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FORMAÇÃO E GESTÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Atuação dos Profissionais em EAD Estrutura e Metodologia Prof. Dra. Solange Maria Sanches Gervai Prof. Ma. Edna Barberato Genghini GERVAI, Solange Maria Sanches GENGHINI, Edna Barberato Atuação dos Profissionais em EAD: Estrutura e Metodologia (livro-texto, unidades I, II, III e IV) / Solange Maria Sanches Gervai; Edna Barberato Genghini – São Paulo: Pós- Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 105 p. : il. 1. Educação a Distância. 2. Metodologias. 3.Tecnologias. I. Gervai, Solange Maria Sanches. Genghini, Edna Barberato. II. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Atuação dos Profissionais em EAD: Estrutura e Metodologia. Professora conteudista SOLANGE MARIA SANCHES GERVAI Graduou-se em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (1988), é mestre e doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora titular da Universidade Paulista (Unip), lidera o grupo de pesquisa Multiletramentos na Formação Contínua de Educadores e atua como professora em cursos presenciais de graduação e pós-graduação na modalidade a distância. Professora colaboradora EDNA BARBERATO GENGHINI, professora universitária desde 2002. Atualmente, é coordenadora para todo o Brasil dos cursos de pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista – UNIP EaD, onde também atua como professora adjunta, nas modalidades interativa e semipresencial. É diretora e psicopedagoga da Mentor Orientação Psicopedagógica Ltda. ME desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica pelas Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós-graduação lato sensu em Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista – UNIP (2011). É autora e coautora de livros-texto para os cursos de pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP EaD. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 6 1. TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD) ............................................................. 8 1.1 As diferentes fases da EaD e suas marcas tecnológicas ................................................................ 8 1.2 A internet como ferramenta de mudança ............................................................................................. 10 1.3 Paradigmas educacionais e tecnologias .............................................................................................. 19 2. METODOLOGIAS EM EAD: PARADIGMAS ........................................................................ 35 2.1 A concepção de educação e processos de ensino aprendizagem .................................................. 35 2.2 Modalidades de trabalho pedagógico em EAD ................................................................................... 43 2.3 A qualidade das interações e o papel do professor em ambientes virtuais .................................... 45 3. FERRAMENTAS SÍNCRONAS E ASSÍNCRONAS DE APRENDIZAGEM EM AVA ............ 52 3.1 Mediação pedagógica para construir conhecimento complexo ........................................................ 53 3.2 Atividades e ferramentas em AVA (síncronas e assíncronas).......................................................... 56 3.3 Chats, tarefas individuais, fóruns e avaliação processual ................................................................. 59 4. PARADIGMAS: O TEMPO E A AUTONOMIA EM EAD ....................................................... 79 4.1 A administração do tempo e do espaço na educação a distância ............................................... 80 4.2 Autonomia: a responsabilidade pela própria aprendizagem ......................................................... 87 4.3 Ampliando o conceito do “estar junto virtual” ................................................................................... 94 APRESENTAÇÃO Olá, aluno(a)! Bem-vindo(a)! Neste material você encontrará os conteúdos pertinentes à disciplina Atuação dos Profissionais em EAD: Estrutura e Metodologia, que trata sobre diversas questões relacionadas às metodologias aplicadas na modalidade a distância e seus possíveis resultados de aprendizagem. Vamos analisar tecnologias e suas implicações para a atuação de professores nos ambientes de aprendizagem, relacionando-as aos paradigmas educacionais que norteiam nossas ações como profissionais da educação (presencial ou não). Buscaremos compreender um pouco mais sobre os possíveis paradigmas que permeiam e norteiam as ações dos profissionais da área, no âmbito da ação pedagógica, assim como no design dos materiais e escolhas das ferramentas a serem trabalhadas com os alunos. Para finalizar, analisaremos questões importantes que podem afetar os estudos dos alunos e a ação dos professores na modalidade, como a organização do tempo e o desenvolvimento de autonomia. A disciplina visa promover atitudes que fomentem mais oportunidades de autonomia e aprendizagem. Animado(a)? Então, mãos à obra! 6 INTRODUÇÃO O objetivo deste livro-texto do curso de pós-graduação - FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO a DISTÂNCIA, da UNIP EaD, é ajudá-lo a refletir sobre os desafios da atuação dos profissionais da modalidade, para o uso de ferramentas que promovam uma educação a distância mais próxima. Buscamos compreender quais elementos podem ser fundamentais para uma EaD que promova mais engajamento dos alunos e professores, com responsabilidade e autonomia. O material que agora você tem em seu poder está dividido em quatro unidades didáticas distintas, porém complementares. Cada uma delas apresenta uma particularidade do tema, tendo em vista facilitar seu percurso dentro da temática. Veja como estão organizadas as unidades: Unidade 1 – Tecnologia e Educação a Distância (EaD): As diferentes fases da EaD e suas marcas tecnológicas; A internet como ferramenta de mudança; Paradigmas educacionais e tecnologias. Unidade 2 – Metodologias em EaD: paradigmas: A concepção de educação e processos de ensino aprendizagem; Modalidades de trabalho pedagógico em EaD; A qualidade das interações e o papel do professor em ambientes virtuais. Unidade 3 – Ferramentas síncronas e assíncronas de aprendizagem em AVA: Mediação pedagógica para construir conhecimento complexo; Atividades e ferramentas em AVA (síncronas e assíncronas); Chats, Tarefas individuais, Fóruns e avaliação processual. Unidade 4 – O tempo e a autonomia em EaD: A administração do tempo e do espaço na educação a distância; Autonomia: a responsabilidade pela própria aprendizagem; Ampliando o conceito do “estar junto virtual”. Para estudar todos os temas indicados, os objetivos gerais da disciplina são: • Trabalhar a noção de como as novas tecnologias influenciam a atuação de professores nos ambientes de aprendizagem, relacionando-as aos paradigmas educacionais; 7 • Conhecer a modalidade do ensino a distância como um advento marcado pelas novas possibilidades tecnológicas; • Analisar os desafios da educação a distância; • Refletir sobre os objetivos de aprendizagem relacionando-os às escolhas de ferramentas tecnológicas. Saiba, também, quais são os objetivos específicos:• Identificar desafios ao processo de avaliação; • Perceber que a avaliação não é neutra, mas deve ser fidedigna. Identificar relações entre teoria e prática na modalidade de educação a distância; • Compreender os processos que podem levar à construção de diferentes tipos de conhecimentos; • Conhecer elementos fundamentais para maior engajamento dos alunos para a construção de responsabilidade e autonomia. Aproveite a leitura e as imagens do seu livro e não deixe de buscar as indicações da sessão “Saiba mais” para aprimorar seus conhecimentos. Boa jornada! 8 UNIDADE I 1. TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD) Nesta unidade, a intenção principal é analisar como as tecnologias influenciam a existência da Educação a Distância (EaD), marcando diferentes fases da modalidade. Buscaremos olhar para o advento da internet como ferramenta de aprendizagem, refletindo sobre os paradigmas educacionais e as tecnologias escolhidas. A prática de educação a distância (EaD) tem concretamente existido no mundo há muitos anos, como ação educativa, mas, como apontam Taylor (1994) e Nipper (1989), somente com a mídia impressa é que realmente podemos dizer que a educação a distância passou a ser aceita como parte de um sistema educacional. Historicamente, em um primeiro momento, a EaD teve como apoio fundamental o meio impresso. Para começar, vamos falar sobre as diferentes fases da modalidade a distância. 1.1 As diferentes fases da EaD e suas marcas tecnológicas A primeira fase, conhecida como a primeira geração da educação a distância, foi seguida pela geração multimídia, que, segundo Taylor (1994) e Nipper (1989), foi uma época marcada pelo uso de recursos mais desenvolvidos, como os guias de estudos impressos, leituras selecionadas, vídeos, fitas cassete e até computadores. É importante lembrarmos que a Conteúdos trabalhados na unidade: Tecnologia e Educação a Distância: As diferentes fases da EaD e suas marcas tecnológicas; A internet como ferramenta de mudança; Paradigmas educacionais e tecnologias. 9 primeira fase da EaD pode ser também chamada de geração textual (1890 a 1960). Os estudos eram empreendidos por meio de correspondência, taquigrafia em cartões postais e exercícios. Foi no século XIX, na Europa, que o ensino por correspondência se caracterizou como a primeira geração de procedimentos de ensino a distância. Taylor (1994) aponta que muitas instituições de ensino a distância, simplesmente foram se adaptando às novas possibilidades tecnológicas e mudaram da primeira para a segunda geração, mas ainda outras saltaram diretamente para a chamada terceira geração, da qual fazem parte os que já utilizaram como ferramentas áudio e teleconferências, bem como as videoconferências com apoio em rádio e televisão. Seguindo essa categorização, os autores apresentam a quarta geração, compreendida como a que combina essas últimas tecnologias com todos os outros recursos que passaram a existir mediados pela internet. Essa geração tem como característica o aumento da interatividade e da interação, com um crescimento significativo de fontes de informação de fácil e rápido acesso, disponibilizadas pela internet. Vale a pena conhecer um pouco mais sobre a História da Educação a Distância no Brasil. Entre no link sugerido e veja como tudo aconteceu. Você pode baixar o livro que, também, faz uma trajetória e uma reflexão sobre a situação atual dos programas de governo da Universidade Aberta do Brasil e Rede e-Tec https://www.researchgate.net/publication/324136558_EDUCACAO_A_DISTANCIA_NO_B RASIL_breve_historico_e_contribuicoes_da_Universidade_Aberta_do_Brasil_e_Rede_e- Tec_Brasil 10 1.2 A internet como ferramenta de mudança Você̂ já parou para pensar como as tecnologias desenham o mundo em que vivemos? Podemos afirmar que a internet é uma ferramenta tão revolucionária quanto a imprensa de Gutemberg? O surgimento da imprensa mudou o mundo. A tecnologia da impressão em larga escala garantiu o desenvolvimento dos processos de disseminação de ideias, distribuindo impactos e alterando a organização da vida cotidiana. E a internet? Bem, essa nos permitiu, como jamais antes, o aumento da interatividade e da interação, com um crescimento significativo de fontes de informação disponibilizadas pela Web (World Wide Web), sistema hipertextual que opera através da internet, com o uso de computadores e outros aparelhos móveis, como os celulares. Então, aumentamos de forma significativa as possibilidades de obtermos conhecimentos e de interagirmos com o mundo. O que você entende por História e usos da Internet Pré-história da Internet Os primórdios da Internet remetem à reação do governo norte-americano ao Projeto Sputnik da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), capitaneadas pela Rússia, durante a guerra fria, em 1957. Siga lendo a história no site <https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia- geral/historia-da-internet>. 11 interação? Seria o mesmo que interatividade? A figura a seguir pode representar os dois conceitos? Figura 1: Interação e interatividade http://telainterativa-interatividade.blogspot.com/2009/04/interatividade-x-interacao.html Acesso em jan. de 2019. Sim, a figura pode representar os dois conceitos. Silva (2002) afirma que, apesar de interatividade e interação caminharem lado a lado, não são iguais: • A interatividade deve ser entendida como a conexão entre indivíduo e a informação, feita com a mediação de uma tecnologia: uma máquina; um computador; um celular, por exemplo. • A interação, por sua vez, é muito mais ampla, podendo ser digital ou não, implicando trocas e influências entre pessoas, como em conversas, gestos, recados, discussões, entre milhões de outros gêneros de comunicação. 12 Essa nomenclatura estabelecida é importante para nos ajudar a perceber como as novas tecnologias permitiram o desenvolvimento de uma educação a distância com mais possibilidade de interação. É interessante lembrar também que o aperfeiçoamento dos serviços de correio, melhores meios de transporte e o desenvolvimento tecnológico, em geral; como o da telefonia, influenciaram decisivamente o destino da educação a distância. Como qualquer outro produto social, a educação está sujeita a mudanças, decorrentes não somente das próprias esferas sociais, como também de novos procedimentos de organização do uso da linguagem e da introdução de novas mídias. Daí nosso particular interesse por questões relacionadas às tecnologias, pois muitos contextos educacionais, incluindo os de educação a distância, passaram por modificações por conta do impacto delas. Com o advento das novas Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs), muitas mudanças passaram a afetar, sobretudo, a atuação de professores. Mudanças profundas? Não sabemos… O que você acha? Você sente que as novas tecnologias mudaram muito as suas aulas? 13 Atividade de aplicação _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Então, pode ser que para você lidar com novas tecnologias seja simples, mas isso não ocorre com todo mundo. Moran (2011), um dos maiores especialistas brasileiros no uso da internet em sala de aula presencial ou a distância, em uma de suas entrevistas, aponta para a insegurança do professor causada pela invasão das tecnologias e do conhecimento advindo das redes, afirma que: […] o professor,desde que surgiu o livro, sempre teve um pouco de receio de que o aluno aprendesse outras versões além da dele. Só que hoje você tem muitas outras formas de informações em qualquer mídia… e a internet agrava ainda mais a sensação de que o aluno pode encontrar informações que o professor não tem (MORAN, 2011, p. 4). E muitos alunos sabem mais de tecnologias do que muitos professores, pois são nativos digitais. Entretanto, ainda segundo Moran (2011), tal atitude Escreva exemplos de como você inclui as novas tecnologias em suas aulas, reservando um parágrafo para refletir sobre a seguinte questão: As tecnologias utilizadas servem de suporte real para que você atinja os seus objetivos pedagógicos? 14 vem mudando. Muitos professores já se valem de novas tecnologias como aliadas em seus espaços de trabalho e buscam integrá-las ao contexto educacional, fazendo com que o aluno também tenha uma diferenciada experiência de aprendizagem. Assim, parece que por mais que se tente controlar a entrada de alguma tecnologia em nossas vidas, de alguma forma, a resistência resultará vã. A revolução informacional, permitida pela conexão em redes, penetrou na sociedade tal como a da energia elétrica. Pense bem, não há como ignorá-la! A seguir, reflitamos um pouco mais sobre essa questão. Na área dos estudos da comunicação, é constante a preocupação com a influência dos meios na transmissão de mensagens. Vários estudos entendem o meio como simples canal de passagem de conteúdo comunicativo, pois os meios, ou mídias, já foram amplamente entendidos como incapazes de influenciar os conteúdos comunicativos que veiculam. Com o desenvolvimento de pesquisas na área, como as de Marshall McLuhan, por volta dos anos 1960, inicia-se uma mudança na forma de entender a importância dos meios, na medida em que eles começaram a ganhar valor analítico, como elementos que poderiam mudar a comunicação: de simples canais, passaram a ser vistos como determinantes na comunicação. Para ocluam (1995), a tecnologia em que se estabelece a comunicação não constitui apenas a forma comunicativa, mas é fator decisivo daquilo que pode ser dito, moldando o próprio conteúdo da comunicação. McLuhan (1995) afirma que a evolução midiática é um elemento fundamental para a transformação da cultura humana e, para tanto, ele demonstra a importância das mídias, distinguindo três grandes períodos de evolução. • A cultura acústica: a das sociedades cujo meio de comunicação é a palavra oral; • A cultura tipográfica: característica das sociedades alfabetizadas; • A cultura eletrônica: determinada pela velocidade e pela integração dos sentidos. 15 Para cada uma dessas galáxias, McLuhan (1995) descreve um modo próprio do ser humano pensar o mundo e de nele se situar. Mas, essas preocupações eram típicas dos estudos que focalizam a comunicação e as relações socioculturais. No entanto, algumas questões discutidas nos estudos da comunicação, referentes, principalmente, à introdução de novas mídias, acabaram permeando também o âmbito educacional. Por exemplo, são muitos os que veem as tecnologias como simples instrumentos a serviço do ensino. Outros, seguindo um raciocínio semelhante ao de McLuhan, acreditam que as tecnologias podem definir as relações educacionais. São posições polarizadas que acabam por enfatizar somente um lado de um contexto maior, concorda? Para educadores e pesquisadores na área de EaD, como Garrison e Anderson (2003), as tecnologias afetam diretamente o desenho dos materiais, as interações, o custo dos programas educacionais e até mesmo os resultados, mas são somente um dos aspectos envolvidos no contexto educacional. Para eles, não é possível deixar de lado aspectos como a mediação, o desenho de um curso, as formas de avaliação, as pessoas envolvidas, as motivações, os estilos de ensino e aprendizagem, enfim, todos os outros elementos que compõem o contexto educacional. Garrison e Anderson (2003) acreditam que a tecnologia educacional deve ser definida como o uso formal de tecnologias para o desenvolvimento de uma educação que dissemine, ilustre, comunique ou inclua professores e alunos em atividades com propósitos bem definidos e orientados, com vistas a atingir objetivos específicos de aprendizagem. Nesse sentido, Chaves (1999) acrescenta que a tecnologia pode ser usada na educação, mas isso não a torna educacional ou educativa, por isso, sugere o termo “tecnologia na educação” ou “informática aplicada à educação”. Além disso, o autor salienta que precisamos também ter clareza quando nos referimos às tecnologias, pois o termo “tecnologia” é muito mais complexo. 16 […] podemos nos referir a todas as tecnologias que o ser humano inventou e que afetaram profundamente a educação: a fala baseada em conceitos (e não apenas grunhidos ou a fala meramente denotativa), a escrita alfabética, a imprensa (primeiramente de tipo móvel), e, sem dúvida alguma, o conjunto de tecnologias eletroeletrônicas que a partir do século passado começaram a afetar nossa vida de forma quase revolucionária: telégrafo, telefone, fotografia, cinema, rádio, televisão, vídeo, computador – hoje todas elas digitalizadas e integradas no computador (CHAVES, 1999, p. 2) Enfim, existem muitas tecnologias e o impacto delas, em seus respectivos momentos, faz com que muitos pensem em mudanças e novas soluções para tudo. Não podemos esquecer que a educação continua ainda a ser feita, predominantemente, pela fala e pela escrita, mantendo-as como as “tecnologias” predominantes na educação, tanto presencial como a distância. Assim, queremos que você comece a refletir sobre o uso que fazemos dos mais diversos meios de comunicação, sejam eles antigos ou atuais, usados nos espaços de aprendizagem. Será que propiciam aquilo que se pretender construir durante o processo educacional? Queremos apontar que se pode pensar nas tecnologias como aliadas e possibilitado rãs de novas aprendizagens e que elas podem ser usadas de forma crítica e consciente, para atingir os objetivos específicos de aprendizagem. Por essa razão, nosso enfoque não é olhar para a tecnologia em si, mas o que os professores e alunos podem fazer com ela. O que realmente importa são os conteúdos, e não as características inerentes a esses meios. Clark (1983, p. 445) faz questão de salientar que: […] os meios são simples veículos que entregam instrução, mas não influenciam nos resultados de aprendizagem dos alunos, assim como os caminhões que entregam as verduras não causam nenhuma mudança em nossa alimentação. Portanto, como salienta Taylor (1994), a chave para melhorar a qualidade do ensino em EaD é aprimorar a qualidade do design e dos materiais didáticos a partir do desenho de tarefas bem estruturadas para a promoção de experiências de aprendizagens significativas, melhorando, assim, a eficácia da educação. 17 Autores como Nipper (1989) e Garrison e Anderson (2003) argumentam que uma visão e uma divisão cronológica tão tecnologicamente marcada e tão determinista podem deixar a impressão de que as ferramentas são mais fundamentais que todo o entorno educacional. Na realidade, deveríamos olhar para a forma como as tecnologias foram e ainda são usadas. Assim, esses autores afirmam que devemos buscar critérios de seleção para atingir objetivos pedagógicos específicos, do material impresso e da correspondência, do rádio e da televisão, até as mais recentes tecnologias de comunicação. Como lidar com esses desafios, então? Veja o que diz Saraiva (1996, p. 17): […] os conteúdos e resultados obtidos devem se identificar com a educação como projeto e processo humanos, histórica e politicamente definidos na cultura das diferentes sociedades. A educação a distância deve buscar umcaminho que garanta uma verdadeira comunicação, nitidamente educativa, ultrapassando o simples colocar de materiais instrucionais à disposição dos alunos distantes. Assim sendo, podemos entender que o atendimento pedagógico é fundamental e pode superar distâncias. Ele promove a essencial relação Podemos afirmar que os meios simplesmente enviam informação e as instruções dão acesso às experiências educacionais. O projeto pedagógico de um curso é que deve afetar os processos de ensino e aprendizagem e as escolhas das tecnologias! A escolha da tecnologia deve basear-se na promoção da efetiva interação pedagógica que deve passar por critérios de viabilidade, conveniência e custo- benefício. 18 professor-aluno, por meios e estratégias que devem ser institucionalmente garantidos. Como lembra Saraiva (1996, p. 17): […] embora a educação implique comunicação de informações e conhecimentos, estímulo ao desenvolvimento de habilidades e atitudes, que constituem o que denominamos ensino, implica também e necessariamente a apropriação, por parte dos sujeitos, das informações e conhecimentos comunicados, das habilidades e atitudes estimuladas, apropriação denominada aprendizagem. Voltando às palavras de Garrison e Anderson (2003), salientamos que, no mundo atual, em que temos acesso a uma enorme quantidade de informação, deveríamos preocupar-nos em desenvolver, com os alunos, habilidades e estratégias para gerenciá-las de forma crítica, assim como incentivar o trabalho colaborativo, dentro de uma visão de aprendizagem construtivista, em que o social não pode ser separado da formação do indivíduo. Para complementar seus estudos, a leitura do artigo a seguir ajudará você a perceber que as tecnologias para a EaD são diversas, algumas simples, outras complexas. Você deverá avaliar sempre, para escolher alternativas reais e funcionais, atreladas a objetivos específicos de trabalho. Consulte: BRITO, M. S. da S. Tecnologia para a EAD: via internet. In: ALVES, L.; NOVA, C. (Org.). Educação e tecnologia: trilhando caminhos. Salvador: Ed. da Uneb, 2003. p. 62-89. Disponível em: <http://www.lynn.pro.br/pdf/ educatec/brito.pdf>. Acesso em: 7 out. 2018. Nesse sentido, reafirmamos a inter-relação entre a construção individual e o papel do entorno social como fundamental. Em nenhum momento, a importância das possibilidades de acesso à informação é vista como algo 19 menor, mas temos de salientar a importância de usarmos os novos meios de comunicação para forjarmos espaços de aprendizagem que propiciem mais interação e reflexão. No caso da educação a distância, podemos aproveitar uma possibilidade única de comunicação, entre pessoas de diversos lugares e sem o problema do tempo, pois as pessoas podem comunicar-se de forma assíncrona. Nesse tipo de comunicação, o receptor/transmissor pode encaminhar quantas mensagens quiser, desde que a mensagem anterior seja entregue, ele não necessita de uma resposta, e sim da conclusão do envio da mensagem. A presença de um interlocutor, no momento da mensagem, não se faz necessária. 1.3 Paradigmas educacionais e tecnologias Paradigmas são as realizações cientificas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN, 1991, p. 13). Assim pontuado, queremos mostrar para você que a visão de aprendizagem de autores como Garrison e Anderson (2003) baseia-se em conceitos de John Dewey, que, por volta de 1938, defendia a ideia de que um indivíduo não pode ser entendido separadamente do mundo social em que vive e atua, nem pode ser pensado como totalmente subordinado a esse meio. No O que é virtual? Não deixe de ler! É um livro que analisa a virtualização como um processo irreversível, por não compreendê-la ou não saber de suas consequências, o autor mostra que a passagem para o virtual é a força e a velocidade pelas quais se direciona a cultura atual. Antes de temer que ela torne as pessoas desprendidas de seus próprios saberes, de sua identidade, de seus empregos, de sua profissão e de seu país, precisamos acompanhar. LÉVY, Pierre. O que é virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo, Ed. 34, 1996. 20 caso da educação, aponta-se a necessidade de considerar sempre a inter- relação das duas instâncias. Na esfera educacional, é necessário um olhar atento para a relação entre professores e alunos. Garrison e Anderson (2003) explicam que suas ideias são fundamentadas em um conceito de aprendizagem que salienta o importante papel da interação, entendida por Dewey (1963), como o procedimento que une o sujeito ao ambiente social. Por meio das interações, ideias são geradas e vão possibilitando um entendimento do mundo exterior, o que significa que o conhecimento é construído nas e pelas relações sociais. Assim, Garrison e Anderson (2003), além de outros pesquisadores da área Feenberg (2001); Fino (2004); Gail e Williamson (2004); Gardner (1996), Gervai (2007); entre outros, veem como responsabilidade da escola tentar promover experiências que desencadeiem a construção de conhecimento baseada na colaboração entre os participantes dessas experiências. Nesse sentido, percebemos também uma necessidade de adaptação que exige esforços na formação e treinamento de profissionais para atuarem em diferentes áreas, algumas um pouco novas ou outras bem diferentes. Hoje, há uma estrutura organizacional complexa a serviço do educando “distante”: comunicação otimizada, professores, tutores, coordenadores, material didático e seus elaboradores, elasticidade temporal para dedicação aos estudos, além de todas as áreas de suporte, logística e gerenciamento dos processos. Estruturas que, em outros tempos, eram mais típicas dos contextos presenciais, passaram a existir para atender a alunos que não mais se restringem a tempo e espaço muito específicos ou definidos. Parece que o redimensionamento do lapso temporal no processo de ensino exprime e define inovações na EaD. A atuação da instituição escolar não mais se restringe a suas instalações, ampliando‐se a possibilidade de as pessoas terem acesso à educação de qualidade, em um processo evolutivo crescente. Não podemos negar que persiste certo preconceito em relação à EaD, principalmente, no ensino superior. No Brasil, a EaD sempre esteve vinculada ao ensino técnico, desde a década de 1940, com o Instituto Monitor e o 21 Instituto Universal Brasileiro, até o ensino de adultos – os antigos supletivos e os famosos telecursos, levando muitos a olharem para a modalidade como uma rota mais fácil, para pessoas de baixa renda ou com dificuldades de acesso à educação de qualidade. No entanto, com as novas TIC e as mudanças daí decorrentes, nas mais diversas sociedades, esse quadro parece estar mudando. A conciliação que harmoniza trabalho e estudos alcança aqueles que não dispõem de condições para estudos presenciais. A modalidade a distância pode ser um caminho interessante para resolver o problema relativo à falta de tempo e/ou à dificuldade de locomoção. Os últimos anos foram muito dinâmicos, especialmente com relação ao desenvolvimento de novas tecnologias da comunicação e estas passaram a ser exigidas nos cursos atuais, possibilitando a confecção de cursos com maior qualidade e maiores possibilidades de integração entre alunos, professores e materiais de estudos. Os cursos a distância, muito criticados pela possível minimização da interação entre as pessoas e pela massificação da educação, foram aos poucos modernizando‐se e, é possível, hoje em dia, já verificarmos, em diversos programas, que tais pontos negativos estão sendo superados, respeitando‐se a compatibilidadedo estudante na sua relação com a educação e a vida profissional, tudo graças ao apoio em tecnologias como o computador e a internet. Claro que a qualidade de um curso depende muito da tecnologia adotada e do profissionalismo da instituição de ensino, bem como de seus objetivos educacionais, e nem sempre todos esses elementos são contemplados pelas instituições. Mas as pesquisas atuais na área apontam para a predominância da busca da qualidade, em virtude da competição entre diferentes institutos e da prática de credenciamento e de controle feita pelo governo, por meio do Ministério de Educação e Cultura (MEC). Pela Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, foi estabelecida a possibilidade do uso orgânico da EaD em todos os níveis e modalidades de ensino. Esse artigo foi regulamentado posteriormente pelos Decretos n.º 2.494 22 e 2.561, de 1998; os quais ainda foram revogados pelo Decreto n.º 5.622, em vigência desde 19 de dezembro de 2005. Pelo Decreto n.º 5.622, foram instituídos o acompanhamento e a avaliação. Entre os tópicos relevantes do decreto, destacam‐se: • A caracterização da EaD; • A preponderância das avaliações presenciais (muito criticada por alguns pesquisadores, como Litto (2008); • Maior explicitação para os critérios de credenciamento, principalmente em relação a polos de atendimento aos alunos; • Mecanismos para coibir abusos, como a oferta desmesurada do número de vagas na educação superior; • Permissão de regime de colaboração e cooperação com outros conselhos, estaduais ou nacionais, para a troca de informações; • Previsão para atendimento de portadores de deficiências; • Institucionalização do documento oficial Referências de Qualidade para a Educação Superior a Distância (BRASIL, 2007). Leia o documento a seguir na íntegra, fundamental para o trabalho em EaD no pais em ensino superior: BRASIL. 2007. Referências de qualidade para a educação superior a distância. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/ legislacao/refEaD1.pdf>. Acesso em: 13 out. 2015. Nesse sentido, apesar de muitos não estarem de acordo com todas as resoluções do Ministério, é de sentimento comum entender como louvável a insistência do MEC em estabelecer critérios para a garantia de qualidade por 23 parte das instituições credenciadas para oferecer cursos por meio da modalidade a distância. Para Litto (2008, p. 1): […] a EaD representa a mais apropriada solução para aumentar o acesso a estudos pós‐secundários destinado a camadas da nossa população que não tiveram essa oportunidade no passado, ou por morarem longe dos centros urbanos (70% dos municípios brasileiros não dispõem de qualquer instituição de ensino superior), ou por não terem condições econômicas para se dedicar aos estudos. A flexibilidade oferecida pela EaD é ideal para pessoas que têm de trabalhar para seu próprio sustento, que têm a motivação para progredir profissionalmente e a autodisciplina necessária para completar tarefas acadêmicas, mesmo quando não há um docente a seu lado auxiliando‐as. É difícil imaginar uma preparação melhor para demandas profissionais cada vez mais exigentes. Para o MEC, foi fundamental definir princípios, diretrizes e fomentar reflexões para que a modalidade pudesse oferecer cursos de qualidade. Por essa razão, existe também, atualmente, uma secretaria para a EaD no Brasil (SEED/MEC). Por meio dela, referenciais de qualidade puderam ser desenhados e, atualmente, contamos com um ordenamento legal vigente, em complemento às determinações específicas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Decretos n.º 5.622, de dezembro de 2005 e n.º 5.773, de junho de 2006, portarias normativas 1 e 2, de janeiro de 2007). Esse documento, Referências de Qualidade para a Educação Superior a Distância, embora sem força de lei, serve como referencial norteador para subsidiar atos legais do poder público no que se refere a processos de regulação, supervisão e avaliação da modalidade. Assim, é preciso muito comprometimento acadêmico e científico independentemente da modalidade, ser presencial ou a distância. Nesse sentido, não podemos entender a EaD como um concorrente à aprendizagem presencial, porque ambas têm a mesma finalidade. Devemos entendê‐la, antes, como mais uma modalidade de trabalho que lida, entretanto, com outras particularidades, tais como: a distância, a necessidade de gestão do tempo, a disciplina, a organização e a força de vontade do educando, pois a distância pode tornar a modalidade difícil. Por isso, temos a necessidade de pensar em formação de profissionais para atender a necessidades de um mercado que demanda e busca qualidade. 24 Professores e demais profissionais de EaD precisam de treinamento e desenvolvimento para formação em diversas áreas que vão além da atuação do professor com seus alunos, mas que abrangem também atividades como as do desenho educacional para EaD que envolvem a elaboração, administração de cursos nos ambientes virtuais e uso de diferentes plataformas e ferramentas. Atualmente, os envolvidos nos processos precisam aprimorar seus conhecimentos sobre a acessibilidade de seus cursos e precisam desenvolver capacidades para poder avaliar os diferentes Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) disponíveis no mercado, para poder melhor atingir os objetivos de trabalho com os alunos. Hoje, o aluno inscrito em curso a distância logo perceberá seu conjunto de tarefas, notas, a necessidade de participar de fóruns, chats, de enviar atividades escritas, participar de trabalhos em grupos, realizar provas presenciais, com todas as ações dentro de prazos bem determinados. Muitos alunos assustam‐se com a quantidade de trabalho, isso porque, culturalmente, ainda prevalece o pensamento que cursos na modalidade EaD seriam mais fáceis. Motivo suficiente para que muitos abandonem seus cursos em curto espaço de tempo, após depararem com uma realidade de trabalho muito maior do que a esperada. Vários alunos reclamam que não conseguem acompanhar os cursos atuais porque não imaginavam que um curso online pudesse tomar tanto tempo. Os paradigmas educacionais para a EaD mudaram, mas a barreira cultural não permite que muitos alunos percebam que atualmente um curso a distância não é muito diferente de um curso presencial em termos de trabalho e de engajamento do aluno. Professores relatam que vários alunos até chegam a perceber que o nível dos cursos pode ser melhor. Mas para participar ativamente de alguns cursos, os alunos precisam comparecer com atividades efetivamente realizadas, escrever, participar. O envolvimento e a dedicação do aluno são primordiais, embora nem todos estejam preparados para isso. 25 Por isso, não só os profissionais de EaD precisam conhecer melhor como atuar e o que podem fazer, mas aos alunos também cabe adquirir uma visão diferente dessa modalidade de ensino. Além disso, ainda há muitos que precisam aprender a lidar com as novas formas de comunicação com objetivos pedagógicos. Para refletir Para melhor encontrar as respostas para os questionamentos acima, sugerimos a leitura do texto a seguir: MORAN, J. M. O que é um bom curso a distância? In: MORAN, J. M.; ALMEIDA, M. E. B. Integração das tecnologias na educação. Serie Salto para o Futuro, Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, Seed, 2005. p. 147‐148. Disponível em: <http://www.eca.usp. br/prof/moran/site/textos/educacao_online/bom_curso.pdf>. Acesso em: 7 out. 2018. Será que conseguem utilizar as tecnologias apropriadamente? Será́ que os alunos sabem usar tecnologia para aprender em cursos a distância? 26 Na verdade, se imaginarmos o contexto da vida cotidiana, muitas pessoas foram adaptando‐se ao uso informaldos mais diversos equipamentos digitais, de acordo com suas necessidades e seus interesses. Mas, no caso de espaços pedagógicos, as adaptações são mais complexas, porque exigem alto grau de reflexão e preparação para uma utilização mais adequada aos objetivos específicos de aprendizagem. O propósito da inserção de uma determinada ferramenta tecnológica no âmbito pedagógico pode ser muito diferente das circunstâncias de uso cotidiano dessa mesma ferramenta. Por exemplo, podemos usar uma sala de bate‐papo (chat) para conversar informalmente com amigos, mas também podemos utilizar chats para encontros acadêmicos entre professores e alunos, com objetivos específicos de aprendizagem e, portanto, nesses espaços acadêmicos, as tecnologias serão utilizadas de forma diferente. Consequentemente, os educadores precisam aprender a ajudar seus alunos “distantes” a usar as ferramentas tecnológicas de forma adequada a diferentes objetivos educacionais. Por isso, temos a necessidade de preparação de profissionais para a utilização da tecnologia e para o planejamento de mediações adequadas aos propósitos educacionais. Essas questões não parecem muito simples e as pesquisas confirmam essa preocupação. Vejamos. Na EaD, o processo de incorporação das novas ferramentas tecnológicas nem sempre é isento de problemas. No caso do Brasil, de acordo com dados de Toschi (2003), muitos cursos passaram a utilizar novas tecnologias sem, contudo, oferecer um trabalho formativo e crítico sobre o uso dessas novas ferramentas para professores. Além disso, como afirmam Toschi (2003), Belloni (2003) e Barreto (2003), entre outros estudiosos de EaD, muitos programas de educação a distância incorporaram as tecnologias para incentivar atividades de autoaprendizagem, com programas que, em geral, negam a importância da mediação de professores e da interação entre alunos e entre alunos e professores. Assim, acabam ressaltando apenas a relação entre equipamentos e usuários, deixando abandonada à sua própria sorte, a mediação de 27 professores que, em muitos programas de educação a distância, só acompanham o que o aluno está fazendo para cobrar as tarefas e fazem atendimento específico para resolver dúvidas. Hoje, em alguns cursos e instituições, esse papel é repassado aos tutores que, muitas vezes, não têm autonomia para a tomada de decisões. Uma consequência dessas práticas acaba sendo a falta de parâmetros que auxiliem o professor ou formador de professores a preparar‐se para usar os novos recursos tecnológicos de modo que privilegiem interações entre participantes ou trabalho colaborativo. E os alunos acabam por ver reforçada a ideia da distância e da cultura da EaD de pouca qualidade. Além disso, outro dado que pouco contribui para o contato dos professores com as tecnologias é que elas são muito subutilizadas nas escolas e nas faculdades durante a formação deles. Pesquisadores como Wild (1996) e Ramal (2002) apontam a falta de uso das tecnologias nas escolas, afirmando que muitos professores não se sentem preparados para o uso das tecnologias, o que acaba por deixá‐los distantes dos computadores e da internet. Toschi (2003) denomina tal despreparo de “temor tecnológico”. Esse temor faria com que professores simplesmente não utilizassem a tecnologia com seus alunos, afastando‐os, portanto, do contato com tecnologia para uso pedagógico. Portanto, para que se efetive a qualidade de ensino, é preciso fazer com que o aluno perceba a necessidade de aprender a lidar com exigências um tanto diferentes. Para que a aprendizagem seja produtiva, o aluno precisa ser responsável, motivado e perseverante. Como resultado do despreparo tanto de profissionais da área como de alunos, temos os altos índices de evasão. Os alunos acabam por perder a motivação e abandonam a modalidade. Até 2002, de acordo com a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), o índice de desistência no Brasil era de 80% e, atualmente, vem caindo pela melhora da qualidade do atendimento e do preparo dos diversos profissionais da área. Cavalcanti (2011), entre outros pesquisadores, aponta caminhos que podem minimizar esses problemas. Por exemplo, para a autora, as instituições devem investir em: 28 Um sistema eficaz de atendimento ao aluno, que utilize vários canais de comunicação, como telefone, e‐mail, chat, entre outros; Infraestrutura para que o aluno tenha acesso a materiais como livros; Uma equipe multidisciplinar capacitada para dar apoio em tecnologia; Equipe para o desenvolvimento de material didático apropriado; Capacitação de coordenadores, professores e tutores. Staa (2003) ainda acrescenta a urgência de os ambientes permitirem apoio cognitivo avançado, oportunidades para interação entre alunos e entre alunos e professores, além de um suporte para atender às dificuldades técnicas e emocionais dos alunos. O suporte técnico é fundamental também, pois os alunos poderão ter dificuldade de acesso ou até mesmo de lidar com a tecnologia. Para Staa (2003), é preciso sempre observar o contexto em que o curso está inserido, seu preço, seu tempo de duração, o design do material que contemplem a existência de tutoriais, o tipo de atividades propostas, as tecnologias propostas, o grau de motivação de professores e alunos, bem como os tipos de feedback oferecidos. Além disso, os alunos precisam saber sobre critérios de avaliação, e é sempre interessante criar um ambiente que os faça refletir sobre como devem estudar. Fizemos um resumo adaptado para você. A. Nem tudo o que leem na web pode ser tomado como verdade absoluta. 29 B. O acesso às redes sociais durante os momentos de estudo, por exemplo, pode causar distração e interferir no desempenho acadêmico. C. O excesso nas redes pode ser arriscado. O mundo “offine” não deve ser substituído pelo “online”. D. O mundo online permitiu algumas mudanças na escrita da língua portuguesa, dando a ela, novos aspectos e sentidos. Isso pode interferir na qualidade de redação de outros gêneros. A linguagem da internet ainda não foi naturalizada como padrão em nossa sociedade! E. Muitos estudantes não pensam antes de postar algum conteúdo na internet. É preciso lembrar, porém, que tudo o que escrevemos na web pode ser visto e logicamente, julgado. Posts com conteúdos comprometedores podem trazer complicações ao aluno ao longo de sua caminhada acadêmica e profissional. Pesquise também, no Educomunicação, os aspectos positivos das mídias sociais no site: <https://cadernodia.wordpress.com/2011/07/23/redes‐sociais‐e‐educacao‐uma‐ relacao‐de‐amor‐e‐odio/>. Como já dissemos, nem todas as propostas de cursos em EaD têm a mesma preocupação e tampouco os mesmos paradigmas para nortear o planejamento, a metodologia e a realização de um curso. Martins e Prado (2011), afirmam que existem desde propostas que retratam um modelo de educação de massa, como outras mais abertas, que enfatizam o processo de construção de conhecimento, a autonomia e o desenvolvimento de competências que a sociedade atual exige de um profissional. Pelas palavras das autoras (2011, p. 1): O fato é que a educação a distância, muitas vezes, reproduz a educação presencial tal como vem sendo desenvolvida – de forma obsoleta para os dias atuais, mas em um formato veiculado pelas novas tecnologias. Geralmente são cursos que disponibilizam na rede 30 uma grande variedade e quantidade de informações, esperando que isto seja suficiente para a aprendizagem do aluno. Desenvolver um curso a distância nesses moldes acaba empobrecendo e obscurecendo as potencialidades da Internet como um meio para desenvolver um trabalho educacional baseado numa rede de aprendizagem.No entanto, tal visão de EaD não é generalizada. Os estudos demonstram a tendência em buscar propostas que privilegiam a interação entre os participantes e o desenvolvimento do trabalho colaborativo. Nessa perspectiva, Valente (2000b) vem apresentando uma perspectiva que enfatiza o estar junto virtual, isto é, o papel do formador de acompanhar e assessorar o aluno, criando situações de aprendizagem que possam ser significativas. Adotando uma linha socioconstrutiva do conhecimento, além da interação com o formador, a dinâmica do curso deverá promovê‐la também entre os alunos: na troca de ideias e experiências, surgiriam novos questionamentos, referências, dúvidas e buscas de novas compreensões. Cabe, aqui, ressaltar que o processo de construção de uma rede de aprendizagem não é natural e nem acontece simplesmente disponibilizando informações para os alunos via internet. Existem vários elementos inter‐relacionados constituintes do universo de um curso a distância, que podem facilitar essa construção: um dos aspectos cuja revisão urge é o relacionado ao papel do professor online e sua mediação pedagógica, tanto nos ambientes como na confecção e desenho dos materiais. O psicólogo bielo‐russo Lev Vygotsky (1896‐1934) conceitua a interação. Para ele, todo o aprendizado é necessariamente mediado – e isso torna o papel do ensino e do professor mais ativo do que o previsto por Piaget. O aprendizado não se subordina ao desenvolvimento das estruturas intelectuais, mas alimenta‐se do outro, provocando saltos qualitativos de conhecimento. O ensino deve antecipar‐se ao que o aluno ainda não sabe, não sendo capaz de aprender sozinho. 31 Assim, podemos imaginar que a mediação pedagógica demanda a abertura do professor para aprender e uma postura reflexiva para rever constantemente sua prática, bem como a criticidade e a autonomia para relativizar suas intenções. A mediação pauta‐se na articulação dos princípios de ensino‐aprendizagem, concretizando‐se pelas constantes recriações de estratégias durante a realização de um curso. No entanto, para que isso ocorra, os princípios educacionais são fundamentais. E, normalmente, o professor está inserido em um contexto educacional e o seu local de ação pode comprometer seu trabalho, pois o ambiente e as propostas de um curso a distância podem facilitar e promover as trocas e os contatos com os alunos, ou, simplesmente, não. Por outro lado, não podemos deixar de considerar, como um aliado importante, a existência dos recursos de suporte da educação a distância. Os institutos de ensino devem buscar o aproveitamento máximo dos recursos disponíveis para auxiliar o trabalho do professor, que pode, além de contar com materiais didáticos, dispor de ferramentas para mapear as formas diferenciadas de desenvolvimento do aluno no decorrer do curso. Para finalizar, convidamos você a realizar uma atividade sobre as temáticas que discutimos nesta unidade. Analise a sua situação como aluno da modalidade EaD e responda às questões abaixo: 1) Você sente que está envolvido com o curso? 2) Você sente que aprende com os colegas e com os professores? 32 3) Você percebe que a rotina e disciplina são elementos necessários para os estudos em EAD? 4) Quais são os pontos diferentes dos cursos EaD para os presenciais? Elabore um pequeno texto sobre esse tema, relacionando-o aos textos lidos. Justifique e exemplifique como trabalhar para uma Ead com mais interação e construção conjunta de conhecimento. Bom trabalho! _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 33 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Chegamos ao final dessa primeira unidade. Aqui você estudou sobre a educação, a didática e as mudanças na modalidade EaD possibilitadas a partir do surgimento de novas tecnologias. Mais detalhadamente: as diferentes fases da EaD; a internet como ferramenta de aprendizagem; a educação e suas tecnologias, relacionados aos paradigmas educacionais. Você foi levado a pensar a importância das novas tecnologias de informação e suas potencialidades, mas, ao mesmo tempo, tentamos mostrar- Não deixe de ler MARTINS, M. C; PRADO M. E. B. B. A mediação pedagógica em propostas de formação continuada de professores em informática na educação. São Paulo: ABED, 2005. Disponível em: <http://www.abed.org.br/site/pt/midiateca/textos_ead/628/2005/11/a_mediac ao_pedagogica_em_propostas_de_formacao_continuada_de_professores_ em_informatica_na_educacao>. Acesso em: 16 dez. 2018. 34 lhe que essas ferramentas, sozinhas, não mudam paradigmas de ensino- aprendizagem estabelecidos há séculos. Também vimos a consolidação da EaD e como o MEC foi fundamental para definir princípios, diretrizes, além de fomentar reflexões para que a modalidade pudesse oferecer cursos de qualidade, culminando na elaboração do documento Referências de Qualidade para a Educação Superior a Distância. Assinalamos a notória melhora de qualidade dos cursos oferecidos. Concluímos que um curso a distância não é muito diferente de um presencial em termos de trabalho e engajamento, mas alunos e professores precisam desenvolver certas habilidades e competências, diferentes daquelas desenvolvidas nas salas de aulas tradicionais presenciais, principalmente, em cursos que busquem maior colaboração para a construção conjunta de conhecimento. Esperamos que você tenha aprendido bastante e esteja motivado(a) a ir adiante. 35 UNIDADE II 2. METODOLOGIAS EM EAD: PARADIGMAS Nesta unidade a intenção principal é estudar as diferentes concepções teóricas sobre educação e como podem afetar os processos de ensino e aprendizagem na modalidade de trabalho pedagógico em EAD. Vamos seguir um pouco mais adiante com as reflexões, discutindo e aprofundando o conhecimento sobre as teorias que servem de base para o desenvolvimentodos programas e materiais didáticos, além de ajudar você a avaliar algumas metodologias adotadas nas opções existentes no mercado. Pode ser bem útil para o seu futuro profissional! Preparado(a)? Então, mãos à obra! 2.1 A concepção de educação e processos de ensino aprendizagem Vamos, então, dar início à questão da educação como fundamento. Embora a modalidade EaD tenha suas particularidades com relação a distância e às mudanças de contexto, recursos técnicos e infraestrutura, todos esses elementos só ganham sentido dentro de uma ação político-pedagógica O psicólogo bielo‐russo Lev Vygotsky (1896‐1934) conceitua a interação. Para ele, todo o aprendizado é necessariamente mediado – e isso torna o papel do ensino e do professor mais ativo do que o previsto por Piaget. O aprendizado não se subordina ao desenvolvimento das estruturas intelectuais, mas alimenta‐se do outro, provocando saltos qualitativos de conhecimento. O ensino deve antecipar‐se ao que o aluno ainda não sabe, não sendo capaz de aprender sozinho. Conteúdos trabalhados na unidade: a concepção de educação e processos de ensino aprendizagem; modalidades de trabalho pedagógico em EAD; a qualidade das interações e o papel do professor em ambientes virtuais. 36 educacional. Cada modalidade, presencial ou a distância, precisa pensar e elaborar seu projeto político-pedagógico (PPP) e levar em consideração questões teóricas básicas sobre ensino-aprendizagem. Figura 2 https://www.google.com/search?biw=1680&bih=881&tbm=isch&sa=1&ei=S- JiXL_dOOz5OUP8NStkAo&q=projeto+pol%C3%ADtico+pedag%C3%B3gico&oq=projeto+pol% C3%ADtico+pedag%C3%B3gico&gs_l=img.3..0l2j0i5i30j0i24l7.2262.3302..4126…0.0..0.142.57 9.5j1……0….1..gws-wiz. Acesso em: jan. 2019. Cada projeto político pedagógico deve apresentar com clareza uma opção teórica sobre o que é educar e aprender, porque as decisões sobre as ações de trabalho em EaD não podem simplesmente acontecer sem que haja uma consciência clara sobre os objetivos de formação dos cidadãos. Projeto Político-Pedagógico (PPP) é um documento que imprime uma direção com especificidades e singularidades, apresentando o funcionamento de um curso, determinando suas prioridades, sua inserção no contexto social, econômico e acadêmico do país. Deve apresentar com clareza uma opção teórica sobre o que é educar e aprender. 37 A opção epistemológica acabará por orientar todo o trabalho, desde a organização do currículo, como a organização dos temas, das formas de trabalhos propostas nos materiais, nos modos de mediação dos professores e nas suas formas de avaliar os alunos. O papel do aluno será diferente de acordo com as diferentes formas de pensar a questão da aprendizagem. As tecnologias empregadas em um curso podem favorecer ou não determinados caminhos para diferentes tipos de oportunidades de aprendizagem. Portanto, devem estar a serviço do projeto pedagógico, e não constituir seu fim em si. Todos os elementos de um programa devem ser coerentes com as propostas do PPP, manifestando-se de forma clara para todos os envolvidos, incluindo os alunos. Assim sendo, a EaD tem as mesmas exigências da modalidade presencial com relação às escolhas de metodologias de ensino aprendizagem e, portanto, diversos caminhos podem ser seguidos, gerando oportunidades de aprendizagem muito diversas. O problema, como já́ apontado, é o de muitas instituições, que trabalham com a modalidade a distância, acabarem deixando de refletir sobre as Epistemologia significa “ciência”, “conhecimento”. É o estudo científico que trata dos problemas relacionados à crença e ao conhecimento, sua natureza e suas limitações. Aborda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, sendo igualmente conhecida como teoria do conhecimento, relacionando-se à metafísica, à lógica e à filosofia da ciência. É uma das principais áreas da filosofia, compreende a investigação sobre a possibilidade do conhecimento, ou seja, de o ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno, bem como da origem do conhecimento. Veja mais sentidos do conceito no site: <http://www.significados.com.br/ 38 questões pedagógicas e metodológicas, dando maior ênfase para a estrutura organizacional e a logística do negócio. Quando as novas tecnologias são incorporadas com pouca reflexão sobre suas reais funções pedagógicas, os professores também acabam, muitas vezes, sem saber o seu papel no novo contexto. Para refletir! Para a modalidade Ead, como professor, pense nas seguintes questões: Os estudos mostram que os professores não sabem muito bem como mediar a aprendizagem de seus alunos em contextos a distância. Berge (1995), tal como Berge e Collins (1995), assinala que as novas tecnologias podem ajudar a promover novos ambientes de aprendizagem, com maior possibilidade de incentivo de aprendizagem colaborativa, ressaltando a necessidade de trabalhos interdisciplinares, além de distribuir mais as responsabilidades pela construção de conhecimento, mas faltam, em geral, as possibilidades de acesso e uma visão de empreendimento educacional Fonte: https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial- gratis/Rapaz-pensando-em- quest%C3%A3o/70001.html Que tipo de aula devo construir? Como deve ser exposto o material didático que desenho? Como deve ser minha intervenção? 39 necessária à criação de ambientes em que a tecnologia sirva como suporte para os objetivos específicos de aprendizagem. Nessa perspectiva, escreve Almeida (2003, p. 2): […] a integração entre a tecnologia digital com os recursos da telecomunicação, que originou a internet, evidenciou possibilidades de ampliar o acesso à educação, embora esse uso per se não implique práticas mais inovadoras e não represente mudanças nas concepções de conhecimento, ensino e aprendizagem ou nos papéis do aluno e do professor. No entanto, o fato de mudar o meio em que a educação e a comunicação entre alunos e professores se realizam traz mudanças ao ensino e à aprendizagem que precisam ser compreendidas ao tempo em que se analisam as potencialidades e limitações das tecnologias e linguagens empregadas para a mediação pedagógica e a aprendizagem dos alunos. Em outros termos, as tecnologias ofertam novas possibilidades para a educação, mas de nada servem se usadas para reproduzir os mesmos padrões das tecnologias antigas. Com relação mais específica à mediação pedagógica em EaD, apoiada nas TIC, alguns autores, como Gutierrez e Prieto (1994), ressaltam que as diferentes ações do professor podem permitir a recriação de estratégias, para que o aluno venha a atribuir sentidos àquilo que está aprendendo. E, para que isso ocorra, é fundamental que o professor tenha clareza sobre os princípios educacionais que norteiam sua ação pedagógica, sobre a intencionalidade e os objetivos em longo e curto prazos. Por essa razão, acreditamos necessária a criação de espaços, como este curso, que permitam a discussão sobre o uso das tecnologias em EaD, relacionando-as aos pressupostos teóricos fundamentais à mediação pedagógica. Precisamos entender a importância da mediação; das escolhas das tecnologias e do desenho do curso, relacionados a princípios pedagógicos para que possamos fazer sempre o melhor. Como aponta Peraya (2002, p. 49): “a utilização de determinada tecnologia como suporte à EaD não constitui em si uma revolução metodológica, mas reconfigura o campo do possível”. 40 Nesse sentido, Wallace (2003) aponta que pesquisas recentes indicam importantes áreas de atuação do professor e começam a disponibilizarorientações que podem ajudar nas mediações pedagógicas a distância. Por exemplo, no caso do uso de ferramentas, como fóruns ou chats, várias pesquisas sugerem alguns modelos de mediação (CELANI; COLLINS, 2005; GERVAI, 2007; WADT, 2009, VICTORIANO, 2010). Certos tipos de trabalhos em fóruns ou chats podem promover interações entre alunos, e outros não. A maneira de dar instruções e respostas, em espaços de aprendizagem online, também pode gerar diferentes tipos de engajamento e participação por parte dos alunos, entretanto, apenas abrir um fórum não necessariamente garantirá uma interação de qualidade. Um fórum pode se transformar em um depósito de postagens sem respostas. O que percebemos é que muitos profissionais que trabalham com EaD nem sempre sabem o que mais funciona e muitos nem pensam em como tomar as decisões baseadas nos objetivos pedagógicos de seus cursos. Muitas vezes, nem paramos para pensar sobre o que queremos de nossos alunos. Qual o papel do aluno? O que ele deve fazer? Como já discutimos, muitos professores começam a trabalhar com a modalidade e poucos são preparados para o novo empreendimento. No caso do Brasil, de acordo com dados de Toschi (2003), muitos cursos passaram a utilizar novas tecnologias, sem, contudo, oferecer um trabalho formativo e crítico sobre o uso dessas novas ferramentas para professores. O professor deixa de ter parâmetros para a sua atuação. Autores, como Pawan et al. (2003), apontam que as interações entre alunos em cursos da modalidade EaD, geralmente, restringem-se a trocas de informação. As discussões em fóruns podem estruturar-se como monólogos, nos quais os participantes podem avançar para o compartilhamento de experiências e expressão de opiniões, mas com pouco esforço para conectar- se a outros ou para interagir com as participações dos colegas de curso. Essas pesquisas contribuem para nos alertar sobre a necessidade e importância da formação de professores nesses ambientes de aprendizagem, pois apontam para mudanças na atuação de professores, de tutores e 41 designers de cursos, a fim de gerar oportunidades de aprendizagens mais significativas. Atividade de aplicação A integração das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) aos processos educacionais pode contribuir para a democratização das oportunidades educacionais, para o acesso ao conhecimento e, para a diminuição do abismo, que tem de um lado a exclusão e de outro a desigualdade social. Não é porque estamos em um mundo de novas tecnologias, que temos uma educação diferente daquela que predomina na modalidade presencial tradicional. Podemos usar uma tecnologia para simular a educação presencial, com o uso de uma nova mídia, mas continuar fazendo tudo igual. 42 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Por meio de um texto dissertativo/argumentativo, explique a passagem citada e justifique-a, de acordo com a legislação brasileira. Como a inclusão é tratada na educação atual e como pode o especialista em EaD atuar para que se torne inclusiva a prática escolar normalmente excludente? Como devem ser preparadas as escolas que optarem por inserir, em sua grade, conteúdos veiculados por EaD, para que todos aprendam? De que maneira a EaD pode ser utilizada como ferramenta de promoção para a cidadania? 43 2.2 Modalidades de trabalho pedagógico em EAD Como já dissemos, várias modalidades de trabalho coexistem em EaD. Por exemplo, há cursos que integram os meios de comunicação de massa tradicionais – rádio e televisão – associados à distribuição de materiais impressos pelo correio ou pela própria web, via computadores. Esses cursos emitem informações de maneira uniforme para todos os alunos, que recebem os materiais impressos com conteúdos e tarefas propostas. Espera-se que os alunos estudem os conceitos recebidos e realizem os exercícios e provas. Essas tarefas são corrigidas pelos professores da instituição, mas, em geral, com pouca interação entre alunos e professores ou alunos com outros alunos. Esse tipo de abordagem da EaD apresenta altos índices de matrículas e enormes números de desistência, mas encontra-se em todas as partes do mundo. Nessa modalidade de trabalho, o papel do professor fica mais centrado na elaboração de materiais instrucionais, com foco na transmissão de conteúdos e com pouco espaço para o planejamento de estratégias de ensino e, na maioria das situações, há um tutor encarregado de responder as dúvidas dos alunos. Nesse quadro, no caso do Brasil, o tutor tem assumido um papel complexo, pois poucos são preparados para atuar com os cursos. Muitos nem entendem sobre o conteúdo que têm de administrar e, para acrescentar dados à lista de problemas, as pesquisas mostram que poucos têm formação como educadores. Portanto, trabalham com os alunos, mas com poucos objetivos específicos de desenvolvimento destes. O aluno, por sua vez, parece ter o papel de receptor de conteúdo, aquele que deve receber informação e fazer tarefas. Se analisarmos essa lógica organizacional, refletindo sobre a interação dos participantes dos cursos em EaD, perceberemos que tal interação é programada e mais robotizada. O estudante, apesar de estar em um curso a distância, como tecnologias atuais como apoio, acaba tendo um papel mais passivo no processo de socialização virtual, pois não tem muita oportunidade de interagir livremente e socializar-se, 44 por estar numa estrutura padronizada, sem grandes possibilidades de interação. Com a inserção das novas tecnologias, algumas possibilidades de mudanças reavivaram a EaD, mas parece-nos claro que permitiram também a continuidade das tradicionais formas mecanicistas de transmissão de conteúdos, que podem, agora, ser digitalizados e enviados pela internet. Como explorar o potencial de interatividade das TIC e desenvolver atividades a distância com base na interação, possibilitando a produção diferenciada de conhecimento? A seguir, para termos um panorama das modalidades que encontramos com frequência atualmente, apresentamos a nomenclatura de Prado e Valente (2002) para ajudar-nos a entender como as instituições estão trabalhando. Para esses autores, as abordagens de EaD, com apoio das TIC, podem ser de três tipos: • Broadcast; • Virtualização da sala de aula presencial; • Estar junto virtual. Prado e Valente (2002) chamam de broadcast a tecnologia computacional empregadapara ‘’entregar a informação ao aluno’’ da mesma forma que ocorre com o uso das tecnologias tradicionais de comunicação como o rádio e a televisão. A virtualização da sala de aula, para eles, ocorre quando os recursos das redes telemáticas são utilizados da mesma forma que a sala de aula presencial. O objetivo é o de reproduzir o que acontece em uma sala de aula, que procura transferir para o meio virtual o paradigma do espaço- tempo da aula e da comunicação bidirecional entre professor e alunos. Já o estar junto virtual também denominado “aprendizagem assistida por computador” (AAC) explora a potencialidade interativa das TICs, tentando ao máximo aproximar os emissores dos receptores dos cursos, permitindo criar condições de aprendizagem e colaboração. 45 Então, você percebe que, mesmo com a integração das novas tecnologias, não é fácil sair dos padrões de mera transmissão do conhecimento? Para Almeida (2003), é preciso compreender que não basta colocar os alunos em ambientes digitais para que ocorram interações significativas e tampouco se pode admitir que o acesso a hipertextos e recursos multimidiáticos dê conta da complexidade dos processos educacionais. Por isso, é fundamental ter como base projetos pedagógicos com teorias claras para que os caminhos possam ser delineados de maneira que as escolhas tecnológicas possam servir aos propósitos pedagógicos. Esse caminho pode até mesmo ajudar as equipes envolvidas a reformular ações e planejar outras no intuito de uma constante melhora na qualidade da educação. Seguindo essa perspectiva, aproveitamos para aprofundar a questão do estar junto virtual, pois várias instituições, atualmente, buscam conhecer melhor esse caminho, a fim de implementá-lo em seus projetos de EaD. Segundo Prado e Valente (2002), o estar junto virtual implica uma presença muito mais ativa dos professores. Eles passam a ter um papel de orientador, que acompanha o aluno e o desenvolvimento dos cursos. Nesse sentido, o professor tem de atuar em determinados momentos para fazer com que os alunos melhorem suas produções, aproveitando para fazê-los refletir, discutir e aprofundar os conteúdos dos cursos. O professor tem de estar presente, mas não controla o contexto o tempo todo. 2.3 A qualidade das interações e o papel do professor em ambientes virtuais Outra contribuição importante, para se entender a qualidade do trabalho dos professores nesses ambientes, está na análise das interações que ocorrem nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). Kanuka e Anderson (1998), ao trabalharem com as categorias de Gunawardena et al. (1997), perceberam que a maioria das interações 46 analisadas em AVA, apontavam para uma enorme quantidade de interações sociais sem que ocorressem negociação de sentidos para a construção de novos conhecimentos. Segundo eles, os dados das pesquisas apontam para a simples aquisição de informação compatível com o conhecimento existente. Nas interações analisadas por esses autores, informação adicional era supostamente adquirida pelos participantes, mas sem que eles pudessem perceber, por meio dos dados, mudanças na estrutura das colocações dos participantes. Essas interações foram nomeadas por eles de intercâmbio social. Kanuka e Anderson (1998) também perceberam que os momentos de construção de conhecimento aconteciam depois de longos momentos de desacordos entre participantes, por exemplo, em fóruns. Portanto, sentiam que somente quando os participantes tinham uma postura de buscar entender as diferentes ideias e conceitos expostos, é que aconteciam mudanças na qualidade das interações. O processo de construção do conhecimento dava-se por meio do desacordo, que funcionava como catalisador da transformação ou mudança de conhecimento. Contudo, na maioria das vezes, esses desacordos eram simplesmente ignorados e nada se construía conjuntamente. Segundo os autores, um relativo desconhecimento dos participantes entre si e a natureza assíncrona da interação são responsáveis por muitas das diferentes contribuições dos alunos serem, simplesmente, ignoradas. Daí a importância de se investigar o papel do professor incentivador nesse processo, pois acredita-se que as tensões e contradições devam ser aproveitadas para motivar maior aprofundamento das interações entre alunos, com possibilidade de mudança e desenvolvimento de ideias, procedimentos esses, considerados essenciais para a construção colaborativa do conhecimento. 47 Você não pode deixar de ler PRADO, M. E. B. B; MARTINS, M. C. A mediação pedagógica em propostas de formação continuada de professores em informática na educação. São Paulo: ABED, 2002. Disponível em: <http://www.abed. org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=4abed&infoid =193&sid=102>. Acesso em: 16 out. 2018. Neste artigo a Educação a distância é abordada como uma possibilidade de trabalhar a formação continuada fundamentada numa abordagem pedagógica que favorece o desencadeamento do processo reflexivo do aluno- profissional, integrando o conhecimento prático e teórico relacionado ao seu contexto de atuação. Enfatiza o processo de construção do conhecimento. A mediação se pauta na articulação dos princípios de ensino e aprendizagem, e se concretiza pelas constantes recriações de estratégias durante a realização de um curso. 48 A internet oferece muitas oportunidades para as pessoas trocarem experiências profissionais, mas é sempre importante conferir a qualidade do ambiente! As novas tecnologias podem ir além das frequentes palestras, em que só o professor fala, pois permitem interação e colaboração entre as pessoas. Nessa perspectiva, Kanuka e Anderson (1998, p. 2-3) colocam as teorias construtivistas de aprendizagem como grandes aliadas dos meios tecnológicos/ digitais. Essa relação ocorre pelo fato dos computadores proporcionarem muito mais interação que outros meios tecnológicos. 49 Analise um outro ambiente de aprendizagem virtual de seu interesse profissional. Verifique: 1) Quais as características? 2) Como é a participação dos alunos? 3) Como são as atividades? 4) Quais são os pontos interessantes? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 50 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________