora para chegar às universidades e mais ainda às salas de aula. O alfabetizador deve buscar novas fontes de conhecimento vindos de fontes teóricas e, sobretudo, refletir sobre a própria prática. 26 3. Só existe um método eficiente de alfabetização Não há evidências de que haja uma única maneira para ensinar leitura e escrita. Mais importante do que pensar em uma sequência de atividades fixa para seguir é dominar as fundamentações teóricas e saber traduzi-las em uma prática adequada à realidade da sua turma. "Cada abordagem de alfabetização tem seu pedacinho de verdade, mas nenhuma delas contém a verdade absoluta. Toda a verdade está no processo e no professor que alfabetiza, entendendo com clareza o processo e sabendo orientá-lo", explica Magda. 4. Todas as crianças passam pelas mesmas fases O desenvolvimento de cada criança é único e é exatamente por isso que o professor precisa de sensibilidade no olhar e boa formação para entender o que acontece com o aluno. "Eles passam fases bem definidas de aprendizagem, mas isso não significa que todos percorram todas as fases de maneira uniforme. O processo é dinâmico, ocorrem saltos e as crianças estão sempre em transição entre fases", considera a especialista. Não dá para esperar que uma mesma atividade faça com que todos os alunos saiam de uma hipótese de escrita e cheguem a outra. Por isso, é necessário fazer diagnósticos e replanejar constantemente. 5. As crianças aprendem a ler e a escrever sozinhas Apenas dar oportunidade para que a criança, por ela mesma, descubra o sistema de escrita não é suficiente para que ela o compreenda e aprenda como utilizá-lo. "As pessoas não se dão conta de como é difícil para uma criança aprender um sistema de representação tão abstrato e complexo como o alfabético", diz a especialista. Elas constroem o conhecimento sobre a língua escrita à medida que convivem com ela - em livros, mas também em outros conteúdos, como listas de nomes da sala, placas e sinais na escola e na cidade, e assim por diante - e são orientadas nesse processo. 27 6. As crianças só devem escrever depois que dominarem o sistema alfabético O ideal é que as crianças explorem a escrita livremente e, com base nisso, o professor diagnostique a hipótese de escrita e planeje seu trabalho. Elas também podem refletir sobre os contextos em que a escrita é utilizada mesmo antes de estarem plenamente alfabetizadas. "Os textos trabalhados em sala não podem ser produzidos artificialmente - aquela coisa antiga do 'Eva viu a uva' - só para aprender a ler", considera Magda. 7. Deve-se corrigir os alunos sempre que escreverem errado É preciso fazer intervenções de acordo com as hipóteses de apropriação do sistema de escrita de cada aluno e incentivar a reflexão de cada estudante sobre suas próprias respostas, mas sempre respeitando o processo de desenvolvimento da criança e considerando todo seu percurso. "É preciso ajudara ver quais hipóteses que ela faz não funcionam, como ela avança e como as reestrutura", diz Magda. Os erros precisam ser corrigidos de acordo com a apropriação do objeto de conhecimento - o que significa que eles nem sempre serão corrigidos no momento em que ocorrem. 8. Relacionar letras e desenhos ajuda a memorizar o alfabeto Muitos livros com alfabeto ou mesmo alfabetos de parede em sala trazem letras que fazem referências a objetos e animais. O "S" é transformado numa serpente, o "B" vira uma borboleta e o "O" um ovo. "As crianças devem perceber que escrever e desenhar são coisas diferentes. O salto desse desenvolvimento é elas descobrirem que se escreve os sons da palavra e não aquilo que ela representa", pontua Magda. Forçar uma relação entre as formas dos desenhos e as letras atrapalha a descoberta. Os alfabetos podem até conter referências de animais e outras palavras - como os nomes dos alunos - desde que sejam escritos com a letra que ilustram. 9 - REFLETINDO SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Leia livros sobre este assunto! A gramática é de difícil compreensão por ser de forma muito padronizada, dessa maneira, a aula deixa de estar no papel apenas como um conteúdo que deve ser aplicado passando para o campo do aproveitamento 28 intelectual do aluno. O professor como transmissor de conhecimentos deve trazer o ensino da língua como forma de contextualização e não apenas como parte de um conteúdo pré-estabelecido, pois de nenhuma forma pode se deixar de ensinar a gramática. O professor administra a disciplina de Língua Portuguesa diferenciando-o das demais envolvendo os conteúdos em abordagens mais diretas, dando ênfase a vida do aluno, pois em tudo está exposto o domínio das idéias mostrando para o aluno que ele é capaz e não um indivíduo incapacitado no que compete regras. Analisar a importância do ensino da língua nas escolas verificando em algumas circunstâncias como o mesmo é passado em sala de aula. Observamos em muitas escolas ainda sendo passado de forma presa, prontas e acabadas que é facilmente encontradas nos livros didáticos. Dessa forma, a aula fica monótona, chata e sem sentido deve ser aplicado para o campo do aproveitamento intelectual do aluno analisando a importância do ensino da linguagem e da gramática na escola, verificando em algumas circunstâncias como é passado de forma errônea em sala de aula. Segundo Sírio Possenti no texto por que (não ensinar gramática na escola), ele faz uma critica com relação ao ensino da linguagem materna nas escolas brasileiras, ou seja, a gramática é passada para os alunos de uma forma muito fragmentada. “A função da escola é permitir aos alunos o domínio da língua padrão em especial em sua modalidade escrita.” (p. 110). Pode-se observar uma grande distância do ensino da gramática para com a realidade de alguns alunos, propiciando ao educando o diálogo com a própria realidade e o mundo a sua volta. Assim, como se pode ensinar regras e mais regras relacionadas a concordâncias verbais ou a escrita, se encontrarmos em nossa realidade alunos que nem sempre sabem o básico verbalmente. Conforme Possenti, (1996) “Sou completamente contrário a um discurso que circulou durante alguns anos, é verdade que é um domínio relativamente restrito que defendia com alguma coerência e outro tanto de equivoco a seguinte proposta: Já que a Língua padrão é um dialeto do grupo de elite de um país, ensiná-la a população socialmente marginalizada como única modalidade escolar aceitável poderia significar uma espécie de violência cultural, de violência ideológica, de forma de desvalorização e destruição da cultura e da ideologia popular.” (p. 110). De acordo com o autor isso é considerado como uma violência cultural e ideológica. Diante dessa idéia se pode fazer uma ponte do Português com a Linguística e falarmos da variação linguística em sala de aula, se a sociedade cobra o tempo todo, uma língua padrão gramaticalmente correto e as pessoas que não se enquadram nessa categoria são 29 consideradas marginalizadas ou pessoas de pouco poder aquisitivo, portanto, afirma Possenti que o indivíduo não aprende por exercício, mais através de práticas significativas, ou seja, o professor deve trabalhar gramática inserida a um contexto e não de forma solta, por mera obrigação em está centralizado em regaras e mais regras. Autor: Rojane da Silva Carvalho Visite: REFLETINDO SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 30 BIBLIOGRAFIA Alfabetização e Letramento, Magda Soares, 128 págs., Ed. Contexto, tel. (11) 3832-5838, 25 reais Emilia Ferreiro e a Alfabetização no Brasil: um Estudo Sobre a Psicogênese da Língua Escrita, Márcia Cristina de Oliveira Mello, 136 págs., Ed. Unesp, tel. (11) 3242-7171, 22 reais Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 36 reais Psicogênese da Língua Escrita, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, 300 págs., Ed. Artmed, 52 reais Os Sentidos da Alfabetização, Maria do Rosário Mortatti, 370 págs., Ed. UNESP, tel. (11) 3242-7171, 47 reais Educação e letramento, Maria do Rosário Mortatti, 134 págs., Ed. UNESP, tel. (11) 3242-7171, 15 reais Fonte: PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Record, 2001. ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro &interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. ARROYO, Miguel G. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BAKHTIN / VOLOSHINOV. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981. MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, Acir Mário; GAYDECKA Beatriz et al. (orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. Palmas e Uniãop da Vitória, PR, 2004. KRAMER, Márcia Adriana Dias. Ensino gramatical de língua materna: uma arena de conflitos. Revista Letra Magna (revista eletrônica). Ano 3. N. 4. 1 de Setembro de 2006. KRAMER, Sonia. Por entre pedras: arma e sonho na escola. São Paulo: Ática, 2003. LIMA, Elvira Souza. A construção de conhecimento na Escola: Pontos para reflexão. In: Alfabetização: passado, presente e futuro. São Paulo: Série idéias, 1993. – Maria Leila Alves (Coord. Geral) PAZINI, Maria Celi Beraldo. Oficina de texto: teoria e prática. In: Proleitura, UNESP/ UEM?UEL, ano 5, nº19, abril/1998. PIVOVAR, Altair. Leitura e escrita: a captura de um objeto de ensino. Curitiba, 1999. Dissertação de mestrado – UFPR. PIVOVAR, Altair. O parlamento das gralhas. Educar, Curitiba, n.20, p. 87 – 105, 2002. Editora UFPR. POSSENTI, Sírio. 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