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Indaial – 2021 Nutrição e exercício Físico Prof.ª Roseane Leandra da Rosa 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.ª Roseane Leandra da Rosa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: R788n Rosa, Roseane Leandra da Nutrição e exercício físico. / Roseane Leandra da Rosa – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 212 p.; il. ISBN 978-65-5663-727-3 ISBN Digital 978-65-5663-728-0 1. Esporte. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 610 ApreseNtAção Olá, acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Nutrição e Exercício Físico! Este livro didático tem como propósito auxiliar você no processo de aprendizagem da ciência da Nutrição na área do esporte, o que envolve diferentes conceitos e dinamismo. Este livro servirá como guia para você, futuro nutricionista, saber como proceder em um atendimento em consultório, clínica e academia com praticantes de exercício físico e atletas, adquirindo os conhecimentos necessários para diferenciar as necessidades de macronutrientes e micronutrientes a essa população, assim como verificar a composição corporal adequada à pratica esportiva realizada e prescrever desde cardápios personalizados até suplementos nutricionais. O livro está dividido em três unidades, cada qual com objetivos, conteúdos, atividades de estudo, dicas, sugestões e recomendações. Na primeira unidade será abordada uma breve introdução de nutrição no exercício e no esporte. Revisaremos a história da nutrição na área esportiva, assim como a importância do planejamento da alimentação no rendimento dos desportistas. Em seguida, discutiremos a fisiologia do exercício, como ocorrem as adaptações biológicas no organismo de um indivíduo em resposta ao treinamento e a importância dessas adaptações relacionadas ao mecanismo de aproveitamento dos nutrientes, assunto que nos direciona para o terceiro tema abordado na Unidade 1, os sistemas de produção de energia, os quais são relacionados à bioquímica dos macronutrientes, como e em quais momentos cada macronutriente é utilizado pela célula como fonte energética. Na segunda unidade, você aprofundará os conhecimentos referen- tes à avaliação da composição corporal de um atleta, as fórmulas e dobras mais adequadas, bem como identificará percentuais de gordura corporal mais adequados para determinadas modalidades esportivas. Posterior- mente, compreenderá como determinar as necessidades nutricionais dos desportistas nas diferentes modalidades que denotam diferentes objetivos, como a resistência e a força. Por fim, ainda na Unidade 2, poderá verificar a importância de uma correta hidratação durante a prática esportiva e quais os líquidos mais indicados para repor os micronutrientes perdidos no suor, assim como os que devem ser consumidos antes, durante e após a prática. Já na terceira unidade será possível compreender o que são recursos ergogênicos e suplementos alimentares, identificando dentro da legislação brasileira e diretrizes internacionais quais são os suplementos mais indicados para cada modalidade e como se faz o processo de análise de um indivíduo até a prescrição do suplemento. Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Também conhecerá, de maneira breve, a fitoterapia e suas nuances e possibilidades dentro da área esportiva. Por fim, identificará os inquéritos alimentares mais adequados à população que pratica exercícios físicos e como proceder com orientações específicas aos atletas e suas demandas específicas. Desejamos uma ótima leitura! Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO .................................................................. 1 TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA ............................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 O QUE É UM NUTRICIONISTA ESPORTIVO? ........................................................................... 4 2.1 IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO NO ESPORTE ...................................................................... 7 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 10 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 11 TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO ................................................................................. 15 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 15 2 ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO EXERCÍCIO .................................................................... 17 2.1 CLASSIFICAÇÕES DO EXERCÍCIO FÍSICO ........................................................................... 17 2.2 RESPOSTAS HORMONAIS NO EXERCÍCIO FÍSICO ........................................................... 20 2.3 INSULINA, GLUCAGON E EXERCÍCIO FÍSICO ................................................................... 22 2.4 HORMÔNIO DO CRESCIMENTO, CORTISOL E CATECOLAMINAS NO EXERCÍCIO FÍSICO ............................................................................................................. 23 2.5 TESTOSTERONA E EXERCÍCIO FÍSICO ................................................................................. 25 2.6 INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO FÍSICO SOBRE AS RESPOSTAS HORMONAIS INDUZIDAS PELO EXERCÍCIO ..................................................................... 26 3 SISTEMA IMUNE E EXERCÍCIO .................................................................................................26 4 EXCESSO DE TREINAMENTO (OVERTRAINING) .................................................................. 28 5 OVERTRAINING EM ATLETAS DE ENDURANCE E FORÇA................................................. 30 5.1 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃO DO OVERTRAINING ....................... 31 6 EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NA FUNÇÃO CARDIOVASCULAR ............................. 32 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 36 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 37 TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA ......................................................... 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 AS CÉLULAS ...................................................................................................................................... 39 3 METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES .......................................................................... 45 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 47 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 49 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 51 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 53 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE ........................................................................... 57 TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL .................................................................................... 59 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 59 2 VARIÁVEIS APLICADAS NA AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL ................ 59 2.1 DOBRAS CUTÂNEAS ................................................................................................................. 61 2.2 CIRCUNFERÊNCIA OU PERÍMETRO ..................................................................................... 64 2.3 BIOIMPEDÂNCIA ........................................................................................................................ 66 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL EM PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO E ATLETAS ........................................................................................................................... 68 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 74 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 75 TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE ............................................. 79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 79 2 ATENDIMENTO NUTRICIONAL ................................................................................................. 80 3 CÁLCULOS DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS .............................................................. 84 4 RECOMENDAÇÃO PARA CONSUMO DE MACRONUTRIENTES .................................... 88 4.1 CARBOIDRATOS .......................................................................................................................... 89 4.2 PROTEÍNA..................................................................................................................................... 92 4.3 LIPÍDIOS ....................................................................................................................................... 94 4.4 PLANEJAMENTO ALIMENTAR (ANTES/DURANTE E APÓS AS REFEIÇÕES) ............ 95 4.4.1 Estratégias pré-competição ................................................................................................ 96 4.4.2 Estratégias durante competição ......................................................................................... 98 4.4.3 Estratégias pós-competição ................................................................................................ 98 4.5 MICRONUTRIENTES .................................................................................................................. 99 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 103 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 104 TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE ............................................................................... 107 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 107 2 INGESTÃO HÍDRICA .................................................................................................................... 107 2.1 UM POUQUINHO DA HISTÓRIA .......................................................................................... 109 2.2 COMPOSIÇÃO DO SUOR ........................................................................................................ 110 2.2.1 Taxa de suor ........................................................................................................................ 110 3 HIDRATAÇÃO ................................................................................................................................. 112 3.1 EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO .................................................................................... 112 3.2 DESEQUILÍBRIO ENTRE OS ELETRÓLITOS ........................................................................ 113 3.3 EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE ...................................................................................................... 113 4 ESVAZIAMENTO GÁSTRICO ..................................................................................................... 115 4.1 DENSIDADE ENERGÉTICA .................................................................................................... 115 4.2 INTENSIDADE E TIPO DO EXERCÍCIO ................................................................................ 115 4.3 TEMPERATURA DAS BEBIDAS E VOLUME INGERIDO .................................................. 116 4.4 TIPO DE CARBOIDRATO NOS REPOSITORES HIDROELETROLÍTICOS ..................... 116 5 ABSORÇÃO INTESTINAL ........................................................................................................... 116 5.1 TIPO E CONCENTRAÇÃO DE CARBOIDRATO ................................................................. 117 6 RECOMENDAÇÕES DE INGESTÃO DE FLUIDOS E ELETRÓLITOS .............................. 118 6.1 RESOLUÇÃO DE DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 18, DE 27 DE ABRIL DE 2010 .............................................................................................. 119 6.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE HIDRATAÇÃO E TIPO DE EXERCÍCIO ............................... 120 6.2.1 Hidratação em esportes de alta intensidade e curta duração ..................................... 120 6.2.2 Hidratação em corredores de meia distância ................................................................ 120 6.2.3 Hidratação para exercícios de longa distância .............................................................. 120 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 124 RESUMODO TÓPICO 3................................................................................................................... 127 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 128 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 130 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE ............... 137 TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS ................................................................................. 139 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 139 2 INTRODUÇÃO À SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR .......................................................... 140 3 LEGISLAÇÃO DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES ......................................................... 143 3.1 DIRETRIZES E POSICIONAMENTOS .................................................................................... 148 3.1.1 Declaração de Consenso da Associação Internacional das Federações de Atletismo 2019 ................................................................................... 149 3.1.2 Declaração de consenso do Comitê Olímpico Internacional (COI): suplementos alimentares e atleta de alto desempenho ................................................ 149 3.1.3 Autoridade brasileira de controle de dopagem ............................................................. 150 4 SUPLEMENTOS ALIMENTARES MAIS USADOS E SUA COMPOSIÇÃO ..................... 151 4.1 AMINOÁCIDOS DE CADEIA RAMIFICADA ...................................................................... 151 4.2 WHEY PROTEIN ......................................................................................................................... 152 4.3 ARGININA ................................................................................................................................. 152 4.4 ALANINA .................................................................................................................................... 153 4.5 HMB .............................................................................................................................................. 153 4.6 CREATINA .................................................................................................................................. 154 4.7 CAFEÍNA ..................................................................................................................................... 155 4.8 BICARBONATO DE SÓDIO ..................................................................................................... 156 5 VITAMINAS E MINERAIS ........................................................................................................... 157 6 ESCOLHA DO SUPLEMENTO ALIMENTAR .......................................................................... 159 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 163 TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA .................................................................................................. 165 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 165 2 SUPLEMENTOS ALIMENTARES PARA EXERCÍCIO DE RESISTÊNCIA ........................ 167 2.1 SUPLEMENTOS ALIMENTARES EFICAZES E APARENTEMENTE SEGUROS, COM FORTES EVIDÊNCIAS, DE ACORDO COM A SOCIEDADE INTERNACIONAL DE NUTRIÇÃO ESPORTIVA ....................................... 167 2.2 SUPLEMENTOS COM EVIDÊNCIA LIMITADA OU MISTA PARA APOIAR A EFICÁCIA ................................................................................................................................ 173 3 EFICÁCIA DO AUXÍLIO ERGOGÊNICO DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES NOS EXERCÍCIOS DE FORÇA .................................................................................................... 176 3.1 SUPLEMENTOS PARA HIPERTROFIA MUSCULAR ......................................................... 178 3.1.1 Fortes evidências para apoiar a eficácia e aparentemente seguro .............................. 178 3.1.2 Evidência limitada ou mista para apoiar a eficácia ...................................................... 181 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 184 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 185 TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS ............................................................................................................ 187 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 187 2 FITOTERAPIA NO ESPORTE ...................................................................................................... 187 3 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA EVITAR DISTÚRBIOS GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO ............................................................... 192 3.1 CAUSAS DOS PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO............ 192 3.2 QUEM TEM MAIOR CHANCE DE APRESENTAR PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS? ............................................................................................................ 193 3.3 ESTRATÉGIAS PARA PREVENIR OU MINIMIZAR DISTÚRBIOS GASTROINTESTINAIS DURANTE O EXERCÍCIO .............................................................. 193 3.3.1 Múltiplos transportadores ................................................................................................ 194 3.3.2 Bochecho de carboidrato .................................................................................................. 194 3.3.3 Recomendações práticas ................................................................................................... 195 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 196 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 198 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 200 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 202 1 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender as nuances que envolvem o exercício físico, desde as adaptações fisiológicas aos sistemas de produção de energia; • conhecer as diferentes formas de avaliação da composição corporal dos praticantes de exercícios físicos e atletas; • calcular as necessidades nutricionais de acordo com o gasto energético de cada modalidade realizada, adaptando o planejamento alimentar de acordo com a individualidade de cada praticante; • identificar a importância da hidratação e repositores hidroeletrolíticos, verificando como prescrever antes, durante e após a prática; • verificar a necessidade de inserção de suplementos alimentares e fitoterápicos no planejamento alimentar dos atletas, identificando os protocolos que podem ser utilizados frente à realidade do indivíduo. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontraráautoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA TÓPICO 2 – FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO TÓPICO 3 – SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 2 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Nesta primeira unidade, nós veremos uma breve introdução de nutrição no exercício e no esporte. Revisaremos a história da nutrição na área esportiva, assim como a importância do planejamento da alimentação no rendimento dos desportistas. Em seguida, discutiremos a fisiologia do exercício, como ocorrem as adaptações biológicas no organismo de um indivíduo em resposta ao treinamento e a importância dessas adaptações relacionadas ao mecanismo de aproveitamento dos nutrientes, assunto que nos direciona para o terceiro tema abordado nesta unidade, os sistemas de produção de energia, os quais são relacionados à bioquímica dos macronutrientes, assim, poderemos compreender os melhores momentos de consumir cada um deles (carboidrato, proteína, lipídio), para que possam ser bem absorvidos e, com isso, beneficiar as respostas esperadas no desempenho dos atletas. Vamos lá? Você sabe quando a nutrição esportiva teve seu “start” no Brasil? O grande interesse pela nutrição esportiva ocorreu na Copa do Mundo de 1994, isso mesmo, há pouco menos de 30 anos, quando a então nutricionista da seleção brasileira de futebol e uma das pioneiras do trabalho nessa área no Brasil, Patrícia Bertolucci, abandonou a equipe após ter vetado, e não ter tido sua deci- são respeitada, feijoada durante a estadia do time dos Estados Unidos, situação noticiada pela mídia da época demonstrou a desvalorização do profissional nutri- cionista por parte dos atletas, equipe técnica e pelos dirigentes (RANGEL, 2006). Após muito empenho por parte dos nutricionistas, hoje, não só os atletas, mas também os esportistas, apresentam grande interesse pela nutrição esportiva. A consciência da necessidade de uma alimentação balanceada para o desempenho físico é cada vez maior, assim como a oferta de suplementos e bebidas para esportistas no mercado não para de crescer (HIRSCHBRUCH, 2003). Nesse sentido, muitos profissionais vêm estudando e se especializando nessa área, todavia, quem está na linha de frente orientando os atletas e esportistas, raramente é responsável pela produção do conhecimento científico, já que os pesquisadores dificilmente são nutricionistas que atuam na área, sendo, em geral, pesquisadores vinculados a universidades, os demais profissionais acabam por trabalhar de forma bastante pulverizada, não sistemática e, muitas vezes, solitária. UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO 4 Antes de introduzir a atuação do profissional da nutrição na área espor- tiva, vamos rever algumas definições importantes. Você já parou para pensar se existe diferença entre os termos exercício físico e atividade física? Então, eles pos- suem conceitos diferentes, vejamos a seguir: A atividade física conceitua-se por qualquer movimento produzido pela musculatura esquelética que gere um gasto energético maior que o basal. Por sua vez, o exercício físico, caracteriza-se por qualquer atividade física planejada, estruturada e repetida, que tem o objetivo de manutenção ou de melhora da aptidão física (HIRSCHBRUCH, 2016). Ainda há uma definição específica para esporte, a qual trata de uma prática corporal que envolve competição regulamentada e que tem base na superação de competidores ou de resultados já estabelecidos. De acordo com o tipo das atividades físicas realizadas diariamente, os praticantes podem ser classificados como fisicamente ativos, insuficientemente ativos ou sedentários. Seguem conceitos: • O indivíduo fisicamente ativo é aquele que inclui no seu dia a dia atividades com gasto energético moderado a intenso e, portanto, segue as recomendações de intensidade e frequência da pratica de atividades físicas diárias, seja no lazer, em atividades domésticas, no trabalho ou na locomoção; • O indivíduo insuficientemente ativo pratica atividades com gas- to energético de leve a moderado, não cumprindo as diretrizes de saúde publicada para os níveis diários recomendados de ati- vidade física. • Já o indivíduo sedentário é caracterizado pela ausência de atividades que elevem de forma significante o gasto energético basal, com predominância de atividades que sejam realizadas em repouso (sentado em atividades de lazer, como assistindo à TV ou usando o computador, ou ainda atividades em repouso no trabalho ou na escola) (SIMINO, 2018, p. 11). 2 O QUE É UM NUTRICIONISTA ESPORTIVO? De maneira geral, a rotina do nutricionista que atua na área esportiva não é diferente das áreas tradicionais da nutrição: atendimento nutricional individualizado, orientação nutricional a grupos, planejamento de compras, planejamento de cardápios entre outras demandas. “Atuar com nutrição e exercício físico pode ser um desafio, especialmente quando se procuram definições e protocolos. Por ser uma área abrangente, os estudos já existentes acabam servindo a todas às situações” (HIRSCHBRUCH, 2016, p. 4). Com isso, merece destaque o quesito da diferença entre as alterações do metabolismo causadas pelo exercício intenso e as alterações metabólicas induzidas por exercício leve e moderado, fator que já determina uma abordagem diferente pelo profissional nutricionista. TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA 5 Além disso, a própria definição de praticantes de exercícios físico, por vezes, é contraditória entre referências e pouco clara, sendo que a maioria dos estudos é realizada com atletas, representando um problema, já que esportistas recreacionais podem acabar seguindo as recomendações dietéticas direcionadas a atletas (PEREIRA; LAJOLO; HIRSCHBRUCH, 2003). Dentro disso, cabe caracterizar que os praticantes de exercícios físicos englobam desde as crianças em idade escolar a adultos de todas as idades, de competidores de elite a esportistas de final de semana. Apesar de se considerarem atletas, seus interesses, habilidades e necessidades de treinamento são variados. Ou seja, nesse grupo não se encaixam os atletas que possuem treinamentos mais intensos e comprometimento com a modalidade praticada, considerando que possuem o esporte como profissão, sendo remunerados/premiados. Nesse interim, destaca-se que a área da nutrição esportiva engloba tanto atletas como não atletas e a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada aos atletas de elite (olímpicos ou de competição) não sendo presente muitos na literatura dados que se referem aos chamados “atletas recreacionais” esportistas, desportistas ou praticantes de exercício físico, dificultando a atuação do profissional (HIRSCHBRUCH, 2016). Seguindo esse conceito, o nutricionista acaba por utilizar das recomendações que não são específicas aos esportistas, já que nos locais onde atuam, em sua maioria, atendem a praticantes de exercícios físicos que visam lazer, melhora da forma física e saúde, sem objetivos competitivos e de desempenho (HIRSCHBRUCH, 2016). Demonstram com isso, que um dos maiores desafios acaba se tornando a adaptação das recomendações e os protocolos às modalidades específicas e à própria intensidade de treinamento do atleta. Caro acadêmico, nesse interim, surge uma pergunta. Será que a nutrição está preparada para atuar corretamente no esporte? Para Hirschbruch (2016, p. 5): O nutricionista que deseja seguir a área esportiva precisa se preparar para algumas competências técnicas inerentes, que vão além do conhecimento básico de bioquímica e fisiologia geral e do exercício, devendo se dedicar às seguintes disciplinas: – avaliação nutricional: com conhecimentos em antropometria, composição corporal e biótipo ou somatotipia (somatotipo)ideal para diferentes tipos de esportes, bem como análise dietética, avaliação bioquímica e sinais clínicos importantes à conduta alimentar; – educação alimentar e nutricional: conhecer os mitos da alimentação, as necessidades nutricionais do esportista, as demandas necessárias em função da carga da prática físico-esportiva; – nutrição clínica: detectar possíveis riscos de transtornos alimentares, consequências das interações entre fármacos e nutrientes e entre nutrientes, conhecer as condutas para distúrbios alimentares, amenorreia, anemia, osteoporose e gravidez. Conhecer suplementos alimentares e compostos ergogênicos, bem como políticas de regularização dos suplementos e critérios específicos. Conhecer as características pertinentes das diversas modalidades esportivas (frequência, carga de treinamento, periodização do treinamento em função do calendário) estratégias de hidratação, estratégias de melhor recuperação após o exercício. UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO 6 Grandjean (1993), em um levantamento sobre recomendações dos profissionais que lidam com nutrição esportiva nos Estados Unidos, descobriu que apenas 16% trabalham com atletas de competição e 3% com atletas de elite. Importante, ainda, conhecer métodos de investigação científica, além de revisar e criticar publicações informativas e/ou científicas. Ressalta-se, aqui, que a principal função do nutricionista é modificar o hábito alimentar dos indivíduos para prevenir doenças, manter a saúde e melhorar o desempenho e o rendimento, isto é, influir positivamente sobre sua saúde e qualidade de vida, repassando informações dos conceitos científicos de nutrição e de como colocar em pratica hábitos alimentares saudáveis. Ainda, segundo Hirschbruch (2016, p. 9), destaca-se que: O nutricionista esportivo deve conduzir com cuidado e respeito mudanças de hábitos alimentares. Alimentos devem ser valorizados por meio de estratégias de educação nutricional: vínculo, motivação, valorização do positivo, proposta de ajustes individualizada. Praticidade virou sinônimo de produtos industrializados, shakes, caixinhas, barrinhas, pacotinhos. Estimular o consumo de alimentos de baixo valor nutricional e de suplementos como substitutos de refeição pode ser um erro. Percebe-se, dessa forma, que a reeducação alimentar permitirá ao indi- víduo (atleta ou esportista) compreender, dentro de suas condutas alimentares, qual é a mais adequada para seu objetivo. O profissional nutricionista deve ex- plicar ao cliente o que será realizado para montagem do planejamento, pois é o conhecimento da lógica do processo que lhe dá condições para conseguir se alimentar de maneira saudável. É necessário que o nutricionista preste atenção em sua conduta para não incorrer na prescrição de treinamentos, atividade de competência do educador físico. Cabendo aos profissionais que atuam no esporte o fortalecimento das áreas de nutrição e educação física, já que uma dieta adequada e balanceada é um componente essencial de qualquer programa esportivo ou aptidão física (HIRSCHBRUCH, 2016). ATENCAO TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA 7 2.1 IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO NO ESPORTE É comum que indivíduos que iniciem a realização de práticas esportivas, acabem por alterar seu padrão alimentar, passando a ter maior interesse pela manutenção da saúde, tendendo a consumir menos gordura, mais vegetais e outras fontes de carboidratos complexos (BUSKIIRK, 1991; HIRSCHBRUCH, 2016). Também é sabido que a prática regular de exercício físico apresenta efeitos benéficos sobre o metabolismo, reduzindo a gordura corporal, aumentando a massa magra, trazendo modificações positivas no perfil lipídico, assim como, aumento do metabolismo, controle da pressão arterial e da glicemia e maior mineralização óssea. Todavia, apesar das condições favoráveis, a qualidade da alimentação na maioria dos grupos fisicamente ativos não parece ser muito diferente da dos indivíduos sedentários, apesar da maior ingestão calórica. Diversos são os estudos, que relatam que a ingestão energética e de nutrientes dos atletas, é inferior às suas necessidades (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). Sendo, aqui, viável destacar a importância da relação entre a nutrição e a atividade física, já que a capacidade do rendimento físico do organismo só melhora diante da ingestão equilibrada de todos os nutrientes, sejam eles carboidratos, gorduras, proteínas, minerais e vitaminas. Ainda mais quando são períodos de treinamento para competição. A dieta, quando realizada de maneira inadequada, reduz o desempenho e pode prejudicar a saúde, considerando que uma ingestão energética inadequada está associada à ingestão marginal de macro e micronutrientes, principalmente de carboidratos, piridoxina, cálcio, folato, zinco e magnésio (CUPISTI et al., 2002). Para o atleta de elite, a nutrição tem um papel vital da superação dos limites, se apresentando, ainda, como o fator extra para o sucesso quando todos os outros fatores se equiparam com os “concorrentes”. E claro, os esportistas também se beneficiam de um planejamento nutricional adequado para o esporte que praticam (MAUGHAN, 2002). A consciência da população na importância da alimentação equilibrada é crescente, mas, na prática, as melhorias alimentares não têm avançado muito, se tornando um desafio aos profissionais nutricionistas, que devem usar a educação nutricional para preencher a lacuna entre as atitudes e os comportamentos das pessoas relacionados às dietas. Demonstrando que a alimentação saudável pode ser prazerosa e fácil de ser elaborada (HIRSCHBRUCH, 2016). IMPORTANT E UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO 8 Por isso, a determinação de uma recomendação específica para pessoas fisicamente ativas poderia colaborar com a identificação precoce de padrões alimentares prejudiciais, podendo prevenir e tratar tais comportamentos inadequados nessa área, pois, tanto atletas como praticantes de exercícios físicos, muitas vezes se envolvem em práticas não saudáveis de controle de peso, particularmente, em esportes que exijam a manutenção de certo peso como fisiculturismo, dança, corridas de longa distância, mergulho, ginástica, natação, lutas, remo, hipismo e patinação (OPPLIGER et al., 1993). É de suma importância que o objetivo dos atletas e desportistas seja a manutenção de um peso saudável por meio de comportamentos alimentares e práticas esportivas adequadas, já que um indivíduo bem nutrido tem menos probabilidade de sofrer lesões ou doenças (HIRSCHBRUCH, 2016). Outro aspecto relevante está relacionado ao modismo do consumo de suplementos. Muitos atletas creem que o uso de suplementos proporcionou vantagens competitiva, desconsiderando todas as variáveis que impactam o organismo ao usar essas substâncias, que podem ser positivas e/ou negativas. Com frequência, determinadas substâncias são comercializadas sem base em pesquisa científica, que determine seus objetivos, seus benefícios potenciais ou possíveis efeitos colaterais nocivos, sendo alarmante o dado de que alguns suplementos entram e saem de moda antes que se façam estudos que estabeleçam seus efeitos. Nutricionistas qualificados podem ajudar atletas e indivíduos ativos: • Educando sobre os requerimentos de energia para o esporte praticado e sobre o papel dos alimentos como combustível; • Enfatizando a importância de uma ingestão energética adequada para a saúde, para a prevenção de lesões e para o desempenho; • Desencorajando objetos de peso e composição corporal não realista; • Avaliando e fazendo acompanhamentos antropométricos no intuito de estabelecer o peso e a composição corporal adequados para o esporte praticado; • Ensinando técnicas adequadas para manter o peso e a composição corporal sem a necessidade de recorrer a dietas milagrosas ou muito restritivas; • Avaliando a ingestão alimentar e de suplementos durante o período de treinamentos, competições e também fora das temporadas. Essa avaliaçãodeve ser usada como base das propostas nutricionais, que devem conter recomendações apropriadas de energia de nutrientes para a manutenção da saúde, do peso e da composição corporal adequados; • Fornecendo diretrizes específicas para boas escolhas de alimentos e de líquidos em viagens e refeições fora de casa; • Avaliando a ingestão hídrica e a perda de peso dos atletas durante o exercício e fazendo recomendações apropriadas de ingestão de líquidos antes, durante e depois do treino. Ajudando o atleta a escolher o tipo de bebida e a quantidade adequada a ser ingerida nessas situações, especialmente se ele se exercita em ambientes adversos; TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO ESPORTIVA: UMA VISÃO PRÁTICA 9 • Garantindo a ingestão de energia, proteínas e micronutrientes por meio de informações nutricionais adequadas, particularmente aos atletas que requerem considerações nutricionais específicas, como vegetarianos, crianças e adolescentes; • Analisando cuidadosamente qualquer suplemento, fitoterápico, ergogênico ou droga que o atleta queira ingerir. Esses produtos devem ser utilizados com cautela e somente após a verificação de sua legalidade e da literatura atual sobre os ingredientes listados no rótulo. Suplementos só devem ser recomendados depois de uma análise da saúde, da dieta, das necessidades nutricionais e energéticas e dos suplementos e drogas atualmente utilizados pelo atleta. Mais importante do que discutir prescrições alimentares é avaliar se essas prescrições são razoáveis e se podem ser traduzidas em escolhas alimentares consistentes. O nutricionista faz o seu melhor quando considera as pessoas e sua relação com a comida ao invés de ser um árbitro de dietas. A distância entre saber fazer continuará enquanto o saber não for realista. Se uma dieta não for realista, ela não trará benefício algum. A prescrição alimentar precisa ultrapassar as recomendações nutricionais. A interação com outros profissionais pode colaborar para que nossas prescrições sejam mais humanizadas. FONTE: AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE; AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION (ADA). Dietitians of Canada. Nutrition and athletic performance. Joint position statement. Med Sci Sports Exerc., [S. l.], v. 32, n. 12, p. 2130-2145, 2000. p. 2130. 10 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • Nutricionistas têm o papel fundamental no desenvolvimento de intervenções e na promoção de pesquisa no campo da nutrição e do esporte. • A educação nutricional deve ser componente significativo de um programa de exercícios físicos. • O sucesso da comunicação e da motivação do comportamento requer conhecimento do que os atletas sabem de escolhas alimentares, por que fazem essas escolhas e de como respondem às mensagens nutricionais. • É essencial educar a população sobre hábitos de exercício e de alimentação, já que muitas vezes, treinadores, preparadores físicos, professores e até mesmo o médico e o nutricionista, propagam informações errôneas sobre nutrição. • Atletas competitivos ou recreacionais precisam de níveis adequados de “combustível”, líquidos e nutrientes para atingir o desempenho máximo. • O papel do nutricionista esportivo é aconselhar os atletas acerca das neces- sidades nutricionais adequadas antes, durante e depois do exercício e para a manutenção de uma boa saúde, do peso e da composição corporal adequados. 11 1 Após muito empenho por parte dos nutricionistas, hoje, não só os atletas, mas também os esportistas, apresentam grande interesse pela nutrição esportiva. A consciência da necessidade de uma alimentação balanceada para o desempenho físico é cada vez maior, assim como a oferta de suplementos e bebidas, todavia, é importante que se avalie em qual contexto o indivíduo se enquadra. Pontue as principais diferenças entre atividade física, exercício físico e esporte. 2 É sabido que a prática regular de exercício físico apresenta efeitos benéficos sobre o metabolismo, reduzindo a gordura corporal, aumentando a massa magra, trazendo modificações positivas no perfil lipídico, assim como, aumento do metabolismo, controle da pressão arterial e da glicemia e maior mineralização óssea. Todavia, apesar das condições favoráveis, a qualidade da alimentação na maioria dos grupos fisicamente ativos não parece ser muito diferente da dos indivíduos sedentários, apesar da maior ingestão calórica. Descreva a importância do papel da nutrição/ do nutricionista para indivíduos fisicamente ativos. 3 Os praticantes de exercícios físicos englobam desde as crianças em idade escolar a adultos de todas as idades, de competidores de elite a esportistas de final de semana. Apesar de se considerarem atletas, seus interesses, habilidades e necessidades de treinamento são variados. Ou seja, nesse grupo não se encaixam os atletas que possuem treinamentos mais intensos e comprometimento com a modalidade praticada, considerando que possuem o esporte como profissão, sendo remunerados/premiados. Nesse interim, assinale a alternativa correta, considerando o público que a área da nutrição esportiva engloba: a) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são tanto atletas como não atletas, sendo que a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada aos atletas de elite, não estando presente na literatura dados que se referem aos esportistas, desportistas ou praticantes de exercício físico, fato que dificultando a atuação do profissional. b) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são apenas os atletas, pois a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada aos atletas de elite. c) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são os esportistas/não atletas, todavia a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada aos atletas de elite, não estando presente na literatura dados que se referem aos esportistas, desportistas ou praticantes de exercício físico. AUTOATIVIDADE 12 d) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são tanto atletas como não atletas, sendo que a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada a ambos os públicos. e) ( ) O público alvo da nutrição esportiva são tanto atletas como não atletas, sendo que a maior parte dos estudos e recomendações é direcionada esportistas, não estando presente na literatura dados que se referem aos atletas, desportistas ou praticantes de exercício físico, fato que facilita a atuação do profissional. 4 De acordo com o tipo da atividade física realizada diariamente, os praticantes podem ser classificados como fisicamente ativos, insuficientemente ativos ou sedentários. Assinale a alternativa que corresponde à característica dos indivíduos fisicamente ativos: a) ( ) O indivíduo fisicamente ativo é aquele que inclui no seu dia a dia atividades com gasto energético moderado a intenso e, portanto, segue as recomendações de intensidade e frequência da prática de atividades físicas diárias, seja no lazer, em atividades domésticas, no trabalho ou na locomoção. b) ( ) O indivíduo fisicamente ativo pratica atividades com gasto energético de leve a moderado, não cumprindo as diretrizes de saúde publicada para os níveis diários recomendados de atividade física. c) ( ) O indivíduo fisicamente ativo é caracterizado pela ausência de ativi- dades que elevem, de forma significante, o gasto energético basal, com predominância de atividades que sejam realizadas em repouso (senta- do em atividades de lazer, como assistindo à TV ou usando o compu- tador, ou, ainda, atividades em repouso no trabalho ou na escola). d) ( ) O indivíduo fisicamente ativo pratica atividades com gasto energético moderado, com predominância de atividades que sejam realizadas em repouso (sentado em atividades de lazer, como assistindo à TV ou usando o computador, ou ainda atividades em repouso no trabalho ou na escola). e) ( ) O indivíduo fisicamente ativo pratica atividades com gasto energético de leve a moderado, cumprindo as diretrizes de saúde publicada para os níveis diários recomendados de esporte.5 Considerando todas as interfaces que circundam a área da nutrição, principalmente na área da nutrição no esporte, devido ao significante consumo de suplementos alimentares pelos esportistas. Assinale a alternativa que corresponde à principal função do nutricionista: 13 a) ( ) A principal função do nutricionista é prescrever suplementos alimentares, modificando o hábito alimentar dos indivíduos para inserção desses suplementos e com isso prevenir doenças, manter a saúde e melhorar o desempenho e o rendimento desses indivíduos. b) ( ) A principal função do nutricionista é modificar os hábitos alimentares dos indivíduos para manter a saúde e melhorar o desempenho e o rendimento através da utilização de suplementos e complementos ali- mentares, influindo positivamente em sua saúde e qualidade de vida. c) ( ) A principal função do nutricionista é modificar o hábito alimentar dos indivíduos para prevenir doenças, manter a saúde e melhorar o desempenho e o rendimento, isto é, influenciar positivamente em sua saúde e qualidade de vida, repassando informações sobre os conceitos científicos de nutrição e como colocar em pratica hábitos alimentares saudáveis. d) ( ) A principal função do nutricionista é reeducar os hábitos alimentares dos indivíduos, com intuito de manter a saúde e melhorar o desempe- nho e o rendimento, influenciando positivamente em sua saúde e qua- lidade de vida, repassando informações sobre os conceitos científicos de nutrição e como colocar em prática hábitos alimentares saudáveis. Destacando que não é função do nutricionista prevenir doenças. e) ( ) A principal função do nutricionista é prescrever cardápios com ali- mentos funcionais e suplementos alimentares, com objetivo de modi- ficar o hábito alimentar dos indivíduos para prevenir doenças, manter a saúde e melhorar o desempenho e o rendimento. 14 15 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico, como estão os estudos até aqui? No presente tópico, revisaremos os conceitos da fisiologia e suas adaptações normais e patológicas frente à prática do exercício físico. A prática de exercícios físicos já vem sendo descrita como benéfica para a saúde, com cunho científico, desde a década de 1950, assim como a alimentação como fator de prevenção para diversas doenças. Hoje, sabe-se que os benefícios da prática regular de exercícios físicos vão além da prevenção e do tratamento de sobrepeso e doenças cardiovasculares, já que as adaptações biológicas desencadeadas pelos exercícios físicos garantem uma melhor qualidade de vida por provocar melhoras em demais aspectos, como: mentais, cognitivos, fisiológicos, bioquímicos e estruturais (SIMINO, 2018). Nesse sentido, para que uma atividade física seja desempenhada, é necessário que ocorra a contração e o relaxamento muscular, e, sendo assim, seria possível imaginar que, para que a prática de atividades ocorra, basta que acionemos nossos “sistemas executores”, ou seja, os tecidos que, efetivamente, participam do processo. Será mesmo? Não, pois para a prática de exercícios físicos, os mecanismos acionados são mais completos. Observe a Figura 1. 16 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO FIGURA 1 – EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO FONTE: <https://bit.ly/3gX07do>. Acesso em: 10 maio 2021. Destaca-se que esses sistemas fisiológicos agem de forma integrada, em que, a partir de alterações em um deles, segue uma sequência de respostas para reestabelecimento da homeostase, conforme demonstra a Figura 1, e que serão melhor detalhadas nos próximos subtópicos. Todo processo adaptativo precisa de um estímulo, natural ou artificial, espontâneo ou programado. No caso dos exercícios físicos, o estímulo é conhecido como carga de treino. Também vale lembrar que influenciam diretamente nas adaptações aos exercícios, os nutrientes, sendo que a escolha adequada de alimentos e fluidos, os ajustes das quantidades a serem ingeridas, a definição do momento mais apropriado para consumi-los e a seleção de suplementos são as formas que a nutrição possui de contribuir com o desempenho físico (HIRSCHBRUCH, 2016). Nesse sentido, torna-se de suma importância o acompanhamento perió- dico dos resultados da intervenção alimentar, buscando adequar de acordo com o momento do calendário esportivo das competições. A base para a elaboração do plano alimentar é direcionada às necessidades de energia e nutrientes para o exercício físico, conforme a intensidade, duração e frequência, assim como se faz necessário adequar a composição corporal do atleta de acordo com a modalidade e a posição, favorecendo as adaptações fisiológicas e metabólicas do organismo. TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 17 2 ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO EXERCÍCIO O corpo humano pode se apresentar em estado de repouso ou de exercício e nas duas situações possuem mecanismos fisiológicos capazes de minimizar as alterações do meio interno, preservando a homeostasia. Os efeitos fisiológicos do exercício físico podem ser divididos em: agudos imediatos, agudos tardios e crônicos, sendo que os efeitos agudos, podem também ocorrer em associação direta com a sessão de exercício (TINOCO, 2002). Seguem divisões e suas características: • Agudos imediatos: ocorrem nos períodos pré-imediato, e pós-imediato do exercício físico, caracterizados pelos aumentos de frequência cardíaca, ventilação e sudorese normalmente associados ao esforço. • Agudos tardios: ocorrem nas primeiras 24 horas após uma sessão de exercício, identificados na pequena diminuição dos níveis tensionais e na elevação do número de receptores de insulina nas membranas das células musculares. • Crônicos: são adaptações, resultam da exposição regular às sessões de exercício. Exemplo: hipertrofia muscular e o aumento do consumo máximo de oxigênio. 2.1 CLASSIFICAÇÕES DO EXERCÍCIO FÍSICO Há diferentes formas de exercício físico, cada uma delas gera diferentes efeitos agudos ou crônicos, sendo importante sistematizar alguma forma de classificação. Nesse sentido, quando considerada a via metabólica predominante, temos os sistemas: • anaeróbico alático: em casos de exercícios de grande intensidade e curtíssima duração; • anaeróbico lático: em casos de grande intensidade e curta duração; • aeróbico: em situações de baixa ou média intensidade e longa duração. Além dessa variável, podemos classificar considerando o ritmo, que pode ser: • fixo ou constante: não se alterna o ritmo ao longo do tempo; • variável ou intermitente: alterna-se o ritmo ao longo do tempo do exercício. Ainda, podemos diferenciar de acordo com a intensidade relativa do exercício, conforme segue: • baixa ou leve: exercício com repouso até 30% do VO2 máximo; • média ou moderada: exercício entre 30% do VO2 máximo e o limiar anaeróbico; • alta ou pesada: exercício acima do limiar anaeróbico. Por fim, tem-se também nessa diferenciação a mecânica muscular, que pode ser: 18 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO • estático: não há movimento e o trabalho mecânico é zero; • dinâmico: existe movimento e trabalho mecânico positivo ou negativo. Dessa forma, é importante destacar que os exercícios que envolvem grandes massas musculares como andar, correr, pedalar ou nadar necessitam de uma participação relativamente maior da via aeróbica. Já os esforços com segmentos corporais localizados, tais como a extensão do cotovelo segurando um peso utiliza maior participação das vias anaeróbicas, sendo que, caso a duração do exercício ultrapasse dois ou três minutos, será predominante a participação aeróbica, já se ela durar até dez segundos, predomina a via anaeróbica alática (TINOCO, 2002). Nos casos de exercícios de alta intensidade, com duração entre 20 e 90 segundos, é utilizada de maneira mais intensa a via anaeróbica lática, podendo causar um significativo desequilíbrio acido-básico e a sensação de esgotamento físico, sendo vistos com maior frequência nos eventos desportivos de natação, como as provas de50 e 100 metros e atletismo. Em relação aos exercícios de intensidade baixa, esses correspondem a esforços de até 30% do consumo máximo de oxigênio. Nos de intensidade moderada, os esforços requerem entre 30% do consumo máximo de oxigênio e o nível correspondente ao limiar anaeróbico. Já nos exercícios de intensidade alta, a demanda excede o limiar anaeróbico. Portanto, nos exercícios prolongados, apenas os classificados como de alta intensidade teriam participação anaeróbica significativa (SIMINO, 2018). Em casos de esforços de ritmo variável, como o jogo de tênis, ocorrem grandes variações nas necessidades de ressíntese de ATP, seguindo de periódicas modificações das variáveis fisiológicas. Essas atividades tendem a usar, inicialmente, as vias anaeróbicas alática e aeróbica, sem a participação significativa da via anaeróbica lática. Em séries de exercícios com grupamentos musculares localizados, como exercícios abdominais, que tendem a reduzir a qualidade na execução e fadiga quando realizados sem interrupções pode ser proporcionado um período de um a dois minutos de repouso, quando os exercícios serão reiniciados com a mesma velocidade, qualidade de execução adequada e relativa facilidade, pois esse tempo será suficiente para regenerar estoques intracelulares de ATP e fosfocreatina. Vamos dar seguimento às demais adaptações fisiológicas frente aos exercícios físicos e suas determinadas cargas de treino. Os processos adaptativos desencadeados pelo estímulo dos exercícios físicos podem acontecer de diversas formas, conforme Figura 2. TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 19 FIGURA 2 – ADAPTAÇÕES FRENTE AO TREINAMENTO FÍSICO FONTE: <https://www.efdeportes.com/efd166/adaptacao-biologica-aplicado-ao-treinamento- fisico-03.jpg>. Acesso em: 10 maio 2021. Conforme Simino (2018, p. 15), as adaptações fisiológicas seguem diferentes mecanismos: De forma genotípica ou fenotípica, ou seja: em nível celular e mole- cular (genótipo) ou em relação a mudanças visíveis e mais facilmente mensuráveis (fenótipo). De forma aguda ou crônica: existem adap- tações que acontecem de forma rápida, apenas para que o exercício possa ser mantido. Por exemplo: adaptações que levam mais tempo a acontecer e que são mantidas por longos períodos. Em nível sistêmico: podem beneficiar processos comportamentais, fisiológicos, bioquími- cos, neuro motores e estruturais. A pratica de exercícios físicos regular ou o treino esportivo, no caso dos atletas, proporciona, mediante os processos adaptativos, o desenvolvimento ou a melhora de algumas capacidades físicas específicas. 20 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO Nos esportes de alto rendimento, se torna comum o uso da periodização em treinos que trabalhem as diferentes capacidades físicas, considerando que cada modalidade esportiva precisa de determinadas capacidades mais desenvolvidas e bem treinadas. Como é o caso dos corredores, que precisam treinar e aprimorar cada vez mais a velocidade. IMPORTANT E 2.2 RESPOSTAS HORMONAIS NO EXERCÍCIO FÍSICO Antes de destacarmos as alterações, é válido relembrar o conceito de hormônio. Os hormônios são substâncias químicas secretadas dentro de fluidos corporais, em sua maioria por glândulas endócrinas, sendo divididos em dois tipos, os esteroides e polipeptídicos. Esteroides são produzidos, a partir do colesterol, pelo córtex adrenal e pelas gônadas e os peptídeos são derivados de aminoácidos em outras glândulas endócrinas. Os tecidos alvos da ação hormonal podem ser próximos ou relativamente afetados em relação à glândula de secreção, podendo sua ação ser em um ou mais tecidos, como o hormônio insulina, que atua em diversos tecidos, apresentando potente efeito sobre o metabolismo em situações como o repouso e a prática de exercício físico (SIMINO, 2018). O estresse fisiológico induzido pelo exercício físico reflete diretamente à tentativa em manter as concentrações sanguíneas de determinados metabólitos próximas aos valores normais de repouso, por exemplo, manter a concentração sanguínea de glicose (glicemia) entre 90 e 100 mg/dL, uma vez que o exercício provoca o aumento da captação muscular de glicose a partir do sangue. Nesse mecanismo, a resposta fisiológica que busca a homeostase da glicemia durante o exercício se faz regulada por dois sistemas corporais: o sistema nervoso autônomo (SNA) e os sistema endócrino (hormonal), considerando que, em relação ao controle do metabolismo durante o exercício, a parte simpática do SNA é de maior destaque. Os mediadores químicos são liberados tanto pelo SNA quanto pelo sistema hormonal no intuito de auxiliar a manutenção da glicemia (HIRSCHBRUCH, 2016). A redução da glicemia durante os exercícios mais intensos induz uma resposta contrarreguladora, promovendo o aumento da glicemia e a manutenção da concentração sanguínea de glicose. O fígado exerce um papel importante no aumento e na manutenção da glicemia, uma vez que esse tecido sofre influência neural e hormonal, estimulando produção hepática de glicose. TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 21 Nesse ínterim, a glicose e glicogênio representam importantes substratos energéticos durante o exercício, ao mesmo tempo em que favorecem a utilização de lipídios como substrato energético na célula muscular (HIRSCHBRUCH, 2016). A glicose é, geralmente, o único substrato utilizado pelo cérebro e por outros tecidos do Sistema Nervoso Central e, deste modo, é fundamental para a funcionalidade desses tecidos, fato que reforça a importância da manutenção da glicemia durante o exercício prolongado, sendo relevante para o fornecimento de combustível ao cérebro e ao músculo esquelético, o qual utiliza também outros substratos além da glicose. Diversos hormônios agem especificamente para manter a glicemia e são denominados contrarregulatórios (glucagon, adrenalina, noradrenalina, cortisol), ou seja, suas ações são opostas à da insulina (COKER; KJAER, 2005). NOTA O ponto central das adaptações refere-se às repostas hormonais, tanto agudas quanto crônicas. As respostas agudas são importantes para a regulação da utilização de substratos energéticos, assim como nas alterações na permeabilidade ou na atividade enzimática das células (músculo, fígado, tecido adiposo). Nesse contexto, destaca-se o aumento dos hormônios que aumentam a taxa de lipólise, glicólise, glicogenólise e gliconeogênese, assim como ocorre a redução da concentração de hormônios que promovem lipogênese e glicogênese. Algumas alterações hormonais são positivamente relacionadas à duração do exercício. Destacamos que o metabolismo energético será melhor discutido no próximo tópico. ESTUDOS FU TUROS Ainda, verifica-se que o sistema imune é influenciado pelo exercício, con- dicionado à duração e à intensidade do exercício, sendo que o exercício modera- do aumenta a imunocompetência, enquanto em treinamento intenso, após um evento competitivo, ocorre imunossupressão, gerando aumento na incidência de infecções, principalmente no trato respiratório superior dos atletas (HIRS- CHBRUCH, 2016). 22 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO A alteração na funcionalidade do sistema imunológico está relacionada à alteração neuroendócrina derivada da prática do exercício, que gera o aumento na liberação de hormônios do estresse, como o cortisol, que, consequentemente, modula a resposta imune, reduzindo sua efetividade. Diante do exposto, estratégias nutricionais devem ser utilizadas desde o período de treinamento, durante o exercício e no período de recuperação pós exercício. As quais serão baseadas na modulação exercida pelos nutrientes sobre a resposta hormonal, influenciando o metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, ao mesmo tempo em que modula a resposta imune do indivíduo. 2.3 INSULINA, GLUCAGON E EXERCÍCIO FÍSICO Conforme mencionado anteriormente, durante a realização de exercícios mais intensos, ocorre uma maior utilização da glicose, fazendo com que a necessidade de glicosepelo tecido muscular cause, no decorrer do tempo, uma redução da glicemia, podendo ser compensada pela liberação de glicose, principalmente a partir do fígado, processo chamado de glicogenólise. Importante destacarmos que, se a glicemia aumenta durante o exercício intenso, a insulinemia diminui decorrente da ação da adrenalina, promovendo o aumento da produção hepática de glicose. Sendo que a redução da insulinemia durante o exercício é diretamente proporcional à intensidade do esforço físico (COKER; KJAER, 2005). O declínio da insulinemia durante o exercício minimiza a captação de glicose pelos tecidos não ativos, protegendo dessa forma o fornecimento de glicose para o cérebro e o tecido muscular ativo. Ainda, cabe ressaltar que, durante o exercício prolongado, a glicemia e a insulinemia diminuem, favorecendo o aumento da lipólise e, consequen- temente, da disponibilidade de ácidos graxos livres na circulação sanguínea (VIRU, 1992). Por fim, o glucagon é um hormônio secretado pelas células alfa- pancreáticas e promove o aumento da taxa de glicogenólise promovendo aumento na concentração de glicose no sangue. Em situações nas quais a glicemia diminui (exercício prolongado, jejum), a concentração de glucagon aumenta no intuito de manter a glicemia em valores próximos aos de repouso (Figura 3). As concentrações de glucagon aumentam no plasma apenas se a duração do exercício for mantida por mais de uma hora (HIRSCHBRUCH, 2016). TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 23 FIGURA 3 – EFEITO DO GLUCAGON NA REGULAÇÃO DA GLICOSE FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/gl/uc/glucagon2-0-cke.jpg>. Acesso em: 10 maio. 2021. 2.4 HORMÔNIO DO CRESCIMENTO, CORTISOL E CATECOLAMINAS NO EXERCÍCIO FÍSICO O hormônio do crescimento (GH) é um polipetideo liberado a partir da hipófise anterior e estimula a síntese proteica, tanto em jovens quanto em indivíduos mais velhos, e representa um dos principais hormônios lipolíticos. Atua estimulando a captação tecidual de aminoácidos, síntese proteica e crescimento de ossos longos. Também, opõe-se à ação da insulina, uma vez que reduz a utilização de glicose plasmática, aumentando a síntese de glicose no fígado e elevando a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, buscando poupar a demanda tecidual por glicose plasmática. Por sua vez, o cortisol é um membro da família dos hormônios esteroides, liberados pelo córtex adrenal, denominados glicocorticoides, e quando liberado mediante estresse físico ou emocional, causa a redução da glicemia e estimula o hipotálamo a secretar o hormônio liberador de corticotrofina, pela hipófise anterior do hormônio adenocorticotrófico (ACTH) e, posteriormente, o ACTH promove no córtex adrenal a liberação do cortisol para a circulação (CHATARD et al., 2002). O exercício aeróbico intenso e o vigoroso provocam o aumento da concentração sérica de cortisol, o qual, por sua vez, irá favorecer a manutenção da glicemia por meio do estímulo da liberação de aminoácidos a partir do tecido muscular (proteólise muscular), pela estimulação da gliconeogênese 24 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO hepática e por favorecer a mobilização de ácidos graxos livres do tecido adiposo. Importante destacarmos que indivíduos treinados apresentam menor aumento da concentração sérica do cortisol durante o exercício em comparação com indivíduos não treinados (VIRU; VIRU, 2004). Já as catecolaminas (adrenalina – noradrenalina – dopamina) sintetizadas pelas glândulas suprarrenais e pelo sistema nervoso, representam os hormônios derivados do catecol. Sua liberação via medula adrenal é estimulada pelo sistema nervoso simpático, promovendo a possibilidade da resposta para “atacar ou fugir”. Em exercícios prolongados e contínuos, as concentrações plasmáticas de catecolaminas aumentam com a duração do exercício e com a intensidade. Também, se torna válido discorrer que o exercício físico com característica intermitente, como levantamento de peso, de apenas alguns segundos de duração, também resulta em aumento da concentração plasmática de catecolaminas (HIRSCHBRUCH, 2016). Tem sido demonstrado que o exercício físico é um potente estimulador da liberação do GH, quando indivíduos treinados ou atletas de resistência apresentam menor liberação do GH comparado a indivíduos não treinados; mulheres apresentam maior amplitude e frequência na liberação do GH; indivíduos mais velhos apresentam menor liberação de GH que indivíduos jovens (± 20 anos); a liberação é mais elevada de acordo com a intensidade do treinamento; sessões com duração ≥ 30 minutos aumentam a liberação do GH; exercício de forma intermitente em um mesmo dia aumentaram a concentração de repouso do GH; período do dia não tem nenhum efeito significativo na liberação do GH (HIRSCHBRUCH, 2016). IMPORTANT E Já no caso de exercícios resistidos, a musculação pode influenciar no GH das seguintes formas: indivíduos não treinados em geral apresentam concentração do GH menor que indivíduos treinados ou atletas diante de um mesmo esforço; homens apresentam maior amplitude e frequência na liberação do GH que mulheres; indivíduos mais velhos (± 70 anos) ou de meia idade; (± 40 anos) apresentam menor liberação do GH que indivíduos jovens (± 20 anos); maior liberação do GH em intensidades moderadas (± 60% de 1-RM) se comparada a sessões de baixa; (≤ 40%) ou elevada intensidade (≥ 80%); sessões de maior volume (≥ 8 e ≤ 15 repetições por série) resultam em maior liberação do GH; intervalos mais curtos (± 1 min) entre as séries parecem aumentar a liberação do GH comparado com intervalos mais longos (± 3 min); maior concentração de ácido lático pode estimular a liberação do GH (AMARAL NETO, 2020). TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 25 2.5 TESTOSTERONA E EXERCÍCIO FÍSICO A testosterona é um hormônio esteroide que apresenta consideráveis efeitos anabólicos sobre o tecido muscular, destacando o aumento da síntese proteica e a redução no catabolismo proteico dentro da fibra muscular. Tem sido demonstrado que o exercício físico (intensidade, duração e tipo de exercício) provoca aumento agudo na concentração sanguínea de testosterona (BLAZEVICH; GIORGI, 2001). O treinamento de força também promove aumento da concentração plasmática de testosterona após o exercício (BLAZEVICH; GIORGI, 2001). Destaca-se que diferentes protocolos de treinamento podem induzir diferentes respostas da testosterona durante e/ou após o exercício. ATENCAO FIGURA 4 – MECANISMO DE AÇÃO DA TESTOSTERONA FONTE: <https://bit.ly/2Ug0HuQ>. Acesso em: 10 maio 2021. 26 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO 2.6 INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO FÍSICO SOBRE AS RESPOSTAS HORMONAIS INDUZIDAS PELO EXERCÍCIO Em geral, as respostas hormonais (Quadro 1) a um período de exercício são significativamente atenuadas após o treinamento. A atividade nervosa simpática, refletida pela concentração de noradrenalina plasmática durante o exercício, encontra-se diminuída na mesma taxa de absoluta de trabalho após um período de treinamento, porém permanece constante em relação à mesma taxa relativa de trabalho. As concentrações plasmáticas dos hormônios ACTH, cortisol, gluca- gon e GH também apresentam menores aumentos durante o exercí- cio submáximo em indivíduos treinados. A concentração plasmática insulina, de modo geral, diminui durante o exercício intenso, con- tudo, em indivíduos treinados, essa diminuição da insulinemia é menor. Esse fato está relacionado, em parte, à diminuição induzida pelo treinamento sobre a resposta da adrenalina durante o exercício, uma vez que esse hormônio inibe a secreção pancreática de insulina (HIRSCHBRUCH, 2016, p. 388). QUADRO 1 – RESUMO DOS EFEITOS METABÓLICOS DOS HORMÔNIOS Efeito metabólico Hormônio Captação da glicose celular Insulina Síntese de glicogênio Insulina Síntese de triacilgliceróis Insulina Diminuição da glicemia Insulina Glicogenólise hepática Adrenalina, glucagon Glicogenólise muscular Glucagon Lipólise AdrenalinaSíntese de proteínas Cortisol, adrenalina, hormônio do crescimento Catabolismo proteico Hormônio do crescimento Aumento da glicemia – efeito direto Insulina Aumento da glicemia – efeito indireto Cortisol, adrenalina, glucagon Aumento da taxa metabólica Adrenalina, noradrenalina e tiroxina FONTE: Hirschbruch (2016, p. 388) 3 SISTEMA IMUNE E EXERCÍCIO É de suma importância considerar a influência do exercício sobre o sistema imunológico, em razão do aumento no número de casos de doenças infecciosas e queda no desempenho de atletas, principalmente em situações de treinamento intenso e prolongado. TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 27 Nesse sentido, diferentes estudos vêm demonstrando que o exercício exaustivo pode causar alterações tanto no sistema imune inato quanto específico, incluindo: redução da atividade de neutrófilos, da concentração de imunoglobulinas A (IgA), da atividade citolítica de células natural killer (NK) e da capacidade proliferativa de linfócitos, juntamente ao aumento da concentração plasmática de citocinas pró e anti-inflamatórias. A imunomodulação mediada pelo exercício físico está relacionada com questões multifatoriais, incluindo alterações circulatórias (hemodinâmicas) e hormonais (liberação de cortisol e catecolaminas). Além de estar ligada a fatores metabólicos, como a concentração plasmática de glutamina (GLEESON, 2006). Estudos verificaram que o exercício tem relevante papel na redução da ocorrência e da gravidade de infecções e doenças relacionadas ao câncer humano. Todavia, os mecanismos pelos quais o exercício agudo ou o treinamento físico alteram a resposta imune do indivíduo ainda não tenham sido completamente compreendidos. O efeito particular dependo do tipo, da intensidade e da duração do exercício (Figura 5). Dessa forma, sugere-se que exercícios de intensidade moderada podem melhorar a imunocompetência, enquanto o exercício intenso e prolongado pode direcionar à situação oposta. Verificou-se que, após exercício intenso e prolongado, ocorre supressão parcial de parâmetros da imunocompetência de atletas, caracterizando esse período como uma “janela aberta” para a invasão de microrganismos. Quanto aos exercícios moderados, os efeitos imunológicos se apresentam diante da redução do risco para infecções. Os parâmetros laboratoriais que podem explicar os benefícios clínicos demonstram aumento de diversos fatores, como atividade citotóxica de células NK, fagocitose, expressão de moléculas de adesão e concentração salivar de IgA (BISHOP et al., 1999). A doença mais comum observada em atletas é uma branda infecção viral do trato respiratório, sendo que, em sua revisão de literatura, verificou-se que a incidência de infecções do trato respiratório superior (ITRS) acomete somente atletas engajados em exercícios intensos e prolongados. Todavia, ressalta-se que uma dieta inadequada e repouso insuficiente são também fatores importantes que colaboram para a ocorrência de ITRS, como resfriados e gripes (HIRSCHBRUCH, 2016). INTERESSA NTE 28 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO FIGURA 5 – RESUMO DOS EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO DE INTENSIDADE MODERADA E INTENSA NA RESPOSTA IMUNOLÓGICA Legenda: MØ – macrófagos, Nφ – neutrófilos. FONTE: Adaptada de Terra et al. (2014, p. 213) 4 EXCESSO DE TREINAMENTO (OVERTRAINING) Na maioria dos programas de treinamento ocorre a aplicação do princípio de sobrecarga progressiva, que corresponde a uma carga de trabalho acima do nível considerado confortável, com objetivo de maximizar a performance por meio de adaptações fisiológicas positivas, visando promover adaptações que evitem lesões e prejuízo do processo de adaptação. A associação de um programa exaustivo de treinamento somado a um insuficiente período de recuperação e consequente prejuízo da performance por longos períodos (diversas semanas ou meses) caracteriza a síndrome de overtraining. Além disso, outros sinais e sintomas estão presentes, observe o Quadro 2: TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 29 QUADRO 2 – PRINCIPAIS SINTOMAS DO OVERTRAINING Fisiológicos/ performance Imunológicos Psicológicos ↓Performance ↑Suscetibilidade e gravidade de ITRS Depressão Período de recuperação prolongado ↓Atividade funcional de neutrófilos Apatia ↓Tolerância à sobrecarga de treinamento ↓Contagem total de linfócitos Instabilidade emocional ↓Força muscular ↓Resposta mitógenos Alteração de personalidade ↓Capacidade de trabalho máxima ↑Contagem de eosinófilos no sangue ↓Concentração no treinamento Perda de coordenação ↑Infecção bacteriana Medo de competições Alterações na pressão sanguínea Significativas variações na razão CD4: CD8 ↓Autoestima ↑Frequência da respiração Bioquímicos ↓Gordura corporal Balanço nitrogenado negativo ↑Taxa metabólica basal Disfunção hipotalâmica Fadiga crônica ↓Concentração de glicogênio muscular Insônia ↓Conteúdo mineral ósseo Anorexia nervosa ↓Ferro sérico Perda de apetite ↓Ferritina sérica Bulimia Depleção de minerais (Zn, Mn, Se, Cu etc.) Dor de cabeça ↑Concentração de ureia Náusea ↑Concentração de cortisol Dores musculares ↓Testosterona livre e total ↓Razão testosterona livre: cortisol (>30%) ↑Concentração de ácido úrico ↑Concentração de creatina quinase FONTE: Adaptado de Fry et al. (1991 apud HIRSCHBRUCH, 2016, p. 389) 30 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO Ainda, o overtraining deve ser diferente do termo overreaching, o qual corresponde a um período curto de dias, sendo esta condição facilmente recuperada em curto prazo. Corresponde a uma fase planejada durante muitos programas de treinamento, desde que se acredite que essa intervenção contribua para subsequentes aumentos de performance (HIRSCHBRUCH, 2016). 5 OVERTRAINING EM ATLETAS DE ENDURANCE E FORÇA A maioria dos estudos sobre a síndrome de overtraining tem sido realizada a partir de protocolos com exercícios físicos predominantemente aeróbicos (endurance). Poucos resultados de estudos longitudinais foram realizados sobre as respostas fisiológicas frente à redução de performance decorrente do estado de overtraining em atletas de força. Segundo Fry e Kraemer (1997, p. 398, grifos nossos): [...] existem diferenças nas respostas fisiológicas entre o overtraining decorrente de exercícios físicos aeróbicos e anaeróbicos. Sendo assim, muito dos sinais e sintomas de overtraining de natureza aeróbica. Estudos demonstram que atividades de endurance podem originar um estado de overtraining caracterizado pela regulação parassimpática, enquanto atividades anaeróbicas podem causar um estado de overtraining dominado pela regulação simpática. A síndrome do overtraining apresenta o aumento da intensidade relati- va ao treinamento de força, o que acarreta respostas fisiológicas diferentes das observadas frente ao aumento do volume de treinamento de força. Verifica-se, ainda, que a concentração dos hormônios do crescimento, testosterona total e li- vre e cortisol não é substancialmente afetada pelo protocolo de exercício de força de alta intensidade em indivíduos em estado de overtraining (Figura 6). Com o aumento do volume do treinamento de força, muitas das respostas neuroendó- crinas são similares àquelas observadas em atletas de endurance com overreaching ou overtraining, os quais, apresentam excesso de volume de treinamento. FIGURA 6 – PRINCIPAIS ALTERAÇÕES OBSERVADAS NA SÍNDROME DE OVERTRAINING EM ATLETAS DE ENDURANCE FONTE: Rogero, Mendes e Tirapegui (2005, p. 360) TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 31 A incidência de infecções é mais elevada após uma sessão de exercício vigoroso, períodos com elevada carga de treinamento e/ou aumento da frequência de competições, principalmente se associados a outros fatores estressores (aspectos psicológicos, alimentação inadequada, medicamentos e distúrbios de ritmos biológicos), do que em outros períodos de treinamento. Também, demais infecções de menor gravidade acabam por apresentar recidivas em atletas que retornam ao treinamento,acarretando um ciclo de infecções recorrentes dentro de períodos curtos (algumas semanas) (HIRSCHBRUCH, 2016). O parâmetro bioquímico que auxilia na identificação do estado de overtraining é a determinação da concentração de IgA secretória, a qual é responsável pela resposta imune humoral da superfície de mucosas, sendo sua concentração altamente correlacionada com a resistência a determinação das viroses responsáveis pela ocorrência de ITRS. Mackinnon e Hopper (1994) verificaram uma redução significativa da concentração de IgA salivar em um grupo de nadadores de elite com overtraining quando comparados aos demais atletas da equipe que foram considerados bem treinados. 5.1 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃO DO OVERTRAINING Para que a prevenção do overtraining ocorra, deve ser adotado um cuida- doso controle do estresse promovido pelo treinamento, fato que destaca a impor- tância de pesquisas científicas descreverem esses fatores estressores, fornecendo a base para a separação entre a fadiga de treinamento e a fadiga residual asso- ciada ao overtraining. Nesse sentido, a metodologia dos testes deve ser capaz de distinguir o aumento de rendimento e o estado de overtraining, possibilitando, também, o planejamento de períodos de treinamento (McKENZIE, 1999). Os dados de cada atleta devem ser regularmente monitorados ressaltando a relevância dos treinadores, que devem estar conscientizados das causas e con- sequências relacionadas ao estado de overtraining. Ainda, conforme mencionado anteriormente, a concentração de IgA salivar e glutamina plasmática e a avaliação do estado de humor, por meio de testes psicológicos, são formas de diagnóstico de overtraining (McKENZIE, 1999). Cabe destacar o papel do nutricionista em relação à redução do risco de overtraining. A orientação nutricional tem um papel relevante no desempenho esportivo de atletas e indivíduos fisicamente ativos, o que reforça a necessidade da conscientização destes quanto às necessidades nutricionais (BISHOP et al., 1999). Três fatores relevantes destacam-se na prevenção do overtraining: • estrutura do programa de treinamento, que deve permitir recuperação adequada e prevenção de lesões e fadiga excessiva, decorrentes de níveis extremos de estresse no treinamento; • programa de testes científicos que consistem de parâmetros capazes de detectar o estado de overtraining; 32 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO • testes que permitam distinguir a fadiga normal associada com treinamento daquela associada com o overtraining. Cabe ressaltar que testes psicológicos parecem ser mais sensíveis às alterações no volume de treinamento, os quais podem representar um instrumento usual na identificação de atletas que estão desenvolvendo a síndrome do overtraining. Esse fato é relevante, pois se observa que o aumento do volume de treinamento mais comumente induz ao estado de overtraining quando comparado ao da intensidade (HIRSCHBRUCH, 2016, p. 389). 6 EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NA FUNÇÃO CARDIOVASCULAR Para suprir a demanda metabólica do exercício físico, várias adaptações fisiológicas são necessárias referentes à função cardiovascular. No Quadro 3, podem-se observar as principais respostas cardiovasculares ao exercício físico agudo. Todavia, cabe destacar a importância das variáveis do exercício executado, como a intensidade, duração e massa muscular envolvida. QUADRO 3 – EFEITOS AGUDOS DO EXERCÍCIO FÍSICO SOBRE A FUNÇÃO CARDIOVASCULAR FONTE: Brum et al. (2004, p. 22) Considerando essas variáveis em relação ao tipo de exercício, esses são caracterizados em dois tipos principais: exercícios dinâmicos com contração muscular, seguida de movimento articular; e estáticos com contração muscular, sem movimento articular, os quais resultam em respostas cardiovasculares distintas (BRUM et al. 2004). Nos exercícios estáticos ocorre o aumento da frequência cardíaca, com manutenção ou pequena redução do volume sistólico e pequeno acréscimo do débito cardíaco. Também, observa-se aumento da resistência vascular periférica, podendo resultar em elevação exacerbada da pressão arterial. TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 33 Adaptações essas que ocorrem porque a contração muscular, mantida durante a contração isométrica, promove obstrução mecânica do fluxo sanguíneo muscular, fazendo com que os metabólitos produzidos durante a contração fiquem estagnados, ativando quimiorreceptores musculares e promovendo o aumento expressivo da atividade nervosa simpática (BRUM et al. 2004). FIGURA 7 – ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS DO SISTEMA CARDIOVASCULAR AO EXERCÍCIO FÍSICO FONTE: <https://bit.ly/3vLCjOS>. Acesso em: 10 maio 2021. Nos exercícios dinâmicos, nos quais as contrações são seguidas de movi- mentos articulares, não existe obstrução mecânica do fluxo sanguíneo. “Também se observa aumento da atividade nervosa simpática, desencadeado pela ativação do comando central, mecanorreceptores musculares e por metaborreceptores musculares” (FORJAZ; TINUCCI, 2000 apud BRUM, 2004. p. 22). Em resposta ao aumento da atividade simpática, observa-se aumento da frequência cardíaca, do volume sistólico e do débito cardíaco. Além da vasodilatação na musculatura que gera redução da resistência vascular periférica, fazendo com que, “dessa forma, durante os exercícios dinâmicos ocorra aumento da pressão arterial sistólica e manutenção ou redução da diastólica” (FORJAZ et al., 1998a apud BRUM, 2004. p. 22). Importante destacar que essas respostas são tanto maiores quanto maior for a intensidade do exercício, mas não se alteram com a duração do exercício, assim como, “quanto maior for a massa muscular exercitada de forma dinâmica, maior é o aumento da frequência cardíaca, mas menor é o aumento da pressão arterial” (FORJAZ; TINUCCI, 2000 apud BRUM, 2004. p. 22). 34 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO Embora as respostas cardiovasculares aos exercícios dinâmicos e estáticos sejam bem características, na prática diária, os exercícios executados apresentam componentes dinâmicos e estáticos, de modo que a resposta cardiovascular a esses exercícios depende da contribuição de cada um desses componentes. Nesse sentido, os exercícios resistidos ou exercícios de musculação (exercícios localizados contra resistências) possuem papel de destaque, pois quando executados em altas intensidades, apesar de serem feitos de forma dinâmica apresentam componente isométrico bastante elevado, fazendo com que a resposta cardiovascular durante sua execução assemelhe-se àquela observada com exercícios estáticos, ou seja, aumento da frequência cardíaca e, principalmente, aumento exacerbado da pressão arterial, que se amplia à medida que o exercício vai sendo repetido (BRUM, 2004, p. 22). A hipotensão pós-exercício caracteriza-se pela redução da pressão arterial durante o período de recuperação, o que ocasiona valores pressóricos observados pós- exercícios inferiores aos medidos antes do exercício. Nesse sentido, para que a hipotensão pós-exercício tenha importância clínica, é necessário que ela tenha magnitude importante e perdure mais que 24 horas subsequentes à finalização do exercício. Ainda, um aspecto importante diz respeito às características do exercício (tipo, intensidade e duração) que podem promover maior queda pressórica após sua execução, sendo que quanto ao tipo de exercício, a hipotensão pós-exercício é demonstrada principalmente em resposta aos exercícios aeróbios (dinâmicos, cíclicos, com intensidade leve a moderada e longa duração) (BRUM et al., 2020). ATENCAO ADAPTAÇÕES CARDÍACAS FISIOLÓGICAS INDUZIDAS PELO EXERCÍCIO FÍSICO EM ATLETAS AMADORES: REVISÃO NARRATIVA Laerte de Paiva Viana Filho João Pedro Costa Apolinário Júlia Oliveira do Carmo Laís Breguez Pascoal Lucas Pereira Figueiredo Luísa Lobo Sousa Milena Oliveira Moreira Wellington de Jesus Ferreira Junior TÓPICO 2 — FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 35 RESUMO Objetivo: Compilar evidências científicas recentes sobreas adaptações fisiológicas que ocorrem no coração de atletas amadores. Revisão bibliográfica: A prática de exercícios físicos proporciona um aumento do trabalho cardíaco para suprir a demanda metabólica, o que pode provocar adaptações fisiológicas a depender de vários fatores, como o tipo de exercício realizado, sendo esse predominantemente de força, resistência ou misto. Com a popularização da prática de atividades físicas por pessoas que não dependem do esporte como fonte de renda, os atletas amadores, tornou- se significativo a análise de registros de adaptações cardíacas fisiológicas induzidas pelo exercício que podem ocorrer nesses indivíduos. Com isso, foi possível observar as principais adaptações em praticantes de exercícios de resistência, que incluem as adaptações morfológicas do coração, no sistema de condução do impulso elétrico, além de adaptações bioquímicas e funcionais do sistema cardiovascular. Já as induzidas pelos exercícios de força, incluem predominantemente as adaptações morfológicas e funcionais, enquanto as desenvolvidas pela prática de exercícios mistos incluem alterações funcionais, morfológicas e elétricas. Considerações finais: Percebe-se a necessidade de um maior monitoramento cardiológico em atletas amadores, tendo em vista o risco aumentado de complicações cardiovasculares nesses atletas. FONTE: <https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/3999/2457>. Acesso em: 10 maio 2021. 36 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O corpo humano pode se apresentar em estado de repouso ou de exercício, e nas duas situações possuem mecanismos fisiológicos capazes de minimizar as alterações do meio interno, preservando a homeostasia. • Os efeitos fisiológicos do exercício físico podem ser divididos em: agudos imediatos, agudos tardios e crônicos, sendo que os efeitos agudos, podem também ocorrer em associação direta à sessão de exercício. • Existem diferentes formas de exercício físico, neste sentido, quando considerada a via metabólica predominante, temos os sistemas: anaeróbico alático; anaeróbico lático; aeróbico. • Os hormônios são substâncias químicas secretadas dentro de fluidos corporais, em sua maioria por glândulas endócrinas, sendo divididos em dois tipos, os esteroides e polipeptídicos. Esteroides são produzidos, a partir do colesterol, pelo córtex adrenal e pelas gônadas e os peptídeos são derivados de aminoácidos em outras glândulas endócrinas. • Os tecidos alvos da ação hormonal podem ser próximos ou relativamente afetados em relação à glândula de secreção, podendo sua ação ser em um ou mais tecidos, como o hormônio insulina, que atua em diversos tecidos, apresentando potente efeito sobre o metabolismo em situações como o repouso e a prática de exercício físico. • A doença mais comum observada em atletas é uma branda infecção viral do trato respiratório (ITRS), que acomete somente atletas engajados em exercícios intensos e prolongados. • Uma dieta inadequada e repouso insuficiente são fatores importantes que colaboram para a ocorrência de ITRS, como resfriados e gripes. • A associação de um programa exaustivo de treinamento somado a um insuficiente período de recuperação e consequente prejuízo da performance por longos períodos (diversas semanas ou meses) caracteriza a síndrome de overtraining. • Para suprir a demanda metabólica do exercício físico, várias adaptações fisiológicas são necessárias referentes à função cardiovascular, cabendo destacar a importância das variáveis do exercício executado, como a intensidade, duração e massa muscular envolvida. 37 1 Os exercícios físicos podem ser classificados como agudos e crônicos, sendo que ainda se sistematizam em outras formas de classificação quando considerados: via metabólica predominante, ritmo, intensidade e mecânica muscular. Nesse sentido, descreva essas variáveis e suas características. 2 O corpo humano pode se apresentar em estado de repouso ou de exercício e nas duas situações possuem mecanismos fisiológicos capazes de minimizar as alterações do meio interno, preservando a homeostasia. As adaptações fisiológicas seguem diferentes mecanismos. Descreva-os 3 O corpo humano pode se apresentar em estado de repouso ou de exercício físico e, em ambas as situações, possui mecanismos fisiológicos capazes de minimizar as alterações do meio interno, preservando a homeostasia. Nesse sentido, os efeitos fisiológicos do exercício físico são divididos de três formas: agudos imediatos, agudos tardios e crônicos. Assinale a alternativa que corresponde às características dos efeitos crônicos: a) ( ) Ocorrem nos períodos pré-imediato, e pós-imediato do exercício físico, caracterizados pelos aumentos de frequência cardíaca, venti- lação e sudorese normalmente associados ao esforço. b) ( ) Ocorrem nas primeiras 24 horas após uma sessão de exercício, identificados na pequena diminuição dos níveis tensionais e na elevação do número de receptores de insulina nas membranas das células musculares. c) ( ) São adaptações que resultam de exposição esporádica às sessões de exercício. d) ( ) São adaptações que resultam da exposição regular às sessões de exercício. Exemplo: hipertrofia muscular e o aumento do consumo máximo de oxigênio. e) ( ) Ocorrem nas primeiras 24 horas após uma sessão de exercício, identificados na pequena diminuição dos níveis tensionais e na elevação do número de receptores de insulina nas membranas das células musculares. Como é o caso da hipertrofia muscular e aumento do consumo máximo de oxigênio. 3 Durante a realização de exercícios físicos mais intensos, ocorre uma maior utilização da glicose, fazendo com que a necessidade de glicose pelo tecido muscular cause no decorrer do tempo, uma redução da glicemia, podendo ser compensada pela liberação de glicose, principalmente a partir do fígado, processo esse chamado de: AUTOATIVIDADE 38 a) ( ) Gliconeogênese. b) ( ) Glicólise. c) ( ) Betaoxidação. d) ( ) Lipólise. e) ( ) Glicogenólise. 4 Sou um polipeptídio liberado a partir da hipófise anterior e estimulo a sín- tese proteica, tanto em jovens quanto em indivíduos mais velhos. Além dis- so, represento um dos principais hormônios lipolíticos. Atuo estimulando a captação tecidual de aminoácidos, síntese proteica e crescimento de ossos longos. Também sou oposto à ação da insulina, uma vez que reduzo a uti- lização de glicose plasmática, aumentando a síntese de glicose no fígado e elevando a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, buscando poupar a demanda tecidual por glicose plasmática. Quem sou eu? a) ( ) Hormônio do crescimento (GH). b) ( ) Insulina. c) ( ) Glucagon. d) ( ) Adrenalina. e) ( ) Cortisol. 39 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico, seja bem-vindo ao nosso último tópico da primeira unidade, esperamos que esteja compreendendo esse mundo magnífico, que é a resposta do nosso organismo aos estímulos do exercício físico. Neste tópico, relembraremos alguns conceitos importantes na área da bioquímica para compreender como os sistemas de produção de energia atuam. 2 AS CÉLULAS Vamos, então, para nossa estrutura básica, nossas células. As células possuem mecanismos de conversão de energia, e precisam da existência de uma substância com capacidade de acumular a energia oriunda das reações que libertam energia, sendo que essa mesma substância tem capacidade de ceder essa energia às reações que consomem energia. Substância essa conhe- cida por ATP, ou adenosinatrifosfato, um composto químico lábil, que existe em todas as células, sendo uma combinação de adenina, ribose e três radicais fosfato (Figura 8). FIGURA 8 – ESTRUTURA QUÍMICA DA ADENOSINA TRIFOSFATO FONTE: <https://bit.ly/3wQ3tp5>. Acesso em: 10 maio 2021. 40 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO Tradicionalmente, o ATP é considerado a “moeda energética” do trabalho fisiológico, conforme mencionado, provém doalimento, que após consumido, é digerido, e a energia dele é extraída e conservada na molécula de ATP, que, ao sofrer a hidrolise (rompimento das ligações dos fosfatos terminais em meio aquo- so), libera essa energia para que as reações químicas possam acontecer, como é o caso da contração muscular para a realização de atividades físicas, por exemplo. O ATP é armazenado na célula em pequena quantidade, assim, para garantir a continuidade da oferta desse substrato, o organismo tem de equilibrar as taxas de utilização e síntese com a ação dos sistemas de fornecimento de energia, quando entra o mecanismo anaeróbio e aeróbio. Os dois últimos radicais fosfato estão ligados ao restante da molécula por meio de ligações de alta energia, liberando aproximadamente 11 kcal por mol de ATP, ao longo o exercício. Demonstrando que grande parte dos mecanismos celulares que necessitam de energia para funcionar, obtém-na via ATP. Para que possam compreender de onde vem o ATP, ele é derivado pós- digestão, quando os produtos finais dos alimentos são transportados até às células pela corrente sanguínea, oxidados e, assim, liberam a energia que será utilizada para formar ATP, mantendo um suprimento permanente dessa substância. A respiração celular transforma a energia química dos alimentos em uma forma química de armazenamento temporário (ATP). Nas fibras musculares, essa energia química armazenada transforma- se em energia mecânica, com o deslize dos miofilamentos durante o ciclo contrátil, sendo, dessa forma, de suma importância nos exercícios de potência de intensidade máxima que duram até 30 s, quando o músculo faz uso das fontes de energia imediatas, designadas por fosfagênios, como adenosinatrifosfato (ATP) e a fosfocreatina (CP). A principal função dos sistemas energéticos é formar o ATP, o qual será utilizado na contração muscular, pois o musculoesquelético não é capaz de utilizar diretamente a energia originada pela quebra dos grandes compostos energéticos provenientes da alimentação, como o carboidrato, os ácidos graxos e as proteinas. Pois, nas pontes transversas de miosina, há um único tipo de enzima, a ATPase, que hidrolisa ATP, para poderem ser utilizadas na contração muscular. Todavia, cabe ressaltar que nem toda energia liberada pela hidrólise do ATP é usada na contração muscular, já que grande parte (cerca de 60 – 70%) é dissipada como calor, sendo utilizado, em sua maioria, no metabolismo com o objetivo de manter a temperatura corporal estável e não apenas garantir energia para a contração muscular. Nesse sentido, apesar de o ATP representar grande importância nos pro- cessos de utilização de energia, não é o maior depósito de ligações fosfato de alta energia na fibra muscular, a CP também possui este tipo de ligações, tendo uma TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 41 concentração de quatro a cinco vezes maior que a do ATP, sendo possível aumen- tar as suas concentrações musculares com a suplementação de creatina. As con- centrações de ATP e CP no musculoesquelético de um indivíduo sedentário são, respectivamente, de seis e 28 mmol/Kg de músculo (TINOCO, 2002). Essas subs- tancias representam o sistema ATP-CP (sistema alático) para geração de energia: Quando a célula possui quantidade extra de ATP, grande parte da sua energia é utilizada para sintetizar CP, formando um reservatório de energia. Quando se começa a gastar o ATP na contração muscular, a energia da CP é rapidamente transferida de volta para o ATP (ressíntese do ATP) e deste para os sistemas funcionais da célula. Como a CP possui o maior nível energético proveniente da ligação fosfato de alta energia, a reação entre a CP e o ATP atinge um estado de equilíbrio, mais a favor do ATP. Sendo assim, o mínimo gasto de ATP pela fibra muscular utiliza a energia proveniente da CP para a síntese imediata de mais ATP. Enquanto existir CP disponível, este processo mantém a concentração do ATP a um nível quase constante, fato importante, já que a velocidade de grande parte das reações no organismo depende dos níveis deste composto. Nas atividades físicas, a contração muscular depende totalmente da constância das concentrações intracelulares do ATP, já que esta é a única molécula capaz de ser utilizada para a produção do deslize dos miofilamentos contráteis.O ATP se mantém a um nível constante nos primeiros segundos de uma intensa atividade muscular como o sprint, enquanto ocorre um declínio das concentrações de CP à medida que este vai se degradando rapidamente para a ressíntese do ATP gasto. Na exaustão, os níveis de ATP e CP são muito baixos, tornando-os incapazes de fornecer energia para assegurar posteriores contrações e relaxamentos das fibras esqueléticas ativas. Por este motivo, é limitada no tempo a capacidade de se manter os níveis de ATP ao longo do exercício de alta intensidade à custa da energia obtida da CP. Vários autores, afirmam que as reservas de ATP e CP apenas suprem as necessidades energéticas musculares durante sprints de intensidade máxima até 15s (TINOCO, 2002, p. 54). FIGURA 9 – SISTEMA ANAERÓBIO ALÁTICO FONTE: <https://bit.ly/3cYYBGr>. Acesso em: 10 maio 2021. 42 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO Além do sistema ATP-CP, utilizado predominantemente em exercícios de curtíssima duração, tem-se o sistema da glicólise (Sistema Anaeróbio Láctico). A glicólise, ou sistema anaeróbio láctico, abrange uma via metabólica utilizada por todas as células do nosso organismo, de onde se extrai parte da energia existente na molécula da glicose e se originam duas moléculas de lactato, sem consumo de oxigênio molecular, fermentação anaeróbica, em que são gerados dois moles de ATP por cada mol de glicose. No caso das células que possuem mitocôndrias, a glicólise pode ocorrer na presença de oxigênio molecular, desde que o piruvato não seja reduzido a lac- tato. O piruvato, então, entra na mitocôndria sendo oxidado a dióxido de carbono e água, produzindo aproximadamente 38 moles de ATP para cada mol de glicose oxidada (TINOCO, 2002). FIGURA 10 - SISTEMA ANAERÓBIO LÁTICO FONTE: <https://bit.ly/35EWIdZ>. Acesso em: 10 maio 2021. O processo da glicólise ocorre em três etapas distintas. Etapa 1: através da ação da enzima hexocinase, a glicose é fosforilada e a glicose-6-fosfato (G6P), produzida no citosol. Essa é uma reação irreversível. Quando o fígado precisa fornecer glicose para outros tecidos, a G6P sofre a ação da enzima glicose-6-fosfatase, que catalisa a reação reversa da catalisada pela hexocinase. Em seguida, por meio da enzima fosfoglicose isomerase, a G6P é transformada no seu isômero frutose-6-fostato ou F6P, recebendo mais um grupamento fosfato, sendo transformada no composto frutose-1,6-bisfosfato, outra reação irreversível, catalisada pela fosfofruto-cinase, uma enzima alostérica. Etapa 2: a frutose-1,6-bisfosfato dá origem a uma molécula de di- idroxiacetona fosfato e uma molécula de gliceraldeído-3-fosfato (GAP) pela ação da aldolase. A di-idroxiacetona fosfato sofre ação da triose fosfato isomerase e é convertida em gliceraldeído-3-fosfato. TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 43 Etapa 3: a enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase age sobre o GAP produzindo o 1,3-bisfosfoglicerato, tendo o NAD (Nicotinamida adenina di-nucleotídeo) como coenzima. O composto 1,3-bisfosfogli- cerato possui alto potencial energético permitindo a produção de ATP na reação seguinte, tendo como catalisadora a enzima fosfoglicerato cinase. A outra reação que sintetiza ATP transforma fosfoenolpiruvato em piruvato pela ação da piruvato cinase, sendo uma reação também irreversível (GLICÓLISE [...], 2021, s.p.). Resumindo as condições que requerem desse sistema, podem-se citar os esforços de alta intensidade com duração entre 30 s e 1 min como uma corrida de 400 m, os quais recorrem a um sistema energético caracterizado por uma grande produção e acumulação de ácido láctico, por isso, as modalidades que requerem esse tipode esforço são habitualmente chamadas de lácticas, já que a produção de energia no músculo é proveniente do rápido desdobramento dos hidratos de carbono armazenados como glicogênio, em ácido lático, se tratando de um processo anaeróbio que ocorre no citosol das fibras esqueléticas, em que a molécula da glicose é degradada anaerobicamente a ácido pirúrvico ou láctico, sendo muito ativo no musculoesquelético. Em atletas de elite, observam-se as maiores concentrações sanguíneas de lactato, em especialistas de 400-800m, tais atletas procuram aumentar a sua potência láctica devido a maior produção de energia daí resultante, já que quanto mais ácido láctico for formado, naturalmente, maior formação de ATP será obtido por esta via. Dessa forma, a produção do ácido láctico acaba sendo um mal menor e inevitável ao se recorrer a este sistema energético. Destaca-se que os músculos dos velocistas particularmente possuem grande atividade glicolítica, por possuírem um grande percentual de fibras do tipo II (de contração rápida). Sabe-se que a glicólise é a principal fonte de energia nas fibras tipo II durante o exercício intenso. Por fim, veremos que: A produção de ATP através do metabolismo aeróbio (sistema oxidativo), pela quebra da glicose, o qual divide-se em três etapas: 1ª etapa: glicólise – ocorre no citoplasma, gerando 2 ATPs + 2 piruvato + 2 NADH, com oxigênio suficiente. O ácido pirúvico entra na segunda etapa (Ciclo de Krebs). 2ª etapa: ciclo de Krebs ou Ciclo do Ácido Cítrico – ocorre na matriz mitocondrial, onde o ácido pirúvico é convertido em acetil-CoA, o qual é fracionado, formando 2 ATPs + 8 NADH + 2 FADH2, sendo os dois últimos direcionados para a última etapa (Cadeia Respiratória). 3ª etapa: cadeia respiratória – ocorre na crista mitocondrial. Os 8 NADH e os 2 FADH2 liberam seus elétrons (H+) ricos em energia, produzindo 3 ATPs por cada NADH e 2 ATPs por cada FADH2. Os elétrons liberados originam 30 ATPs provenientes do NADH, sendo 2 da cadeia respiratória e 8 do ciclo de Krebs (10 NADH x 3) e somados a 4 ATPs provenientes do FADH2, sendo 2 da cadeia respiratória x 2, obtém-se 34 ATPs (GLICÓLISE [...], 2021, s.p.). Assim, a degradação total de uma molécula de glicose, produz 38 ATPs, sendo duas de glicólise, duas do ciclo de Krebs e 34 da cadeia respiratória. Nes- se sentido, estudos apontam que esforços contínuos que duram entre 1 e 2 min, 44 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO do ponto de vista energético, são supridos tanto pelos sistemas anaeróbio (fosfa- gênios e glicólise) e aeróbio, significando que a produção de aproximadamente metade do ATP ocorre fora da mitocôndria e a outra parte no seu interior. Em exercícios que duram mais que dois minutos, a produção de ATP é fornecida maioritariamente pela mitocôndria, por serem esforços conhecidos como oxidati- vos ou aeróbios (Figura 11 e Quadro 4) (TINOCO, 2002). FIGURA 11 – SISTEMAS DE ENERGIA E SUA PREDOMINÂNCIA FONTE: Lamp (2016, p. 13) QUADRO 4 – RESUMO DOS SISTEMAS GERADORES DE ENERGIA Característica ATP - CP Ácido Lático Aeróbico Combustível utilizado Fosfato de alta energia carboidratos carboidratos, gorduras e proteínas Localização Sarcoplasma Sarcoplasma Mitocôndria Fadiga devido à... depleção de fosfato acúmulo de lactato depleção de glicogênio Capacidade: Homem Mulher muito limitada 8 - 10 Kcal 5 - 7 Kcal limitada 12 - 15 Kcal 8 - 10 Kcal sem limite >90.000 Kcal >115.000 Kcal Força: Homem Mulher muito alta 36-40 Kcal/min 26-30 Kcal/min alto/moderada 16-20 Kcal/min 12-15 Kcal/min moderada/baixa 12-15 Kcal/min 9-12 Kcal/min Intensidade: % máximo muito alta > 95% F. C. M. alta/moderada 85%-95 F. C. M. moderada /baixa <85% F. C. M. TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 45 Tempo para fadiga muito curto: de 1- 15 seg. curto/médio: de 45 - 90 segs. médio/longo: de 3-5 min. Atividades: corrida natação ciclismo remo <100 m < 25 m <175 m < 50 m 400-800 m 100-200 m 750-1500 m 250-500 m >1500 m > 400 m >3000 m >1000 m FONTE: <http://www.cdof.com.br/nutri2.htm>. Acesso em: 25 mar. 2013. Dos grupos de compostos energéticos adquiridos pela alimentação (carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos), somente os carboidratos podem ser utilizados para a produção rápida de energia sem recorrer à utilização de oxigênio (glicólise), o que ocorre durante as atividades de máxima intensidade com duração de 30 segundos a 1 minuto. Importante destacar que a oxidação permite a continuação do catabolismo da glicose a partir do piruvato, bem como dos ácidos graxos e dos aminoácidos, diferente da glicólise, que utiliza exclusivamente glicose. IMPORTANT E Para finalizar essa abordagem dos sistemas geradores de energia, é importante destacar que grande parte das atividades diárias é suprida pelo metabolismo aeróbio, sendo a maior parte do gasto energético muscular proveniente da oxidação mitocondrial dos ácidos graxos livres (AGL). Embora a produção energética seja assegurada em 40% pelos carboidratos e em 60% pelos lipídeos em repouso. O cérebro é o maior consumidor de carboidratos do organismo, situação em que os AGL asseguram quase totalmente as necessidades energéticas musculares (HIRSCHBRUCH, 2016). 3 METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES A síntese e a degradação do glicogênio (glicogênese e glicogenólise) acontecem em momentos distintos: no período pós-prandial e em repouso, há a ação da insulina, e podemos utilizar a glicose proveniente dos alimentos para armazenar em forma glicogênio (hepático e muscular). Por sua vez, em períodos de jejum, hipoglicemia e de pratica de exercícios físicos, os hormônios glucagon e/ou epinefrina estão em ação no fígado e no músculo, respectivamente, e necessitamos mobilizar os estoques de glicogênio para disponibilizar moléculas de glicose para suprir as necessidades (HIRSCHBRUCH, 2016). 46 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO Durante os exercícios físicos, a glicose mobilizada da molécula de glicogênio muscular pode ser oxidada de forma aeróbia ou anaeróbia, dependendo do aporte de oxigênio, ou seja, depende do tipo e da intensidade da atividade realizada, conforme discutido anteriormente. Nossa musculatura esquelética, não é capaz de estocar glicogênio suficiente para sustentar exercícios físicos muito longos, assim, ao começarem a esgotar os estoques de glicogênio muscular, uma outra reserva energética começa a ser mobilizada durante a pratica de exercícios físicos: os ácidos graxos, estocados na forma de triacilglicerol no tecido adiposo. A oxidação dos ácidos graxos (beta-oxidação) ocorre nas mitocôndrias, fazendo com que esses só possam ser utilizados como fontes de energia em situação aeróbia, ou seja, na presença de oxigênio (TINOCO, 2002). Durante a pratica de exercício físico, nosso organismo utiliza de diferentes formas para captar energia e manter a contração muscular, concomitantemente, outras funções fisiológicas permanecem acontecendo. Destaca-se também, que nosso organismo trabalha com “mecanismos de redundância”, ou seja, diferentes formas de obter resultados semelhantes, para que, caso houver alguma falha no processo, exista outro sistema compensatório, como ocorre com nossos sistemas energéticos, onde os ATPs, a fosfocreatina (sistema ATP-CP), os estoques de glicogênio e triacilglicerol, conseguem realizar alguns desses processos independentemente da presença de oxigênio. As reações acontecem de uma forma dinâmica, todavia, como exemplo ilustrativo, e como uma sequência lógica de eventos, podemos pensar na contribuição das diferentes fontes energéticas no decorrer dos exercícios físicos da maneira como está ilustrado no Gráfico 1. GRÁFICO 1 – VALORES RELATIVOS DA CINÉTICA DE CONSUMO DE GLICOSE E DE ÁCIDOS GRAXOS PELO MÚSCULO ESQUELÉTICO DURANTE CONTRAÇÕES FONTE: <https://www.scielo.br/img/revistas/abem/v55n5/a02fig4.jpg>. Acesso em: 10 maio 2021. TÓPICO 3 — SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 47 LEITURA COMPLEMENTARCONTRAÇÃO MUSCULAR Portal da Educação A especialidade do musculoesquelético é a transformação de energia química em energia mecânica, sendo este órgão desenvolvido para otimizar esta função usando um conjunto de proteínas relacionadas com o movimento. O musculoesquelético é formado por células alongadas, multinucleadas conhecidas por fibras musculares. Nessas fibras existem actina e miosina, proteínas contráteis que formam os filamentos finos e grossos respectivamente, dispostos paralelamente nas miofibrilas das fibras. As miofibrilas também estão arranjadas paralelamente, apresentando um padrão de bandas escuras e claras dispostas em série, o que dá a característica de estrias às fibras desses músculos. Esta aparência estriada se deve à birrefringência diferente das proteínas contrateis. A banda clara é conhecida por banda-I, devido à isotropia (I) da região da miofibrila dada pelos filamentos finos, já a banda-A, é assim conhecida por sua anisotropia(A), formada por filamentos grossos intercalados aos finos. Denomina- se sarcômero a unidade contrátil, e seus limites laterais são dados pelos discos Z, formados por alfa-Actinina, onde os filamentos finos, a Tinina e a Nebulina se prendem. O sarcômero é delimitado por duas linhas Z, separadas por duas banda-I e uma banda-A. FIGURA – CONTRAÇÃO MUSCULAR FONTE: <https://bit.ly/3wNSDjh>. Acesso em: 10 maio 2021. 48 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO O fornecimento direto de energia utilizada na contração muscular é de responsabilidade do ATP. Na presença de ATP, as Miofibrilas isoladas podem ser contraídas e durante a contração a banda I diminui de comprimento enquanto a banda A o mantém. As bandas Z então se aproximam e assim, os sarcômeros se encurtam. Quando falta ATP, a miosina e a actina continuam ligadas. Já quando existe ATP ocorre hidrólise de sua molécula liberando energia que será utilizada para movimentar a junção miosina/actina. Isso sugere que a contração muscular ocorra por meio do deslizamento de dois filamentos um sobre o outro, sem alterar suas estruturas, composição química ou comprimento. Na contração muscular isotônica o comprimento do sarcômero diminui, e os filamentos se encontram no centro da banda H, ponto em que se obser- va tensão máxima e os filamentos não tem como deslizar mais, atingindo uma situação isométrica. Já com relação à contração isométrica, onde não ocorre a diminuição do comprimento do músculo, a energia que o ATP libera não pode ser transformada em trabalho por conta da incapacidade de deslizar mais os fila- mentos sobre os outros e ocorre produção somente de calor mas de trabalho não. Assim, podemos definir a contração como a ativação das fibras musculares com a tendência destas se encurtarem. Ocorre com o aumento do cálcio citosólico, que dispara diversos eventos moleculares, que causam a interação entre miosina e actina, fazendo com que essa última, deslize sobre os filamentos, grosso e os sarcômeros encurtem-se em série. FONTE: <https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/nutricao/contracao- muscular/39419>. Acesso em: 10 maio 2021. 49 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • As células possuem mecanismos de conversão de energia, e precisam da existência de uma substância que tem capacidade de acumular a energia oriunda das reações que libertam energia, substância essa conhecida por ATP, ou adenosina trifosfato, um composto químico lábil, que existe em todas as células, sendo uma combinação de adenina, ribose e três radicais fosfato. • O ATP é derivado pós-digestão, quando os produtos finais dos alimentos são transportados até às células pela corrente sanguínea, oxidados e assim, liberam energia que será utilizada para formar ATP, mantendo assim um suprimento permanente dessa substância. A respiração celular transforma a energia química dos alimentos em uma forma química de armazenamento temporário (ATP). • A principal função dos sistemas energéticos é formar o ATP, o qual será utilizado na contração muscular, pois o musculoesquelético não é capaz de utilizar diretamente a energia originada pela quebra dos grandes compostos energéticos provenientes da alimentação, como o carboidrato, os ácidos graxos e as proteinas. • A produção de ATP através do metabolismo aeróbio ocorre pela quebra da glicose, a qual divide-se em três etapas: glicólise; ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico; cadeia respiratória. • Dos grupos de compostos energéticos adquiridos pela alimentação (carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos), somente os carboidratos podem ser utilizados para a produção rápida de energia sem recorrer à utilização de oxigênio (glicólise). • A oxidação permite a continuação do catabolismo da glicose a partir do piruvato, bem como dos ácidos graxos e dos aminoácidos, diferente da glicólise, que utiliza exclusivamente glicose. 50 UNIDADE 1 — NUTRIÇÃO NO EXERCÍCIO FÍSICO Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • Durante os exercícios físicos, a glicose mobilizada da molécula de glicogênio muscular pode ser oxidada de forma aeróbia ou anaeróbia, dependendo do aporte de oxigênio, ou seja, depende do tipo e da intensidade da atividade realizada, conforme discutido anteriormente. 51 1 Durante a pratica de exercício físico, nosso organismo utiliza de diferentes formas para manter a contração muscular, concomitantemente, outras funções fisiológicas permanecem acontecendo. Destaca-se também, que nosso organismo trabalha com “mecanismos de redundância”, ou seja, diferentes formas de obter resultados semelhantes, para que, caso houver alguma falha no processo, exista outro sistema compensatório, como ocorre com nossos sistemas. Descreva a principal função dos sistemas energéticos. 2 A síntese e a degradação do glicogênio acontecem em momentos distintos, no período pós-prandial e em repouso, há a ação da insulina, e podemos utilizar a glicose proveniente dos alimentos para armazenar em forma glicogênio. Em períodos de jejum, hipoglicemia e de prática de exercícios físicos, os hormônios glucagon e/ou epinefrina estão em ação no fígado e no músculo, respectivamente, e necessitamos mobilizar os estoques de glicogênio para disponibilizar moléculas de glicose para suprir as necessidades. Ainda, durante os exercícios físicos, a glicose mobilizada da molécula de glicogênio muscular pode ser oxidada de forma aeróbia ou anaeróbia, dependendo do aporte de oxigênio, ou seja, depende do tipo e da intensidade da atividade realizada. Descreva o que ocorre no momento em que os estoques de glicogênio se esgotam. 3 Quando a célula possui quantidade extra de ATP, grande parte da sua energia é utilizada para sintetizar CP, formando um reservatório de energia. Quando se começa a gastar o ATP na contração muscular, a energia da CP é rapidamente transferida de volta para o ATP (ressíntese do ATP) e deste para os sistemas funcionais da célula. Como a CP possui o maior nível energético proveniente da ligação fosfato de alta energia, a reação entre a CP e o ATP atinge um estado de equilíbrio, mais a favor do ATP. Sendo assim, o mínimo gasto de ATP pela fibra muscular utiliza a energia proveniente da CP para a síntese imediata de mais ATP. Nas atividades físicas, a contração muscular depende totalmente da constância das concentrações intracelulares do ATP, já que esta é a única molécula capaz de ser utilizada para a produção do deslize dos miofilamentos contráteis. Qual é esse sitema de geração de energia e qual o tempo dos exercícios que utilizam desse mecanismo? a) ( ) Sistema alático – duração de 1 a 15 segundos. b) ( ) Sistema alático – duração de 1 a 30 segundos. c) ( ) Sistema oxidativo – mais que 30 segundos. d) ( ) Sistema lático – duração de 1 a 15 segundos. e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. AUTOATIVIDADE52 4 O sistema anaeróbio lático abrange uma via metabólica utilizada por todas as células do nosso organismo, de onde se extrai parte da energia existente na molécula da glicose e se originam duas moléculas de lactato, sem consumo de oxigênio molecular, fermentação anaeróbica, onde são gerados dois moles de ATP por cada mol de glicose. Qual processo corresponde à esse sistema? a) ( ) Proteólise. b) ( ) Glicólise. c) ( ) Lipólise. d) ( ) Fermentação aeróbica. e) ( ) Glicogenólise. 5 A produção de ATP através do metabolismo aeróbio (sistema oxidativo), ocorre por meio de três etapas. Assinale a opção CORRETA, considerando a ordem correta das etapas. a) ( ) Glicólise; ciclo de krebs e cadeia respiratória. b) ( ) Cadeia respiratória; ciclo do ácido cítrico e glicólise. c) ( ) Ciclo de krebs; glicólise e ciclo do ácido cítrico. d) ( ) Glicogenólise; lipólise e betaoxidação. e) ( ) Glicólise, ciclo de krebs, fermentação anaeróbica. 53 REFERÊNCIAS ADA – AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE; AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Dietitians of Canada. Nutrition and athletic performance. Joint position statement. Med Sci Sports Exerc., [S. l.], v. 32, n. 12, p. 2130-2145, 2000. ADA – AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Position of the American Dietetic Association: nutrition for the physical fitness and athletic performance for adults. J Am Dietetic Assoc, [S. l.], v. 87, p. 933-939, 1987. AMARAL NETO, R. F. do. Hormônio do crescimento: sete variáveis que podem influenciar sua liberação no exercício. Campinas, 8 nov. 2020. 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Int J Sports Med., [S. l.], v. 25, p. 510-515, 2004. 56 57 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer os diferentesprocedimentos que podem ser utilizados para avaliação da composição corporal, bem como os resultados deve ser interpretado e analisado; • identificar a importância dos macronutrientes no metabolismo dos esportistas e atletas; • verificar os cálculos e diretrizes para recomendação do consumo de energia e de macronutrientes aos esportistas e atletas; • descrever os benefícios da hidratação antes, durante e após a prática do exercício físico, considerando as variáveis de cada modalidade esportiva, fisiologia do atleta e condições ambientais, compreendendo a importância da orientação do fluido e eletrólito compatível ao esportista/atleta; • identificar nos fluidos disponíveis no mercado, quais podem ser utiliza- dos pelos esportistas/atletas, bem como, qual momento e a quantidade que deve ser consumido, refletindo sobre o conteúdo energético e de eletrólitos dessa bebida, conhecida como suplementos hidroeletrolíticos para atletas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – COMPOSIÇÃO CORPORAL TÓPICO 2 – NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE TÓPICO 3 – HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 58 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 59 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Para falarmos de composição corporal, precisamos, inicialmente, relembrar o que é a antropometria. A palavra antropometria tem sua origem do grego: anthropo, que significa homem, e metron, medida, ou seja, medidas físicas de um indivíduo relacionadas a um padrão que reflete o crescimento e desenvolvimento, compondo a avaliação nutricional (ROSSI, 2005). Com esses dados, conseguimos estudar a composição corporal humana e seus diversos constituintes, como a massa corporal total, expressa por percentuais de gordura e massa magra (COSTA, 2001). Nesse sentido, o estudo da composição corporal se faz de suma impor- tância na avaliação de indivíduos saudáveis, doentes, praticantes de exercício físico e atletas de alto nível, possibilitando o entendimento de processos relacio- nados com a mortalidade e morbidade, como no caso da obesidade, alterações no processo de crescimento e desenvolvimento, aptidão física, treinamento e desempenho esportivos (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015). TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL 2 VARIÁVEIS APLICADAS NA AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL Segundo Guedes e Guedes (1998), as informações referentes à composição corporal ganham destaque nos programas de controle da massa corporal que exigem acompanhamento criterioso quanto ao aconselhamento nutricional e a prescrição de exercícios físicos. Devem ser considerados os principais componentes de variações na composição corporal como os ossos, os músculos e a gordura (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015). É possível dividir a massa corporal em massas gorda e magra, quando, de maneira geral, pode-se adotar como média que o tecido adiposo, em indivíduos saudáveis dos gêneros masculino e feminino, represente aproximadamente 15 e 23% da massa corporal total, respectivamente, e o restante é considerado massa magra (MM) – 75 a 85%. UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 60 Para verificação da composição corporal, tem-se os métodos diretos, indiretos e duplamente indiretos (Figura 1). Os métodos indiretos também referenciados como “padrão-ouro” utilizam equipamentos complexos, como tomografia computadorizada (TC), densitometria óssea (DEXA – dual-energy X-ray absorptiometry), ultrassonografia, tanque de pesagem hidrostática; todavia, embora sejam aceitos e válidos, apresentam em comum as seguintes limitações para estudos de campo: gastam muito tempo para uma única determinação, os equipamentos são de alto custo ou há necessidade de laboratório de pesquisa, além disso, precisam de pessoal técnico especializado para os procedimentos e geralmente exigem alto grau de participação do indivíduo. FIGURA 1 – METODOLOGIAS DE ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CORPORAL FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 160) Nesse sentido, os métodos duplamente indiretos são considerados como os de primeira opção, representando facilidade e rapidez na coleta, não invasibilidade, facilidade de interpretação, pequenas restrições culturais, baixo grau de colaboração do avaliado, reprodutibilidade, sistemática de análise da composição corporal e condições pré-avaliatórias simples, entre outras vantagens. Esse método exige um avaliador treinado e experiente, escolha de equipamento e de protocolos adequados para obtenção e discussão dos resultados. Suas técnicas consistem basicamente em realizar as mensurações de dobras cutâneas, perímetros e diâmetros ósseos, em vários segmentos amostrais. Esse princípio baseia-se no pressuposto de que, em adultos saudáveis, metade a 1/3 da gordura corporal é subcutânea e apresenta boa relação entre gordura na área subcutânea e densidade corporal (CYRINO et al., 2003). TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL 61 2.1 DOBRAS CUTÂNEAS A obtenção das dobras cutâneas (DC) é uma das medidas antropométricas mais comumente utilizada nas estimativas de parâmetros da composição corporal e, como procedimento de estudo, está alicerçada na observação de que grande quantidade de gordura corporal total se encontra no tecido subcutâneo. Dessa maneira, medidas quanto à sua espessura serviriam como indicador da quantidade de gordura localizada naquela região do corpo. Normalmente, as medidas de bíceps e tríceps já são suficientes como medidas preestabelecidas, porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a realização de dobras cutâneas (GUEDES; GUEDES, 2002). As dobras mais referenciadas na literatura e que compõem a maioria das equações antropométricas preditivas para determinação da gordura corporal são: tríceps, bíceps, subescapular, abdominal, axilar média, peitoral, supra ilíaca, coxa e panturrilha (COSTA, 2001). As considerações gerais para a realização de medidas de dobras estão no Quadro 1. Medir sempre o hemicorpo direito, a menos que haja uma recomendação específica (lado não dominante), estando o avaliado em uma posição cômoda e com a musculatura relaxada. Ao medir, é imprescindível a determinação exata do ponto anatômico, de preferência conforme a padronização, além de seguir o procedimento técnico adequado, minimizando as diferenças inter e intra- avaliadores. Segue passo a passo: Separar o tecido adiposo subcutâneo do tecido muscular e estruturas mais profundas, por meio dos dedos polegar e indicador da mão esquerda. Des- tacar a DC colocando o polegar e o dedo indicador, separados por, aproxima- damente, 8 cm entre si, sobre uma linha perpendicular ao eixo que acompanha a dobra da pele. Quanto mais espesso for o tecido subcutâneo, maior deverá ser a distância entre o polegar e o dedo indicador para destacar a dobra. Ajustar as extremidades do equipamento cerca de 1 cm do ponto anatômico. Elevar a dobra cutânea por volta de 1 cm acima do ponto de medida e mantê-la elevada enquanto faz a medida (Figura 3). Ao finalizar, soltar a pressão das hastes do compasso lentamente e aguardar de dois a quatro segundos para fazer a leitura, dependendo do plicômetro/adipômetro e da habilidade do avaliador. Realizar três medidas de cada dobra alternadas, tirar a média ou considerar o valor intermediário. Abrir o compasso lentamente e liberar a DC, evitando “beliscar” o avaliado. UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 62 QUADRO 1 – ORIENTAÇÃO PARA MEDIDAS DAS DOBRAS CUTÂNEAS TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL 63 FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 164) FIGURA 2 – LOCAIS DE PADRONIZAÇÃOPARA MEDIÇÃO DAS DOBRAS CUTÂNEAS Legenda: A. Tríceps; B. Bíceps; C. Subescapular; D. Abdominal; E. Axilar média; F. Peitoral feminino; G. Peitoral masculino; H. Suprailíaca; I. Coxa; J. Panturrilha. FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 163) Para medir as dobras cutâneas, é utilizado um equipamento específico, que recebe diversas designações: compasso de dobras cutâneas, espessímetro, plicômetro ou adipômetro. Esse equipamento tem como aplicação a medição da espessura do tecido adiposo em determinados pontos da superfície corporal, conforme descritos anteriormente (Figura 3). UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 64 FIGURA 3 – DIFERENTES PLICÔMETROS ENCONTRADOS NO MERCADO Legenda: A. Digital Fat Track Pro; B. Lange; C. Body Caliper; D. Sanny clínico; E. Sanny científico; F. Cescorf clínica; G. Cescorf científico. FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 169) 2.2 CIRCUNFERÊNCIA OU PERÍMETRO As medidas são feitas com auxílio de fita métrica flexível, porém não elástica, com precisão de 1 mm (Quadro 2). Essa fita métrica deve ter, de preferência, somente uma marcação numérica do lado destinado à leitura e 7 mm de largura. No Quadro 2 estão relacionadas as medidas de circunferências mais utilizadas na prática nutricional. Para realização das medidas corporais são considerados os seguintes tópicos: O plano da fita deve estar adjacente à pele, e suas bordas, perpendiculares em relação ao eixo do segmento que se quer medir (com exceção da medida do perímetro da cabeça e do pescoço). Medir o perímetro em sua extensão máxima, com o zero da fita estando por baixo do valor da leitura. Realizar as mensurações exercendo leve pressão sobre a pele, evitar apertar excessivamente a fita. Para manter constante a pressão exercida sobre a pele, é interessante prender um elástico na extremidade do instrumento; durante a realização da medida, procurar mantê-lo estendido. Não deixar o dedo entre a fita e a pele e, sempre que possível, medir sobre a pele nua. Nos casos das mensurações das circunferências de tronco, cintura e abdome, realizar a leitura na fase final da expiração normal. Mas em que as medidas de circunferência podem auxiliar-nos? Elas podem contribuir com os estudos de crescimento em crianças, fornecer índices de estado nutricional e níveis de gordura (estimativas indiretas), assim como, facilitar estudos de composição corporal de indivíduos jovens, idosos e crianças por ser um modo de mensuração antropométrica simples, rápido e mais adequado a essas populações. TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL 65 QUADRO 2 – LOCAIS DE PADRONIZAÇÃO E PROPÓSITO PARA MEDIÇÃO DAS CIRCUNFERÊNCIAS CORPORAIS UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 66 FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 173) 2.3 BIOIMPEDÂNCIA Segundo Heyward e Stolarczyk (2000), a análise de BIA (Bioimpedância – Figura 4) é um método rápido, não invasivo e relativamente barato de ava- liação da composição corporal. O método baseia-se na passagem de corrente elétrica de baixa amplitude (50 a 800 mA) e alta frequência (50 kHz). FIGURA 4 – DIFERENTES TIPOS DE APARELHOS DE BIOIMPEDÂNCIA Legenda: A. Biodynamics; B. Tanita FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 180) TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL 67 Com esse método, uma corrente elétrica de baixo nível passa pelo corpo e a impedância (Z), ou oposição ao fluxo da corrente, é a medida com analisador de BIA. A água corporal total (ACT) de um indivíduo pode ser estimada pela medida de impedância, pois os eletrólitos na água corporal são excelentes condutores de corrente elétrica. Quando o volume da ACT é grande, a corrente flui mais facilmente pelo corpo com menor resistência (R). A resistência ao fluxo da corrente será maior em indivíduos com grande quantidade de gordura corporal, pelo fato de o tecido adiposo ser um mau condutor de corrente elétrica por sua relativa baixa concentração de água (ROSSI, 2005). Como o conteúdo de água da massa livre de gordura (MLG) é relativamente grande (73% de água), esta pode ser predita por meio das estimativas de ACT. Dessa maneira, é importante observar que a BIA não mede diretamente a composição corporal, mas a resistência e a reatância, tendo como finalidade, estimar a água corporal total e, a partir desta, a massa isenta de gordura, na qual, subtraindo esse valor da massa corporal, obtém-se o percentual de gordura (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015) Comparando a exatidão relativa do método de BIA ser compatível ao de DC, a BIA deve ser preferida em algumas situações, as quais serão pontuadas no Quadro 3: Não requer alto grau de habilidade do avaliador, em sua maioria, é mais confortável e não invade tanto a privacidade do indivíduo. Seu uso potencial está sendo estabelecido para aplicações clínicas, como avaliação de %G, MM, ACT, entre outras. QUADRO 3 – FATORES INTERVENIENTES NA APLICAÇÃO DO MÉTODO DE BIOIMPEDÂNCIA UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 68 Legenda: BIA = bioimpedância; R = resistência FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 182) Segundo Heyward e Stolarczyk (2000), a principal fonte de erro do método de BIA é a variabilidade intraindividual na resistência total do corpo, devido a fatores que alteram o estado de hidratação do indivíduo. Entre 3,1 e 3,9% da variação na resistência podem ser atribuídos às flutuações diárias na água corporal. O protocolo que deve ser obedecido pelo avaliado para a obtenção de um teste de BIA mais fidedigno em suas diferentes aplicações é o seguinte: • Jejum de pelo menos 4 horas. • Não fazer exercícios antes de 12 horas do teste. • Urinar pelo menos 30 minutos antes do teste. • Não consumir álcool antes de 48 horas do teste. • Não tomar medicamentos diuréticos antes de sete dias do teste (a menos que sob prescrição médica). • Manter-se pelo menos 10 minutos em posição de decúbito dorsal em repouso absoluto antes de efetuar o exame. • Mulheres que percebam que estão retendo água durante estágio de seu ciclo menstrual não devem realizar o teste (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015). 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL EM PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO E ATLETAS Você deve lembrar que o bom estado nutricional é resultado do equilíbrio entre a ingestão de alimentos e as necessidades nutricionais. Nesse sentido, a avaliação do estado nutricional exige a utilização de vários métodos que analisados em conjunto permitirão traçar o perfil nutricional do atleta. Dentre os métodos que estudaremos a seguir está a avaliação antropométrica e composição corporal, sendo ainda importantes os exames bioquímicos e anamnese alimentar. TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL 69 Em geral, a população de atletas, adolescentes ou adultos, tem uma boa porcentagem de massa magra com baixas porcentagens de gordura, isso em com- paração com os indivíduos não atletas. Na maioria das vezes, a porcentagem de gordura corporal mínima é de aproximadamente 5 e 12% para homens e mulhe- res, respectivamente. Todavia, cabe destacar que existem esportes em que não se requer uma porcentagem de gordura baixa, como no sumô e lançamento de tiro. O conceito de saúde e composição corporal saudável abrange mais do que a determinação da porcentagem de tecido adiposo ou da gordura corporal. O estado de saúde reflete um equilíbrio entre vários fatores, um dos quais está refletido na composição corporal em função da acumulação de gordura (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015). Ao utilizar das dobras cutâneas para podermos identificar o percentual de gordura corporal dos esportistas e atletas, devemos realizar cálculos matemáticos, conforme as fórmulas apresentadas no Quadro 4, as quais terão como resultado a densidade corporal (DC). QUADRO 4 – EQUAÇÕES PARA CÁLCULO DE DENSIDADE CORPORAL (DC) COM BASE EM ESPESSURAS DE DOBRAS CUTÂNEAS Legenda: Ʃ= somatório das dobras cutâneas; D ou DC = densidadecorporal; %G percentagem de gordura corporal. FONTE: Adaptado de Guedes e Guedes (1998) UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 70 Por meio da densidade corporal dos indivíduos avaliados, calcula-se o percentual de gordura, empregando-se a equação proposta por Siri (1961) ou a de Lohman (1986), conforme Quadro 5 e Tabela 1, respectivamente. QUADRO 5 – EQUAÇÃO PARA CÁLCULO DE PORCENTAGEM DE GORDURA (%GC) COM BASE NA DENSIDADE CORPORAL Legenda: DC = densidade corporal; %G percentagem de gordura corporal. FONTE: Adaptado de Guedes e Guedes (1998) TABELA 1 – ADEQUAÇÃO DA FÓRMULA DE SIRI – LOHMAN (1986) Legenda: D = densidade corporal. FONTE: Adaptado de Guedes e Guedes (1998) São várias as fórmulas existentes para estimativa de composição corporal, todavia a mais indicada no caso de atleta é a de Jackson e Pollock de sete dobras. Inicialmente, já destacamos que alguns índices utilizados na população geral não têm sido considerados os melhores métodos para a avaliação da composição corporal em atletas e devem ser utilizados com certa precaução, por exemplo, o índice de massa corporal ou IMC (kg/m2). A razão dessa confusão pode ser porque o IMC não discrimina a MLG e a MG, já que se utiliza o peso total aferido na balança. Nesse contexto, é típico de atletas magros, com um elevado desenvolvimento músculo esquelético, apresentarem valores elevados de IMC (acima de 25 e 30 kg/m2), sendo incorreto concluir que podem ser classificados como indivíduos com sobrepeso ou com obesidade. IMPORTANT E TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL 71 A classificação de adequação do %G baseia-se nos padrões propostos por diferentes autores, conforme Quadros 6, 7, 8 e 9 e deve ser utilizada para a avaliação do risco de doenças relacionadas tanto com a deficiência quanto com o excesso de gordura e também para o cálculo da massa corporal (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015). QUADRO 6 – PADRÕES DE PERCENTUAIS DE GORDURA CORPORAL PARA AMBOS OS GÊNEROS FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 697) QUADRO 7 – PADRÕES DE PERCENTUAIS DE GORDURA CORPORAL PARA O SEXO MASCULINO, DE ACORDO COM POLLOCK E WILMORE (1993) FONTE: Adaptado de Pollock e Wilmore (1993) QUADRO 8 – PADRÕES DE PERCENTUAIS DE GORDURA CORPORAL PARA O SEXO FEMININO, DE ACORDO COM POLLOCK E WILMORE (1993) UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 72 FONTE: Adaptado de Pollock e Wilmore (1993) QUADRO 9 – PADRÃO DE RESULTADO DE AVALIAÇÃO FÍSICA POR IDADE E SEXO FONTE: Pollock e Wilmore (1993, p. 56) A gordura é um componente do corpo humano que se acumula no tecido gordo ou tecido adiposo (TA). Na atualidade, se reconhece que o tecido adiposo, além de ser uma reserva de lipídeos, é um órgão endócrino que produz uma variedade de hormônios e citocinas que regulam o metabolismo e influenciam a composição corporal. A diferenciação entre gordura e TA na linguagem normalmente é irrelevante, e os termos são usados sem distinção como sinônimos. Mesmo assim, no campo da composição corporal e do metabolismo, a gordura e o TA são conceitos diferentes (GUEDES; GUEDES, 1998). TÓPICO 1 — COMPOSIÇÃO CORPORAL 73 A variabilidade no mesmo indivíduo, pode ser também considerável, ao longo do tempo, se este passar por sucessivas fases de obesidade e magreza. O peso corporal pode ser funcionalmente dividido em dois componentes: massa corporal livre de gordura (MLG), a qual inclui tecido e componentes que estão funcionalmente envolvidos na produção e condução de força, e a massa gorda (MG). A influência da MLG e MG é complexa, tendo ambos efeitos negativos e positivos, dependendo do tipo de atividade física que se deseja realizar. Nesse contexto, de maneira geral, a gordura corporal tem influência negativa na atuação esportiva, tanto em nível metabólico quanto mecânico, principalmente nas atividades em que se requer deslocamento de peso corporal. Para um corredor de distância, por exemplo, a gordura representa um peso morto que deve mobilizar, enquanto os componentes da MLG incluem tecidos que produzem e conduzem força, como os músculos. Por sua vez, os nadadores, podem ter certa quantidade de gordura que influenciará de forma positiva sua flutuação na água e uma alta porcentagem de MLG pode ter efeitos negativos, como menor flutuação, além de aumentar a demanda energética para o deslocamento do corpo na água (GUEDES; GUEDES, 1998). Para saber mais sobre métodos de avaliação da composição corporal de atletas, leia o artigo: Comparação entre métodos de avaliação da composição corporal em atletas: uma revisão sistemática, disponível em: http://www.rbne.com.br/index.php/ rbne/article/view/1478. DICAS 74 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A avaliação da composição corporal se faz de suma importância para conhecer o padrão de saúde/doença dos indivíduos. • Para avaliar a composição corporal existem três métodos, os métodos diretos, indiretos e duplamente indiretos, sendo que os métodos indiretos são considerados padrão ouro pela assertividade da composição corporal e os métodos duplamente indiretos são os mais práticos e aplicáveis em clínicas. • Para aferição das medidas antropométricas é importante o avaliador ser treinado, para padronização e assertividade do resultado de percentual de gordura corporal do atleta, considerando a aferição das dobras por três vezes e a realização da média dessas. • Além da aferição das dobras cutâneas, os perímetros também são importantes para acompanhar estado de saúde e crescimento da musculatura, quando este for o objetivo. • A bioimpedância é um método rápido, não invasivo e relativamente barato de avaliação da composição corporal, muitas vezes preferido ao método de aferição das dobras. • Há várias fórmulas para calcular a densidade corporal de atletas, sendo que a mais indicada é a de Jackson e Pollock (1988). 75 1 Em geral, a população de atletas, tem uma boa porcentagem de massa magra com baixas porcentagens de gordura, isso em comparação com os indivíduos não atletas. Em relação à composição corporal, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O excesso de gordura corporal melhora o desempenho quando se requer aceleração do corpo tanto na vertical quanto na horizontal, porque se soma o peso de uma massa que não está produzindo força. ( ) Em um corredor de distância, a massa gorda representa um peso morto que deve ser movido, enquanto os componentes da massa livre de gordura incluem os tecidos que produzem e conduzem a força. ( ) A gordura corporal, no geral, influencia negativamente nas modalidades esportivas que requerem agilidade, velocidade, resistência, deslocamento e saltos. ( ) A fórmula de Jackson e Pollock tem como resultado a densidade corporal do atleta, sendo necessário para avaliar a composição corporal aplicar a fórmula de Siri. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F, V, V, V. b) ( ) F, V, F, V. c) ( ) V, F, V, F. d) ( ) V, V, V, F. e) ( ) F, V, V, F. 2 A gordura é um componente do corpo humano que se acumula no tecido adiposo (TA). Na atualidade, se reconhece que o tecido adiposo, além de ser uma reserva de lipídeos, é um órgão endócrino que produz uma variedade de hormônios e citocinas que regulam o metabolismo e influenciam a composição corporal. Descreva como o peso corporal pode ser funcionalmente dividido e a influência desses componentes no organismo de um esportista/atleta. 3 A bioimpedância (BIA) é um método rápido, não invasivo e relativamente barato de avaliação da composição corporal, que se baseia na passagem de corrente elétrica de baixa amplitude (50 a 800 mA) e alta frequência (50 kHz). Para avaliação utilizando a BIA, deve ser seguido um protocolo, o qual consiste em: AUTOATIVIDADE 76 a) ( ) Fazer jejum de pelo menos 12 horas;não fazer exercícios antes de 24 horas do teste; urinar pelo menos 60 minutos antes do teste; não consumir álcool antes de 48 horas do teste; não tomar medicamentos diuréticos antes de sete dias do teste (a menos que sob prescrição médica); manter-se pelo menos 10 minutos em posição de decúbito dorsal em repouso absoluto antes de efetuar o exame. b) ( ) Fazer jejum de pelo menos 4 horas; não fazer exercícios antes de 12 horas do teste; urinar pelo menos 30 minutos antes do teste; não consumir álcool antes de 48 horas do teste; não tomar medicamentos diuréticos antes de sete dias do teste (a menos que sob prescrição médica); manter-se pelo menos 10 minutos em posição de decúbito dorsal em repouso absoluto antes de efetuar o exame. c) ( ) Fazer jejum de pelo menos 8 horas; não fazer exercícios antes de 12 horas do teste; urinar pelo menos 30 minutos antes do teste; não consumir álcool antes de 48 horas do teste; não tomar medicamentos diuréticos antes de sete dias do teste. d) ( ) Fazer jejum de pelo menos 24 horas; não fazer exercícios antes de 12 horas do teste; urinar pelo menos 30 minutos antes do teste; não consumir álcool antes de 8 horas do teste; não tomar medicamentos diuréticos antes de sete dias do teste (a menos que sob prescrição médica); manter-se pelo menos 10 minutos em posição de decúbito dorsal em repouso absoluto antes de efetuar o exame. e) ( ) Não há critérios a serem seguidos. 4 A avaliação do estado nutricional exige a utilização de vários métodos que analisados em conjunto permitirão traçar o perfil nutricional do atleta. Dentre os métodos, estão a avaliação antropométrica e composição corporal, sendo ainda importantes os exames bioquímicos e anamnese alimentar. Nesse sentido, qual método de avaliação do estado nutricional não é indicado para atletas? Justifique. 5 A obtenção das dobras cutâneas (DC) é uma das medidas antropométricas mais comumente utilizada nas estimativas de parâmetros da composição corporal e, como procedimento de estudo, está alicerçada na observação de que grande quantidade de gordura corporal total se encontra no tecido subcutâneo. Dessa maneira, medidas quanto à sua espessura serviriam como indicador da quantidade de gordura localizada naquela região do corpo. Normalmente, apenas duas medidas já são suficientes como medidas preestabelecidas, quais são elas? 77 a) ( ) Bíceps e subescapular já são suficientes como medidas preestabele- cidas, porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a realização de dobras cutâneas. b) ( ) Panturrilha e coxa já são suficientes como medidas preestabelecidas, porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a realiza- ção de dobras cutâneas. c) ( ) Bíceps e tríceps já são suficientes como medidas preestabelecidas, porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a reali- zação de dobras cutâneas. d) ( ) Abdominal e tríceps já são suficientes como medidas preestabeleci- das, porém já foram relatados mais de 13 locais anatômicos para a realização de dobras cutâneas. e) ( ) Bíceps e panturrilha já são suficientes como medidas preestabelecidas, porém já foram relatados mais de 93 locais anatômicos para a realiza- ção de dobras cutâneas. 78 79 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Olá acadêmico, espero que esteja gostando de se aprofundar no mundo da nutrição esportiva. Agora, discutiremos a relação das necessidades nutricionais no esporte. No que diz respeito à disponibilização de energia por parte dos macronutrientes, veremos, inicialmente, os conceitos e depois faremos a correlação com os suplementos alimentares. Em relação aos macronutrientes, é importante relembrar que os carboidratos, além de fazerem parte da disponibilidade rápida de energia, também são armazenados no músculo esquelético e no fígado, na forma de glicogênio. As proteínas são hidrolisadas até aminoácidos e também podem fornecer energia, porém, de forma mais lenta que o carboidrato, sendo por intermédio da alanina, aminoácido convertido em glicose no fígado, e a continuação se armazena na forma de glicogênio hepático e através dos aminoácidos isoleucina, alanina, leucina e valina, que podem ser convertidos em intermediários metabólicos, participando do metabolismo energético diretamente na célula muscular. Quanto ao lipídio, além de ser fonte energética, é estocado no tecido adiposo na forma de triacilgliceróis que, quando hidrolisados em seus componentes – glicerol, ácidos graxos –, podem ser utilizados como substratos durante o exercício (BACURAU, 2009). Já é bem descrito na literatura que a alimentação está entre os fatores que mais afetam a qualidade de vida da população. A adequação da dieta é essencial. Ela deve conter macro e micronutrientes de forma a balancear o gasto energético e a ingestão calórica diária, atendendo as necessidades biológicas, considerando que a ausência de um nutriente pode prejudicar a disponibilidade, absorção, metabolismo e/ou as necessidades dietéticas de outros elementos (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011). Nesse contexto, cabe destacar que um desequilíbrio contínuo no balanço energético resulta em variações na composição corporal, refletindo diretamente na saúde e no desempenho do atleta, pois ocorrem perdas de tecido adiposo e massa muscular (músculo esquelético), já que o corpo utilizará desse recurso como substrato energético em situações de estresse, precedendo um declínio da força e queda do rendimento físico (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 80 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE Massa magra é apenas a massa muscular, por sua vez, a massa livre de gordura é a soma da massa muscular (massa magra) com o peso ósseo e o peso residual, ou seja, é tudo, subtraindo-se o peso da gordura essencial. NOTA A nutrição é de suma importância, influenciando diretamente na intensidade e processo de recuperação para as próximas sessões de treinamento. Mais uma vez, destaca-se aqui o consumo dos nutrientes em proporções adequadas e em momentos-chaves, pois otimizarão o processo de recuperação muscular pós-treino (KRAEMER; FRAGALA; VOLEK, 2008). 2 ATENDIMENTO NUTRICIONAL O atendimento nutricional visa à promoção da saúde do paciente por meio da recuperação ou manutenção do estado nutricional, além de alcançar os objetivos estéticos de composição corporal de cada um. Nessas condições, o nutricionista necessita ter em mãos o diagnóstico nutricional para que a prescrição dietética esteja direcionada aos objetivos pretendidos. E com podemos elaborar um diagnóstico nutricional efetivo? O diagnóstico nutricional é elaborado mediante as informações obtidas pela anamnese alimentar e complementada por dados dietéticos, antropométricos, bioquímicos e de composição corporal. Pois, como já é sabido, a anamnese disponibiliza dados subjetivos, necessitando ser complementada por dados objetivos, os quais são fornecidos pelos demais indicadores do estado nutricional do paciente. A palavra anamnese origina-se do grego aná (recordar) e mnesis (memória), portanto, pode ser definida como uma entrevista que possibilita o levantamento detalhado dos antecedentes fisiológicos, patológicos e socioeconômico-culturais do paciente/cliente e de seus familiares, com a finalidade de facilitar o diagnóstico, já que, ao ouvi-lo, o entrevistador pode formular hipóteses sobre as queixas relatadas. Nesse sentido, para uma anamnese bem-sucedida é necessário um bom planejamento e os seguintes aspectos devem ser considerados. Inicialmente deve-se considerar que durante a entrevista, muitas informações serão registradas. A anamnese dirigida caracteriza-sepor formulário para anotações e roteiro com questões predefinidas (Quadro 10). TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 81 O detalhamento de cada pergunta depende da idade do paciente, de suas queixas e do estado de saúde física e mental. Importante destacar que, enquanto o entrevistado estiver falando, é conveniente não digitar ou anotar nada. É importante olhar diretamente para o paciente, algumas pessoas podem se sentir desprestigiadas caso não recebam a atenção esperada. Quando não for possível evitar o registro da informação, convém avisar o entrevistado de que é necessário fazer algumas anotações do que está sendo relatado (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015). Nutricionista: CRN: Data: / / Nome: Idade: Data de nascimento: Sexo: Telefone para contato: Dependentes: Quantos: Idade: Renda familiar estimada: Quantas pessoas residem em sua moradia: Escolaridade: Profissão: Motivo da consulta: Ingestão alimentar habitual: ( ) houve alterações ( ) não houve alterações Há quanto tempo: Houve perda ou ganho de peso? Quanto? Vícios? Quais? Quanto tempo? Disfunções gastrintestinais: ( ) sim ( ) não Qual: Há quanto tempo: Tratamento: Tem gases? Frequência: Função intestinal: ( ) normal ( ) constipado Quanto tempo: QUADRO 10 – MODELO DE ANAMNESE ALIMENTAR 82 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE Como são as suas fezes (escala de bistrol)? Tem dores de cabeça frequente? Enxaqueca? Histórico familiar de doenças crônicas existentes em sua família: ( ) diabetes ( ) HAS ( ) cardiopatias ( ) dislipidemias ( ) câncer ( ) obesidade... Outras? Quais? Cirurgias e internações hospitalares: Uso de medicamentos frequentes: ( ) sim ( ) não Quais? Faz uso de plantas medicinais ou fitoterápicos? Quais? Anamnese alimentar detalhada: Perguntar sobre todas as refeições realizadas no dia (café da manhã, lanches, almoço, jantar, ceia, pré-treino, pós-treino) e todos os alimentos consumidos relacionando com os horários de realização dos exercícios e com a intensidade (como ele interpreta a respiração). Tratamento dietético anterior: ( ) sim ( ) não Resultado: Profissional que orientou: Número de refeições diárias: Local das refeições: Tempo de cada refeição: Quem prepara as refeições: Relação com as atividades físicas realizadas: Horário de maior concentração alimentar: Aversões alimentares: ( ) sim ( ) não Alimentos: Preferências alimentares: Alergia alimentar: ( ) sim ( ) não Alimentos: Compulsão alimentar: ( ) sim ( ) não Alimentos: Ingestão de água: Consumo de frituras: Consumo de doces: Consumo de café: TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 83 Uso de alimentos diet/light: Exame Físico: Cabelo Olhos Língua Mucosas Unhas Pele Perda de gordura subcutânea Perda muscular Presença de edema Presença de ascite ESTABELECER OBJETIVOS PARA A PRIMEIRA CONSULTA Avaliação antropométrica Peso atual: Peso usual: Peso desejado: Peso teórico: Estatura: IMC: CB: CMB (cm): CB – 0,314 x PCT = PCT: PCB: PCSE: PCSI: Pabd: PAM: PToráxica: PCoxa: Ppanturrilha: CC: CQ: Circunferência da panturrilha: % Gordura: Retenção de líquido: Necessidades energéticas: Distribuição das necessidades energéticas no dia: FONTE: A autora 84 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE Evidentemente, cabe ao nutricionista definir a abrangência da anamnese, considerando a especialidade, os objetivos, as características da população assistida (faixa etária, nível de instrução, condição econômica etc.), local (hospital, ambulatório, domicílio etc.), tempo disponível, entre outras. 3 CÁLCULOS DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS Nosso corpo necessita de energia para manter suas várias funções, como a respiração, circulação, metabolismo, atividade física e síntese proteica, a qual é fornecida pelos alimentos e bebidas que o indivíduo consome, os quais são compostos por carboidratos, proteínas, gordura e álcool da dieta. O balanço energético do indivíduo provém da relação entre a ingestão e o gasto energético que depende de vários fatores, como idade, gênero, atividade física e composição corporal. A necessidade estimada de energia (EER – Estimated Energy Requirement) é a quantidade média de ingestão de energia suficiente para manter o balanço energético de indivíduos saudáveis, de acordo com idade, gênero, peso, altura e nível de atividade física, compatível com uma boa saúde. Nesse sentido, as DRIs fornecem equações para se calcular a EER de indivíduos. Essas equações devem ser utilizadas com cautela, pois fornecerão apenas uma estimativa das necessidades energéticas individuais, já que o valor de EER é o ponto médio de um intervalo. Para adultos, as equações de EER foram desenvolvidas tendo-se como referência indivíduos com índice de massa corporal (IMC) dentro da faixa de eutrofia (entre 18,5 kg/m2 e 24,99 kg/m2), utilizando metodologia da água duplamente marcada. As equações são apresentadas no Quadro 11. Para crianças, mulheres grávidas e lactantes, os valores de EER suprem as necessidades requeridas para o crescimento, deposição de tecidos e produção de leite. Além disso, as equações também levam em consideração o nível de atividade física de cada um, o que deve ser criteriosamente avaliado no caso de elaboração de cardápio para atletas (ROSSI; CARUSO; GALANTE, 2015). TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 85 Como já visto em outras disciplinas, as equações preditivas de necessidade energética são várias que remontam de 1918, com Harris e Benedict, até os dias de hoje, com as fórmulas mais atuais da IOM, conforme apresentado a seguir. IMPORTANT E Essas equações fornecem apenas uma estimativa das necessidades energéticas. Vale ressaltar que o melhor indicador da adequação energética é o peso corporal do indivíduo, isto é, se o peso está adequado, deficiente ou em excesso, pois ele está fortemente relacionado à ingestão pelo indivíduo. Cabe destacar que o desvio padrão (DP) da necessidade de energia estimada para crianças e adolescentes com IMC dentro do intervalo de normalidade, de acordo com idade, gênero, peso e atividade física, é 58 kcal para o gênero masculino e 68 kcal para o gênero feminino. No caso de adultos com IMC dentro do intervalo de normalidade, de acordo com idade, gênero, peso e atividade física, o DP da necessidade de energia é 199 kcal para o gênero masculino e 162 kcal para o gênero feminino. O nível de atividade física (NAF) é expresso segundo categorias de intensidade. Os coeficientes de atividade, segundo faixa etária e nível de atividade, são: • Para meninos e meninas de três a 18 anos: ○ Atividade sedentária para ambos os gêneros: 1 ○ Atividade leve para meninos: 1,13; atividade leve para meninas: 1,16 ○ Atividade moderada para meninos: 1,26; atividade moderada para meninas: 1,31 ○ Atividade intensa para meninos: 1,42; atividade intensa para meninas: 1,56. • Para homens e mulheres de 19 anos ou mais: ○ Atividade sedentária para ambos os gêneros: 1 ○ Atividade leve para homens: 1,11; atividade leve para mulheres: 1,12 ○ Atividade moderada para homens: 1,25; atividade moderada para mulheres: 1,27 ○ Atividade intensa para homens: 1,48; atividade intensa para mulheres: 1,45. Para a avaliação e o planejamento de dietas de indivíduos e/ou grupos, a escolha da DRI a ser utilizada dependerá do propósito ao qual se destina. 86 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE QUADRO 11 – FÓRMULAS PREDITIVAS PARA CÁLCULODAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS Legenda: EER = necessidade estimada de energia; NAF = nível de atividade física; *EER (kcal/ dia) = gasto energético total + energia de depósito; **EER (kcal/dia) = gasto energético total; ***EER (kcal/dia) = EER de mulheres + energia de depósito para a gestação; ****EER = EER de mulheres + energia para a produção de leite a perda de peso. FONTE: Rossi, Caruso e Galante (2015, p. 98-99) Como estamos considerando o público de esportistas e atletas, há um sistema de classificação de consumo energético conhecido como Compêndio de Atividades Físicas, no qual as atividades são agrupadas conforme seus objetivos e intensidade expressa em valores de METs (Múltiplos da Taxa Metabólica de Repouso), nos quais 1 MET (consumo de O2 em repouso) = 3,5 mL O2/kg peso corporal/min, oferecendo flexibilidade para se determinar o custo energético. Esse sistema foi baseado, primeiramente, nos dados publicados previamente, podendo não refletir com exatidão o custo energético de todas as atividades. Os valores são médios, não considerando a realização das atividades com mais ou menos vigor, dependendo da pessoa. Também, os valores de MET de algumas atividades não foram obtidos por meio de medidas diretas do consumo TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 87 de oxigênio, mas sim do custo energético de atividades com padrões equivalentes de movimento, ressaltando que as estimativas podem não ser tão precisas com relação aos valores médios do MET. O compêndio não considera as diferenças individuais na eficiência de movimentos, todavia, as variações na descrição das atividades podem ser diminuídas se as pessoas forem instruídas sobre como classificar corretamente o gasto energético de suas atividades, tendo uma padronização nas técnicas de coleta dos dados e entrevistadores treinados (TINOCO, 2002). Para o cálculo do gasto energético a partir dos METs tem as seguintes variáveis: • Multiplicando-se o peso corporal em Kg pelo valor do MET do exercício e pela duração da atividade. • Fórmula: (Kg x MET) x (tempo em minutos/60 min) • Exemplo: pedalar em uma intensidade equivalente a 6 METs, gasta 6 Kcal.Kg- .h-1, ou seja, uma pessoa de 70 Kg, pedalando por 30 minutos, irá gastar o seguinte: (6 METs X 70 Kg) X (30min/60min) = 210 Kcal. Dividindo-se 210 Kcal pelos 30 minutos de atividade, obtém-se 7 Kcal.min-1 QUADRO 12 – MODELO DO COMPÊNDIO DE ATIVIDADES FÍSICAS FONTE: Tinoco (2002, p. 55) 88 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE No link, a seguir, você tem acesso ao artigo: Apresentação de uma Versão em Português do Compêndio de Atividades Físicas: uma contribuição aos pesquisadores e profissionais em Fisiologia do Exercício, que traz em seu anexo o compêndio completo: https://bit.ly/3zORVEr. Além do compêndio completo no artigo supracitado, no site Cooperativa do Fitness, o cálculo é realizado com o preenchimento dos dados do indivíduo, acesse: https://www. cdof.com.br/nutri1.htm. DICAS 4 RECOMENDAÇÃO PARA CONSUMO DE MACRONUTRIENTES Destaca-se que, além da ingestão ideal de energia, o consumo de quan- tidades adequadas de carboidratos, proteínas e lipídios é de suma importância para os atletas otimizarem seu treinamento e desempenho. Quanto ao carboidra- to, no que se refere ao desempenho no exercício, é evidente a sua necessidade antes, durante e após as sessões intensas e de alto volume de treinamento e com- petição (CERMAK; VAN LOON, 2013). Nessas condições, já é sabido que atletas envolvidos no treinamento de volume moderado e alto precisam de maiores quantidades de carboidratos e proteínas do que as recomendadas pelas DRI em sua dieta para atender às necessidades de macronutrientes (BURKE et al., 2011). Nos treinamentos de força, o uso de carboidratos está diretamente relacionado com processos de hipertrofia muscular associados a outros macronutrientes, como a proteína (GENTIL et al., 2006). Isso ocorre porque, durante o treinamento de força, o carboidrato armazenado na forma de glicogênio no músculo é mais rapidamente acessível, caracterizando o padrão metabólico do exercício (CHANDLER; BROWN, 2009). Quando se discute a quantidade de carboidrato a ser consumido, deve- se ressaltar que o próprio exercício resistido é capaz de modular os estoques de glicogênio intramuscular, tanto em fibras de contração rápida quanto em fibras de contração lenta (HARGREAVES, 2000), em que a depleção de glicogênio, mesmo que parcial, afetaria o desempenho muscular, ocasionando fadiga (HARGREAVES, 2005). Além dos carboidratos, os lipídios também representam substrato energético durante o exercício, sendo que sua utilização é maior durante as atividades prolongadas e de baixa ou moderada intensidade. TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 89 Depois que se esgotam os estoques de glicogênio, até 90% da energia po- derá ser proveniente das gorduras. De maneira geral, aproximadamente metade da energia usada pelo corpo em repouso e em atividades leves é proveniente dos ácidos graxos, os quais são mobilizados (oxidados) para a liberação de energia quando a oferta de glicose está reduzida. Todavia, as recomendações para espor- tistas devem ser as mesmas utilizadas para a população sedentária, sendo que o percentual de lipídios em relação ao valor energético total diário (VET) deve corresponder a cerca de 20 a 30% (HIRSCHBRUCH, 2014). Veremos agora as re- comendações de consumo de cada macronutriente. 4.1 CARBOIDRATOS Os carboidratos constituem cerca de 60% das calorias diárias de um indivíduo, é especialmente importante para o metabolismo energético, oriundo principalmente dos vegetais. São compostos basicamente de um átomo de carbono, dois átomos de hidrogênio para cada átomo de oxigênio, são caracterizados como monossacarídeos (um açúcar por molécula), dissacarídeos (com dois açúcares por molécula), oligossacarídeos (três a nove resíduos de monossacarídeos) e polissacarídeos (com inúmeros açúcares por moléculas) (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011). Os carboidratos são encontrados de três formas básicas: 1) cereais, vege- tais, frutas, leguminosas; 2) carboidratos purificados adicionados às preparações; e 3) carboidratos dissolvidos em certas bebidas. Os cereais, hortaliças, frutas e leguminosas constituem alimentos fonte de carboidrato e também são ricos em vitaminas e minerais, além de outros componentes como fitoquímicos e antioxi- dantes (CARUSO; MENEZES, 2000). Além de estarem presentes em diferentes fontes alimentares, os carboidratos são digeridos e absorvidos ao longo do intestino delgado, em ritmos diferentes, fator esse que interfere diretamente na utilização e no metabolismo, resultando em diferentes respostas glicêmicas, o que deu origem ao índice glicêmico que visa classificar os alimentos com base na disponibilização de glicose sanguínea de um determinado alimento (CARUSO; MENEZES, 2000). Os carboidratos de alto índice glicêmico exercem uma função importante para indivíduos fisicamente ativos para disponibilizar rapidamente aporte energé- tico para o treinamento, poupando os estoques de glicogênio (TIRAPEGUI, 2012). 90 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE O Índice Glicêmico (IG) dos alimentos é caracterizado pelo incremento da área abaixo da curva glicêmica produzido por uma porção de 50 g de carboidrato de um alimento em relação à mesma porção de alimento considerado padrão, neste caso, a glicose ou o pão branco (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011). NOTA Com isso, destaca-se a direta influência dos carboidratos nas reservas corporais de glicogênio muscular e hepático, estando diretamente relacionada aos níveis de elevação de glicose, aumentando a capacidade do treinamento, assim como o desempenho durante o exercício (MCARDL; KATCH;KATCH, 2011). De acordo com Santos, Silva e Coelho (2016), uma dieta rica em carboidratos, feita por praticantes de treinamento de força, poderia melhorar o rendimento durante os treinos e auxiliaria no processo hipertrófico, sendo que esses efeitos estariam vinculados ao aumento na secreção de insulina, hormônio anabólico (LIMA; BARROS, 2007). De acordo com a Hernandez e Nahas (2009), estima-se que a ingestão de carboidratos correspondente de 60 a 70% do aporte calórico diário, atendendo à demanda de um treinamento esportivo. Para otimizar a recuperação muscular, recomenda-se que o consumo de carboidratos esteja entre 5 e 8 g/kg de peso/dia. Nos estudos de Ribeiro e Burini (2002) e Almeida et al. (2010) foi re- latada a importância da supercompensação de carboidratos como substratos energéticos para a contração da musculatura esquelética, a qual foi inicialmen- te reconhecida por pesquisadores escandinavos na década de 1960. Todavia, apesar de vários estudos abordarem o carboidrato como um substrato eficaz, fisiculturistas e indivíduos praticantes do treinamento de força não possuem habitualidade no consumo desse recurso, ao contrário de atletas de endurance (LIMA; BARROS, 2007). Com isso, quando se discutem as estratégias nutricionais utilizando mani- pulações de carboidratos, antes, durante e depois do exercício, sabe-se que pode ser um método para manter ou até mesmo aumentar os estoques de glicogênio durante o período de treinamento (SILVA; MAIRANDA; LIBERALI, 2008). Em termos de necessidade de carboidratos, os atletas envolvidos em quantidades moderadas de treinamento intenso (por exemplo, 2-3 horas por dia de exercícios intensos realizados 5-6 vezes por semana) geralmente precisam consumir uma dieta composta de 5-8 g/kg/dia ou 250-1200 g/dia para manter os estoques de glicogênio no fígado e nos músculos. TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 91 Além disso, atletas envolvidos em treinamento intenso de alto volume (por exemplo, três a seis horas por dia de treinamento intenso de um a dois exercícios diários por cinco a seis dias por semana) podem precisar consumir de 8 a 10 g/kg/dia de carboidratos (ou seja, 400-1500 g/dia para atletas de 50-150 kg), a fim de manter os níveis de glicogênio muscular (BURKE et al., 2011). Ao considerar as necessidades de carboidratos durante uma sessão de exercícios, vários fatores devem ser considerados. Segundo Cermak e Van Loon (2013), atletas submetidos a sessões prolongadas (2-3 horas) de treinamento físico podem oxidar carboidratos a uma taxa de 1 a 1,1 g por minuto ou cerca de 60 g por hora, o que direciona para uma sugestão de consumo de 0,7 g de carboidrato/ kg/h durante o exercício, em uma solução de 6 a 8%, conforme o posicionamento da American Dietetic Association, Dietitians of Canada, and the American College of Sports Medicin (ACSM) sobre nutrição e rendimento esportivo (RODRIGUEZ; DIMARCO; LANGLEY, 2009). Quanto ao tipo de carboidrato, alguns pesquisadores relatam que combinações de glicose e sacarose ou maltodextrina (proporção de 1 a 1,2) e frutose (proporção de 0,8 a 1,0) promovem maiores taxas exógenas de oxidação de carboidratos quando comparadas a situações em que são ingeridas fontes únicas de carboidratos (CURRELL; JEUKENDRUP, 2008; RODRIGUEZ; DIMARCO; LANGLEY, 2009). Oliver et al. (2016) relata que a amilopectina, um carboidrato de alto peso molecular, pode representar um benefício com uma menor osmolaridade do amido, permitindo maior consumo (100 g/hora) e, possivelmente, maiores taxas de oxidação e melhoria de desempenho. Além disso, o status de jejum e a duração da sessão de exercícios são variáveis a serem consideradas pelos atletas e treinadores. Em relação ao consumo de carboidratos durante os treinos mais curtos, é questionável (ACSM, 2016). Ressalta-se que o consumo diário de quantidades adequadas de carboidratos é o primeiro e mais importante passo para qualquer atleta competidor. Todavia, à medida que as durações se prolongam por duas horas, aumenta a necessidade de fornecer carboidratos, principalmente, quando se inicia o exercício em um estado de jejum ou recuperação incompleta (KERKSICK et al., 2018). Já, após a prática esportiva, várias estratégias alimentares podem ser consideradas para repor ao máximo a perda de glicogênio muscular e hepático. Nesse momento, a primeira prioridade deve ser a ingestão de carboidratos, em seguida, intercalando com a ingestão de proteínas (KERKSICK et al., 2018). 92 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 4.2 PROTEÍNA A proteína é o macronutriente de maior discussão na área científica. Inicialmente, a recomendação era de que os atletas não precisariam ingerir mais do que a RDA para obter proteínas (0,8 a 1,0 g/kg/d para crianças, adolescentes e adultos), todavia, pesquisas dos últimos 30 anos, indicaram que atletas envolvidos em treinamentos intensos podem se beneficiar da ingestão de quase o dobro da RDA de proteína em sua dieta (1,4 -1,8 g/kg/d). De acordo com Phillips, Chevalier e Leidy, (2016), em um artigo de revisão, destaca-se que a ingestão insuficiente de proteína, balanço negativo de nitrogênio, pode levar à perda de massa muscular, lesões, doenças e intolerância ao treinamento. Nos casos do objetivo de hipertrofia muscular, sugere-se a ingestão de 1,6 a 1,7 g/kg de peso, sendo necessário que os atletas sejam conscientizados de que o aumento do consumo proteico na dieta, além dos níveis recomendados, não leva ao aumento adicional da massa magra (HERNANDEZ; NAHAS, 2009). De acordo com a Hernandez e Nahas (2009), é recomendado que o uso dos suplementos proteicos, como a proteína do soro do leite ou a albumina da clara do ovo, esteja de acordo com a ingestão proteica total. Novamente, conforme mencionado anteriormente, o consumo adicional desses suplementos proteicos acima das necessidades diárias (1,8 g/kg/dia) não determina ganho de massa muscular adicional, assim como não promove aumento do desempenho. A ingestão proteica, após o exercício físico de hipertrofia, pode favorecer o aumento de massa muscular se combinado com a ingestão de carboidratos. A dose recomendada é de 10 g de proteínas e 20 g de carboidratos (2:1 CHO:PTN). ATENCAO Phillips, Chevalier e Leidy (2016) e Jager et al., (2017) relatam que as evi- dências atuais indicam que a ingestão ideal de proteínas na faixa de 1,2 a 2,0 g/ kg/dia (60 a 300 g/dia para um atleta de 50 a 150 kg) deve ser considerada, quan- tidade essa de proteína que seria equivalente à ingestão de três a cinco porções de frango ou peixe por dia para um atleta de 50 a 150 kg (BANDEGAN et al., 2017). Ainda, Morton et al. (2018) realizaram uma meta-revisão envolvendo 49 estudos e concluíram que uma ingestão diária de proteína de 1,62 g/kg/dia pode ser o ideal. TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 93 É importante destacar que as proteínas diferem com base em sua fonte, perfil de aminoácidos e os métodos de processamento ou isolamento (JAGER et al., 2017). Essas diferenças influenciam a disponibilidade de aminoácidos e pep- tídeos, podendo resultar em uma menor absorção e, consequentemente, efeito fisiológico desse macronutriente (como a α-lactalbumina, ß-lactoglobulina, glico- macropeptídeos, imunoglobulinas, lactoperoxidases, lactoferrina, entre outras). A taxa de digestão e/ou absorção e atividade metabólica da proteína também são pontos importantes a serem verificados. Diferentes tipos de proteínas (por exemplo, caseína, soro do leite e da soja) são digeridos em taxas diferentes, o que pode afetar o catabolismo e o anabolismo do corpo inteiro e a estimulação aguda da síntese de proteínas musculares (BUCCI; UNLU, 2000). O que nos leva a concluir que devemos nos atentar não apenas para garantir que o atleta consuma proteína,mas também para que a proteína seja de alta qualidade, sendo que as melhores fontes alimentares de proteínas de alta qualidade e com baixo teor de gordura são frango sem pele, peixe, claras de ovos, cortes muito magros de carne bovina e leite desnatado (caseína e soro de leite) (YANG et al., 2012). Todavia, cabe destacarmos as proteínas vegetais em ascensão. Enquanto a absorção de aminoácidos das proteínas vegetais é geralmente mais lenta, a leucina da proteína do arroz é absorvida mais rapidamente que o soro de leite (PURPURA et al., 2014). Embora existam muitos cenários pelos quais um atleta pode optar por suplementar sua dieta com proteína, essa prática não é considerada um requisito. Sugere-se, por razões nutricionais, sociais, emocionais e psicológicas, que se priorize o consumo das proteínas diárias provenientes de alimentos. Jager et al. (2007) publicaram uma declaração de posição atualizada da Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva, resumida da seguinte forma: • Exercícios resistidos e ingestão de proteínas estimulam a síntese de proteínas musculares, sendo sinérgico quando o consumo de proteínas ocorrer antes ou após o exercício resistido. • Para construir e manter a massa muscular, uma ingestão diária total de proteí- nas de 1,4 – 2,0 g/kg/d é suficiente para a maioria dos indivíduos em exercício. • Uma maior ingestão de proteínas (2,3 – 3,1 g/kg de massa livre de gordura/d) pode ser necessária para maximizar a retenção do peso corporal magro em indivíduos treinados em resistência em períodos hipocalóricos. • As doses agudas de proteína devem conter de 700 a 3000 mg de leucina e/ ou um teor relativo mais alto de leucina, além de uma matriz equilibrada de aminoácidos essenciais (BCAAs). • Idealmente, as doses de proteína devem ser distribuídas uniformemente, a cada 3-4 h, ao longo do dia. 94 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE • As proteínas rapidamente digeridas que contêm altas proporções de BCAAs e leucina adequada são mais eficazes no estímulo à MPS. • Diferentes tipos e qualidade de proteína podem afetar a biodisponibilidade de aminoácidos após a suplementação de proteínas; fontes completas de proteínas fornecem todos os BCAAs necessários, sendo os suplementos alimentares de proteína mais comuns o soro de leite, caseína, leite e ovo) ou vegetal (como a soja). 4.3 LIPÍDIOS Dos macronutrientes, os lipídios são os que sofrem menor alteração nas recomendações para atletas, as quais são semelhantes, ou um pouco maiores, do que as recomendações para não atletas (aproximadamente 30% de sua ingestão calórica diária). Dessa forma, dependendo dos objetivos do atleta, a quantidade de gordura na dieta recomendada para a ingestão diária pode mudar, pois, dietas com alto teor de gordura parecem manter as concentrações circulantes de testosterona melhores do que as dietas com baixo teor de gordura (DORGAN et al., 1996). Todavia, em situações em que o atleta necessite reduzir sua gordura corporal, a ingestão de gordura pode variar de 0,5 a 1 g/kg/dia, representando aproximadamente 20% do total de calorias da dieta. Dentre as estratégias que auxiliam os atletas a gerenciarem a ingestão de gordura, está a de ensiná-los quais alimentos contêm lipídios e quais tipos de lipídios, para que possam fazer melhores escolhas alimentares (LEUTHOLTZ; KREIDER, 2001). As dietas cetogênicas, ricas em gordura, tiveram sua popularidade aumentada nos últimos anos. Possuem aproximadamente de 70 a 80% de suas calorias diárias compostas em gordura, com uma quantidade moderada de proteína (20 a 25% de calorias totais ou 2,0 a 2,5 g/kg/dia) e, em grande parte, desprovidas de carboidratos (10-40 g/dia), levando a uma maior dependência de cetonas como fonte de combustível. Todavia, existem evidências limitadas e mistas quanto à eficácia geral de uma dieta cetogênica para atletas. Tendo em vista que as evidências disponíveis são limitadas e mistas, é necessário concluir mais pesquisas com seres humanos antes que recomendações apropriadas possam ser feitas para o uso de dietas ricas em gordura para o desempenho atlético (KERKSICK et al., 2018). IMPORTANT E TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 95 4.4 PLANEJAMENTO ALIMENTAR (ANTES/DURANTE E APÓS AS REFEIÇÕES) De forma geral, um modelo de recomendação diária de distribuição de macronutrientes para o consumo energético total diário de indivíduos atletas se enquadra no perfil a seguir, conforme Hernandez e Nahas (2009) é: • Carboidratos (CHO) – 60% a 70% das calorias (ou de 5 g a 10 g/kg/dia). • Proteínas (PTN) – de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia para indivíduos que pratiquem esportes de resistência. • Lipídios (LIP) – 30% das calorias (aproximadamente 1 g/kg/dia). Todavia, além das diretrizes nutricionais descritas, o tempo e a compo- sição das refeições consumidas desempenham um importante papel na otimi- zação do desempenho. Destaca-se que são necessárias quatro horas para que o carboidrato seja digerido e assimilado nos tecidos musculares e hepáticos como glicogênio. Devido a isso, as refeições pré-exercício devem ser consumidas cer- ca de quatro a seis horas antes do exercício (SHERMAN; JACOBS; LEENDERS, 1998), demonstrando que, se um atleta treina à tarde, o café da manhã pode ser visto como de grande importância para superar os níveis de glicogênio muscular e hepático. Além disso, indica-se que a ingestão de um lanche leve de carboidratos e proteínas de 30 a 60 minutos antes do exercício (por exemplo, 50 g de carboidratos e 5 a 10 g de proteína, 5:1) serve para aumentar a disponibilidade de carboidratos no final de um intenso exercício. Isso também viabiliza o aumento da disponibilidade de aminoácidos e reduz o catabolismo de proteínas, minimizando os danos musculares (SAUNDERS; LUDEN; HERRICK, 2007). Em períodos em que os atletas estão em restrição energética, para atender às necessidades diárias, deve-se considerar a ingestão de proteínas de qualidade, os horários de consumo e a combinação com carboidratos, que são de grande valia para manter a massa corporal magra, os efeitos do treinamento e o desempenho. Durante o exercício, quando ele dura mais de uma hora, e/ou quando a duração se estender para além de 90 minutos, recomenda-se a ingestão de soluções de glicose/eletrólitos para manter os níveis de glicose no sangue, evitar a desidratação e reduzir os efeitos imunossupressores do exercício intenso. Essa estratégia se torna ainda mais importante, quando o atleta estiver com pouco combustível antes da tarefa do exercício ou for submetido a jejum (SAUNDERS; LUDEN; HERRICK, 2007). Logo após os exercícios intensos, deve haver o consumo de carboidratos e proteínas (por exemplo: 1 g/kg de carboidratos e 0,5 g/kg de proteínas) nos primeiros 30 minutos após o exercício e nas duas horas seguintes, consumir uma refeição rica em carboidratos. Pesquisadores têm verificado que essa estratégia nutricional acelera a ressíntese de glicogênio e promove um perfil hormonal mais 96 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE anabólico, acelerando a recuperação (KRAEMER et al., 1998). Dessa forma, pode- se observar que o tipo de refeição, a quantidade de carboidratos consumidos e o horário das refeições são fatores importantes para maximizar o armazenamento de glicogênio e manter a disponibilidade de carboidratos durante o treinamento. O ISSN adotou uma posição sobre o tempo de nutrientes em 2008, revisada em 2017 (KERKSICK et al., 2017), pode ser resumida com os seguintes pontos: • Estoques intramusculares e hepáticos de glicogênio são maximizados pelo consumo de uma dieta rica em carboidratos contendo de 8 a 12 g/kg/dia. • Exercícios de alta intensidade (> 70% VO2 Max) com duração maior que 90 minutos é aconselhável consumir de 30 a 60 g de carboidratos/hora,em uma solução de 6 a 8% de carboidrato, a cada 10 a 15 minutos durante todo o período de exercícios. • O planejamento alimentar deve oferecer energia adequada (mínimo de 27 a 30 kcal/kg) e proteína (1,6 a 1,8 g/kg/dia), preferencialmente com ingestão de proteína com espaçamento uniforme (a cada 3 a 4 h) (0,25 a 0,40 g/kg/dose) durante o dia. • Intervenções nutricionais pré e/ou pós-exercício (carboidrato + proteína ou proteína isoladamente) podem ser estratégias eficazes para apoiar melhorias na força e na composição corporal. • A ingestão de proteínas de alta qualidade pós-exercício (imediatamente 2 h após) estimula aumentos robustos na MPS (KERKSICK et al., 2018). 4.4.1 Estratégias pré-competição Como já discutido, os carboidratos constituem o principal nutriente que fornece energia para o treinamento e a recuperação, além de ser o recurso ergogênico mais estudado na nutrição esportiva por ser substrato energético para o músculo e o cérebro durante o exercício físico (SIMINO, 2018). Devido a isso, em muitas modalidades esportivas, a baixa reserva de carboidratos é considerada um fator de fadiga e redução do desempenho físico, fazendo com que a estratégia de manipulação de ingestão de carboidratos auxilie no objetivo de alcançar estoques máximos de glicogênio muscular, retardando, dessa forma o surgimento da fadiga (SIMINO, 2018). Resumidamente, a técnica da supercompensação de carboidrato consiste em fazer treinos intensos, ingerindo, durante três dias, uma dieta hipoglicídica, seguidos de três dias de treinamento leve acompanhados pela oferta de uma dieta hiperglicídica. Todavia, a dieta hipoglicídica pode, em alguns momentos, não ser conveniente ao atleta, sendo pouco palatável, causando alterações digestivas, irritabilidade, tonturas e cansaço. Fatores esses que fizeram com que fosse desenvolvida uma técnica menos agressiva, como o sistema dissociado (KREIDER, 2017). TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 97 Segundo Simino (2018), o sistema dissociado foi pensado da seguinte forma: a intensidade do treinamento é reduzida uma semana antes da competição, momento em que são consumidos 50% da energia na forma de carboidratos na dieta, posterior, três dias antes da competição, a atividade passa a ser menos intensa e a dieta aportando aproximadamente 70% de carboidrato do valor energético total. Os alimentos devem ser de alto índice glicêmico, aumentando a sensibilidade à insulina e estimular a síntese de glicogênio muscular e as reservas no tecido adiposo. A supercompensação de carboidratos pode ser utilizada, quando definido em conjunto, entre o profissional de saúde e o atleta. Todavia, é indicado não utilizar essa estratégia mais de uma vez por mês, devido ao estímulo da sensibilidade à insulina. Dessa forma, no momento pré-competição, a alimentação deve garantir que os estoques de glicogênio estejam no nível máximo. Para as competições que duram menos de quatro minutos, orienta-se que o atleta tenha um descanso nos três dias antes e aporte para 7 a 8 g/kg de peso/dia o consumo de carboidratos (SILVA; MAIRANDA; LIBERALI, 2008). Já, para atividades com mais de 90 minutos de duração, faz-se necessária a realização de exercícios de menor intensidade na semana anterior e descanso no dia do evento, sendo indicado, para os três primeiros dias, a ingestão de 5 a 7 g/kg de peso de carboidratos e, nos últimos três dias, 8 a 10 g/kg de peso de carboidratos (JOHANN et al., 2015), ou seja, aumentando gradativamente com a proximidade da competição. De acordo com Silva, Mairanda e Liberali (2008), no dia de provas de resistência com mais de 90 minutos ou eliminatórias curtas, sugere-se a oferta de 7 a 8 g/kg de peso/dia de carboidrato, já na semana prévia, orienta-se a redução do treinamento nos três últimos dias e o atleta deve realizar um treino leve, consumindo de 8 a 10 g/kg/dia. Conforme mencionado no tópico anterior, a refeição pré-exercício deve ser composta por alimentos de rápida digestibilidade, com maior proporção de carboidratos, proporção intermediária de proteínas e baixíssimo consumo de lipídios (CÓRDOBA, 2017). Já no dia anterior ao da competição, devem ser oferecidas de seis a oito refeições ricas em carboidratos de baixo índice glicêmico, evitando alimentos que provocam flatulência, como os integrais, ricos em fibras e/ou novos alimentos que não fazem parte do hábito alimentar do atleta. No dia da competição, a refeição principal deve ser realizada de duas a quatro horas antes do evento e, caso seja no final da tarde, poderão ser consumidos pequenos lanches (sanduíche de atum/ peito de frango, barras de cereal, iogurte, granola com leite) de três em três horas (CÓRDOBA, 2017). 98 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE Nos períodos de descanso ou férias, o atleta deve ter uma dieta que permita manter o peso corporal e que evite carências nutricionais. ATENCAO 4.4.2 Estratégias durante competição Nas atividades de resistência com duração de mais 90 minutos e em esportes com exercícios intermitentes de alta intensidade e curta duração, deve-se ingerir aproximadamente de 25 a 30 g de carboidratos a cada 30 minutos, buscando retardar o aparecimento da fadiga. Aqui, pode-se fazer uso dos suplementos de conveniência, como as bebidas esportivas que fornecem os carboidratos necessários para o exercício e hidratam simultaneamente (CÓRDOBA, 2017). Quanto à hidratação, posteriormente discutiremos esse tema de forma ampliada. De forma resumida, é recomendado que, após de 30 a 60 minutos do início da atividade, sejam ofertados de 125 a 250 mL de líquidos a cada 15 ou 20 minutos. Em modalidades esportivas que duram mais de 60 minutos, oferecer 1,5 a 3 mL/kg de peso corporal (CÓRDOBA, 2017). 4.4.3 Estratégias pós-competição No caso do pós-competição, é bem variável, dependendo do momento da próxima competição. Em situações em que o atleta vai realizar mais de uma prova em um curto prazo de tempo, as reservas de glicogênio devem ser restabelecidas rapidamente com alimentos que forneçam carboidratos de alto índice glicêmico, ingerindo 1 g/kg de peso de carboidrato nas duas horas imediatamente após a atividade física (CÓRDOBA, 2017). Recomenda-se a ingestão de 5 a 9 g/proteínas, juntamente com os carboidratos na refeição pós-exercício, favorecendo ressíntese de glicogênio, sendo que em alguns casos, é recomendada a ingestão de refeições de consistência pastosa, além do aumento do consumo de líquidos, com oferta de uma refeição contendo carboidratos, proteínas e líquidos, acelerando a síntese de glicogênio, além de reidratar o atleta. Conforme Aoki e Bacurau (2012), a ingestão de lipídeos deve ser mantida na faixa de 20 a 30% da oferta calórica total da dieta. No caso da reidratação, no próximo tópico, ela será melhor detalhada. Para repor o déficit hidroeletrolítico, deve-se oferecer 1,5 L de líquidos/kg de peso corporal perdido durante o exercício (reposição de 150% da perda de peso TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 99 para manter o estado de hiperidratação) e, após duas horas da competição, é recomendável aumentar a concentração de carboidratos das bebidas oferecidas para 15 a 20% e ingerir 100 a 150 mL/minuto (CÓRDOBA, 2017). Embora haja uma preconização de que o uso de carboidrato está diretamente relacionado com os níveis intracelulares de glicogênio e retardo da fadiga muscular, há, ainda, uma lacuna sobre o consumo adequado de carboidrato frente ao treinamento de força, já que esse tipo de treinamento é classificado como prioritariamente anaeróbico, dependendo, em grande parte, da creatina fosfato como geradora de energia, através do sistema anaeróbico alático, especialmente em exercício de alta intensidadee baixas repetições (HERNANDEZ; NAHAS, 2009). IMPORTANT E 4.5 MICRONUTRIENTES As vitaminas e os minerais são compostos essenciais, ou seja, precisam ser consumidas via alimentação, já que nosso corpo não as produz. Auxiliam na regulação de processos metabólicos e neurológicos, síntese de energia e no impedimento da destruição das células (KERKSICK et al., 2018). As vitaminas são compostos orgânicos e os minerais são inorgânicos, e possuem funções específicas estando diretamente ligados ao metabolismo celular e, por isso, relacionados ao bom rendimento dos atletas durante treinos e competições. Veremos, a seguir, os micronutrientes que se destacam na área esportiva. As vitaminas são divididas em hidrossolúveis e lipossolúveis, sendo que as lipossolúveis incluem as vitaminas A, D, E e K e são armazenadas em vários tecidos, podendo resultar em toxicidade se consumidas em quantidades excessivas. As vitaminas hidrossolúveis consistem em todo o complexo de vitaminas B e vitamina C, neste caso, como são solúveis em água, a ingestão excessiva é eliminada na urina, com exceção da vitamina B6, que pode causar danos nos nervos periféricos quando consumidos em quantidades excessivas e da vitamina C que pode causar danos renais e desequilíbrios osmóticos. Destaca-se que, se um atleta é deficiente em uma vitamina, a suplementação ou modificações na dieta para melhorar o status dessa vitamina podem melhorar consistentemente a saúde e o desempenho (KERKSICK et al., 2018). 100 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE Os minerais, por sua vez, são elementos inorgânicos essenciais, necessários para uma série de processos metabólicos. Os minerais servem como estrutura para os tecidos, componentes importantes de enzimas e hormônios e reguladores do controle metabólico. Já nas populações atléticas, alguns minerais são considerados deficientes, enquanto outros são reduzidos devido ao treinamento e exercício prolongado, como sódio, potássio e magnésio. Sendo que nessas situações os atletas devem consumir alimentos e líquidos para substituir essas perdas (THOMAS; ERDMAN; BURKE, 2016). Dos minerais revisados por Kerksick et al. (2018), vários parecem contribuir com a saúde e desempenho dos atletas em determinadas situações, como a suplementação de cálcio em atletas suscetíveis à osteoporose, auxiliando na manutenção da saúde óssea. Zourdos, Sanchez-Gonzalez e Mahoney (2015) destacaram a importância do status de ferro em atletas do sexo feminino, em que esforços recentes apontaram que a suplementação de ferro em atletas propensos a deficiências de ferro e/ou anemia pode melhorar a capacidade de exercício. De acordo com o COI (KERKSICK et al., 2018), os nutrientes que normalmente são suplementados em atletas incluem ferro, cálcio e vitamina D. Além disso, também pode ser necessária a suplementação de iodo (para aqueles que vivem em áreas com baixos níveis de iodo nos alimentos ou que não usam sal iodado), folato (para mulheres que podem engravidar) e vitamina B12 (para aquelas que seguem uma dieta vegana ou quase vegana). Essas considerações não se aplicam especificamente aos atletas. As contradições na quantidade direcionada aos atletas para o consumo das vitaminas, conforme Hernandez e Nahas (2009), para os atletas em regime de treinamento intenso, tem sido sugerido o consumo de vitamina C entre 500 e 1.500 mg/dia, para melhor resposta imunológica e com efeito antioxidante; e de vitamina E, para aprimorar a ação antioxidante. Todavia, essas afirmações se baseiam em baixo grau de evidência científica. Para os minerais, as condições são compatíveis com as pesquisas direcionadas às vitaminas para os atletas. Nesse ínterim, o zinco, por estar envolvido no processo respiratório celular, quando, em deficiência nos atletas, pode gerar anorexia, perda de peso significativa e consequentemente fadiga e queda no rendimento, fato que leva a sugerir a suplementação alimentar desse mineral. Todavia, as evidências científicas não justificam o uso sistemático do zinco em suplementação nutricional, apenas em situações específicas em que o nutricionista identifique essa necessidade (HERNANDEZ; NAHAS, 2009). Permanecendo nesse pensamento, atletas do sexo feminino, devido a dietas de restrição calórica, podem ter sugestão de aporte do cálcio, envolvido na formação e manutenção óssea, assim como a baixa ingestão de ferro, causando TÓPICO 2 — NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 101 fadiga e anemia, podendo afetar o desempenho atlético e o sistema imunológico, sendo recomendado ter atenção especial ao consumo de alimentos com ferro de elevada biodisponibilidade. De acordo com Medeiros, Paschoal e Sanches (2017), ao avaliar a magnitude dos efeitos que as vitaminas e os minerais exercem no organismo humano e a infinidade de reações bioquímicas e fisiológicas que estão envolvidas no exercício físico, faz-se necessária uma avaliação mais complexa e profunda de um indivíduo fisicamente ativo, conforme pode ser observado na Figura 5. FIGURA 5 – MODULAÇÃO DOS EFEITOS DO EXERCÍCIO PELOS MICRONUTRIENTES SOB A ÓPTICA DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL FONTE: Paschoal e Naves (2017, p. 244) Nesse contexto, quando se fala em suplementação nutricional, de acordo com Medeiros, Paschoal e Sanches (2017), é de suma importância promover educação nutricional, uma vez que estes nutrientes compõem uma extensa cadeia de reações, e seu uso sem orientação pode alterá-las, podendo trazer consequências negativas para a saúde desses indivíduos, já que nem todos os nutrientes são excretados de maneira eficiente quando em excesso, podendo ser armazenados no organismo em quantidade tóxica. No que se refere às controvérsias sobre a suplementação de micronutrientes em esportistas e atletas, deve-se avaliar os fatores envolvidos na condução da pesquisa para que ela seja relevante, considerando, desde a seleção das amostras, 102 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE que pode ser de grande diversidade. Por exemplo, quanto ao grau de prática de atividade física, à intensidade do exercício, à modalidade, ao tempo de treino, à idade, ao sexo, à dieta, ao estilo de vida, além de período de treinamento, grau de estresse, período de sono, fatores emocionais, fatores genéticos ou até a presença de doenças, ou seja, fatores que constituem o indivíduo e determinam sua qualidade de vida (MEDEIROS; PASCHOAL; SANCHES, 2017, p. 244). Analisando ainda fatores que envolvem a eficácia das vitaminas e minerais estudados, tais como a proporção entre os nutrientes, o mecanismo compensatório de defesa do organismo, a suplementação isolada ou conjunta, entre outros, determina a absorção, o transporte, o armazenamento, a utilização e a excreção de micronutrientes, o que torna o estabelecimento de consensos sobre as necessidades diárias e a suplementação cada vez mais difícil. Todos esses fatores evidenciam que a individualidade bioquímica deve sempre ser considerada na avaliação nutricional dos indivíduos, pois as evidências encontradas em estudos científicos foram realizadas em grupos heterogêneos, o que permite a sua análise sob diferentes óticas. Desse modo, constata- se a necessidade de constantes avaliações, pesquisas e estudos que evidenciem essas discussões, trazendo comprovações científicas que permitam a sua utilização na prática. Ainda, é importante sempre levar em consideração a fisiologia humana, bem como a bioquímica de vitaminas e minerais, que já estão bem descritos na literatura, mostrando a necessidade de tais elementos nas vias metabólicas e reações químicas que, de maneira complexa, permitem o equilíbrio do organismo, mantendo-o saudável. Assim, caso sejam aumentadas as necessidades desse organismo,até então equilibrado, resultado, por exemplo, da prática de atividade física seja com ou sem fins competitivos, as necessidades de vitaminas e minerais também serão aumentadas, a fim de se respeitar sempre a proporção entre os nutrientes que por sua vez asseguram ao organismo novamente seu equilíbrio. 103 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • As necessidades nutricionais dos atletas são maiores que de indivíduos não atletas. • O atendimento nutricional direcionado ao atleta segue o padrão do atendi- mento clínico nutricional, requerendo um bom diagnóstico baseado em uma anamnese alimentar completa para que as intervenções venham de encontro ao objetivo do cliente. • Os cálculos das necessidades nutricionais dos atletas podem seguir as recomendações das DRIs, seguindo o Fator de Atividade Física compatível com o atleta ou pelo METs, considerando que as variáveis passíveis de erro no estabelecimento desses ainda são discutidos pelos pesquisadores. • As recomendações de macronutrientes para atletas são maiores, devendo, nessas situações, seguir as diretrizes da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva. • De forma geral, um modelo de recomendação diária de distribuição de ma- cronutrientes para o consumo energético total diário de indivíduos atletas se enquadra no perfil a seguir, conforme Hernandez e Nahas (2009) é: carboi- dratos (CHO) – 60% a 70% das calorias (ou de 5 g a 10 g/kg/dia); proteínas (PTN) – de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia para indivíduos que pratiquem esportes de resistência; lipídios (LIP) – 30% das Calorias (aproximadamente 1 g/kg/dia). • A recomendação de consumo de proteína é sempre discutida considerando a variabilidade dos indivíduos e das modalidades que praticam. • O índice glicêmico dos alimentos fonte de carboidratos deve ser considerado na prescrição do planejamento alimentar. 104 1 Uma mulher de 24 anos de idade, com 58 kg de peso corporal e 1,70 m de altura (IMC 20), ingressou recentemente no time de handebol da sua uni- versidade. Preocupada com sua alimentação e com seu desempenho físico nas competições, ela consultou um nutricionista com o objetivo de obter informações a respeito da relação entre o consumo de nutrientes e a sua atividade esportiva. Considerando a situação hipotética anterior e a relação entre alimentação e desempenho físico, avalie as afirmativas a seguir: I- É recomendável o consumo de alimentos ricos em carboidratos e mode- rados em proteínas próximo ao horário da atividade física, pois esses ali- mentos favorecem o depósito do glicogênio hepático e a disponibilidade de aminoácidos circulantes. II- A jovem apresenta estado nutricional adequado, segundo o índice de massa corporal, e, por isso, deve ingerir alimentos ricos em gordura antes da atividade física, pois a gordura é fonte de energia para esportes de alta intensidade. III- O consumo de carboidrato de alto índice glicêmico (30 a 60 g) durante a atividade física, após uma hora de treino é recomendável por permitir que a glicose seja enviada para o organismo no momento em que a fadiga aparece. IV- A ingestão de proteína durante a atividade física retarda o surgimento da fadiga, melhorando também o desempenho da esportista pela manutenção da glicemia durante o exercício. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e III. c) ( ) I e IV. d) ( ) II e III. e) ( ) III e IV. 2 Considerando a utilização dos substratos energéticos durante a prática esportiva. Leia com atenção as alternativas a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Durante o exercício, as células musculares transformam o glicogênio hepático em glicose, através, principalmente, da ação do glucagon. ( ) As proteínas e os carboidratos são os principais substratos utilizados pelo organismo como fonte de energia durante a atividade física. AUTOATIVIDADE 105 ( ) A ingestão de carboidratos na dieta antes, durante e depois do exercício de curta duração pode melhorar e muito o desempenho atlético pela otimização dos músculos e depósitos de glicogênio hepático, ou através da manutenção da homeostase da glicose sanguínea. ( ) A refeição pré-competição ideal consiste em alimentos ricos em proteínas que irão garantir níveis elevados de proteína muscular durante a competição. ( ) O consumo de carboidratos com alto índice glicêmico constitui um meio mais efetivo de repor rapidamente o glicogênio depletado após um exercício intenso. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F, F, F, F, V. b) ( ) F, V, F, V, V. c) ( ) V, F, F, F, V. d) ( ) F, F, F, F, F. e) ( ) V, V, V, F, F. 3 A recomendação diária de distribuição de macronutrientes para o con- sumo energético total diário de indivíduos atletas, de maneira geral, se concentra em qual das quantidades descritas a seguir? a) ( ) Carboidratos de 8 g a 12 g/kg/dia; Proteínas de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia; Lipídios aproximadamente 2 g/kg/dia. b) ( ) Carboidratos de 3 g a 5 g/kg/dia; Proteínas de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia; Lipídios aproximadamente 1 g/kg/dia. c) ( ) Carboidratos de 5 g a 10 g/kg/dia; Proteínas de 2,2 g a 2,6 g/kg/dia; Lipídios aproximadamente 1 g/kg/dia. d) ( ) Carboidratos de 5 g a 10 g/kg/dia; Proteínas de 1,2 g a 3,6 g/kg/dia; Lipídios aproximadamente 5 g/kg/dia. e) ( ) Carboidratos de 5 g a 10 g/kg/dia; Proteínas de 1,2 g a 1,6 g/kg/dia; Lipídios aproximadamente 1 g/kg/dia. 4 É sabido que o consumo de carboidratos por atletas, principalmente de modalidades de resistência, se faz de suma importância para o bom rendimento e posterior recuperação muscular. Nesse sentido, muitos nutricionistas usam da estratégia de supercompensação de carboidrato e/ou sistema dissociado para viabilizar uma maior disponibilidade desse macronutriente durante as competições. De acordo com o exposto, descreva como é realizada a supercompensação de carboidratos/sistema dissociado. 106 5 Há muitas controvérsias sobre a suplementação de micronutrientes em esportistas e atletas, pois deve-se avaliar os fatores relacionados a cada caso quanto ao grau de prática de atividade física, à intensidade do exercício, à modalidade, ao tempo de treino, à idade, ao sexo, à dieta e ao estilo de vida, além de período de treinamento, grau de estresse, período de sono, fatores emocionais, fatores genéticos ou até a presença de doenças, ou seja, fatores que constituem o indivíduo e determinam sua qualidade de vida. Nesse sentido, descreva sobre a importância dessas variáveis na análise da suplementação de micronutrientes na área esportiva. 107 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico, chegamos ao último tópico desta unidade, e iremos abordar a importância da hidratação no esporte. Reforçaremos algumas questões fisiológicas que permeiam o termo regulação e, consequentemente, o mecanismo de hidratação e desidratação de um esportista/atleta, considerando poder ser a hidratação o fator-chave para o primeiro lugar no momento final de uma competição. Além disso, identificaremos os protocolos de hidratação, antes, durante e após a prática da modalidade esportiva, refletindo sobre qual o tipo de fluido a ser ofertado em determinado momento, considerando a intensidade, tempo de esforço e as condições ambientais, principalmente temperatura e umidade do ar. Ainda, caberá discutir, neste tópico, a legislação brasileira que regula- menta as bebidas repositoras de eletrólitos, com orientações de quantidades e tipos de carboidratos que podem estar presentes nessa bebida, bem como, quais são as quantidades dos minerais. Por fim, é válido relembrarmos as alterações fisiológicas que acontecem no processo de desidratação, suas consequências e impactos no desempenho de um praticante de exercício físico. TÓPICO3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 2 INGESTÃO HÍDRICA A água corresponde a 60% do peso corporal em um adulto normal, sendo que um homem de 70 kg possui, em média, 42 L de água. A água compõe três quartos do peso dos tecidos magros e menos de um quarto do peso da gordura, desta forma, podemos perceber que a composição corporal interfere na quantidade de água corporal (WHITNEY; ROLFES, 2013). A localização da água é dividida em dois reservatórios: intracelular (dentro das células), que reserva 28 L (40%) e extracelular (toda água externa às membranas celulares) os outros 14 L (20%), considerando o exemplo anterior de um homem de 70 kg, sendo que este último compartimento se subdivide funcionalmente em plasma (5%) e fluido intersticial (15%). O fluido intersticial recobre diretamente as células extravasculares e permite a passagem de nutrientes e produtos metabólicos entre o sangue e as células (GROPPER; SMITH; GROFF, 2011). 108 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE A água possibilita a solubilização e a passagem de uma grande variedade de nutrientes orgânicos e inorgânicos do sangue para a célula e da célula para o sangue, além das inúmeras reações metabólicas que ocorrem intracelularmente: • Mantém a estrutura de moléculas grandes, como as proteínas e o glicogênio. • Serve como solvente para minerais, vitaminas, aminoácidos, glicose e muitas outras moléculas pequenas para que possam participar de atividades metabólicas. • Age como lubrificante e amortecedor ao redor de articulações e dentro dos olhos, medula espinhal, e em gestações, do saco amniótico que envolve o feto no útero. • Auxilia na regulação da temperatura normal do corpo, pois a evaporação do suor pela pele elimina o excesso de calor do corpo. • Mantém o volume de sangue. Dessa forma, para auxiliar nessas e demais funções, o corpo mantém o equilíbrio hídrico (ingestão = liberação) (GROPPER; SMITH; GROFF, 2011; WHITNEY; ROLFES, 2013). O hipotálamo controla atividades como a manutenção do equilíbrio hídrico, regulação da temperatura corporal e o controle do apetite (WHITNEY; ROLFES, 2013). NOTA Vamos recordar como ocorre o processo da sede? Quando o equilíbrio hídrico diminui, o sangue começa a se concentrar, a boca seca e o hipotálamo inicia a sensação de sede. Os receptores de estiramento no estômago enviam sinais para a ação de beber, bem como os receptores que monitoram o volume de sangue no coração. Caso o indivíduo que está com perda de água não a reponha, ocorre a desidratação, que justamente tem como seus primeiros sintomas a sede, e como consequência do não consumo hídrico, com rapidez, seguem os demais sintomas (Tabela 2), podendo resultar em morte (WHITNEY; ROLFES, 2013). TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 109 2.1 UM POUQUINHO DA HISTÓRIA Para iniciarmos, vamos rever o que a história nos traz sobre a ingestão de líquidos em competições, para compreendermos um pouco do porquê ainda hoje há controvérsias em alguns protocolos de reidratação. Até o século XX, a restrição de líquido durante a atividade física era associada ao ganho de desempenho durante as competições, sendo, naquele momento, preconizada a não ingestão de água ou outros líquidos, pensamento baseado nas observações de que os grandes atletas finalizavam as provas vitoriosos com temperaturas corporais acima de 40 °C, considerada para eles “a chave do sucesso”. Além disso, os atletas e seus preparadores acreditavam que a ingestão de líquidos e alimentos durantes as provas, poderiam trazer desconfortos gástricos (TIRAPEGUI, 2012). Apenas em 1940, os impactos deletérios da desidratação no desempenho tornaram-se conhecidos, todavia, ainda envoltos de dúvidas e com resistência por parte de alguns atletas. Apenas nos últimos 30 anos, os profissionais da saúde vêm destacando a importância da ingestão de líquidos, antes, durante e após a prática de exercícios físicos. Foram os militares os primeiros a reconhecer a importância da reposição de líquidos no desempenho, pois, durante as batalhas, venciam os que tinham disponibilidade de água, considerando a batalha dos “seis dias”, em 1967, quando grande parte deles morreu por desidratação (TIRAPEGUI, 2012). Atualmente, a hidratação no esporte é um tema bem discutido, reconheci- do, estudado e que apresenta inúmeros benefícios para o rendimento dos atletas e praticantes de exercício físico. E é o que discutiremos a seguir, iniciando pela discussão do balanço hídrico. O turnover hídrico é bastante variável, dependendo do clima, prática de exercício físico e sexo do indivíduo. Como exemplo, temos os indivíduos sedentários que residem em ambientes amenos, onde a perda de água gira em torno de 2 a 4 L por dia, em contrapartida, os atletas que chegam a perder mais de 10 L por dia. Essa perda acontece por meio da diurese, sudorese, perspiração, respiração e fezes (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). 110 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 2.2 COMPOSIÇÃO DO SUOR A composição do suor, líquido secretado pelas glândulas sudoríparas, é semelhante ao plasma em relação aos íons, como sódio, cloreto, potássio, sendo os dois primeiros os mais abundantes. Todavia, essa composição pode alterar, dependendo do indivíduo, da dieta, taxa de sudorese, hidratação e grau de aclimatação. O ambiente do treinamento, quando muito quente estiver, mais favo- recerá uma adaptação ao organismo, no sentido de que o suor se torna hipo- tônico em relação ao sangue, pois a concentração dos sais no suor é reduzida em 50%, já que a sudorese está aumentada, viabilizando uma maior eficiência da termorregulação. Na Tabela 2, estão descritas as faixas de concentrações normais da maioria dos eletrólitos encontrados no suor, no plasma e no meio intracelular (TIRAPEGUI, 2012). TABELA 2 – CONCENTRAÇÕES DE ELETRÓLITOS NO SUOR, NO PLASMA E NO MEIO INTRACELULAR Eletrólitos Suor (mmol/L) Plasma (mmol/L) Água intracelular (mmol/L) Potássio 20 a 80 130 a 155 10 Sódio 4 a 8 3,2 a 5,5 150 Cloreto 20 a 60 96 a 110 8 Cálcio 0 a 1 2,1 a 2,9 0 Magnésio < 0,2 0,7 a 1,5 15 Bicarbonato 0 a 35 23 a 28 10 Fosfato 0,1 a 0,2 0,7 a 1,6 65 Sulfato 0,1 a 0,2 0,3 a 0,9 10 FONTE: Tirapegui (2012, p. 120) Vale destacar que o íon mais representativo no suor é o sódio, sendo que o potássio pouco se altera no meio extracelular e rapidamente retorna às concentrações normais após o exercício (TIRAPEGUI, 2002). 2.2.1 Taxa de suor Essa taxa é expressa em mililitros por hora. Para realizar esse cálculo, de- ve-se pesar o atleta antes e após a atividade física, obtendo a diferença de peso corporal na qual deverá ser somada a ingestão de líquidos durante o exercício e descontada a eliminação de líquido pela diurese (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 111 Atingindo um resultado em mililitros, deve-se dividi-lo pelo tempo de atividade, obtendo-se a taxa da sudorese. No Quadro 13 estão descritos os fatores que podem influenciar na taxa de suor. QUADRO 13 – FATORES QUE INFLUENCIAM A TAXA DE SUOR Fatores Subfatores Mecanismo de ação Área corporal Glândulas ativadas pelo suor (GAS) Mais do que a superfície corporal, o número do GAS por unidade de área é o maior determinante da taxa de suor. Sexo Feminino/Masculino Em geral, homens têm maiores taxas de suor do que as mulheres, porém as mulhe- res possuem mais GAS por área corporal. Tipo de atividade Intensa Diante de uma condição ambiental padrão, quanto maior a intensidade do exercício, maior será a produção de calor e taxa de suor. Continua x intermitente Taxas de suor em atividades intermitentes, em que a intensidade é variada, são pouco descritas na literatura. Taxas de suor podem ser baixas, já que as pausas nessasatividades permitem que a produção diminua momentaneamente. Condições ambientais Temperatura Sob uma intensidade constante, temperaturas altas promovem taxas maiores de suor. Umidade Sob uma intensidade constante, umidade alta promove taxas maiores de suor. Em mulheres, a umidade contribui para o recrutamento da GAS. Status físico Aclimatação Indivíduos aclimatados iniciam a sudorese em temperaturas menores e podem exercitar-se por um período mais longo. Condicionamento Independentemente da aclimatação, um condicionamento melhor implica uma resposta ao suor mais eficiente com o aumento da temperatura durante o exercício e pode contribuir para o aumento da perda total de suor. Nível de hidratação Desidratação reduz a resposta da capacidade de suor. FONTE: Tirapegui (2012, p. 122) 112 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 3 HIDRATAÇÃO O grau de hidratação adequado é mantido em praticantes de exercício físico que ingerem a quantidade de líquidos adequados antes, durante e após os exercícios, todavia, esse equilíbrio é difícil de ser mantido devido às limitações na frequência da ingestão de líquidos, esvaziamento gástrico e absorção intestinal (TIRAPEGUI, 2012). Considera-se, de acordo com Hernandez e Nahas (2009), que os fluidos a serem ingeridos pelos atletas, para facilitar a palatabilidade, devem estar entre 15 e 22 °C e ter sabores leves, pois são melhor aceitos do que apenas água. Nesse conceito, percebe-se que a água, como única fonte de liquido durante um exercício físico de longa intensidade, pode surtir efeitos adversos, pois, à medida que a ingestão de água aumenta, ocorre uma expansão do volume sanguíneo (diluição plasmática), com consequente diurese, além do desconforto pelo aumento de líquido na bexiga do atleta. O aumento na excreção líquida promoverá também, eliminação de sódio (hiponatremia). O diagnóstico da hiponatremia pode ser realizado quando as concentrações plasmáticas de sódio são menores que 130 mEq/L, causando apatia, náusea, vômito, consciência alterada e convulsões, que podem ocasionar alterações neurológicas. Por isso, ganham destaque os eletrólitos para minimizar a diluição plasmática (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). Qual é o eletrólito que se destaca para essa função? O sódio, íon mais abundante no plasma e o principal na manutenção da osmolaridade, e prevenção da hiponatremia, benefício que deu origem às bebidas esportivas, os isotônicos, assim chamados por conterem principalmente glicose e sódio nas concentrações plasmáticas, com características de mais rápida absorção e menor diluição. Atualmente, o termo isotônico foi substituído por repositores hidroeletrolíticos (TIRAPEGUI, 2012). É importante ressaltarmos que os repositores hidroeletrolíticos são diferentes das bebidas chamadas energéticas, já que as energéticas possuem objetivo de fornecer energia extra para aumentar o rendimento e não necessariamente repõem os eletrólitos. Os repositores energéticos possuem concentração maior que 10% de carboidratos, ao passo que os repositores hidroeletrolíticos apresentam em média 6% de carboidratos e eletrólitos, como sódio, cloro e potássio (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015). 3.1 EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO A manutenção dos fluidos corporais é de suma importância para a sobrevivência das células, pois, caso uma quantidade excessiva de água entre nelas, podem romper, já no caso de perda excessiva de água, elas entram em colapso, desta forma, para controlar o fluxo da água, as células controlam o fluxo dos macrominerais (WHITNEY; ROLFES, 2013). TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 113 Quando o cloreto de sódio (NaCl) é dissolvido na água, ele se dissocia em íons (átomos que ganharam ou perderam elétrons, possuindo, portanto, carga elétrica), que podem ser cátions (carga positiva – Na+) e ânions (carga negativa – Cl-), transportam na água eletricidade de forma corrente, por isso são chamados de eletrólitos e os fluidos aos quais estão presentes de soluções eletrolíticas, as quais possuem concentrações de ânions e cátions equilibradas. Dessa forma, se um ânion entrar no fluido, um cátion deverá acompanhá- lo, ou outro ânion deverá sair, sempre que íons Na+ saírem da célula outro cátion entrará, o potássio (K+), por exemplo (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011). É importante ressaltar que os cátions e ânions atraem conjuntos de moléculas de água em volta deles, possibilitando sua dissolução e possibilitando que o corpo mova fluidos para os demais compartimentos. Alguns eletrólitos permanecem na área extracelular (Na+ e Cl-), enquanto outros têm mais afinidade pela parte intracelular (K+, magnésio, fosfato e sulfato) e, em toda troca de compartimento, a água acompanha o eletrólito (processo denominado osmose) (WHITNEY; ROLFES, 2013). 3.2 DESEQUILÍBRIO ENTRE OS ELETRÓLITOS Apesar do equilíbrio osmótico no organismo ser constante, em algumas situações ocorre o desequilíbrio, por exemplo: utilização de medicamentos, vômito e diarreia forte, suor excessivo, queimaduras e ferimentos. Considerando que o sódio e o cloreto são os íons extracelulares, serão os primeiros a serem perdidos quando o líquido é eliminado. Em alguns casos, a reposição do líquido perdido acontece apenas com a água natural e fresca e alimentos apropriados. Todavia, em alguns momentos, é necessária a reposição de fluidos e eletrólitos. Profissionais da saúde utilizam, em determinados casos de diarreia crônica, a terapia de reidratação oral, que contém uma colher de açúcar, uma pitada de sal e meio litro de água (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011). 3.3 EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE O pH é a unidade de concentração de íons (H+), quanto menor for o pH, maior é a concentração de íon H+ e mais forte é o ácido. Um pH acima de 7 é alcalino ou base e são predominantes íons OH- (WHITNEY; ROLFES, 2013). Veja a escala do pH na Figura 6. 114 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE FIGURA 6 – ESCALA DO PH FONTE: <https://bit.ly/3vObUQp>. Acesso em: 11 maio 2021. O corpo precisa manter o pH com variações limitadas para evitar que tragam riscos à vida. Pequenos desvios podem danificar proteínas, causando destruição metabólica. Por isso possuímos três sistemas que protegem o corpo das oscilações no pH, tampões no sangue, respiração nos pulmões e a excreção nos rins (WHITNEY; ROLFES, 2013). • Regulação por meio de tampões: o bicarbonato (composto com a formula HCO3 que resulta da dissociação do ácido carbônico, de maior importância na manu- tenção do equilíbrio ácido base) e o ácido carbônico nos fluidos corporais, assim como algumas proteínas, protegem nosso organismo de alterações na acidez, agindo como tampões, neutralizando ácidos e bases, primeira linha de defesa. • Regulação por meio de pulmões: a respiração é a segunda linha de defesa para o desequilíbrio ácido-base. O dióxido de carbono, formado durante o metabo- lismo celular, produzindo ácido carbônico no sangue, que se dissocia formando íons de hidrogênio e bicarbonato. O equilíbrio entre o ácido carbônico e o bi- carbonato é essencial para manter o pH no sangue ideal, pois se o ácido carbô- nico for desenvolvido em excesso, a taxa respiratória acelera-se, aumentando o dióxido de carbono exalado, diminuindo consequentemente a concentração do ácido carbônico. Contrariamente, se o bicarbonato aumenta, a taxa respiratória lentifica e o dióxido de carbono é retido em forma de ácido carbônico. • Regulação por meio dos rins: ao selecionar quais íons serão preservados e/ou excretados, os rins ajustam o equilíbrio ácido-base do corpo, por isso, a acidez da urina oscila, ajustando esse equilíbrio (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011). Como a hidratação é uma questão de fundamental importância para a vida, nas práticas esportivas ela também merece destaque,devido à perda hídrica para equilíbrio da temperatura corporal. Sugerimos a leitura do artigo: Déficit hídrico pós-treino em judocas submetidos a diferentes intensidades de treinamento com e sem hidratação, disponível em: http://www.rbne.com.br/index.php/rbne/article/view/496. DICAS TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 115 4 ESVAZIAMENTO GÁSTRICO Após a ingestão de fluidos o esvaziamento gástrico é considerado o primeiro fator limitante, para que este, esteja disponível na circulação, pois o estômago não tem função de absorver os líquidos de forma significativa, a qual acontecerá no intestino. O esvaziamento gástrico é controlado por diferentes fatores, são eles: intensidade, tipo do exercício, volume ingerido, densidade energética, osmolaridade, temperatura e tipo do carboidrato (HERNANDEZ; NAHAS, 2009). 4.1 DENSIDADE ENERGÉTICA Quantidades altas de carboidratos podem retardar o esvaziamento gástrico, reduzindo a quantidade de fluido disponível para absorção intestinal, demonstrando que há fatores que limitam a absorção intestinal de glicose, ainda a maior concentração luminal de carboidratos desloca água para o intestino, contribuindo para aumento no risco de desidratação, além de distúrbios gastrointestinais. Em condições ambientais quentes, o recomendado é a oferta de bebidas que contenham de 4 a 6% de carboidratos, pois nesta concentração não haverá retardo no esvaziamento gástrico. Todavia, a velocidade com que as bebidas hidroeletrolíticas serão esvaziadas dependem também do conteúdo energético total (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). 4.2 INTENSIDADE E TIPO DO EXERCÍCIO Exercícios realizados em intensidades inferiores a 70% VO2máx acarretam pouco a função do trato digestório, mas em intensidades maiores tanto o esvaziamento quanto a absorção intestinal podem ser alterados. Dessa forma, em situações em que os indivíduos têm treinos longos e intensos, o consumo de grandes volumes de fluidos pode causar desconforto gástrico e prejuízo no esforço físico. Quando o exercício é de corrida, há uma incidência maior nos problemas gastrointestinais, quando comparados à natação e ao ciclismo. A ingestão de fluidos durante maratonas deve ser pequena, variando ao máximo em 600 mL/h, aumentando o risco de desidratação nesse grupo de atletas (TIRAPEGUI, 2012). 116 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 4.3 TEMPERATURA DAS BEBIDAS E VOLUME INGERIDO A temperatura das bebidas deve ser de acordo com a preferência do atleta, considerando que bebidas geladas podem auxiliar quando o exercício é realizado em ambientes quentes, bem como bebidas menos geladas em ambientes mais frios. De forma geral, água em temperatura entre 5 e 15 °C esvaziam mais rapidamente que soluções mornas. Quanto ao volume a ser ingerido, é necessário que o atleta, durante os trei- namentos, verifique a sua tolerância a grandes volumes de líquido no estômago. Todavia, é comum que os atletas relatem com frequência refluxo gastroesofágico resultante da ingestão de volumes maiores de líquidos já antes do início da prova, por isso, não o fazem. Com isso, se torna vantajoso manter o volume no estômago, tolerável durante o exercício, próximo de 400 a 600 mL (TIRAPEGUI, 2012). 4.4 TIPO DE CARBOIDRATO NOS REPOSITORES HIDROELETROLÍTICOS A ingestão de glicose, quando comparada a sacarose e maltodextrina, não apresenta diferença em relação ao esvaziamento gástrico. Já, soluções com frutose, passam mais rápido pelo estômago, mas são absorvidas mais lentamente no intestino, podendo causar desconforto intestinal. A osmolaridade torna-se importante em soluções com quantidades maiores de carboidratos, todavia, nestes casos, a própria densidade energética será responsável por um esvaziamento gástrico mais lento. De maneira geral, podemos considerar que volume do conteúdo gástrico, densidade energética e a osmolaridade da bebida são os fatores mais relevantes no esvaziamento gástrico, devendo ser considerado, também, que a substituição de glicose por polímeros de glicose parece aumentar levemente a taxa de oferta de fluidos e de substratos para o intestino delgado (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). 5 ABSORÇÃO INTESTINAL A absorção líquida de água aumenta pelo transporte ativo de glicose e sódio. Como a capacidade de absorção de solutos e água no estômago é reduzida, a taxa com que são liberados ao intestino influenciara na agilidade de sua absorção (TIRAPEGUI, 2012; HERNANDEZ; NAHAS, 2009). TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 117 5.1 TIPO E CONCENTRAÇÃO DE CARBOIDRATO Importante prestarmos atenção agora, nas diferenças que veremos entre a sacarose, glicose e frutose. Bebidas que contêm sacarose e glicose viabilizam maior absorção de água e sódio, por sua vez, bebidas que contêm mais frutose promovem absorção moderada de água e muito baixa de sódio, com isso, é importante a união desses diferentes carboidratos, que possuem vias de absorção diferentes, pois resultam em uma utilização maior desses carboidratos como fonte de energia, do que quando administrado isoladamente, gerando também, aumento na absorção de líquidos. A concentração luminal de glicose de 80 a 200 mmol/L maximiza a taxa de absorção de fluidos, contudo, quando este está em baixas concentrações na solução. Concentrações com 6 a 8% de glicose e sacarose parecem promover uma absorção com a mesma rapidez que a água. Quando a concentração de carboidra- to for maior que 10%, o fluido é deslocado para o lúmen intestinal, promoven- do uma desidratação com associação a câimbras abdominais, náuseas e diarreia (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). No Quadro 14, cons- tam as recomendações para conjugação de hidratação e reposição energética. QUADRO 14 – ESTRATÉGIAS PARA CONJUGAR A HIDRATAÇÃO COM O FORNECIMENTO DE CARBOIDRATO DURANTE O EXERCÍCIO Recomendações de carboidratos 30 a 60 g por hora Recomendações de líquidos 500 a 1000 mL por hora Tipos de carboidratos Glicose, frutose e maltodextrinas misturados Concentração 6 a 8% FONTE: Tirapegui (2012, p. 135) No Quadro 15, são apresentadas concentrações de carboidratos deseja- das para determinada bebidas. QUADRO 15 – ELABORAÇÃO DE BEBIDAS Quantidade de carboidrato por hora 30 g 40 g 50 g 60 g Concentração a ser atingida Quantidade de liquido a ser acrescentado 6% 500 mL 667 mL 833 mL 1000 mL 7,5% 400 mL 533 mL 667 mL 800 mL 8% 375 mL 500 mL 625 mL 750 mL FONTE: Tirapegui (2012, p. 135) 118 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 6 RECOMENDAÇÕES DE INGESTÃO DE FLUIDOS E ELETRÓLITOS Para garantir que o esportista inicie o exercício bem hidratado, recomenda-se que ele ingira cerca de 250 a 500 ml de água duas horas antes do exercício. Já durante o exercício, a recomendação é de início da ingestão nos primeiros 15 minutos, com contínua hidratação, bebendo a cada 15 a 20 minutos. Em relação ao volume a ser ingerido, varia conforme as taxas de sudorese, girando entre 500 e 2.000 ml/hora. Caso a atividade dure mais de uma hora, ou se for intensa, mesmo com menos de uma hora, deve ser reposto carboidrato na quantidade de 30 a 60 g por hora e sódio na quantidade de 0,5 a 0,7 g/L (HERNANDEZ; NAHAS, 2009). Conforme vimos anteriormente, a bebida deve estar em temperatura entre 5 a 22 °C e apresentar um sabor de acordo com a preferência do indivíduo, favorecendo a palatabilidade. Após o exercício, a ingestão é de suma importância, devendo o esportista continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de água pela diurese e sudorese. Deve-se aproveitar para ingerir carboidratos, em média de 50 g de glicose, nas primeiras duas horas após o exercício, para que se promova a ressíntese do glicogênio muscular e o rápido armazenamento de glicogênio musculare hepático (HERNANDEZ; NAHAS, 2009). ORIENTAÇÕES PARA PROMOÇÃO DE UMA ADEQUADA REIDRATAÇÃO O atleta deve acompanhar as mudanças no seu peso corporal antes e após o exercício, verificando se o consumo de líquidos durante a prática esportiva foi suficiente. A perda de 1 kg equivale a 1 L de fluido perdido, aproximadamente. Considerando a contínua perda durante o período de recuperação pela urina e suor, é necessário que o atleta ingira uma quantidade extra, 150% do volume perdido deve ser consumido em um período de duas a quatro horas, sendo este através de líquidos palatáveis, não podendo ser álcool e cafeína que estimulam a diurese. Em situações em que o déficit de fluidos foi de moderado a alto, a reposição de sódio ajudará na retenção do líquido, minimizando as perdas pela urina (TIRAPEGUI, 2012). IMPORTANT E No Quadro 16, seguem orientações para recuperação dos atletas pós exercício. TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 119 QUADRO 16 – ORIENTAÇÕES PARA O PERÍODO DE RECUPERAÇÃO Objetivo principal Ressíntese de glicogênio, reposição hídrica e de sódio Composição da solução - Sódio 30 a 40 mEq. - Cloreto 30 a 40 mEq. - Carboidrato 50 g/hora. - Fluidos 1,5 vezes o peso perdido em água durante o exercício. Justificativa - O processo de reidratação deve ocorrer nos primeiros 20 min pós exercício - A solução deve possuir uma boa palatabilidade, uma concentração ideal de carboidrato para repor reservas de glicogênio e também deve conter sódio para manter volume extracelular. FONTE: Tirapegui (2012, p. 150) 6.1 RESOLUÇÃO DE DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 18, DE 27 DE ABRIL DE 2010 A resolução da ANVISA, de 2010, RDC nº 18, de 27 de abril de 2010, dispõe sobre alimentos para atletas, e tem o objetivo de estabelecer a classificação, a designação, os requisitos de composição e de rotulagem dos alimentos para atletas. Dentre essas classificações, estão os suplementos hidroeletrolíticos para atletas, os quais devem seguir as seguintes recomendações, conforme artigo 6º dessa resolução: Art. 6º Os suplementos hidroeletrolíticos para atletas devem atender aos seguintes requisitos: I - a concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar entre 460 e 1150 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para fins alimentícios como fonte de sódio; II - a osmolalidade do produto pronto para consumo deve ser inferior a 330 mOsm/kg água; III - os carboidratos podem constituir até 8% (m/v) do produto pronto para consumo; IV - o produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; V - o produto pode ser adicionado de potássio em até 700 mg/l; VI - o produto não pode ser adicionado de outros nutrientes e não nutrientes; VII - o produto não pode ser adicionado de fibras alimentares. §1° Quanto ao tipo de carboidratos, referente ao inciso III, este produto não pode ser adicionado de amidos e poliois. §2° Com relação ao teor de carboidratos, constante do inciso III, o teor de frutose, quando adicionada, não pode ser superior a 3% (m/v) do produto pronto para o consumo (BRASIL, 2010). 120 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE 6.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE HIDRATAÇÃO E TIPO DE EXERCÍCIO Conforme mencionado anteriormente, a manutenção dos fluidos corporais é de suma importância para a sobrevivência das células, pois, caso uma quantidade excessiva de água entre nelas, podem romper, já no caso de perda excessiva de água, elas entram em colapso, desta forma, para controlar o fluxo da água, as células controlam o fluxo dos macrominerais (WHITNEY; ROLFES, 2013). Nesse sentido, considerando as diferenças que o processo de hidratação requer nas variadas modalidades esportivas, seguem as orientações: 6.2.1 Hidratação em esportes de alta intensidade e curta duração Na modalidade de alta intensidade podemos exemplificar provas de corrida, ciclismo e de natação de velocidade. Eventos esportivos, nesta modalidade, dispensam intervenções de hidratação durante a competição, pois, além do curto período, a absorção intestinal estará diminuída. Considerando essa afirmação, alguns estudos com intuito de verificar o estado de hidratação desses atletas têm observado que, mesmo em condições de hipo-hidratação, com perda de 2 a 3% do peso corporal), não há redução significativa de força ou potência muscular. Atletas de sprints têm vantagens com uma composição corporal reduzida, ficando mais leve para se exercitar. Nesse contexto, para essas modalidades, a indicação é de iniciar o treinamento em estado desidratado (TIRAPEGUI, 2012). 6.2.2 Hidratação em corredores de meia distância Nesta modalidade, as distâncias percorridas giram em torno de 800 e 3000 metros, que perduram entre 2 a 9 minutos, quando realizadas por atletas de elite. Como podemos perceber, a duração dessas competições é pequena, não requerendo intervenção de hidratação. Vale destacar que as características indi- viduais e a intensidade do exercício devem ser consideradas, todavia, não há re- lato científico de diferença significativa de desempenho entre atletas que iniciam esse tipo de atividade em diferentes estados de hidratação (TIRAPEGUI, 2012). 6.2.3 Hidratação para exercícios de longa distância Eventos de longa distância são os maiores de 3000 metros, corridas, caminhadas, ciclismo, natação entre outros, nos quais a taxa de suor e a duração do exercício são elevadas, resultando em perda de massa corporal que pode TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 121 prejudicar a saúde e desempenho do atleta. Nessas modalidades, as taxas de suor variam entre 2 a 3 L por hora, avaliando uma atividade de duração superior a 2 horas. Quando a desidratação equivale a uma redução de massa corporal maior que 2%, conforme mencionado anteriormente, pode comprometer o desempenho físico. A Sociedade Brasileia de Medicina Esportiva (2009) orienta a reposição de sódio quando a perda hídrica pelo suor for intensa. Como exemplo, podemos citar um atleta de 70 Kg, que, ao correr por três horas, pode perder 2 L de suor, e com ele 240 mEq de sódio, equivalente a 10% do sódio presente no meio extrace- lular, valor suficiente para desencadear a hiponatremia (BIESEK; ALVES; GUER- RA, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014; TIRAPEGUI, 2012). Os macrominerais são assim chamados porque estão presentes e são necessários em maiores quantidades que os demais minerais. São substâncias inorgânicas (que preservam sua identidade química) e tem sua biodisponibilidade variável, pois os alimentos contêm aglutinadores (fitatos e oxalatos) que combinam com alguns minerais e os carreiam para fora do organismo. Também, os minerais interagem entre si, como o sódio e o cálcio, excreta- dos em conjunto quando o consumo de sódio é excessivo, assim como o fósforo se liga ao magnésio no TGI. Nesse contexto, reforça-se o cuidado com a utilização de suplementos (WHITNEY; ROLFES, 2013). • Sódio: principal cátion do fluido extracelular e importante regulador do seu volume, assim como auxilia na manutenção do equilíbrio ácido-base, é necessário aos impulsos nervosos e contração muscular. É um mineral prontamente absorvido no TGI, e percorre o sangue livremente até chegar ao rim, onde é filtrado e devolvido a corrente sanguínea nas quantidades necessários ao organismo. Em geral, o que é absorvido é excretado. Deficiência e toxicidade: a deficiência pode causar cãibras, apatia mental, perda de apetite, e o excesso pode desencadear edema e hipertensão aguda. Alimentos fonte: em geral, alimentos processados concentram a maior parte do sódio consumido pela população diariamente, 75% do sódio da dieta é proveniente de sal adicionado no processamento dos alimentos, 15% originam do sal adicionado no cozimento, no preparo das refeições e apenas 10%derivam do conteúdo natural dos alimentos (WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020). • Cloreto: é o principal ânion dos fluidos extracelulares, que ocorre com mais frequência associado ao sódio (cloreto de sódio). Também pode deslocar- se livremente para o interior da célula e se associai ao potássio. Auxilia na manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico. No estômago, este íon forma o ácido clorídrico que mantém a acidez do suco gástrico. Deficiência e toxicidade: não há relatos de deficiência. A única causa conhecida sobre altas concentrações de cloreto no sangue, é durante a desidratação. Alimentos fonte: sal de cozinha, molho de soja, quantidades moderadas de carnes, leite e ovos (WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020). 122 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE • Potássio: é o principal cátion dentro da célula. Tem papel essencial na manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e na integridade da célula. Durante a transmissão de impulsos nervosos e a contração muscular o potássio e o sódio, brevemente, trocam de posição através da membrana, e a célula as “manda” novamente para suas posições. Deficiência e toxicidade: sua deficiência é o desequilíbrio eletrolítico mais comum, devido à perda (diarreia, vômito, desidratação, medicamentos diuréticos) e não deficiência de consumo, tendo como sintoma a fraqueza muscular. Não foi estabelecido limite superior tolerável de ingestão. O excesso poderá acontecer em casos de utilização de suplementos nutricionais, desencadeando uma parada cardíaca. Alimentos fonte: alimentos integrais, carnes, leites, frutas, hortaliças, grãos e leguminosas (WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020). • Cálcio: é o mineral mais abundante no corpo humano, e se encontra quase que totalmente (99%) nos ossos, local onde desempenha importantes funções, integrando a estrutura óssea e com isso mantendo a postura ereta do corpo. Além disso, a estrutura óssea também é uma reserva do cálcio, de onde este será retirado caso esteja deficiente da corrente sanguínea. Cabe aqui destacar, que o 1% de cálcio circulante na corrente sanguínea é vital, pois participa na forma de íon das contrações musculares, coagulação sanguínea, conforme vimos quando discutimos a vitamina K, transmissão de impulsos nervoso, secreção de hormônios e ativação de algumas reações enzimáticas. Ainda, importante quando falamos do cálcio é o controle que nosso organismo faz para mantê-lo em homeostase, considerando que envolve um sistema de hormônios e vitamina D. Nos momentos em que a concentração de cálcio entrar em desequilíbrio, três órgãos entrarão em ação, intestinos, ossos e rins, com a participação essencial dos hormônios paratormônio e calcitonina. Deficiência e toxicidade: um baixo consumo de alimentos fontes de cálcio na fase de crescimento limita a capacidade de os ossos alcançarem sua massa óssea ideal, que ocorre por volta dos 20 anos. Como consequência, após os 30/40 anos, quando inicia a perda de massa óssea esses indivíduos têm maior probabilidade de desenvolver osteoporose. Quanto à toxicidade, seu consumo excessivo (acima da ingestão máxima tolerável) pode causar constipação, risco aumentado de cálculos renais e interferência na absorção de outros minerais. Alimentos fonte: leite e derivados, peixes pequenos com espinha, tofu (queijo de soja), hortaliças e leguminosas (JACQMAIN et al. 2003; WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020). • Fósforo: é o segundo mineral mais abundante no corpo, sendo que 85% está concentrado com o cálcio, na forma de cristais de hidroxiapatita nos ossos e dentes. Os demais 15% do fósforo são encontrados em todas as células do corpo, como parte de um sistema tampão principal (ácido fosfórico e seus sais) e fazendo parte do DNA e RNA e consequentemente do crescimento das células. Ainda, este mineral auxilia no sistema energético celular, pois muitas vitaminas e enzimas apenas são ativadas na presença do fósforo, relembrando TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 123 que o próprio ATP utiliza três grupos de fosfatos nas suas atividades. Podemos também, ressaltar a atividade do fósforo participante da membrana celular de alguns lipídios, que atua no transporte de outros lipídios no sangue. Deficiência e toxicidade: a deficiência de magnésio pode desencadear fraqueza muscular e dores nos ossos e a toxicidade calcificação dos tecidos não esqueléticos (rins), todavia nenhum efeito adverso foi relatado. Alimentos fonte: leguminosas, carne (frango, gado, peixe, porco), leite e derivados (MAHAN; ESCOTT- STUMP, 2011 apud ROSA, 2020). • Magnésio: ao contrário do cálcio e do fósforo, o magnésio está presente no corpo humano em pequenas quantidades, apenas aproximadamente 28 g, e mais da metade dessa quantidade concentra-se nos ossos. Ademais encontramos magnésio nos músculos, tecidos moles e fluido extracelular (apenas 1%). O magnésio, bem como o cálcio também é considerado um reservatório na estrutura óssea para os momentos de redução nos níveis sanguíneos. Como um componente necessário na catalisação de energia pelo ATP, é de suma importância na utilização da glicose, na síntese de proteínas, das gorduras e dos ácidos nucleicos, e nos sistemas de transporte das membranas celulares. Além disso, também está envolvido nas contrações musculares e coagulação sanguínea, inibindo com isso as ações do cálcio, regulando a pressão arterial e funcionamento dos pulmões. Com atuação ainda, relatada no sistema imunológico. Deficiência e toxicidade: sintomas de deficiência raramente foram relatados, mas podem surgir em casos de doenças e desordens, gerando fraqueza, confusão, convulsões, contrações musculares estranhas, alucinações e dificuldades para engolir. A toxicidade também não é comum, mas proveniente de fontes não alimentares podem causar diarreia, alcalose e desidratação. Alimentos fonte: nozes, leguminosas, cereais integrais, vegetais folhosos verdes, frutos do mar, chocolates e cacau (SABATIER et al. 2002; WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020). • Enxofre: o corpo não utiliza o enxofre isolado como nutriente. É um macromineral que aparece sempre em conjunto com outros minerais essenciais, como a tiamina, metionina e cisteína. A pele, o cabelo e a unha possuem algumas das proteínas mais rígidas do corpo, as quais possuem alto teor de enxofre. Não existe valor de ingestão recomendada para o enxofre, bem como não há registros de deficiência e toxicidade devido a sua característica de não estar isolado (WHITNEY; ROLFES, 2013 apud ROSA, 2020). 124 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE LEITURA COMPLEMENTAR DIETARY REFERENCE INTAKES: APLICABILIDADE DAS TABELAS EM ESTUDOS NUTRICIONAIS Renata Maria Padovani Jaime Amaya-Farfán Fernando Antonio Basile Colugnati Semíramis Martins Álvares Domene INTRODUÇÃO Na análise da qualidade nutricional da alimentação e da programação de dietas considera-se o atendimento às necessidades de nutrientes e energia, determinadas de acordo com as características de sexo, estágio de vida, atividade física e medidas corporais de indivíduos saudáveis. Tanto para a avaliação da dieta como para sua prescrição, são estabelecidos valores de referência para ingestão de nutrientes, os quais são periodicamente revisados à luz de novos achados. Assim, são incorporados novos conhecimentos de eventuais manifestações aos extremos de exposição, ou seja, sinais carenciais decorrentes de ingestão insuficiente, ou de toxicidade, que indicam efeitos adversos decorrentes do excesso de consumo. As Dietary Reference Intakes (DRI) constituem-se na mais recente revisão dos valores de recomendação de nutrientes e energia adotados pelos Estados Unidos e Canadá,e vêm sendo publicadas desde 1997, na forma de relatórios parciais elaborados por comitês de especialistas organizados por uma parceria entre o Institute of Medicine norte-americano e a agência Health Canada. Essas publicações substituem as sucessivas versões das Recommended Dietary Allowances (RDA), cuja décima revisão foi editada em 1989. Além da atualização de cotas dietéticas recomendadas, esse conjunto de publicações apresenta um novo sistema de aplicação das quatro categorias de valores de referência para avaliação e planejamento de consumo, rotulagem e fortificação de alimentos. Os novos conceitos foram elaborados a partir da incorporação de achados sobre o aumento dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, provocado pela alimentação, além da abordagem clássica dos efeitos de carência. Estas categorias são: • Estimated Average Requirement (EAR), este valor de referência corresponde à mediana da distribuição das necessidades de um nutriente em um grupo de indivíduos saudáveis do mesmo sexo e estágio de vida; por essa razão, atende às necessidades de 50% da população. • Recommended Dietary Allowances (RDA), esta categoria de valores, já empre- gada nas versões anteriores, deriva do EAR e deve atender às necessidades de um nutriente para 97% a 98% dos indivíduos saudáveis do mesmo sexo e estágio de vida. TÓPICO 3 — HIDRATAÇÃO NO ESPORTE 125 • Adequate Intake (AI), valor de consumo recomendável, baseado em levantamentos, determinações ou aproximações de dados experimentais, ou ainda de estimativas de ingestão de nutrientes para grupo(s) de pessoas sadias e que, a priori, se consideraria adequado. Nem sempre o conjunto de informações sobre o nutriente é suficientemente consistente para o estabelecimento de EAR. Nesses casos, deve-se empregar o valor de AI, projetado como possivelmente superior ao valor de RDA, mas sobre o qual ainda há considerável incerteza. Assim, o valor de AI é usado quando os valores de EAR ou de RDA não podem ser determinados. • Tolerable Upper Intake Level (UL), há, em alguns casos, a compreensão equivoca- da de que se um nutriente faz bem em pequena quantidade, uma grande quan- tidade traria proporcionalmente mais benefícios. De fato, nutrientes podem ser nocivos em doses que às vezes são apenas pouco superiores aos valores de recomendação. O UL é definido como o mais alto valor de ingestão diária prolongada de um nutriente que, aparentemente, não oferece risco de efeito adverso à saúde em quase todos os indivíduos de um estágio de vida ou sexo. Entre as novidades desse sistema não estão apenas as quatro categorias de referência já mencionadas. Com as DRI pode-se aprimorar a avaliação e o planejamento da alimentação, ao considerar que, para cada uma dessas etapas da atenção dietética, deve-se aplicar uma ou mais das categorias citadas, de maneiras distintas. Assim, para indivíduos, EAR e UL são as categorias de referência mais adequadas para a avaliação de dietas, enquanto RDA ou AI devem ser utilizadas como metas de ingestão. Valores habituais de consumo abaixo do EAR denotam grande probabilidade de inadequação, e acima do UL, risco de desenvolvimento de efeitos adversos. Contudo, se o consumo habitual estiver acima dos valores da RDA há maior chance de que as necessidades nutricionais, tanto de indivíduos quanto de populações, estejam atendidas. Quando não há valor de EAR e apenas o valor de AI se encontra disponível, há maior incerteza para avaliar se um determinado nutriente é fornecido pela dieta em quantidade adequada. Portanto, pela simples aplicação das tabelas não é possível chegar a uma conclusão sobre inadequação, quando os valores de consumo habitual forem menores do que este valor de referência. Fontes de erro intraindividuais, devidas à variabilidade do padrão de consumo, ou interindividuais, decorrentes da distribuição das necessidades na população, aliadas a um pequeno número de dias de observação, têm grande impacto sobre a confiabilidade da análise. A adoção de técnicas adequadas de inquérito dietético, aplicadas duas ou mais vezes, preferencialmente em dias não consecutivos, contribui para melhorar a acurácia de métodos quantitativos de consumo. Outros avanços do sistema incluem a proposição do conceito de ‘estágios da vida’, e não mais ‘faixas etárias’; a definição de antioxidante alimentar; o emprego do conceito de unidades equivalentes para vitamina E e folato, além da vitamina A. 126 UNIDADE 2 — COMPOSIÇÃO CORPORAL E NECESSIDADES NUTRICIONAIS NO ESPORTE Adicionalmente, houve a inclusão de um maior número de elementos, como arsênico, boro, níquel e vanádio. Para estes, entretanto, a insuficiência das evidências para firmar suas funções sobre a saúde impede, até a presente data, o estabelecimento de níveis de recomendação. [...] FONTE: <https://bit.ly/3gVWAfm>. Acesso em: 11 maio 2021. 127 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • É de suma importância o consumo hídrico antes, durante e após a prática esportiva, e que a cada momento, os líquidos e as quantidades podem ser alternados dependendo do tempo de exercício físico e da modalidade. • Os processos fisiológicos de equilíbrio ácido-base e o esvaziamento gástrico são influenciados diretamente pela escolha do repositor hidroeletrolítico. • As quantidades de carboidrato e macrominerais presentes nos repositores hidroeletrolíticos são regulamentos pela ANVISA. • Os fluidos a serem ingeridos pelos atletas, para facilitar a palatabilidade, devem estar entre 15 e 22 °C e ter sabores leves, pois são melhor aceitos que apenas água. • O consumo hídrico deve ser regulado, considerando que tanto a desidratação quanto a hiper-hidratação podem causar efeitos deletérios ao organismo. 128 1 A água, como única fonte de liquido durante um exercício físico de longa intensidade, pode surtir efeitos adversos, pois, à medida que a ingestão de água aumenta, ocorre uma expansão do volume sanguíneo (diluição plasmática), com consequente diurese, além do desconforto pelo aumento de líquido na bexiga do atleta, por isso, os repositores hidroeletrolíticos são de suma importância em determinadas situações. Em relação aos repositores hidroeletrolíticos, é CORRETO o que se afirma em: a) ( ) O uso desses produtos deve ser monitorado pelos próprios praticantes de atividade física e é mais utilizado antes e após o exercício intenso. b) ( ) São formulados pela concentração variada de eletrólitos (sódio e cloreto) associados a concentrações variadas de proteínas e lipídios. c) ( ) São indicados apenas após uma atividade física muito intensa, ao ar livre, com sol (por mais de 2 a 3 horas) e com uma sudorese elevada. d) ( ) Não possui contraindicações. e) ( ) A alimentação diária não é suficiente para promover a reposição de eletrólitos em muitas situações. 2 A manutenção dos fluidos corporais é de suma importância para a sobrevivência das células, pois, caso uma quantidade excessiva de água entre nelas, podem romper, já no caso de perda excessiva de água, elas entram em colapso, desta forma, para controlar o fluxo da água, as células controlam o fluxo dos macrominerais. Qual é o eletrólito que possui importante função na redução da diluição plasmática, ganhando destaque nos repositores hidroeletrolíticos? a) ( ) Potássio. b) ( ) Cálcio. c) ( ) Sódio. d) ( ) Fósforo. e) ( ) Magnésio. 3 A água possibilita a solubilização e a passagem de uma grande variedade de nutrientes orgânicos e inorgânicos do sangue para a célula e da célula para o sangue, além das inúmerasreações metabólicas que ocorrem intracelularmente. Nesse sentido, considerando a importância da correta hidratação para saúde e rendimento do atleta, quais são as orientações para promoção de uma adequada reidratação? AUTOATIVIDADE 129 4 Os macrominerais são assim chamados porque estão presentes e são necessários em maiores quantidades que os demais minerais. São substâncias inorgânicas e tem sua biodisponibilidade variável. Os minerais interagem entre si, como o sódio e o cálcio, excretados em conjunto quando o consumo de sódio é excessivo, assim como o fósforo se liga ao magnésio no TGI. Nesse contexto, reforça-se o cuidado com a utilização de suplementos. Descreva abaixo a importância do sódio nesse processo, assim como seus alimentos fontes. 5 A resolução da ANVISA, RDC nº 18, de 27 de abril de 2010, dispõe sobre alimentos para atletas, e tem o objetivo de estabelecer a classificação, a designação, os requisitos de composição e de rotulagem dos alimentos para atletas. Dentre essas classificações, estão os suplementos hidroeletrolíticos para atletas, os quais devem seguir as seguintes recomendações, conforme artigo 6º dessa resolução. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar entre 460 e 1150 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para fins alimentícios como fonte de sódio; a osmolalidade do produto pronto para consumo deve ser inferior a 330 mOsm/kg água; os carboidratos podem constituir até 8% (m/v) do produto pronto para consumo; o produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais. b) ( ) O produto pode ser adicionado de outros nutrientes e não nutrientes, assim como pode ser adicionado de fibras alimentares. c) ( ) Com relação ao teor de carboidratos, o teor de frutose, quando adicionada, não pode ser superior a 8% (m/v) do produto pronto para o consumo. d) ( ) Concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar entre 1150 e 2000 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para fins alimentícios como fonte de sódio; a osmolalidade do produto pronto para consumo deve ser inferior a 530 mOsm/kg água; os carboidratos podem constituir até 12% (m/v) do produto pronto para consumo; o produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais. e) ( ) A concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar entre 460 e 1150 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para fins alimentícios como fonte de sódio; a osmolalidade do produto pronto para consumo deve ser inferior a 330 mOsm/kg água; com relação ao teor de carboidratos, o teor de frutose, quando adicionada, não pode ser superior a 8% (m/v) do produto pronto para o consumo. 130 REFERÊNCIAS ALMEIDA, P. 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TÓPICO 1 – RECURSOS ERGOGÊNICOS TÓPICO 2 – RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOSRESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA TÓPICO 3 – FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS 138 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 139 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico, vamos iniciar o Tópico 1, que está direcionado a abordar os suplementos alimentares de maneira geral, juntamente com as legislações e orientações nacionais e internacionais dessa área; para tanto, é importante fazermos algumas considerações iniciais. Primeiro, cabe salientar que para que os atletas tenham sucesso em suas modalidades, dois fatores são relevantes: a genética e o treinamento, pois, considerando o mundo das competições, onde, em sua maioria, os atletas possuem habilidades genéticas semelhantes, fazem do treinamento o fator que pode fazer a diferença no “segundo final”, todavia, por vezes são expostos a treinamentos também semelhantes. Com isso, a busca dos atletas por possibilidades que melhorem seu rendimento é contínua, fazendo com que a alimentação e a suplementação adentrem nesse campo do esporte com bastante “força”. Antes de darmos sequência no conteúdo, vamos compreender o que é recurso ergogênico, já que pode ser confundido unicamente com suplementos alimentares. TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS O que você considera um recurso ergogênico? De acordo com Willians (1995), a palavra “ergogênico” deriva do grego ergon, trabalho, e gennan, produção, que significa substâncias ou artifícios que visem à melhora do desempenho, ou seja, podem ser considerados recursos ergogênicos fatores nutricionais, como os suplementos, fatores farmacológicos, biomecânicos e mecânicos como roupas mais leves, bicicletas melhores adaptadas, no caso dos ciclistas, ainda fatores psicológicos e fisiológicos. NOTA UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 140 Podemos, então, classificar os suplementos alimentares como recursos ergogênicos? Sim, mas, infelizmente um grande número de suplementos vem sendo comercializado com diferentes objetivos, e sem respaldo científico, discutiremos isso na sequência. É importante, ainda, relembrar o que é um atleta e um esportista, pois as legislações, por vezes, fazem alegações específicas aos dois: • Os atletas (profissionais/amadores) praticam modalidades esportivas específi- cas, estabelecem rotinas fixas e frequência praticamente diária de treinamento, tendo como finalidade a obtenção de alto desempenho em competições. Nor- malmente usam dessa prática como fonte de renda. • Os esportistas, por sua vez, são aqueles indivíduos que praticam exercícios físicos, sem muita especificidade, podendo ser musculação, ginástica olímpica, vôlei, tênis, entre outros, com regularidade ou não em cada prática e intensidade variada, sem caráter profissional. Agora, vamos em frente e rever alguns conceitos e legislações em torno dos recursos que envolvem a categoria nutricional, dando enfoque às substâncias mais utilizadas nos últimos tempos. 2 INTRODUÇÃO À SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR Quais seriam os objetivos de um atleta e ou esportista ao utilizar um suplemento alimentar? Em sua maioria, os atletas usam esses recursos com foco no aumento de massa muscular e obtenção de energia para os músculos, pois estão envolvidos com os mecanismos geradores de energia, sendo substrato energético, regulador de processos metabólicos que geram energia e promovem o crescimento e desenvolvimento dos tecidos corporais. O Quadro 1 aborda os métodos/mecanismos pelos quais os ergogênicos, neste caso, suplementos alimentares, podem melhorar o desempenho (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 141 QUADRO 1 – MÉTODOS PELOS QUAIS OS ERGOGÊNICOS PODEM MELHORAR A PERFORMANCE MEDIANTE A POTÊNCIA FÍSICA, FORÇA MENTAL E LIMITE MECÂNICO Métodos Para intensificar a potência física − aumento de tecido muscular; − intensificação dos processos metabólicos de liberação de energia; − aumento da oferta de energia no musculo durante atividades de longa duração; − melhora na liberação do substrato energético no músculo; − combate ao acúmulo de substâncias que interferem na ótima produção de energia. Para intensificar a força mental − aumento dos processos psicológicos que maximizam a produção de energia; − diminuição nos fatores que interferem no ótimo funcionamento psicológico. Para intensificar os limites mecânicos − melhora na eficiência mecânica pela diminuição da massa corporal, sobretudo a gordura; − melhora da estabilidade pelo aumento da massa corporal, sobretudo da massa muscular. FONTE: Adaptado de Williams (1991) Muito se tem discutido sobre os hábitos alimentares dos esportistas e atletas, com enfoque aos atletas, pois acabam por ter demandas energéticas e de nutrientes maiores que os demais praticantes, fazendo com que tenham dúvidas frequentes sobre o uso ou não de suplementos alimentares, recursos esses que não requerem obrigatoriedade de prescrição por nutricionista para comercialização, o que causa algumas confusões de conceitos e consequentemente de utilização. Destaca-se nesse meio, que muitas vezes os próprios nutricionistas care- cem de mais estudos e orientações, devendo este, quando atuar na área esporti- va, conhecer o mercado de suplementos nutricionais, saber avaliar os níveis de evidencia de recomendação estabelecidos por alguns órgãos, a aplicabilidade e o custo benefício desse uso por parte do atleta. Nesse contexto, os suplementos alimentares direcionados para atletas refletem produtos especialmente formulados para auxiliar no suprimento das demandas energéticas adicionais à necessidade de rendimento, visando complementar a alimentação e não a substituir. Ainda se sabe que a opção pelo uso de suplementos surge por solicitação do próprio atleta, devido a sua rotina diária, na qual não consegue consumir apenas com alimentos a demanda energética necessária para repor a energia UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 142 utilizada nos treinos e competições. Todavia, antes da suplementação, o nutricionista pode verificar a possibilidade de inserção dos alimentos listados a seguir na rotina do atleta: • caldo de cana: usado para reposição do glicogênio muscular; • castanha-do-brasil: usada como fonte de selênio; • leite fortificado com ferro: reposição do ferro; • leite em pó: aumentar aporte de cálcio; • leite: para hidratação e promoção de síntese proteica pós treino; • leite com achocolatado: recuperação muscular após exercício intenso; • banana e uvas passas: fonte de energia durante o treino; • suco de beterraba: fonte de nitrito para melhorar performance de endurance; • água de coco: repositor de eletrólitos; • café: melhora no foco (HIRSCHBRUCH, 2014). Bacurau (2009) relatou que os motivos mais relatados pelos atletas e esportistas para consumo de suplementos era: necessidade de compensar uma dieta ou estilo de vida inadequado; e atender a um suposto aumento na necessidade energética ou de nutrientes gerado pelos treinamentos e para obter efeitos na performance. Justificativas que podem ser rebatidas, já que nem sempre uma rotina inadequada apresenta carências nutricionais, ainda mais quando se trata de um esportista, por sua vez, a demanda por nutrientes no caso de atletas ainda é bem contraditória já que faltam pesquisas científicas que direcionem o consumo au- mentado de micronutrientes e, por fim, estudos científicos nem sempre suportam o aumento no consumo de determinados nutrientes na melhora da performance. Nesse pingue-pongue do uso ou não de suplementos alimentares, no dia a dia da profissão de nutricionista são diferentes os “pontos de vista” em relação a essa prescrição,por isso vale a pena o aprofundamento nos estudos que surgem em relação a cada suplemento alimentar. É válido verificar, de forma criteriosa, a metodologia utilizada, o número e característica do público pesquisado, bem como os procedimentos realizados e quantidades consumidas, assim como se foi um estudo realizado como seres humanos ou animais. Seguem algumas condições em que o uso de suplementos alimentares é normalmente recomendado: • dificuldades na ingestão de grandes quantidades de alimentos em momentos de treinamentos e competições intensos; • quando o indivíduo deseja reduzir a necessidade de defecação durante competições; • em momentos em que a perda de peso é necessária; • em casos de dieta de supercompensação de carboidratos e dificuldade na aquisição dos alimentos (viagens); TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 143 • quando a recuperação rápida é necessária e o indivíduo apresenta anorexia pós-esforço; • obtenção de micronutrientes em momentos de dietas restritivas. Já se perguntou por que tanta atenção é dada a essa área? Existem hoje, em todo o mundo, centenas de tipos de suplementos disponíveis para venda, os quais, conforme alegações, remontam mais de 800 tipos de mecanismos diferentes pelos quais a performance poderia ser melhorada. Dessa forma, percebe-se que a grande quantidade de produtos novos, falta de controle sobre as propagandas e o desconhecimento por parte dos consumidores, assim como pesquisas conduzidas por fabricantes e com dados contraditórios invalidem o processo de segurança para o comercio de suplementos. Conforme o Comitê Olímpico Norte-Americano (MAUGHAN et al., 2018), todas as pesquisas voltadas a suplementos alimentares devem responder a questionamentos, tais como a relação dos suplementos com a ocorrência de lesões, a biodisponibilidade do nutriente usado no suplemento, determinação efetiva do efeito ergogênico e o risco desse suplemento em adolescentes. Ainda, para finalizar, cabe a discussão sobre a segurança do uso do suplemento, a qual remonta um fator já apontado anteriormente, a ausência do controle da produção e comercialização desses produtos. Nos EUA, após um levantamento da FDA, órgão regulador da comercialização, os resultados foram alarmantes, já que evidenciaram que mais da metade dos produtos adquiridos diferiram em 20% ou mais da composição que estava descrita nos rótulos. Fato que pode ser muito perigoso, pois alguns elementos diferentes dos descritos nos rótulos podem ser tóxicos ou, por exemplo, não serem absorvidos ou serem alergênicos ao indivíduo. Um exemplo é um suplemento proteico ser alterado, possuindo mais carboidrato do que descrito no rótulo, podendo causar hiperglicemia no indivíduo. Bem, devido a essa ampla variedade de tipos e, consequentemente, marcas disponíveis no mercado, é que os suplementos foram agrupados para classificação, as quais veremos no próximo tópico, no item das legislações brasileiras. 3 LEGISLAÇÃO DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES E então acadêmico, como estão seus estudos até aqui? Agora daremos continuidade abordando a história das legislações até os dias atuais. UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 144 Em 1998, a Secretaria de Vigilância Sanitária, por meio da portaria SVS/ MS nº 29/1998, aprovou o regulamento referente a alimentos para fins especiais; os quais incluíram: alimentos especialmente formulados ou processados, com modificações na quantidade de nutrientes, direcionados a dietas diferenciadas, atendendo às necessidades de pessoas em condições metabólicas e fisiológicas específicas, como é o caso dos alimentos para praticantes de atividade física. Ainda nessa resolução, seguem as normas de rotulagem geral, nutricional e específicas do alimento convencional, nas quais deve constar a designação do alimento, finalidade a que se destina e informação nutricional (BRASIL, 1998a). Assim como os dizeres exigidos para alimentos em geral e para os alimentos para fins especiais, nos quais deve constar “a orientação em destaque e negrito: Crianças, gestantes e idosos, consumir preferencialmente sob orientação de nutricionista e ou médico” (BRASIL, 1998b, p. 4). Posterior, tem-se a Portaria SVS/MS nº 222/1998, que aprovou o regulamento técnico referente a alimentos para “praticantes de atividade física”, incluindo formulações que contenham aminoácidos oriundos da hidrólise de proteínas, aminoácidos essenciais, quando utilizados em suplementação para alcançar alto valor biológico, e aminoácidos de cadeia ramificada, desde que estes não apresentem ação terapêutica ou tóxica. Foram incluídos nessa resolução também, os repositores energéticos, de- finidos como “produtos formulados com nutrientes que permitam o alcance e/ou manutenção do nível apropriado de energia para atletas” (BRASIL, 1998b, p. 2). Nestes produtos, são fatores essenciais de composição e qualidade que “os carboidratos devem constituir 90% dos nutrientes energéticos presentes na formulação. Opcionalmente, estes podem conter vitaminas e minerais” (BRASIL, 1998b, p. 3). Quanto ao registro, os alimentos para praticantes de atividade física passam a ter registro obrigatório, conforme Resolução nº 23/2000 que dispõe sobre o Manual de Procedimentos Básicos para Registro e Dispensa da Obrigatoriedade de Registro de Produtos Pertinentes à Área de Alimentos. Em 2010, a Anvisa aprovou a Resolução nº 18 – regulamento técnico sobre “Alimentos para Atletas” –, substituindo a Portaria nº 222/1998, que orientava as características de qualidade que deveriam seguir os “Alimentos para Praticantes de Atividade Física”. Nesta RDC fica definido que, nos rótulos dos produtos previstos, deve constar a seguinte frase em destaque e negrito: “Este produto não substitui uma alimentação equilibrada e seu consumo deve ser orientado por nutricionista ou médico” (BRASIL, 2010a, p. 7), devendo também constar a designação do produto; número de registro; prazo de validade correspondente ao produto com menor prazo e a informação nutricional (Art. 26). TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 145 Destaca-se, também, o que não deve constar nos rótulos, como imagens que induzam o consumidor à compra, como a exposição de músculos e/ou perda de peso, assim como expressões que façam referências a hormônios e outras substâncias farmacológicas e ou do metabolismo; e as expressões: “anabolizantes”, “hipertrofia muscular”, “massa muscular”, “queima de gorduras”, “fat burners”, “aumento da capacidade sexual”, “anticatabólico”, “anabólico”, equivalentes ou similares previstas no Art. 27 (BRASIL, 2010a). Em relação ao registro desses alimentos para atletas, foi publicada a RDC nº 27/2010, que inseriu a categoria “alimentos para atletas” na lista dispensada da obrigatoriedade de registro, junto a outras categorias de alimentos, situação essa que traz implicações importantes, já que aumenta o risco que tais produtos podem trazer ao consumidor. Os produtos alimentícios de alcance da Anvisa são divididos em dois grupos: alimentos com registro obrigatório prévio à comercialização e alimentos dispensados da obrigatoriedade de registro, nesta situação, observa-se que os alimentos para praticantes de atividade física encontravam-se na categoria de alimentos com registro obrigatório, e, posteriormente, os alimentos para atletas dispensados de tal obrigatoriedade. Temos, a seguir, a diferença entre a Resolução de 2010 e a Portaria de 1998. Em 1998, os “alimentos para praticantes de atividade física” foram classificados em: • repositores hidroeletrolíticos para praticantes de atividade física; • repositores energéticos para atletas; • alimentos proteicos para atletas; • alimentos compensadores para praticantes de atividade física;• aminoácidos de cadeia ramificada; e • outros alimentos com fins específicos para praticantes de atividades físicas (BRASIL, 1998b, p. 2). Por sua vez, em 2010, os “alimentos para atletas” foram classificados em: • suplementos hidroeletrolíticos para atletas; • suplementos energéticos para atletas; • suplementos proteicos para atletas; • suplementos para substituição parcial de refeições de atletas; • suplemento de creatina para atletas; e • suplemento de cafeína para atletas (BRASIL, 2010a, p. 2-3). Verifica-se que a primeira diferença entre ambas é o público ao qual é direcionado cada suplemento. Em 1998, havia designações para praticantes de atividade física e não apenas atletas, como ocorre na Resolução de 2010. Além disso, pode-se observar que os aminoácidos de cadeia ramificado não foram mais direcionados a este público, assim como, em 2010, a creatina e a cafeína foram enquadradas nos alimentos para atletas. UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 146 No Quadro 2, estão dispostos os alimentos para atletas e suas especifica- ções para comercialização. QUADRO 2 – ALIMENTOS PARA ATLETAS E SUAS ESPECIFICAÇÕES Resolução nº 18, de 27 de abril de 2010 Suplementos hidroeletrolíticos para atletas − Produtos destinados a auxiliar na hidratação. − Deverá conter: concentração de sódio (460 a 1150 mg/L), com a utilização de sais inorgânicos para fins alimentícios como fonte de sódio. − Carboidratos: pode constituir até 8%. − Vitaminas e minerais: podem ser adicionados. − Potássio: pode ser adicionado em até 700 mg/L. − *Não podem ser adicionados de outros nutrientes, não nutrientes e fibras alimentares. Suplementos energéticos para atletas − Produtos destinados a complementar as necessidades energéticas. − Carboidratos: o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo 75% do valor energético total provenientes dos carboidratos, 15 g na porção. − Vitaminas e minerais podem ser adicionados. − Outras disposições: podem conter líquidos, proteínas, não podem ser adicionados fibras e não nutrientes. Suplementos proteicos para atletas − Produtos destinados a complementar as necessidades proteicas. − Proteínas: o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 10 g de proteína na porção, 50% do valor energético total proveniente da proteína. − A composição proteica deve apresentar PDCCAS** acima de 0,9. − Vitaminas e minerais podem ser adicionados. − Outras disposições: não podem ser adicionadas fibras e não nutrientes. Suplementos para substituição parcial de refeições de atletas − Produtos destinados a complementar refeições de atletas em situações nas quais o acesso aos alimentos seja restrito. − Carboidratos: devem conter de 50 a 70% do valor energético total do produto pronto para consumo. − Proteína: a quantidade de proteínas deve conter de 13 a 20% do valor energético total do produto, com PDCCAS acima de 0,9. TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 147 Suplementos para substituição parcial de refeições de atletas − Lipídios: deve corresponder no máximo a 30% do valor energético, sendo que o teor de gordura saturada não pode ultrapassar 10% do valor total e a gordura trans 1%. − Vitaminas e minerais podem ser adicionados. − Outras disposições: o produto deve oferecer no mínimo 300 Kcal por porção, e ser adicionado de fibras. Suplementos de creatina para atletas − Produto destinado a complementar os estoques endógenos de creatina. − O produto pronto para consumo deve conter de 1,5 a 3 g na porção. − Deve ser usada a creatina monoidratada, com grau de pureza mínima de 99,9%. − Carboidratos podem ser adicionados. − Fibras não podem ser adicionadas. Suplementos de cafeína para atletas − Produto destinado a aumentar a resistência aeróbica em exercícios. − Deve conter entre 210 e 420 mg na porção. − Apresentação de cafeína, com teor mínimo de 98,5% de 1,3,7 trimetilxantina, calculada a base anidra. − Outras disposições: não podem ser adicionados outros nutrientes e/ou não nutrientes. ** PDCCAS (Protein Digestibility Corrected Amino Acid Score): escore aminoacídico corrigido pela digestibilidade da proteína para determinação de sua qualidade biológica. FONTE: Adaptado de Brasil (2010a) Ressalta-se que a Anvisa (BRASIL, 2010a) não recomenda o uso de suplementos para pessoas praticantes de exercício físico para a promoção da saúde, recreação e/ou com fins estéticos. De acordo com normas internacionais, os recursos ergogênicos devem ser consumidos e/ou ministrados com a orientação de profissionais competentes e éticos. IMPORTANT E UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 148 Posterior à RDC de 2010, obtivemos a RDC nº 240, de 26 de julho de 2018 (publicada no DOU nº 144, de 27 de julho de 2018), que altera a Resolução – RDC nº 27, de 6 de agosto de 2010, no que dispõe sobre as categorias de alimentos e embalagens isentas e com obrigatoriedade de registro sanitário. No Art. 1º o texto foi alterado para: “Estabelece as categorias de alimentos e embalagens dispensadas e com obrigatoriedade de registro sanitário” (BRASIL, 2018, p. 1). (NR); e no art. 2º passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 2º As empresas que detêm o registro de produtos que, de acordo com esta Resolução, passam a ser dispensados da obrigatoriedade de registro, podem utilizar rotulagem contendo o número do registro concedido até a data do vencimento do registro ou até o final do estoque existente de embalagem deste produto” (BRASIL, 2018, p. 1). (NR); e nos Art. 4º e Art. 5º passam a vigorar os Anexos I e II com suas alterações. Na sequência, o Quadro 3 apresenta o Anexo II, em que consta os alimentos e embalagens com obrigatoriedade de registro sanitário. QUADRO 3 – ALIMENTOS E EMBALAGENS COM OBRIGATORIEDADE DE REGISTRO SANITÁRIO FONTE: Brasil (2018, p. 2) Com isso podemos observar que apesar de haverem alterações não incidiram sobre os suplementos mais utilizados pelos “atletas”. 3.1 DIRETRIZES E POSICIONAMENTOS Vários suplementos utilizados por esportistas e atletas não são mencionados nas RDCs discutidas até aqui. Desta forma, destaca-se que a qualidade e segurança no ato da prescrição de suplementos, com certeza a RDC da Anvisa, que é um órgão fiscalizador da nossa federação, traz mais segurança no ato da prescrição, tanto para auxiliar na escolha do suplemento, bem como na quantidade a ser prescrita. Em termos de Brasil, temos também a Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, que, em 2009, atualizou suas diretrizes e também traz discussões acerca da suplementação na área esportiva, no documento intitulado Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde, publicado na Revista Brasileira de TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 149 Medicina Esportiva, volume 15, número 3, maio e junho de 2009. Documento que pode ser considerado por profissionais no momento da prescrição, e o qual discutiremos nos próximos subtópicos. Mundialmente, o uso de suplementos alimentares ocorre de forma descontrolada, por isso explanaremos, em seguida, algumas Diretrizes e Posicionamentos estabelecidos em outros países, os quais recomendam apenas alguns suplementos e uso com cautela, considerando sempre as divergências encontradas nas pesquisas científicas. 3.1.1 Declaração de Consenso da Associação Internacional das Federações de Atletismo 2019 De acordo com Burke et al. (2019), os alimentos esportivos podem ajudar o atleta atender as suas necessidades nutricionais em cenários nos quais não é pos- sível consumir os alimentos necessários a essa demanda, todavia, destacam que a maioria dos produtos de desempenho carece de evidências para apoiar sua eficácia. Em termos de orientação, no consensode 2019, são discutidos cinco suplementos de desempenho baseados em evidências, sendo eles: cafeína, creatina, suco de nitrato/beterraba, beta-alanina e bicarbonato, os quais podem contribuir para ganhos de desempenho, de acordo com cada modalidade esportiva. Os autores ressalvam os desafios para o estabelecimento de protocolos que possam direcionar, de forma efetiva, o uso repetido desses suplementos e bons resultados em competições finais, considerando as alterações de ambiente, temperatura e estresse gerados simultaneamente, sendo que ainda se tem as possíveis desvantagens do uso de suplementos, que incluem: despesas, expectativa falsa e o risco de ingestão de substâncias proibidas pela Lista da Agência Mundial Antidopagem, que, às vezes, estão presentes como contaminantes ou ingredientes não declarados. Por fim, Burke et al. (2019) concluem ser pertinente que os alimentos esportivos e suplementos nutricionais sejam considerados apenas quando uma forte base de evidências apoie seu uso como seguro, legal e eficaz e, além disso, que esses suplementos sejam testados exaustivamente pelo indivíduo antes de se comprometer a usá-los em um ambiente de competição. 3.1.2 Declaração de consenso do Comitê Olímpico Internacional (COI): suplementos alimentares e atleta de alto desempenho Conforme descreve o COI (MAUGHAN et al., 2018), os produtos descritos como suplementos têm diferentes alvos de atuação incluindo: UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 150 • o gerenciamento de deficiências de micronutrientes; • o fornecimento de formas convenientes de energia e macronutrientes e; • o fornecimento de benefícios diretos ao desempenho ou benefícios indiretos, como o apoio a intensos regimes de treinamento. Todavia, apesar de o uso apropriado de alguns suplementos poder beneficiar o atleta, outros podem prejudicar a saúde, o desempenho e / ou o sustento e a reputação do atleta (se houver uma violação da regra antidoping). Com isso, recomenda-se que haja uma avaliação nutricional completa para que seja tomada a melhor decisão sobre o uso de suplementos. O COI, assim como Burke et al. (2019), alega que apesar de haver diferentes produtos sendo comercializados apenas alguns, como a cafeína, creatina, agentes tampão específicos e nitrato, têm boas evidências de benefícios, mas que as respostas são afetadas pelo cenário de uso e podem variar amplamente entre os indivíduos devido a fatores que incluem genética, microbioma e dieta habitual. Da mesma forma, também seguem a orientação de que os suplementos destinados a melhorar o desempenho devem ser testados exaustivamente em treinamento ou competição simulada antes de serem utilizados na competição, sendo que a proteção da saúde do atleta e a conscientização do potencial de dano devem ser fundamentais; opinião e assistência profissional especializada são fortemente aconselhadas antes que um atleta embarque no uso de suplementos. Para mais informações a respeito do consenso do Comitê Olímpico Internacional, acesse: https://bjsm.bmj.com/content/52/7/439. DICAS 3.1.3 Autoridade brasileira de controle de dopagem É importante, ainda, salientar que o Brasil também possui um Comitê Nacional de Controle de Dopagem com normas rígidas de avaliação e punição de atletas que usam de substancias ilícitas nas competições. Conheça a missão, visão, objetivos e princípios desse comitê: Missão: consolidar a cultura antidopagem em âmbito nacional, por meio de ações de educação e controle em todas as manifestações esportivas, buscando o esporte limpo e saudável respeitando as normas e regramentos nacionais e internacionais. Visão: tornar o Brasil uma referência mundial na cultura antidopagem, promovendo TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 151 igualdade nas competições e disseminando os valores do jogo limpo. Objetivos: - Promover e expandir a cultura antidopagem no Brasil; - Aprimorar processos de gestão e governança da ABCD; e - Fiscalizar e gerir os procedimentos de controle de dopagem em âmbito nacional. Princípios: Independência: atuar com isenção e total independência em relação às organizações esportivas (MISSÃO, 2020, s. p.). 4 SUPLEMENTOS ALIMENTARES MAIS USADOS E SUA COMPOSIÇÃO Neste momento, iremos descrever os suplementos de maior destaque e utilização na área acadêmica, ressaltando a importância da verificação individual da necessidade real da prescrição desse recurso. Com isso destaca-se algumas condições em que o uso de suplementos alimentares é normalmente recomendado, como: • dificuldades na ingestão de grandes quantidades de alimentos em momentos de treinamentos e competições intensos; • quando o indivíduo deseja reduzir a necessidade de defecação durante competições; • em momentos em que a perda de peso é necessária; • em casos de dieta de supercompensação de carboidratos e dificuldade na aquisição dos alimentos (viagens); • quando a recuperação rápida é necessária e o indivíduo apresenta anorexia pós-esforço; • obtenção de micronutrientes em momentos de dietas restritivas. 4.1 AMINOÁCIDOS DE CADEIA RAMIFICADA Os aminoácidos de cadeia ramificada, conhecidos como BCAA (Branched Chain Amino Acids), compreendem três aminoácidos essenciais – leucina, isoleucina e valina, presentes em alimentos de origem animal. São aminoácidos absorvidos por meio do transporte ativo sódio- dependente, transportados até o fígado, onde podem ser utilizados para síntese proteica. Depositam-se preferencialmente no músculo esquelético, onde atuam como importante fonte energética em períodos de estresse metabólico. Podem promover síntese proteica, evitar catabolismo e servir como substrato para a gliconeogênese (CARLI et al., 1992). Os efeitos sugeridos para a suplementação com BCAA são: auxílio na hipertrofia muscular (CARLI et al., 1992); ação anticatabólica; retardo da fadiga central (BLOMSTRAND et al., 1997); melhora no desempenho (MADSEN et al., 1996); poupança nos estoques de glicogênio muscular; aumento nos níveis plasmáticos de glutamina, após exercícios intensos (BLOMSTRAND; SALTIN, 2001); atenuação do dano muscular (GREYER et al., 2007). UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 152 Suas necessidades diárias são: • Isoleucina – 10 mg/kg/dia. • Leucina – 14 mg/kg/dia. • Valina – 10 mg/kg/dia. 4.2 WHEY PROTEIN Whey protein é o nome comercial da proteína isolada do soro do leite de vaca, e é um dos mais populares suplementos utilizados por atletas e esportistas. O leite de vaca é composto aproximadamente por 3,5% de proteína, 2,9% de caseína e 0,6% de proteínas do soro. As proteínas do soro do leite representam 20% das proteínas presentes nesse alimento, sendo que as duas principais (70 a 80%) são alfalactoglobulina e betalactoglobulina (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). A alfalactoglubulina é o segundo peptídeo presente em quantidades significativas no soro do leite de vaca, e também está presente no leite humano. É um peptídeo de rápida e fácil digestão, é precursora da lactose e possui a capacidade de se ligar positivamente, facilitando a absorção, a minerais como o cálcio e o zinco, além de apresentar atividade antimicrobiana (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). Além dessas duas proteínas, merece destaque a soroalbumina (10%), precursora da síntese de glutationa, que possui atividade antioxidante já comprovada, além de favorecer o transporte dos ácidos graxos. As imunoglobulinas também possuem suas ações na imunidade passiva e atividade antioxidante. Em relação às doses recomendadas, ainda não há um consenso quanto à dose a ser utilizada para estimular a síntese proteica em sua extensão máxima. As quantidades suplementadas variam de dez a 30 g após a prática do exercício físico, no tempo máximo de uma hora paraestimular o pico de síntese proteica e as adaptações fisiológicas à prática esportiva. 4.3 ARGININA A arginina é um aminoácido condicionalmente indispensável, ingerido na alimentação (aproximadamente 3 a 5 g/dia) e sintetizado por nosso organismo, primariamente nos rins. Após sua ingestão, uma quantidade de arginina é metabolizada pelas células intestinais (enterócitos) e pelo fígado. O restante permanece na circulação, o que faz com que a suplementação oral seja menos eficiente (McCONELL et al., 2007). Suas funções biológicas são: detoxificação da amônia; reparo tecidual; fornecimento de energia como intermediário na síntese de creatinina e CP; e melhora na atividade do sistema imunológico (pesquisas realizadas em ratos). TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 153 Em relação aos efeitos ergogênicos, ainda pouco se sabe em relação a sua efetividade no aumento na síntese de óxido nítrico (NO), um gás naturalmente presente no nosso organismo e que está relacionado com a modulação da resposta imunológica, auxílio no processo de cicatrização, vasodilatação e angiogênese, entre outros benefícios (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). É importante verificarmos que os estudos com ratos demonstram esse efeito. Mas e com seres humanos? McConell et al. (2007) afirmam que, em determinadas condições patológicas, o consumo de arginina auxilia na vasodilatação e melhora do fluxo sanguíneo, mas não há consenso do seu efeito em indivíduos saudáveis. Doses estudadas entre 500 mg a 30 g/dia, por períodos de três a 80 dias (HENDLER, RORVIK, 2007). Não há relatos de efeitos tóxicos da arginina (ALVES, 2015). 4.4 ALANINA A alanina é um aminoácido dispensável precursor da carnosina (β-alanina-L-histidina), que apresenta várias funções biológicas, dentre elas, o tamponamento dos íons H+, estando mais concentrada nas fibras musculares tipo II (CULBERTSON et al., 2010). Estudos têm demonstrado que a utilização de β-alanina, juntamente ao treinamento físico, poderia aumentar a síntese de carnosina, a qual auxilia no tamponamento muscular. O tamponamento muscular favorece a execução de exercícios intensos, uma vez que a elevação do pH muscular contribui para a redução da fadiga (KENDRICK et al., 2009). Hoffman et al. (2012) realizaram seu estudo que durou quatro semanas, com oito sujeitos experientes na prática do exercício de força (mais de três anos), que receberam 4,8 g de β-alanina (1,6 g/dia, quatro vezes ao dia) ou placebo. Após o período de três dias houve a troca de suplementação, de forma que todos os sujeitos fizeram o uso de β-alanina. Ao final, pode-se perceber que a suplementação com β-alanina aumentou significativamente a força muscular, sem promover alterações hormonais (GH, testosterona e cortisol). 4.5 HMB O β-hidroxi- β-metilbutirato (HMB) é um metabólito do aminoácido indispensável leucina, um dos três aminoácidos de cadeia ramificada que discutimos anteriormente. É produzido a partir do cetoiscaproato (KIC), um metabólito do aminoácido leucina, pela enzima KIC-desidrogenase, produzida naturalmente pelo corpo humano. UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 154 O mecanismo de ação do HMB como recurso ergogênico ainda é incerto, e as especulações afirmam que: • diminui a incidência de lesão ou aceleração de sua recuperação muscular por reduzir marcadores de lesão; • aumento da força muscular; • aumento da massa corporal magra; • ação imunomoduladora em modelo animal; • redução da gordura corporal; • melhora da capacidade aeróbica (ALVES, 2015). Ransone et al. (2003) avaliaram o impacto da suplementação com HMB sobre a força muscular e a composição corporal de 35 jogadores de futebol americano. Os 16 atletas estudados receberam 3 g/dia do suplemento por quatro semanas e ao final não apresentaram resultados estatisticamente significativos em relação ao grupo placebo. O que demonstra, considerando o estudo de Nissen et al. (1996) com indivíduos destreinados, que o HMB não apresenta efeitos positivos em atletas com rotinas de treino intensos e de força, ou que o tempo de quatro semanas nesses atletas seria muito reduzido. O Jornal da Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva publicou, em 2013, sua posição sobre o uso do HMB. Leia o artigo: International Society of Sports Nutrition Position Stand: beta-hydroxy-beta-methylbutyrate (HMB). Disponível em: https://jissn. biomedcentral.com/articles/10.1186/1550-2783-10-6. DICAS 4.6 CREATINA O ácido metilguanadinoacético, ou creatina, há alguns anos, tornou-se um dos recursos ergogênicos nutricionais mais utilizados com o objetivo de melhora no rendimento físico, pois acredita-se que aumenta a força e a velocidade nos exercícios de explosão, em que a energia predominantemente utilizada é o ATP-CP. Três aminoácidos estão envolvidos com a síntese de creatina, a glicina, a arginina e a metionina. Nos alimentos, a creatina é encontrada em produtos de origem animal, sendo que em uma dieta com aproximadamente 300 g de carne e 300 mL de leite, o consumo de creatina será de aproximadamente 1 g (BALSOM; SODERLUND; EKBLOM, 1994). TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 155 As necessidades de creatina giram em torno de 2 g/dia, para repor a creatina catabolizada, sendo que o que não for consumido na dieta será sintetizado endogenamente. Para excreção da creatina, ocorre a conversão para creatinina, formada em grande parte pelo musculo, atingindo a circulação por difusão simples, é filtrada pelos glomérulos e posteriormente excretada pela urina. A excreção diária é também de aproximadamente 2 g, variando de acordo com a massa muscular total do indivíduo (ALVES, 2015). Os possíveis efeitos ergogênicos da creatina são: • aumento da massa corporal magra; • aumento da força; • recuperação entre esforços repetidos de alta intensidade; • ação antioxidante. Quanto ao aumento da massa magra corporal, muitos estudos indicam que a dose de carga favorece o alcance desse objetivo, porém, tendo em vista de que cinco dias seria um período curto de tempo, parte desse resultado pode ser devido à atividade osmótica da creatina, aumentando a quantidade intracelular de água, gerando a hipertrofia muscular. Além disso, apesar de grande parte das pesquisas realizadas com a suplementação de creatina terem apresentado benefícios na força e na potência, inúmeros estudos não conseguiram chegar nesse resultado (LEDFORD; BRANCH, 1999). Destaca-se que algumas estratégias de suplementação usam dose de carga de creatina, correspondente a 20/30 g por dia (creatina monoidratada), sendo dividida quatro a seis doses de 5 g, as quais, ingeridas de cinco a sete dias, já favoreceriam o aumento máximo nos estoques de creatina. Após o período da carga, sugere-se a ingestão de doses reduzidas, 2 a 5 g ao dia. Doses maiores que 5 g podem provocar náuseas, fraqueza e diarreia (ALVES, 2015). Hultman et al. (1996) recomendaram como dose de carga 0,3 g/kg/dia durante sete dias, seguida de 0,03 g/kg/dia como dose de manutenção por 28 dias. Posteriormente, recomenda-se um intervalo de 90 dias para iniciar nova carga. 4.7 CAFEÍNA A cafeína (1,3,7 – trimetilxantina) é um alcaloide que se encontra de forma natural em folhas, frutos e sementes de mais de 60 espécies vegetais, tem efeito estimulante porque aumenta a ação de catecolaminas e AMP cíclico, o que leva a um aumento da lipólise no tecido adiposo e no músculo, aumentando a disponibilidade de ácidos graxos livres e triglicerídeos intramusculares. Pode promover alterações no sistema nervoso central modificando as percepções do esforço e da fadiga, aumentando a liberação da adrenalina (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2010). Nesse contexto, é considerada um nutrientenão essencial, cujos efeitos incluem: estimulação do sistema nervoso central, diurese, lipólise e secreção de ácido gástrico. UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 156 Sobre os efeitos ergogênicos descritos na literatura são: • auxiliar na melhora do desempenho físico, em exercícios intermitentes e de longa duração; • aumentar o estado de alerta; • diminuir a fadiga mental e a percepção de esforço durante o exercício físico; • melhorar a concentração e a memória; • aumentar a oxidação lipídica. A cafeína melhora o desempenho físico de indivíduos treinados por meio da utilização de doses de 3 a 6 mg/kg/dia, com dose máxima de 9 mg/kg/ dia, já que doses maiores não demonstraram melhora no desempenho esportivo (ALVES, 2015). Em relação aos efeitos adversos, a cafeína pode ser considerada segura para indivíduos saudáveis. De qualquer forma, o consumo excessivo pode provocar rubor facial, ansiedade, nervosismo, tremor, insônia e até mesmo arritmias cardíacas e perda de memória. Também pode aumentar a produção de calor, aumentando a temperatura corporal. Alguns atletas relatam sentir náuseas e dor de estômago com o consumo de cafeína. Ainda, por aumentar a diurese, ela poderia favorecer e desidratação, embora pesquisas demonstrem que a suplementação com cafeína não interfira de forma significativa no estado de hidratação (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2010). IMPORTANT E 4.8 BICARBONATO DE SÓDIO Durante o exercício anaeróbico, a rápida formação de energia na forma de ATP dá lugar a um acúmulo de H+, lactato e perda de potássio (K+). A célula muscular possui mecanismos para tamponar o acúmulo de íons, esse mecanismo de tamponamento não é suficiente para impedir a formação de íons hidrogênio durante o exercício intenso, por esse motivo, deverá ser veiculado de forma exógena. O aumento do pH sanguíneo retarda a fadiga muscular durante o exercício anaeróbico prolongado. Em relação às doses recomendadas – 0,3 g/kg de peso de uma a duas horas antes do exercício –, o bicarbonato de sódio não possui riscos para a saúde, exceto possíveis moléstias gastrintestinais (vômitos, diarreia, tontura). É recomendado ingerir o bicarbonato com água para prevenir a diarreia hiperosmótica. TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 157 5 VITAMINAS E MINERAIS As vitaminas são divididas em hidrossolúveis e lipossolúveis, sendo que as lipossolúveis incluem as vitaminas A, D, E e K e são armazenadas em vários tecidos, podendo resultar em toxicidade se consumido em quantidades excessivas. As vitaminas hidrossolúveis consistem em todo o complexo de vitaminas B e vitamina C, nesse caso, como são solúveis em água, a ingestão excessiva é eliminada na urina, com exceção da vitamina B6, que pode causar danos nos nervos periféricos quando consumida em quantidades excessivas, e da vitamina C, que pode causar danos renais e desequilíbrios osmóticos. Destaca-se que, se um atleta é deficiente em uma vitamina, a suplementação ou modificações na dieta para melhorar o status dessa vitamina podem melhorar consistentemente a saúde e o desempenho (KERKSICK et al., 2018). Os minerais, por sua vez, são elementos inorgânicos essenciais, necessários para uma série de processos metabólicos. Os minerais servem como estrutura para os tecidos, componentes importantes de enzimas e hormônios e reguladores do controle metabólico. Já nas populações atléticas, alguns minerais são considerados deficientes, enquanto outros são reduzidos devido ao treinamento e exercício prolongado, como sódio, potássio e magnésio. Sendo que nessas situações os atletas devem consumir alimentos e líquidos para substituir essas perdas (THOMAS; ERDMAN; BURKE, 2016). Dos minerais revisados por Kerksick et al. (2018), vários parecem contribuir com a saúde e desempenho dos atletas em determinadas situações, como a suplementação de cálcio em atletas suscetíveis à osteoporose, auxiliando na manutenção da saúde óssea. Zourdos, Sanchez-Gonzalez e Mahoney (2015), em sua revisão, apontam a importância do status de ferro em atletas do sexo feminino, em que esforços recentes destacaram que a suplementação de ferro em atletas propensos a deficiências de ferro e/ou anemia pode melhorar a capacidade de exercício. De acordo com o COI (MAUGHAN et al., 2018), os nutrientes que normalmente são suplementados em atletas incluem ferro, cálcio e vitamina D (Quadro 4). Além disso, também pode ser necessária a suplementação de iodo (para aqueles que vivem em áreas com baixos níveis de iodo nos alimentos ou que não usam sal iodado), folato (para mulheres que podem engravidar) e vitamina B12 (para aquelas que seguem uma dieta vegana ou quase vegana). Essas considerações não se aplicam especificamente aos atletas. UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 158 QUADRO 4 – MICRONUTRIENTES QUE FREQUENTEMENTE REQUEREM SUPLEMENTAÇÃO EM ATLETAS Micronutriente Vitamina D Visão geral Importante na regulação da transcrição de genes na maioria dos tecidos, de modo que a insuficiência/deficiência afeta muitos sistemas corporais (HOSSEIN-NEZHAD et al., 2013); muitos atletas correm risco de insuficiência em vários momentos do ano (LARSON- MEYER; WILLIS, 2010). Diagnóstico e Resultados de Insuficiência Não há consenso sobre a concentração sérica de 25-hidroxivita- mina D (o marcador do status da vitamina D) que define defici- ência, insuficiência, suficiência e UL tolerável; a necessidade de suplementar depende da exposição aos UVB e do tipo de pele. Protocolos e resultados da suplementação Recomenda-se a suplementação entre 800 UI e 1.000–2.000 UI/ dia para manter o status da população em geral. As diretrizes de suplementação ainda não foram estabelecidas em atletas. A suplementação a curto prazo e em altas doses, que inclui 50.000 UI/ semana por 8 a 16 semanas ou 10.000 UI/dia por várias semanas, pode ser apropriada para restaurar o status em atletas com deficiência. Monitoramento cuidadoso é necessário para evitar toxicidade (HEANEY, 2008). Micronutriente Ferro Visão geral O status de ferro abaixo do ideal pode resultar da ingestão limi- tada de ferro, baixa biodisponibilidade e/ou ingestão inadequa- da de energia ou excesso de ferro devido ao crescimento rápido, treinamento em grandes altitudes, perda de sangue menstrual, hemólise de batida de pé ou excesso de perda de suor, urina, ou fezes (THOMAS et al., 2016). Diagnóstico e Resultados de Insuficiência Várias medidas realizadas simultaneamente fornecem avaliação mais fidedigna e determinam o estágio da deficiência. É recomenda- do que sejam verificados: ferritina sérica, saturação de transferrina, ferro sérico, receptor de transferrina, protoporfirina de zinco, hemo- globina, hematócrito, volume corpuscular médio (GIBSON, 2005). Protocolos e resultados da suplementação Atletas que não mantêm o status adequado de ferro podem precisar de ferro suplementar em doses maiores que sua RDA (ou seja,> 18 mg/dia para mulheres e> 8 mg/dia para homens). Atletas com deficiência de ferro requerem acompanhamento clínico, que pode incluir suplementação com doses maiores de suplementação oral de ferro, além de ingestão de ferro na dieta (THOMAS et al., 2016). Inúmeras preparações orais de ferro estão disponíveis e a maioria é igualmente eficaz (SCHRIER; AUERBACH, 2017). TÓPICO 1 — RECURSOS ERGOGÊNICOS 159 Micronutriente Cálcio Visão geral Evitar laticínios e outros alimentos ricos em cálcio, ingestão restrita de energia e/ou desordem alimentar aumenta o risco de status abaixo do ideal de cálcio (THOMAS et al., 2016). Diagnóstico e Resultados de Insuficiência Nenhum indicador apropriado do status de cálcio; o exame de densidade mineral óssea pode ser indicativo de baixa ingestãocrônica de cálcio, sendo importantes outros fatores como status subótimo de vitamina D e distúrbios alimentares. Protocolos e resultados da suplementação Recomenda-se ingestão de cálcio de 1.500 mg/dia e 1.500 a 2.000 UI de vitamina D para otimizar a saúde óssea de atletas com bai- xa disponibilidade de energia ou disfunção menstrual (THOMAS et al., 2016). Abreviações: RDA = dose dietética recomendada; UL = limite superior; UVB = ultravioleta B. Nota: a suplementação indiscriminada com qualquer um dos nutrientes acima não é recomendada. As deficiências devem primeiro ser identificadas por meio de avaliação nutricional, que inclui ingestão alimentar e o marcador sanguíneo ou urinário apropriado, se disponível. FONTE: Larson-Meyer, Woolf e Burke (2018, p. 143) 6 ESCOLHA DO SUPLEMENTO ALIMENTAR Vários fatores devem ser avaliados ao começar a aconselhar indivíduos com treinamento físico regular. Primeiramente, é importante uma compreensão clara dos objetivos do atleta e do tempo que ele tem para alcançá-los; monitorar a carga do treino e o período de recuperação; uma avaliação da dieta e do pro- grama de treinamento do indivíduo também deve ser concluída (KERKSICK et al., 2018). Para isso, deve-se garantir que o atleta esteja ingerindo uma dieta rica em nutrientes e equilibrada em energia, que atenda às necessidades diárias estimadas de energia e que esteja treinando de maneira inteligente. Muitos atletas ou treinadores se concentram demais na suplementação ou aplicações de suplementação e negligenciam esses aspectos fundamentais. Depois disso, sugerimos que eles geralmente recomendem apenas suple- mentos na categoria I (ou seja, fortes evidências para apoiar a eficácia e aparente- mente “seguros”). UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE 160 Se um atleta estiver interessado em experimentar suplementos na categoria II (ou seja, evidência limitada ou mista para apoiar a eficácia), o atleta deve se certificar de que entende que esses suplementos são mais experimentais e que podem ou não ver o tipo de resultado reivindicado (KERKSICK et al., 2018). Deve-se atentar para a falta de calorias suficientes e/ou o tipo certo de macronutrientes pode impedir as adaptações de treinamento de um atleta. Além disso, manter uma dieta deficiente em energia durante o treinamento pode levar à perda de massa muscular, força e densidade mineral óssea, além de maior suscetibilidade a doenças e lesões, distúrbios na função imune, endócrina e reprodutiva e maior prevalência de overtraining (KERKSICK et al., 2018). Atletas de triátlon envolvidos em níveis moderados de treinamento intenso e/ou treinamento intenso em alto volume podem gastar 600 a 1200 kcal ou mais por hora durante o exercício. Por esse motivo, suas necessidades calóricas podem se aproximar de 40 a 70 kcal/kg/dia (2000 a 7000 kcal/dia para um atleta de 50 a 100 kg) (BARRERO; EROLA; BESCOS, 2014). Já, para atletas de elite, o gasto de energia durante treinamento poderá exceder ainda mais esses níveis, como é o caso do exemplo a seguir: o gasto energético dos ciclistas para competir no Tour de France foi estimado em 12.000 kcal/dia (150 a 200 kcal/kg/dia para um atleta de 60 a 80 kg) (BROUNS et al., 1989). Nessas situações de alta densidade energética, torna-se difícil para os atletas consumir a quantidade de alimentos recomendada, até mesmo devido ao desconforto gastrointestinal. Burke (2001) demonstrou que as necessidades de carboidratos não são atendidas por grande parte dos atletas. Ainda, tem-se o fator da supressão do apetite após treinos intensos, falta de rotina devido a horários de viagens e de treinamentos, o que pode limitar a disponibilidade de alimentos ou os tipos de alimentos que os atletas estão acostumados a consumir (MELIN et al., 2016). Nesse contexto, devido a essas preocupações, o uso de suplementos alimentares pode fornecer uma maneira conveniente para os atletas completarem sua dieta, a fim de manter a ingestão de energia durante o treinamento. 161 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A palavra “ergogênico” significa toda e qualquer substância ou artifício que visem à melhora do desempenho, ou seja, podem ser considerados recursos ergogênicos fatores nutricionais, como os suplementos, fatores farmacológicos, biomecânicos e mecânicos como roupas mais leves, bicicletas melhores adaptadas, no caso dos ciclistas, ainda fatores psicológicos e fisiológicos. • Muitas vezes, a opção pelo uso de suplementos surge por solicitação do próprio atleta, devido a sua rotina diária, na qual não consegue consumir apenas com alimentos a demanda energética necessário para repor o que foi gasto nos treinos e competições. Sendo importante que, antes da suplementação, o nutricionista verifique a possibilidade de inserção dos alimentos energéticos na rotina do atleta. • As condições em que o uso de suplementos alimentares é normalmente reco- mendado são: dificuldades na ingestão de grandes quantidades de alimentos em momentos de treinamentos e competições intensos; quando o indivíduo deseja reduzir a necessidade de defecação durante competições; em momentos em que a perda de peso é necessária; em casos de dieta de supercompensação de carboidratos e dificuldade na aquisição dos alimentos (viagens); quando é necessário a recuperação rápida e o indivíduo apresenta anorexia pós-esforço; e obtenção de micronutrientes em momentos de dietas restritivas. • A primeira diferença entre as resoluções de 1998 e de 2010 da Anvisa é o pú- blico ao qual é direcionado cada suplemento. Em 1998, havia designações para praticantes de atividade física e não apenas atletas, como ocorre na Resolução de 2010. Além disso, os aminoácidos de cadeia ramificada não foram mais direcionados a este público, assim como em 2010, a creatina e a cafeína foram enquadradas nos alimentos para atletas. • A Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, em 2009, atualizou suas diretrizes e trouxe discussões acerca da suplementação na área esportiva, no documento intitulado Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. 162 • De acordo com o COI (2018), os nutrientes que normalmente são suplementados em atletas incluem ferro, cálcio e vitamina D. Além disso, também pode ser necessária a suplementação de iodo (para aqueles que vivem em áreas com baixos níveis de iodo nos alimentos ou que não usam sal iodado), folato (para mulheres que podem engravidar) e vitamina B12 (para aquelas que seguem uma dieta vegana ou quase vegana). Essas considerações não se aplicam especificamente aos atletas. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 163 1 Em 2010, a Anvisa aprovou a Resolução nº 18 – regulamento técnico sobre “Alimentos para Atletas” –, substituindo a Portaria nº 222/1998, que orientava as características de qualidade que deveriam seguir os “Alimentos para Praticantes de Atividade Física”. Assinale a alternativa que corresponde as classificações dos alimentos para atletas estabelecida pela Resolução RDC nº 18, de 27 de abril de 2010, da Anvisa: a) ( ) Suplementos hidroeletrolíticos para atletas; suplementos energéticos para atletas; suplementos proteicos para atletas; suplemento de creatina para atletas; e suplemento de leucina para atletas; suplemento de cafeína para atletas. b) ( ) Repositores hidroeletrolíticos para praticantes de atividade física; repositores energéticos para atletas; alimentos proteicos para atletas; alimentos compensadores para praticantes de atividade física;aminoácidos de cadeia ramificada; e outros alimentos com fins específicos para praticantes de atividades físicas. c) ( ) Repositores hidroeletrolíticos para praticantes de atividade física; repositores energéticos para atletas; alimentos proteicos para atletas; alimentos compensadores para praticantes de atividade física; suplemento de creatina para atletas; e outros alimentos com fins específicos para praticantes de atividades físicas como HMB. d) ( ) Suplementos hidroeletrolíticos para atletas; suplementos energéticos para atletas; suplementos proteicos para atletas; suplementos para substituição parcial de refeições de atletas; suplemento de creatina para atletas; e suplemento de cafeína para atletas. 2 Considere os efeitos ergogênicos a seguir: auxiliar na melhora do desempenho físico em exercícios intermitentes e de longa duração; aumentar o estado de alerta; diminuir a fadiga mental e a percepção de esforço durante o exercício físico; e melhorar a concentração e a memória; e aumentar a oxidação lipídica. Considerando os alimentos para atletas regulamentados pela RDC nº 18 de abril de 2010, assinale o suplemento que melhor se encaixa nos efeitos ergogênicos citados: a) ( ) Creatina; b) ( ) Whey protein; c) ( ) Cafeína; d) ( ) Palatinose. AUTOATIVIDADE 164 3 Vários são os nutrientes e não nutrientes com potencial antioxidante a serem inseridos na rotina dos atletas que podem auxiliar na prevenção de doenças, sendo que, de acordo com as pesquisas, as vitaminas mais indicadas com efeito antioxidante são: a) ( ) A, D e K. b) ( ) D, E e B12. c) ( ) K; A e biotina. d) ( ) C, A e E. 4 O uso de HMB (B-Hidroxi B-Metil-butirato) tem sido cogitado como um agente para aumento de força e massa muscular. Ele é um metabólito de qual aminoácido? a) ( ) Isoleucina. b) ( ) Triptofano. c) ( ) Valina. d) ( ) Leucina. 5 Devido à necessidade do cuidado na prescrição de suplementos alimenta- res e considerando que os mesmos podem fornecer uma maneira conve- niente para os atletas completarem sua dieta, a fim de manter a ingestão de energia durante o treinamento, descreva os fatores que devem ser avalia- dos no momento da consulta nutricional: 165 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Como estão os estudos? Chegamos ao Tópico 2, do Livro Didático de Nutrição e Exercício Físico. Nele, nós discutiremos os suplementos alimentares para exercícios resistidos e de resistência, revisando de maneira geral suas adaptações fisiológicas e necessidades energéticas. Iniciaremos pelos suplementos mais indicados para os exercícios de resistência, mas, antes, detalharemos os modos pelos quais os recursos ergogênicos nutricionais auxiliam no aumento da performance, os quais são: • Intensificação de potência física: aumento do volume do tecido muscular, intensificação dos processos metabólicos que geram energia, aumento da oferta de energia no músculo durante as atividades de longa duração, combate ao acúmulo de substâncias que interferem na produção de energia. • Intensificação da força mental: aumento dos processos psicológicos envolvidos na produção de energia. • Intensificação de limites mecânicos: melhoria da eficiência mecânica pela melhoria da estabilidade corporal pelo aumento da massa muscular e redução da massa adiposa (ALVES, 2015; HIRSCHBRUCH, 2014). Destaca-se que a nutrição esportiva é um campo em constante evolução, com muitos trabalhos de pesquisa científica sendo publicados constantemen- te. Segundo Kerksick et al. (2018), somente no ano de 2017, 2082 artigos foram publicados com a palavra-chave 'nutrição esportiva'. Dessa forma, manter-se atualizado com a literatura relevante por vezes é muito difícil. Conforme mencionado no Tópico 1, avaliar o mérito científico de artigos e anúncios de suplementos alimentares é uma habilidade essencial que todos os profissionais de nutrição esportiva devem possuir. De acordo com a literatura científica que testa a eficácia e a segurança dos suplementos alimentares, eles podem ser colocados em três categorias, baseadas na qualidade e quantidade de suporte científico disponível: TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 166 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE • Fortes evidências para apoiar a eficácia e aparentemente seguro: suplementos que possuem uma sólida fundamentação teórica com a maioria das pesquisas disponíveis em populações relevantes, usando regimes de dosagem apropriados, demonstrando sua eficácia e segurança. • Evidências limitadas ou mistas para apoiar a eficácia: os suplementos desta categoria são caracterizados como tendo uma lógica científica sólida para seu uso, mas a pesquisa disponível falhou em produzir resultados consistentes apoiando sua eficácia. Rotineiramente, esses suplementos exigem que mais pesquisas sejam concluídas antes que os pesquisadores possam começar a entender seu impacto. É importante ressaltar que esses suplementos não têm evidências disponíveis para sugerir que eles não têm segurança ou devem ser vistos como prejudiciais. • Pouca ou nenhuma evidência para apoiar a eficácia e/ou segurança: os suplementos desta categoria geralmente carecem de uma lógica científica sólida e a pesquisa disponível mostra consistentemente a falta de eficácia. Como alternativa, suplementos que podem ser prejudiciais à saúde ou há falta de segurança também são colocados nesta categoria. A Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (ISSN) recomenda que os nutricionistas desta área e os atletas realizem um processo sistemático de avaliação do mérito científico do valor ergogênico de um suplemento alimentar. Recomenda-se que seja verificada a lógica teórica por trás do suplemento e se existem dados bem controlados mostrando que o suplemento é eficaz (KREIDER et al., 2010). IMPORTANT E Nos EUA, os fabricantes e distribuidores de suplementos alimentares devem aderir a vários regulamentos federais antes que um produto possa ser comercializado, sendo que, antes da comercialização dos produtos, eles devem ter evidências de segurança de seus suplementos para atender a todos os requisitos dos regulamentos. Nos últimos 20 anos, muitas empresas de suplementos empregaram diretores de pesquisa e desenvolvimento que ajudam a educar o público a respeito de nutrição e exercícios, fornecem informações de desenvolvimento de produtos e conduzem pesquisas preliminares sobre produtos. Isso tem aumentado as oportunidades de emprego para especialistas em nutrição esportiva, além de oportunidades de financiamento para grupos de pesquisa sobre exercícios e nutrição (KERKSICK et al., 2018). TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 167 Os suplementos alimentares podem conter carboidratos, proteínas, gor- duras, minerais, vitaminas, enzimas, intermediários metabólicos (por exemplo, aminoácidos selecionados) ou extratos de plantas/alimentos. 2 SUPLEMENTOS ALIMENTARES PARA EXERCÍCIO DE RESISTÊNCIA Nos próximos subtópicos, os suplementos nutricionais citados foram categorizados em duas das categorias citadas anteriormente: • categoria I – evidências fortes para apoiar a eficácia; e • categoria II – evidência aparentemente segura, limitada ou mista para apoiar a eficácia. Não trouxemos para discussão aqueles da categoria III – pouca ou nenhuma evidência para apoiar a eficácia e/ou segurança. Neste primeiro momento, apresentaremos os suplementos com fortes evidências para apoiar a eficácia e aparentemente seguros, os quais são caracterizados por possuírem uma sólida fundamentação teórica com a maioria das pesquisas disponíveis em populações relevantes, usando regimes de dosagem apropriados,demonstrando sua eficácia e segurança. • ß-alanina A ß-alanina é um aminoácido não essencial, que tem potencial ergogênico com base em seu papel na síntese de carnosina, que, por sua vez, é um dipeptídeo composto pelos aminoácidos histidina e ß-alanina que ocorrem naturalmente em grandes quantidades nos músculos esqueléticos. Nesse conceito, acredita-se que a carnosina seja uma das principais substâncias tamponadoras musculares disponíveis no músculo esquelético (KERKSICK et al., 2018). Harris et al., (2011) demonstraram que a ingestão de 4 a 6 g de ß-alanina via oral, em doses divididas ao longo do dia, durante um período de 28 dias (crônico), é eficaz no aumento dos níveis de carnosina. 2.1SUPLEMENTOS ALIMENTARES EFICAZES E APARENTEMENTE SEGUROS, COM FORTES EVIDÊNCIAS, DE ACORDO COM A SOCIEDADE INTERNACIONAL DE NUTRIÇÃO ESPORTIVA 168 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE Conforme a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (KERKSICK et al., 2018), pesquisas com ß-alanina sugerem melhorias no desempenho do exercício com efeitos mais pronunciados em atividades que duram de um a quatro minutos; melhorias na fadiga neuromuscular e benefícios potenciais em pessoal tático (TREXLER et al., 2015). Além disso, também foi demonstrado que a ß-alanina pode aumentar o número de repetições de séries de exercícios, promover o aumento da massa corporal magra, aumentar o torque de extensão do joelho e aumentar o volume de treinamento. Ainda cabe destacarmos que, embora pareça que a suplementação de ß-alanina possa melhorar o desempenho, outros estudos falharam em demonstrar um benefício no desempenho esportivo (KERKSICK et al., 2018). • Bicarbonato de sódio (bicarbonato de sódio) Durante o exercício de alta intensidade, acumulam-se no músculo e no sangue o ácido (H+) e o dióxido de carbono (CO2), gerando uma acidez no organismo que pode causar dor, e o sistema de bicarbonato é o principal meio pelo qual o corpo se livra da acidez e do CO2 mediante a conversão em bicarbonato antes da remoção subsequente nos pulmões (KERKSICK et al., 2018). O consumo de 0,3 g/kg de bicarbonato de 60 a 90 minutos antes do exer- cício ou 5 g duas vezes por dia durante cinco dias, pois o bicarbonato de sódio demonstrou ser uma maneira eficaz de reduzir a acidez durante exercícios de alta intensidade, que tem de um a três minutos de duração (KERKSICK et al., 2018). Lindh et al. (2008) relataram que o bicarbonato pode melhorar o desempe- nho da natação no estilo livre de 200 m em nadadores masculinos de elite. Da mesma forma, estudos relataram a capacidade do bicarbonato para melhorar os testes de tempo de bicicleta de 3 km (KILDING; OVERTON; GLEAVE, 2012). É importante destacar que um efeito indesejável comum em torno da ingestão de bicarbonato de sódio é o desconforto gastrointestinal. Portanto, os atletas devem experimentar seu uso antes do desempenho para avaliar a tolerância (KERKSICK et al., 2018). • Cafeína A cafeína é um estimulante de origem natural que também demonstrou ser uma ajuda ergogênica em exercícios aeróbicos e anaeróbicos, com uma capacidade documentada de aumentar o gasto de energia e promover a perda de peso (GOLDSTEIN et al., 2010). TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 169 De acordo com Wiles et al. (2006), que investigaram os efeitos da cafeína no desempenho de ciclistas treinados, a cafeína melhorava a velocidade, o pico de potência e a potência média. Estudos, como de Graham (2001), indicam que a ingestão de cafeína, de 3 a 9 mg/kg, tomada 30 a 90 minutos antes do exercício, pode poupar o uso de carboidratos e, assim, melhorar a capacidade de exercício de resistência. Além do potencial impacto ergogênico, em sua revisão, Kerksick et al. (2018) também relataram que a cafeína melhorou significativamente indicadores do estado de humor, reduziu as classificações de esforço percebido e diminuiu a percepção de dor muscular quando em doses agudas de 5 mg/kg/dia de cafeína antes do exercício resistido máximo. Doses de cafeína acima de 9 mg/kg podem resultar em níveis urinários de cafeína que ultrapassam o limiar de doping para muitas organizações esportivas. Em resumo, evidências científicas publicadas pela Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (KERKSICK et al., 2018) estão disponíveis para indicar que a cafeína funciona como uma ajuda ergogênica em várias modalidades esportivas. Todavia, algumas pesquisas apresentam resultados ambíguos e serão necessárias mais pesquisas, considerando casos de indivíduos treinados que normalmente demonstram mais efeitos ergogênicos do que indivíduos não treinados, e que indivíduos que usam de bebidas com cafeína regularmente, parecem experimentar menos benefícios ergogênicos da cafeína. • Carboidratos Um dos recursos ergogênicos disponíveis para atletas e indivíduos ativos é o carboidrato. Conforme já mencionado, o carboidrato deve ser consumido na dieta rotineiramente, nas horas que antecedem o exercício, durante o exercício e nas horas após o exercício, podendo garantir que os estoques endógenos de glico- gênio sejam mantidos e suportem muitos tipos de desempenho do exercício (BURKE et al., 2011). Widrick et al. (1993) examinaram sistematicamente todas as quatro combina- ções possíveis de níveis intramusculares altos e baixos de glicogênio pré-exercício, com e sem fornecimento de carboidratos antes de uma sessão padrão de exercício de ciclismo, comprovando que, quando o carboidrato foi fornecido, o desempenho foi melhorado. Além dos modelos tradicionais de exercícios de resistência. Ainda, Williams e Rollo (2015) verificam em sua revisão de literatura que o desempenho de esportes coletivos, tipicamente caracterizados por intensidades variáveis e períodos intermitentes de grande esforço, tem melhora significativa com o consumo de carboidrato. 170 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE Além da ingestão, Carter (1995) chamaram a atenção para o potencial impacto do enxágue bucal de carboidratos como estratégia ergogênica. Eles demonstraram, em sua pesquisa, um aumento no tempo de desempenho durante o ciclismo, revelando que os receptores no cérebro podem estar ligados à mera presença de carboidratos na boca. • Creatina monoidratada A suplementação de creatina é uma estratégia bem apoiada para aumen- tar a massa muscular e a força durante o treinamento, todavia, também foi re- latado que a creatina melhora a capacidade de exercício em outras variáveis, descritas a seguir (KERKSICK et al., 2018). Especificamente, de acordo com Kreider et al. (2017), estudos documenta- ram melhorias com o consumo de creatina, uma proteína presente em diferentes fontes alimentares, em especial nas carnes, em: sprints únicos e múltiplos; tra- balho concluído em vários conjuntos de esforços máximos; limiar anaeróbico; carga de glicogênio e capacidade de trabalho. Consequentemente, esportes coletivos, atividades individuais ou esportes que consistem em exercícios intermitentes de alta intensidade, como futebol, tênis, basquete, entre outros, podem se beneficiar do uso de creatina (KREIDER et al., 2017). Chwalbinska-Moneta (2003), em seu estudo, descobriu que a ingestão de 20 g de creatina por cinco dias melhorava a resistência e o desempenho anaeróbico em remadores de elite. A creatina pode melhorar as adaptações do treinamento em atletas de resistência e anaeróbicos, capacidade anaeróbica e permitir que os atletas concluam maiores volumes de treinamento no limiar anaeróbico ou acima dele (NELSON et al., 2001). Não há evidências clínicas de que a suplementação de creatina aumente a suscetibilidade à desidratação, cãibras musculares ou doenças relacionadas ao calor(KRIERKSI et al., 2018). QUADRO 5 – SUPLEMENTOS ALIMENTARES COM BENEFÍCIO PARA O DESEMPENHO DE ATLETAS BASEADOS EM FORTES EVIDÊNCIAS Cafeína Protocolo de uso 3-6 mg/kg de peso na forma de cafeína anidra (isto é, forma de comprimido ou pó), consumiram ~ 60 minutos antes do exercício (GANIO et al., 2009). Doses mais baixas de cafeína (<3 mg/kg de peso ± 200 mg), fornecidas antes e durante o exercício; consumido com uma fonte de CHO (SPRIET, 2014). TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 171 Considerações adicionais e possíveis efeitos colaterais Doses maiores de cafeína (≥9 mg/kg BM) não parecem aumentar o benefício de desempenho (BRUCE et al., 2000) e são mais propensas a aumentar o risco de efeitos colaterais negativos, incluindo náusea, ansiedade, insônia e inquietação. Doses mais baixas de cafeína, variações no tempo de ingestão antes e/ou durante o exercício e a necessidade (ou falta dela) de um período de abstinência de cafeína devem ser testadas em treinamento antes do uso da competição. O consumo de cafeína durante a atividade deve ser considerado concomitante à ingestão de CHO para melhorar a eficácia (TALANIAN; SPRIET, 2016). Creatina Protocolo de uso Fase de carregamento: ∼20 g/dia (dividido em quatro doses diárias iguais), por cinco a sete dias (LANHERS et al., 2017); Fase de manutenção: 3 a 5 g/dia (dose única) durante o período de período de suplementação (HULTMAN et al., 1996). Nota : o consumo simultâneo com uma fonte mista de proteína/ CHO (∼ 50 g de proteína e CHO) pode aumentar a captação de creatina muscular através da estimulação da insulina (STEENGE et al., 2000). Considerações adicionais e possíveis efeitos colaterais Nenhum efeito negativo para a saúde é observado com o uso a longo prazo (até quatro anos) quando os protocolos de carregamento apropriados são seguidos (SCHILLING et al., 2001). Um aumento potencial de 1-2 kg de peso corporal após o carregamento de creatina (principalmente como resultado da retenção de água; (DEMINICE et al., 2013; POWERS et al., 2003), pode ser prejudicial para o desempenho de resistência ou em eventos em que a massa corporal deva ser movida contra a gravidade (por exemplo, salto em altura, salto com vara). Nitrato Protocolo de uso Alimentos com alto teor de nitrato incluem vegetais folhosos de raiz e verde, incluindo espinafre, salada de rúcula, aipo e beterraba. Os benefícios agudos de desempenho são geralmente vistos dentro de duas a três horas após um bolus de NO3 a 5 a 9 mmol (310 a 560 mg) (HOON et al., 2014). Períodos prolongados de ingestão de NO3 - (> 3 dias) também parecem benéficos para o desempenho (THOMPSON et al., 2015, 2016) e podem ser uma estratégia positiva para atletas altamente treinados, em que os ganhos de desempenho com a suplementação de NO3- parecem mais difíceis de obter (JONES, 2014). 172 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE Considerações adicionais e possíveis efeitos colaterais As evidências disponíveis sugerem que parece haver poucos efeitos colaterais ou limitações à suplementação de nitrato. Pode existir o potencial de distúrbios gastrointestinais em atletas suscetíveis e, portanto, deve ser exaustivamente testado no treinamento. Parece haver um limite superior para os benefícios do consumo (isto é, nenhum benefício maior de 16,8 mmol [1.041 mg] vs. 8,4 mmol [521 mg]; (WYLIE et al., 2013 ). Beta-Alanina Protocolo de uso Consumo diário de ~ 65 mg/kg de peso corporal, ingerido por um regime de dose dividida (ou seja, 0,8-1,6 g a cada 3-4 horas) durante um período prolongado de suplemento de dez a 12 semanas (SAUNDERS et al., 2016). Considerações adicionais e possíveis efeitos colaterais A eficácia do suplemento parece mais difícil de ser percebida em atletas bem treinados (BELLINGER, 2014). Há uma necessidade de investigação adicional para estabelecer o uso prático em várias situações específicas do esporte (HOBSON et al., 2012). Possíveis efeitos colaterais negativos incluem erupções cutâneas e/ou parestesia transitória. Bicarbonato de Sódio Protocolo de uso Dose aguda única de NaHCO3 de 0,2-0,4 g/kg de peso, consumida 60-150 minutos antes do exercício (CARR et al., 2011; SIEGLER et al., 2012). Estratégias alternativas incluem: doses fracionadas (ou seja, várias doses menores que mesma ingestão total) tomada durante um período de 30 a 180 minutos (LAMBERT et al., 1993); carregamento em série com 3 a 4 doses menores por dia, durante dois a quatro dias consecutivos antes de um evento (BURKE, 2013). Considerações adicionais e possíveis efeitos colaterais Distúrbios gastrointestinais bem estabelecidos podem estar associados a este suplemento. As estratégias para minimizar o distúrbio gastrointestinal incluem: coingestão com uma pequena refeição rica em carboidratos (± 1,5 g/kg de carboidratos BM) (CARR et al., 2011); o uso de citrato de sódio como alternativa (REQUENA et al., 2005 ); estratégias de dose dividida ou empilhamento (BURKE, 2013). FONTE: Maughan et al. (2018, p. 443) TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 173 2.2 SUPLEMENTOS COM EVIDÊNCIA LIMITADA OU MISTA PARA APOIAR A EFICÁCIA Os suplementos alimentares da categoria evidências limitadas ou mistas para apoiar a eficácia, são caracterizados por possuírem uma lógica científica para seu uso. Todavia, as pesquisas disponíveis falharam em produzir resultados consistentes apoiando sua eficácia. Compõem uma classe de suplementos que exige a realização de mais pesquisas para que os cientistas possam começar a entender seu impacto. É importante ressaltar que esses suplementos não têm evidências disponíveis para sugerir que eles não têm segurança ou devem ser vistos como prejudiciais. • Aminoácidos essenciais (BCAA) Aceita-se que a ingestão de pelo menos 2g do aminoácido essencial, leucina, seja necessária para estimular mecanismos celulares que controlam a hipertrofia muscular e que a ingestão de 6 a 12 g diária de uma mistura de aminoácidos essenciais é necessária para maximizar a síntese de proteínas musculares (KERKSICK et al., 2018). No entanto, atualmente, não está claro se a adoção dessa estratégia levaria a maiores adaptações de treinamento e/ou se a suplementação de BCAA seria superior do que ingerir carboidratos e uma proteína de alto valor biológico após o exercício. Por esses motivos, Jackman et al. (2017) incentivaram a priorização de fontes de proteínas intactas na ingestão de aminoácidos de forma livre para promoção do aumento de massa livre de gordura, mas o impacto dessa recomendação nas alterações de desempenho permanece indeterminado em esportes de resistência. • β-hidroxi β-metilbutirato (HMB) De acordo Kerksick et al. (2018), o HMB parece ter mais efeito no desempenho quando a intensidade do treinamento é maximizada, embora muitos dos estudos tenham verificado com resultados variados o potencial ergogênico da suplementação de HMB em indivíduos fisicamente ativos. Os estudos recentes de Durkalec-Michalski e Jeszka (2015) confirmaram trabalhos anteriores, como o de Vukovich (2001) de que o HMB tem um efeito positivo no aumento da capacidade aeróbica. O HMB está disponível como cálcio-HMB e como ácido livre. Em comparação com o HMB de cálcio, o ácido livre de HMB apresenta uma melhor absorção (aproximadamente 30 min vs. duas a três horas) (FULLER et al., 2011). Por meio de uma revisão sistemática da literatura, Silva et al. (2017) conclu- íram que a forma de ácido livre do HMB pode melhorar a força e atenuar os da- nos musculares quando combinada com o treinamento de resistência pesado,mas afirmou que são necessárias mais pesquisas para confirmação desses resultados. 174 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE • Citrulina A citrulina (ácido 2-amino-5- (carbamoilamino) pentanóico ou L-carnitina) é produzida no ciclo da ureia a partir de ornitina e fosfato de carbamoil. É eficien- temente reciclada em arginina para subsequente produção de óxido nítrico atra- vés do ciclo de citrulina-óxido nítrico (HAINES; PENDLETON; EICHLER, 2011). O catabolismo da citrulina possibilita que a maioria do que foi consumido passe para a circulação sistêmica antes da conversão para arginina, fazendo com que sua captação não competitiva para o transporte celular faça com que a suplementação oral de citrulina seja mais eficaz no aumento da arginina e, consequentemente, ativação da enzima óxido nítrico sintase (NOS), assim como vários biomarcadores de óxido nítrico (MCKINLEY-BARNARD et al., 2015). Vários estudos empregaram modelos de exercícios aeróbicos para exami- nar o impacto da citrulina no desempenho. Glenn et al. (2017) examinaram o im- pacto de uma dose de 8 g de citrulina durante o treinamento de resistência no número de repetições realizadas durante seis séries, cada um dos exercícios de supino e leg press, até falhar a 80% de 1 RM (repetições múltiplas) em mulheres trei- nadas, tendo como resultado aumento de malato de citrulina, melhorando, de for- ma significativa, o desempenho durante o exercício resistido de múltiplas séries. Poré, Cultrufello, Gadomski e Zavorsky (2015) relataram que uma dose de 6 g de L-citrulina não afetou os indicadores aeróbicos e anaeróbicos do desempenho do exercício. Dessa forma, não fica claro se esses benefícios podem ser atribuídos exclusivamente à citrulina, bem como qual o papel que a citrulina pode desempenhar no desempenho aeróbico e anaeróbico. • Glicerol Sugere-se que a ingestão de glicerol com água aumenta a retenção de líquidos e mantém o estado de hidratação do atleta (GOULET, 2012), podendo prevenir a desidratação e melhorar as alterações termorregulatórias e cardiovasculares. Todavia, como nos demais casos dos suplementos enquadrados nessa classificação II, os resultados são variados sobre a melhora ou não da capacidade de exercício (KERKSICK et al., 2018). Consequentemente, como apontado por Goulet (2012), verifica-se ser necessário concluir mais pesquisas para trabalhar com as nuances que envolvem a eficácia do potencial do glicerol. • L-alanil-L-glutamina Sob o mesmo referencial teórico da glutamina, o interesse em suplementar com L-alanil-L-glutamina tem aumentado nos últimos anos. TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 175 Hoffman e Falvo (2010) relataram, em um grupo de dez homens fisicamente ativos, que a L-alanil-L-glutamina aumentou o tempo até a exaustão em um cicloergômetro, mesmo quando exposto a um leve estresse por desidratação. Após dois anos, o mesmo grupo de pesquisa verificou que a reidratação com L-alanil-L-glutamina, mesmo em estado de desidratação de 2,3% em uma luta de basquete levou a uma melhoria no desempenho das habilidades e no tempo de reação visual quando comparado à água (HOFFMAN et al., 2012). Mccormack et al. (2015) determinaram que a L-alanil-L-glutamina melhorou significativamente o desempenho da corrida em esteira quando comparada à ausência de hidratação. Essa pesquisa indica ainda que a L-alanil- L-glutamina, em doses que variam de 300 a 1000 mg por 500 mL de fluido, pode influenciar favoravelmente o status e o desempenho da hidratação, quando comparado a nenhuma ingestão de líquidos ou apenas água. • Nitratos A suplementação de nitrato é conhecida devido a seus efeitos na vasodilatação, pressão arterial e maior eficiência no trabalho, podendo melhorar o desempenho esportivo (LARSEN et al., 2007). É consumida de duas a três horas antes do exercício, com suco de beterraba ou nitrato de sódio, sendo prescrita em quantidades que variam de 300 a 600 mg (HOON et al., 2013). Essas dosagens parecem ser bem toleradas quando consumidas, tanto como suplementares, quanto como fontes suplementares sem alterações signifi- cativas na hemodinâmica. A suplementação de ciclistas altamente treinados com nitrato de sódio (10 mg/kg de massa corporal) reduziu significativamente o pico de VO2 sem influenciar o tempo até a exaustão ou a potência máxima (BESCOS et al., 2011). Ainda, Kenjale et al. (2011) identificaram que a suplementação de nitrato, com doses de aproximadamente 560 mg/dia de nitrato, aumentou significativamente o fluxo sanguíneo para o músculo em exercício e o tempo de exercício em idosos com doença arterial periférica, melhorando a função endotelial por meio de dilatação mediada por fluxo e velocidade do fluxo sanguíneo. Todavia, como em várias situações aqui citadas, nem todas as pesquisas observam benefícios de desempenho com a suplementação de nitrato, como descreveram Wilkerson et al. (2012), quando verificaram que a suplementação de nitrato (385 mg de nitrato) 2,5 h antes de um treino de 80 km de ciclistas bem treinados não conseguiu melhorar o desempenho dos atletas. De maneira geral, coletivamente, esses resultados indicam que a suplementação com nitrato pode melhorar o desempenho do exercício aeróbico e a saúde cardiovascular (KERKSICK et al., 2018). 176 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE • Quercetina A quercetina é um flavonoide encontrado em frutas e hortaliças, além de demais espécies vegetais, sendo conhecida na literatura por apresentar benefícios à saúde com o seu uso terapêutico. Foi proposta em modelos animais e humanos para melhorar o desempenho da resistência em atletas. Em uma meta-análise realizada por Pelletier, Lacerte e Goulet (2013) para verificar o impacto potencial da suplementação de quercetina na melhora da resistência, que envolveu sete estudos publicados representando 288 participantes, foi identificado que, somente em participantes não treinado, a quercetina foi capaz de aumentar de maneira significativa a resistência dos participantes. Também, em outra meta-análise realizada em 2011, de Kressler, Millard- Stafford e Warren (2011), a conclusão foi semelhante, na qual eles indicaram que a quercetina tem benefícios, mas o tamanho desse efeito é trivial e pequeno, sendo necessário mais pesquisas com intuito de identificar as situações em que a quercetina pode afetar o desempenho no exercício. • Taurina A taurina é um aminoácido encontrado em abundância no músculo esquelético humano, derivado do metabolismo da cisteína, desempenha funções em vários sistemas do organismo (HARRIS et al., 2011). Foi relatado em alguns estudos que a taurina pode melhorar o desempenho do exercício e a recuperação de exercícios estressantes (KERKSICK et al., 2018). Em uma meta-análise realizada em 2018 por Waldron et al. (2018), foi informado que doses diárias únicas de 6 g, por até duas semanas, melhoraram significativamente o desempenho do exercício de resistência em vários participantes. Enquanto mais pesquisas continuam sendo publicadas envolvendo taurina, o consenso desses resultados continua a ser misto em relação ao potencial da taurina para melhorar o desempenho físico (KERKSICK et al., 2018). 3 EFICÁCIA DO AUXÍLIO ERGOGÊNICO DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES NOS EXERCÍCIOS DE FORÇA Conforme exposto no subtópico anterior, há dados bem controlados disponíveis, para demonstrar a eficácia do auxílio ergogênico proposto em populações atléticas ou em pessoas regularmente envolvidas no treinamento físico com objetivo de hipertrofia muscular. Ainda, para contribuir na importância de avaliar os artigos, segue uma série de perguntas aserem respondidas: TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 177 • Os estudos são realizados com pesquisas básicas em animais/populações clínicas ou foram realizados estudos em atletas/sujeitos treinados? • Os estudos foram bem controlados? Nos casos de pesquisas para recursos ergogênicos, o estudo ‘padrão ouro’ é um estudo clínico randomizado, duplo- cego e controlado por placebo, no qual nem o pesquisador nem o sujeito sabem qual grupo recebeu o suplemento ou o placebo durante o estudo, sendo que os sujeitos foram aleatoriamente designados para o grupo placebo ou suplemento. Ressalta-se que, em muitos casos, as pesquisas de suplementos se baseiam em estudos mal planejados, como por exemplo: pequenos grupos de sujeitos, nenhum grupo de controle, testes não confiáveis entre outros. • Os estudos relatam resultados estatisticamente significativos ou estão sendo feitas afirmações por meios ou tendências não significativos? A análise estatística apropriada dos resultados da pesquisa permite uma interpretação correta dos dados. Embora estudos que relatem tendências estatísticas possam levar pesquisadores a realizar pesquisas adicionais, estudos que relatam resultados estatisticamente significativos são mais confiáveis. Além disso, há situações em que o intervalo de confiança na análise de médias, respostas individuais de todos os participantes e tamanhos dos efeitos são informações adicionais que podem permitir uma interpretação mais precisa. • Os resultados dos estudos citados correspondem às alegações feitas do suplemento ou retratam com precisão a resposta do suplemento contra um grupo placebo ou controle apropriado? Não é incomum que as alegações de marketing exagerem bastante nos resultados encontrados nos estudos atuais, concentrando-se apenas nos resultados do grupo de suplementos, ao invés de como o grupo de suplementos mudou em comparação com a mudança de um grupo de placebo, sendo que uma forma de determinar isso é ler o artigo inteiro e comparar os resultados observados nos estudos com as afirmações do marketing disponível. • Os resultados do estudo foram apresentados em uma reunião científica respeitável e/ou publicados em uma revista científica revisada por pares? As pesquisas mais confiáveis normalmente são apresentadas em reuniões científicas e/ou publicadas em revistas respeitáveis revisadas por pares. Sendo importante identificar se a revista é de qualidade. Três são as maneiras de determinar a reputação de uma revista: identificar o editor; “fator de impacto”; e se a revista é ou não indexada e posteriormente disponível para revisão no PubMed (KERKSICK et al., 2018). Muitos periódicos “revisados por pares” pertencem a empresas que fazem negócios com vários produtos nutricionais, mesmo que estejam disponíveis no PubMed. Por isso, é recomendado a consulta ao site do editor, buscando verificar quantos outros periódicos foram publicados. No caso de serem apenas alguns outros periódicos, isso sugere que o periódico não é respeitável. Também é possível pesquisar quantos artigos foram publicados pela revista nos últimos seis a 12 meses e quantos desses artigos são estudos bem conduzidos (KERKSICK et al., 2018). 178 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE • Os resultados da pesquisa foram replicados? Em caso afirmativo, os resul- tados foram replicados apenas no mesmo laboratório? A melhor maneira de conhecer um auxílio ergogênico é verificar se os resultados foram replicados em outros estudos e de preferência por vários grupos de pesquisa distintos. Além disso, a replicação de resultados por laboratórios diferentes e não afilia- dos com autores completamente diferentes também reduz o elemento de viés de publicação e conflitos de interesse (KERKSICK et al., 2018). Um número notável de estudos a respeito de auxílios ergogênicos é realizado em colaboração com um ou mais cientistas que possuem interesse econômico real nos resultados do estudo. Devido a isso, um número crescente de periódicos exige divulgações de todos os autores de artigos científicos, incluindo tais divulgações em artigos publicados (KERKSICK et al., 2018). 3.1 SUPLEMENTOS PARA HIPERTROFIA MUSCULAR Os suplementos listados a seguir foram analisados na literatura científica com intuito de promover força e acúmulo de músculo esquelético em conjunto com um programa de treinamento bem projetado. Destaca-se que ganhos ou perdas nas massas corporais podem afetar positiva ou negativamente o desempenho atlético de um indivíduo, como, por exemplo, aumento na massa corporal e na massa magra são adaptações desejadas para muitos jogadores de futebol americano, podendo melhorar o desempenho nessas atividades, todavia, reduções na massa corporal podem promover aumentos no desempenho, como ciclistas, ginastas, que podem precisar reduzir rapidamente o peso, mantendo a massa muscular, força e potência (KERKSICK et al., 2018). 3.1.1 Fortes evidências para apoiar a eficácia e aparentemente seguro Serão descritos a seguir os suplementos presentes na literatura, com dados bem controlados, para demonstrar a eficácia do auxílio ergogênico proposto em populações atléticas ou em pessoas regularmente envolvidas no treinamento físico com objetivo de hipertrofia muscular. • Aminoácidos essenciais (EAA) Kobayashi et al. (2003) indicam que a ingestão de 6 a 12 g dos aminoácidos essenciais (EAA) na ausência da alimentação, antes e/ou após o exercício resistido, estimula a síntese de proteínas, sendo esta resposta independente da fonte de proteína ou tipo de alimento, condição essa que pode aumentar a massa livre de gordura. TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 179 Embora existam vários métodos de avaliação da qualidade de proteínas, a maioria dessas abordagens se concentra na quantidade de EAAs encontrados no alimento. Até este ponto, estão disponíveis vários estudos que afirmam que os EAAs operam como um pré-requisito para estimular as taxas de pico da síntese de proteínas musculares (PHILLIPS; CHEVALIER; LEIDY, 2016), sendo que alguns EAAs, individualmente, receberam atenção considerável por seu papel potencial no impacto da tradução de proteínas e, consequentemente, na síntese de proteínas musculares, como é o caso dos aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs) (BLOMSTRAND et al., 2006). É importante ressaltarmos que, de todo o interesse gerado pelos BCAAs, a leucina é o aminoácido principal no que se refere às alterações agudas na tradução de proteínas. O fornecimento de leucina, após a conclusão do exercício resistido, pode potencializar ainda mais os aumentos na sinalização de mTOR e na tradução de proteínas, sendo a dose ideia, de acordo com Jager et al. (2017), entre 1,7 e 3,5 g/dia. • Bicarbonato de sódio Tobias et al. (2013) relataram uma melhora significativa na produção de força na parte superior do corpo em atletas treinados em artes marciais após a ingestão de bicarbonato de sódio, sendo que observaram uma melhoria sinérgica na potência e desempenho quando beta-alanina e bicarbonato de sódio foram utilizados de forma conjunta. São necessários mais estudos para estabelecer quantidades e benefícios. • β-hidroxi β-metilbutirato (HMB) O HMB é um metabólito da leucina, Slater e Jenkins (2000) documentaram em sua pesquisa, que a suplementação de 1,5 a 3 g/dia de HMB de cálcio durante o treinamento, pode aumentar a massa muscular e força, principalmente nos indivíduos não treinados. Além disso, Gallagher et al., (2000) verificaram que 6 g por dia não forneceram ganhos adicionais na massa magra além do que foi relatado com uma dose de 3 g. Ainda conforme Vukovich et al. (2001), para otimizar a retenção do HMB, é recomendável dividira dose diária de 3 g em três doses iguais de 1 g cada (com café da manhã, almoço ou pré-exercício, hora de dormir). Cabe destacar que os efeitos da suplementação de HMB em atletas treinados são menos claros, já que estudos demonstram ganhos não significativos na massa muscular (SLATER et al., 2001). De acordo com Kerksick et al. (2018), a suplementação de HMB pode ser realizada em doses de 1,5 a 3 g por períodos curtos de três a quatro semanas em populações não treinadas e durações mais longas (12 semanas) em populações treinadas, podendo levar a melhorias na composição corporal, redução na gordura e aumento na massa livre de gordura. 180 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE • Cafeína Pesquisas que envolvem a cafeína ainda não conseguem alcançar resul- tados padronizados. Trexler et al. (2015) relataram que a cafeína pode melhorar o desempenho repetido do sprint, mas não impactou a força máxima e as repe- tições à fadiga usando exercícios tanto na parte superior e inferior do corpo. No entanto, outros estudos indicaram que a cafeína pode afetar favoravelmente o desempenho muscular com ganho de força, Goldstein et al. (2010) relataram que a ingestão de cafeína (6 mg/kg) aumentou significativamente a força do supino em um grupo de mulheres. De maneira resumida, os autores relataram melhorias na força e repetições até a falha usando o supino e outros exercícios. • Creatina monoidratada A creatina é o suplemento alimentar mais eficaz disponível para os atletas com objetivo de aumentar a capacidade de exercício de alta intensidade e a massa muscular, sendo que, de acordo com Kreider (2010), o aumento da massa corporal gira em média entre 1 a 2 kg a mais que o grupo controle durante quatro a 12 semanas de treinamento. Os ganhos em massa muscular parecem ser o resultado de uma capacidade aprimorada de realizar exercícios de alta intensidade, permitindo que o atleta treine mais e promovendo maiores adaptações ao treinamento e hipertrofia muscular (OLSEN et al. 2006). Quanto à segurança no consumo desse suplemento, vários estudos de curto e longo prazo, como o de Kim et al. (2011), não relataram efeitos colaterais aparentes. A posição da ISSN sobre a creatina monoidratada (KREIDER et al., 2017) resume suas descobertas da seguinte forma: a creatina é o suplemento alimentar mais eficaz disponível para atletas que buscam aumentar a capacidade de exercício de alta intensidade e massa corporal magra durante o treinamento; possui vários benefícios terapêuticos em populações saudáveis e doentes, variando de bebês a idosos; não há evidências científicas de que o uso de creatina monoidratada (até 30 g/dia por cinco anos) tenha efeitos prejudiciais em indivíduos saudáveis; recomenda-se que a suplementação de creatina seja considerada apenas para atletas mais jovens que estejam envolvidos em treinamento supervisionado competitivo; possua uma dieta bem equilibrada e que melhore o desempenho; não exceda as doses recomendadas. Ressalta-se que a adição de carboidrato a um suplemento de creatina parece aumentar a captação muscular de creatina, sendo que o método mais rápido para aumentar os estoques de creatina muscular é o consumo de 0,3 g/ kg/dia de creatina por cinco a sete dias, seguidos por 3 a 5 g/dia para manter os estoques elevados (KERKSICK et al., 2018). TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 181 Após a fase de sobrecarga, a dose de manutenção recomendada é consideravelmente menor, aproximadamente 2 a 5 g de creatina por dia ou 0,03 g/kg de massa corporal por dia. De acordo com Ribeiro (2010), pesquisas têm demonstrado um aumento de 10 a 40% na concentração intramuscular de creatina e PCr com o uso desse protocolo. Após a ingestão de 5 g de creatina, o nível plasmático aumenta de uma faixa entre 50 e 100 mmol/ℓ para mais de 500 mmol/ℓ, 1 h após o seu consumo. • Proteína De acordo com Morton et al. (2018), indivíduos submetidos a treinamentos intensos com objetivo de promoção do aumento de massa livre de gordura devem consumir entre 1,4 e 2,0 g/kg/dia de proteína. Já Tang et al. (2009), considerando o consumo de proteínas por praticantes de exercício físico, realizaram um estudo que buscou verificar a capacidade de três fontes diferentes de proteína (proteína isolada e hidrolisada do soro do leite, caseína micelar e proteína isolada da soja) em estimular mudanças na síntese de proteína muscular em repouso e após a realização de exercícios resistido. Ao final, observaram que todas as três fontes de proteínas aumentaram significativamente as taxas de síntese de proteínas musculares em ambas as situações. Cermak e Van Loon (2012), através de uma meta-análise que examinou o impacto da suplementação de proteínas nas mudanças de força e massa livre de gordura, verificaram que a suplementação demonstrou efeito positivo na massa livre de gordura e força da parte inferior do corpo em participantes de todas as idades. Nesse contexto, embora sejam necessárias mais pesquisas nessa área, evidências indicam claramente que as necessidades de proteínas dos indivíduos envolvidos em treinamento intenso são elevadas e, consequentemente, os atletas que obtêm maiores quantidades de proteína durante o treinamento promovem maiores alterações na massa livre de gordura, aumento na força e na massa muscular, sendo importante observar a realidade de cada indivíduo para indicação das fontes dessas proteínas. 3.1.2 Evidência limitada ou mista para apoiar a eficácia Serão descritos a seguir os suplementos presentes na literatura com dados que permitem uma evidência de efetividade limitada para prescrições como auxílio ergogênico para populações atléticas ou em pessoas regularmente envolvidas no treinamento físico. • Adenosina - 5′-trifosfato (ATP) O ATP é a principal fonte de energia intracelular e possui extensas funções extracelulares, como o aumento da permeabilidade e vasodilatação no músculo esquelético. Arts et al. (2012) demonstraram que o ATP oral não é sistematicamente 182 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE biodisponível, todavia, a suplementação crônica com ATP aumenta a capacidade de sintetizar ATP dentro dos eritrócitos, minimizando assim as quedas induzidas pelo exercício nos níveis de ATP. Ainda, conforme Jager et al. (2017), o ATP pode aumentar o fluxo sanguíneo para o músculo em exercício, podendo reduzir a fadiga e aumentar a potência de pico durante sessões posteriores de exercícios repetidos. No entanto, dado o número limitado de estudos em humanos com ATP sobre o aumento dos ganhos induzidos pelo exercício na massa muscular, são necessários mais estudos crônicos de treinamento em seres humanos (KIERKSICK et al. 2018). • Aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) Discute-se, na literatura, o uso da suplementação de BCAA com intuito de reduzir a degradação de proteínas induzida pelo exercício, possivelmente promovendo um perfil hormonal anticatabólico (KREIDER et al., 2017). Na maioria dos casos, assim como para Dreyer et al. (2008), a leucina é reconhecida como elemento principal na ativação o complexo mTORC1 nas quantidades de 3 a 6 g, resultando na tradução favorável de proteínas. Teoricamente, a suplementação de BCAA durante treinamento intenso pode ajudar a minimizar a degradação de proteínas e, assim, levar a maiores ganhos (ou limitar as perdas de) de massa livre de gordura, mas existem apenas evidências limitadas para apoiar essa hipótese (KIERKSICK et al., 2018). Candeloro et al. (1995) verificaram que 30 dias de suplementação de BCAA (14 g/dia) promoveram aumento significativo na massa muscular (1,3%) e força de preensão (+ 8,1%) em indivíduos não treinados. Recentemente, Jackman et al. (2017) examinaram a capacidadede uma dose aguda de aminoácidos de cadeia ramificada para estimular aumentos na síntese de proteínas musculares, e obtiveram como resultado que a ingestão aguda de BCAAs promoveu aumen- to de 22% a mais na síntese de proteínas musculares quando comparada a um grupo placebo. Nesse contexto, de acordo com Kierksick et al. (2018), como os resultados divergentes reduzem a capacidade de fazer determinações claras, os estudos sugerem um papel mecanicista dos BCAAs, com destaque parar a leucina, mas ainda há falhas em apoiar consistentemente a necessidade de suplementação de BCAA. De acordo com a Hernandez e Nahas (2009), os BCAAs, por serem potentes moduladores da captação de triptofano pelo sistema nervoso central, poderiam aumentar a tolerância ao esforço físico prolongado. Porém, esses dados não têm justificado seu consumo com finalidade ergogênica. Por isso, recomenda-se que não seja utilizada a suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada com finalidade ergogênica. TÓPICO 2 — RECURSOS ERGOGÊNICOS NOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS E DE RESISTÊNCIA 183 Nesse mesmo caminho, Hernandez e Nahas (2009) relatam que a glutamina, aminoácido que age como nutriente para as células de divisão rápida, como é o caso das imunitárias, tem sido utilizada para aumentar a defesa imunológica de atletas, contudo, quando a ingestão é oral, o elevado consumo pelas células intestinais inviabiliza sua disponibilidade para outras regiões do organismo, tornando, também, inviável a justificativa de sua suplementação oral. Atualmente, não há evidências científicas suficientes que demonstrem que a glutamina melhore o funcionamento do sistema imunológico e previna lesões em atletas que consomem níveis adequados de proteínas, tornando a suplementação necessária apenas em casos em que a avaliação individual indicar. “A ornitina e a arginina são aminoácidos que produzem maior secreção de hormônio de crescimento quando oferecidos através de infusão intravenosa, sendo, entretanto, seu consumo por via oral ineficaz. Não é recomendada a suplementação destes aminoácidos” (HERNANDEZ; NAHAS, 2009, p. 8). 184 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • É possível identificar a necessidade de sermos críticos perante as orientações de suplementos alimentares, considerando os tipos de pesquisas científicas que os englobam e segurança e qualidade nutricional de cada um. • Os recursos ergogênicos nutricionais atuam de diferentes formas na melhora da performance: intensificação de potência física; intensificação da força mental; intensificação de limites mecânicos. • Conforme a literatura científica que testa a eficácia e a segurança dos suplementos alimentares, eles podem ser colocados em três categorias baseadas na qualidade e quantidade de suporte científico disponível: fortes evidências para apoiar a eficácia e aparentemente seguro; evidências limitadas ou mistas para apoiar a eficácia; pouca ou nenhuma evidência para apoiar a eficácia e/ou segurança; • Os suplementos alimentares para exercícios resistidos e de resistência foram expostos de acordo com o grau de evidencia das pesquisas científicas. 185 1 Considerando os métodos pelos quais os ergogênicos podem melhorar a performance mediante a potência física, força mental e limite mecânico, relacione as colunas a seguir: (A) Para intensificar a potência física. (B) Para intensificar a força mental. (C) Para intensificar os limites mecânicos. ( ) Aumento dos processos psicológicos que maximizam a produção de energia. ( ) Melhora na estabilidade pelo aumento da massa corporal, sobretudo da massa muscular. ( ) Melhora na liberação do substrato energético no músculo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) A; B; C. b) ( ) B; A; C. c) ( ) C; A; B. d) ( ) B; C; A. 2 (ENADE, 2010) Uma jovem de 22 anos de idade, com 58 kg de peso corpo- ral e 1,70 m de altura, ingressou recentemente no time de handebol da sua universidade. Preocupada com sua alimentação e com seu desempenho físi- co nas competições, ela consultou um nutricionista com o objetivo de obter informações a respeito da relação entre o consumo de carboidratos e lipídios e a sua atividade esportiva. Considerando a situação hipotética exposta e a relação entre alimentação e desempenho físico, avalie as afirmativas a seguir: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/ 645401-inep-2010-enade-nutricao>. Acesso em: 9 jul. 2021. I- É recomendável o consumo de alimentos ricos em carboidratos e lipídios próximo ao horário da atividade física, pois esses alimentos favorecem o depósito do glicogênio hepático, considerado a fonte de glicose para o exercício. II- A jovem apresenta estado nutricional adequado, segundo o índice de massa corporal e, por isso, deve ingerir alimentos ricos em gordura antes da atividade física, pois a gordura é fonte de energia para esportes de intensidade leve. AUTOATIVIDADE 186 III- O consumo de bebidas energéticas com 6% a 8% da solução de carboidra- tos durante a atividade física é recomendável por permitir que carboidra- tos sejam enviados para os tecidos no momento em que a fadiga aparece. IV- A ingestão de carboidratos durante a atividade física não previne a fadiga muscular, mas retarda o seu surgimento, melhorando também o desem- penho da esportista pela manutenção da glicemia durante o exercício. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e III. c) ( ) I e IV. d) ( ) III e IV. 3 É indispensável ao esportista uma alimentação equilibrada antes, durante e após a atividade física. Com relação à nutrição e ao exercício no esporte e na atividade física, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O uso de carboidratos (CHO) complexos e simples deve ocorrer até trinta minutos antes da atividade física, sendo aconselhável ingerir, para a reposição de glicose durante a prática esportiva, que contenham teor entre 10% e 20% de CHO. ( ) Deve-se jejuar por duas horas antes de uma competição esportiva ou um treinamento intenso para evitar um problema estomacal causado pelo alimento não digerido. ( ) A refeição pré-competição ideal consiste em alimentos ricos em proteínas que irão garantir níveis elevados de proteína muscular durante a competição. ( ) O consumo de carboidratos com um alto índice glicêmico constitui um meio mais efetivo de repor rapidamente o glicogênio repletado após um exercício intenso. ( ) A instalação do quadro de anemia em um atleta pode trazer uma seria de prejuízos ao seu desempenho, entre eles o maior o risco de fadiga muscular, menor capacidade de trabalho físico e menor resistência. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – F – V – V. b) ( ) F – F – F – F – V. c) ( ) V – F – F – F – V. d) ( ) F – F – V – F – V. 187 4 De acordo com a literatura científica que testa a eficácia e a segurança dos suplementos alimentares, eles podem ser colocados em três categorias baseadas na qualidade e quantidade de suporte científico disponível. Descreva e caracterize as categorias: 5 Os suplementos alimentares da categoria evidências limitadas, ou mistas para apoiar a eficácia, são caracterizados por possuírem uma lógica científica para seu uso. Todavia, as pesquisas disponíveis falharam em produzir resultados consistentes apoiando sua eficácia. Compõem uma classe de suplementos que exige a realização de mais pesquisas para que os cientistas possam começar a entender seu impacto. Nesse sentido, descreva os apontamentos referentes ao BCAA. 188 189 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A fitoterapia é uma ciência que utiliza espécies vegetais conhecidas por plantas medicinais, para prevenção etratamento de diferentes doenças. Desde a antiguidade, as plantas medicinais são usadas com grande eficácia, existem re- gistros de uso de plantas com finalidade terapêutica desde o Egito Antigo, sendo que o primeiro relato de uso medicinal é o Papiro de Ebers e relaciona as plantas usadas no processo de embalsamento das múmias (HIRSCHBRUCH, 2016). Atualmente, observa-se que a maioria dos medicamentos tem sua síntese baseada em princípios ativos isolados em plantas. É possível contar com o tratamento por meio de plantas e até mesmo como adjuvante de cura de algumas patologias descartando-se efeitos colaterais e minimizando as agressões a outros órgãos. Este é o princípio dos alimentos com propriedades funcionais, uma vez que os princípios ativos são sempre fitoquímicos ou fitocomplexos com atividade específica e seletiva. São diversas as maneiras descritas para utilizar as plantas medicinais, sendo as mais usadas os chás, extratos líquidos, temperos, óleos e extratos secos que podem ser encapsulados ou adicionados a sucos ou qualquer outra preparação culinária. É importante ressaltar que cada planta tem uma finalidade específica e que, apesar de terem algumas propriedades conhecidas a muito tempo, é sempre bom checar outras características, as quais podem até prejudicar o paciente, uma vez que os princípios ativos apresentam toxicidade variável. As plantas medici- nais têm amplo espectro de ação, dependendo sempre da forma e da dosagem uti- lizada para determinação dos efeitos físicos. As formas mais comuns no Brasil são: infusões, tinturas, xaropes, óleos, sucos e encapsulados (HIRSCHBRUCH, 2016). TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS 2 FITOTERAPIA NO ESPORTE Dentre todas as possibilidades de aplicar a fitoterapia no mundo dos esportes, a primeira aplicação prática recomendada é a respeito do processo digestório do esportista. Considerando-se que maus hábitos alimentares, medicamentos, suplementos, estresse físico e/ou mental produzem e armazenam toxinas no organismo, o princípio para essa indicação é a desintoxicação, sendo usadas para esse fim as plantas com ação quelante de toxinas metabólitos e/ou gorduras, além de papel antioxidante e hepatoprotetor (SCHULZ; HANSEL; TYLER, 2002). 190 UNIDADE 3 — RECURSOS ERGOGÊNICOS: CONCEITOS E APLICABILIDADE Nesse meio de espécies vegetais desintoxicantes tem-se diferentes variedades, citaremos, a seguir, algumas delas, iniciando pela salsaparrilha (Smilax japicanga). A salsaparrilha é uma planta cujos galhos e/ou raízes (hastes finas e pequenas) são usados para a confecção do chá. É uma erva rica em saponinas (similasaponina, sarsaponina), parrilina e sitosterol, entre outras substâncias biologicamente ativas. Tem ação sudorífica, depurativa, diurética, anti- inflamatória e antirreumática. Forma complexos lipossolúveis com colesterol, metais pesados e outras gorduras, facilitando seu processo de excreção urinária. É bastante utilizada nos tratamentos de gota, também por auxiliar na excreção de ácido úrico e ureia. Por toda sua ação observa-se significativo aumento na diurese. Portanto, seu uso é desaconselhado em períodos de competição (HIRSCHBRUCH, 2016). Tem-se também o alecrim (Rosmarinus officinalis), que é tônico e diaforético, ou seja, favorece a transpiração. Um de seus flavonoides é o diosmin, que diminui a fragilidade capilar e aumenta a irrigação periférica, favorecendo a oxigenação dos tecidos. Aumenta a secreção biliar, reduz a formação de gases e quela a gordura. Além de hepatoprotetor, é um potente anti-inflamatório. Além disso, reduz dores, sendo indicado em caso de contusões e entorses. Recomenda-se evitar seu uso no período noturno, pois pode alterar o ciclo de sono. Não deve ser usado por hipertensos e gestantes, pois pode potencialmente aumentar a pressão diastólica e ser absortivo, respectivamente. A hortelã (Mentha piperita) também é uma espécie vegetal utilizada para o fim aqui descrito. Tem um sabor refrescante em razão de sua composição química. A concentração do óleo aromático mentol varia entre 50 e 90% quando destilado a frio. Há ainda, em sua composição, mentonas, ésteres e terpenos. Estimula a secreção de ácido clorídrico, além de aumentar a contratilidade intestinal. Também é colagoga e antisséptica do trato digestivo, uma vez que o mentol é excretado pela bile. Pode ser utilizada como estimulante de apetite se consumida isoladamente de apetite se consumida isoladamente antes da refeição. Outro papel importante é que a sensação de refrescância provocada pelo mentol incentiva o consumo de líquidos, diminuindo assim o risco de desidratação em atletas. Pode ser usada topicamente como recurso para redução das dores advindas de traumas e/ou contusões, pois a aplicação local de óleo de menta anestesia os tecidos lesionados de forma superficial (SCHULZ; HANSEL; TYLER, 2002). Além das plantas usadas para fins desintoxicantes em períodos de treinamento sem competição, pode ser indicado o uso do mulungu (Erythrina mulungu Benth), para diferentes objetivos. O primeiro deles é que essa é uma planta indutora do sono. É clara a importância do sono como agente reparador em qualquer organismo, principalmente em atletas, cujo desgaste físico intenso nem sempre é recuperado em intervalos normais. Destaca-se a indução ao sono em momento próprio que TÓPICO 3 — FITOTERAPIA NO ESPORTE E ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AOS ATLETAS 191 favoreça a ação do hormônio de crescimento, favorecendo a ação ergogenica dele. Essa planta ainda apresenta ação de controle de produção e liberação de cortisol e gerenciamento de estresse causado pelo descontrole da suprarrenal em atletas (HIRSCHBRUCH, 2016). Além disso, há outro importante fator: seus principais alcaloides são a eritrina e a erisopina e atribui-se a elas o estímulo da regeneração tissular. Por ser extremamente sedativa, só pode ser usada com segurança no chá da noite, antes do repouso. Já a arnica (Arnica montana), que é encontrada em flores, apresenta altos teores de terpenos. Essas substâncias diminuem a formação exsudato, explicando parte de seu poder anti-inflamatório. Além disso, é espasmolítica, reduzindo sensivelmente as dores em geral, principalmente as decorrentes de lesões e/ou traumas. Sua atividade é potencializada na presença de Hamamelis (SCHULZ; HANSEL; TYLER, 2002). Tem-se também as algas, em especial a clorela (Chlorella pyrenoidosa), bastante utilizada por ser fonte de vários aminoácidos, vitaminas e minerais, com destaque para a vitamina C, B2, além de fósforo, potássio e cálcio. É importante na síntese do colágeno. Em sua composição, destaca-se a presença da Chlorella growth factor (CGF), uma substância biologicamente ativa que, em conjunto com outras, estimula o trabalho do sistema imunológico. A dose recomendada é de 2 g/dia. Sua ação é maximizada quando associada a suplementação de 60 mg de ácido ascórbico. Por sua vez, a castanha da índia (Aesculus hippocastanum) aumenta a resistência e o tônus das veias e favorecem o retorno sanguíneo e o alho é recomendado cru como tempero culinário. A alicina presente em sua composição é amplamente reconhecida como agente bactericida e fungicida. Além dela, há a quercetina, que também atua positivamente na diminuição de processo inflamatório. Há ainda uma gama de compostos sulfurados como: • aliina com ação hipotensora e hipoglicemiante; • ajoeno (ajocisteína), que atua na prevenção de coágulos e que tem papel anti- inflamatório, vasodilatador, hipotensor e antibiótico; • alicina e tiossulfinatos, que são antibióticos, antifúngicos e antivirais; • alil mercaptano e sulfeto dialil com a ação hipocolesterolemiante; • s-alil-cisteína e compostos g-glutâmico,