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Professor Especialista William Máximo BEBIDAS E HARMONIZAÇÕES REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos Hugo Batalhoti Morangueira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP M464b Maximo, Willian Bebidas e harmonizações / Willian Maximo. Paranavaí: EduFatecie, 2023. 1014 p. : il. Color. 1. Bebidas alcoólicas. 2. Vinho. 3. Harmonização de alimentos e cervejas . 4. Cachaça – Degustação. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 663 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock . 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 AUTOR Professor Especialista Willian Maximo. INFORMAÇÕES RELEVANTES: ● Bacharel em Direito pela UNIMAR (Universidade de Marília). ● Especialista em Gestão de Segurança Alimentar pelo SENAC (Curitiba). ● Formado em Chefe de Cozinha Internacional pelo SENAC Campus Universitário Águas de São Pedro. São Paulo. ● Especialista em vinhos formado pela Wine & Spirit Education Trust (Londres). ● Especialista em Destilados formado pela Wine & Spirit Education Trust (Londres). ● Professor de Enogastronomia do curso de Gastronomia EAD da UNICESUMAR (Universidade de Maringá). ● Professor de Enogastronomia da Pós em Eventos da UNICESUMAR (Universidade de Maringá). ● Professor de Enogastronomia do curso de Gastronomia EAD da Universidade Católica de Marília. ● Professor de Enogastronomia do curso de Gastronomia EAD da UNIMAR (Universidade de Marília). ● Link do Currículo na Plataforma: http://lattes.cnpq.br/0259659107625650 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), O material tem por objetivo tratar da contextualização das mais importantes bebidas conhecidas no âmbito mundial; o vinho, a cerveja, os destilados e os chás, que fazem parte do nosso cotidiano há muito tempo. Este livro traz informações sobre a evolução destas bebidas e consequentemente a influência que exercem no dia a dia das pessoas, quando consumidas sozinhas ou acompanhadas de preparações gastronômicas que quando bem combinadas vão elevar a percepção dos aromas e sabores tanto da bebida (vinho, cerveja, destilado e chás) quanto da comida sugerida para o momento. Esse ato chamamos de conceito enogastronômico, hoje tão difundido comercialmente. Assim, o conteúdo apresentado busca oferecer ao aluno de gastronomia conceitos fundamentais destes assuntos para que possa utilizar de forma prática em sua vida profissional. O vinho é uma bebida milenar consumida em diversas regiões do mundo e hoje em dia vem ganhando cada vez mais destaque, sua presença em restaurantes, lojas de vinho, enotecas, supermercados e similares, tem aumentado gradativamente, tanto no âmbito mundial como nacional. Cada vez mais as pessoas querem provar, consumir e conhecer sobre o vinho. Uma parte do material é destinada ao mundo das cervejas, onde apresento uma breve história da sua evolução, aprimoramento na produção através dos tempos, influência dos monges na sua fabricação, controle de qualidade e quais os principais tipos e estilos usualmente mais consumidos no âmbito mundial. Os destilados são destacados nos últimos capítulos do material, tratando da sua origem, evolução e a forma de produção usual para alguns dos mais conhecidos destilados. Também é abordada uma visão geral sobre alguns tipos mais conhecidos e consumidos. Por fim, os Chás e infusões encerram nossa jornada por esse mundo maravilhoso de aromas e sabores. Conhecer as origens e principais preparações desta bebida, ajudará o aluno a entender o seu contexto e cultura mundial. Dessa maneira, a disciplina de enogastronomia traz um panorama das bebidas que mais se destacam no âmbito mundial e também seus estilos e variedades, o que contribui em muito para o conhecimento do aluno em sua área de atuação. 5 UNIDADE 4 Cachaça e Outras Bebidas Cerveja e seus Estilos UNIDADE 3 Degustar e Harmonizar UNIDADE 2 Vinho e seu Desenvolvimento UNIDADE 1 SUMÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Origem do vinho, evolução e terroir; • Principais uvas brancas e tintas; • Como são produzidos os vinhos; • Espumantes e suas borbulhas. Objetivos da Aprendizagem • Compreender o contexto histórico do vinho; • Identificar as principais uvas brancas e tintas; • Entender como são produzidos os vinhos e espumantes. Professor Especialista Willian Maximo VINHO E SEU VINHO E SEU DESENVOLVIMENTODESENVOLVIMENTO1UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO 7 Nessa unidade apresento algumas lendase verdades sobre a origem dos vinhos, além de discorrer sobre a forma que esta bebida ganhou o mundo e foi implantada em vários países e nações através das conquistas de grandes impérios, além disso, vamos observar a importância da ciência na compreensão da fermentação alcoólica, fato que ocorreu quase ao mesmo tempo em que uma das mais terríveis pragas atacou as videiras do velho mundo (Europa). Apresento a transformação que o comércio de vinhos sofreu a partir da década de 70, com a entrada do novo que passou a concorrer com os famosos produtores do velho mundo que até então possuía a supremacia no comércio de vinhos de qualidade. Vamos estudar os fatores humanos e naturais que influenciam na produção do vi- nho, nessa unidade apresento o conceito de Terroir e todos os elementos que ele engloba, tornando possível compreender porque os vinhos têm tipos, estilos e diferentes qualidades além de preços variados. Todas as interferências dos fatores naturais como plantio, manejo do campo e colheita definem a personalidade de um vinho. Também existem os fatores de interferência humana que ocorrem mais drasticamente durante os processos de produção da bebida e que vão determinar em muito a personalidade do vinho que está sendo elabo- rado. Com o conhecimento destes elementos o aluno pode entender o que define qualidade e preço no comércio desta bebida. Outro fator importante é a existência de várias espécies de uvas e, dentre estas espécies, outros milhares de tipos, mas não precisa se preocupar, pois para a produção de vinho de qualidade, apenas uma espécie é a indicada. Aqui vamos tratar dessa espécie e os tipos que compõem sua família, abordando principalmente suas características e onde melhor se adaptam. Vou apresentar essa espécie e os principais tipos que ela compreende, dividindo o assunto em uvas brancas e uvas tintas. Será abordado também a produção do vinho e cada processo na sua devida se- quência, desde o momento em que as uvas chegam à vinícola até o seu envase, cada ponto será tratado de uma forma que você conseguirá vislumbrar as suas nuances, tendo como ponto alto a junção de todos em um sistema que irá trazer o entendimento correto da vinificação. Veremos de forma distinta os processos de vinificação. E por fim vamos falar dos espumantes e contar da sua origem e do seu desenvolvi- mento na sociedade. Conhecer algumas diferenças e principalmente seus dois métodos de produção que serão apresentados, desta forma ficará muito mais fácil entender os estilos e qualidades assim como as diferenças de preços que encontramos de garrafa para garrafa. UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO ORIGEM DO VINHO, EVOLUÇÃO E TERROIR1 TÓPICO 8 Para falar de vinho precisamos pensar em suas origens e estas estão ligadas a muitas lendas e histórias, que são contadas há muito tempo. Quando pensamos em quando surgiu o vinho, temos que remontar a mais de 8.000 anos, por isso ele é ou está entre as bebidas alcoólicas mais antigas do mundo. Mas onde surgiu o vinho? Bom, existem algumas lendas que ajudam a preencher o imaginário do leitor e essas duas são as mais conhecidas, mas quanto a veracidade não existe comprovação científica, então como o próprio nome já define, vamos pensar nelas como lendas contadas através dos tempos. Uma coisa é certa: as duas versões atribuem o surgimento do vinho ao acaso. A primeira conta que um pastor de ovelhas, sempre levava seu rebanho para pastar em um local distante de sua casa, assim transportava uvas em uma bolsa de couro para que pudesse se alimentar. Ocorre que um certo dia que estava muito quente, as uvas acabaram rompendo a casca e o líquido vazou dentro da bolsa, devido ao calor iniciou-se uma fermentação espontânea e dessa forma quando ele provou aquele líquido percebeu um cheiro forte que exalava da bolsa, curioso provou e para sua surpresa percebeu que era saboroso, assim teria surgido o primeiro vinho. Outra história que é muito conhecida, é a de um rei persa chamado Jamshid que possuía um harém em seu castelo e tinha várias esposas vivendo neste local. Todos os dias os serviçais do castelo levavam grandes jarros cheios de uva para as mulheres se ali- mentarem, mas ocorreu que um dia um dos jarros começou a exalar um cheiro muito forte e todos acreditaram que ele estava envenenado. Sabendo disso, uma das esposas que UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO 9UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO estava triste e infeliz resolveu provar do jarro envenenado com o intuito de tirar a própria vida. Depois de consumir o líquido ela ficou mais ativa e feliz, dançou por um bom tempo e depois de tanta agitação caiu em um profundo sono, acordando mais tarde restaurada. O que parecia ser veneno devido ao odor pronunciado era, na verdade, o gás carbônico liberado durante o processo de fermentação alcoólica, dessa maneira a jovem esposa teria consumido um tipo de vinho que se formou acidentalmente. Lendas à parte, a ciência data de forma aproximada a origem do vinho através da arqueologia, mas sabemos que fatos históricos sempre são atualizados com novas descobertas. Assim, o que temos de informação mais precisa e recente nos dias atuais é que os primeiros traços de cultivo e vinificação foram encontrados a mais de 6000 a.C. em uma região situada entre o Mar negro e o Mar Cáspio chamada de Cáucaso, onde está atualmente localizada a Geórgia (Essa região pertencia a antiga Rússia até a sua independência em 1991). Nesse país foram encontrados vestígios de um antigo centro de armazenamento de vinhos onde provavelmente estocavam todo o vinho que era produzido com uvas cultivadas da região. O Império grego foi um dos primeiros a desenvolver a produção de vinhos e também a realizar o seu comércio com outras nações, mas além de produzir esse povo auxiliou em muito a expansão da viticultura e da vinificação através de suas conquistas territoriais, pois quando os soldados gregos partiam para jornadas para conquistar outros povos, levavam o vinho como fonte de hidratação e alimento. Água não era possível transportar por grandes distâncias, pois se tornava insalubre, então o vinho era o líquido que poderia ser transporta- do sem estragar e, além disso, os soldados gregos quando chegavam em outros locais não sabiam se a água ali encontrada estava contaminada e imprópria para o consumo. Não apenas levava o vinho em suas jornadas, mas quando conquistavam novas regiões ensinavam os locais a cultivar a videira e a produzir seu próprio vinho, dessa ma- neira essa bebida ganhou outros territórios através das conquistas dos grandes impérios. Os gregos quando entraram pelo sul da região onde hoje é a Itália, chamaram aquele local de Enotria (terra das videiras conduzidas) fazendo alusão às técnicas de plantio que utilizavam para a condução das videiras e assim transformaram o local em um grande centro de cultivo e produção aplicando suas técnicas de vinificação, posteriormente partiram em direção ao norte e dessa forma toda a Itália recebeu a influência da cultura vinícola dos gregos, mais tarde houve o declínio do império grego abrindo espaço para um novo ciclo com o povo que vivia na região da atual Itália. 10UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO Os romanos sucederam os gregos, mas com esses aprenderam a dominar o plan- tio, cultivo e também a forma de se fazer vinho. Com o crescimento deste novo império passaram a conquistar terras além de suas fronteiras e desbravaram regiões onde hoje temos a França, Espanha e Portugal e dessa forma o mapa do crescimento da vitivinicultura foi desenhado nos tempos antigos ajudando a estabelecer as grandes produções vinícolas que encontramos na atualidade em alguns países famosos por seus vinhos. Durante a Idade Média, os monges e sacerdotes contribuíram em muito para a evolução das técnicas de plantio e cultivo das uvas e com esses novos conceitos de pro- dução de vinhos, os monges Cisterciensesforam decisivos para a melhoria na qualidade dos mais famosos locais produtores de vinho, regiões como Bordeaux e Bourgogne tiveram seu desenvolvimento graças aos monges que por vários séculos cuidaram da vitivinicultura destas regiões. Já no início do século XIX, a produção mundial de vinhos havia se tornado grande e as fronteiras do vinho já estavam definidas, nessa época o destaque estava com os países do velho mundo com suas regiões estabelecidas, conhecidas do público mundial e autossuficientes na produção, assim os estilos de vinhos já haviam conquistado seu espaço no comércio e vários rótulos conquistaram notoriedade e respeito mundial. Também durante essa época os produtores passaram a compreender os processos de fermentação e as reações químicas ocorridas durante a produção do vinho, pois até esse momento não sabiam exatamente como funcionava estas etapas, mas graças ao descobrimento feito por Louis Pasteur, a fermentação pode ser entendida e o processo de vinificação deu um grande salto rumo ao futuro. Com isso os produtores puderam compreender e controlar com mais eficácia todas as etapas da produção do vinho e principalmente um dos momentos mais cruciais do processo, a fase da fermentação alcoólica. Apesar de toda evolução e desenvolvimento da indústria, houve um momento de retrocesso devido a uma praga levada do continente americano para o europeu. Essa praga agrícola é chamada de Filoxera Vastatrix e trata-se de um pulgão que atacou as raízes das videiras europeias em meados do século XIX e quase dizimou completamente a produção de vinhos no continente europeu, causando prejuízos incalculáveis para os produtores, um dos países que mais sofreu com seu ataque foi a França que na época teve a sua economia afetada pelo declínio do comércio de vinhos devido à Filoxera. Até hoje, a única maneira de controlar a praga é enxertar as videiras europeias nas raízes das videiras americanas, pois estas são resistentes à praga. 11UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO Após toda essa turbulência, a vitivinicultura adentrou o século XX e teve o seu maior desenvolvimento depois da década de 60, onde novos conceitos e técnicas de produção passaram a ser adotados e o controle sanitário também se fez mais rigoroso, beneficiando assim o comércio e a distribuição de vinhos. Países como a França, por exemplo, tiveram suas áreas de produção aclamadas pelos consumidores de vinhos de todas as partes do mundo e muitos de seus produtores viram seus vinhos serem avaliados a preços astronômicos. Ao mesmo tempo a Itália, modificou suas ações na produção e uma nova corrente de jovens produtores surgida na década de 70 alterou os velhos hábitos na produção de vinhos, tiveram muita resistência por parte dos produtores tradicionais, mas ao final vence- ram a batalha e um novo conceito de produção de vinhos se instalou no país. Já no Novo Mundo os vinhos ganharam destaque no final da década de 70 através de um evento que foi um divisor de águas para a qualidade dos vinhos vindos de países como Estados Unidos, Chile, Nova Zelândia e Austrália, esse evento denominado Julga- mento de Paris, realizou uma degustação às cegas (onde os provadores dos vinhos não sabem de que produtor é o vinho que estão provando e assim podem avaliar de forma im- parcial) em que os vinhos da Califórnia foram melhor avaliados que os vinhos de Bordeaux e Bourgogne na França. Detalhe: todos os jurados que participaram deste julgamento eram franceses. Assim podemos observar de forma objetiva, todas as nuances que fizeram com que o vinho se tornasse essa bebida tão popular mundialmente e que a cada dia vê o seu consumo ganhar mais adeptos. Antes de falarmos de Terroir, vamos entender o que ele significa: Terroir, uma palavra francesa muito utilizada quando o assunto é vinho, ela não possui uma tradução exata para a língua portuguesa, mas no geral significa o conjunto de fatores que interferem diretamente no vinho definindo assim a sua característica e qualidade. Mas quais são esses fatores? São fatores naturais e humanos que agem diretamente na produção do vinho. Assim, os fatores naturais são aqueles relativos ao clima, posicionamento geográfico dos vinhedos, topografia e formação do solo que vão imprimir as características que a uva irá apresentar, tudo que ocorre desde o plantio até a colheita. Já os fatores humanos são aqueles ligados às ações do homem, desde o manejo do vinhedo (a forma que as parreiras serão plantas, os cuidados com o controle de pragas naturais, a poda e até a maneira como as uvas serão colhidas) até o momento em que o vinho já engarrafado irá para o comércio. 12UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO Dessa maneira cada elemento citado acima estabelece o Terroir do vinho que va- mos consumir, entendemos dessa forma que estes fatores criam inúmeras possibilidades e fazem com que a diversidade de aromas e sabores que encontramos dentro de uma garrafa seja enorme. Cada vinho conta uma história que só podemos conhecer provando. Fundamental para o crescimento e amadurecimento das uvas, o clima pode tanto beneficiar como prejudicar uma plantação onde tudo depende de sua variação. Os vinhedos possuem ciclo anual e produzem somente uma safra por ano, dependendo diretamente do que o clima irá lhes proporcionar. A videira necessita de calor para a produção de uvas e consequentemente para o amadurecimento do fruto, sendo assim toda uva nasce completamente ácida e com a maturação o açúcar irá se desenvolver no fruto, esse açúcar será fundamental para a reali- zação da fermentação alcoólica que irá transformar o suco da uva em vinho. Mas se o local de cultivo for muito quente as uvas não irão amadurecer de forma uniforme ou então irão desidratar e consequentemente não terão qualidade para produzir a bebida. As chuvas também são um fator primordial para o crescimento das videiras e dos frutos. Durante a formação da folhagem e surgimento dos brotos a chuva tem papel impor- tante para o bom desenvolvimento da planta, mas durante o período de amadurecimento pode ser um problema, gerando muita umidade, o que pode atrair o surgimento de pragas nos vinhedos. O Clima com características moderadas é fundamental para a vitalidade de um vinhedo. A topografia da região onde as videiras são cultivadas, age como um determinante nas temperaturas e consequente exposição solar dos vinhedos. Quanto mais alto for o local em relação ao nível do mar, mais baixa será a temperatura, tudo isso devido a uma regra básica da topografia que determina que a cada 100 metros que elevemos em relação ao nível do mar a temperatura diminui em 0,6 °C, assim em regiões produtoras muito quentes como, por exemplo, Salta, que fica no extremo Norte da Argentina, consiga produzir ótimos vinhos, pois sua temperatura declina devido à altitude. Já o solo tem influência direta no fornecimento de água e nutrientes para o de- senvolvimento das videiras. Existem diversos tipos de solo e cada uma tem a sua cota de participação no resultado final do vinho. Os melhores solos são aqueles que permitem que as raízes da videira se aprofundem por vários metros para buscar os elementos que necessitam, dessa forma lugares com a presença de pedregulhos, cascalho e calcário são muito propícios para o cultivo de uvas e para a produção de vinhos de qualidade, basta observar as regiões produtoras mais famosas do mundo e provavelmente irá encontrar solos com estas características. 13UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO Estes são os fatores que têm a ação direta do homem, pois todas as decisões tomadas pelo produtor irão determinar muito do que o vinho irá apresentar. Por exemplo: a escolha de qual uva irá cultivar no local (Malbec, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Sauvig- non Blanc, etc.), a forma que irá dispor a sua plantação adotando um sistema de fileiras ou de plantio em arbustos separados, quando vai realizar apoda das folhagens e a maneira que irá colher as uvas (de forma mecânica ou manual), sendo esses alguns dos fatores decididos pelo homem no campo. Depois da colheita vem as decisões que chamamos de cantina, onde o enólogo irá produzir o vinho decidindo a que temperatura vai deixar a fermentação alcoólica ocorrer, quanto tempo irá manter a fermentação, como irá tratar o vinho antes de engarrafar, se deixará a bebida descansar em barricas de carvalho, por quanto tempo ele permanecerá nestes recipientes antes de ser engarrafada e por fim se vai deixar ou não estas garrafas descansando na adega da vinícola por meses, ou até mesmo anos. Todas aqui citadas são as interferências humanas na fase de produção da bebida. Desta maneira tanto os fatores naturais quanto os que são decididos pelo homem constituem o Terroir, esta é a marca impressa na qualidade, aromas e sabores do vinho. PRINCIPAIS UVAS BRANCAS E TINTAS2 TÓPICO 14 Quando falamos de vinho estamos pensando em mosto (o suco com o bagaço, peles e sementes) de uva que irá passar por um processo de fermentação alcoólica para se tornar o vinho propriamente dito. Para que essa fermentação ocorra a uva precisa possuir bastante açúcar natural e consequentemente dentre as espécies de uvas a que o país está apto é a Vitis Vinífera. Essa espécie teve origem na divisa entre Europa e Ásia e seus tipos possuem nomes que geralmente vemos nas garrafas de vinho mundo afora. Ex. Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Pinot Noir (uvas tintas), Chardonnay, Sauvignon Blanc, Torron- tés, Viognier entre outras (uvas brancas). Mas podemos nos perguntar sobre as uvas (fruta) que encontramos no super- mercado ou em feiras, estas são da espécie Vitis Americana (Originárias do continente americano) possuem pouco açúcar natural o que dificulta o processo de fermentação e consequentemente a bebida obtida é um vinho sem estrutura e aguado em textura, aromas e sabores. Dessa forma então as uvas para vinificação e produção de vinho são as originárias da Euro/Ásia, neste capítulo vamos citar as mais conhecidas mundialmente, tanto pela sua fama como também pela relevância que possuem na produção de vinhos de qualidade, digamos as que são mais conhecidas e aceitas pelo gosto popular. O nome uvas brancas é uma forma de catalogá-las, pois, na verdade, não são brancas, toda uva quando nasce antes é verde e com o processo de amadurecimento eles ganham coloração, no caso das brancas elas ficam esverdeadas ou amareladas, nesta UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO 15UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO fase é o provável momento de realizar a colheita para a produção do vinho. As mais citadas uvas brancas são: Chardonnay: Podemos chamá-la de rainha das uvas brancas, devido ao fato de ser cultivada em diversos países vinícolas. Sua origem é na França na região da Bourgogne e nessa região encontra o seu melhor Terroir, seu nome é devido ao fato do início de seu cultivo ter se dado nas proximidades de um pequeno vilarejo francês chamado Chardonnay. Uma das grandes virtudes desta uva é sua capacidade de adaptação aos mais variados climas, se você plantar ela em um local onde o clima é mais frio como no norte da Itália, ela irá produzir excelentes vinhos, se cultivar na região de Mendoza na Argentina onde o clima é mais quente, essa uva também irá expressar ótima qualidade. Por esse motivo talvez ela seja uma das uvas mais cultivadas no mundo, devido a sua facilidade de adaptação ao local onde se encontra. Os aromas que a Chardonnay libera no vinho são muito característicos do clima onde ela foi colhida. Assim, em clima frio, seus vinhos irão expressar aromas de frutas brancas, cítricos, algo de herbáceo com textura mais leve. Já em clima quente, os vinhos produzidos com essa uva irão apresentar aromas de frutas tropicais como abacaxi, manga, lichia e banana e a textura do seu líquido provavelmente será mais encorpada. A Chardonnay é muito utilizada na produção de espumantes e principalmente no famoso Champagne francês. Os países vinícolas onde ela melhor expressa suas caracte- rísticas são: França, Itália, Estados Unidos, Chile, Argentina, Brasil e África do Sul. Sauvignon Blanc: Outra grande uva que também pode ser considerada como uma rainha dentre as brancas. Mas se compararmos ela com a Chardonnay iremos perceber que as características são bem distintas, pois a Sauvignon Blanc não se adapta a qualquer tipo de clima e dessa forma não é possível cultivar em qualquer região vinícola, ela precisa de climas mais frescos para conservar a sua principal característica que é a acidez refrescante apresentada em seus vinhos. O reduto dessa uva é na região do Vale do Loire (França) em dois locais dentro desta região, Sancerre e Pouilly-Fumé onde ela demonstra todo o seu potencial e os vinhos ali produzidos estão entre os mais cobiçados brancos do mundo. Em clima frio a Sauvignon Blanc traz aromas de ervas ou vegetais verdes frescos, como gramínea e aspargos, frutas como maracujá e maçã verde, além de intenso toque cítrico e com uma ótima presença mineral, já sua textura na boca geralmente é leve e muito agradável. Vinhos refrescantes e bem aromáticos são produzidos a partir desta casta (uva). 16UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO As melhores regiões e países para o seu cultivo são: Vale do Loire e Bordeaux (França), Rueda (Espanha), Casablanca e San Antonio (Chile), Vale de São Joaquim (Bra- sil), Overberg (África do Sul) e Marlborough (Nova Zelândia). Riesling: Essa é a uva querida dos grandes conhecedores de vinho e podem ter certeza que seus vinhos são ímpares. O seu berço é a Alemanha com sua maior produção na região do Mosel onde o clima frio é ideal para o seu cultivo. Regiões muito quentes não irão produzir um vinho de Riesling com qualidade, assim como a Sauvignon Blanc a acidez aqui é preponderante (climas quentes fazem a uva desenvolver mais açúcar e perder acidez). O mais interessante é que os vinhos feitos desta casta tanto podem ser secos como doces dependendo de quando é colhida e de como é fermentada, lembrando que quando falamos em doçura significa que o açúcar presente no vinho é da própria uva e não artificial. Uma região que eleva muito a qualidade desta uva é a Alsácia, na França, onde o clima mais ameno é muito propício para seu crescimento e qualidade, produzindo assim vinhos excelentes. Vale lembrar que a Alsácia já pertenceu à Alemanha e assim seus cida- dãos cultivaram a casta alemã Riesling. Outras localidades onde a Riesling apresenta boa qualidade são: Wachau (Áustria), Clare Valley e Eden Valley (Austrália). Moscatel: Existem diversas variações desta uva, e talvez uma das mais utilizadas para cultivo seja a Moscatel de Alexandria. Trata-se de uma uva de amadurecimento rápido e que concentra muito açúcar, o que possibilita a confecção de vinhos muitas vezes bem adocicados. Os gregos e os romanos foram os grandes divulgadores desta casta e talvez durante a existência destes dois impérios tenha sido uma das mais cultivadas. Hoje em dia vemos a presença muito associada a vinhos de sobremesa (aqueles que possuem doçura natural) ou então a vinhos espumantes. No Brasil a Moscatel tem um papel fundamental na indústria de produção de espumantes doces, tanto nas regiões vinícolas do Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul como também no Vale de São Francisco no Nordeste. O mercado interno nacional consome praticamente toda a produção, que representa uma grande fatia da produção de vinhos finos em volume. Assim como as uvas brancas, as tintas nascem completamente verdes, só que quando amadurecem sua casca ganha uma coloração púrpura e a polpa fica levemente esverdeada, assim fica claro que a cor do vinho tinto não vem da polpa, mas da casca da uva que irá tingir o vinho. As principais tintas são: Cabernet Sauvignon: Se a Chardonnay é considerada a rainha das uvas brancas a Cabernet é consideradaa rainha das uvas tintas, devido ao fato de ser a mais cultivada 17UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO no mundo (dentre todas as uvas Vitis Viníferas) e consequentemente a mais conhecida, até quem não é apreciador de vinhos já ouviu falar da Cabernet. Sua origem é francesa e nasceu do cruzamento natural de outras duas uvas, a Cabernet Franc (uva tinta) e a Sauvignon Blanc (uva branca), por isso seu nome é Cabernet (uva tinta) Sauvignon (uva branca). Ela possui grande capacidade de adaptação ao local onde é cultivada e sempre expressa bons resultados nos vinhos que compõem. Em climas frios não irá amadurecer muito e vai preservar alguns aromas herbáceos que podem lembrar a pimentão verde ou até aspargos, esses aromas estão presentes em uma substância chamada pirazina que se destaca quando a uva não amadurece totalmen- te. Outros aromas da Cabernet Sauvignon podem estar associados a menta devido a este tipo de clima, além disso, sabores a frutas negras e algumas especiarias são comumente encontrados nos vinhos desta casta. Quando é cultivada em clima quente, a tendência é que amadureça bastante e passe a ter aromas destacados como groselha negra, mirtilo, ameixa, sabores de frutas muito maduras e até compota. Destaca-se também a presença de aromas de fumo, tabaco entre outros. Neste tipo de clima a sua textura será mais intensa e geralmente o vinho é mais alcoólico em relação ao clima frio. Seu grande destaque está na região de Bordeaux, lá entra na composição dos grandes vinhos e suas garrafas são disputadas mundo afora, pelos apreciadores e colecio- nadores desta bebida. Em outras localidades apresentam bom desempenho como, por exemplo, na Itália, França, Espanha, Estados Unidos, Chile, Argentina, Uruguai, Brasil. África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Merlot: No ranking das uvas mais cultivadas esta casta ocupa a 2ª posição na produção mundial, isso devido a sua capacidade de adaptação aos locais onde ele é cultivado. Sempre vale lembrar que o clima irá influenciar em muito alguns dos aromas que as uvas possuem, assim como a Cabernet Sauvignon ela apresenta aromas que dependem de clima mais ameno ou mais quente. Seus aromas são variados e vão de frutas negras como ameixa e cereja negra a frutas vermelhas como morango e framboesa, o grande destaque fica por conta dos aromas florais que às vezes podem ser intensos. Vinhos feitos de Merlot tem excelente capacidade de envelhecer bem e depois de algumas décadas em garrafa vão adquirir aromas de ameixas em compota, frutas e flores secas, além de notas terrosas com aromas de cogumelos. Seu grande destaque está nos vinhos produzidos na região de Bordeaux (França) onde em companhia de sua parceira Cabernet Sauvignon produz verdadeiras iguarias. 18UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO No Brasil é considerada uma das melhores uvas tintas para ser cultivada em solo tupiniquim, seus vinhos geralmente produzidos no Vale dos Vinhedos/RS, possuem estrutura e corpo, uma boa graduação alcoólica e aromas e sabores intensos. Se desenvolve bem em outros países como Itália, Espanha, Austrália, Estados Unidos, Chile, Argentina e Uruguai. Pinot Noir: Esta uva está entre as dez mais cultivadas no mundo, mas sua preferên- cia para ser cultivada é em climas mais frescos onde melhor expressa suas características. Seus vinhos são geralmente de cor rubi pálida, isso é devido ao fato de sua casca ser uma das mais finas dentre as uvas tintas e como a coloração do vinho tinto vem da casca sua cor fica bem pálida, quando comparada a cor das outras tintas é a mais desvanecida. Seus principais aromas e sabores são de frutas vermelhas, como morango, cereja, framboesa e groselha. Uma grande característica da Pinot Noir é apresentar em seus vinhos uma acidez mais elevada que as outras castas tintas, demonstrando um maior frescor na boca. Sua estrutura é leve e delicada. Esta uva também é usada na produção de espumantes mundo afora e faz parte da composição do Champagne (França). Também se adapta a outras localidades como Itália onde é chamada de Pinot Nero, na Alemanha onde é conhecida como Spätburgunder e no Chile e Nova Zelândia dá bons resultados. Syrah: Encontramos duas grafias para o nome dessa uva, Syrah/Shiraz, acontece que geralmente no velho mundo se usa a grafia Syrah e no novo mundo se utiliza a grafia Shiraz, mas isso não é uma regra e as duas formas estão certas e querem dizer a mesma coisa. Talvez essa uva seja uma das mais antigas do mundo (Teria surgido na Pérsia) e atualmente ocupa a 6ª posição dentre as mais cultivadas no mundo. Pode ser plantada em vários tipos de clima, mas onde melhor se apresenta é nos climas quentes, pois nestes conseguem desenvolver suas grandes particularidades e produzir vinhos mais encorpados e alcoólicos, com intenso aroma de frutas negras maduras e especiarias como cravo e canela. Sua grande marca aromática é a pimenta-do-reino, por isso seus vinhos podem ter um toque picante. O grande destaque para esta casta é o Vale do Rhône na França e os vinhos lá produzidos podem ser guardados por anos que irão melhorar com o tempo. Também possui bom destaque em lugares como Austrália, África do Sul, Chile e Argentina. COMO SÃO PRODUZIDOS OS VINHOS3 TÓPICO 19 A vinificação de vinhos tem início com a recepção das uvas na cantina para a verificação fitossanitária, eliminação dos cachos que contenham podridão e retirada de folhas e insetos que possam estar presente nas uvas colhidas. Estas fases são geralmente realizadas na esteira de seleção onde manualmente trabalhadores retiram todo o material impróprio para a produção do vinho. Mas antes das uvas chegarem na vinícola elas serão colhidas no campo, e a colheita de uvas para produção de vinhos tintos, deverá ser realiza- da ao amanhecer para evitar assim o início antecipado da fermentação. ● Desengaço Aqui as uvas selecionadas irão para um equipamento chamado desengaçador, sua função é retirar os engaços da uva, para que ao serem espremidas não liberem taninos verdes nocivos ao vinho. Assim somente os bagos das uvas seguem para o tanque onde elas serão maceradas para depois fermentarem. ● Esmagamento Antigamente a maceração das uvas era feita somente com os pés, as pessoas passavam horas a fio pisando uvas em grandes tanques de cimento, com o intuito de que- brar a pele e liberar a polpa e o líquido para que a fermentação tivesse início. Hoje existem máquinas muito eficazes que realizam esse processo mecanicamente, o importante aqui é que tanto a pisa pé quanto a prensagem automática não rompem as sementes, se isso acontecer elas irão liberar taninos tão intensos e desequilibrados que ao beber o vinho desse lote a pessoa sentirá um terrível gosto amargo na boca. UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO 20UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO ● Fermentação Alcoólica No processo de fermentação aparece a grande diferença em relação à produção dos brancos em que retiramos as cascas para fermentar somente o líquido, já nos tintos temos que deixar as cascas, pois sem a cor que ela solta durante a fermentação o vinho não ficaria tingido, não apresentaria uma coloração púrpura ou rubi, como vemos na taça. O conceito de mosto quando falamos da preparação de vinhos tintos é um pouco mais amplo que nos brancos. O mosto tinto contém polpa, semente, líquido e as peles das uvas. Todo esse mosto é transferido para um grande tanque de inox onde irá ocorrer a fermentação, sendo que essa inicia imediatamente gerando calor, gás carbônico e álcool. O gás carbônico empurra as peles e a polpa para cima formando o que se chama de Chapéu na parte superior do tanque, o líquido abaixo fica quase sem coloração e dessa forma é preciso empurrar como pás de cima para baixo esse chapéu para que ele misture com o restante do líquido e assim possa tingir por igual todo o conteúdo dentro do recipiente. A fermentação nos tintos ocorreem uma temperatura mais alta que os brancos. Aqui fica entre os 20 °C e 28 °C, essa temperatura é necessária para ajudar a liberar a coloração das cascas que irá tingir o vinho, mas sempre é importante controlar essa temperatura, pois se subir demais pode matar as leveduras e interromper o processo de fermentação. Para evitar isso, os tanques de inox possuem cintas térmicas instaladas na parte externa da sua circunferência, por onde corre água a baixas temperaturas, auxiliando no controle da temperatura dentro do tanque. Aplicação de SO₂ (Anidrido Sulfuroso) segue o mesmo padrão para os brancos. ● Descuba Encerrada a fermentação, as partes sólidas do tanque ainda estarão na superfície devido o gás carbônico, nesse momento o vinho pronto é retirado por baixo do tanque e o que sobra será um substrato constituído por polpa, cascas e sementes. Esse bagaço pode passar por um processo de destilação para sua transformação em aguardente vínica que em Portugal é conhecida como Bagaceira, na Itália como Grappa e na França como Marc. ● Clarificação Aqui será aplicada a mesma técnica que na produção de vinhos brancos, sendo a clara de ovo um agente clarificante, mas também existem outros produtos que exercem a mesma função ficando a escolha do produtor. Sempre é importante lembrar que a substância clarificante tem a função de agregar toda a sujidade ainda existente no vinho pós-fermentado para deixá-lo com uma tonalidade mais límpida. Um outro agente clarificante é a bentonite (lava vulcânica), que tem o mesmo efeito que a clara de ovo no processo de limpeza das impurezas. 21UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO ● Amadurecimento Nesse momento o enólogo irá decidir se vai querer deixar seu vinho descansando em barricas de carvalho ou se vai engarrafar diretamente. O carvalho possui aromas próprios que podem ser transferidos para o vinho, além de auxiliar no bom envelhecimento do líquido por muito tempo. Quando o enólogo deixa seu vinho descansando em barricas de carvalho, ele decide quanto tempo esse processo irá ocorrer, mas geralmente os períodos de descanso em barricas são por 6 meses, 12 meses, 18 meses ou 24 meses. Mas existem enólogos que se utilizam de prazos ainda maiores. ● Corte Nessa fase do processo o vinho está praticamente pronto e também por uma decisão do enólogo ele pode ser misturado com outros vinhos que também estão prontos. Exemplo: Depois dos vinhos de uma vinícola prontos, haverá vários tanques de vinho produzidos de uvas diferentes, como Cabernet Sauvignon, Merlot, e Cabernet Franc. Nesse momento, se o enólogo optar por produzir um vinho com características diferentes do que estas uvas apresentam, ele pode misturar partes de Cabernet, Merlot e Cabernet Franc e assim obter um vinho com as características das três castas misturadas, esse método é chamado de corte. ● Filtragem Antes de engarrafar o vinho, ele poderá ainda ser filtrado, isso vai depender da intenção do enólogo responsável pela produção do vinho. Se for filtrado mais partículas em suspensão e micro sujidades serão retiradas, mas um problema desse processo é que quanto mais filtra, mais textura, cor e sabor será retirado do vinho. ● Engarrafamento Engarrafamento hoje é um procedimento muito moderno e as grandes vinícolas que produzem milhões de garrafas usam alta tecnologia para essa fase. Mas pequenos produtores que não detém este recurso fazem todo o processo de forma artesanal, onde colocam uma torneira no barril e a garrafa é colocada embaixo para encher, depois será fechada com a rolha e colocado o rótulo. Existem sistemas de engarrafamento muito modernos constituídos de salas fecha- das a vácuo que evitam a entrada do oxigênio e a proliferação de bactérias nocivas à saúde do vinho. Mas independentemente de como esse processo for executado, é preciso que estas garrafas cheias descansem um período na adega para o vinho estabilizar antes de serem finalmente enviadas ao comércio. ESPUMANTES E SUAS BORBULHAS4 TÓPICO 22 Para falar de espumantes, precisamos entender que eles são um dos tipos de vinhos existentes. Os vinhos possuem uma classe com alguns tipos, sendo: Vinhos Tranquilos (Brancos, rosés e tintos), Vinho Espumante (Frisante, Espuman- te e Champagne) Vinhos de Sobremesa (Que são adocicados com a doçura natural da uva) e Vinhos Fortificados (Que possuem entre 16° e 21° graus de álcool). Assim os espumantes possuem gaseificação, na verdade, se pensarmos bem ele é como um vinho tranquilo que possui gás carbônico e a presença desse gás é que diferencia seus tipos. Dessa forma, temos 3 tipos mais conhecidos de espumante: ● Frisantes: possuem baixa gaseificação e quando olhamos as bolhas (Perlages) na taça, vemos que são poucas e não persistentes quanto ao tempo de duração, aqui o gás pode ser obtido através de fermentação natural ou pode ser gás carbônico colocado artificialmente. Por isso os frisantes em regra são considerados uma bebida muito simples e corriqueira. ● Espumantes: A gaseificação aqui é mais intensa que nos frisantes e olhando na taça, vemos que suas bolhas aparecem em grande quantidade e duram por mais tempo. Geralmente a gaseificação é natural, obtida durante a refermentação (vamos estudar este processo na sequência do capítulo) e sua fabricação é difundida em vários países produ- tores de vinho. ● Champagne: Este é o espumante produzido na região de Champagne na Fran- ça e o nome só pode ser usado para espumantes produzidos nesta região. Essa bebida dentre as três apontadas aqui é a que possui maior intensidade de gás e sempre este vai UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO 23UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO ser obtido através da refermentação, em hipótese alguma pode ser injetado gás artificial na bebida, a região de Champagne é a mais famosa produtora de espumantes no mundo. Justamente nesta região francesa é que a bebida ganha destaque e muitos atribuem sua origem a este local. Conta que no início do século XVII, os produtores de vinho na região de Champag- ne fizeram seu vinho como todos os anos faziam, quando perceberam que o líquido parou de fermentar, eles pensaram que o vinho estava pronto e assim colocaram em garrafas e guardaram nas adegas subterrâneas onde ficou descansando por todo o inverno. Quando chegou a primavera, os produtores perceberam que as garrafas começaram a explodir sozinhas dentro destas adegas e como não possuíam maior conhecimento sobre fermenta- ção, atribuíram o evento a espíritos malignos. Assim chamaram um monge para exorcizar o local, mas o monge quando chegou observou o que estava acontecendo e percebeu que não tinha nada maligno ali e assim resolveu provar da bebida que o deixou encantado com a sensação que causava na boca (as bolhas de gás que ali se encontravam). O que aconteceu foi que os vinhos fermentavam como todos os anos acontecia, os produtores não tinham conhecimento científico do processo de fermentação como temos hoje, dessa forma o inverno chegou mais cedo e a temperatura dentro das adegas ficou abaixo dos 10 °C positivos (Assim a levedura entra em dormência e para de fermentar) a fermentação parou e eles acharam que o vinho estava pronto. Colocaram nas garrafas e puseram nas adegas subterrâneas para descansar, o que não sabiam era que no líquido engarrafado havia ainda açúcar e levedura que estava dormindo. Passou o inverno e che- gou a primavera e as temperaturas começaram a subir, as leveduras acordaram dentro das garrafas, voltaram a comer o açúcar que ali havia produzindo assim gás carbônico que não tinha por onde sair, devido a isso as garrafas começaram a estourar, pois o vidro da época era muito frágil. Desta forma surgia o espumante. Vamos entender agora como ele é fabricado. Existem dois métodos que são os mais usuais mundialmente. O Charmat e o Champenoise. Quando vamos servir um espumante, seja ele de que tipo for, é sempre importanteter a bebida bem gelada e evitar agitar a garrafa antes de abrir, por se tratar de uma bebida com grande concentração gasosa, esses procedimentos são recomendados para evitar algum acidente. A baixa temperatura faz com que o gás se contraia e a bebida em repouso evitando agitação interna, vale lembrar que estamos falando de uma bebida que tem em média, a pressão referente ao calibre de dois pneus de automóvel. 24UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO O método Charmat foi criado por um engenheiro francês chamado Eugene Charmat e toda a produção de espumantes desta forma visa baratear e tornar mais rápida a fabricação e consequente distribuição para atender sua demanda. Assim, para iniciar a produção de um espumante, precisamos ter um vinho pronto, geralmente branco ou rosé, isso mesmo o espumante é produzido a partir de um vinho já pronto. Dessa forma o produtor irá antes de mais nada fazer um vinho. No método Charmat o enólogo irá colocar o vinho dentro de uma autoclave (um grande tanque de inox, fechado hermeticamente para que nada entre ou saia) junto com esse vinho será adicionado açúcar e uma quantidade de levedura suficiente para consumir este açúcar. Voltamos ao princípio da fermentação, dentro do tanque de inox cheio de vinho a levedura irá comer todo o açúcar que foi colocado lá e vai produzir um pouco mais de álcool que irá compor a bebida e também muito gás carbônico que não terá por onde sair e dessa forma acaba integrando o vinho que agora passa a ter gás e bolhas. Quando acaba o açúcar a levedura morre e a fermentação chega ao seu final. Por isso o uso do termo refermentação, pois usamos um vinho já fermentado e pronto para refermentar novamente dentro das autoclaves. Terminado o processo é necessário retirar o líquido, mas a levedura que morreu ainda está lá dentro e será necessário filtrá-la para limpar a bebida, evitando que quando servida fique turva. Mantendo o sistema sob pressão, o líquido é passado por uma máquina de filtragem e posteriormente engarrafado. Assim temos os espumantes feitos no método Charmat ou também conhecido como Método de Tanque. O Champenoise é baseado no método que citei quando falei na origem do espumante, ele é mais elaborado e feito de forma quase artesanal. Trata-se de um procedimento mais demorado para finalizar, mas com resultados que geralmente são superiores ao outro método, conseguindo apresentar alguns aromas na taça que somente feito assim é possível se obter. Como no método anterior, é necessário a obtenção de um vinho para a produção de espumantes. O vinho será colocado nas garrafas onde o espumante será produzido, na sequência adicione levedura e também açúcar, fecha a garrafa com uma tampa metálica igual as de garrafas de cerveja e empilha todas em uma adega com temperatura amena. A levedura dentro da garrafa irá consumir o açúcar e produzir gás que não terá por onde sair, dessa maneira irá integrar a bebida. Com o fim do açúcar a levedura irá morrer e vai ficar dentro da garrafa parecendo uma areia bem fina. O produtor nesse momento vai decidir por quanto tempo deixará a garrafa descansando com as leveduras mortas. 25UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO Em média deixam por 3 anos, mas isso pode se dar por muito mais anos, conforme o produtor entender ser melhor para as características do seu produto. O importante é saber que este prolongado contato da levedura com o espumante dentro da garrafa, irá contribuir para o surgimento de aromas mais complexos, como, por exemplo, cheiro de pão fermentado e também uma melhor textura do líquido. Com o fim deste processo, é necessário separar as borras de levedura morta, mas devido ao tempo que passaram na horizontal paradas, as borras grudam no vidro. Dessa forma é necessário colocar as garrafas inclinadas em pupitres de madeira para que as borras desçam para a boca da garrafa. Feito isso, a garrafa terá sua boca mergulhada em uma solução salina congelante e toda a borra de levedura ficará congelada. As garrafas são colocadas em pé e uma máquina tira a tampa, com isso a pressão interna expele a cápsula de sujeira e assim o espumante estará limpo. Automaticamente um outro equipamento injeta uns 50 ml de vinho para completar a garrafa. A rolha é colocada, na sequência vem o Muselet (Gaiola de arame que irá segurar a rolha presa na garrafa) e a garrafa será rotulada e vai descansar por alguns dias ou até mesmo meses, para depois ser destinada ao consumo. Através deste método obtemos o espumante feito individualmente em garrafa por garrafa chamado de Champenoise mais mundialmente conhecido como método Clássico. 26UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO Segundo McCarthy e Mulligan (2008, p. 40): André Tchelistcheff, o lendário fabricante de alguns dos melhores Cabernets da Califórnia, uma vez nos disse que, se ele pudesse fazer tudo novamente, ele escolheria a Pinot Noir no lugar da Cabernet. Provavelmente, ele não é o único. O cabernet é um vinho que não exige sensibilidade – um vinho bom, estável e confiável, que não causa muitos problemas ao produtor e pode ser de excelente qualidade – enquanto o Pinot Noir é enjoado, causador de problemas, enigmático e desafiador. No entanto, um ótimo Pinot Noir pode ser um dos melhores vinhos de todos os tempos. O vocábulo filoxera é usado indistintamente para designar o inseto com este nome e a praga causada pela infestação deste animal em vinhedos. Phylloxera vastatrix, Dactylosphaera vitifoliae, Viteus Vitifoli ou sim- plesmente Filoxera é um tipo de pulgão, cujo tamanho varia de 0,3 mm a 3 mm de comprimento, conforme a fase de seu complexo ciclo de vida. Esta praga ataca várias partes da videira em diversos momentos do ano. O pulgão destrói as folhas da planta (que ficam amareladas prematuramente e caem), diminuindo sua capacidade de fazer fotossíntese. Mas o que geralmente a mata é o ataque do inseto às suas raízes, que são sugadas pelo pulgão. Dessa forma, as feridas abertas sofrem a ação de fungos que geram o apodrecimento - a verdadeira causa mortis da videira. Fonte: COPELLO, Marcelo. Divisor de Águas. Revista Adega, São Paulo, v. 34, ago. 2008. Disponível em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/divisor-de-aguas_8461.html. Acesso em 15 de maio de 2021 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO Chegamos ao final da primeira unidade e espero que você tenha compreendido os principais fatores que envolvem o surgimento do vinho e todo o seu contexto milenar. Os fatos principais que marcaram a sua presença nas mais diversas culturas do mundo e toda a influência nas regiões onde se fixou. Não apenas dados históricos, mas também fatos que vêm modificando e firmando esta bebida no comércio mundial, as alterações que sofreu para acompanhar a evolução humana e ganhar cada vez mais mercado mundial. Para compreender o vinho, se faz necessário conhecer a sua matéria-prima. Assim, selecionei algumas que do meu ponto de vista são as principais e mais conhecidas castas de uva Vitis vinífera. Vimos que cada uva tem suas características básicas de aromas e de sabores. É claro que a seleção foi singela, se compararmos à lista de mais de cinco mil tipos. Buscamos demonstrar os processos de fabricação e produção dos vinhos e suas interferências no produto final, abordando cada processo na sua devida sequência, desde o momento em que as uvas chegam à vinícola até o seu envase. Assim, mais que conhecer os padrões de vinificação, será fundamental compreender as necessidades que cada tipo de vinho requer. Quando entendemos esses processos e visualizamos a história do desenvolvimen- to do vinho pelo mundo, começamos a conhecer um pouco mais da cultura desta bebida e o que tem contribuído para o desenvolvimento, não somente do consumo, mas da sua participação econômica e cultural. Além disso, uma abordagem sobre a forma de produção e os principais métodos de elaboração dos espumantese toda a sua riqueza cultural e histórica. Ao finalizar essa etapa, concluímos que o vinho vai além de uma bebida, além de um momento, ele se eterniza através dos tempos no mundo em que vivemos. 28 LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO A Mesa na Roma antiga. Não é fácil comentar com precisão os costumes e hábitos da mesa romana antiga, não por falta de documentação, mas, paradoxalmente, por excesso. Se levarmos em conta que a República e o Império Romano do ocidente duraram mais de doze séculos e o do Oriente quase outro milênio (até a queda de Constantinopla em 1453), podemos nos dar conta da dificuldade de abordar uma cozinha que no tempo durou mais de dois milênios e no espaço cobriu quase todo o mundo antigo. Mesmo se nos limitarmos à Roma, de sua fundação ao tempo dos etruscos em 753 a.C., à queda do último imperador do Ocidente, Rômulo Augústulo, em 476, os costumes da mesa variaram muito. Dos primeiros tempos aos faustos do final da República (encer- rada em 27 a.C.), informa-nos Catão, os hábitos alimentares eram simples e morigerados, mesmo porque a cidade enfrentou períodos de necessidade e até fome. Com a riqueza e a expansão do Império, apareceram o luxo, a ostentação e os grandes banquetes, como nos relata Petrônio ao descrever em seu Satyricon, o fantástico banquete de Trimalcião, no primeiro século de nossa era. Naturalmente esses excessos não faziam parte do cotidiano da grande maioria da população, mas foi essa a imagem, de excessos, de orgias e de escândalos, que a literatura nos legou. Ontem, como hoje, o escândalo e exagero são mais notícias que o dia-a-dia, verí- dicos ou não. Entre os romanos a refeição noturna era a única importante, o momento de relaxamento do dia agitado, da volta para casa ou da ida à casa dos amigos, passar três horas ou mais. Nos primeiros tempos, em que as casas dispunham apenas de um simples átrio, as famílias comiam à lareira e tão somente o pai tinha o direito de comer deitado ou recostar-se à mesa. A mulher e as crianças sentavam-se em tamboretes e os escravos, mais afastados, em bancos de madeira. Mais tarde, ao final da República e durante o Im- pério, as casas passaram a ter várias salas de refeições, para o inverno com lareiras, para o verão ao ar livre, para poucos convidados, para muitos convidados, etc., e as mulheres passaram a participar das refeições e das discussões. Para alguns, datam dessa ocasião as desordens muitas vezes reinantes durante as refeições. Também o mobiliário dessas salas modificou-se com o tempo. Inicialmente havia ao redor da mesa três leitos, de três lugares cada, ficando o espaço livre para o serviço. 29UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO Posteriormente um único leito semicircular com espaço para nove pessoas circundava a mesa, pois normalmente o número de comensais não ultrapassava essa quantidade, dizia- se que esse número devia ser maior que o das Graças, três, e no máximo o das Musas, nove. Comia-se deitado, apoiado sobre o lado esquerdo, sobre almofadas. Os leitos, geralmente de madeira ou bronze, eram recobertos por tecido espesso. Posteriormente o mobiliário, que como a comida era o orgulho do anfitrião, enriqueceu-se com ornamento de prata, de outro e de marfim, nem sempre de bom gosto. A louça era igualmente motivo de exibição, da de barro dos mais modestos à de cristal, ouro, prata ou murrah, um mineral opaco que, dizia-se, favorecia o vinho. Com frequência esse vasilhame tinha incrustações e relevos de metais ou de pedras preciosas. Ao lado do luxo, a mesa é também um local sagrado, sobre o qual se colocam os alimentos, sempre no centro da sala, como a terra no centro do universo, simbolizando o solo fecundo, do qual provêm os alimentos. A mesa não se destina apenas aos comensais, aos vivos, mas também aos mortos, que, segundo a crença, estão sob a mesa, no chão. Os restos de comida que caem ao solo são o alimento dos mortos, não devendo por isso ser apanhados ou varridos. Mais tarde, por motivos de higiene, o piso da sala passou a ser revestido por azulejos com motivos de alimentos, que se destinariam aos mortos. Com isso as salas podiam ser varridas sem interferir na alimentação dos mortos. Deixava-se sempre sobre a mesa uma lamparina acesa, mesmo fora das refeições, oferta simbólica aos deuses, mais ou menos como hoje se acendem velas aos santos ou às entidades sobrenaturais. Como se vê, no fundo, o homem mudou pouco. Sobre o traje, ao chegar a um banquete, o convidado tira a roupa com que veio e veste uma túnica solta, sem cinto. É uma roupa festiva ou de ficar em casa, mas a ausência do cinto é essencial. O convidado não deve usar nenhum nó em seu traje, motivo pelo qual tira também os sapatos e mesmo os anéis. O nó evoca o círculo fechado cuja presença é nefasta – não deve haver nenhuma interrupção na corrente que percorre o universo de que o homem participa por ocasião do banquete. Curiosamente essa prática é observada até hoje entre os peregrinos muçulmano que vão a Meca, que também não devem ter nós em suas vestes. O ambiente é perfumado, mesmo o assoalho, e ornamentado com flores – violetas, rosas, flores de açafrão, etc. Achava-se que a flor do açafrão misturada ao vinho preveniria a embriaguez. Comia-se com as mãos, que naturalmente eram depois lavadas com perfumes. Em princípio toda a refeição se baseava no número simbólico três e constava de três partes – entrada, pratos principais, geralmente três, e sobremesa. Ao final da refeição, segue-se a comissatio, os divertimentos de um modo geral, em que se beberiam de três a nove taças 30UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO de vinho, ou muito mais… As comissatio constavam de espetáculos de palhaços, acrobatas, dançarinas (principalmente de Gades ou da Síria, famosas por suas danças eróticas), dos prazeres do amor e do sexo, representações teatrais e às vezes até lutas de gladiadores. Com frequência terminavam em orgias e bebedeira geral, das quais seguiam na- turalmente ao sono. De um modo geral o paladar romano foi diferente Enogastronomia e Bebidas do nosso. Conheciam o cozido, o assado e o frito, mas a carne era fervida antes de ser assada ou cozida. Preferiam a carne mais branda àquela com consistência crocante, o que provavelmente explica a abundância de molhos. Cozinhavam com azeite de oliva, embora a manteiga fosse conhecida, mas empregada apenas na medicina. Valiam-se muito de plantas aromáticas e de temperos, dos quais os mais usados eram o garum e a pimen- ta, e tinham uma acentuada preferência pelo sabor doce. Naturalmente não conheciam o açúcar, mas o mel o substituía, usado igualmente no preparo de carnes e peixes. Para o cozimento das carnes usavam também macerados de frutas, sendo o sabor adocicado contrabalanceado pela acidez do vinagre, assim como se costuma polvilhar pimenta em sobremesas muito doces. Essa harmonia de sabores contrários lembra a cozinha chinesa. A fabricação do pão, inicialmente uma bolacha espessa de farinha não fermentada, só se aperfeiçoa no final do século III antes da nossa era, com vários tipos, pão preto, pão branco, pão ao leite, com ovos, com sumo de uvas, etc., muito longe do grosseiro pão de espelta dos primeiros romanos. Quanto ao vinho, como relativamente à gastronomia, o paladar se refina também ao final da República. No primeiro século a.C. já se começa a fazer referências às safras dos vinhos, bem como a fazer vinhos de outras partes, de Creta, de Chipre, da Gália, etc. Os vinhos eram habitualmente cortados com água como na Grécia, água do mar, água pura do gelo, água fervida, além do acréscimo de pimenta, de mel, de ervas aromáticas e de macerados de flores, como as rosas e violetas. Nos banquetes sorteava-se entre os convivas o senhor da bebida, encarregado de estabelecer as proporções de água e vinho a serem misturados, da distribuição do vinho e até das quantidades a serem consumidas.Os vinhos eram servidos em taças de até meio litro, e lembre-se que os brindes podem exigir que se bebesse a taça cheia de uma só vez. Compreende-se assim que alguns médicos recomendassem o uso de vomitórios para se poder chegar ao final da refeição. Era necessária muita resistência para chegar mais ou menos lúcido ao comissatio. Vemos assim que na antiga Roma os prazeres da mesa não se limitavam à satisfação do estômago. São também prazeres artísticos, culturais e mesmo sexuais. Exageros à parte, gula e exibicionismo gastronômico. Possível apenas para alguns, o jantar era, como dissemos, 31UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO para a grande maioria dos romanos, um momento privilegiado entre os prazeres da vida, de que todos podiam desfrutar, de acordo com seu temperamento, sua condição social e econômica e sua cultura. Nesse contexto, o jantar romano foi também uma cerimônia, uma celebração religiosa em que o alimento e o vinho eram apenas parte dos elementos. Foi assim um prazer de todos os sentidos, um prazer total, do corpo e do espírito. Fonte: Sérgio (de Paula Santos, 1998, p. 109 - 113). 32 MATERIAL COMPLEMENTAR UNIDADE 1 VINHO E SEU DESENVOLVIMENTO LIVRO Título: Wine Folly: O guia essência do vinho Autor: Madeline Puckette e Justin Hammack Editora: Intrínseca. Sinopse: O guia essencial do vinho: Wine Folly reúne informações imprescindíveis sobre as uvas mais cultivadas do planeta, apresenta as características de cada uma — afinal, qual é a diferença entre Cabernet Sauvignon e Pinot Noir? —, ensina sobre harmonização com alimentos e até mesmo a degustar e a servir a bebida. Tudo isso com um projeto gráfico inteligente e intuitivo que é um verdadeiro convite a uma taça. Leve e divertido para os novatos e repleto de informações geográficas e históricas para os que já possuem algum conhecimento, este livro é, mais do que tudo, uma homenagem ao vinho e à cultura que o cerca. O guia essencial do vinho: Wine Folly é tanto para iniciantes quanto iniciados. Com abordagem imparcial e prática, é indispensável, o guia dos vinhos do século XXI. De forma leve, prática e divertida, Madeline Puckette e Justin Hammack apresentam os fundamentos básicos sobre a bebida, os perfis das uvas mais populares, bem como daquelas ainda a serem descobertas pelo grande público, um guia de harmonização, uma seção com mapas detalhados de regiões produtoras, além de dicas para encontrar exatamente o vinho que você procura. FILME/VÍDEO Título Original: Bottle Shock País de Origem: EUA Gênero: Comédia, Drama Ano de Lançamento: 2010 Sinopse: O filme é baseado em fatos reais, e retrata os primeiros tempos da indústria do vinho em Napa Valley nos anos 70, e culminou com a vitória da vinícola californiana Chateau Montelena na competição internacional de melhor vinho em 1976, em Paris, o que acabou colocando a região no mapa dos melhores produtores da bebida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Vinhos de sobremesa e fortificados; • Técnicas de degustação; • Degustação, conhecendo o vinho na prática; • Conceitos de harmonização; Objetivos da Aprendizagem • Conceituar os vinhos de sobremesa e fortificado. • Compreender os conceitos de degustação. • Estabelecer e aplicar as técnicas enogastronômicas. Professor Especialista William Maximo DEGUSTAR E DEGUSTAR E HARMONIZARHARMONIZAR2UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO 34 Inicio esta unidade apresentando dois estilos de vinhos que geralmente possuem doçura própria. Um definido pela doçura natural e com graduações alcoólicas não superiores a 15% do volume (vinhos de sobremesa), e o outro pela sua concentração de álcool que vai em média de 17% a 22% do volume, podendo ter doçura ou não (vinhos fortificados). Estes estilos de vinhos já foram considerados os mais célebres do mundo e hoje em dia o seu consumo está associado a aperitivos e também acompanhamento de sobremesas. Em um segundo momento, vamos passar para as técnicas de degustação. E se você é um daqueles que sempre se pergunta o porquê de girar a taça, cheirar o vinho e o manter na boca antes de engolir, depois dessa unidade você entenderá e até mesmo identificará termos comumente utilizados pelos apreciadores do vinho, como encorpado, tânico, frutado, ácido, entre muitos outros. Aqui, iremos pôr em prática as noções que aprendemos até agora sobre as características dos vinhos e, juntamente com os conhecimentos dos ingredientes que compõem o prato, iremos iniciar a jornada sem fim das combinações entre vinho e comida. O vinho tem um efeito sobre a comida e vice-versa. O objetivo da harmonização é aproveitar ao máximo o que esses efeitos produzem para que tanto a bebida como a comida possam dar mais prazer juntos do que se consumidos separadamente. Conhecer esses efeitos evita interações desagradáveis e, com certeza, irá valorizar o prato e proporcionar um maior aproveitamento do vinho. Mas deixo claro que não há uma regra absoluta e imutável sobre harmonização. O que pretendemos é lhe indicar noções práticas, uma vez que determinados componentes do alimento reagem de forma previsível com determinados componentes do vinho. Assim, de uma forma despretensiosa, vamos analisar as técnicas de harmonização (analogia, associação e sensibilidade sensorial), bem como os princípios que guiam as combinações (doçura, acidez, untuosidade e outros). UNIDADE 2 DEGUSTAR E HARMONIZAR 35 VINHOS DE SOBREMESA E FORTIFICADO1 TÓPICO Quando pensamos em vinho de sobremesa, com o próprio nome já diz que são para serem consumidos geralmente após as refeições, devido ao fato de possuírem uma perceptível doçura em sua composição, o que os torna agradáveis para finalizar um almoço ou jantar. Lembrando que a doçura destes vinhos deve ser sempre obtida de forma natural, ou seja, da própria uva utilizada para a sua produção. Os vinhos de sobremesa possuem uma coloração mais clara puxada para o dourado, mas existem vinhos de sobremesa tintos também, uma coisa é certa quanto mais estes vinhos envelhecem em garrafa, mais escura vai se tornando a sua coloração devido à ação do tempo. Seu surgimento em parte foi devido à necessidade de produzir vinhos que resistissem a ação do tempo e também o transporte por grandes distâncias, assim podemos citar o seu destaque entre os gregos e os romanos na antiguidade quando precisavam levar o vinho por milhares de quilômetros antes de consumi-lo, dessa forma o açúcar natural que estava depositado nestes vinhos era um dos fatores de conservação por longos períodos. A preparação de um vinho de sobremesa sempre exige de certa forma que as uvas já venham do campo com uma certa desidratação do seu líquido, assim perdem água, mas sua polpa permanece com uma boa concentração dos ácidos e açúcares necessários para a produção deste estilo de bebida. Acidez é uma das características presentes em todas as uvas, e na brancas possui maior concentração, o que se torna essencial para a qualidade do vinho de sobremesa, pois como temos açúcar natural que irá sobrar na bebida após a fermentação precisamos de uma boa acidez para quebrar o excesso de doçura deste estilode vinho, equilibrando assim as duas partes e tornando a bebida agradável na boca. UNIDADE 2 DEGUSTAR E HARMONIZAR 36UNIDADE 2 DEGUSTAR E HARMONIZAR Um exemplo que costumo usar em minhas aulas é pensar neste estilo de vinho com um suco de limão: Se prepararmos um suco de limão (limão contém muita acidez cítrica) e não colocarmos açúcar nele, essa bebida irá ficar muito ácida e ruim para beber. Em contrapartida, se colocarmos muito açúcar neste suco, ele irá ficar tão adocicado que não iremos conseguir beber. Desta forma precisamos equilibrar a acidez do limão com a quantidade de doçura para que se torne agradável no paladar. Assim são os vinhos de sobremesa onde a acidez e doçura (natural da uva) devem estar equilibrados para o consumidor sentir o doce e também o frescor da acidez no vinho. Existem quatro maneiras mais usuais de se obter uvas para a preparação de vinhos de sobremesa: ● Colheita Tardia Como o nome já diz, vamos colher as uvas tardiamente para a produção deste estilo de vinho. Importante sabermos que cada uva tem o seu ponto de amadurecimento em que está pronta para ser colhida e processada como vinho. Quando pensamos em vinhos de sobremesa vamos deixar esta uva na videira por um tempo maior que o estabelecido para a sua colheita. Desta forma, passando o período de colheita a uva vai perder água e começar um processo de desidratação natural, retendo na polpa os sabores, o açúcar e a acidez, Em média os produtores deixam esta uva secando na videira por mais de um mês. Quando o enólogo da vinícola entender que a uva já está desidratada por tempo suficiente e o seu aspecto está lembrando a uma uva-passa, a colheita será realizada e a produção do vinho de sobremesa irá ser realizada. Na maioria das vezes estes vinhos são feitos de uvas brancas como Sauvignon Blanc, Gewurztraminer, Riesling e Semillon, e no seu rótulo aparece a inscrição late harvest que traduzido para o português significa colheita tardia. ● Appassimento Este método também é conhecido como passificação que de certa forma pode lem- brar o mesmo estilo dos vinhos de colheita tardia, mas com algumas diferenças. Essa técnica é muito utilizada na Itália deste a época dos romanos. Aqui as uvas não são deixadas para desidratar nas videiras, são colhidas quando estão maduras, em vez de se fazer um vinho seco, elas são levadas para a cantina e vão passar meses em processo de desidratação natural. Os grandes produtores destes vinhos possuem uma grande sala cheia de janelas, ali são montadas esteiras de bambu em estantes de madeira, as uvas são colocadas nas 37UNIDADE 2 DEGUSTAR E HARMONIZAR esteiras e todos os dias as janelas são abertas para que o vento e o calor entrem e assim vagarosamente a uva irá perder líquido e ficar cada vez mais parecendo uma uva passa. Antes de ser produzido este estilo de vinho a uva chega a perder até 50% de sua dimensão inicial. Esse processo pode levar entre 4 a 5 meses, as uvas permanecerem nestas camas de bambu até estarem no ponto certo para a produção do vinho de sobremesa. É importante observar a diferença entre esta técnica e a colheita tardia. Aqui a uva já colhida irá desidratar na adega, enquanto nos vinhos late harvest a uva vai secar na videira antes de serem colhidas. Este estilo de vinho com apassimento é muito produzido no nordeste da Itália e as uvas mais usadas são as autóctones Corvina, Molinara e Rondinella, os italianos chamam estes vinhos de Passito ou Recioto. ● Uvas Congeladas Vinhos de sobremesa feitos de uvas congeladas também são conhecidos como Icewine (Estados Unidos e Canadá) ou Eiswein (Alemanha). Para a produção destes estilos de vinhos é preciso que um fator natural ocorra, o congelamento das uvas devido a baixas temperaturas e claro a presença de neve intensa, desta forma percebe-se que a possibilidade de produção destes estilos de vinho ficam res- tritos a países que possam oferecer estas condições naturais como os já citados Canadá e Alemanha. Apesar do método de obtenção do açúcar e da acidez ser um pouco diferente, a regra é a mesma dos anteriores, separar a água da polpa da uva. Para colher as uvas congeladas é necessário que estas tenham amadurecido e que no momento da colheita a temperatura esteja no mínimo a -8 °C, e a sua retirada da videira seja feita a noite, para preservar ao máximo o congelamento. São recolhidas e levadas para a vinícola onde uma prensa mecânica irá separar os cristais de água dos elementos de doçura e acidez. Feito isso a polpa com acidez e dulçor será vinificada e teremos a obtenção de um vinho de sobremesa por congelamento. ● Botrytis Cinerea Esse é um processo natural de produção de vinhos de sobremesa que também é conhecido pelo nome de podridão nobre. Quando as uvas estão perto do seu ponto ideal para a colheita, um fungo chamado Botrytis ataca os cachos e se alastra por todo o vinhedo, isso geralmente ocorre devido à presença de umidade. Esse fungo deixa as uvas com uma cor cinza que lembra um tipo de bolor e micros- copicamente esse fungo com seus filamentos perfura a casta de uvas e faz com que ela 38UNIDADE 2 DEGUSTAR E HARMONIZAR sofra um processo de desidratação natural. Com a perda de água a uva irá concentrar em seu interior a polpa doce e a acidez presente, ficando assim propícia para a produção de um vinho de sobremesa. Quando essas uvas botritizadas forem vinificadas vão produzir um vinho com doçura, boa acidez e também com aromas únicos que são fornecidos pela presença do fungo, criando assim um dos mais espetaculares vinhos de sobremesa do mundo. Os mais conceituados são os Sauternes (França) e os Tokaji (Hungria). ● Vinhos Fortificados Os vinhos fortificados como já citei podem ser secos ou adocicados, os mais co- muns e a grande maioria deles são doces, mas uma coisa é fundamental para definir um vinho como sendo fortificado, é a presença de um teor alcoólico acima de 16% de volume em sua composição. Para que ele atinja esse teor é necessário a mistura de aguardente vínica que é extraída da destilação do bagaço da uva. A aplicação dessa aguardente pode ser feita durante a vinificação ou depois do seu término. Os vinhos fortificados surgiram por uma necessidade, durante o período da ex- pansão marítima das grandes nações com as longas viagens pelo oceano o vinho levado acabava se deteriorando e para evitar que isso acontecesse passaram a misturá-lo com aguardente de uva para suportar longos percursos, vale lembrar que o álcool é um conser- vante natural. Quando pensamos em vinhos fortificados estamos pensando em vinhos que possuem uma graduação alcoólica entre 16% a 22% de volume. Existem vários tipos de vinhos fortificados: O Jerez (Espanha), Marsala (Itália), Moscatel de Setúbal (Portugal), Vinho Madeira (Ilha da Madeira) e muitos outros, mas talvez o mais conhecido mundialmente é o vinho do Porto. ● Vinho do Porto Dentre os vinhos fortificados talvez seja um dos mais consumidos, este vinho é produzido em Portugal, mas não na cidade do Porto como muitos pensam erroneamente devido a seu nome. As uvas utilizadas para fazer este vinho são cultivadas na região do Douro, e lá colhidas são processadas para a fabricação de vinho, que depois de pronto será enviado à cidade de Vila Nova de Gaia (Porto) para descansarem em grandes tonéis e posteriormente serem vendidos. Como Gaia fica quase à beira-mar, a logística de distribuição é muito melhor. 39UNIDADE 2 DEGUSTAR E HARMONIZAR A grande maioria dos vinhos do Porto são feitos com uvas tintas, elas são colhidas e a vinificação ocorre semelhante à do vinho tinto. Mas quando o enólogo percebe que o mosto já desenvolveu pelo menos uns 6% a 7% volumes de álcool, ele determina que seja colocada aguardente vínica que irá matar as leveduras e elevar o álcool do tanque para uma média de 21% volumes. Com a morte das leveduras pela presença do destilado de uva, o açúcar que ainda
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