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PRÁTICAS ESPORTIVAS E TREINAMENTOS FÍSICOS Olá! Antigos registros já comprovam que o ser humano tinha relação direta com o exercício físico, contudo não da forma como enxergamos hoje. De lá para cá, se deram diversos acontecimentos que marcaram e mudaram o rumo do entendimento sobre o que é treinamento. Para compreender o momento atual em relação aos conhecimentos sobre o universo do treinamento físico, é preciso voltar um pouco na história para refletir sobre como se deu a evolução. Nesta unidade, será exposta a trajetória histórica do que entendemos hoje por treinamento físico e suas diferentes aplicações, sejam elas para o desenvolvimento da performance esportiva, ou para a saúde e bem-estar. Bons estudos! AULA 1 - HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO TREINAMENTO FÍSICO 1 TREINAMENTO FÍSICO: UMA LINHA DO TEMPO Quando nos deparamos com a quantidade de aparelhos, métodos modernos e produtos de treinamento que estão dispostos na atualidade, é difícil pensar como se deu o início para chegar ao conceito de treinamento físico qual conhecemos hoje. Conceito esse que, aliás, deve ser compreendido como um processo sistematizado para estimular tecidos que sejam capazes de causar resposta e adaptação ao estimulo. As adaptações como resultado beneficiam o desempenho esportivo, para o lazer, para a saúde, melhorando a qualidade de vida. (BOMPA, 2012; FLECK; KRAEMER, 2017). Assim, os resultados do treinamento físico como o percebemos hoje nem sempre são o resultado de uma prática sistemática. Isso levou muitos pesquisadores a olharem apenas para os dados do treinamento físico desde o advento das Olimpíadas modernas, período em que era possível associar resultados ao conceito. Partido do pressuposto de que a definição muscular é resultado do treinamento físico, veremos que os humanos pré-históricos possuíam linhas expressivas em seus músculos, assim como hoje. Contudo, seu "método de treinamento" advém da necessidade de sobrevivência, como para a caça e fuga de outros animais. Desse modo, para cumprir as atividades diárias e sobreviver, os homens das cavernas puderam desenvolver altas capacidades motoras, como por exemplo, escalada, natação, corrida, saltos, lançamentos, entre outros (RAMOS, 1983; SOUZA, 2005). Este estilo de vida ativo foi finalmente transformado, com o fim do período paleolítico marcado pelo início da agricultura. Com o advento do período Neolítico, condições físicas diferentes das anteriores foram sendo impostas para a sobrevivência. O ser humano foi se adaptando fisicamente para outros tipos de exigências, como para as tarefas motoras para cuidar da terra, plantar, semear e colher. Nesse sentido, a era agrícola exigia das capacidades físicas à sua maneira, contudo não se pode entender essa prática do dia a dia como uma forma de treinamento qual entendemos hoje. Avançando da era pré-histórica em direção a Idade Antiga (aproximadamente 4 mil a.C.), ganha destaque os povos gregos e romanos. Foi um período marcado pela interação do homem com o meio natural e geográfico em que vivia e pelo desenvolvimento comercial, tendo o Mediterrâneo como principal rota. Naquela época, o "condicionamento físico" geralmente era alcançado instintivamente ou naturalmente e permanecia amplamente baseado na sobrevivência. Como exemplo de treinamento mais rigoroso, podemos citar o grego Mílon de Crotona, cujo “treinamento” apresentava os princípios que utilizamos hoje. A história contada é que para se preparar para batalhas, ele caminhava 120 passos, todos os dias, com um bezerro nas costas. Conforme o tempo foi passando, o bezerro crescendo, o corpo de Milon foi fortalecendo como adaptação (Figura 1). A condições de treinamento e a variação de peso do animal representam o que temos hoje como periodização do treinamento físico, bem como os princípios que o regem. Figura 1 – Mílon de Crotona Fonte: Alchetron, 2018. Na Grécia antiga, além de promover o culto ao corpo, os jogos tinham grande importância social, e também representavam uma forma de poder. Assim, treinar ou se preparar para jogos e guerras é muito semelhante ao nosso entendimento atual de treinamento físico. Correr, marchar, pular e sobrecarregar foram sugeridos juntamente com massagens, apoio psicológico, aquecimentos e desaquecimentos, todos focados na melhoria do desempenho. E no séc. VIII a.C ocorreu o primeiro evento qual formaria o que conhecemos hoje como Jogos Olímpicos, que contava com as seguintes modalidades: arremesso de discos, boxe, corrida, corrida de bigas e a cavalo, lançamento de dardo, luta, pancrácio (um estilo de arte marcial), pentatlo e salto em distância (TUBINO, 1984; BARBANTI, 1997). A era greco-romana foi superada pela era cristã, e com ela foram criadas novas propostas de visão corporal e treinamento físico. A partir de então, o corpo foi condenado e corrompido pelo pecado e Deus estava no centro de tudo. O culto do corpo pertencia então apenas àqueles que dele dependem, os soldados; para outros, apenas as atribuições relacionadas ao trabalho de campo permanecem (RAMOS, 1983; TUBINO, 1984; BARBANTI, 1997; SOUZA, 2005). Com o advento do Renascimento, por volta do século XIV, propôs-se uma reflexão mais anatômica e biológica do corpo. A partir dessa época começaram a surgir pensamentos e estudos semelhantes ao atual, e os pesquisadores começaram a questionar como poderia ser feito o treinamento, aprofundando cada vez mais o futuro, confundindo possíveis variáveis para lidar com ele. Sem dúvida, esse momento é marcado por avanços na biologia e adaptação relacionada ao exercício e por estudos sobre as respostas de nosso corpo. Ressalte-se, porém, neste momento, o exercício físico ainda é uma atividade elitista, tendo o salto, a corrida, a natação, a esgrima, a equitação, o jogo de bola, a dança e a pesca como prioridades para o tipo ideal de educação. (RAMOS, 1983; TUBINO, 1984; BARBANTI, 1997; SOUZA, 2005). Então a era industrial, a partir de meados do século XVIII, trouxe uma nova relação com o corpo. A substituição de humanos por máquinas no ambiente de trabalho é, sem dúvida, uma das condições mais importantes para a mudança do corpo humano. Novas instalações e conhecimentos tecnológicos trouxeram condições de trabalho sedentárias, mecanizadas e repetitivas. O movimento tornou- se um privilégio e uma escolha para algumas classes sociais mais do que para outras. Longas jornadas de trabalho em máquinas, pouco acesso a formas de recreação, incluindo exercícios, e diferenças entre as aulas criaram um buraco no conhecimento adquirido até agora ao longo do desenvolvimento do 'treinamento físico'. (RAMOS, 1983; TUBINO, 1984; BARBANTI, 1997; SOUZA, 2005). Em períodos mais recentes, encontramos as maiores contribuições teóricas aos padrões periódicos no treinamento físico. A revisão literária de Silva (1998) descreve que as variáveis hoje conhecidas como modelo de treinamento físico surgem da necessidade de se dividir uma temporada de jogos em fases e períodos específicos, considerando as variações climáticas, exigências físicas e adaptações necessárias, bem como o próprio calendário, para se alcançar os objetivos traçados. Portanto, o que se nota ultimamente é um grande aumento dos níveis do sedentarismo (Figura 2) reforçado pelas facilidades da tecnologia e indústria. A evolução nos levou a dominar tecnologias, criar invenções que facilitam as tarefas laborais e do cotidiano, criando possibilidades de criar mais tempo livre para melhor aproveitamento. Figura 2 – Sedentarismo Fonte: Shutterstock.com Atualmente, sabe-se que a prática regular de exercícios físico se relaciona diretamente com a manutenção da saúde, tanto para profilaxia, quanto para tratamento e reabilitação, enquanto para esportes, a busca é pela melhoria de desempenho. Dessa forma, visualizamos com o passar do tempo, uma popularizaçãointensa da prática de atividades físicas, bem como alta demanda de profissionais e espaços para a prática (RAMOS, 1983; TUBINO, 1984; BARBANTI, 1997; OLIVEIRA, 2006). 1.1 Treinamento físico para saúde e desempenho Traçando uma linha do tempo da história do treinamento físico, percebe-se que a proposta aconteceu com altos e baixos ao longo de sua trajetória, sem um desenvolvimento contínuo e gradativo. A evolução da área, inicialmente, se deu de forma empírica, de modo que a sistematização foi implementada posteriormente. Segundo Bompa (2012) e Weineck (1999), o principal objetivo do treinamento é ajustar positivamente o estado físico, motor, cognitivo e emocional de um indivíduo para aumentar seu nível de condicionamento e permitir que ele tenha o melhor desempenho durante a competição. Para que essas adaptações ocorram, é preciso compreender os conceitos da periodização do treinamento. É como se a periodização representasse os ingredientes de uma receita que através do treino físico fossem representados na versão final (o prato acabado). Esta é a subdivisão do segmento que deve ser controlada para alcançar o máximo desempenho ou integridade. A literatura tem se dedicado às pesquisas sobre as variáveis que interferem diretamente no treinamento. Kotov, no início do séc. XX, inicialmente propôs que um período de tempo fosse dividido em três fases, nomeados geral, preparatório e especial. Nos anos 30, Pihkala apresentou uma teoria sobre a alternância de trabalho e descanso que organizava o tempo levando em consideração a quantidade de dias, semanas, meses e anos de treinamento. Para esse autor, o volume de treino deveria ser inversamente proporcional à intensidade, e o treinamento específico deve basear- se em uma ampla preparação geral. Matveev (1986) propôs então períodos bem definidos (fases preparatória, competitiva e de transição). O autor afirmava que as cargas deveriam ser organizadas por complexidade, envolvendo diversas capacidades em uma sessão, e paralelas, envolvendo diversas capacidades por período (BENTO; MARQUES, 1992). Os modelos tradicionais de periodização para saúde e desempenho são baseados nessas antigas hipóteses. De modo amplo, o modelo que se aplica hoje em dia é o mesmo proposto inicialmente por Matvee, compostos por três níveis de ciclos, micro, meso e macro. O microciclo é o menor dos três níveis de treinamento. Por exemplo, se considerarmos um microciclo semanal de 2 unidades por dia, temos 14 unidades de microciclo, a unidade de treinamento é responsável pelo equilíbrio ideal de estimulação e recuperação, e também visa o aproveitamento ideal do sistema energético. Tabela 1 – Exemplo de um microciclo de uma semana com uma sessão por dia Em contraste, o mesociclo consiste em pelo menos dois microciclos. É a associação dos microciclos com alvos bem definidos, essencial para controlar os efeitos cumulativos dos microciclos, novamente em direção à relação máxima entre estimulação e recuperação. Tabela 2 – Exemplo de Mesociclo com duas semanas de duração Enquanto o macrociclo representa uma estrutura de ciclos de treinamento. Ele pode durar um semestre, um ano ou vários anos. O macrociclo permite uma preparação técnica e de desempenho que leva em consideração calendários competitivos ou objetivos a longo prazo, e pode ser dividido como preparatório, competitivo e de transição. Tabela 3 – Exemplo de Macrociclo Essencialmente, percebe-se que deve haver uma organização estimulante para melhorar o desempenho ou a saúde, com variações entre estética e qualidade de vida. Ou seja, o treinamento físico é essencialmente regulado pela relação entre os estímulos: carga e repouso. De acordo com Matveev (1986), o modelo ideal de periodização deve seguir um padrão ondulatório entre estímulos de intensidade e volume. Em contraponto, Verkhoshanski (1983) defende uma periodização modulada em blocos, ou seja, com cargas concentradas e salto compensatório na sequência. A principal característica deste autor é distinguir o estágio geral do estágio específico para aquisição de habilidades. Assim, deve-se criar uma habilidade geral básica, depois passar para habilidades e desempenhos mais específicos, como força geral de membros inferiores e resistência muscular, seguidos de treinamento de força, construir força e pulso horizontal no exercício de salto em distância. Mais recentemente foi proposto uma periodização para modalidades de esporte coletivos, qual a periodização proposta ocorrem as fases de modo sequencial, se adaptando ao modelo competitivo de longo período (BOMPA, 2012). Nos últimos anos, as pesquisas literárias da área apresentaram novas publicações de estudos que aplicaram, avaliaram e desenvolveram novos métodos de treinamento. Podemos destacar, nesse sentido, os estudos com populações especiais, principalmente, aqueles com foco nos aspectos de saúde da população idosa, para pessoa com deficiência, gestantes, crianças e portadores de doenças crônicas não transmissíveis, entre outros. Isso demonstra um grande avanço nos conhecimentos da área e sobre os benefícios do treinamento físico. Outro aspecto importante a destacar é que, se o treinamento físico para rendimento e performance atlética possui restrições ou variáveis determinadas por campeonatos ou apresentações, então o treinamento físico relacionado à saúde deve possuir restrições diretamente relacionadas aos objetivos pessoais do indivíduo. Portanto, as datas de campeonatos e apresentações que determinarão o plano de treinamento para o máximo desempenho coincidem com essas datas, podendo haver vários campeonatos em um mesmo ciclo de treinamento. Para o condicionamento físico geral, o planejamento é baseado em metas ou objetivos individuais, que quase sempre é o único momento de exercício máximo para atingir essas metas. Ou seja, para o primeiro tipo de treinamento seremos mais influenciados pelas condições externas, como campeonatos, enquanto para o segundo levaremos em consideração as condições internas, metas pessoais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBANTI, V. J. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2. ed. São Paulo: Blucher, 1997. BENTO, J.; MARQUES, A. (ed.). A ciência do desporto, a cultura e o homem. Porto: Universidade do Porto, 1992. BOMPA, T. O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 5. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2012. FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. MATVEEV, L. P. Fundamentos do treino desportivo. Lisboa: Livros Horizontes, 1986. RAMOS, J. J. Exercício físico na história e na arte: do homem primitivo aos nossos dias. São Paulo: IBRASA, 1983. SILVA, F. M. Planejamento e periodização do treinamento desportivo: mudanças e perspectivas. In: SILVA, F. M. Treinamento desportivo: reflexões e experiências. João Pessoa: Editora Universitária, 1998. SOUZA, J. M. C. Atividade física na idade média: bravura e lealdade acima de tudo. Revista de Educação Física - Centro de Capacitação Física do Exército, n. 131, 2005. TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. 3. ed. São Paulo: IBRASA, 1984. VERKHOSHANSKY, I. V. Princípios de entrenamiento para atletas de élite. Revista Stadium, n. 99, p. 3-8, 1983. WEINECK, J. Treinamento ideal. 9. ed. Barueri: Manole, 1999. 1 TREINAMENTO FÍSICO: UMA LINHA DO TEMPO 1.1 Treinamento físico para saúde e desempenho