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1 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS V – ORTOPEDIA | P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL Síndrome Miofascial • É uma condição clínica específica de dor muscular regional, associada à presença de um ou mais pontos dolorosos, chamados de pontos-gatilho. • A dor é profunda e mal localizada, podem estar associadas a fenômenos motores, sensoriais ou autonômicos. Distúrbios sensoriais: disestesias, hiperalgesias e dor referida. Manifestações autonômicas: alterações de temperatura, sudorese, piloereção, eritema, salivação e queixas proprioceptivas. • É a causa de dor musculoesquelética mais comum, é comum sua presença na região orofacial (cefaleias tensionais, dor temporo-mandibular), cervicais, dorsais e lombares. • Se os pontos-gatilho forem tratados, o paciente melhora, diferente da fibromialgia, que eles são úteis no diagnóstico mas não devem ser tratados isoladamente. EPIDEMIOLOGIA • Extremamente comum. • Quadros mais comuns: musculatura cervical e cintura escapular. • Pontos miofasciais em 54% de indivíduos assintomáticos. • Maior prevalência: entre 30 e 50 anos, sexo feminino, sedentarismo. ETIOPATOGENIA • Um ponto-gatilho se desenvolve após uma injúria inicial a uma banda de fibras musculares. Essa injúria pode incluir um evento traumático evidenciado ou traumas de repetição no músculo acometido. • O ponto-gatilho causa dor e estresse no músculo ou nas fibras musculares. À medida que o estresse aumenta, o músculo vai se tornando fadigado e mais suscetível à ativação de novos ponto-gatilho adicionais. • Quando vários fatores predisponentes se combinam com um evento produtor de estresse agudo, temos a ativação da síndrome miofascial. ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICOS • Não existe nenhum exame laboratorial ou anatomopatológico que contribua para o diagnóstico da síndrome miofascial. • O diagnóstico depende da anamnese e do exame físico executados de forma detalhada. • Diagnósticos diferenciais: tendinopatias, bursopatias e contraturas musculares, síndrome do túnel do carpo, fibromialgia, hipotireoidismo... CARACTERÍSTICAS DOS PONTOS DE GATILHO As três primeiras são essenciais para o diagnóstico; as últimas cinco não são necessárias para fazer um diagnóstico. 1. Banda rígida no músculo 2. Sensibilidade dolorosa aumentada em um ponto da faixa tensa 3. Reprodução da dor do paciente à palpação do ponto 4. Resposta com contração local à palpação ou agulhamento do ponto 5. Dor referida espontânea ou à palpação do ponto 6. Fraqueza 7. Amplitude restrita de movimento 8. Sinais autonômicos (calor ou eritema cutâneo, lacrimejamento, piloereção) Dor Crônica Um ponto-gatilho é um ponto hipersensível em um músculo esquelético associado a um nódulo, também hipersensível, palpável ao exame físico. Quando ele é pressionado, a dor causada produz um efeito no alvo ou na zona de referência. Essa área de referência é a característica que diferencia a síndrome miofascial da fibromialgia. Em geral, a dor produzida pela pressão, pelo distúrbio motor ou pelo fenômeno autonômico é distante do foco de origem da pressão e reprodutível. Esse padrão de dor referida dificilmente coincide com uma distribuição de dermátomo. 2 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS V – ORTOPEDIA | P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL • A identificação do padrão referido da dor é de fundamental importância para o diagnóstico e o tratamento da síndrome. • O médico deve solicitar ao paciente que tente apontar com um dedo a região mais intensa de dor. • A banda palpável é considerada crítica para a identificação do ponto-gatilho. • Métodos para identificar, pela palpação, um ponto- gatilho: PALPAÇÃO PLANA: escorregamos o dedo indicador entre as fibras musculares do músculo afetado. A pele fica literalmente empurrada para um lado, enquanto o corpo muscular é palpado pelo dedo do médico. PALPAÇÃO EM PINÇA: essa forma é utilizada para identificar um ponto-gatilho específico. O músculo é preso entre o polegar e o indicador do examinador. As fibras comprimidas entre os dedos são examinadas para localizar a banda de contratura. PALPAÇÃO PROFUNDA: nessa fora, a ponta do dedo é colocada sobre a área do músculo com suspeita de apresentar o ponto-gatilho, e produz-se uma compressão. Deve-se utilizar essa técnica para pontos profundos. TRATAMENTO • Deve sempre observar alguns aspectos fundamentais para identificar os agentes causadores, o médico deve pesquisar hábitos posturais, profissionais e de lazer, além do desempenho das atividades da vida diária e da vida prática, as quais podem estar contribuindo para o desencadeamento e/ou agravamento do quadro. • Intervenções localizadas são as mais eficientes para a desativação dos pontos-gatilho. Os recursos terapêuticos envolvem a prescrição de exercícios de alongamento e fortalecimento que visem à melhora da função muscular ou procedimentos diretamente sobre os pontos-gatilho, como métodos físicos (ultrassom, ondas curta e estimulação transcutânea), agulhamento seco, acupuntura, infiltração com lidocaína, toxina botulínica e massoterapia. • Analgésicos, antiinflamatórios, relaxantes musculares, antidepressivos tricíclicos e inibidores da receptação da serotonina. (Conforme gravidade e cronicidade do quadro) • Importante tratar comorbidades no aparelho locomotar, como osteoartrose sintomática, tendinopatias e bursopatias, que possam contribuir para a manutenção da síndrome miofascial. Nesse sentido, em geral há necessidade eventual do uso de medicação sistêmica. ASPECTOS CLÍNICOS DA SÍNDROME MIOFASCIAL Descrição do início do quadro. Dor com padrão de distribuição (referida). Déficit de amplitude de movimento da área afetada com desencadeamento dos sintomas quando o indivíduo se alongar. Fraqueza muscular local induzida pela dor, mas sem atrofia no exame físico. Uma banda miofascial palpável correlacionada com o ponto-gatilho. A compressão causa dor semelhante à descrita como a queixa principal do paciente. A reprodução da dor referida com estímulo mecânico do ponto-gatilho 3 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS V – ORTOPEDIA | P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL Fibromialgia • É uma síndrome clínica que se caracteriza como dor no corpo todo, principalmente na musculatura, ainda cursa com sintomas de fadiga, sono não reparador, alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais. • A maioria dos pacientes é do sexo feminino, com idade entre 35 e 60 anos de idade. FISIOPATOLOGIA • A evolução de dor localizada para a dor difusa na fibromialgia decorre de um estado de “sensibilização do sistema nervoso central”, havendo uma disfunção dos mecanismos centrais que controlam a dor, o que leva a um estado final de amplificação dolorosa. • Em fibromiálgicos, há vários estudos que demonstram aumento de substância P, neurotransmissor peptídico que, em última análise, leva à sensibilização de neurônios espinais de segunda ordem. • O precursor da serotonina, um dos neurotransmissores envolvidos na modulação da via descendente inibitória de dor, está diminuído no líquor dos pacientes com fibromialgia. • Não há evidências de um agente causal para a fibromialgia, mas vários fatores podem desencadeá-la: infecções (principalmente virais), doenças ocupacionais relacionadas com o trabalho, traumas (cervicalgia pós- acidente, cirurgias de grande porte). QUADRO CLÍNICO • Dor generalizada (acima e abaixo da linha da cintura e em ambos os lados do corpo) por mais de três meses. • Parestesias não dermatômicas são comuns. • Pode haver artralgias juntos com sensação subjetiva do aumento do volume articular, que não é confirmada ao exame físico, a menos que haja outra doença reumatológicas proeminentes. •A fadiga acentuada com as atividades corriqueiras é quase universal e pode dominar o quadro clínico. • Fraqueza muscular, que não é confirmada por exame físico ou enzimas musculares. • As síndromes de dor regional como cefaleia, dor na ATM, síndrome do cólon irritável e dor pélvica crônica sobrepõem-se à fibromialgia e, com muita frequência, coexistem no mesmo paciente. • Quase sempre o sono não é reparador e o paciente relata “acordar mais cansado do que estava ao deitar-se.” A alteração do sono mais comum no paciente com fibromialgia consiste na intrusão de ondas alfa em ondas delta de sono profundo, levando a um sono não reparador. Há também diminuição do sono tipo REM, movimentos periódicos dos membros e síndrome das pernas inquietas. • Pacientes apresentam dificuldade para lidar com estresses usuais da vida diária, sentimentos de ansiedade e depressão. • As alterações endócrinas na fibromialgia parecem decorrer da ativação constante de uma resposta ao Por que se utiliza antidepressivo e anticonvulsivante para tratar alguns tipos de dor crônica e neuropática? Quando a dor persiste por tempo prolongado, alguns pacientes desenvolvem o que se denomina de dor neuropática. Os nervos que transmitem o sinal da dor para o cérebro ficam hiperestimulados e provocam uma sensação dolorosa desproporcional à causa da dor. O mecanismo analgésico desses medicamentos ainda não está totalmente esclarecido. De qualquer forma, eles atuam não sobre o problema que está causando a dor, mas sim sobre os nervos que transmitem a sensação dolorosa. Como elo comum, tanto a dor como a depressão e a convulsão são problemas associados ao funcionamento do sistema nervoso. 4 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS V – ORTOPEDIA | P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL estresse, principalmente do eixo hipotálamo-hipófise- adrenal. Neste eixo, o padrão mais encontrado é de cortisol basal alto e supressão no ritmo circadiano do cortisol, com maior secreção noturna. DIAGNÓSTICO • O diagnóstico deve ser feito por meio de anamnese e exame físico. Os exames complementares assumem um papel de exclusão de doenças que podem simular um quadro de fibromialgia. • No exame clínico, deveremos investigas os 18 tender points elaborados pelo Colégio Americano de Reumatologia para facilitar o diagnóstico de fibromialgia. A combinação de dor difusa pelo corpo associada a pelo menos 11 dos 18 tender points proporciona uma sensibilidade de 88,4% e uma especificidade de 81,1%. • Alguns pacientes apresentam menos de 11 tender points ou dor em outros pontos. Podemos diagnosticá-los como portadores de fibromialgia desde que não exista outra doença sistêmica ou localizada que possa explicar os sintomas (a fibromialgia não é diagnóstico de exclusão). Tender points definidos pelo Colégio Americano de Reumatologia para classificação da fibromialgia. 1 = região occipital; 2 = borda médio-superior do trapézio; 3 = músculo supraespinhoso; 4 = quadrante superior externo do glúteo; 5 = grande trocânter; 6 = região equivalente entre os espaços vertebrais de C5-C7; 7 = junção da segunda costela; 8 = dois centímetros abaixo do epicôndilo lateral; 9 = borda medial do joelho. TRATAMENTO • O tratamento tem como objetivo o alívio da dor, a melhora da qualidade do sono, a manutenção ou o reestabelecimento do equilíbrio emocional, a melhora do condicionamento físico e da fadiga e o tratamento específico de desordens associadas. • O objetivo final do tratamento é a melhora da qualidade de vida do paciente. • Os exercícios são importantes e fazem parte do tratamento dessa síndrome. Os exercícios mais adequados são os aeróbicos, sem carga, sem grandes impactos para o aparelho osteoarticular, como dança, natação e hidroginástica, auxiliando tanto no relaxamento como no fortalecimento muscular, reduzido a dor e, em menor grau, melhorando a qualidade de sono. • Suporte psicológico: 25 a 50% dos pacientes apresentam distúrbios psiquiátricos concomitantes que dificultam a abordagem e a sua melhora clínica, necessitando, muitas vezes um suporte profissional. A abordagem deve ser cognitivo-comportamental, com técnicas de relaxamento ou exercícios aeróbios, alongamentos e educação familiar. 5 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS V – ORTOPEDIA | P5 | 2021.1 MEDICINA UNIT AL LER/DORT • LER = Lesões por Esforço Repetitivo, não é propriamente uma doença, é uma síndrome constituída por um grupo de doenças – tendinite, tenossinovite, bursite, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, dedo em gatilho, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome do pronador redondo, mialgias –, que afeta músculos, nervos e tendões dos membros superiores principalmente, e sobrecarrega o sistema musculoesquelético. • Esse distúrbio provoca dor e inflamação e pode alterar a capacidade funcional da região comprometida. • A prevalência é maior no sexo feminino. • Também chamada de DORT. (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), LTC. (Lesão por Trauma Cumulativo), AMERT. (Afecções Musculares Relacionadas ao Trabalho) ou síndrome dos movimentos repetitivos, • É causada por mecanismos de agressão, que vão desde esforços repetidos continuadamente ou que exigem muita força na sua execução, até vibração, postura inadequada e estresse. • Doença ocupacional: pessoas que trabalham com computadores, em linhas de montagem e de produção ou operam britadeiras, assim como digitadores, músicos, esportistas, pessoas que fazem trabalhos manuais, por exemplo tricô e crochê. Hoje em dia associada também a uso de celulares, computadores e videogames. FISIOPATOLOGIA • Em pacientes com LER/DORT, as vias aferentes primarias do SN Periférico, contendo receptores polimodais sensibilizados, são mais sensíveis a substâncias liberadas pelos microtraumatismos teciduais, o acúmulo de catabolitos gerados pela atividade muscular durante os fenômenos isquêmicos, bradicinina, prostaglandinas, serotonina, íons potássio, histamina, radicais ácidos etc.) exercem atividade algogênica e sensibilizam ou excitam os nociceptores. • O sistema nervoso periférico por mecanismos reflexos, libera retrogradamente neurotransmissores com atividades vasodilatadora e mediadora da inflamação (como a substância P, neuroquinina A e B, e outros neuropeptideos. • Os macrófagos e outros leucócitos são ativados e ocasionam o fenômeno da inflamação neurogênica. O SN Simpático, hiperativo em condições de estresse e dor aguda, libera noradrenalina e prostaglandinas que sensibilizam os nociceptores. • A sensibilização dos receptores nociceptivos pelas substâncias algogênicas, a inflamação neurogênica e a hiperatividade neurovegetativa simpática contribuem para agravar e manter o ciclo vicioso de dor-espasmo- inflamação-espasmo-dor. QUADRO CLÍNICO • Os principais sintomas são: dor nos membros superiores e nos dedos, dificuldade para movimentá-los, formigamento, fadiga muscular, alteração da temperatura e da sensibilidade, redução na amplitude do movimento, inflamação. • É importante destacar que, na maioria das vezes, esses sintomas estão relacionados com uma atividade inadequada não só dos membros superiores, mas de todo o corpo, que se ressente. DIAGNÓSTICO 1ª ETAPA a) História clínica detalhada (história atual) b) Investigação dos diversos aparelhos c) Comportamentos e hábitos relevantes d) Antecedentes pessoais e) Antecedentes familiares f) Anamnese ocupacional (história de exposições, agravos ou alterações de saúde) g) Exame físico detalhado h) Exames complementares, se necessários (Raio X, USG, TC, Cintilografia óssea, eletroneuromiografia [usada em suspeita de compressão de nervos periféricos]) 2ª ETAPA Relacionar queixas e características do paciente as queixas e características daLER (idade, sexo, exame físico, comprometimento pluritissular, evidências de outras patologias, casos anteriores na empresa, entre outros). TRATAMENTO Eliminação dos agentes causais, terapia corporal, fisioterapia, acupuntura, tratamento medicamentoso (analgésicos, AINEs, antidepressivos, miorrelaxantes), atividades aeróbicas, atividades lúdico-sociais, tratamento cirúrgico.
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