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SISTEMA POLAR DE COORDENADAS O sistema retangular de coordenadas concebe a localização de um ponto em um plano, denominado cartesiano, por meio de duas distâncias com relação à origem: uma distância horizontal 𝑥 e outra vertical 𝑦. O sistema polar, também bidimensional, se fundamenta em uma distância e em um ângulo: uma distância calculada relativamente à sua origem, chamada de polo, estabelecida sobre o segmento da reta determinada pelo ângulo 𝜃 , cuja medida toma como referência o eixo polar no qual 𝜃 = 0. As coordenadas polares de um ponto 𝑝 , representado pelo par (𝑥, 𝑦) no sistema cartesiano, correspondem, assim, ao par 𝜃, 𝑟 , composto pelo ângulo polar 𝜃 e o raio 𝑟 , medido, a partir do polo, sobre o segmento da reta definida por 𝜃 . Sobrepondo a marcação de um ponto nos dois sistemas, vemos as relações entre as coordenadas cartesianas e as coordenadas polares. Essas relações correspondem, na prática, a fórmulas de conversão que nos permitem transitar entre os dois sistemas de coordenadas. 𝑟 = 𝑥2 + 𝑦2 , Temos 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 𝑥 𝑟 ⇒ 𝑥 = 𝑟𝑐𝑜𝑠𝜃, 𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑦 𝑟 ⇒ 𝑦 = 𝑟𝑠𝑒𝑛𝜃 e 𝑡𝑔𝜃 = 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 𝑦 𝑥 . De fato, se 𝑥 = −1 e 𝑦 = 1, então 𝑟 = 𝑥2 + 𝑦2 = 1 + 1 = 2 e, assim, 1. O ponto de coordenadas cartesianas (−1, 1) é escrito no sistema polar como (3𝜋/4, 2). EXEMPLOS 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 𝑥 𝑟 = −1 2 = − 2 2 e 𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑦 𝑟 = 1 2 = 2 2 . Logo, 𝑟 = 2 e 𝜃 = 3𝜋/4 . 2. O ponto de coordenadas cartesianas (0, 2) é escrito no sistema polar como (𝜋/2, 2). Agora, 𝑥 = 0 e 𝑦 = 2 acarretam 𝑟 = 4 = 2. Daí, 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 0 e 𝑠𝑒𝑛𝜃 = 2/2 = 1 e, portanto, 𝜃 = 𝜋/2. 3. O ponto de coordenadas polares (𝜋/3, 2) corresponde ao ponto (1, 3) no sistema cartesiano. Se 𝜃 = 𝜋/3 e 𝑟 = 2, então 𝑥 = 2 cos 𝜋/3 = 2.1/2 = 1 e 𝑦 = 2𝑠𝑒𝑛 𝜋/3 = 2. 3/2 = 3 . 1. Consideremos o polo e o eixo polar coincidindo, respectivamente, com a origem e o semieixo 0X positivo do sistema cartesiano. Dessa forma, observamos que pontos correspondentes com relação aos dois sistemas de coordenadas ocupam o mesmo lugar geométrico. OBSERVAÇÕES Veja, por exemplo, os lugares geométricos ocupados pelos pontos (−1, 1) e (3𝜋/4, 2). 2. Se 𝑝 é um ponto da forma (𝜃, −𝑟), isto é, possui a coordenada radial negativa, então 𝑝 deverá ocupar o lugar geométrico (𝜋 + 𝜃, 𝑟), ou seja, 𝑝 e 𝑝′ = (𝜃, 𝑟) são simétricos com relação ao polo. Veja, por exemplo, o lugar geométrico ocupado pelo ponto 𝑝 = 𝜋/4, −2 . 3. No sistema cartesiano, cada ponto ocupa um único lugar geométrico no plano, porém, com relação ao sistema polar, essa propriedade não se verifica. Note, por exemplo, que o ponto 𝜋/4, −2 , considerado na observação anterior, se localiza no mesmo lugar que o ponto (5𝜋/4, 2). Além disso, não é difícil concluir que 𝜃, 𝑟 , 𝜃 + 2𝜋, 𝑟 , 𝜃 + 4𝜋, 𝑟 , ... ocupam, todos, o mesmo lugar geométrico no plano polar. 4. Por fim, importa observar que o polo tem raio polar nulo e ângulo polar indeterminado. ESBOÇO DE CURVAS NO SISTEMA POLAR Dada uma curva expressa por uma equação em coordenadas polares, podemos, inicialmente, proceder a sua conversão para coordenadas cartesianas a fim de procurar reconhecê-la. Feito isto, e havendo o reconhecimento, esboçamos, então, seu gráfico a partir da equação cartesiana obtida. Note que o procedimento acima se fundamenta no que nos mostrou a Observação 1., apresentada anteriormente, pois dela nos é permitido concluir que curvas equivalentes nos sistemas cartesiano e polar, apesar de serem expressas por equações distintas, possuem o mesmo esboço gráfico, uma vez que “pontos correspondentes com relação aos dois sistemas de coordenadas ocupam o mesmo lugar geométrico.” EXEMPLOS 1. A curva 𝑟 = 2 pode ser traçada a partir de sua conversão para coordenadas cartesianas, uma vez que 𝑟 = 2 ⇒ 𝑥2 + 𝑦2 = 2 ⇒ 𝑥2 + 𝑦2 = 4 , ou seja, esboçar a curva de equação 𝑟 = 2 significa o mesmo que esboçar a circunferência de centro na origem e raio igual a 2. 2. A curva 𝑟 = 2𝑐𝑜𝑠𝜃 também pode ser traçada a partir de sua conversão para coordenadas cartesianas: 𝑟 = 2𝑐𝑜𝑠𝜃 ⇒ 𝑥2 + 𝑦2 = 2 𝑥 𝑥2 + 𝑦2 ⇒ 𝑥2 + 𝑦2 = 2𝑥 ⇒ 𝑥2 − 2𝑥 + 𝑦2 = 0 ⇒ 𝑥2 − 2𝑥 + 1 + 𝑦2 = 1 ⇒ 𝑥 − 1 2 + 𝑦2 = 1. Logo, 𝑟 = 2𝑐𝑜𝑠𝜃 tem como gráfico a circunferência de centro no ponto (1, 0) e raio unitário. 3. A equação 𝜃 = 𝜋 4 tem como gráfico uma reta bem conhecida. Rápido reconhecimento se dá quando aplicamos a função tangente em ambos os membros da equação: 𝜃 = 𝜋 4 ⇒ 𝑡𝑔𝜃 = 𝑡𝑔 𝜋 4 ⇒ 𝑡𝑔𝜃 = 1 ⇒ 𝑦 𝑥 = 1 ⇒ 𝑦 = 𝑥 . E SE A CONVERSÃO AO SISTEMA CARTESIANO ME LEVAR A UMA CURVA “IRRECONHECÍVEL”? Quando a conversão que aplicamos nos exemplos anteriores não apresentar a equação de uma curva cujo tipo de gráfico nos seja possível de reconhecer com facilidade no sistema cartesiano, então devemos procurar esboçar o gráfico desejado a partir da equação da curva expressa em sua forma original, ou seja, em coordenadas polares. Para tanto, devemos observar que curvas no sistema polar são traçadas com base em marcação de pontos (𝜃, 𝑟) no plano polar, normalmente conhecidos a partir de uma substituição sequencial, na expressão 𝑟 = 𝑓(𝜃) que define a curva, de valores do ângulo 𝜃 para obtenção de valores correspondentes do raio polar 𝑟. Antes, porém, de serem efetuadas tais substituições, é importante verificar se a função 𝑟 = 𝑓(𝜃) satisfaz pelo menos uma das duas propriedades abaixo: a) 𝑓 𝜃 = 𝑓 −𝜃 , ∀𝜃; b) 𝑓 𝜃 = 𝑓(𝜋 − 𝜃), ∀𝜃 . A importância de checar a satisfação dessas propriedades por parte da função cujo gráfico se quer esboçar reside em dois resultados muito úteis, que poupam trabalho substancial no cumprimento da tarefa de obter o gráfico de 𝑟 = 𝑓(𝜃), pois se a) ocorre, então a curva 𝑟 = 𝑓(𝜃) é composta por partes simétricas com relação ao eixo polar; se b) ocorre, então a curva 𝑟 = 𝑓(𝜃) é composta por partes simétricas com relação à reta 𝛼 = 𝜋/2. Veja as figuras que seguem. 𝑓 𝜃 = 𝑓 −𝜃 ⇒ a cada ponto marcado acima do eixo polar sobre a reta definida pelo ângulo 𝜃 , corresponde um ponto abaixo do eixo polar, com o mesmo raio, marcado sobre a reta definida pelo ângulo −𝜃 . 𝑓 𝜃 = 𝑓 𝜋 − 𝜃 ⇒ a cada ponto marcado à direita da reta 𝛼 = 𝜋/2 sobre a reta definida pelo ângulo 𝜃 , corresponde um ponto à esquerda da reta 𝛼 = 𝜋/2, com o mesmo raio, marcado sobre a reta definida pelo ângulo 𝜋 − 𝜃 . EXEMPLO Se considerarmos a equação polar 𝑟 = 1 + 𝑐𝑜𝑠𝜃 , vamos perceber que sua conversão ao sistema cartesiano não nos facilitará a obtenção do gráfico correspondente (Verifique isto!). Logo, vamos nela substituir, sucessivamente, valores de 𝜃 para obtenção dos valores correspondentes de 𝑟 e, assim, por meio da marcação dos pontos (𝜃, 𝑟) no plano polar, chegar ao esboço do seu gráfico. Antes, porém, devemos procurar descobrir se essa equação satisfaz alguma das propriedades de simetria sobre as quais nos referimos antes. Temos, então, 𝑓 −𝜃 = 1 + 𝑐𝑜𝑠 −𝜃 = 1 + 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 𝑟 = 𝑓(𝜃) e 𝑓 𝜋 − 𝜃 = 1 + 𝑐𝑜𝑠 𝜋 − 𝜃 = 1 − 𝑐𝑜𝑠𝜃 ≠ 𝑓(𝜃) . Portanto, a função 𝑟 = 𝑓 𝜃 = 1 + 𝑐𝑜𝑠𝜃 satisfaz a propriedade a), mas não satisfaz a propriedade b) e, em razão disso, sabemos, agora, que seu gráfico é formado por partes simétricas com relação ao eixo polar. Veja, na sequência, uma tabela de pontos (𝜃, 𝑟) que, juntamente com o resultado acima, nos permitem obter o gráfico da função 𝑟 = 𝑓 𝜃 = 1 + 𝑐𝑜𝑠𝜃 . 𝜃 𝑟 = 1 + 𝑐𝑜𝑠𝜃 0 𝜋/6 𝜋/4 𝜋/3 𝜋/2 3𝜋/4 𝜋 2 1 + 3/2 1 + 2/2 1 + 1/2 1 1 − 2/2 0