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Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro Oeste
ARTHUR CLOVIS FERREIRA DA COSTA
CAMILA XIMENES SALGUEIRO
LEANDRO RODRIGO DE SANTANA
INDIGESTÃO VAGAL BOVINA
Luziânia - Go
2024
Arthur Clovis Ferreira da Costa
Camila Ximenes Salgueiro
Leandro Rodrigo de Santana
INDIGESTÃO VAGAL BOVINA
Trabalho acadêmico da matéria de Clínica médica de
grandes animais, do curso de Medicina Veterinária
apresentado no oitavo semestre com objetivo de
compor a nota para aprovação na disciplina.
Professor Rodrigo França.
Luziânia - Go
2024
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO…...…………………………………………………………………01
2. INDIGESTÃO VAGAL……………………………………………………………...02
2.1 Anatomia e fisiologia do trato gastrointestinal…………………………………..02
2.2 Sinais Clínicos………………………………………………………………...…09
2.3 Diagnóstico………………………………………………………………………10
2.4 Tratamento……………………………………………………………………….13
3. RELATO DE CASO………………………………………………………………... 22
4. CONCLUSÃO……………………………………………………………………….24
5. REFERÊNCIAS……………………………………………………………………...25
3
1. INTRODUÇÃO
A indigestão vagal em bovinos, também conhecida como indigestão tipo vagal, é uma
condição clínica que afeta o sistema digestivo desses animais, caracterizando-se por uma
disfunção na motilidade ruminal e na coordenação dos reflexos vagais. Essa condição pode
ocorrer devido a fatores como alterações na dieta, ingestão de alimentos de baixa qualidade
ou presença de toxinas.
Os bovinos com indigestão vagal geralmente apresentam sinais como diminuição do
apetite, letargia, cólicas e alterações na produção de leite. O manejo adequado, a identificação
precoce dos sintomas e intervenções veterinárias são cruciais para o tratamento e prevenção
dessa condição, a fim de garantir a saúde e o bem-estar dos animais.
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2. INDIGESTÃO VAGAL BOVINA
A indigestão vagal bovina é uma condição que ocorre quando há uma disfunção na
motilidade do rúmen, geralmente devido a problemas relacionados ao nervo vago, que é
responsável por regular os reflexos digestivos. Essa condição pode resultar em uma série de
sintomas, como redução do apetite, letargia, distensão abdominal e, em casos mais graves,
cólicas. Esta doença pertence a um grupo de afecções gastrointestinais não infecciosas dos
ruminantes, caracterizada pelo desenvolvimento gradual da distensão abdominal secundária à
distensão do rúmen e retículo, sendo dividida em quatro tipos, I, II, III e IV (Foster, 2017).
Hoflund (1940) descreveu quatro tipos de indigestão vagal baseada no suposto local
de lesão vagal. O tipo I é caracterizado pela falha do esvaziamento ruminal por disfunção
cardíaca (estenose funcional anterior com hipomotilidade), o tipo II por uma estenose
funcional anterior com hipermotilidade.
O tipo III ocorre em função da estenose funcional posterior, enquanto que o tipo IV é
identificada como indigestão tardia da gestação. Os tipos I e IV são considerados raros e a
categorização é de baixa relevância clínica. Descoberta em 1940, a partir da simulação de
distúrbios no estômago de bovinos após vagotomia seletiva, produzindo indigestão crônica.
Essa pesquisa, coordenada pelo pesquisador Hoflund, demonstrou que o principal fator
desencadeador da doença era uma lesão no nervo vago (Hoflund, 1940).
A indigestão vagal do tipo I é resultante da distensão ruminal causada pelo gás livre
que resultará em um rúmen hipomotílico ou atônico e provocará tensão abdominal aumentada
(Perkins, 2017). Ligados a indigestão vagal tipo I e à disfunção ruminal, os traumas de
faringe, bloqueios causados por corpos estranhos, compressão esofágica e circunstâncias
patológicas presentes no mediastino são causas potenciais para o acontecimento da síndrome
caracterizada por falha na eructação e distensão gasosa do rúmen (Dirksen et al., 2005; Smith
et al., 1992).
O tipo II desenvolve-se a partir de condições que impeçam a passagem de ingesta pelo
canal omasal para o abomasal. As causas mais comuns são os abcessos reticulares e hepáticos
que se desenvolvem na parede direita ou medial ao retículo. Pode ocorrer também por
obstrução mecânica devido a ingestão de corpos estranhas ou pela presença de papilomas ou
granulomas. A falha no transporte omasal pode ocasionar distensão ruminoreticular crônica
(Rehage et al., 1992). Conhecida como estenose funcional posterior ou indigestão vagal do
tipo III, esse tipo de síndrome apresenta comprometimento do fluxo da ingesta através do
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piloro, no qual sucede em acúmulo de alimento na parte interna do abomaso, acometendo o
fluxo do bolo alimentar no trecho entre abomaso e intestino (Constable et al., 2016).
A indigestão vagal do tipo IV não é bem definida, ocorre em fêmeas prenhes, mais
precisamente no terço final da gestação, sendo conhecida também por indigestão do final da
gestação. Acredita-se que esse tipo ocorra devido ao aumento uterino causando deslocamento
cranial do abomaso e assim, inibindo o esvaziamento abomasal (Hussain et al., 2014).
2.1 Anatomia e fisiologia do trato gastrointestinal
O sistema digestório compreende os órgãos desde a boca até o ânus. Os ruminantes
possuem boca, constituída de língua e dentes porém, em sua arcada dentária superior
apresentam pulvino dentário no lugar dos dentes incisivos e caninos. Esta região do sistema
digestório é responsável por capturar, triturar e insalivar o alimento que seguirá pela faringe,
esôfago até os pré-estômagos e estômago (Köning & Liebich, 2011).
Os bovinos são mamíferos herbívoros e possuem o estômago composto por quatro
cavidades denominadas: rúmen, retículo, omaso (pré-estômagos) e abomaso (estômago). As
câmaras anteriores ao estômago simples são revestidas de epitélio escamoso glandular, onde
o alimento é submetido a digestão microbiana antes de ser sujeito a digestão química no
divertículo glandular (Frandson et al., 2011).
Sobre as características anátomo-fisiológicas, na região dorsal comum ao retículo e ao
rúmen está a abertura do esôfago, região do cárdia. A sua mucosa possui duas pregas que
formam um tubo fechado e estende-se até o omaso, chamado de sulco ruminorreticular. Este é
usado pelos bezerros na fase de mama para o desvio do leite do rúmen e retículo (Reece &
Penteado Júnior, 1996).
A mucosa reticular tem cristas que caracterizam seu nome vulgar de “favo de mel”.
Devido essa característica e ao hábito alimentar não seletivo dos bovinos, os objetos
estranhos eventualmente ingeridos tendem a permanecer nesta região e gerar lesões aos serem
movimentados com as contrações do órgão, suscitando peritonite traumática ou
retículo-pericardite traumática (Köning & Liebich, 2011).
O omaso é esférico e fica à direita do rúmen-retículo e caudal ao fígado, é preenchido
por lâminas musculares folhosas paralelas e sua mucosa é composta por células estratificadas
pavimentosas com papilas curtas. Possui duas fases de contração, a primeira fase pressiona o
alimento nos recessos do omaso para reabsorção de água e na segunda parte encaminha os
conteúdos desidratados ao abomaso (Frandson et al., 2011).
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Após os pró-ventrículos, encontra-se o abomaso, este divertículo é a parte glandular
do sistema digestório dos ruminantes. Ele é dividido em fundo gástrico, corpo do estômago e
piloro, ambos glandulares. Todavia, seu epitélio apresenta duas regiões glandulares distintas
denominadas como região fúndica (fundo) e pilórica. É topograficamente influenciado pela
atividade dos pró-ventrículos, mas encontra-se anatomicamente ventral ao omaso e caudal à
direita do rúmen. Apresenta curvatura maior (côncava) voltada para o ventre e a curvatura
menor (convexa) voltada para o dorso do animal (Köning & Liebich, 2011).
Estas vísceras abdominais são inervadas pelo nervo vago (nervus vagus). Este se
divide em direito e esquerdo no mediastino, atravessa o hiato esofágico e forma um plexo
neural ao se espalhar e unir-se às fibras simpáticas na cavidade abdominal formando troncos
vagais ventral e dorsal (Köning & Liebich, 2011). Sua função é regular a motricidade das
câmaras digestivas (Radostits et al., 2010). A regiãode cárdia, o saco ventral do rúmen, o
retículo, omaso, o abomaso e o piloro são inervados pelo nervo vago ventral. Enquanto que, a
inervação vagal dorsal, atinge cárdia, saco dorsal do rúmen, retículo, omaso e abomaso
(Feitosa, 2014; Hedlund & Fossum, 2008; Willard, 2010).
A fisiologia da digestão dos ruminantes começa pela boca com a trituração do
alimento em partículas menores, sendo que após o alimento ser apreendido, ele passa pela
mastigação sendo insalivado. A saliva possui função de amolecimento e lubrificação da
ingesta, facilitando a mastigação e posterior deglutição. Os bovinos podem produzir até 200
litros de saliva por dia, essa grande quantidade permite que o conteúdo ruminal permaneça
líquido e não forme espuma (Frandson et al., 2011).
A saliva possui a capacidade de tamponamento, estimulação da fermentação e
transporte de fluido e condução da ingesta no retrocesso a boca para a ruminação e ao longo
do estômago para o intestino delgado. A capacidade tamponante se deve às altas
concentrações de bicarbonato e de fosfato presentes na saliva desses animais (Teixeira, 1996;
Welkoborsky, 2011).
O sistema enzimático da digestão dos ruminantes depende de microrganismos que
fazem a digestão de fibras vegetais. Estes localizam-se no rúmen (câmara fermentativa), onde
os carboidratos estruturais dos vegetais são desdobrados em ácidos graxos voláteis (AGV’s)
úteis ao metabolismo do animal (Berchielli et al., 2011; Clauss & Rössner, 2014). Os AGV’s
produzidos pela ação fermentativa são ácido acético, o ácido propiônico e o ácido butírico
que são absorvidos nos pró-ventrículos, sendo eles a principal fonte de energia para os
ruminantes. A digestão microbiana também produz gases, metano e dióxido de carbono, eles
se acumulam na câmara sob o alimento ingerido (Frandson et al., 2011). Quando a produção
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de gás é maior do que a eliminada pela eructação, há um aumento do rúmen e do retículo
denominado timpanismo. Esse volume aumentado dos pró-ventrículos pressiona a cavidade
torácica, causando dificuldade respiratória, alterações cardíacas, inapetência e motilidade do
rúmen e retículo anormal (Frandson et al., 2011).
O rúmen e retículo tem uma sequência complexa e frequência variável de contrações
que se repetem diversas vezes por minuto (2 a 3 movimentos de mescla em 3 minutos)
permitindo a mistura do conteúdo alimentar e promovendo tanto a fermentação quanto a
passagem para as outras câmaras (Reece, 2008). Desse modo, no ruminante, após a ingestão,
o alimento retorna à cavidade oral para ser insalivado e mastigado novamente, referindo-se
então o termo ruminante a esse hábito alimentar. Basicamente, o alimento é triturado e
insalivado na boca e então, enviado ao rúmen onde os microrganismos fazem a digestão
fermentativa. As partículas maiores que chegam ao rúmen são enviadas ao retículo e do
retículo são direcionadas novamente para a boca para nova mastigação e insalivação,
prosseguindo assim, o bolo ao omaso (Reece, 2008). Para chegar ao omaso, o alimento passa
pelo orifício retículo-omasal, neste órgão não há uma cadência como é observada no retículo.
Neste divertículo também ocorrem fermentação e absorção de água, AGV’s e eletrólitos.
Apesar de ser o menor compartimento, é o local de maior absorção de nutrientes, além de
regular a propulsão do alimento até o abomaso (Reece, 2008). O abomaso é responsável pela
digestão enzimática liberando hormônios e suco gástrico. O suco gástrico contém ácido
clorídrico, pepsinogênio, muco, enzima renina, água e fator intrínseco. As liberações destas
substâncias são reguladas por estímulos sensoriais, pela presença do conteúdo alimentar e
pela liberação de alguns hormônios inibidores de ácido clorídrico no duodeno. As contrações
do abomaso misturam o alimento, continuam a digestão mecânica e força o alimento a passar
o esfíncter pilórico (Reece, 2008).
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Fonte:
https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.passeidireto.com%2Farquivo%2F111473908%2Fanatomia-da-cavidade-abdominal-inervacao-e
-irrigacao&psig=AOvVaw2PB6TeTXhrZdiy-MalzlMm&ust=1729553349329000&source=images&cd=vfe&opi=89978449&ved=0CBQQjRxqFwoTCIDyk7q
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2.2 Sinais clínicos
A lesão no nervo vagal interfere na função digestiva e causa uma série de sinais
clínicos, que podem ser manifestados dos mais leves aos mais graves e até mesmo levar ao
óbito do animal.
Os sinais clínicos incluem:
- Distensão Abdominal (Timpanismo): A distensão, especialmente no lado esquerdo, é
resultado da retenção de gases no rúmen devido à motilidade reduzida do trato
gastrointestinal (Fubini & Ducharme, 2004).
- Dor abdominal: Dor localizada no abdômen é comumente associada à peritonite ou
inflamação dos órgãos adjacentes, com manifestações de arqueamento do dorso e
gemidos (Fubini & Ducharme, 2004).
- Anorexia: A falta de apetite é um sintoma comum, já que a ingestão de alimentos se
torna desconfortável devido à disfunção digestiva (Dirksen, Gründer, & Stöber, 2011).
- Dificuldade em ruminar, diminuição ou ausência de motilidade ruminal : As
contrações do rúmen e retículo diminuem ou cessam, levando a uma redução da
capacidade digestiva. A auscultação revela poucos ou nenhum som ruminal (Radostits
et al., 2007). Ruminação reduzida ou ausente.
- Regurgitação: Em casos de disfunção severa, ocorre regurgitação frequente de
alimentos, especialmente durante as tentativas de ruminação (Dirksen, Gründer, &
Stöber, 2011).
- Perda de peso: Ocorre perda de peso progressiva, já que a digestão e a absorção de
nutrientes são comprometidas (Smith, 2015).
- Fezes anormais: Constipação, fezes secas e/ou diarreia são observadas, dependendo
da gravidade do comprometimento da motilidade gastrointestinal (Radostits et al.,
2007).
- Letargia: Apatia e redução na atividade geral e o comportamento apático são
evidentes, uma vez que o animal não consegue se alimentar adequadamente e
apresenta dor (Radostits et al., 2007).
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- Desidratação: Sinais como pele seca e mucosas pálidas se dão devido à anorexia e à
diminuição do consumo de água, a desidratação se torna evidente, e a pele pode
perder elasticidade (Smith, 2015).
- Constipação ou Diarreia: Alterações nas fezes, a constipação ou diarreia podem
ocorrer devido a distúrbios na motilidade intestinal. A constipação pode resultar na
redução da motilidade do rúmen e intestinos, levando à retenção de fezes. Por outro
lado, a diarréia pode ser causada por alterações na flora intestinal ou pela ingestão de
alimentos inadequados. A condição muitas vezes se relaciona com o estado geral do
animal e pode exigir intervenções como ajustes na dieta e tratamento medicamentoso
para restaurar a motilidade normal. Consultar um veterinário é crucial para determinar
a causa e o tratamento adequado.
- Bradicardia: O nervo vago também influencia o ritmo cardíaco; em alguns casos,
pode ser observada uma frequência cardíaca mais baixa que o normal (Dirksen,
Gründer, & Stöber, 2011).
- Inquietação: Os animais podem se mostrar agitados, movendo-se constantemente ou
tentando se deitar e levantar repetidamente.
- Mudanças no Padrão de Alimentação: Pode haver uma recusa em se alimentar ou uma
diminuição significativa na ingestão de ração.
- Agressividade ou Irritabilidade: Animais que normalmente são calmos podem se
tornar mais agressivos ou irritáveis devido ao desconforto.
- Postura Anormal: Os bovinos podem assumir posturas incomuns, como se inclinar
para um lado ou ficar com a cabeça baixa, tentando aliviar a dor ou o desconforto
abdominal.
2.3 Diagnóstico
O diagnóstico de indigestão vagal em bovinos envolve uma combinação de avaliação
clínica, histórico do animal e exames complementares. Aqui estão os principais passos do
diagnóstico:
- Exame Físico: Avaliação do estado geral e palpação abdominal. O exame físico é uma
parte fundamental no diagnóstico de indigestão vagal em bovinos. Ele permite
identificar sinais clínicos importantes e avaliar o estado geral do animal. Aqui estãoos
principais pontos do exame físico:
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- Avaliação da Distensão Abdominal: Inspeção visual, verificar a presença de distensão
abdominal, comumente mais pronunciada no lado esquerdo (flanco esquerdo);
palpação, sentir a parede abdominal para verificar a tensão e rigidez. Pode-se detectar
acúmulo de gases no rúmen e intestinos.
- Auscultação: Sons ruminais: Usar um estetoscópio para auscultar os sons do rúmen. A
motilidade ruminal geralmente está reduzida ou ausente em casos de indigestão vagal;
Sons metálicos (ping), podem ser ouvidos, sugerindo acúmulo de gás no rúmen ou em
outras porções do trato digestivo.
- Palpação Retal: a palpação retal ajuda a avaliar o tamanho e a consistência do rúmen,
assim como a presença de fezes no reto, pode-se notar um aumento na quantidade de
fluido e menor presença de conteúdo sólido.
- Exame de Desidratação: turgor da pele, puxar a pele e observar quanto tempo ela leva
para voltar ao lugar (turgor cutâneo). Se a pele demorar para voltar, é sinal de
desidratação; Mucosas, Avaliar as mucosas (boca, olhos) quanto à cor e umidade.
Mucosas secas ou pálidas indicam desidratação.
- Sinais de Dor: Observar se o animal mostra sinais de desconforto ou dor durante a
palpação, especialmente no quadrante abdominal superior esquerdo, movimentos
anormais, como levantar ou deitar repetidamente, podem indicar dor abdominal.
- Avaliação da Frequência Cardíaca e Respiratória: Frequência cardíaca pode estar
aumentada devido ao desconforto e estresse; Frequência respiratória, estresse e
distensão abdominal podem alterar o padrão respiratório.
- Análise das Fezes: verificar a quantidade, consistência e cor das fezes. Em casos de
indigestão vagal, as fezes podem ser escassas (sugestivas de constipação) ou, em
alguns casos, diarréicas, dependendo da fase da condição.
- Punctura do Rúmen (Paracentese): Pode ser realizada para avaliar o conteúdo ruminal
e verificar se há presença de gás excessivo, fluido ou outro material anormal.
- História Clínica: Investigação da dieta e manejo do animal. A história clínica é um
componente essencial para o diagnóstico da indigestão vagal em bovinos. Ela ajuda a
identificar fatores de risco, condições predisponentes e eventos que possam ter
contribuído para o desenvolvimento da condição. Aqui estão os principais aspectos a
serem considerados ao coletar a história clínica de um bovino com suspeita de
ingestão vagal:
- Histórico Alimentar: Mudanças na dieta, Verificar se houve alterações recentes na
alimentação, como mudança de forragem, concentrados ou suplementação.
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Dietas com excesso de alimentos fibrosos, mal fermentados ou que formam bolas de
alimento podem predispor à ingestão vagal.
- Acesso a corpos estranhos: Perguntar se o animal teve acesso a materiais não
alimentares (arames, plásticos, pedras), que podem causar obstruções no trato
digestivo e influenciar na motilidade ruminal.
- Hábitos alimentares: Determinar a quantidade de ração fornecida e a frequência das
refeições. Animais que comem grandes quantidades rapidamente podem ter maior
risco de desenvolver problemas digestivos.
- Histórico de Doenças Anteriores: Episódios prévios de indigestão, saber se o animal
já apresentou quadros anteriores de distúrbios digestivos, como timpanismo (inchaço
do rúmen), deslocamento de abomaso ou outras complicações gastrointestinais.
Cirurgias prévias, Investigar se o bovino passou por cirurgias, especialmente no trato
digestivo, pois isso pode predispor a complicações como aderências que afetam o
nervo vago.
- Histórico Reprodutivo, Gestação ou Parto recente: Bovinos em gestação avançada ou
que passaram por partos difíceis podem estar mais suscetíveis à ingestão vagal devido
à pressão sobre os órgãos abdominais, o que pode interferir na função do nervo vago.
- Histórico de Manejo: Mudanças no manejo, alterações no manejo, como transporte
recente, mudanças de instalações ou manejo inadequado, podem induzir estresse no
animal, predispondo-o a distúrbios digestivos; Uso de medicamentos, perguntar se
houve uso recente de medicamentos, especialmente anti-inflamatórios ou antibióticos,
que podem alterar a motilidade ruminal ou a flora microbiana.
- Exposição a Estresse: Fatores estressantes, situações como transporte, mudanças
climáticas, manejo inadequado ou confinamento podem contribuir para a ingestão
vagal, pois o estresse pode impactar a motilidade digestiva e a função do nervo vago.
- Condições Ambientais: Condições de pastagem, verificar a qualidade da pastagem, se
há pastagens muito fibrosas, secas ou contaminadas que podem levar à ingestão de
grandes volumes de fibra, dificultando a digestão e aumentando a chance de
problemas vagais; Acesso a água, determinar a disponibilidade de água limpa e fresca.
Desidratação pode piorar os sintomas de indigestão vagal.
- Histórico de Produção; Produção de leite ou ganho de peso, se o animal é de alta
produção de leite ou está em período de engorda, pode haver uma maior demanda
metabólica que, associada a problemas alimentares, aumenta o risco de distúrbios
gastrointestinais.
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- Sintomas Recorrentes: Perda de apetite, perguntar se houve perda de apetite gradual
ou repentina; Distensão abdominal, se a distensão ocorreu de forma aguda ou foi se
desenvolvendo ao longo do tempo; Mudanças no comportamento, alterações no
comportamento, como inquietação ou apatia, podem ser indícios importantes.
- Grupo de Animais: Outros animais afetados, perguntar se outros animais do rebanho
estão apresentando sinais similares, o que pode indicar problemas alimentares ou de
manejo que afetam o grupo como um todo.
A história clínica detalhada, junto com o exame físico, fornece informações essenciais
para identificar a causa da ingestão vagal e direcionar o veterinário para o diagnóstico correto
e o manejo terapêutico mais apropriado, mas também podemos nos beneficiar de alguns
exames complementares como auxílio para o diagnóstico de indigestão vagal, podem ser
indicados:
- Exames Laboratoriais: Hemograma e análise de eletrólitos.
- Ultrassonografia: Para avaliar a motilidade e possíveis obstruções.
- Radiografias: Se necessário, para detectar corpos estranhos.
2.4 Tratamento
O tratamento da indigestão vagal em bovinos visa restaurar a motilidade digestiva e
corrigir os problemas subjacentes. As principais abordagens incluem:
- Alívio da Distensão: Sonda nasogástrica ou punção para descompressão. O alívio da
distensão abdominal é uma das principais prioridades no tratamento da indigestão
vagal em bovinos, uma vez que a distensão excessiva do rúmen pode comprometer a
respiração e o bem-estar do animal. Existem diversas abordagens para aliviar essa
distensão, dependendo da gravidade da condição.
Aqui estão as principais técnicas:
- Passagem de Sonda Nasogástrica: A sonda nasogástrica é inserida através do nariz e
até o rúmen para liberar gases acumulados. Esse procedimento é particularmente útil
em casos de timpanismo gasoso (acúmulo de gás no rúmen). A sonda também pode
ser usada para remover conteúdo líquido, especialmente quando há acúmulo
excessivo de fluido no rúmen.
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- Punctura do Rúmen (Paracentese): Se a distensão for muito grave e a sonda
nasogástrica não for suficiente, pode-se realizar a punção ruminal ou trocaterização
para aliviar a pressão. Utiliza-se uma agulha de grande calibre para perfurar a parede
abdominal e liberar o gás diretamente do rúmen.
- Uso de Agentes Antiespumantes: Nos casos de timpanismo espumoso (comum
quando o animal ingere grandes quantidades de leguminosas frescas ou alimentos que
favorecem a formação de espuma), pode-se administrar antiespumantes diretamente
no rúmen através de uma sonda. Produtos como poloxaleno ou óleo mineral podem
ser usados para reduzir a formação de espuma e permitir a liberação do gás
acumulado.
- Massagem Ruminal: Em casos leves, a massagem da área do flanco esquerdo pode
estimular a motilidade ruminal e ajudar a movimentar o gás ou o material digestivo.Esse método, embora não seja eficaz em todos os casos, pode ser útil em estágios
iniciais da distensão.
- Cirurgia (Rumenotomia): Em casos graves de distensão associada à ingestão vagal,
pode ser necessária uma rumenotomia (cirurgia do rúmen) para remover obstruções
ou conteúdo sólido que não pode ser aliviado por métodos não invasivos. Durante a
rumenotomia, o rúmen é aberto cirurgicamente para esvaziar seu conteúdo e remover
corpos estranhos, se presentes.
- Reposição de Fluidos: Embora a reposição de fluidos não alivie diretamente a
distensão, ela é essencial para tratar a desidratação e o desequilíbrio eletrolítico que
muitas vezes acompanham a ingestão vagal.
Isso ajuda a estabilizar o animal enquanto outras intervenções são realizadas.
- Medicações: Anti Espasmódicos e anti-inflamatórios: No tratamento da indigestão
vagal em bovinos, a medicação desempenha um papel importante para restaurar a
motilidade ruminal, aliviar o desconforto e tratar possíveis infecções secundárias.
A escolha dos medicamentos depende da causa subjacente e da gravidade do caso.
Principais classes de medicamentos utilizadas:
- Procinéticos (Estimulantes da Motilidade Ruminal)
- Neostigmina: É uma droga procinética usada para estimular a motilidade do
rúmen e dos intestinos, promovendo o esvaziamento gástrico. Atua
aumentando a atividade do sistema nervoso parassimpático.
- Eritromicina (em baixas doses): Pode ser utilizada para estimular a motilidade
gastrointestinal por meio de seus efeitos agonistas na motilina.
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- Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs)
- Flunixin meglumine: Utilizado para aliviar a dor e reduzir a inflamação que
pode estar associada à ingestão vagal, especialmente se houver danos ao nervo
vago ou ao trato gastrointestinal.
- Meloxicam: Também usado para aliviar a dor e inflamação, promovendo o
conforto do animal durante a recuperação.
- Antiespumantes
- Poloxaleno: Utilizado no tratamento do timpanismo espumoso, que ocorre
quando o gás no rúmen fica preso na forma de espuma. O poloxaleno ajuda a
romper as bolhas de gás e permite sua liberação.
- Óleo mineral: Pode ser administrado por via oral para reduzir a formação de
espuma no rúmen e facilitar a liberação do gás.
- Antibióticos
- Sulfato de Neomicina ou Tetraciclina: Administrados em casos em que há
suspeita de infecção secundária, especialmente se houver sinais de peritonite
ou infecção sistêmica.
- Penicilina: Usada em casos mais graves de infecções bacterianas que podem
resultar de perfurações ou complicações associadas à ingestão vagal.
- Laxantes e Catárticos
- Sais de magnésio (Sulfato de magnésio): Pode ser administrado para aliviar a
constipação e ajudar no esvaziamento do trato digestivo, promovendo o
trânsito de conteúdos pelo rúmen e intestinos.
- Parafina líquida: Pode ser usada como lubrificante intestinal para ajudar na
passagem de conteúdos digestivos acumulados.
- Fluidos Intravenosos
- Reposição de eletrólitos: A fluidoterapia intravenosa com soluções de
eletrólitos é essencial para corrigir a desidratação e o desequilíbrio eletrolítico,
que são comuns em animais com indigestão vagal.
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- Bicarbonato de sódio: Se houver acidose ruminal ou metabólica, o bicarbonato
pode ser administrado para corrigir o pH do sangue.
- Antiácidos e Alcalinizantes
- Óxido de magnésio ou Bicarbonato de sódio: Utilizados para neutralizar o
excesso de ácido no rúmen, especialmente em casos de acidose ruminal
associada à ingestão vagal.
- Vitaminas e Suplementos
- Vitamina B1 (Tiamina): Pode ser administrada para melhorar o metabolismo
energético e ajudar na recuperação, especialmente em casos em que o animal
sofreu uma diminuição na ingestão de alimentos.
- Probióticos: Suplementos probióticos podem ser utilizados para restaurar a
flora ruminal, que pode estar comprometida devido à diminuição da
motilidade ruminal e digestão.
- Reidratação: Fluidoterapia, se necessário.
A reidratação é um aspecto crucial no tratamento de bovinos com indigestão
vagal, pois a condição frequentemente leva à desidratação e desequilíbrios
eletrolíticos graves. A reidratação ajuda a restaurar o equilíbrio hídrico do
animal e a promover o bom funcionamento do trato digestivo.
Aqui estão os principais aspectos da reidratação no manejo da ingestão vagal:
- Fluidoterapia Intravenosa (IV)
- A Fluidoterapia intravenosa é necessária em casos mais graves, especialmente
quando o animal apresenta sinais de desidratação severa, como pele seca,
mucosas secas, olhos fundos e turgor cutâneo reduzido.
As soluções utilizadas com maior frequência incluem:
- Solução isotônica de cloreto de sódio (0,9%): Para repor a perda de líquidos e
manter o equilíbrio eletrolítico.
- Solução de Ringer com Lactato: Utilizada para repor eletrólitos e corrigir
acidose metabólica leve.
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- Soluções com bicarbonato de sódio: Indicadas em casos de acidose
metabólica, que pode ocorrer devido à estase ruminal prolongada.
- Reposição Oral de Fluidos
- Reidratação oral é recomendada para animais em estágios mais leves da
ingestão vagal ou após estabilização com fluidoterapia intravenosa. Esta
abordagem é menos invasiva e pode ajudar a corrigir a desidratação de forma
mais gradual.
- Eletrólitos orais: Suplementos comerciais contendo sódio, potássio, cloreto e
bicarbonato podem ser administrados para corrigir desequilíbrios eletrolíticos
e restaurar a função digestiva.
- Água limpa e fresca: Deve estar sempre disponível ao animal, pois a ingestão
voluntária de água ajuda no processo de reidratação e na recuperação da
motilidade ruminal.
- Tratamento de Acidose ou Alcalose Metabólica
- Em casos de acidose ruminal ou metabólica, que frequentemente acompanham
a ingestão vagal, a administração de fluidos contendo bicarbonato de sódio
pode ser necessária para neutralizar o excesso de ácido no sangue e no rúmen.
- Se o animal apresentar alcalose metabólica (geralmente associada à
deslocação de abomaso ou retenção de cloro), a reidratação pode incluir
soluções com cloreto de sódio (NaCl) para corrigir a condição.
- Correção do Déficit de Potássio
- O déficit de potássio é comum em bovinos com indigestão vagal, devido à
redução da ingestão de alimentos e à perda de líquidos. Isso pode resultar em
hipocalemia, que afeta ainda mais a motilidade ruminal e o estado geral do
animal.
- A reposição de potássio é realizada com soluções orais contendo potássio ou
com fluidos intravenosos adequados, como soluções de Ringer ou de cloreto
de potássio.
17
- Monitoramento do Estado de Hidratação, o monitoramento regular do estado de hidratação
é crucial. Isso inclui avaliar:
- Turgor da pele: Quanto mais tempo a pele leva para voltar ao lugar após ser
puxada, mais desidratado o animal está.
- Olhos: Olhos fundos ou secos indicam desidratação.
- Mucosas: Mucosas secas ou pegajosas também são sinais de desidratação.
- Produção de urina: A redução ou ausência de urina é um sinal de
desidratação severa.
- Administração de Glicose
- Em casos em que o animal apresenta hipoglicemia (baixa glicose no sangue),
especialmente em animais jovens ou lactantes, a administração de soluções
contendo glicose pode ser necessária para fornecer energia e melhorar o
metabolismo.
- Monitoramento Eletrolítico
- Além da reidratação, o equilíbrio eletrolítico deve ser cuidadosamente
monitorado. O tratamento inadequado pode levar a complicações como
hipocalemia, hipernatremia ou hipocloremia, que podem comprometer ainda
mais a recuperação do animal.
- Importância da Reidratação no Processo de Recuperação
- A reidratação não apenas restaura o equilíbrio de fluidos, mas também auxilia
na restauração da motilidade ruminal. Animais com desidratação severa
geralmente apresentam redução significativa na motilidade do trato digestivo,
o que piora a condição da ingestão vagal.
- O tratamento com fluidos ajuda a prevenir complicações adicionais, como
falência renal ou colapso circulatório, que podem ocorrer em casos dedesidratação severa.
- Mudança na Dieta:
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Ajustes na alimentação para evitar ingredientes problemáticos. A mudança na dieta é
uma parte essencial no manejo da indigestão vagal em bovinos, pois uma alimentação
adequada pode ajudar a prevenir o agravamento da condição, além de promover a
recuperação do sistema digestivo. Como a ingestão vagal afeta a motilidade gastrointestinal,
as dietas devem ser ajustadas para facilitar a digestão, melhorar a motilidade do rúmen e
prevenir complicações adicionais, como timpanismo e acidose ruminal.
Principais Considerações para a Mudança na Dieta:
- Redução da Fibra Grossa
- Uma dieta com excesso de fibra indigestível pode dificultar a motilidade ruminal e
levar ao acúmulo de conteúdo no rúmen, exacerbando os sintomas da indigestão
vagal.
- A recomendação é reduzir a quantidade de fibras grosseiras, como forragens de baixa
qualidade (ex: palha seca), e substituir por alimentos de melhor digestibilidade, como
silagem de boa qualidade ou feno macio.
- Fibra de alta qualidade (mais digestível) ainda é importante para estimular a
ruminação, mas deve ser administrada em quantidades equilibradas.
Diminuição de Concentrados e Alimentos Ricos em Amido
- Alimentos ricos em amido, como milho ou rações concentradas em excesso,
podem predispor a acidose ruminal, especialmente em animais com redução
da motilidade ruminal.
- O consumo de concentrados deve ser limitado e balanceado para evitar a
fermentação rápida e a produção excessiva de ácidos no rúmen.
- O objetivo é diminuir o risco de acidose ruminal e promover uma digestão
mais gradual.
Aumento do Teor de Fibras Solúveis
- As fibras solúveis, presentes em alimentos como polpa cítrica ou beterraba,
podem ser benéficas por serem mais facilmente fermentáveis pelos
microrganismos do rúmen, sem provocar acúmulo excessivo de gases ou
acidez.
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- Essas fibras promovem uma fermentação saudável no rúmen e ajudam a
estimular a motilidade gastrointestinal.
Fornecimento de Dietas de Transição
- Após um episódio de ingestão vagal, a introdução de uma dieta de transição
pode ser necessária. Esta dieta deve ser leve e de fácil digestão, com alta
palatabilidade, para que o animal comece a comer sem sobrecarregar o rúmen.
- Silagem de milho bem fermentada, feno de alta qualidade e pequenas
quantidades de concentrados são boas opções durante a fase inicial de
recuperação.
- Dietas líquidas, como sopas de farelo ou infusões ruminais, também podem
ser usadas temporariamente para fornecer energia sem sobrecarregar o rúmen.
Administração de Probióticos e Prebióticos
- O uso de probióticos e prebióticos pode ajudar a restaurar a microbiota
ruminal, que pode estar comprometida pela redução da motilidade e pela
alteração na fermentação.
- Estes suplementos ajudam a estabilizar o ambiente ruminal, facilitando a
digestão e prevenindo desequilíbrios no pH do rúmen.
Fracionamento da Alimentação
- Dividir a alimentação em várias pequenas porções ao longo do dia pode ser
benéfico, pois reduz a carga digestiva e favorece uma digestão mais uniforme,
evitando sobrecarga do rúmen.
- Isso também estimula a ruminação e aumenta o tempo de contato entre a fibra
e os microrganismos ruminais.
Aumento Gradual do Consumo de Alimentos
- No início da recuperação, é importante introduzir os alimentos de forma
gradual, permitindo que o rúmen recupere sua função plena aos poucos.
- O consumo alimentar deve ser monitorado, e qualquer aumento repentino na
ingestão de alimentos deve ser evitado, pois pode levar a novos episódios de
distúrbios digestivos.
20
Hidratação Adequada
- A água fresca e limpa deve estar sempre disponível para facilitar a digestão e
ajudar a manter a hidratação. A ingestão adequada de água é fundamental para
prevenir constipação e promover o fluxo de material digestivo através do trato
gastrointestinal.
- Em algumas situações, a administração de líquidos através de infusões
ruminais pode ser recomendada para ajudar na hidratação e no funcionamento
do rúmen.
Suplementação de Minerais e Vitaminas
- Durante o período de recuperação, é importante garantir que o animal receba a
suplementação adequada de minerais (especialmente potássio, cálcio e
magnésio) e vitaminas (como as do complexo B, que são essenciais para a
função ruminal e o metabolismo energético).
- Suplementos minerais que contenham bicarbonato de sódio ou outros
alcalinizantes podem ser úteis para neutralizar o excesso de acidez no rúmen,
especialmente em casos de acidose ruminal.
Evitar Alimentação de Risco
- Alimentos que tenham alta probabilidade de causar fermentação rápida ou
formação de gases em excesso, como leguminosas frescas (ex: alfafa, trevo),
devem ser evitados temporariamente.
- Esses alimentos podem causar timpanismo espumoso, o que piora a distensão
abdominal e os sintomas de indigestão vagal.
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3. RELATO DE CASO: INDIGESTÃO VAGAL EM BEZERRO
Foi encaminhado à Clínica de Grandes Animais do Hospital Veterinário “Luiz
Quintiliano de Oliveira” um bezerro com aproximadamente 6 meses de idade, mestiço. De
acordo com o proprietário, o animal apresentava distensão abdominal há cada 3 dias, durante
30 dias, sendo este resolvido através da sondagem orogástrica, administração de acetil tributil
acetato e probiótico. A dieta do paciente era composta por suplemento líquido, ração,
pastagem e leite. Ao exame físico, o animal apresentou pouco gás ruminal e bradicardia,
ficando em observação. No sétimo dia de internação o bezerro manifestou distensão
abdominal no formato maçã/pera (Figura 1) e atonia ruminal, dando início ao tratamento com
a sondagem orogástrica e administração de gluconato de cálcio IM, houve melhora clínica.
Após o primeiro episódio de timpanismo, o animal timpanizou recorrentemente, totalizando 5
recidivas em um período de 7 dias, onde não apresentava melhoras com o tratamento
instituído. Resultados: O hemograma e o leucograma estavam normais, descartando a
possibilidade de uma reticuloperitonite traumática. A dosagem de cloretos do líquido ruminal
estava levemente aumentada, indicando uma lesão pilórica discreta. Devido ao histórico,
sinais clínicos e exames complementares compatíveis com indigestão vagal, foi sugerido a
realização da eutanásia. Durante a necropsia foi encontrado úlcera de abomaso não perfurante
de grau Ib. Conclusões: O diagnóstico da indigestão vagal é predominantemente clínico,
entretanto se faz necessário descartar outras afecções, sendo assim, o histórico, a anamnese e
os exames físicos e complementares foram essenciais neste caso.
22
Figura 1- Paciente com distensão abdominal
Figura 2: Úlcera de abomaso não perfurante
23
4. CONCLUSÃO
A indigestão vagal bovina é uma condição que destaca a importância do nervo vago
na motilidade gastrointestinal dos ruminantes, sendo classificada em quatro tipos, cada um
com diferentes causas e mecanismos. Os tipos I e IV são raros, mas sintomas como distensão
abdominal e letargia podem afetar o bem-estar e a produtividade dos bovinos. O
reconhecimento precoce dos sinais clínicos e a implementação de estratégias de manejo são
cruciais para prevenir complicações.
O sistema digestório dos bovinos é adaptado para a digestão de fibras vegetais, com
as quatro câmaras do estômago trabalhando em sinergia, sendo o rúmen o principal local de
fermentação. Lesões no nervo vago podem resultar em sérios comprometimentos da saúde
digestiva, levando a sintomas como dor, anorexia, regurgitação e desidratação, que requerem
atenção imediata.
O diagnóstico precoce é vital, utilizando avaliações clínicas e exames
complementares para determinar a gravidade da condição. O tratamento envolve
modificações na dieta, medicamentos e, em casos mais severos, intervenções cirúrgicas. A
educação contínua de produtores e veterinários sobre sinais de alerta e práticas de manejo é
essencial para assegurar a saúde do rebanho e a sustentabilidade da produção bovina. Em
resumo, um manejo proativo e bem informadoé fundamental para promover a recuperação e
garantir a saúde digestiva dos bovinos.
24
5. REFERÊNCIAS
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of North America: Food Animal Practice.
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Cattle, Horses, Sheep, Pig, and Goats." Bailliere Tindall.
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bovinos. 3ª ed. Guanabara Koogan.
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7. Radostits, O. M., Gay, C. C., Hinchcliff, K. W., & Constable, P. D. (2007).
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10. Dirksen, G. et al.. Diseases of the digestive system in ruminants. In: Textbook of
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11. Constable, P. D. et al.. Veterinary Medicine: A Textbook of the Diseases of Cattle,
Sheep, Goats and Horses. Elsevier, 11ª edição, 2016.
12. Fubini, S. L., & Ducharme, N. G.. Farm Animal Surgery. Saunders, 2004.
13. Smith, B. P.. Large Animal Internal Medicine. 5ª edição, Mosby, 2014.
14. Anderson, D. E., & Miesner, M. D.. Surgery of the Digestive Tract in Cattle.
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jan. 2022.
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7e2b7db2/content
25
https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/20fdf40b-1de8-4b4d-8bca-000a7e2b7db2/content
https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/20fdf40b-1de8-4b4d-8bca-000a7e2b7db2/content

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