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DISFUNÇÃO MICCIONAL Problemas de função da bexiga, que incluem dificuldades de armazenamento ou esvaziamento da urina Causa: Sintomas de armazenamento: · Aumento da frequência urinário · Noctúria: vontade de urina frequente durante a noite, interrompendo o sono · Urgência · Incontinência urinária: aos esforços (estresse), urge-incontinência, mista (os dois), contínua (fístula vesico-vaginal) e transbordamento (paradoxal - ocorre por obstrução) · Enurese noturna · Sensibilidade vesical (aumentada, diminuída ou ausente) Sintomas de esvaziamento: · Jato fraco · Intermitência · Hesitação · Esforço miccional (prensa abdominal) · Gotejamento terminal Sintomas pós-miccional: · Gotejamento pós-miccional · Esvaziamento incompleto Como a bexiga é constituída? Composta por parte muscular (camada longitudinal + circular), esfíncteres voluntários (musculatura estriada) e involuntários (musculatura lisa). Nas mulheres estruturas mais flácidas com o tempo → mais comum terem incontinência urinária. Nos homens estruturas mais fixas (próstata, ligamentos) FUNÇÃO VESICAL NORMAL: Fases: 1-armazenamento E 2-esvaziamento · Bexiga relaxada aumenta o volume → armazena → sem aumentar pressão dentro da bexiga · 1a sensação para urinar → vontade de urinar → ocorre quando a bexiga está com 150 mL - metade da bexiga cheia → inibição voluntária até um momento adequado · Desejo normal com o aumento do volume de urina · Fase miccional: capacidade miccional máxima de 300 mL → contração da musculatura e relaxamento do esfíncter para liberação da urina, quando o momento estiver adequado Fisiologia da micção: · Micção depende da interação de componentes (cerca de 35 reflexos): · Supra pontinha (on/off) · Ponte - centro miccional · Medula · Gânglios e nervos periféricos (simpático armazena e parassimpático elimina) Nervos periféricos: · Parassimpático: S2-S4, via nervo pélvico, contrai o m. detrusor e relaxa o colo vesical/esfíncter urinário · Simpático: T10-T12/L1-L2, via nervo hipogástrico, relaxa detrusor (beta-3) e contrai o esfíncter · Somático: núcleo sacral de Onuf (S2-S4), via nervo pudendo, inervação voluntária do esfíncter externo e musculatura pélvica → parar micção → contração do esfíncter ARMAZENAMENTO: · Relaxamento ocorre por reflexo · Reflexo somático é importante quando vai tossir ou espirrar, fazendo contração automática involuntária · Fase de enchimento vesical é regulada por 2 reflexos: simpático (reflexo de guarda) e somático (não deixa vazar com tosse e espirra) · Primeiro desejo: 150 mL de urina · Capacidade vesical máxima: 300-400 mL ESVAZIAMENTO: · Envolve muitos fatores, inclusive psicológicos · Ocorre fisiologicamente por inibição do que está inibindo Características funcionais da bexiga: · Capacidade de 400 mL · Sensação de repleção · Acomoda diferentes volumes, sem alteração na pressão intravesical · Inicia/sustenta: contração do detrusor de forma voluntária (se for involuntário = incontinência) INCONTINÊNCIA URINÁRIA: · Qualquer queixa de perda involuntária de urina · Ao estresse/esforço (mais comum), paradoxal, contínua e urge incontinência Incontinência ao estresse: · 40% em mulheres, sendo 20-30% nas jovens · Idoso 50% · Homens: obstrução infravesical, neuropatia ou pós cirúrgico (prostatectomia radical) Em mulheres: · Principal causa é pela flacidez das estruturas da pelve, mas também por deficiência do esfíncter · Hipermobilidade uretral: não tem força agindo para equalizar a pressão → fraqueza/flacidez das estruturas que suportam o assoalho pélvico ou ligamento pubo-uretral/parede anterior da vagina · Deficiência esfincteriana intrínseca: perda da força de contração que não está bem sustentada ou por lesão esfincteriana → cirurgias/perda do tônus Fatores de risco: idade, genética (relação com colágeno), obesidade e paridade (trabalho de parto). Além de: tabagismo, raça (> caucasianos), comorbidades (DM 2, depressão, DPOC), cirurgias ginecológicas/pélvicas Avaliação clínica: Avaliação da perda urinária: · Tipo de esforço que a pessoa está fazendo: ocasião (com movimento?), grandes esforços (tossir/espirrar), pequenos esforços (caminhar/subir escadas) · Número de absorventes: quanto mais, mais grave · Associado à urgência · Avaliar tempo de progressão Definir padrão miccional: frequência, jato miccional, sensação de esvaziamento vesical, quantidade HMP: comorbidades, medicamentos, cirurgias, condições neurológicas (PK, AVC, esclerose múltipla), hx ginecológico, hábito intestinal e tabagismo Exame físico: presença de bexigoma; cistocele/ retocele / uretrocele - POP (prolapso de órgãos pélvicos com bexiga caída Dx diferenciais: · Excluir incontinência transitória (mas pode virar permanente): delirium, infecção, atrofia vaginal (pós-menopausa), psicológica, farmacológica, excesso de diurese, mobilidade reduzida e impactação fecal Causas complicadas: necessidade de avaliar mais · Incontinência contínua (fístula urinária/ vesico ureteral), principalmente pós cirúrgico · Recorrente · Hematúria · Dor · Sintomas neurológicos · ITU de repetição · Cirurgia pélvica prévia (prostatectomia radical) · Radioterapia pélvica Investigação: · Excluir outras causas (ex: infecção) · Parcial de urina /EQU · Cultura · US: avaliação do resíduo pós-miccional (quantificação), litíase, neoplasias, etc · Urodinâmica: se sintomas obstrutivos e de urgência complicados, quantifica contração da bexiga e funcionamento do esfíncter · Cistoscopia: hematúria, radiação, tto prévio Tratamento: Medidas comportamentais: · Mais eficaz é a redução de peso · Atividade física · Dieta: evitar cafeína, álcool, sucos cítricos · Hábito intestinal inadequado · Fisioterapia pélvica: eficaz para casos leves Cirúrgico: · Sling (TVT, TOT) - tela sustentando a uretra, transobturatória ou supra púbica - padrão · Colosuspenção (burch) - menos feita, tem mais recidiva, via laparoscópica, aumenta sustentação da uretra (pelo forame obturatório é o mais comum) ** tele – para servir de sustentação, especialmente indicado quando as medidas comportamentais são refratários Medicamentos: antimuscarínicos, anticolinérgicos, B-3 agonistas BEXIGA HIPERATIVA: Urgência urinária com ou sem urge-incontinência, frequente no aumento da frequência urinária e noctúria, sem ITU → urgência é o desejo súbito e intenso de urinar, de difícil controle Causas: Neurogênicas: congênita, adquirida, central, periférica Não neurogênicas: idiopática, obstrução (HPB - mais comum no homem), cálculos vesicais, câncer de bexiga, infecção, prolapso pélvico Fisiopatologia: Na neurogênica: reentrada de estímulo, perda da inibição do SNC, desenvolvimento de novos reflexos Miogênica: maior facilidade em excitar a célula e propagar o estímulo Integrativa: micro-movimentos de maior amplitude, muitas vezes coordenados Prevalência: · 20-30% da população · Aumenta com a idade · Incidência em homens = mulheres · Nas mulheres, há mais urge-incontinência que em homens, com bexiga hiperativa úmida (mas tem seca igualmente) · Nos homens, há mais bexiga hiperativa seca Quadro clínico: · Urgência miccional com desejo intenso súbito · Aumento da frequência urinária (normal 8x/dia) · Noctúria: acorda para urinar · Incontinência urinária (urge-incontinência) · Queda na qualidade de vida, ex: depressão ** fatores/ gatilhos psicológicos: muitas vezes o paciente mapeia os banheiros fora de casa. Tem pacientes que são estimulados por torneira aberta, ou ao chegar em casa Avaliação inicial: · Anamnese · Exame físico · Escore sintomas (questionários): diário miccional · Análise de urina (parcial de urina) Diário miccional: · Indicado quando há história imprecisa ou dados insuficientes · Determina frequência urinária: importante para acompanhar tratamento · Paciente preenche durante 24h, sem perder nenhuma micção nem ingesta hídrica · 3 dias não seguidos · Urina em um dosador para quantificar · Difícil adesão do paciente Ecografia: para avaliar resíduo pós miccional/ presença de litíase, especialmente indicado para pacientes com sintomas de esvaziamento** se a bexiga contrai muito forte = lesão renal Estudo dinâmico: · Se falha de resposta em 3-4 semanas ou urge-incontinência · Avalia a contração da bexiga, por uma sonda e um eletrodo, que quantificam a pressão da bexiga e do abdômen. Enche com soro até o desejo miccional com intensa vontade de urinar · Avalia se é: Obstrutivo Não obstrutivo Incontinência urinária mista Tratamento: Conservador: · Modificação dietética: reduzir alimentos industrializados, refrigerantes, sucos ácidos · Cessar tabagismo · Redução de peso · Realizar exercícios pélvicos (kegel) Medicamentos (para casos refratários): · Anticolinérgicos: bloqueadores parassimpáticos, como tolterodina/oxibutinina · Beta-3-agonistas (da parte simpática): myrbetric Para casos refratários: injeção de botox · Loco-regional: neuromodulação · Intravesical, com reaplicação de 4-6 meses O que é enterocistoplastia? Em algumas vezes quando a pressão da bexiga é muito forte, e vai lesar trato superior a urodinâmica vai confirmar que a pressão está muito alta, bexiga está todo tempo contraída, aí temos que abordar essa técnica cirúrgica onde usamos o intestino e dobramos ele colocando na bexiga devolvendo a capacidade de armazenamento, porém continua sem força pra esvaziar por isso tem que fazer o cateterismo intermitente UROLITÍASE: Epidemiologia: · 15-20% de prevalência na população · 10% de recorrência em 5 anos · 5% de recorrência em 10 anos · 2-3 homens para 1 mulher · Caucasianos > afrodescendentes · Idade: a partir dos 20 anos, aumentando em população pediátrica · Obesidade · Profissão é fator de risco: que não consegue tomar água o tempo inteiro Fisiopatologia: litogênese: enucleação do cálculo, crescimento e agregação. Supersaturação dos íons (por falta de água) e matriz proteica, pode ajudar ou não Substâncias protetoras: magnésio, proteínas de Tamm-Horsfall (fator genético), citrato, osteopontina e calgranulina Tipos de cálculo: · Principal: oxalato de Ca · Estruvita: raro, pedra de infecção de repetição, cirurgia é complicada, causado por bactérias com urease, proteus, pseudomonas, klebsiella, estafilococos · Fosfato de Ca · Ácido úrico · Cistina: relação genética, raros Clínica: · Cálculo renal é assintomático · Hematúria macro ou microscópica: pode ser intermitente · Lombalgia: cólica nefrética → pior dor da vida, quando há hidronefrose · ITU de repetição (> 3/ano em mulheres, especialmente > 40 anos) → cálculo coraliforme Cólica nefrética: · Dor forte · Intermitente: cólica · Irradiação da dor, inicialmente lombar, migra no canal do ureter, para escroto/grandes lábios, mas permanece no trato urinário inteiro, inclusive no rim → permanece em todo o percurso · Pode ser acompanhada de náusea e vômito · Dor da litíase é por conta da obstrução e distensão da cápsula Estreitamento anatômico no ureter: JUP - junção ureteropiélica Cruzamento dos vasos ilíacos JUV - junção ureterovesical → mais estreito, onde mais costuma ter pedra causando dor Diagnóstico: · RX de abdome simples: chance de radiopacidade → 70% · US: mostra hidronefrose · Baixa sensibilidade – não detecta pedras < 0,5 cm. Bom para identificar cálculo de rim e JUV · Ruim para avaliar ureter: gases intestinais · Pontos positivos: barato · Identifica sombra acústica · Exame de escolha em grávidas · TC – exame padrão ouro · Define tamanho · Quantidade · Densidade Tratamento da crise: · AINE EV/IM · Analgésico: dipirona/paracetamol → evitar buscopan, pois dá para paralisa musculatura lisa) · Opióides/escopolamina · Evitar hiper-hidratação: causa aumento da dor · Pode-se associar AINE e opióide · Quando a pedra está no rim precisa evitar crescimento e deslocamento para ureter · Pedras renais < 0,5 cm → não necessita de tratamento cirúrgico Tratamento da obstrução: · Terapia medicamentosa expulsiva: paciente sem fatores de risco, não é dor refratária e com 2 rins · Cálculos de 0,7-1 cm (principalmente distais) · Quanto mais alta a pedra → menor o risco de sair · Tratamento com: Alfa-bloqueadores: com mais receptores na bexiga e na próstata, também nos ureteres (faz dilatação, com aumento da chance de eliminação espontânea da pedra e diminui a dor) Tansulosina 0,4 mg 1x/dia até eliminar o cálculo Doxazosina 4 mg Tratamento cirúrgico: Indicações: · Dor refratária · Infecção (duplo J para desobstruir rim e tirar infecção) → infecção urinária e cálculo é fatal · Insuficiência renal - rim único e cálculo bilateral · Enredo: profissão/preferência · Tamanho > 0,7 cm Tipos: · Litotripsia extracorpórea (LECO): ondas de choque que quebram a pedra, quando há pedra no rim. Contraindicação: gestantes, infecção, hidronefrose, uso de marevan, coagulopatia, pedras >2cm (pode causar rua de cálculos) · Duplo J por cistoscopia (fio guia + duplo J) → fica dentro do corpo!! · Ureterolitotripsia rígida → quebra pedras com laser · Ureterorrenolitotripsia flexível → quebra com laser · Nefrolitotripsia percutânea: para pedras no rim → acesso direto da pele para rim – quebra pedra com laser. Mais agressivo, com risco de vida, pode haver choque hemorrágico com necessidade de transfusão. Mais resolutiva para pedras maiores. **Sempre passa duplo J Indicação cirúrgica: · Cálculo ureter médio e distal: ureterolitotripsia rígida ou LECO · Cálculo ureter proximal: ureterorrenolitotripsia flexível ou LECO · Cálculo renal ≤ 2cm: ureterorrenolitotripsia flexível ou nefrolitotripsia percutânea ou LECO · Cálculo renal > 2cm: nefrolitotripsia percutânea image1.png