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COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar os tipos de conflitos que podem afetar as organizações. > Definir estratégias para solução de crises de imagem nas organizações. > Reconhecer pontos do planejamento estratégico que podem auxiliar na prevenção de crises. Introdução O conflito é uma realidade inescapável nas organizações contemporâneas, que se manifesta de várias formas e em diferentes níveis, impactando significativamente o ambiente de trabalho e as relações entre os indivíduos. A compreensão desse fenômeno, portanto, é fundamental para uma gestão eficaz das relações e da dinâmica organizacional. Alguns gestores tendem a evitar conflitos ou a fazer concessões para manter a harmonia e escapar de confrontações que os deixem desconfortáveis. Por outro lado, há aqueles que preferem estratégias de comprometimento e imposição, refletindo uma forte necessidade de alcançar resultados e exercer controle sobre o ambiente. Neste capítulo, você vai ler sobre os diferentes tipos de conflitos e como eles se manifestam nas organizações. Você também vai conhecer estratégias para solucionar conflitos organizacionais e aprender como prevenir as crises adotando princípios do planejamento estratégico na negociação integrativa. Gestão de crises nas organizações Flávia Monaco Vieira Conflitos organizacionais O conflito é um fenômeno intrínseco às dinâmicas de interação humana e desempenha, portanto, um papel central na forma como as empresas operam. Ele pode se manifestar de diversas maneiras nas organizações, resultando de incompatibilidades de objetivos, divergências nas interpretações de fatos, expectativas comportamentais discordantes e disputas por recursos, entre outros fatores. Segundo Robbins e Judge (2020), o conflito pode ser definido como um processo que tem início quando alguém percebe que outra parte afeta ou pode vir a afetar negativamente algo considerado importante. É nesse mo- mento que a interação entre as partes ultrapassa os limites e se transforma em discordância. Em uníssono, Newstrom (2008) afirma que o conflito é um processo interpessoal decorrente de divergências relacionadas às metas a serem alcançadas ou aos métodos empregados para alcançá-las. Além disso, os conflitos podem surgir devido a fatores como interdependência de tarefas, ambiguidade nos papéis, políticas e normas, diferenças de personalidade, comunicação deficiente, competição por recursos limitados, estresse pessoal e divergências em relação a atitudes, crenças e experiências. Em uma organização, o conflito pode ter tanto consequências ne- gativas quanto positivas. Entre as negativas, estão o uso de tempo improdutivo, menos compartilhamento de informações, aumento do estresse e da rotatividade, entre outros. No entanto, o conflito também pode ter aspectos positivos, como melhorar a tomada de decisões, promover a adaptabilidade às mudanças ambientais e fortalecer a coesão da equipe em face de desafios externos. Portanto, é importante reconhecer que, quando gerenciado ade- quadamente, o conflito pode contribuir para o desenvolvimento e o sucesso organizacionais (McShane; Glinow, 2014). Quanto aos níveis de conflitos, eles podem ocorrer no interior de um indivíduo, entre pessoas ou grupos, e até mesmo entre organizações con- correntes. Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (2000) destacam quatro tipos de conflitos no ambiente de trabalho: Gestão de crises nas organizações2 1. intrapessoal; 2. interpessoal; 3. intergrupal; 4. interorganizacional. Embora a maioria dos conflitos de papéis ocorra quando os supervisores ou colegas de um funcionário lhe transmitem expectativas conflitantes, é importante reconhecer que também pode haver conflitos associados ao papel intrapessoal do indivíduo. O conflito intrapessoal ocorre quando uma pessoa se encontra em conflito consigo mesma devido à adoção de papéis que entram em contradição. Isso acontece, por exemplo, quando um colabo- rador com cargo de gestor se vê dividido entre seu papel de líder da equipe, responsável por proteger e expandir recursos, e seu papel como membro do grupo executivo, que deve reduzir custos operacionais (Newstrom, 2008). Já os conflitos interpessoais representam uma questão complexa nas organizações, com potencial de afetar profundamente as emoções das pessoas envolvidas. Esses conflitos ocorrem porque as pessoas têm uma necessidade inata de preservar sua autoimagem e autoestima, e qualquer ameaça a esses aspectos pode resultar em sérias decepções e deterioração das relações interpessoais (Newstrom, 2008). Os conflitos interpessoais podem ter diversos estopins, incluindo in- compatibilidades de temperamento, colisão de personalidades e falhas na comunicação, bem como diferenças nas percepções entre os envolvidos. Considere, por exemplo, um funcionário que entra em conflito com alguém de outro departamento devido a mal-entendidos ou diferenças de perspectiva. Ele acredita que não há como resolver o conflito, mas um conselheiro conversa com ele sobre os diferentes papéis organizacionais dos colaboradores, sob o ponto de vista da organização como um todo. Assim, sua percepção modifica e o conflito desaparece (Newstrom, 2008). Outro tipo de conflito organizacional são os conflitos intergrupais, que ocorrem entre diferentes grupos dentro da organização, como departamentos distintos. Eles são semelhantes a disputas entre gangues, em que cada grupo busca ganhar poder e melhorar sua reputação à custa do outro. As causas desses conflitos são diversas e incluem diferentes pontos de vista, lealdades grupais e competição por recursos escassos. A escassez de recursos é uma realidade em todas as organizações, e a competição por esses recursos é cada vez mais acirrada à medida que as organizações buscam se manter competitivas. Por exemplo, o departamento de produção pode querer investir em maquinário novo, enquanto o departamento de vendas deseja contratar Gestão de crises nas organizações 3 mais vendedores. Como os recursos são limitados, os grupos competem por sua parcela (Newstrom, 2008). Por fim, o conflito interorganizacional é frequentemente associado à concorrência e rivalidade entre empresas que operam nos mesmos mercados. No entanto, esse conflito transcende a mera competição de mercado, abran- gendo questões complexas relacionadas aos interesses e direitos dos tra- balhadores, bem como às estratégias e aos objetivos das corporações. Um exemplo que ilustra essa perspectiva mais abrangente é a resolução criativa de conflitos entre empresas e seus sindicatos (Schermerhorn Jr.; Hunt; Osborn, 2000). Existem, ainda, outros tipos de conflitos, como o intragrupal, que ocorre dentro de um grupo ou equipe. Segundo Robbins e Judge (2020), os estudos sobre conflitos de tarefas (quando membros do grupo dis- cordam sobre a execução de tarefas específicas), conflito de relacionamentos (desentendimentos e tensões interpessoais entre membros do grupo) e conflito de processos (divergência na forma como o grupo opera) analisam o conflito intragrupal, já que grupos normalmente só existem para realizar uma tarefa específica. Os conflitos nas organizações podem se manifestar de várias formas, entre indivíduos (conflito interpessoais), dentro de uma equipe (conflito intragru- pais), entre departamentos diferentes (conflito intergrupais) e até mesmo em nível mais amplo, envolvendo questões estratégicas, políticas e culturais das organizações (conflito organizacional). Na próxima seção, você verá as estratégias utilizadas na gestão de conflitos para lidar com esses problemas. Estratégias para solução de conflitos Para abordar eficazmente os conflitos, é essencial compreender os diferentes estilos de resolução disponíveis. Esses estilos refletem abordagens distintas para lidar com desentendimentos e podem variar desde a colaboração e ne- gociação até a competição e a evitação. McShane e Glinow (2014) descrevem cinco estilos de resolução de conflitos:Gestão de crises nas organizações4 1. resolver; 2. impor; 3. evitar; 4. ceder; 5. negociar. O estilo resolver busca uma solução de problema que satisfaça as neces- sidades e preocupações de todas as partes envolvidas. É uma abordagem colaborativa, na qual as partes trabalham juntas para encontrar um acordo mútuo. Esse estilo é eficaz quando se deseja construir relacionamentos fortes e duradouros e quando o conflito envolve questões complexas que requerem discussão e comprometimento mútuo (McShane; Glinow, 2014). Já o estilo de resolução de conflitos impor é caracterizado pela busca de uma solução que atenda principalmente aos interesses de uma das partes, sem considerar muito as necessidades das outras partes envolvidas. É uma abordagem competitiva, em que uma parte procura impor sua vontade sobre as demais. Isso pode ser eficaz em emergências ou quando uma decisão rápida é necessária, mas pode prejudicar os relacionamentos e gerar ressentimento (McShane; Glinow, 2014). No estilo de resolução de conflitos evitar, as partes simplesmente evitam ou ignoram o conflito, em vez de lidar com ele. Elas demonstram uma baixa preocupação consigo mesmas e com a outra parte, preferindo não confrontar a situação. Essa inação do problema resulta na falta de ação ou no adiamento da resolução do conflito (McShane; Glinow, 2014). Por sua vez, o estilo de resolução de conflitos ceder envolve uma das partes cedendo aos desejos ou demandas da outra parte, muitas vezes em detrimento dos próprios interesses. É uma abordagem que visa a manter a paz e a evitar confrontos, mas pode resultar em concessões excessivas e desequilíbrio nas relações (McShane; Glinow, 2014). Por fim, a negociação é um estilo de resolução de conflitos em que as partes buscam um meio-termo ou uma solução de compromisso que atenda parcialmente às necessidades de ambas as partes. É uma abordagem em que as partes fazem concessões mútuas para alcançar um acordo aceitável para ambas. A negociação é frequentemente usada em situações em que é importante chegar a um acordo e manter um relacionamento funcional entre as partes (McShane; Glinow, 2014). Veja, na Figura 1, os estilos de resolução de conflitos interpessoais. Gestão de crises nas organizações 5 Figura 1. Estilos de resolução de conflitos. Fonte: McShane e Glinow (2014, p. 205). Impor Alta AltaBaixa Baixa Resolver Negociar Evitar Ceder Afirmação (motivação para satisfazer os próprios interesses) Cooperação (motivação para satisfazer os interesses da outra parte) Na Figura 1, constam duas dimensões no comportamento de uma pessoa em situação de conflito: afirmação e cooperação. A afirmação envolve a motivação para satisfazer os próprios interesses, enquanto a cooperação envolve a motivação para satisfazer os interesses da outra parte. Essas duas dimensões de comportamento podem ser empregadas para definir as cinco modalidades específicas para lidar com conflitos: evitar (não satisfaz qual- quer interesse), impor (satisfaz os próprios interesses em detrimento dos do outro), resolver (satisfaz os interesses de todos), ceder (satisfaz os interesses do outro em detrimento dos próprios) e negociar (satisfaz parcialmente os interesses de todos). Cada gestor tem um estilo preferido de resolução de conflitos, muitas vezes influenciado por suas características pessoais e sua abordagem diante de discordâncias. Alguns podem tender a evitar conflitos ou fazer concessões, evitando confrontações que os deixam desconfortáveis. Por outro lado, há Gestão de crises nas organizações6 aqueles que podem preferir estratégias de comprometimento e imposição, refletindo uma forte necessidade de alcançar resultados e exercer controle sobre o ambiente (McShane; Glinow, 2014). Normalmente, as pessoas se inclinam a um ou outro estilo de resolução de conflitos de acordo com suas personalidades, valores pessoais, experiências e até influências culturais. No entanto, é fundamental compreender que o estilo mais eficaz de resolução de conflitos depende da situação específica. De acordo com Newstrom (2008), os conflitos poderão produzir quatro resultados distintos, dependendo das abordagens utilizadas pelas pessoas envolvidas. Veja, na Figura 2, a representação das quatro intenções possíveis dos participantes. Figura 2. Resultados possíveis da resolução de conflitos. Fonte: Newstrom (2008, p. 256). 3 21 4 Ganha-ganha Perde-perde Ganha Ganha Resultado para o indivíduo B Re su lta do p ar a o in di ví du o A Perde Perde Ganha-perde Perde-ganha No cenário perde-perde, ambas as partes sofrem prejuízos e não conse- guem alcançar uma solução satisfatória para seus interesses. Já no cenário perde-ganha, uma das partes cede e sacrifica seus interesses em favor da outra parte, que obtém o que deseja. No cenário ganha-perde, uma das Gestão de crises nas organizações 7 partes obtém uma vantagem clara e satisfaz suas necessidades, enquanto a outra parte cede e sacrifica parte de seus interesses. Por fim, no cenário ganha-ganha, as partes conseguem encontrar uma solução que atenda às suas necessidades e preocupações, resultando em um acordo mutuamente benéfico (Newstrom, 2008). Quando uma estratégia de gestão de conflito é implementada, ela im- pacta substancialmente os resultados alcançados (perdas ou ganhos). Veja, no Quadro 1, os possíveis resultados a partir da estratégia adotada. Quadro 1. Resultados possíveis a partir da estratégia adotada Estratégia Resultado possível Evitar Perde-perde Ceder Perde-ganha Impor Ganha-perde Negociar Não há um resultado previsível Resolver Ganha-ganha Fonte: Adaptado de Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (2000). Embora cada uma das estratégias possa ser eficaz, dependendo da in- tenção (ganhar ou perder), as abordagens de fuga (evitar) e acomodação (ceder) são, em essência, úteis para evitar ou diminuir o processo de conflito. A adoção de uma estratégia de competição (impor) pode render resultados de curto prazo, mas normalmente prejudica as relações pessoais entre as partes envolvidas. Optar pela abordagem de negociação pode ser vantajoso se o objetivo for resolver o conflito a um baixo custo, mas pode limitar a criatividade (Newstrom, 2008). Apenas a estratégia de colaboração pode ser considerada uma aborda- gem de resolução de conflitos, pois é a única que lida de forma efetiva com as diferenças fundamentais e eventualmente as supera por meio de uma resolução criativa de problemas. Essa abordagem oferece benefícios subs- tanciais em termos de comportamento, como a criação de metas comuns, flexibilidade nas posições e a clareza das forças e fraquezas de cada parte envolvida (Newstrom, 2008). Gestão de crises nas organizações8 Várias pesquisas têm se debruçado em descobrir quais tipos de comportamentos podem facilitar a resolução de conflitos da maneira ganha-ganha. Com frequência, padrões básicos demonstraram eficácia nesse contexto. Primeiramente, a escolha de um local neutro para a negociação é fundamental, pois isso ajuda a criar um ambiente onde todas as partes se sintam à vontade. Dispor os assentos de forma confortável e impedir a presença de observadores externos pode ser benéfico. Além disso, estabelecer prazos pode contribuir para forçar uma resolução, incentivando as partes a trabalharem de forma eficaz e evitando prolongar desnecessariamente o conflito (Newstrom, 2008). Os negociadores individuais devem evitar acusações e atribuições de culpa, concentrando-se nas questões em discussão em vez de personalidades. Separar os fatos dos sentimentos ajuda a manter a objetividade. Além disso, buscar áreas nas quais seja possível obter concessões sobre tópicos importantes, ao mesmo tempo que se faz concessões em áreas de interesse menor, é uma estratégia eficaz para construir acordos mutuamente benéficos (McShane; Glinow, 2014). A capacidade de gerenciar conflitos de maneira integrativa é uma habilidade fundamental nas interações pessoais e profissionais,permitindo relaciona- mentos mais saudáveis e resultados mais positivos. Os diferentes estilos de resolução de conflitos podem variar de competição a colaboração, além influenciar os resultados. Na próxima seção, você verá como as organizações podem utilizar a negociação integrativa como uma ferramenta estratégica a fim de evitar crises e conflitos significativos. Prevenção de crises por meio da negociação integrativa A negociação integrativa é quando a organização tenta encontrar soluções que sejam boas para todos, em vez de fomentar competições, em que alguém ganha e alguém perde. Robbins e Judge (2020, p. 535) afirmam que “a negociação integrativa opera sob a premissa de que há um ou mais acordos capazes de levar a uma solução ganha-ganha”. Gestão de crises nas organizações 9 De acordo com Lewicki, Saunders e Barry (2014), há quatro principais etapas do processo da negociação integrativa: 1. identificar e definir o problema; 2. entender o problema e trazer os interesses e necessidades das partes à tona; 3. gerar soluções alternativas para o problema; 4. avaliar essas alternativas e selecionar as melhores. A primeira etapa consiste na identificação clara do problema a ser resol- vido. Normalmente, é a etapa mais desafiadora, sobretudo em negociações envolvendo muitas partes. Considere o seguinte exemplo. Uma empresa de eletrônicos tinha problemas com peças defeituosas durante a produção. Isso causava retrabalho e disputas entre os departamentos. Eles resolveram a situação combinando que o departamento de finalização ajudaria a consertar os defeitos durante períodos mais tranquilos e que alguns funcionários seriam transferidos temporariamente para aprender sobre os processos e evitar futuros problemas. Isso evitou conflitos e melhorou a eficiência (Lewicki; Saunders; Barry, 2014). De acordo com Lewicki, Saunders e Barry (2014), é necessário observar os seguintes aspectos ao definir o problema em uma negociação integrativa. � Defina o problema de forma conjunta: é importante que todas as partes envolvidas concordem com a definição do problema. As necessidades e prioridades de cada parte devem ser levadas em consideração. � Defina o problema visando à praticidade e à compreensão: é crucial manter o foco no problema central que está sendo resolvido, então distrações ou discussões que não contribuam diretamente para a solução desse problema devem ser evitadas. � Defina o problema como uma meta e identifique os obstáculos para realizá-la: em vez de se concentrar em como as soluções serão alcan- çadas, defina o problema como uma meta específica a ser atingida. Em seguida, identifique os obstáculos que precisam ser superados para alcançar essa meta. Gestão de crises nas organizações10 � Despersonalize o problema: durante conflitos, é comum que as partes envolvidas critiquem as ações e posições umas das outras, o que pode prejudicar a clareza de pensamento e a neutralidade. É importante evitar que o problema se torne pessoal, desvinculando-o das perso- nalidades e preferências individuais. Em vez de dizer “você está errado, eu estou certo”, é mais eficaz dizer “temos opiniões diferentes sobre este problema”. � Separe a definição do problema da busca por soluções: é preciso definir o problema por completo, sem tirar conclusões precipitadas. Na segunda etapa, os negociadores se concentram em entender o pro- blema, com atividades que envolvem identificar os interesses, as necessi- dades e as preocupações de todas as partes envolvidas. Os interesses são os motivos por trás das posições de cada parte e podem ser tangíveis ou intangíveis. Esses interesses podem ser classificados nos seguintes tipos principais (Lewicki; Saunders; Barry, 2014). � Interesses substantivos: são os interesses relacionados ao conteúdo específico do problema em questão. Eles se referem a coisas tangíveis, como recursos, dinheiro, prazos, produtos ou serviços. � Interesses processuais: estão relacionados à forma como o processo de negociação é conduzido. Envolve preocupações com procedimentos, prazos, comunicação e a maneira como as decisões são tomadas. � Interesses de relacionamento: dizem respeito à manutenção ou me- lhoria das relações entre as partes envolvidas na negociação. Um relacionamento de confiança e cooperação pode ser um interesse fundamental, pois contribui para futuras interações comerciais. � Interesses baseados em princípios: alguns interesses são fundamen- tados em valores, ética e princípios. Eles podem incluir questões de integridade, responsabilidade social, sustentabilidade e conformidade com normas éticas. Com um entendimento claro dos interesses e necessidades, as partes começam a gerar soluções alternativas para o problema. Essa etapa é a fase criativa da negociação integrativa, que tem por objetivo criar uma lista de opções ou soluções possíveis para o problema, visando atender às necessi- dades de todas as partes envolvidas. Gestão de crises nas organizações 11 Lewicki, Saunders e Barry (2014) discutem duas abordagens para a geração de ideias alternativas na resolução de problemas de negociação. A primeira abordagem envolve a geração de opções para o problema conforme original- mente apresentado, enquanto a segunda envolve a redefinição do problema antes de gerar opções. Embora a identificação de opções ocasionalmente resulte em so- luções, é importante destacar que, em geral, alcançar respostas demanda um esforço considerável e depende de uma série de processos in- terligados. Esses processos envolvem a troca de informações e a ênfase nos interesses em vez de nas posições, priorizando-os em detrimento da flexibilidade. A troca de informações visa a maximizar o conhecimento disponível, enquanto o foco nos interesses expande as possibilidades de ir além das exigências para determinar o que de fato as partes desejam. A flexibilidade reconhece que os negociadores têm interesses fundamentais, mas muitas posições e questões secundárias podem ser discutidas. Portanto, os negociadores devem ser capazes de indicar quais posições são inflexíveis e quais podem ser ajustadas durante a negociação (Lewicki; Saunders; Barry, 2014). Como última etapa, as partes devem avaliar as soluções alternativas geradas na etapa anterior. Para isso, elas consideram os benefícios, os cus- tos, a viabilidade e o impacto de cada alternativa. O objetivo é selecionar as melhores opções, que maximizem o valor para todas as partes. Isso pode envolver negociações adicionais e ajustes nas propostas. Lewicki, Saunders e Barry (2014) destacam a necessidade de os negocia- dores ponderarem suas opções com base em critérios claros e em ordem de importância. Se as opções parecerem inadequadas ou inaceitáveis, isso pode indicar que o problema não foi adequadamente definido ou que os padrões estabelecidos anteriormente não são razoáveis, relevantes ou realistas. Também é necessário tomar decisões considerando as opções prefe- ridas por cada negociador e chegando a um consenso sobre as melhores alternativas. Para facilitar esse processo, o negociador pode seguir algumas orientações, como a avaliação das soluções com base na qualidade e na acei- tabilidade, a concordância prévia com critérios de avaliação, a consideração dos fatores intangíveis, a utilização de subgrupos para opções complexas, a importância de pausas, a exploração da troca de favores e a manutenção da natureza condicional das decisões até a conclusão de todos os aspectos Gestão de crises nas organizações12 da proposta. Além disso, recomenda-se minimizar formalidades e registros escritos até que um acordo final seja alcançado (Lewicki; Saunders; Barry, 2014). É importante destacar que as três primeiras etapas do processo de negociação integrativa são focadas na criação de valor, em que as partes trabalham juntas para encontrar soluções que atendam aos interesses de ambas. A última etapa, a avaliação e seleção de alternativas, pode envolver a reivindicação devalor, em que as partes negociam sobre como a distribuição desse valor será feita (Lewicki; Saunders; Barry, 2014). Em resumo, compreender os diferentes níveis e tipos de conflitos, junto com a capacidade de aplicar estratégias de resolução adequadas, é essen- cial para criar um ambiente organizacional saudável e produtivo, onde os conflitos são tratados de maneira construtiva. Além disso, a prevenção de crises por meio da aplicação de princípios do planejamento estratégico na negociação integrativa pode ajudar as organizações a antecipar e evitar conflitos prejudiciais. Referências LEWICKI, R. J.; SAUNDERS, D. M.; BARRY, B. Fundamentos de negociação. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. MCSHANE, S. L.; GLINOW, M. A. Comportamento organizacional: conhecimento emergente, realidade global. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. NEWSTROM, J. W. Comportamento organizacional: o comportamento humano no tra- balho. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2008. ROBBINS, S. P.; JUDGE, T. A. Comportamento organizacional. 18. ed. São Paulo: Pearson, 2020. SCHERMERHORN JR., J. R.; HUNT, J. G.; OSBORN, R. N. Fundamentos de comportamento organizacional. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2000. Gestão de crises nas organizações 13
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