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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Estratégia CONTEUDISTA: Lívia Dias de Oliveira Nepomuceno Aula 4 – Diversificação e Gestão Estratégica de Portfólio Meta Apresentar o contexto de origem e ferramentas clássicas para Gestão Estratégica de Portfólio. Objetivos Esperamos que ao final desta aula, você seja capaz de: 1) Conhecer as principais discussões desenvolvidas no contexto de surgimento das ferramentas para análise estratégica de portfólio 2) Compreender e definir os itens de um portfólio no contexto de Gestão Estratégica 3) Comparar ferramentas formais para gestão estratégica de portfólio Desenvolvimento Instrucional | 2 1. INTRODUÇÃO A década de 1960 se caracteriza por um período de expansão do mercado de ações, mudanças tecnológicas e o desenvolvimento de estratégias direcionadas para o crescimento e a diversificação. A partir desse período, se desenvolveram as seguintes questões É possível uma organização já consolidada em determinado segmento de mercado obter ou manter seu sucesso competitivo apostando somente em sua competência distintiva? Uma empresa deve se adequar para atender às necessidades de seus clientes, ainda que isso implique no desenvolvimento de produtos ou serviços que sejam completamente diferentes daqueles cujos processos sejam já “dominados” pela mesma? Até que nível vale investir em diversificação? Até que ponto vale manter o foco estratégico em sua competência distintiva? Especializar ou diversificar? Quais aspectos podem ser utilizados na definição dos itens de um portfólio? Quais produtos ou serviços devo continuar produzindo? Quais produtos ou serviços posso descontinuar, sem grande perda de desempenho estratégico? Como e quais produtos impactam mais significativamente o desempenho da minha organização? <Início do Box Explicativo> Competência distintiva é aqui definida como uma atividade ou conjunto de atividades ou capacidades que uma organização desenvolve e que a diferencia dos seus concorrentes, garantindo um nível superior de desempenho. </Fim do Boxe de Explicativo> A análise SWOT, apesar de ser uma abordagem muito popular até os dias atuais, em suas versões mais tradicionais não abre espaço para a discussão sobre as competências distintivas de uma organização. Neste contexto, destacam-se discussões que surgem, na tentativa de direcionar o estrategista na definição de uma estratégia que considere o nível de desenvolvimento de competências distintivas organizacionais e que ajude a organização a definir estrategicamente seu portfólio. Decisões que envolvam manutenção, criação ou desenvolvimento de competências distintivas e diversificação ainda são consideradas de cunho estratégico para qualquer organização atual, pois podem influenciar diretamente seu sucesso competitivo. Desenvolvimento Instrucional | 3 A partir dessa perspectiva, esta aula apresenta algumas das principais discussões da década de 1960 sobre diversificação versus manutenção da competência distintiva, que trataremos aqui como “especialização” e ainda descreve fundamentos e técnicas desenvolvidas no mesmo período para gestão estratégica de portfólio. 2. ESPECIALIZAÇÃO VERSUS DIVERSIFICAÇÃO Atualmente podemos observar que existem muitas empresas que são mais especialistas e outras que atuam em diversos segmentos de mercado. Se por um lado a especialização permite um foco maior para alcance de desempenho superior de atividades direcionadas a um mercado único, por outro lado, a diversificação amplia o leque de clientes e pode equilibrar os riscos de investimentos, quando se atua em mercados distintos. Esse equilíbrio de investimentos acontece, pois geralmente segmentos de mercados diferentes são negativamente e positivamente afetados em níveis de impacto diferentes e por fatores diferentes (econômicos, políticos, sociais, etc.), em cada período de tempo considerado. Sobre essas questões, conforme apresentado por Ghemawat (2012), na década de 1960 destacam-se os pensamentos de dois renomados estudiosos da área de gestão: Theodore Levitt, com publicação do artigo denominado “Marketing Myopia” Igor Ansoff, com sua obra considerada um clássico da gestão estratégica “Corporate Strategy: Na Analytic Approach to Business Policy for Growth and Expansion” Levitt critica fortemente a postura das organizações que direcionavam suas atividades e estratégias de maneira excessiva no desenvolvimento e comercialização de um ou alguns produtos com foco na manutenção de sua competência distintiva. Em seu artigo, o autor defende que, geralmente quando uma empresa falha “significa que o seu produto não consegue se adaptar a padrões em constante mudança com relação às necessidades e gostos dos clientes, às novas e modificadas instituições e práticas mercadológicas ou a desenvolvimentos de produtos em indústrias complementares” (GHEMAWAT, 2012). Por sua vez, Igor Ansoff pondera esse argumento ao afirmar que Levitt indicava que as empresas se arriscassem desnecessariamente, ao desenvolver novos produtos que não estavam alinhados à competência distintiva da firma. Ansoff argumenta que um cliente geralmente tem um conjunto de missões ou necessidades que não são necessariamente interligadas, ou seja, que não explorariam a mesma competência distintiva de uma empresa. (GHEMAWAT, 2012). Desenvolvimento Instrucional | 4 <Início do Box Explicativo> Igor Ansoff apresenta missão como um alinhamento entre produtos que são desenvolvidos em uma “linha mestra” de produção, já consolidada pela organização. Incluir um produto novo, que não esteja alinhado à competência distintiva da organização, significa, neste caso, a necessidade de definição de uma nova missão. </Fim do Boxe de Explicativo> Com objetivo de apontar os posicionamentos organizacionais com base nos tipos de alinhamento decorrentes dessa análise, Igor Ansoff propõe uma matriz que relaciona duas perspectivas distintas sobre missão e produto conforme apresentada na Figura 1. Produto atual Novo produto Missão atual Penetração de Mercado Desenvolvimento de produto Nova missão Desenvolvimento de mercado Diversificação Figura 1. Matriz produto/missão de Ansoff. Fonte: Adaptado de Ghemawat (2012) Cada um dos quatro quadrantes da matriz pode ser tratado como uma estratégia distinta a ser adotada em função da decisão tomada pela organização conforme descritas a seguir: Penetração de mercado – Se uma organização opta por manter constante a produção e/ou comércio de um mesmo produto ou conjunto de produtos, não significa necessariamente que a mesma não possa desenvolver-se em termos de desempenho estratégico ou competitivo. Nesse contexto, suas estratégias podem focar o aumento das vendas para os atuais clientes ou conquistar novos clientes. A conquista de novos clientes pode acontecer basicamente sob duas formas em contextos diferentes de comportamento do mercado. Se o mercado está em franco crescimento, então a empresa deve se direcionar na busca pela maior parcela possível de novos clientes. Agora se o mercado encontra-se estagnado, uma alternativa para aumentar as vendas seria a captura de clientes dos concorrentes. Nesse sentido, pode-se afirmar que a estratégia de penetração de mercado é uma boa opção para uma empresa que tenha uma baixa participação ou não apresenta uma liderança bem definida no setor onde atua. Desenvolvimento de produto – A introdução de um novo produto, mas que já tenha uma “linha mestra” de produção trata-se de uma estratégiaDesenvolvimento Instrucional | 5 frequentemente adotada em segmentos de mercado cujos clientes exigem constantes aprimoramentos e inovações de seus fornecedores. Para se manter inovadora, fidelizar clientes ou até mesmo capturar novos clientes, uma organização necessita realizar, muitas vezes, lançamentos periódicos de novos produtos, sem mudar sua linha de atuação (missão), para se manter competitiva no mercado em que atua. Exemplo de empresa fortemente impactada pelo lançamento periódico de novos produtos: fabricantes de smartphones. Desenvolvimento de mercado - Esta escolha estratégica baseia-se na venda de um produto ou serviço existente em novos mercados, por exemplo, através da busca por novos usos para esses produtos ou serviços. Exemplo: Produtos químicos, que são utilizados tanto na produção do setor alimentício, quanto na produção de materiais de higiene e limpeza. Esta opção pode ser uma boa escolha entre as empresas que já desenvolveram satisfatoriamente seu mercado original, com produtos suficientes para atendimento às necessidades de seus clientes, mas que ainda desejam expandir-se, desenvolvendo mercados. Diversificação – Esta se trata da estratégia com maior nível de mudança na visão de Ansoff. Neste contexto, uma empresa decide por ofertar um novo produto ou novos produtos que não tem nenhum alinhamento com aqueles que ela já produz ou comercializa. As empresas que desejam diversificar seus riscos de investimento ou não enxergam um futuro promissor no atual setor onde atuam, possuem uma tendência maior a adotar esse tipo de estratégia. Apesar das opiniões distintas dos dois autores citados, hoje não se pode apontar como mais indicada uma ou outra vertente. A postura estratégica pode inclusive mudar no decorrer do tempo em função de muitos fatores que devem ser considerados na definição da estratégia a ser adota por uma organização, dentre eles pode-se citar: perfil de consumo, aspectos político-econômicos, aspectos setoriais, etc. Na mesma década que surgiram as questões e discussões apresentadas acima, Bruce Herdenson, fundador da Boston Consulting Group (BCG), desenvolve a curva de experiência, por volta de 1965-1966. Conforme destacado por Ghemawat (2012) a curva de experiência “foi desenvolvida para tentar explicar preço e comportamento competitivo em segmentos industriais de grande e rápido crescimento.” Desenvolvimento Instrucional | 6 A análise dos consultores do BCG gerou uma justificativa padrão para o desempenho superior alcançado por determinada empresa que apresenta os mesmos recursos e capacidades de gestão dos seus concorrentes. Essa justificativa tem relação forte com a experiência acumulada em termos de custos, preços praticados pela indústria e as inter-relações entre esses dois fatores. Os resultados apresentados por Herdenson e sua equipe apontaram que, para cada duplicação de resultados, os custos totais declinavam cerca de 20%, devido a economias de escala (definido na Aula 1), aprendizagem organizacional e inovação tecnológica. A Figura 2 ilustra o comportamento do custo de produção de um Item X na medida em que o volume produtivo aumenta. Figura 2. Representação da curva de experiência proposta por Bruce Herdenson Para efeitos estratégicos, o conceito da curva de experiência propõe que a empresa que produz mais unidades deveria ter os menores custos e os maiores lucros. Esses ganhos derivam da experiência ganha na repetição das atividades produtivas, que gera maior velocidade, dilui custos fixos e abre espaço para inovações. Início da ATIVIDADE 1 Atividade 1 – Atende ao Objetivo 1 Com base nas abordagens distintas apresentadas nesta última seção, apresente pelo menos uma vantagem e uma desvantagem para uma empresa qualquer que adote uma postura estratégica de diversificação do seu negócio. RESPOSTA COMENTADA Desenvolvimento Instrucional | 7 Vantagem – A diversificação de negócios é ideal para distribuir os diversos tipos de riscos que uma organização pode enfrentar, principalmente se a mesma trabalha em um mercado com muitas incertezas. Desvantagem – Investimento em um negócio onde não se tem experiência. Alcançar bons resultados em mais de um segmento é mais difícil do que focar seus esforços para se especializar em um único ramo de atuação. Fim da ATIVIDADE 1 3. DEFINIÇÃO E COMPOSIÇÃO DE UM PORTFÓLIO Segundo Costa (2003) “um portfólio é o conjunto das áreas estratégicas da empresa ou instituição”. <Início do Box Explicativo> Área estratégica pode ser definida como “uma particular combinação de produto ou serviço com um segmento de mercado ou de público- alvo para a qual a instituição decide planejar uma estratégia específica” (COSTA, 2003) </Fim do Boxe de Explicativo> Conforme observado na Aula 1 (tipos de estratégias), uma corporação que atue em diferentes segmentos de mercado deve estabelecer estratégias que explorem as características específicas de cada segmento. Sendo assim, é necessário que a organização identifique quais são essas áreas específicas de atuação para direcionar suas decisões estratégicas. Para identificar e descrever as áreas de atuação possíveis, atuais ou futuras de uma organização, Costa (2003) sugere um checklist com fatores e questões que podem auxiliar nessa tarefa, apresentados no Quadro1. Quadro 1. Fatores e questões para identificação e descrição de áreas estratégicas Fatores diferenciadores de segmentação Questões para identificação Produtos ou serviços Quais são os produtos ou serviços ou famílias de produtos ou serviços nos quais a instituição pode ou pretende atuar? Tipos de clientes, de consumidores ou de usuários O cliente é organização ou indivíduo? Se for organização, é estatal, multinacional ou familiar? Se for indivíduo, quais são as faixas etárias típicas, classes sócio-econômicas dos consumidores ou usuários ou outros diferenciadores pessoais relevantes? Desenvolvimento Instrucional | 8 Tipos de uso É para consumo direto? É usado para reposição? É insumo para outros processos produtivos? O produto ou serviço é usado como investimento? Motivações para aquisição Compra-se por necessidade, por prestígio, por imitação, por ostentação, por precaução ou por impulso? Ou é fruto de uma decisão lógica, com base em fatos, estudos ou informações objetivas? Estágio na curva de maturidade Em qual estágio da curva de maturidade (nascente, crescimento, estagnação ou declínio) está o produto ou serviço em questão? Regiões geográficas, Estados, países As várias regiões geográficas têm características diferenciadoras? Quais? Ambientes competitivos As demais instituições concorrentes atuam diferentemente em cada segmento? Como? Quais são as principais vantagens competitivas de cada concorrente? Tecnologias As tecnologias usadas nos produtos ou serviços ou na sua utilização variam muito de segmento para segmento? Fatores-chave de escolha Os fatores que fazem as pessoas ou organizações decidirem pelo produto ou serviço em questão variam muito de segmento para segmento? Esses fatores são aspectos diferenciadores, para elaboração da estratégia? Especificações técnicas O produto ou serviço tem características e especificações técnicas muito distintas entre si? Fatores de risco ou de oportunidades Os fatores de risco ou as oportunidades são muito diferenciados, nos variados segmentos ou áreas de atuação? Processos produtivos As formas de elaborar os produtos ou de prestar os serviços são muito diferenciadas, nos vários segmentosou áreas de atuação? Práticas comerciais ou operacionais Ocorre o fato de que cada segmento tem uma forma diferente de comprar, de vender, de operar? Ou até de embalar o produto? Quais? Canais de distribuição Ocorre o fato de que cada segmento tem canais distintos de distribuição? Quais? Desenvolvimento Instrucional | 9 <Início do Box Explicativo> Curva de Maturidade é uma representação do conceito abordado pela teoria do ciclo de vida do produto, proposto por Raymond Vernon em 1966. Dentro dessa abordagem, a Figura 3 a seguir representa os quatro estágios de venda que geralmente um produto enfrenta desde a sua criação. Figura 3. Curva generalizada do ciclo de vida do produto </Fim do Boxe de Explicativo> Deve-se considerar que o objetivo aqui não é propor o uso de todos os fatores do Quadro 1 simultaneamente. Costa (2003) propõe o uso de no mínimo 2 e no máximo 5 desses fatores. A Figura 4 a seguir apresenta um exemplo hipotético de segmentação que resultaria em quatro áreas estratégicas (A, B, C e D), descritas no Quadro 2. Essas quatro áreas comporiam o portfólio da Empresa X. Figura 4. Exemplo de definição de áreas estratégicas Desenvolvimento Instrucional | 10 Quadro 2. Descrição das áreas estratégicas da Empresa X Área Estratégica Descrição A Vendidos para pessoa jurídica, na região sul, como insumo para processo produtivo B Vendidos para pessoa jurídica, na região sudeste, como insumo para processo produtivo C Vendidos para pessoa jurídica, na região nordeste, como insumo para processo produtivo D Vendidos para pessoa física, na região sudeste, para consumo direto Início da ATIVIDADE 2 Atividade 2 – Atende ao Objetivo 2 Do ponto de vista de gestão estratégica de portfólio qual a importância da aplicação do conceito de segmentação de mercado? RESPOSTA COMENTADA Ajuda na classificação e descrição das áreas estratégicas de uma organização, que podem ser tratadas como itens de um portfólio, e que requerem ações estratégicas específicas ou apresentam bases competitivas distintas em função de suas características. Cada área estratégica pode demandar estratégias funcionais específicas, como por exemplo, ações de marketing, produção, recursos humanos, etc. Fim da ATIVIDADE 2 4. PROPOSTAS PARA A ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIO As contribuições do BCG para o desenvolvimento do pensamento estratégico não se limitam à proposta da curva de experiência. Conforme apontado por Ghemawat (2012), o BCG chegou a ser considerada uma “butique de estratégia” ao elaborar e propor “supersimplificações” para soluções de problemas de estratégia, com base em aplicação de pesquisas quantitativas. Uma dessas contribuições faz referência ao planejamento estratégico de portfólio pela criação da matriz de crescimento compartilhado ou matriz BCG. Esta seção apresenta primeiramente os fundamentos da Matriz BCG, com uma indicação de cuidados na aplicação da mesma, e depois uma matriz derivada da Matriz BCG, a matriz GE/McKinsey, desenvolvida também para auxiliar no planejamento e gestão estratégicos de portfólio. Desenvolvimento Instrucional | 11 4.1 A MATRIZ DE CRESCIMENTO COMPARTILHADO DA BCG Se a década de 1960 é marcada pela expansão da diversificação, a década de 1970 foi palco de desenvolvimento de propostas para direcionamento do planejamento de portfólio. No início da década de 1970, o Boston Consulting Group desenvolveu uma análise gráfica pioneira para apoiar a análise de portfólio: a matriz de crescimento compartilhado ou freqüentemente denominada como matriz BCG. A matriz BCG foi desenvolvida com base no conceito de ciclo de vida do produto, conceito este apresentado na seção anterior. Ela serve de base para o desenvolvimento de diversos outros modelos criados para análise e planejamento de portfólio e é considerada uma das formas mais utilizadas para identificar a posição dos itens de um portfólio (produtos, áreas estratégicas, ou unidades de negócios). A matriz BCG é uma matriz 2x2 e propõe a classificação dos itens de um portfólio em relação a duas variáveis principais: taxa de crescimento de mercado e participação de mercado. Ao considerar dois níveis para cada uma das variáveis (alto e baixo) apresenta quatro quadrantes de classificação conforme apresentado em Ghemawat (2012) e ilustrado na Figura 5. Figura 5. Matriz de crescimento compartilhado do BCG. Fonte: Adaptado de Ghemawat (2012) Os itens classificados como “estrela” encontram-se em fase de crescimento e possuem uma boa fatia do mercado, entretanto ainda se incluem em um contexto onde existem oportunidades a serem exploradas. Os riscos são menores do que aqueles encontrados no quadrante “Interrogação”, mas não inexistentes. Apesar do sucesso, os produtos ou áreas estratégicas classificados como estrela precisam de investimento e cuidados especiais para continuar competitivos e gerar bons resultados. Conforme observado por Costa (2003) as estratégias nesse quadrante devem ser baseadas no investimento pesado de recursos gerados pelos próprios itens Desenvolvimento Instrucional | 12 e, se necessário, redirecionar recursos advindos de outras áreas. O objetivo principal de tamanho investimento é que os itens estrela se tornem “vacas leiteiras” no futuro. O quadrante “vaca leiteira” abrange os itens que alcançaram maturidade lucrativa. Apesar da grande participação de mercado, não há expectativas de que esse mercado cresça, portanto não se justificam investimentos para seu desenvolvimento. Conforme explicitado por Costa (2003) “como ocorre com as vacas leiteiras na vida real, essas áreas produzem muito, mas consomem pouco investimento.” Segundo esse autor as estratégias típicas a serem aplicadas aos itens do portfólio deste quadrante devem ser cautelosas, com controle rigoroso de produção e custos, sem novos investimentos, a não ser que contribuam para a sobrevida do produto ou área em questão. Os itens classificados desta forma são os grandes responsáveis pelo sustendo da organização, é de onde saem os investimentos adicionais necessários aos itens “estrela” e também “interrogação”. Os itens “ponto de interrogação” carregam em si a natureza da dúvida/da incerteza, como a própria denominação já sugere. O cenário mostra-se em crescimento, entretanto existem muitos riscos associados aos investimentos feitos. De forma geral são representados por temas novos dentro da instituição. O desafio principal do estrategista neste quadrante consiste em identificar quais itens tem maior probabilidade de sucesso, e portanto merecem maiores investimentos afim de se tornarem “estrelas” no futuro. Considerados como itens que geram gastos sem resultados positivos/lucrativos para a organização, os itens “cachorro” ou “abacaxi” são recomendados a serem retirados ou descontinuados pela organização. Em alguns casos, eles representam a sucessão natural dos itens que algum dia foram “vacas leiteiras” ou um item que não evolui como se espera a partir do “ponto de interrogação” para se tornar “estrela”. Conforme destacado por Costa (2003) “os investimentos nessas áreas precisam ser liquidados, vendidos, alugados e, na medida do possível, devem ser realocados para outras áreas que estiverem nos quadrantes “interrogação” e “estrela.” De forma geral, a recomendação do BCG ao propor o uso da matriz de crescimento compartilhado é a manutenção do equilíbrio entre os negócios “vacas leiteiras” e “estrelas”, com investimentos focados nas “interrogações” consideradas mais propícias a se tornarem “estrelas”e descontinuação dos “abacaxis”. É importante notar que a Matriz BCG foi concebida para empresas de grande porte e, portanto sua aplicação pode necessitar de alguns cuidados e adaptações. O Quadro 3 apresenta sete dicas para aplicação dessa ferramenta, propostas por Nakagawa (2016). Desenvolvimento Instrucional | 13 Quadro 3. Dicas para uso da Matriz BCG (NAKAGAWA, 2016) Dicas Descrição 1. Vacina BCG BCG também é uma sigla de uma vacina. Neste sentido, o autor sugere que a ferramenta seja utilizada como uma vacina (proteção) contra doenças na carteira de produtos ou portfólio de uma organização. A composição dessa vacina seria: - Uma quantidade relevante de itens com alta participação de mercado e que não exijam muitos investimentos. - Uma quantidade relevante de itens que são fortes candidatos a se tornarem “vacas leiteiras”. 2. Conta de padeiro Muitos gestores não dispõem dos dados exatos requeridos para elaboração da Matriz BCG. Entretanto isso não impede a adaptação e uso da mesma, com um nível menor de sofisticação obviamente. O importante é saber ou identificar quais itens devem ser alocados em cada quadrante e quais estratégias adotar para cada um deles, mesmo não tendo acesso a todos os dados quantitativos das variáveis propostas para a classificação dos mesmos. 3. Nem todos são Coca-Cola Apesar da Coca-Cola ser um exemplo muito citado como produto “vaca leiteira”, não significa que todas as organizações que classifiquem um item como vaca leiteira tenham a mesma tradição e liderança dominante de mercado que essa tem. Entretanto, mesmo que os itens “vaca leiteira” de sua organização estejam longe de se tornarem uma Coca-Cola, há muito para aprender com as estratégias desse e de outros produtos, que são “vacas leiteiras” conhecidas de grandes empresas. 4. Nem tudo é Coca-Cola Se por um lado a Coca-Cola é um exemplo a ser seguido para conquista e consolidação de mercado, por outro se trata de um produto que sofreu poucas e pequenas modificações ao longo do tempo, desde seu lançamento em 1886. Deve-se observar que atualmente, muitos segmentos são marcados por uma necessidade constante de inovação. Os ciclos de vida dos produtos são distintos, portanto, para manutenção de um posicionamento competitivo no mercado, substituições ou adaptações mais freqüentes ou mais rápidas podem ser necessárias em contextos distintos de atuação. Desenvolvimento Instrucional | 14 5. Nem tudo que reluz é estrela É importante notar que algumas empresas menores e novas tendem a apresentar mais produtos “estrelas” do que “vacas leiteiras”. Esses itens necessitam de um alto investimento em esforços para vendas, o que pode gerar resultado líquido negativo (prejuízo), por mais que vendam bastante e apresentem margem bruta de lucros atrativa. Nestes casos, é importante que o estrategista observe as margens de contribuição de cada produto, e se os mesmos têm forte potencial para se tornarem “vacas leiteiras”. “Esse tipo de análise também permite que o empreendedor reflita sobre o que e como deve vender”. 6. Ser ou não ser Trata-se do questionamento realizado principalmente para os itens do quadrante “ponto de interrogação”. Os itens com pouco tempo de lançamento tendem a ser classificados neste quadrante, naturalmente ainda não apresentam uma contribuição significativa pra organização. Quando são encontrados itens nesse quadrante e que são considerados novos é necessária uma análise mais cuidadosa antes de indicar que o mesmo seja eliminado do portfólio. “Vários produtos muito bem-sucedidos foram fracassos iniciais, como o game Angry Birds, a rede social Pinterest, os relógios Timex e os blocos Post-it.” 7. Tenha coragem! Um estrategista não se deve deixar levar por relações emocionais quando a indicação é de eliminação de um item do portfólio. Se existem indicativos claros de que o mesmo não contribui para a saúde do negócio, deve-se ter a coragem necessária para eliminá-lo! 4.3 A MATRIZ GE/MCKINSEY Tomando por base os conceitos da matriz BCG, diversos outros modelos para gestão de portfólio foram desenvolvidos ao longo do tempo. A matriz proposta pela McKinsey & Company, na década de 1970, para análise estratégica das unidades estratégicas de negócio (UENs) da General Eletric (GE) é um exemplo representativo desses desdobramentos. A matriz GE/McKinsey é uma matriz 3x3, ou seja, permite mais um nível de avaliação quando comparada à matriz BCG, o nível intermediário. Neste caso, outra evolução a ser considerada trata-se da avaliação e classificação nos nove possíveis quadrantes envolvendo não somente a análise de taxa de crescimento de mercado e participação de mercado. O crescimento de mercado passa a integrar um Desenvolvimento Instrucional | 15 conjunto de medidas para avaliação da chamada “atratividade da indústria” (fatores externos). A participação do mercado passa a integrar uma análise denominada “força do negócio” (fatores internos). A Figura 6 ilustra os nove quadrantes possíveis de classificação da Matriz GE/McKinsey, bem como as estratégias gerais a serem adotadas em cada uma delas. Os fatores externos e internos que tipicamente são utilizados para análise da atratividade da indústria e força do negócio são apresentadas no Quadro 4. Figura 6. Representação da matriz GE/McKinsey. Fonte: Adaptado de Ghemawat (2012) Quadro 4. Fatores comumente usados na Matriz GE/McKinsey Fatores Externos (Análise da Atratividade da indústria) Fatores Internos (Análise da Força do negócio) Tamanho do mercado Força dos ativos e competências Taxa de crescimento do mercado Força da marca em relação à concorrência (ligado ao esforço de marketing) Lucratividade do mercado Participação de mercado Tendências de preço Taxa de crescimento da participação de Desenvolvimento Instrucional | 16 mercado Intensidade da rivalidade dos concorrentes Lealdade dos clientes Risco total do retorno dos investimentos no setor Posição de custo em relação aos concorrentes Barreiras para entrada no setor Margem de lucro em relação aos concorrentes Oportunidades de diferenciação dos produtos/serviços Capacidade de produção e força de distribuição Variação da demanda Patentes tecnológicas e de outras inovações Segmentação do mercado Qualidade Apesar da matriz GE/McKinsey ser considerada uma evolução à matriz BCG, destacam-se aqui pelo menos dois aspectos limitadores dessa ferramenta: Na maioria das vezes as classificações são realizadas com base em julgamentos subjetivos. Não se tem em sua origem uma direção objetiva sobre definição de pesos ou prioridades de cada fator utilizado. Início da ATIVIDADE 3 Atividade 3 – Atende ao Objetivo 3 Quais as principais diferenças entre as ferramentas de Planejamento Estratégico de Portfólio denominadas Matriz BCG e Matriz GE/McKinsey? RESPOSTA COMENTADA A Matriz BCG (2x2) é uma matriz de 4 blocos, apresenta 2 medidas de desempenho, e fundamenta-se no uso de duas variáveis para avaliação dos itens que compõe o portfólio de uma organização: Taxa de Crescimento de Mercado e Participação de Mercado. A Matriz GE/McKinnsey é uma matriz de 9 blocos (apresenta 3 medidas de desempenho). Também conhecida como matriz GE/McKinnsey,é uma forma posterior e mais avançada da Matriz BCG nos seguintes aspectos: A "atratividade do mercado" (fatores externos) substitui o “crescimento do mercado”; A “força do negócio” (fatores Desenvolvimento Instrucional| 17 internos) substitui “participação relativa de mercado” como dimensão para medir a posição competitiva de cada unidade de negócio. Fim da ATIVIDADE 3 5. CONCLUSÕES Apesar de conhecer visões distintas sobre o foco da diversificação na gestão estratégica organizacional. E identificar que essas visões são opostas, não se deve propor uma direção única a ser utilizada por todas as organizações, de todos os lugares, em todos os momentos. Em outras palavras, em determinado contexto, para uma organização específica, pode ser vantajoso diversificar, mas isso não quer dizer que diversas outras empresas não tenham reconhecido êxito na atuação específica e duradoura em um único mercado. Da mesma forma que aqui não se pretende ditar uma estratégia específica sobre a decisão de diversificar ou especializar, também não é o objetivo propor o uso de uma ou outra matriz, um ou outro modelo específico para gestão estratégica de portfólio. As matrizes aqui apresentadas representam o pioneirismo dos estudos nessa área (matriz BCG) e possíveis adaptações ou evoluções (matriz GE/McKinnsey) que são criadas a fim de dar suporte ao estrategista na análise e gestão de seu portfólio. Para uma adequada análise, é importante que o estrategista conheça as limitações de cada modelo e utilizar aquele que lhe proporcione as informações necessárias a uma tomada de decisão estratégica bem fundamentada e clara. Início da ATIVIDADE 4 Atividade 3 – Atende aos Objetivos 1, 2 e 3 Apresente uma empresa real com desempenho estratégico reconhecidamente positivo no(s) mercado(s) onde concorre atualmente. Reflita se suas ações têm bases mais específicas ou de diversificação. Apresente áreas estratégicas para mesma com base em pelo menos um fator diferenciador de segmentação visto nesta aula. Identifique se existe pelo menos uma dessas áreas ou se há algum produto que pode ser classificado como “estrela” à luz da matriz BCG. RESPOSTA COMENTADA Empresa escolhida: UNILEVER Brasil (https://www.unilever.com.br/) “Somos uma empresa global de produtos de consumo de giro rápido. Nosso propósito é tornar a vida sustentável algo comum” Visão: “Nossa visão é aumentar nossos negócios, enquanto desassociamos o crescimento da pegada ambiental e aumentamos o impacto social positivo.” Desenvolvimento Instrucional | 18 A Unilever Brasil apresenta em seu site 27 marcas distribuídas em três categorias de consumo: Alimentos, Cuidados Pessoais e Cuidados com a casa. Pode-se afirmar que, por atuar basicamente em três segmentos de mercados distintos, trata-se de uma empresa que se desenvolveu com base na diversificação. Uma maneira de definir as áreas estratégicas da organização inicialmente pode ser pelo fator de segmentação “produtos ou serviços”, que nesse caso nos remete às três categorias já mencionadas anteriormente: Alimentos, Cuidados Pessoais e Cuidados com a casa. Dentro da Categoria “Cuidados com a casa” ainda é possível observar que a Unilever apresenta ao mercado brasileiro pelo menos 4 marcas de sabão para lavar roupa: OMO, BRILHANTE, SURF e ALA. Um artigo publicado pela Associação Brasielira de Embalagem (ABRE, 2013), destaca uma pesquisa realizada no setor de sabão para lavar roupa e aponta um crescimento do mercado brasileiro de 9,6% entre janeiro a julho de 2013. Essa mesma publicação aponta que a marca OMO lidera o mercado de sabão para roupas em pó e líquido. Neste contexto, a referida marca pode ser classificada como um produto “estrela” sob a ótica de avaliação da matriz BCG. Fim da ATIVIDADE 3 6. RESUMO Esta aula faz um breve apanhado das principais discussões que permearam a década de 1960 e início da década de 1970, sobre alguns temas considerados tipicamente estratégicos, dentre esses se destacam: nível de diversificação e composição estratégica de portfólio. Inicialmente foram apresentadas duas abordagens opostas sobre a diversificação: a primeira delas é uma crítica realizada sobre o foco excessivo em competência distintiva feita por Levitt, e a segunda, ponderando a ideia de Levitt, representa a visão de Ansoff que propõe uma análise mais cautelosa para acréscimo de um produto ao portfólio de uma organização, que não tenha competência já desenvolvida no mesmo segmento deste novo produto. Para concluir a temática proposta, foram apresentadas duas “ferramentas” desenvolvidas por empresas de consultoria, referenciadas no meio acadêmico e utilizadas até hoje para auxiliar na gestão de portfólio: a matriz de crescimento compartilhado desenvolvida pelo Boston Consulting Group e a matriz 3x3 desenvolvida pela McKinsey & Company. 7. INFORMAÇÕES SOBRE AS PRÓXIMAS AULAS Na próxima aula a análise estratégica será tratada sob uma nova perspectiva: a setorial. Desenvolvimento Instrucional | 19 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRE (Associação Brasileira de Embalagem). MERCADO DE SABÃO PARA LAVAR ROUPA CRESCE 9,6%. 2013. Disponível em: http://www.abre.org.br/noticias/mercado-de-sabao-para-lavar-roupa-cresce-96/. Acesso em: agosto de 2018. COSTA, E. A. da. Gestão Estratégica. São Paulo: Saraiva, 2003. GHEMAWAT, P. A Estratégia e o Cenário dos Negócios. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. NAKAGAWA, M. Ferramenta: MATRIZ BCG (CLÁSSICO). In: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: 6 ferramentas para o planejamento estratégico da sua empresa. SEBRAE NACIONAL, 2016. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/ME_Matriz-BCG.PDF. Acesso em : agosto de 2018. LEITURAS RECOMENDADAS COSTA, E. A. da. Gestão Estratégica. São Paulo: Saraiva, 2003. GHEMAWAT, P. A Estratégia e o Cenário dos Negócios. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.