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DIREITO DO CONSUMIDOR BANCO DE DADOS E CADASTROS DOS CONSUMIDORES

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DIREITO DO CONSUMIDOR – BANCO DE DADOS E CADASTROS DOS CONSUMIDORES
BANCO DE DADOS E CADASTROS DOS CONSUMIDORES O Código de Defesa do Consumidor (CDC) aborda essa questão a partir do artigo 43, e os fornecedores fazem amplo uso desses bancos de dados e cadastros. O artigo 43 do CDC estabelece que:
Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.
Este é um direito subjetivo do consumidor, que pode exigir o acesso às informações que existem sobre ele, incluindo as respectivas fontes. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Resp 1.758.799, destacou que as informações sobre o perfil do consumidor, mesmo aquelas de cunho pessoal, ganharam valor econômico no mercado de consumo. Portanto, os bancos de dados representam um serviço de grande utilidade, tanto para os fornecedores quanto para os consumidores, mas ao mesmo tempo, essa atividade pode potencialmente violar os direitos de personalidade do consumidor.
Vamos considerar dois enunciados das Jornadas de Direito Civil que estão relacionados a essa questão, além da conexão com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Esses dois enunciados foram aprovados sequencialmente:
Enunciado 404 das Jornadas de Direito Civil enfatiza: "A tutela da privacidade da pessoa humana compreende os controles espacial, contextual e temporal dos próprios dados, sendo necessário o seu expresso consentimento para o tratamento de informações que versem especialmente sobre o estado de saúde, a condição sexual, a origem racial ou étnica, as convicções religiosas, filosóficas e políticas."
Enunciado 405 das Jornadas de Direito Civil destaca: "As informações genéticas fazem parte da vida privada e não podem ser utilizadas para fins diversos daqueles que motivaram o seu armazenamento, registro ou uso, salvo com autorização do titular."
A LGPD baseia-se na necessidade de obtenção de consentimento expresso e específico para o tratamento de dados, particularmente os chamados dados sensíveis, conforme mencionados no enunciado 404, que abordam o estado de saúde, a condição sexual, a origem racial ou étnica, as convicções religiosas, filosóficas e políticas.
Em relação ao enunciado 405, a LGPD estabelece que as informações dos consumidores, e mesmo fora do contexto do direito do consumidor, não podem ser usadas para fins diferentes daqueles que justificaram o seu armazenamento.
Então, os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores são entidades de caráter público ou privado? A interpretação comum levaria a considerá-los como entidades privadas. No entanto, o CDC, no artigo 43, parágrafo 4º, os classifica como entidades públicas. Esses bancos de dados e cadastros relacionados a consumidores, bem como os serviços de proteção ao crédito e similares, são considerados entidades de caráter público, conforme previsto no CDC. Além disso, na doutrina, eles são denominados de "fornecedores equiparados", o que significa que atuam na relação de consumo como se fossem fornecedores, daí o termo "terceiros equiparados".
1.1. Período de retenção de informações no banco de dados O CDC estabelece explicitamente um limite temporal de cinco anos, após o qual se torna ilegal manter esses registros. O artigo 43, parágrafo 1º, do CDC prevê:
§ 1º Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos.
Houve uma controvérsia na jurisprudência sobre o início desse prazo, que poderia começar na data da efetiva inscrição no cadastro negativo ou no dia seguinte ao vencimento da dívida. A segunda opção, que começa a contar a partir do dia seguinte ao vencimento da dívida, é mais favorável ao consumidor. Isso ocorre porque o nome pode permanecer por mais tempo nos cadastros negativos se o prazo começar a contar a partir da data de inscrição, o que poderia ser posterior ao vencimento da dívida.
O Superior Tribunal de Justiça seguiu a posição mais favorável ao consumidor, de modo que o prazo deve ser contado a partir do dia seguinte ao vencimento da dívida. Esta foi a abordagem adotada, por exemplo, no Resp 1.316.117. Portanto, o consumidor não deve ser prejudicado se houver um longo período entre o vencimento da dívida e a inscrição no cadastro, uma vez que os cinco anos já estarão em contagem, e a inscrição posterior reduzirá esse prazo.
1.2. Dever de notificação por escrito e indenização na ausência É essencial que a inclusão do nome do consumidor nos cadastros de proteção ao crédito seja comunicada por escrito ao consumidor. Caso contrário, o fornecedor tem o dever de indenizar. Não basta que a inscrição seja objetiva, clara, verdadeira e em linguagem de fácil compreensão, além de não exceder cinco anos a partir do dia seguinte ao vencimento da dívida. O artigo 43, parágrafo 2º do CDC estabelece:
§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.
Isso se aplica inclusive aos registros de cadastro negativo em órgãos como o Serasa, por exemplo. O não cumprimento desse dever de notificação por escrito gera indenização. Se o órgão mantenedor do cadastro enviar a notificação para o endereço errado, mas já houver comunicação anterior sobre a mudança de domicílio, também poderá haver obrigação de indenizar, como no caso Resp 1.620.394.
1.2.1. Dever de comunicação O STJ consolidou o entendimento de que o dever de comunicar ao consumidor é da empresa que mantém o cadastro. Portanto, apenas os órgãos responsáveis pela manutenção dos registros de proteção ao crédito são partes legítimas em ações que buscam a exclusão do nome do consumidor desses registros devido à ilegalidade da inscrição, em virtude do não cumprimento da obrigação de notificar previamente por escrito. A súmula 359 do STJ afirma que cabe ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição.
A) Aviso de Recebimento Não é necessário que a comunicação por escrito seja realizada por meio de aviso de recebimento. O STJ dispensou o aviso de recebimento nas comunicações ao consumidor, informando que seu nome foi inserido em cadastros de proteção ao crédito. O dever estabelecido no artigo 43, parágrafo 2º, considera-se cumprido quando o órgão mantenedor do cadastro envia a correspondência para o endereço do consumidor, bastando a prova de que a comunicação foi enviada. Isso também é confirmado pela súmula 404 do STJ, que estabelece que o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros é dispensável.
B) Comunicação ao Consumidor é Necessária em Caso de Reprodução de Dados Públicos? O STJ determinou que, nesses casos, o banco de cadastro negativo está isento de notificar o consumidor previamente por escrito. Se as informações já constam em cartórios de protesto de título ou em bancos de dados públicos, por exemplo, a notificação prévia ao consumidor não é necessária. O STJ decidiu que a comunicação prévia ao consumidor, conforme prevista no artigo 43, parágrafo 2º, do CDC, não é necessária nos casos em que o mantenedor do cadastro simplesmente reproduz informações de domínio público. Isso foi estabelecido no AgRg no REsp 102.12.34.
As duas turmas do STJ que julgam questões de consumo têm decisões que corroboram esse entendimento. Por exemplo, já foi decidido que a inscrição realizada com base em dados obtidos em cartórios de protesto de título, sem notificação prévia ao consumidor, não gera dano moral. De maneira similar, foi decidido que, diante da presunção legal de veracidade e publicidade inerentes aos registros de cartório de protesto, a reprodução objetiva, fiel e atualizada desses dados na base de órgãos de proteção ao crédito, mesmo sem o conhecimento do consumidor, não resulta em direito aindenização. Além dos cartórios de protesto, a mesma lógica se aplica aos cartórios de registro de distribuição judicial.
1.2.2. Dever de Notificar o Pagamento da Dívida Diariamente, muitas pessoas com seus nomes inscritos em cadastros de proteção ao crédito pagam suas dívidas. Quem é responsável por comunicar essa quitação ao banco de dados do cadastro negativo? O STJ entende que é dever do credor notificar o banco de dados de cadastro negativo no prazo de cinco dias, a partir do efetivo pagamento, solicitando a remoção do nome do consumidor. Caso o credor não cumpra esse dever, pode ser obrigado a pagar indenização. A inércia do credor em apontar o pagamento gera o dever de indenizar, sob a forma de dano presumido, conforme estabelecido no Resp 1.149.998.
Dano presumido significa que o dano é evidente, e nesses casos, o consumidor não precisa provar um prejuízo concreto. A súmula 548 do STJ também estabelece que cabe ao credor a exclusão do registro da dívida no nome do devedor no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do pagamento integral e efetivo da dívida.
O STJ confirmou posteriormente que, de acordo com as regras do CDC, mesmo em uma inscrição regular do nome do devedor em cadastros de proteção ao crédito após o pagamento integral da dívida, cabe ao credor solicitar a exclusão do registro no prazo de cinco dias úteis, a partir do primeiro dia útil após a quitação da dívida. Nesses casos, o dano é presumido, e o consumidor tem direito à indenização, não necessitando comprovar prejuízo específico. A jurisprudência considera a prova satisfeita com a demonstração da inscrição devida.
1.3. Dano Moral com Inscrição (Lícita) Anterior É comum ocorrer uma situação em que alguém tem seu nome incluído em um cadastro restritivo de crédito de forma irregular em um determinado momento, mas seu nome já estava inscrito por outra dívida anterior que seguiu o procedimento legal. Nesse caso, o consumidor tem direito à indenização pela segunda inclusão indevida?
Essa questão é controversa, mas, em geral, a jurisprudência brasileira entende que não cabe indenização, uma vez que o nome já estava inscrito por uma dívida anterior. A súmula 385 aborda essa questão, afirmando que o consumidor tem o direito de cancelar a segunda inclusão indevida, mas não o direito à indenização.
No entanto, após essa súmula, houve decisões judiciais que flexibilizaram essa orientação. Em casos excepcionais, quando há elementos suficientes para demonstrar a verossimilhança das alegações do consumidor, o dano moral devido à inclusão indevida em cadastro restritivo de crédito é possível mesmo com uma inscrição preexistente. Esta flexibilização foi estabelecida no Resp 1.704.002.
Neste sentido, o consumidor deve estar ciente de que, em algumas circunstâncias, mesmo com uma inscrição anterior, poderá ser concedida indenização por dano moral em casos de inclusão indevida em cadastros restritivos de crédito.
Responsabilidade Civil
A responsabilidade civil, em sua forma clássica e tradicional, é estabelecida nos artigos 186 e 927 do Código Civil. Esses artigos determinam que:
Art. 186: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Para entender a responsabilidade civil subjetiva, que exige a comprovação de culpa, é necessário observar os quatro elementos ou pressupostos:
1. Ação ou omissão
2. Causação de dano
3. Nexo causal entre o dano e a ação ou omissão
4. **Prova da culpa em casos de responsabilidade subjetiva, como estabelecido no artigo 14, § 4º do CDC.
Quando falamos de responsabilidade civil subjetiva, referimo-nos à culpa, que pode ser estrita (negligência, imperícia e imprudência) ou dolo (intenção de causar o dano). As modalidades de culpa estrita são:
1. Negligência: por exemplo, alguém míope dirigindo sem óculos e causando um acidente.
2. Imperícia: como uma pessoa com a carteira de motorista vencida dirigindo e causando um acidente.
3. Imprudência: por exemplo, alguém dirigindo a 120km/h em uma via com limite de 60km/h e causando um acidente.
É importante destacar que, para a responsabilidade civil, é necessário que haja um dano. Existem visões minoritárias que discordam disso, mas, em geral, o dano é um elemento essencial.
O grau de culpa não influencia o valor da indenização, exceto em casos excepcionais. A regra é que a indenização seja proporcional à extensão do dano, como estabelecido no artigo 944 do Código Civil. No entanto, há exceções, como o parágrafo único desse mesmo artigo, que permite ao juiz reduzir equitativamente a indenização se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano.
A opção preferencial deve ser pela tutela preventiva, evitando que o dano ocorra ou que suas consequências se prolonguem. Assim, além de buscar indenizações, é possível buscar medidas específicas para garantir o direito violado.
É fundamental notar que o nexo causal é um dos aspectos mais desafiadores da responsabilidade civil. As excludentes de responsabilidade civil atuam quebrando o nexo causal entre a ação/omissão e o dano. No entanto, o nexo causal é complexo, especialmente em omissões. É importante ressaltar que o Brasil adota a teoria do dano direto e imediato, mas as interpretações desse conceito podem variar.
A responsabilidade civil, que costumava se basear principalmente na culpa, evoluiu para incluir situações em que a culpa não é necessária, como nas relações de consumo. Além disso, o valor da indenização por dano moral pode ser revisado pelo STJ, mas apenas quando é irrisório ou exorbitante. Para tal, é necessária uma análise minuciosa dos fatos do caso.
Portanto, a responsabilidade civil não depende apenas da culpa, mas envolve a análise do nexo causal e do dano, o que é complexo e pode variar dependendo do contexto legal e das circunstâncias específicas do caso.
NOVAS FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil é um campo do Direito que evolui de acordo com as mudanças sociais, incluindo as transformações comportamentais e tecnológicas que impactam profundamente sua natureza. Como se costuma dizer, "as grandes revoluções da responsabilidade civil ocorreram no silêncio da lei", ou seja, muitas das mudanças não decorrem de alterações legislativas, mas sim de desenvolvimentos na doutrina e jurisprudência.
A tendência atual é reconhecer uma multifuncionalidade na responsabilidade civil, em vez de uma única função como era no passado. Essa abordagem multifuncional se estende a várias nações, como evidenciado por um julgado significativo da Suprema Corte italiana. Além da função reparatória clássica, a responsabilidade civil agora abrange funções dissuasórias (para evitar infrações) e punitivas. Embora essa tendência seja predominante nos países ocidentais, não existe uma disposição legislativa específica para a função punitiva no Brasil. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) brasileiro reconhece, na prática, a função punitiva da responsabilidade civil, conforme atestado por numerosos acórdãos.
No contexto do dano moral, o STJ aceita que ele desempenha três funções: compensatória, sancionatória e dissuasória (ou preventiva). Isso se aplica tanto ao dano moral coletivo quanto ao dano moral individual, e o dano nesses casos é considerado presumido (in re ipsa), não dependendo da comprovação de prejuízo específico. Em outras palavras, o dano moral não é irreparável, mas sim compensado, mesmo que não possa ser quantificado de maneira matemática precisa. A natureza do dano moral é a lesão a um interesse existencial merecedor de proteção.
Embora casos extremos de dano moral sejam relativamente fáceis de identificar, a complexidade reside na quantificação desse dano. É essencial distinguir entre lesões existenciais merecedoras de indenização e meros aborrecimentos cotidianos. A jurisprudência brasileira tem passado por diferentes fases paradefinir e quantificar o dano moral, seja enfatizando a humilhação e o sofrimento interno, a lesão aos direitos de personalidade ou o dano a interesses existenciais concretamente merecedores de tutela. A abordagem mais atual tende a focar na terceira fase, que se baseia em critérios objetivos e distingue o dano moral da dor ou humilhação.
Essa multifuncionalidade na responsabilidade civil e a evolução na compreensão do dano moral refletem a capacidade do sistema jurídico de se adaptar às mudanças sociais e tecnológicas, buscando fornecer reparação adequada para as vítimas e, ao mesmo tempo, punir condutas ilícitas e prevenir futuras infrações.
A RESPONSABILIDADE CIVIL EM EVOLUÇÃO
A responsabilidade civil é um campo do Direito que está em constante evolução, adaptando-se às mudanças sociais, comportamentais, tecnológicas e culturais. Esta evolução é especialmente notável no século XXI, que tem testemunhado uma transformação significativa no conceito e nas funções da responsabilidade civil.
A responsabilidade civil, ao longo da história, passou por revoluções silenciosas, muitas vezes desencadeadas não por mudanças legislativas, mas pela doutrina e jurisprudência. Essas transformações refletem a complexidade das sociedades contemporâneas e a necessidade de abordar questões legais de maneira mais abrangente.
Atualmente, a responsabilidade civil não se limita mais a uma única função. Além da função reparatória clássica, que busca compensar as vítimas por danos sofridos, novas funções emergiram. Isso é especialmente evidente em países ocidentais, onde a responsabilidade civil evoluiu para abranger funções dissuasórias e punitivas.
A função dissuasória visa evitar a ocorrência de infrações semelhantes no futuro, agindo como um desestímulo para comportamentos prejudiciais. Além disso, a função punitiva tem ganhado aceitação, embora não seja sempre respaldada por legislação em todos os países. No Brasil, por exemplo, não há previsão legislativa para a função punitiva na responsabilidade civil. No entanto, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aceita a função punitiva, e muitos acórdãos demonstram isso.
No contexto do dano moral, o STJ reconheceu três funções: compensar, sancionar e inibir. Essas funções se aplicam tanto ao dano moral individual quanto ao coletivo. O dano moral é muitas vezes presumido (in re ipsa) e independe de prova de prejuízo específico. Portanto, a indenização por danos morais busca compensar a vítima, punir o autor da ação ilícita e prevenir futuras infrações.
A evolução da responsabilidade civil também abrange a transmissão do direito à indenização aos herdeiros da vítima. Isso significa que, em caso de falecimento do titular do direito, seus herdeiros podem continuar a ação de indenização. A jurisprudência estabeleceu regras claras sobre quem pode propor ação de indenização em caso de morte de entes queridos. Os pais em relação aos filhos, cônjuges ou companheiros, irmãos e outros parentes podem ter legitimidade ativa, mas cada caso é analisado individualmente para determinar a proximidade dos vínculos.
A diferenciação entre dano moral e dano estético também evoluiu. O dano estético refere-se à lesão à integridade física da vítima e pode ser acumulado com o dano moral. No entanto, a linha entre esses tipos de danos é muitas vezes tênue, e a jurisprudência tem se esforçado para definir critérios objetivos para distingui-los.
Excludentes de responsabilidade civil, como o caso fortuito e a força maior, também são consideradas. Embora o CDC (Código de Defesa do Consumidor) não as mencione explicitamente como excludentes, a jurisprudência e a doutrina têm aceitado seu uso em certas situações. Além disso, a culpa exclusiva da vítima e a culpa concorrente são consideradas excludentes de responsabilidade, embora o CDC não trate especificamente desse último ponto. No entanto, a jurisprudência aceita a redução proporcional do valor da indenização em casos de culpa concorrente, mesmo quando o CDC é silente sobre o assunto.
A evolução da responsabilidade civil é um reflexo da necessidade de adaptar o Direito às complexidades da sociedade contemporânea. Essas mudanças refletem a multifuncionalidade da responsabilidade civil, a transmissão do direito à indenização aos herdeiros e a distinção entre diferentes tipos de danos. No entanto, é fundamental lembrar que a aplicação dessas mudanças varia de acordo com as leis e jurisprudências de cada país e deve ser analisada caso a caso.

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