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SEMIOLOGIA DO APARELHO DIGESTÓRIO DE RUMINANTES E EQUINOS Prof. Robert Lenoch Médico Veterinário Sistema digestório de ruminantes Conjunto de órgãos responsáveis pela captação, digestão e absorção de substâncias nutritivas. É composto por um tubo digestivo: boca, esôfago, rumen, reticulo, abomaso, omaso, intestino delgado, intestino grosso e ânus órgãos anexos: glândulas salivares, pâncreas, fígado e vesícula biliar Fome e apetite Sensações diferentes: Apetite é o desejo do alimento, faz supor preferência por determinado alimento. Refere-se ao paladar, o importante é qualidade e palatabilidade do alimento. Fome é a sensação de vazio no estômago, é a necessidade do alimento. De maneira geral, refere-se ao estômago. Para saciar a fome o que interessa é a quantidade de alimento e não a qualidade. Fome é um fenômeno físico, apetite é um fenômeno psíquico. Apetite • Pode ser checado pela anamnese e oferecendo diferentes tipos de alimentos. • Apetite normal : NORMOREXIA. Apetite • Polifagia, bulimia (grau máximo). 1. Fisiológico: reparação de perdas (diarréias, parasitismo), como nos casos de recuperação de doenças, após exercícios ou trabalho, gestação (maior taxa metabólica), fase de crescimento, amamentação, dietas pobres (animal tem que ingerir uma maior quantidade de alimentos para compensar a menor porcentagem de algum nutriente). 2. Patológico: parasitismo (helmintíases gastrointestinais), perda de material nutritivo (diabetes melitus). • Inapetência, anorexia (ausência de ingestão - grau máximo). 1. Aparente: lesões da mucosa bucal ou faríngea (devido a sensação dolorosa na fase de mastigação e deglutição. O animal tem fome mas não consegue alimentar-se - tétano). 2. Real: Processos enfermos, principalmente aqueles acompanhados de episódios tóxicos e/ou febris, acompanhados ou não de dor. Apetite Apetite Pervertido Ingestão de substâncias estranhas à alimentação habitual do animal. • Parorexia ou alotriofagia (allotrio: estranho; phagem: comer). • Dependendo do tipo de material ingerido, podem ser denominadas: 1. Osteofagia (ossos): sugere deficiência de minerais tais como cálcio e fósforo. 2. Infantofagia (canibalismo, geralmente filhotes): sugere deficiência de proteínas, estresse (coelhas e porcas). Apetite Pervertido 1. Fitofagia: (plantas) muitas vezes serve de estímulo para centro emético desencadear o reflexo do vómito em cães e gatos. 2. Pilofagia, tricofagia (pêlos e lã - gatos tendem a ter tricobezoares). 3. Pterofagia (pteron - penas): sugere deficiência proteica. 4. Xilofagia, lignofagia (xilon: madeira): sugere deficiência de cobalto em ruminantes. 1. Ceofagia (geo - terra, areia, pedras): sugere deficiência de minerais. 2. Aerofagia (ar): ocorre mais em equinos estabulados em virtude do estresse. 3. Coprofagia (fezes): sugere verminose; é comum em cães jovens. Apetite Pervertido Ingestão de água Controle pelo Centro da sede no hipotálamo, através de osmorreceptores. Quantidade de água ingerida varia com: 1. temperatura ambiente (estação do ano), 2. espécie animal, 3. tipo de trabalho, 4. idade 5. quantidade de água contida nos alimentos. • A ingestão normal = normodipsia • Aumento = polidipsia (perda excessiva de líquido corporal (desidratação), que pode se dever a vómitos constantes, diabetes, nefrite intersticial aguda, diarreia, estado febril, etc) • Hipodipsia ou oligodipsia = diminuição • Adipsia = sem ingestão (casos de insuficiência renal). Ingestão de água Bovinos: 3 a 4 L/ L de leite / dia = 30L de leite > 120 L de água Equinos: 5,4 L / 100 kg de PV Ovinos e caprinos: 3 a 5,7 L/dia Variações: temperatura ambiente, qualidade da água, trabalho, produção. Preensão dos alimentos Equinos, ovinos e caprinos prendem o alimento com os lábios e os dentes incisivos e arrancam com movimento brusco de cabeça. Bovinos a língua é o principal órgão preênsil ao pastar, devido ao seu comprimento, mobilidade e superfície áspera. Mastigação Reduzir o tamanho dos alimentos e umedecê�los, visando facilitar a deglutição. Nos herbívoros, a articulação temporomandibular permite amplos movimentos de lateralidade, determinando maior deslizamento dos molares, sob a ação dos quais os alimentos sofrem trituração adequada. • Tempo bucal. Após mastigação e lubrificação, o alimento na forma de um bolo é colocado sobre o dorso da língua, sendo então propelido para trás, alcançando a parede posterior da faringe. • Tempo faríngeo. Ao atravessar a faringe, os pilares anteriores da faringe se contraem, impulsionando o alimento em direção ao esôfago. Durante o tempo faríngeo, a respiração é cessada e ocorre o levantamento da epiglote e contração da glote, impedindo a entrada do alimento nas vias aéreas superiores. Deglutição Tempo esofágico. Chegando ao esôfago, os alimentos são transportados por movimentos peristálticos que ocorrem desde a faringe até o estômago. Deglutição Deglutição Disfagia = dificuldade durante o ato da deglutição. Odinofagia = dor durante a deglutição (processos inflamatórios da faringe – faringite, geralmente o animal ergue a cabeça para deglutir, se o processo for unilateral – exemplo: infarto do linfonodo retrofarínge, o animal desvia a cabeça contralateralmente, evitando compressão da área afetada). • Desenvolvimento do estômago: Bezerro, ao nascer, já apresenta os quatro compartimentos gástricos: o rúmen, o retículo, o omaso e o abomaso. O compartimento ruminorreticular é pouco desenvolvido nessa fase, ocupando cerca de 30% do volume total dos reservatórios, ao passo que omaso e abomaso ficam com os 70% restantes. • Animal adulto, proporções se invertem com o rúmen e o retículo perfazendo mais de 80% e omaso e abomaso menos de 20% do volume total. Bezerro Adulto x RN: • Goteira esofágica; • Alimento ideal: ricos em fibras • Alimentos concentrados: problemas digestivos. Ingestão precoce de alimentos fibrosos, fezes com aspecto de adulto para ocorrer o desmame. Função motora Nervo esplâncnico (simpático) Nervo vago (parassimpático) • Iniciais (2º e 3º semana de vida) • Contrações cíclicas (6º e 8º semana) • Estratificação do conteúdo: 1. > 0,5 cm indicativo de ruminação inadequada; 2. Excesso de alimentos concentrados causam problemas de motibilidade gastrica e produção de gás. O nervo vago ventral contribui para a formação de um plexo nervoso na face cranial do retículo, logo abaixo do esôfago, e inerva, preferencialmente, o retículo, o omaso e o cárdia, mas atinge também, o abomaso e o piloro. O nervo vago dorsal, apesar de inervar, referencialmente, o saco dorsal do rúmen, atinge o cárdia, o retículo, o omaso e o abomaso. Disposição do nervo vago em relação aos compartimentos gástricos Funções das contrações motoras dos compartimentos gástricos 1. Mistura do líquido a alimentos sólidos. 2. Maceração dos alimentos fibrosos. 3. Distribuição do material alimentar para que haja absorção dos ácidos graxos voláteis no contato do líquido ruminal. Características da ruminação de bovinos, caprinos e ovinos Bovinos Caprinos e ovinos Numero de ruminações/dia 4 - 20 15 Tempo diária de ruminação/h 4 - 9 8 - 10 Duração de cada ruminação / min 50 - 70 70 – 100 Duração da mastigação por bolo alimentar / s 53 61 - 70 Uso do tempo por um bovino � 8 h pastando � 8 h ruminando � 8 h descansando Movimentos ruminais em bovinos: 1 a 2 / min Causas da redução ou ausência de ruminação 1. Hipomotilidade ou atonia rumenal [sobrecarga, gas, espuma, medicamentos orais (antibióticos)] 1. Depressão do Sistema Nervoso Central [medicamentos, produtos quimicos (bernicidas), anestesias, plantas toxicas] 1. Dor. 2. Dano mecânico ao retículo (peritonite). [Corpo estranho (prego, cordas, tecidos, plásticos)] Flora rumenal Bactérias, leveduras e protozoários • Saliva da mãe; • Nas fezes; • Ambiente; • Úbere; • Boca a boca Função: • Degradação dos alimentos • Produção de vitaminas• Ácidos graxos voláteis (acético, butirico e propiônico) • Competição com outros organismos patogênicos (pré-bióticos) Importante: pH Importante: pH Importante: pH Importante: pH ruminalruminalruminalruminal > 6,0> 6,0> 6,0> 6,0 Localização da flora:Localização da flora:Localização da flora:Localização da flora: � Aderida a parede � Aderidas as partículas alimentares � Flutuação livre no conteúdo rumenal Eructação A média de eructação, em uma hora, oscila entre 17 e 20 nos bovinos, 9 e 11 nos ovinos e 9 e 10 nos caprinos. De maneira geral, a eructação ocorre nos animais ruminantes a cada dois minutos. Estágios 1. Estágio de separação: as bolhas separam-se da ingesta. 2. Estágio de deslocamento: o gás move-se em direção ao cárdia por contrações do saco dorsal. 3. Estágio de transferência: o cárdia relaxa e o gás passa para a região esofágica. 4. Estágio esofágico: por meio de contração antiperistáltica do esôfago, o gás passa para a faringe. 5. Estágio faringo-puImonar: da faringe, o gás chega aos pulmões, onde é absorvido e/ou exalado pela expiração. Identificação • Raça; • Sexo; • Cor; • Idade (mais importante): • Processos entéricos abomasais (lactentes); • Processos fermentativos e traumáticos (adultos) EXAME CLINICO Anamnese • Animal • Leite X Corte • Medicação • Tempo de evolução �Superaguda (0 – 24 h) �Aguda (24 a 96 h) �Subaguda (4 a 14 dias) �Cronica (> 14 dias) • Ambiente • Os animais são criados em regime extensivo de pastagens ou são confinados? • Alimentação • Houve alguma mudança no manejo alimentar? Uréia, cama de aviário, bagaço de laranja? Anamnese • Alimentação • Grãos (processos fermentativos); • Fibras (compactação); • Novo componente alimentar (flora bacteriana); • 2 semanas p/ adaptação; Exame Clínico Geral �Condição nutricional �Comportamento e postura (alimentação e defecação) �Pelos e pele �Tipo de respiração �Assimetria abdominal, gemidos �Corrimentos (boca, ânus) �Mucosas �Linfonodos �Parâmetros vitais: temperatura, FC, FR, ruídos ruminais Exame clinico Especial �Natureza das contrações ruminais �Grau de preenchimento e consistência do conteúdo rumenal �Sons anormais (maciço, metálico, hidroaéreo) �Dor na região abdominal anterior (xifóide) �Outros: apetite, mastigação, deglutição, defecação. Exame clinico Exames complementares �Exame do liquido ruminal e peritoneal �Fezes �Palpação retal �Hemograma �Provas bioquímicas Anatomia topográfica de uma vaca leiteira Avaliação física • FC, FR, tempo de preenchimento capilar. • Desidratação (pele e órbita ocular); • Acidose ruminal: pH < 5,8 • TºC normalmente é normal • Sangue nas fezes melena {sangue que foi alterado pela flora intestinal tendo por isso uma aparência negra} hematoquezia {sangue com cor vermelha viva misturado com as fezes} • Coloração das mucosas (rosa, branca, ictérica, hiperêmica, cianótica) Avaliação 1. Inspeção 2. Ausculta 3. Percussão 4. Palpação 1. Problema é agudo ou crônico? 2. A disfunção digestiva é primária ou secundária outra enfermidade? 3. O problema é brando, moderado ou grave? Sons • Timpânico: normal • Hipertimpânico: aumento do meteorismo, obstrução, pneumoperitonio. • Macicez: ascite, massas, esplenomegalia • Metálico: desvio de abomaso Sinais de problemas digestivos em ruminantes • Assimetria do contorno abdominal; • Algia abdominal; • Perda parcial do apetite. • Cuidar com outras doenças causadoras de febre. Assimetria unilateral esquerda dorsal Assimetria bilateral ventral Timpanismo • O timpanismo (na forma gasosa ou espumosa) causas: 1.obstruções, 2.estenoses esofágicas, 3.alteração no posicionamento do cárdia (animais em decúbito lateral) 4.ingestão de feno, leguminosas ou de forragens muito jovens. Corpos estranhos no rumen • Corpos metálicos (pregos, grampos de cerca, etc) • Piloconcrementos • Fitoconcrementos • Tecidos • Cordas • Síndrome de Hoflund (obstrução dos orifícios retículo-omasal e/ou piloro que impede a passagem do conteúdo ruminal adiante e pode ser causadas por corpos estranhos (plásticos, restos de placenta, etc.) ou por disfunção nervosa local) Imãs no retículo Corpos estranhos no rumen Sablose: • ingestão de areia pela água ou forragem oferecida no solo Exames Complementares • Exame do líquido ruminal: • Potencial redox: • 1ml de azul de metileno a 0,03% + 20 ml liquido ruminal 1.1.1.1. 3 min = normal3 min = normal3 min = normal3 min = normal 2.2.2.2. 3 3 3 3 ���� 5 min = dieta s5 min = dieta s5 min = dieta s5 min = dieta só de capim de capim de capim de capim 3.3.3.3. Acima de 8 minutos = detecta inatividade das bactérias.Acima de 8 minutos = detecta inatividade das bactérias.Acima de 8 minutos = detecta inatividade das bactérias.Acima de 8 minutos = detecta inatividade das bactérias. SEMIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTORIO DE EQUINOS Exame clinico geral Anamnese 1. Queixa principal (dor, inaptência, hipodipsia, posição de urinar com frequência, micção em pequenos jatos repetidos várias vezes). 2. Controle parasitário do animal ou plantel. 3. Alimentação (tipo de volumoso, volume de concentrado ou milho em grãos) natureza X estabulaçnatureza X estabulaçnatureza X estabulaçnatureza X estabulaçãoooo 1. Ambiente (estabulação, exercício físico, trabalho) Exame clinico geral Posição do animal: 1. Bate com a pata no chão (escavando) 2. Olha para o flanco 3. Morde o flanco 4. Escoicear o abdômen 5. Mexe a agua de beber com o focinho 6. Rola no chão 7. Sudorese 8. Hiperexcitabilidade ou depressão. DOR Sinais de dor no equino Exame clinico geral • Boca, faringe e esôfago • Dentição Sulco de Galvayne 9 – 11 anos- surge 15 anos – metade do dente 20anos – toda extensão 20 – 25 anos – desaparece na metade superior 30 anos - ausente Gancho ou cauda de andorinha 7 – 9 anos Coloração de mucosas e tempo de preenchimento capilar (TPC) Normal Rósea clara 2 s Vasoconstrição Rósea pálida 1 – 2 s Hipoxia Cianótica 3 – 4 Sequestro sanguíneo Congesta > 3 Diminuição da pressão arterial Congesta (vermelho tijolo) > 6 (choque) Exame do abdomen • Inspeção (dilatação dos quadrantes dorsais direito ou esquerdo, quadrantes ventrais direito ou esquerdo ou ambos) • Auscultação e percussão 1. quadrante dorsal direito = cecco, valvula ileocecal produz som gargarejante ou de cachoeira 2. quadrante dorsal esquerdo = íleo Som metálico ressonante em toda a cavidade abdominal TIMPANISMO + DOR DOR TIPO CAUSA CONSEQUENCIA Continua (mecanismos de desarme não funcionam) Isquemia Distensão exagerada de alça Diminuição do limiar de dor da fibra nervosa Alça com pequena capacidade de distensão (ID e estomago) Intermitente (mecanismos de desarme funcionam) Distensão gradual de alça Alça com grande capacidade de distensão (processos obstrutivos e IG) CLASSIFICAÇÃO DO GRAU DE DOR 1. LEVE 2. MODERADA 3. FORTE 1. Sem alterações circulatórias, manifestações discretas. 2. Alterações respiratórias, cavar, deitar, rolar. 3. Sudorese intensa, alterações circulatórias, rolar, se jogar DOR X PROGNÓSTICO Chances de morte Considerações Sonda nasogástrica 1. Descompressão gástrica 2. Diminuir a dor 3. Auxiliar no diagnostico 4. Via de tratamento Técnica 1. Lubrificar com xilocaína ou nitrofurazona *** SangramentoSangramentoSangramentoSangramento 1. Glote (40 cm, sobrar = reflexo de deglutição 2. Observar o esôfago 3. Fazer sucção na sonda (esôfago X traqueia) Utilizar sonda nasogástrica em Utilizar sonda nasogástrica em Utilizar sonda nasogástrica em Utilizar sonda nasogástrica em todos os casos de cólicas.todos os casos de cólicas.todos os casos de cólicas.todos os casos de cólicas. Sonda nasogástrica 1. Lavagem gástrica Retirada de conteúdo do estômago com água. Lavagem gástrica + Analgésico 80 a 90% de cura 1. Analgesia ( 8 ml novalgina para cada 100 kg PV) 2. Atimpânico via oral (Blotrol, Ruminol) 3. Sorbitol via EV (sedacol) 4. Punção do cecco 5. Enema retal frio6. Exercício físico para movimentação do aparelho digestivo. Sablose • Areia grossa= cólon dorsal direito, cólon transverso, cólon dorsal esquerdo e flexura pélvica, (Ragle et al., 1989, Snyder e Spier, 1993). • Areia fina= tende a acumular normalmente nos cólons ventrais (Snyder e Spier, 1993). EXAMES COMPLEMENTARES Paracentese no equino Paracentese em equino Peritonite Palpação retal 1. Fezes ressecadas com muco = pouco transito intestinal 2. Diarreias = enterites Resumo