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04
Análise Interpretativa e Aspectos Históricos: Alimentação
Conceitos
Em um primeiro momento, talvez seja difícil perceber a relação que a Antropologia e a História possam ter com a Nutrição. Em geral, as pessoas que escolhem seguir carreiras das áreas das Ciências da Saúde e Biológicas nem sempre esperam se deparar com disciplinas de Ciências Humanas em seu caminho. Por isso, não é de se estranhar que a primeira impressão em relação à disciplina não seja das melhores, mas, ao longo deste tema, você perceberá que essa disciplina tem muito a contribuir para a formação profissional em Nutrição.
Definindo antropologia
Afinal, o que é Antropologia?
A resposta mais simplificada para essa pergunta seria dizer que:
Antropologia é a ciência que estuda o homem.
De acordo com sua etimologia (origem da palavra) derivada do grego, Antropo significa homem; e logia (de logos) significa ciência. Entretanto, para ampliarmos esse conceito, vamos ver o que alguns autores do campo têm a nos dizer sobre isso.
Segundo Boas (2004, p. 19): Uma compreensão clara dos princípios de antropologia ilumina os processos sociais do nosso próprio tempo e podem mostrar-nos, se estivermos prontos para ouvir os seus ensinamentos, o que fazer e o que evitar.
Comentário
Estar aberto a escutar é um exercício importante do aprendizado. Assim, apesar de ser uma ciência antiga, a Antropologia tem muito a contribuir para a compreensão dos fenômenos políticos e socioeconômicos da atualidade, incluindo as relações humanas com alimentação.
A Antropologia aplicada à Nutrição ajuda a entender as relações contemporâneas da humanidade com a alimentação. O fenômeno da globalização trouxe à nossa vida transformações intensas.
De um lado, temos a homogeneização da ordem social, isto é, cada vez mais algumas sociedades ficam parecidas umas com as outras em diversos aspectos, incluindo a alimentação. Por outro lado, essas mesmas sociedades, na contra mão desse movimento, reivindicam singularidade, ou seja, que suas caraterísticas particulares sejam consideradas.Isso mostra como a humanidade pode ser ao mesmo tempo tão parecida e tão diferente. A Antropologia é útil à Nutrição, ainda, no uso de suas ferramentas metodológicas que podem auxiliar na ampliação da compreensão de diferentes aspectos ligados à alimentação e nutrição humana.
Por exemplo, no momento da prescrição de uma reeducação alimentar, é fundamental levar em consideração os fatores socioculturais de cada paciente:
Formação familiar
Religiosa
Escolar
Influências tecnológicas
Cultura
Conceito fundamental
Um dos principais conceitos da Antropologia que usaremos ao longo deste curso é o conceito de cultura. Podemos dizer que cultura é tudo aquilo que o homem transforma. A etimologia (origem) da palavra cultura vem do latim culturae que significa “ação de tratar, cultivar”. O que nos mostra a relação íntima entre cultura, cultivo e alimentação. Ampliando a visão de cultura em diálogo com teóricos da Antropologia, conseguimos entender o que é a cultura como um conceito antropológico. Observe algumas ideias a seguir:
O antropólogo Clifford Geertz (1989)
Defende a cultura como sendo uma teia de significados, tecida pelos homens, que orienta a existência humana. Para ele, compreender uma cultura é entender seu sistema de símbolos que se comunicam com cada indivíduo e suas coletividades. Mas o que seriam esses símbolos? Segundo Geertz, são atos, objetos, acontecimentos, ou ainda, relações que representam significados específicos em uma sociedade.
O antropólogo Roque Laraia (2004)
Defende a cultura como um conjunto de conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou ainda qualquer outra capacidade ou hábitos que os seres humanos adquirem por meio da sociedade pela transmissão geracional e institucional, ou seja, são elementos fundamentais que aprendemos por meio dos diferentes processos educativos da sociedade, família, na escola, com amigos, nos ambientes de trabalho.
Assim, relacionando cultura e alimentação, vamos pensar na seguinte situação:
Exemplo
No Brasil, não comemos cachorro por termos com eles uma conexão afetiva, enquanto, na cultura chinesa, isso não se torna um impeditivo ao consumo. Os elementos culturais brasileiros são diferentes dos chineses, mas ambos são conjuntos simbólicos que dão sentido ao comer ou não comer um cachorro, por exemplo. Para os hindus da Índia, a vaca é um animal sagrado, não fazendo parte dos hábitos alimentares deles, ao passo que, para nós, é comum fazer um churrasco bovino aos fins de semana. Também nesse caso, temos a cultura como elemento de distinção entre os diferentes hábitos alimentares.
Os seres humanos, na verdade, são seres biopsicossociais, pois, além da dimensão biológica, também faz parte de sua formação como indivíduos sua relação com a psiquê e suas relações socioculturais.
Somos seres biológicos, mas também essencialmente culturais. A cultura, ao contrário de muitos aspectos da biologia humana, não é transmitida hereditariamente. Os aspectos culturais são elementos, os signos que Geertz nos falou acima, que aprendemos a partir da convivência com outros seres humanos.
Como tudo isso conversa com nosso cotidiano e formação profissional?
Resposta
Por exemplo, se pensarmos bem, não comemos as mesmas coisas que nossas bisavós. A oferta de alimentos, as mudanças tecnológicas, o ritmo da vida, tudo isso influencia as transformações de uma cultura. Nossa alimentação muda junto com isso porque também é fruto de nossa cultura.
A alimentação é um campo repleto de signos e significados que mudam de uma cultura para outra. Isso inclui o que é comestível, como comer, quando comer, com quem comer.
Antropologia
Alimentação e cultura alimentar
Podemos definir a cultura alimentar como um conjunto de práticas alimentares que inclui:
O que se come
Insumos, ingredientes.
Como se prepara
Culinária, técnicas de processamento.
Quando se come
Número de refeições por dia que compõem o hábito alimentar dessa cultura.
Com quem se come
Restrições de casta, gênero, até mesmo o comer solitário.
A cultura alimentar forma um sistema simbólico de regras e mecanismos que orientam o comportamento humano em relação à alimentação.
Além disso, por meio do conceito de cultura alimentar, tal como a língua, podemos identificar a cultura de um povo, isso porque a cultura alimentar está ainda relacionada à construção da identidade dos indivíduos que compõem um determinado grupo social.
Podemos dizer então que a alimentação é mais do que um ato biológico, mas compreende aspectos como as formas e tecnologias de cultivo, manejo e a coleta do alimento, a escolha, as formas de armazenamento e as formas de preparo e de apresentação, constituindo um processo social e cultural.
Diante disso, podemos dizer que existe uma diferença entre o que é alimento e o que é comida:
Alimento
Qualquer substância nutritiva que pode ser ingerida para manter a vida, nesse sentido, diz respeito a todos os seres vivos.
Comida
Respeito a tudo o que se come com prazer, de acordo com regras sociais, dessa forma, não é apenas uma substância alimentar, mas um modo, um estilo, um jeito de se alimentar.
Assim, vemos que o jeito de comer define não só aquilo que é ingerido, mas também aquele que o ingere. Entendemos com isso que comida é algo dotado de cultura e relativo aos seres humanos.
Essa relação diferenciada com a comida confere aos seres humanos particularidades em relação aos demais animais. De acordo com a autora Catherine Perles (1979), cozinhar é um ato exclusivamente humano, próprio da nossa espécie. O ser humano é o único animal da natureza capaz de cozinhar e combinar nutrientes.
Além disso, comer não é um ato solitário, mas a origem da socialização humana desde os primórdios da humanidade. Essa característica de socialização por meio da comida também é uma particularidade humana, que chamamos de comensalidade.
Sopa de missô: comida tradicional da culinária japonesa
Assim, podemos definir a comensalidade como:
A prática do comer juntos, partilhando o alimento (mesmo que desigualmente). É o momentode partilhar sensações e reforçar a coesão dos grupos sociais aos quais fazemos parte: família, escola, religiosidade, amigos.
A comensalidade é uma experiência sensorial compartilhada que pode ter vários significados: pactos, fechamento de acordos e contratos, confraternização. De uma maneira geral, ela compõe um ritual coletivo.
A sensorialidade presente na comensalidade gera experiências sensoriais que podemos chamar de memória afetiva.
Isto é, os registros sensoriais afetivos que a comida e a comensalidade podem gerar nos indivíduos. Comida é também memória e afeto.
Almoço de casamento
Sobre esta relação, observe a seguir:
Exemplo
No filme Ratatouille, em uma das últimas cenas, ao provar o prato do restaurante, o crítico de cozinha, Ego, é transportado para sua infância. Provavelmente, você também já comeu algo que o transportou para outro lugar, essas memórias gustativas também são construções simbólicas que atribuímos à comida.
Ainda atrelado ao conceito de cultura alimentar, podemos destacar outros três conceitos auxiliares. Por mais que pareçam e algumas vezes sejam usados como sinônimos, para as Ciências Sociais, existem diferenças conceituais quando usamos sistemas, modelos e hábitos alimentares. Um modo interessante de diferenciar conceitos é pensar no significado de cada palavra que o constitui. Vamos facilitar sua pesquisa e reunir aqui alguns deles para orientar seu entendimento e diferenciação.
Segundo o dicionário Priberam de Língua Portuguesa, sistema pode significar, dentre outras coisas:
“um conjunto de meios e processos empregados para alcançar determinado fim.”
Nesse sentido, quando falamos de sistemas alimentares, podemos dizer que são um conjunto de elementos que entendem a alimentação como uma cadeia conectada desde o setor produtivo, terra e indústria, até o descarte daquilo que consumimos.
Sistemas alimentares podem ser entendidos pela adoção de uma abordagem sistêmica que facilita o entendimento da conexão entre os diferentes atores sociais e instituições ligados à alimentação. Assim, para entender a alimentação, é preciso observar os problemas estruturais de cada sistema econômico, as relações sociais e ainda as políticas de alimentação e nutrição adotadas em cada lugar, para, enfim, perceber como eles influenciam direta e indiretamente a alimentação. O esquema abaixo ilustra esse conceito:
Voltemos ao dicionário, agora, para pesquisar a palavra modelo. Segundo o dicionário Priberam, modelo pode significar: “[..] 2. Molde, exemplar. Que serve de referência ou de exemplo [...]”.
Nesse sentido, entendemos por modelo alimentar os exemplos, moldes e referências de alimentação existentes em suas diferentes dimensões, biológicas, culturais e simbólicas.
O vegetarianismo é um modelo alimentar porque configura-se como um modo, um tipo específico de alimentação, com suas características e regras do que comer.
Comentário
Modelos alimentares têm relação com escolha, mas também com a oferta de alimentos disponíveis, e o mais importante é entendermos que nem tudo é só biologia, nem só dimensão social. Isso porque as relações da alimentação com o biológico e com o social não são justapostas, mas são marcadas por diversas interações.
Existem diversos modelos alimentares que foram se modificando e se transformando ao longo dos tempos. A partir de uma perspectiva histórica, podemos dizer que os primeiros modelos alimentares foram os seguintes:
É uma alimentação baseada em frutas.
Crudivorismo
É uma alimentação baseada em alimentos crus.
Ambos os modelos alimentares, apesar da relação histórica tão longínqua, ainda são praticados atualmente em tendências contemporâneas, como a alimentação viva, a raw food e a dieta paleolítica, por exemplo.
Os seres humanos são seres onívoros, não importa o quanto você goste e consuma carne, certamente, sua dieta é baseada em outros grupos alimentares. Nesse sentido, não podemos dizer que somos parte do modelo alimentar de carnivorismo, uma vez que este se refere ao consumo exclusivo de carne, proteína animal, no geral, de exclusividade dos animais carnívoros.
Assim, além do frugivorismo e do crudivorismo que vimos acima, existem ainda alguns outros modelos alimentares que baseiam sua estrutura, entre outras coisas, na restrição à proteína animal. Selecionamos três principais:
Cerealismo
Vegetarianismo
Veganismo
Em nossa última visita ao dicionário, fomos pesquisar a palavra hábito e encontramos entre as definições disponíveis uma que melhor nos atendeu: “Prática frequente. = costume, uso” (DICIONÁRIO PRIBERAM ON LINE).
Portanto, hábitos alimentares são o conjunto de rituais que compõe a alimentação cotidiana. Nesse sentido, percebemos que os hábitos alimentares dizem respeito a um espaço menor quando olhamos para uma cultura alimentar.
Ele pode ser relativo a grupos sociais específicos, famílias, alimentação escolar, religiosidade. O conceito de hábito alimentar é o termo pelo qual a Antropologia da alimentação refere-se à maioria dos seus objetos de estudo.
Aplicações metodológicas
Pesquisa científica
A Antropologia aplicada à Nutrição nos permite iluminar fenômenos socioculturais relativos à alimentação. Assim, podemos analisar o ato de comer para além da dimensão biológica e compreender a alimentação como um fenômeno biopsicossocial. Neste módulo, vamos ver algumas possibilidades de metodologia de pesquisa advindas da Antropologia que podem ser aplicadas na Nutrição.
Existem fundamentalmente duas grandes formas de desenvolvimento de pesquisa, que são as seguintes:
Pesquisas quantitativas
São pesquisas que geralmente partem de hipóteses que poderão ou não ser confirmadas, por meio de metodologias rígidas, cientificamente validadas. Esse tipo de pesquisa normalmente trabalha com base em testes empíricos, dados estatísticos, cálculos matemáticos, a fim de comprovar ou refutar a prerrogativa inicial do estudo.
Pesquisas qualitativas
São pesquisas que procuram, por meio da análise de indivíduos e grupos sociais, entender os fenômenos, as dinâmicas e as práticas de interação e comunicação entre indivíduos e grupos sociais. Quando falamos de associação entre Ciências Humanas e Ciências Biológicas, normalmente, estamos falando de metodologias de pesquisa que fazem parte do gênero qualitativo.
Quando aplicamos esse tipo de pesquisa no universo da alimentação, o interesse do pesquisador é por experiências, interações e documentos em seu contexto natural/real. As escolhas metodológicas e os conceitos teóricos são adaptados àquilo que se estuda. As hipóteses não precisam ser perguntas fechadas, podem ser desenvolvidas e refinadas ao longo do processo da pesquisa. A etnografia é um dos principais métodos usados em pesquisas qualitativas. Por isso, nos debruçaremos mais atentamente sobre ela.
A etnografia é a metodologia que descreve grupos sociais a partir de suas instituições, comportamentos, produções materiais e imateriais, hábitos e crenças. A etnografia é feita in loco por um etnógrafo, que é aquele que produz o trabalho. Esse etnógrafo, basicamente, participa da vida das pessoas, ou grupos sociais que está estudando, como um observador objetivo do cotidiano destes indivíduos. A observação participante é um dos possíveis modos de inserção desses indivíduos na vida dos grupos estudados, assim, o pesquisador etnógrafo não só observa, como também participa das atividades cotidianas do grupo. Esse processo de imersão do pesquisador é chamado de pesquisa de campo.
Podemos dizer que a etnografia como método é baseada na pesquisa de campo. Constitui-se em um trabalho personalizado, multifatorial, geralmente, comprometido com um longo prazo de duração, mas que pode variar de acordo com os objetivos da pesquisa. É um método intuitivo, dialógico e holístico que pode gerar produtos narrativos ou ainda relatórios etnográficos.
Esse tipo de pesquisa precisa ser aprovado por um conselho de ética e é fundamental a aprovação dos indivíduos do grupo social que faz parte do estudo, através de um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Exemplo
Pensando na aplicaçãoda etnografia ao campo da alimentação em Nutrição, podemos tomar como exemplo uma pesquisa sobre os impactos das redes sociais nos hábitos alimentares da juventude, ou que analise a cultura alimentar de povos tradicionais indígenas ou de matrizes africanas. A etnografia vai garantir ferramentas metodológicas de observação dos elementos simbólicos e culturais em torno da alimentação de grupos sociais recortados como sujeitos da pesquisa. Nesse sentido, podemos dizer que, em pesquisas voltadas para alimentação, a etnografia nos permite ir além dos dados e números, e aprofundar análises socioculturais em alimentação e Nutrição.

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