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Bioquímica Professora Me. Andressa Lorena Ieque Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP I22b Leque, Andressa Lorena Bioquímica/ Andressa Lorena Leque. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 164 p.: il. Color. ISBN 978-65-87911-91-5 1. Bioquímica. 2. Carboidratos – Metabolismo. 3. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 614.0981 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 AUTORA Professora Me. Andressa Lorena Ieque ● Mestre em Ciências da Saúde (Universidade Estadual de Maringá) ● Doutorado em andamento (Universidade Estadual de Maringá) ● Bacharel em Biomedicina (UEM). ● Professor de pós-graduação na Faculdade Eficaz ● Docente de cursos de graduação Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição na UniFatecie CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4780393744371602 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá aluno(a)! Seja bem-vindo à disciplina de Bioquímica. Essa disciplina será de extrema importância para a sua formação, pois trata-se do estudo da vida de modo geral. A bioquímica é a ciência que estuda o conjunto de biomoléculas que existem no mundo, levando em consideração sua complexidade química e seu envolvimento com outros ele- mentos do ambiente e organismos vivos. Além disso, o conteúdo da bioquímica é extremamente importante para aplicação de técnicas laboratoriais e de pesquisa, relacionando-se estreitamente com diversos campos da ciência e da tecnologia. Portanto, essa disciplina provavelmente enriquecerá seu conhecimento no contexto atual da importância e necessidade de gerar novos recur- sos em todos os campos. Na Unidade I, iremos conhecer a bioquímica como ciência e ser apresentados às macromoléculas mais importantes para processos que ocorrem nos organismos vivos. Tam- bém buscaremos compreender alguns princípios de como a vida é mantida a nível celular, destacando o processo de manutenção de energia para o funcionamento do metabolismo celular e contextualizar o papel da água nas funções biológicas. Na Unidade II, vamos caracterizar cada uma das biomoléculas quanto à sua cons- tituição química e propriedades, além de ressaltar as suas funções específicas estruturais ou metabólicas. As biomoléculas abordadas serão os nucleotídeos e ácidos nucleicos, lipídeos, as proteínas, as enzimas, coenzimas e vitaminas e os carboidratos. Na Unidade III, estudaremos as principais rotas bioquímicas e as reações envolvi- das no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. Esse destaque é merecido, uma vez que explicam todo o processo de obtenção e manutenção de energia para manter os organismos em funcionamento. Por fim, na Unidade IV, compreenderemos como as vias metabólicas atuam de forma integrada através de um mecanismo regulatório norteado por hormônios. Também serão pontuadas algumas doenças resultantes de defeitos metabólicos e suas principais consequências ao corpo humano. Será um prazer compartilhar todo conhecimento com vocês, e espero que todo o conteúdo contribua para o seu crescimento profissional, além de ajudar a esclarecer sobre o sentido da vida. Muito obrigada e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Introdução à Bioquímica e Macromoléculas UNIDADE II ................................................................................................... 35 Bioquímica de Macromoléculas UNIDADE III .................................................................................................. 81 Metabolismo de Carboidratos UNIDADE IV ................................................................................................ 124 Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 3 Plano de Estudo: ● Fundamentos da bioquímica e a lógica molecular da vida; ● Princípios de bioenergética e metabolismo; ● Água e sistemas bioquímicos; ● Sistema tampão: ácidos fracos, pH e pOH. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer e contextualizar os principais fundamentos celulares e químicos; ● Compreender a lógica molecular da vida e a estrutura dos componentes celulares; ● Apresentar o conjunto de biomoléculas que constituem a maioria dos organismos vivos; ● Compreender os princípios de obtenção e manutenção de energia para o funcionamento do metabolismo celular; ● Caracterizar e contextualizar as propriedades físicas e químicas da água com as funções biológicas e suas aplicações experimentais. UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Professora Me. Andressa Lorena Ieque 4UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas INTRODUÇÃO Olá caro (a) aluno (a)! A partir de agora daremos início à disciplina Bioquímica. Nes- ta primeira unidade, faremos uma introdução dos principais fundamentos celulares através da revisão de alguns conhecimentos biológicos e químicos importantes. A integração do conhecimento desses dois campos de estudos irá fornecer suporte para entendermos o funcionamento do metabolismo de diferentes organismos vivos em nível molecular. Partindo do princípio que todos os organismos compartilham de uma unidade es- trutural em comum, que é a célula, iremos ressaltar algumas características importantes ao que diz respeito aos seus componentes, organização e algumas funções. Além disso, as diferenças entre espécies serão destacadas porque elas podem determinar diferentes pa- drões de comportamento que serão relevantes no momento de aplicação do conhecimento nas diversas áreas. Em seguida, vamos avançar para entender como todos os processos bioquímicos se integram e se complementam para tornar possível a manutenção da vida. Nesse cenário estão inseridos os princípios de bioenergética e do metabolismo, que esclarecerão como e a partir de que a célula obtém energia para manter seus sistemas funcionando constantemente. A partir daí, o nosso aprendizado será guiado por uma classificação das principais biomoléculas envolvidas na composição e no conjunto de processos de reações químicas da célula. Primeiramente, ainda nesta unidade, estudaremos a molécula de água que cons- titui mais de 70% da maioria dos organismos vivos. 5UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 1. FUNDAMENTOS DA BIOQUÍMICAE A LÓGICA MOLECULAR DA VIDA A bioquímica estuda o conjunto de biomoléculas que fazem parte da constituição dos diversos organismos vivos, essas moléculas são formadas por diferentes elementos químicos, e ao que dita às leis da química, estas apresentam diferentes propriedades de acordo com a sua constituição. A complexidade dessas moléculas, associada aos diferen- tes arranjos de composição dos organismos vivos, implica em características estruturais, funcionais e metabólicas muito específicas. Além da química, não podemos nos esquecer dos princípios da biologia, nos quais as diversas formas de vida interagem entre si através de relações harmônicas ou não, e que causam consequências ao metabolismo de ambos os envolvidos. Essas interações ocorrem na sua maior parte através da participação de biomoléculas complexas em di- versos mecanismos e processos químicos fundamentais para o funcionamento da vida humana. Portanto, o conhecimento da composição e função dessas moléculas torna-se importante na compreensão de como esses organismos vivos funcionam e interagem com outros organismos vivos e o ambiente. A diversidade de organismos do planeta é dividida em dois grupos, os procariotos e os eucariotos, com base na estrutura de suas respectivas células. Os procariotos apresen- tam uma arquitetura celular simples e com poucas especializações internas, enquanto os eucariotos são representados por uma célula maior em tamanho e complexidade. A principal diferença entre ambos consiste na presença de uma membrana externa que envolve o DNA e outros elementos celulares nas células eucarióticas. 6UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas A maioria dos procariotos é unicelular e são representados por microrganismos microscópicos conhecidos como bactérias, já os eucariotos podem ser unicelulares, e na maioria das vezes, multicelulares constituindo todas as formas macroscópicas de vida, incluindo as plantas, animais e fungos. Ao avaliarmos todas as formas de vida existente, temos organismos macroscopicamente diferentes compartilhando estruturas biológicas semelhantes, devido à presença de biomoléculas comuns que compõem uma unidade estrutural básica: a célula (Figura 1). FIGURA 1 - ESTRUTURA BÁSICA CELULAR COMUNS A DIFERENTES ORGANISMOS (BACTÉRIAS, ANIMAIS E VEGETAIS As características moleculares e os mecanismos químicos envolvidos são organiza- dos em princípios bioquímicos que representam a base da vida em diferentes organismos. Todo esse raciocínio explica a lógica molecular da vida, que pode ser aplicada para reunir informações de diversas áreas do conhecimento. Para começar a compreender sobre a lógica molecular da vida, precisamos introduzir alguns fundamentos celulares e químicos comuns dos organismos vivos, que fornecerão a base para a futura aplicação da bioquímica em dois pontos principais: 1) no entendimento do funcionamento de órgãos e sistemas, sob o contexto fisioló- gico ou patológico; ou, 2) na aplicação prática desse conhecimento para desbravamento da ciência, bus- cando novas tecnologias e avanços na agricultura e indústria, ou ainda, na área biomédica com estudos sobre nutrição, tratamento de doenças, toxicidade, desenvolvimento de novos fármacos e técnicas de diagnóstico, entre outros (NELSON E COX, 2018). 7UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 1.1 Fundamentos celulares As células vivas apresentam características universais e a partir do padrão de or- ganização e de seus constituintes, podemos classificá-las em dois grupos: a célula animal e a vegetal. Ao observar as Figuras 1 e 2, repare que alguns elementos estão presentes apenas em um dos tipos celulares, como por exemplo, a parede celular e os cloroplastos, que aparecem apenas na célula vegetal, enquanto os lisossomos apenas na célula animal. Esses “elementos” são estruturas especializadas denominadas de organelas, e a sua pre- sença na célula de um organismo vivo relaciona-se com a adaptação de cada espécie para realizar funções que atenda às suas necessidades bioquímicas. FIGURA 2 - CÉLULA ANIMAL E VEGETAL E SUAS ORGANELAS Fonte: Tortora, 2016. Apesar de diferenças pontuais existirem, como precisamos compreender o contexto geral das propriedades bioquímicas iremos focar nas semelhanças, e quando for necessá- rio, ressaltaremos as particularidades. Sendo assim, podemos citar algumas estruturas celulares, como a membrana plas- mática, citoplasma e núcleo. A função da membrana plasmática possui peso importante para os mecanismos que ocorrem no interior da célula, pois esta age como uma barreira seletiva para íons e outros compostos, envolvidos em reações químicas do metabolismo. As proteínas presentes na membrana plasmática têm papel essencial nessa passagem de substâncias para o lado externo e interno da célula. 8UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O núcleo celular carrega o material genético, representado na maioria dos orga- nismos pelo ácido desoxirribonucleico (DNA), que codifica toda a informação necessária para promover a síntese e regulação de todos os outros elementos celulares. Além disso, o DNA também é responsável pela divisão celular, que forma outras células e garante a perpetuação da espécie. Apesar de todos os mecanismos de regulação e reparo de erros existentes, em alguns momentos o processo de replicação pode sofrer pequenos erros que não são reparados, produzindo uma mutação genética. Essas mutações podem ser repassadas para outras células, e inclusive, determinar mudança na função do produto codificado pelo gene. A mudança pode ser indiferente, conferir incapacidade funcional ou ainda, prover uma vantagem associada à capacidade de realizar funções que antes da mutação eram impossíveis de serem realizadas. Nesse contexto, o estudo dos genes de diferentes organismos pode trazer informações valiosas sobre a evolução entre espécies e também para a determinação de funções bioquímicas. SAIBA MAIS O conjunto de sequências genéticas completas provenientes do DNA de um organismo é chamado de genoma. O estudo comparativo do genoma fornece uma visão ampla so- bre o processo evolutivo de diferentes espécies, além de permitir a dedução da função dos produtos de um gene a partir da sequência de DNA. Essa dedução é possível por- que o processo de formação de produtos em uma célula é interligado, como represen- tado na figura abaixo. O processo integrado inicia-se no DNA que é transcrito em RNA, seguido pela tradução em proteínas. A interação de todos esses produtos em reações químicas determina a produção de metabólitos, que incluem carboidratos, aminoácidos, lipídeos e nucleotídeos, e que também podem possuir funções celulares específicas ou representar produtos provenientes destas. A partir da evolução científica e tecnológica, os pesquisadores têm achado meios de realizar o estudo de dados bioquímicos em larga escala. Algumas abordagens comuns são as “ômicas”, como a genômica, transcriptômica, proteômica e metabolômica. Intui- tivamente, a genômica estuda o genoma, a transcriptômica o conjunto de RNA transcri- tos, a proteoma o conjunto de proteínas e o metabolômica o conjunto de metabólitos. Fonte: MACHADO et al. Web Resources on Tuberculosis: Information, Research, and Data Analysis. My- cobacterium. Research and Development. Chapter 8. 2018 9UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas FIGURA 3 - PROCESSO INTEGRADO DE FORMAÇÃO DE PRODUTOS EM UMA CÉLULA Fonte: A autora (2021). SAIBA MAIS O citoplasma carrega várias estruturas celulares em uma solução aquosas, inclusive estruturas delimitadas por membranas que recebem o nome de organelas, cada uma destas com uma função específica (Quadro 1). Vale lembrar que dependendo do tipo de célula (vegetal ou animal e procariota ou eucariota) estas organelas podem estar presentes ou ausentes. QUADRO 1 - PRINCIPAIS ORGANELAS E SUAS RESPECTIVAS FUNÇÕES NA CÉLULA Organela FunçãoParede celular Forma, rigidez e proteção Membrana plasmática Barreira seletiva para a entrada e saída de substâncias Citoplasma Sustentação e movimento Núcleo Contém os genes Citoesqueleto Suporte estrutural e movimento Retículo endoplasmático rugoso Síntese proteica Retículo endoplasmático liso Síntese de lipídeos e metabolismo de drogas Complexo de Golgi Processamento, empacotamento e envio de proteínas Mitocôndria Produção de ATP (energia) Ribossomo Síntese de proteínas Lisossomo Degradaçao de restos intracelulares Peroxissomo Oxidação de ácidos graxos Cloroplastos Absorção de luz e produção de ATP e carboidratos Fonte: Adaptado de: NELSON E COX, 2018. 10UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O ácido ribonucleico, RNA, é outro componente celular importante que fica locali- zado no citoplasma das células eucariotas ou procariotas. Assim como o DNA, ele carreia informações genéticas, mas que estão relacionadas especificamente com a estrutura de proteínas e enzimas. Em outros organismos, como os vírus, o RNA também pode exercer funções semelhantes à do DNA, incluindo a síntese e regulação de componentes e a própria replicação para produção de novas partículas virais. Portanto, apesar de seguir o mesmo padrão geral estrutural, alguns organismos po- dem apresentar características específicas quanto à composição celular. Ao compararmos uma célula de um organismo eucarioto com uma de uma bactéria, podemos ressaltar al- gumas diferenças relevantes. Em eucariotos, o núcleo possui membrana nuclear, apresen- tando uma organização diferente do núcleo de bactérias, que não apresenta a membrana nuclear (Figura 4). FIGURA 4 - PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE CÉLULA BACTERIANA E CÉLULA ANIMAL Fonte: NELSON E COX, 2018. A mitocôndria é uma organela que está presente no citoplasma de eucariotos e possui função associada à respiração celular, um mecanismo que produz energia para a célula. Em bactérias, a mitocôndria não está presente, e isso implica em reações metabóli- cas e caminhos diferentes para produção de energia. As bactérias possuem a capacidade de adaptar a forma de obtenção de energia de acordo com o habitat, sendo possível classificá-las em aeróbias e anaeróbias. Ambas obtêm energia pela transferência de elétrons de moléculas de combustível para um aceptor final, que no caso das aeróbias é o oxigênio. Nas anaeróbias, os elétrons serão transferidos para o nitrato, sulfato ou gás carbônico, com produção de gás. 11UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas As bactérias apresentam uma camada mais externa de peptidoglicano que envolve a célula, além da membrana plasmática, e que também permite a diferenciação desses orga- nismos. Ao aplicar técnicas de coloração, como a coloração de gram, é possível diferenciar as bactérias em classes de acordo com a espessura da camada de peptidoglicano (Figura 4A). A coloração gram é aplicada como um teste laboratorial para direcionar o diagnós- tico de bactérias patogênicas que causam doenças. As bactérias que possuem a camada mais espessa são classificadas em gram-positivas, enquanto as que possuem camada mais fina, em gram-negativas (Figura 4B). FIGURA 4A - DIFERENÇAS NA CONSTITUIÇÃO DA PAREDE CELULAR DE BACTÉRIAS GRAM NEGATIVAS E GRAM POSITIVAS FIGURA 4B - COLORAÇÃO DE GRAM REFERENTE A BACTÉRIAS GRAM NEGATIVAS (À ESQUERDA) E GRAM POSITIVAS (À DIREITA) 12UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Na Figura 4A podemos evidenciar as diferenças de parede celular entre bactérias gram-negativas e gram-positivas, a coloração de gram consiste no uso de dois corantes, o cristal violeta (cor roxa) e a fucsina (rosa). E já na Figura 4B, é possível observar o resultado da coloração de gram visto em microscopia ótica, as bactérias gram positivas são coradas na primeira etapa pelo corante cristal violeta e devido a camada mais grossa de peptidoglicano, esse corante fica retido no interior da célula, e as células apresentam-se coradas de roxo escuro. Enquanto as bactérias gram negativas, a camada fina de peptidoglicano não é suficiente para reter o corante, que é descorado na segunda etapa pelo álcool. Em seguida, as células recebem o corante fucsina e são coradas de rosa. As organelas representam as estruturas de maior grau de organização estrutural dentro de uma célula. As estruturas celulares são constituídas por elementos de nível estruturais cada vez menores, sendo que ainda temos os complexos supramoleculares, constituindo as organelas e abaixo destes, as macromoléculas e as unidades monoméri- cas. Esta relação ficará mais clara no decorrer das próximas unidades, mas para ilustrar e facilitar esse entendimento observe a organização estrutural e veja que é possível investigar algumas estruturas celulares até os seus menores níveis estruturais (Figura 5). FIGURA 5 - ORGANIZAÇÃO MOLECULAR DE ALGUMAS ESTRUTURAS CELULARES: MATERIAL NUCLEAR, MEMBRANA PLASMÁTICA E PAREDE CELULAR Fonte: NELSON E COX, 2018. 13UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O núcleo representaria o maior grau de organização estrutural, sendo constituído por cromatina, classificada como um complexo supramolecular. A cromatina é formada por uma unidade menor, o DNA, uma biomolécula que estudaremos com maior propriedade na próxima unidade. E por fim, o DNA é constituído por unidades monoméricas menores, como os nucleotídeos, aminoácidos e açúcares (Figura 4). Para compreender as reações químicas envolvidas no metabolismo celular, será necessário realizar a caracterização dos componentes desde o menor nível estrutural, que será visto agora nos fundamentos químicos. 1.2 Fundamentos químicos Os organismos vivos mantêm suas funções celulares a partir de reações químicas, buscando sempre o equilíbrio e função normal. Células de diferentes organismos realizam processos químicos semelhantes, porque são constituídas por quatro principais elementos em comum: o carbono, o oxigênio, o hidrogênio e o nitrogênio, arranjados em diferentes moléculas e compostos. Alguns outros elementos também possuem participação essencial nesses pro- cessos, porém, estes representam uma fração menor de 1% da constituição celular. FIGURA 6 - ABUNDÂNCIA RELATIVA DOS ELEMENTOS QUÍMICOS NAS CÉLULAS Fonte: Adaptado de: BROWN, 2016. A partir disso, conseguimos compreender a importância de conhecer a química desses elementos para dar suporte ao estudo da bioquímica. O carbono é o elemento chave entre todos os citados, pois apresenta uma versatilidade muito grande para formar moléculas e estruturas através da variedade de ligações, combinações com outros átomos e arranjos espaciais. A maioria das biomoléculas é derivada de átomos de carbono e de hidrogênio associados a outros grupamentos, que caracteriza compostos químicos especí- ficos com funções diferentes. 14UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Como nossa disciplina é a bioquímica, não vamos discorrer muito sobre as caracte- rísticas químicas desses elementos. Apesar disso, podemos refletir sobre uma biomolécula importante para contextualizar a aplicação de conhecimentos químicos em nossa disciplina. As proteínas, por exemplo, são biomoléculas importantes constituídas por uma unidade básica denominada como aminoácido. Na Figura 7, podemos observar que o aminoácido é formado por um arranjo de átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. FIGURA 7 - ESTRUTURA QUÍMICA DE AMINOÁCIDOS E FORMAÇÃO DE PEPTÍDEOS ATRAVÉS DE LIGAÇÕES PEPTÍDICAS Os átomos de carbono e hidrogênio se organizam em um esqueleto base, que cha- mamos de hidrocarbonetos, esse esqueleto é ligado a outros dois grupamentos químicos específicos, conhecidos como grupo carboxila (vermelho) e grupo amino (verde). Portanto, os aminoácidos poderiam ser classificados como poli funcionais, visto que apresentam estes dois tipos de grupos funcionais diferentes. O grupamento amino reage quimicamente como grupamento carboxila e se unem em ligações, formando os peptídeos, que posteriormente serão combinados para produzir uma proteína completa. Esse tipo de organização em que uma unidade básica comum (monômero) é combinada sucessivamente para formar um produto mais complexo (polímero) ocorre para outras biomoléculas importantes e comumente recebe o nome de polimerização. Portanto, as proteínas são polímeros formados por peptídeos, assim como, o DNA é um polímero formado por nucleotídeos. 15UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas As características químicas de cada átomo, suas configurações e disposição influen- ciam diretamente na conformação final da molécula, ou seja, no seu arranjo espacial. Esse conjunto de informações define uma relação entre estrutura e função, e será determinante para o acontecimento de reações químicas e para a formação de outros componentes importantes do conjunto processos biológicos. 16UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 2. PRINCÍPIOS DE BIOENERGÉTICA E METABOLISMO Como vimos até agora, o conteúdo celular é responsável por realizar vários proces- sos químicos para manter a célula viva e, para compreender esses processos, precisamos conhecer a lógica molecular da vida. Mas além dessa maquinaria celular, o que mais é necessário para que a célula se mantenha em funcionamento constante? A resposta é energia! Em seguida, você poderia se perguntar, e como essa energia é produzida? As próprias células, a partir da organização de várias reações químicas, desenvol- veram mecanismos que permitem a conversão de matéria em energia utilizando combus- tíveis. A maioria dos organismos vivos, incluindo os animais e muitos microrganismos são quimiotróficos, e obtêm energia a partir de moléculas orgânicas como a glicose. Por outro lado, temos algumas bactérias, algas e plantas que são capazes de utilizar a luz como fonte de energia, sendo denominados de fototróficos. Outra subclassificação é feita levando em consideração a fonte de carbono que o organismo necessita para sintetizar suas biomoléculas. Quando apenas o CO2 é suficiente chamamos de autotróficos, e quando requerem outros elementos que geralmente são previamente sintetizados por outros organismos, chamamos de heterotróficos. O esquema abaixo ilustra essas classificações sobre a forma de obtenção de energia para a realização de todos os processos celulares: 17UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas FIGURA 8 - CLASSIFICAÇÃO DE ORGANISMOS DE ACORDO COM A FONTE DE ENERGIA E DE CARBONO PARA SÍNTESE DE MATERIAL CELULAR Fonte: Adaptado de: NELSON E COX, 2018. Além dos processos de obtenção de energia, também é necessário manter a produ- ção constante para que a produção de componentes celulares e todas as reações químicas estejam sempre acontecendo. Apesar da segregação em grupos, os processos realizados por autotróficos e heterotróficos estão interligados e dependem um do outro. FIGURA 9 - INTEGRAÇÃO DE ORGANISMOS AUTOTRÓFICOS E HETEROTRÓFICOS NO PROCESSO DE OBTENÇÃO DE ENERGIA Fonte: NELSON e COX, 2018. 18UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Podemos entender essa dependência observando a Figura 8, que ilustra de forma bem resumida que os autotróficos realizam a fotossíntese a partir da disponibilidade de CO2 e da luz solar, gerando produtos orgânicos e oxigênio (O2). Em seguida, os heterotró- ficos utilizam esses produtos e reciclam o CO2, deixando-o disponível novamente para os autotróficos recomeçarem o ciclo. A produção de energia na verdade ocorre resultante de processos de transforma- ções de substratos em produtos através das reações químicas. Naturalmente, as reações químicas resultam em uma variação de energia livre, expressa por ΔG, que pode ser negativa ou positiva. Quando negativa, a reação é denominada como exergônica, e quando positiva, como endergônica. De forma bem básica, uma reação química poderia ser representada da seguinte forma: 1) A + B → C ΔG = - 45,0 J 2) D + E → F ΔG = - 21,5 J Sendo A, B, D e E reagentes ou substratos, e C e F produtos obtidos da transfor- mação de A e B (1) e D e F (2), respectivamente. Observe que temos a variação de energia livre negativa especificada ao lado de cada reação. Isso permite concluir que ambas seriam classificadas como exergônicas. A energia negativa da reação exergônica caracteriza que a energia livre dos produtos é menor que a do substrato e, portanto, uma quantidade de energia equivalente ao valor de ΔG é liberada de modo espontâneo. As reações que ocorrem em um organismo são dependentes uma das outras e precisam ser organizadas em sequências consecutivas. Por exemplo, para que a terceira reação ocorra, é necessário que outras duas reações (1 e 2) aconteçam anteriormente, porque os produtos dessas reações serão utilizados como reagentes da última. 3) C + F → G ΔG = + 32,5 J Observe que na terceira reação a variação de energia foi positiva, significando que para ocorrer será necessária uma disponibilidade de pelo menos 32,5 J. Portanto, nesse caso a reação é endergônica e de modo contrário à exergônica, a energia livre dos produtos da reação é maior que a dos substratos, implicando que esse tipo de reação necessita de energia para acontecer. 19UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Esse tipo de organização interdependente das reações comumente recebe o nome de rotas bioquímicas, e o conjunto dessas rotas pode ser classificado em catabolismo e anabolismo, de acordo com a energia envolvida nas reações. O catabolismo relaciona-se com rotas produtoras de energia principalmente através da degradação de nutrientes, ou seja, reações exergônicas que partem de moléculas grandes em direção a moléculas me- nores. Já o anabolismo é formado por rotas que requerem energia e geralmente partem da conversão de moléculas pequenas a moléculas maiores e mais complexas, caracterizando reações do tipo endergônicas. Para que todo esse cenário de rotas bioquímicas funcione de forma eficiente, é essencial a participação de enzimas acopladas a essas reações. As enzimas atuam como catalisadores e aumentam a velocidade de reações químicas sem serem consumidas no processo. A união de rotas bioquímicas do catabolismo e do anabolismo catalisadas por enzimas integra o metabolismo. De modo geral, o estudo do metabolismo é organizado partindo de diferentes classes de biomoléculas ou constituintes, como os que seguem: água, carboidratos, nucleotídeos e ácidos nucleicos, lipídeos, proteínas e membranas. Portanto, a partir de agora iremos caracterizar a estrutura e função dessas classes para, em seguida, aprender os processos químicos integrados do metabolismo e suas consequências. 20UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 3. ÁGUA E SISTEMAS BIOQUÍMICOS Após a introdução geral dos Fundamentos de Bioquímica e de Bioenergética, conse- guimos definir com mais clareza quais são os principais pontos de conhecimento para com- preender o metabolismo como um todo. Partindo da organização em classes de constituintes e biomoléculas, nós iremos iniciar a caracterização da substância mais abundante nos seres vivos, a água. Considerando que 70% da maioria dos seres vivos é constituído por água, fica claro a importância de definir suas propriedades físicas e químicas, pois estas afetam diretamente ou indiretamente a estrutura e função de todos os outros componentes celulares. A molécula de água é formada por dois átomos de hidrogênio (H) e um átomo de oxigênio (O), de forma que cada H compartilha um par de elétrons com o átomo central de oxigênio. O átomo de H possui carga elétrica parcial positiva que corresponde à +1, enquanto o átomo de O possui uma carga elétrica parcial negativa correspondente à -2 (Figura 10). FIGURA 10 - REPRESENTAÇÃO DE UMA MOLÉCULA DE ÁGUA E SUAS CARGAS PARCIAIS 21UNIDADE I Introdução àBioquímica e Macromoléculas Seguindo a lei das atrações, em que cargas opostas se atraem, o átomo de O de uma molécula de água é atraído pelo átomo de H de outra, determinando a união de diferentes moléculas de água através de ligações de hidrogênio. A força dessa ligação é relativamente fraca, mas confere a organização de moléculas de água em redes ordenadas (Figura 11). FIGURA 11 - PONTES DE HIDROGÊNIO ENTRE DUAS MOLÉCULAS DE ÁGUA Além disso, as ligações de hidrogênio também podem ocorrer entre moléculas de água com outros solutos polares, formando pontes que permitem a interação entre molé- culas. Em muitas situações, a presença de moléculas de água é essencial para a função, como por exemplo, quando moléculas de água são desordenadas para permitir a ligação de um substrato a uma enzima, realocando-se para permitir a estabilização da interação (Figura 12). FIGURA 12 - O PAPEL DAS PONTES DE HIDROGÊNIO NA LIGAÇÃO ENTRE SUBSTRATO E ENZIMA Fonte: NELSON e COX, 2018. 22UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Essas características químicas da água determinam sua função como um solvente polar, o que facilita muito no metabolismo, uma vez que a maioria das biomoléculas é solúvel são compostos carregados ou polares, e consequentemente, solúveis em água. Os compostos podem ser classificados em hidrofílicos, hidrofóbicos e anfipáticos de acordo com a sua capacidade de se dissolver em água. Os compostos hidrofílicos são estes carregados ou polares que se dissolvem facil- mente em água, enquanto os hidrofóbicos, geralmente são moléculas neutras ou apolares e, portanto, não se dissolvem facilmente em água. Já os compostos ou moléculas anfipá- ticas apresentam regiões hidrofílicas e hidrofóbicas em sua composição, de forma que a parte hidrofílica reage com a água e a hidrofóbico organiza-se de forma a evitar no máximo o contato com a água. Essa organização pode ser observada na estrutura das micelas, nas quais as moléculas apolares são unidas por interações hidrofóbicas (Figura 13). FIGURA 13 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DE UMA MICELA E DE UMA BICAMADA DE FOSFOLIPÍDIOS, COMO OCORRE NA MEMBRANA PLASMÁTICA. A PARTE HIDROFÓBICA É EVIDENCIADA EM AMARELO E A HIDROFÍLICA EM BRANCO Os fosfolipídios, que fazem parte da estrutura da membrana plasmática seguem esse mesmo padrão de organização. Na Figura acima, podemos observar que a parte da cabeça é hidrofílica e fica em contato com o meio externo, enquanto a parte interior formada por lipídeos (hidrofóbicos) ficam posicionados para o interior da célula (Figura 13). Além das ligações de hidrogênio, existem outras forças de interação que influenciam em várias interações biológicas e funções celulares, como as interações hidrofóbicas, as ligações iônicas e as forças de Van Der Waals. Todas estas, quando comparadas a ligações covalentes, são consideradas ligações fracas. Porém, o seu efeito cumulativo confere força maior e é determinante para formar a estrutura e conformação final de macromoléculas. Por exemplo, o dobramento de uma cadeia polipeptídica é definido pela união de forças intermoleculares para formar a estrutura tridimensional final de uma proteína (Figura 14). 23UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas FIGURA 14 - ESTRUTURA TERCIÁRIA DE UMA PROTEÍNA FORMADA ATRAVÉS DE FORÇAS INTERMOLECULARES A água tende a mover-se de uma região mais concentrada em direção a uma região menos concentrada. Isso ocorre no processo de osmose, no qual a água é movimentada para o interior ou exterior da membrana plasmática devido a diferença de soluto existente entre os meios. A osmolaridade é uma medida que representa essa diferença de soluto, e de acordo com ela, as soluções são classificadas em isotônicas, hipertônicas e hipotônicas. As soluções isotônicas apresentam osmolaridade iguais à do citosol e, por esse moti- vo, determina um estado de equilíbrio entre os dois meios, não ocorrendo entrada ou saída de água. Em soluções hipertônicas, a osmolaridade da solução será maior em relação ao citosol, determinante a saída de água até atingir a equivalência de dissolução entre os dois meios. Já as soluções hipotônicas apresentam osmolaridade menor em relação ao citosol, fazendo com que a água desloque para o interior da célula até atingir o equilíbrio osmótico. Portanto, podemos concluir que a célula sempre trabalhará para manter o equilí- brio. Esse sistema é muito importante, pois a entrada e a saída de água da célula podem comprometer drasticamente as funções e a vitalidade celular. Para manter esse equilíbrio osmótico, a célula utiliza de vários mecanismos, que podem variar entre diferentes espécies de organismos. A presença de parede celular rígida nas bactérias confere resistência celular e contribui para impedir a lise celular. Algumas organelas também podem atuar na manutenção desse equilíbrio através do controle de dissolução de partículas no citosol. O plasma sanguíneo é um ótimo exemplo, no qual as proteínas são dissolvidas no seu interior para manter a osmolaridade sanguínea semelhan- te ao do citosol, determinando equilíbrio entre a célula e seu meio externo. 24UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O armazenamento de moléculas na forma de polímeros é uma estratégia que contribui para evitar esse tipo de desequilíbrio, uma vez que o armazenamento no formato monomérico causaria um efeito muito maior na osmolaridade intracelular. Ao observar a Figura 15, podemos imaginar o armazenamento na forma de monômero ou polímero utili- zando o exemplo da molécula de glicose. FIGURA 15 - COMPARAÇÃO ENTRE O ARMAZENAMENTO DE GLICOSE NA FORMA DE MONÔMERO (GLICOSE) E OU POLÍMERO (GLICOGÊNIO) Fonte: A autora (2021). Se a célula armazenasse a glicose no seu formato monomérico na proporção ideal para as funções normais acontecerem, o meio interno ficaria muito hipertônico com risco de rompimento celular devido à necessidade de entrada de água até atingir o equilíbrio osmótico (Figura 15). Para evitar esse tipo de situação, o nosso corpo armazena moléculas de glicose na forma de glicogênio, um polímero que apresenta glicose de forma compacta e em quantidade suficiente. 25UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 4. SISTEMA TAMPÃO: ÁCIDOS FRACOS, PH E POH A água naturalmente passa pelo processo de autoionização, que faz com que a molécula se dissocie em íons hidrogênio (H+), que reagem imediatamente com a água (H2O), formando íons hidrônio (H3O+) e íons hidroxila (OH-). Essa ionização confere à água a propriedade de condução de eletricidade, de forma que os cátions H3O+ migram para o cátodo e os íons OH- para o ânodo. E esse sistema é utilizado em uma técnica chamada eletroforese, que consiste na separação de algumas moléculas a partir dessa propriedade de migração de íons na presença de um campo elétrico (LEITURA COMPLEMENTAR). O processo de ionização da água é muito importante para estabelecer uma proprie- dade da água chamada de pH. O termo pH é definido pela seguinte expressão: Considerando que o valor de pH em uma solução neutra a 25ºC é de 1 x 10-7 M, é possível calcular o valor de pH, chegando ao número 7,0. Sendo assim, a valor 7,0 de pH é derivado do valor do produto iônico da água a 25ºC e representa uma solução neutra. A partir desses cálculos utilizando valores de concentração de íons H+ e OH-, foi possível criar uma escala numérica de pH, que varia de 0 a 14 e é capaz de caracterizar se uma solução tem caráter básico, ácido ou neutro. 26UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O pH é caracterizado por uma escala numérica que varia e que, a partir desses va- lores, é capaz de determinar se uma solução tem caráter básico, ácido ou neutro. Quando a concentração de íons H+ é igual a concentração de íons OH-, a solução é considerada neutra. As soluções com valores de pH menores que 7 (entre 0 e 7) são ácidas,enquanto as soluções com valores de pH maiores que 7 (entre 7 e 14) são básicas ou alcalinas. Devemos ficar atentos ao falar sobre valores de concentração de íons, pois a escala de pH é logarítmica. Portanto, se compararmos dois valores de pH que diferem por apenas uma unidade, a concentração de íons H+ entre estas soluções apresenta uma variação de dez vezes a mais ou a menos. Isso pode ser exemplificado observando a Figura 16. Se considerarmos o pH 1 e 2, por mais que a escala de pH esteja variando em apenas uma unidade, a concentração de íons H+ na escala de pH 1 é equivalente a 10-1 M, enquanto na solução de pH 2, equivale a 10-2 M. FIGURA 16 - ESCALA DE PH Fonte: NELSON e COX, 2018. Ainda nesta figura, podemos observar que além da concentração de íons H+ ex- pressa pela escala de pH, também temos a concentração de íons OH- expressa por uma escala pOH. Essa escala pOH pode ser usada quando queremos descrever a alcalinidade da solução, ao invés da acidez, de forma que segue o mesmo padrão de interpretação que utilizamos na escala de pH. 27UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O pH é uma propriedade de soluções aquosas que pode afetar diretamente a fun- ção de vários componentes celulares. Por exemplo, a atividade de enzimas é totalmente dependente do pH do meio e na maioria dos casos, a variação do pH do meio implica em perda da função enzimática. Nesse contexto, ressalta-se a importância de reconhecer o pH de soluções quando estamos estudando o metabolismo celular. FIGURA 17A - PHMETRO DE BANCADA FIGURA 17B - FITAS INDICADORAS DE pH Na rotina laboratorial ou de pesquisa, o pH de qualquer solução aquosa pode ser medido através do emprego de um pHmetro ou de indicadores de pH (Figura 16A). De modo geral, as medidas de pH utilizando o pHmetro são baseadas em um sinal produzido a partir de um eletrodo de vidro sensível à concentração de íons H+ e, em seguida, comparado 28UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas com o sinal que foi gerado por uma solução padrão de pH conhecido. Portanto, chegamos a um valor de pH a partir de uma determinação por medidas aproximadas e comparadas a uma solução padrão. Os indicadores de pH são soluções preparadas com substâncias químicas espe- cíficas capazes de evidenciar valores de pH a partir da mudança de cor. Os indicadores mais utilizados são a fenolftaleína e o vermelho de fenol. A fenolftaleína apresenta cor rosa quando atinge o seu ponto de mudança de pH (8 a 10), enquanto em valores abaixo desse ponto é incolor. Já o vermelho de fenol apresenta ponto de viragem diferente, que varia de 6 a 8, exibindo coloração amarela abaixo desse ponto ou vermelha quando o pH se encontra acima de 8. Na rotina de testes diagnósticos, é comum também a presença de fitas indicadoras de pH (Figura 17B). Essas fitas são embebidas na solução a ser testada e, em seguida, observam-se as cores comparando-as com um padrão disponibilizado pelo fabricante. Esse tipo de técnica é utilizado na rotina laboratorial de exame de urina, para determinação do parâmetro pH. Quando for necessário estabelecer o valor de pH de uma solução no laboratório, você poderá escolher qual método atende melhor aos seus objetivos. A presença de ácidos e bases dissolvidos na água torna-se importante nesse contexto de dissociação de autoionização da água, pois os ácidos tem uma tendência de consumir íons OH- e as bases de consumir íons H+ em solução. Os ácidos e bases fracos estão presentes no sistema biológico dos organismos e são importantes para estabelecer condições para que alguns componentes celulares consigam exercer a função de forma correta. Além disso, também participam de regulações metabólicas para manter o corpo no seu melhor estado de equilíbrio. Partindo do princípio que a maioria das reações biológicas acontecem em um pH próximo do valor neutro (7), o corpo humano e todos os seus mecanismos podem trabalhar para buscar condições que garantam o mínimo de variação do pH ao redor dessas faixas. Assim, esses mecanismos reguladores garantem que o metabolismo terá condições ótimas para realizar todas as suas funções. Esse sistema existe, e além de ser utilizado pelas cé- lulas, também conseguimos reproduzi-los in vitro para realização de técnicas laboratoriais em condições pré-estabelecidas. Os tampões são sistemas capazes de impedir mudanças bruscas na escala de pH e são produzidos através da mistura de ácidos e bases fracas. A adição de ácidos e bases fracas em uma solução vai contribuir para que os íons H+ e OH- sejam absorvidos, em uma quantidade ideal para neutralizar as mudanças de pH. A idealização dessa quantidade ideal é feita através de cálculos que levam em consideração a força de dissociação dos ácidos e bases, além de concentrações para atingir o equilíbrio iônico. 29UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas De modo geral, os fluidos intra e extracelulares utilizam de sistemas de tampão para manter os valores de pH. O pH do sangue utiliza um sistema tampão que consiste na presença de ácido carbônico e bicarbonato para manter seus valores entre 7,35 e 7,45 e garantir o funcionamento normal de todos os sistemas biológicos. Valores abaixo e acima desse pH determinam condições denominadas acidose e alcalose, respectivamente, nas quais uma série de reações são desencadeadas para buscar estabelecer o equilíbrio nor- mal. Essas alterações podem acontecer no contexto de alterações físicas ou pela presença de doenças metabólicas que estudaremos na última unidade. A ação desses sistemas tampão no contexto de células e tecidos pode ser favo- recida pela ação de organelas ou favorecida pela presença de algumas moléculas que apresentam em sua estrutura química grupamentos funcionais que as caracterizam como ácidos ou bases fracas, como por exemplo, os aminoácidos. REFLITA O ser humano tenta compreender e explicar a vida a partir da elucidação de processos biológicos em nível molecular. Essa visão molecular da vida é explicada principalmente através da bioquímica, de forma que a partir do momento que entendemos como um mecanismo funciona, podemos aprimorar técnicas experimentais e modificar processos específicos de acordo com a nossa vontade. Nesse contexto, fica a pergunta: Até que ponto essas intervenções são vantajosas e podem influenciar na evolução das espécies? Fonte: (BLASCO; JUNGES & COSTA, 2013). 30UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da nossa primeira unidade da disciplina de bioquímica, na qual introduzimos os princípios fundamentais do funcionamento celular e conhecemos as pro- priedades da água, que representa uma das moléculas mais abundantes nos organismos vivos. Nesta unidade verificamos que diferentes organismos vivem e compartilham de uma unidade estrutural básica, a célula. Todas as células apresentam características em comum de composição e organização. Por exemplo, independente do organismo a célula sempre apresenta membrana plasmática, citosol contendo os constituintes celulares e um núcleo. Os eucariotos são mais complexos que os procariotos, e por isso, apresentam uma organização celular mais organizada com a presença de estruturas especializadas, chama- das de organelas. No grupo dos eucariotos, ainda podemos ressaltar algumas diferenças entre as células animais e vegetais. Essas informações são importantes porque implicam no funcionamento celular, e consequentemente, no metabolismo desses organismos. O conteúdo também permitiu esclarecer que o metabolismo é na verdade um conjunto de reações químicas que ocorrem de maneira ordenada e dependente uma das outras. Para que o metabolismo aconteça de forma completa e integrada, a célula necessita obter energia do ambiente. A energia pode ser obtida pelos organismos a partir da captação e absorção de luz solar ou pelo processamento de compostos químicos, o que os classificaem fototróficos e quimiotróficos, respectivamente. Além disso, a fonte de energia para produção de todos componentes biológicos tam- bém é importante e gera uma subclassificação em autotróficos e heterotróficos. Essas dife- renças no modo de obter energia estabelece um estado de equilíbrio para a vida de diferentes espécies, pois as reações de um tipo de organismo fornecem substratos importantes para outros. Essa lógica também ocorre no funcionamento interno através das rotas bioquímicas. Depois que a energia é obtida para que as reações químicas ocorram, essa energia precisa ser renovada constantemente, visto que o metabolismo celular não pode parar. Apesar de algumas reações exigiram energia para iniciar (endergônicas), outras liberam energia (exergônica) e isso facilita a classificação das rotas bioquímicas em dois grupos dentro do metabolismo celular, o catabolismo e o anabolismo. O catabolismo está relacio- nado às reações de degradação e liberam energia, enquanto o anabolismo relaciona-se com a síntese de moléculas complexas e por isso exige energia disponível. 31UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Seguindo a lógica molecular da vida, também estudada nesta unidade, apresenta- mos as principais biomoléculas que constituem os organismos vivos e permitem que todo esse metabolismo celular. O estudo da organização estrutural dessas moléculas e a forma que se comportam quimicamente são essenciais para compreender as rotas bioquímicas que controlam o funcionamento celular. Sobre a água, vimos que suas características químicas determinam propriedades de autoionização e de interações em sistemas aquosos muito importantes para manter o equilíbrio de vários processos químicos celulares, além de facilitar a interação entre outros elementos. Os produtos de ionização da água (H+ e OH-) confere uma propriedade chamada pH, possível de ser mensurada por técnicas experimentais e das quais fomos apresentados, além de aprendermos à interpretá-las. O valor de pH é importante para manter os organis- mos em equilíbrio com suas funções e reações químicas. Os íons H+ e OH- liberados pela água participam do processo de tamponamento, que evita variações bruscas de pH e evitam o desequilíbrio das condições ótimas de funcionamento do metabolismo. 32UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas LEITURA COMPLEMENTAR Eletroforese: conceitos e aplicações (artigo científico) Link para acesso: https://www.conhecer.org.br/enciclop/2015c/agrarias/Eletroforese.pdf Fonte: OLIVEIRA et al. Eletroforese: conceitos e aplicações. Enciclopedia: Bioesfera, 2015. Aplicação da técnica eletroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE) na caracterização de microrganismos dominantes na rizosfera de plantas cultivadas em solo ácido (artigo científico) Link para acesso: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/489286/1/Circ72.pdf Fonte: MARRIEL et al. Aplicação da técnica eletroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE) na caracterização de microrganismos dominantes na rizosfera de plantas cultivadas em solo ácido. Circular técnicas 72. Embrapa. Sete Lagoas, MG, 2005. https://www.conhecer.org.br/enciclop/2015c/agrarias/Eletroforese.pdf https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/489286/1/Circ72.pdf 33UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: de Bioquímica de Lehninger. Autores: David L. Nelson e Michael M. Cox Editora: Artmed Sinopse: Esta 7ª edição mantém a qualidade que tornou o texto original de Lehninger um clássico na área, com explicações úteis para conceitos complexos e apresentando aos estudantes uma vi- são clara e abrangente da bioquímica como é entendida e praticada hoje. Além de oferecer esclarecimentos importantes e aplicações práticas na medicina, na agricultura e pecuária, na nutrição e na indústria, a bioquímica dedica-se a elucidar o milagre da vida em si. Assim, por aproximar a bioquímica do dia a dia, enfocando seu papel fundamental nos avanços da saúde e do bem-estar humano e incorporando os mais recentes avanços científicos, esta nova edição de Princípios de bioquímica de Lehninger permanece como a referência ideal para estudantes e profissionais da área (AMA- ZON, 2020). FILME / VÍDEO Título: pHmetro bancada Starter 2100. Ano: 2016. Sinopse: Esse vídeo apresenta o aparelho pHmetro e demonstra como utilizá-lo na rotina laboratorial. Este instrumento é útil para dosagens experimentais de pH, importante em diversas áreas de conhecimento. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=zosqquhA- Qx0&t=49s https://www.youtube.com/watch?v=zosqquhAQx0&t=49s https://www.youtube.com/watch?v=zosqquhAQx0&t=49s 34UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas FILME / VÍDEO Título: Eletroforese horizontal de DNA em gel de agarose Ano: 2016. Sinopse: A eletroforese é um método habitualmente usado para separar e também purificar macromoléculas, principalmente áci- dos nucleicos e proteínas. Essas macromoléculas são submetidas a um campo elétrico, na qual migram para um polo positivo ou negativo de acordo com a sua carga. No caso de uma carga posi- tiva, seguirá para o polo negativo e se for negativa, irá na direção do polo positivo (KASVI, 2016). Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=vL3EfRx78P0 https://www.youtube.com/watch?v=vL3EfRx78P0 35 Plano de Estudo: ● Nucleotídeos e ácidos nucleicos: caracterização e função; ● Lipídeos: caracterização e função; ● Aminoácidos, peptídeos e proteínas: caracterização e funções; ● Enzimas e sistemas enzimáticos, coenzimas e vitaminas; ● Carboidratos: caracterização e funções. Objetivos da Aprendizagem: ● Estudar a composição química das principais biomoléculas; ● Conhecer a estrutura básica dos nucleotídeos e a relação dos ácidos nucleicos como fonte de informação nas células; ● Compreender as funções, composição e organização das proteínas, pela caracterização de aminoácidos e peptídeos; ● Descrever a estrutura dos lipídeos e compreender as funções de cada classe; ● Reconhecer as características e a importância das vitaminas e enzimas nos processos celulares; ● Compreender as diferenças estruturas dos carboidratos e reconhecer os nos organismos; ● Estabelecer os fatores que podem influenciar no desempenho funcional das biomoléculas. UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Professora Me. Andressa Lorena Ieque 36UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 36 INTRODUÇÃO UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Olá caro (a) aluno (a)! Iniciaremos a Segunda Unidade da disciplina de Bioquímica, na qual estudaremos as macromoléculas. Como vimos na unidade anterior, a estrutura quí- mica das moléculas é extremamente importante na definição do seu papel no metabolismo, e por isso, teremos como objetivo evidenciar essas características químicas da estrutura de cada biomolécula para em seguida enaltecer as suas principais funções. No primeiro tópico, vamos introduzir essas informações para os nucleotídeos e os ácidos nucleicos, que são os responsáveis envolvidos na formação do material genético. Esses componentes são utilizados pela célula como uma fonte de informação que será posteriormente transformada em diversos produtos e mensagens para que o os organismos sejam capazes de realizar todas as funções necessárias para a vida. No segundo tópico, conheceremos as proteínas, que são produtos resultantes da leitura dos ácidos nucleicos. Neste momento, iremos evidenciar a constituição química das proteínas, esclarecendo sobre como os aminoácidos e peptídeos contribuem para o estabelecimento da estrutura final das proteínas e das suas funções. Em seguida, os lipídeos serão apresentados quanto às suas características quími- cas e divididos em classes para facilitar o entendimento das suas principais funções. No quarto tópico, vamos estudar sobre as enzimas, os cofatores enzimáticos e as vitaminas que estão estreitamente correlacionados,inclusive com os lipídeos que foram apresentados anteriormente. No último tópico ressaltaremos as características estruturais e funcionais dos car- boidratos, pontuando as principais funções dentro de cada classe. Em todos os tópicos abordados durante esta unidade, buscaremos ressaltar os fatores que podem influenciar o desempenho funcional dessas macromoléculas. 37UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 1. NUCLEOTÍDEOS E ÁCIDOS NUCLEICOS Como introduzidos na primeira unidade, o material genético dos organismos vivos é formado por unidade monoméricas menores, os nucleotídeos, aminoácidos e açúcares. Agora, iremos iniciar o estudo de uma dessas unidades, os nucleotídeos. Os nucleotídeos são os constituintes dos ácidos nucleicos do DNA (ácido desoxirri- bonucleico) e do RNA (ácido ribonucleico), que carregam a informação genética. A partir do processamento desse material genético, a célula torna-se capaz de produzir todos os seus componentes e comandar todas as suas funções biológicas. E como é feito esse proces- samento? Para compreender o processo completo, devemos ressaltar alguns conceitos. Primeiro, o segmento de DNA que possui uma informação genética a ser lida é chamado de gene. Na sequência normal de processos celulares, o gene é transformado em RNA mensageiro (RNAm) através de um processo de transcrição com o envolvimento de enzimas chamadas de RNA polimerases. O RNAm é traduzido nos ribossomos pelos RNA transportadores (RNAt) em sequências específicas de aminoácidos, que serão combinadas para formar as proteínas. Isso mostra que todos os passos devem acontecer de forma articulada e que os nucleotídeos que formam os ácidos nucleicos do DNA e RNA são os primeiros ele- mentos envolvidos na produção de produtos celulares. Como o processo depende de reações químicas a nível molecular, é fundamental conhecermos a estrutura molecular desses elementos. 38UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 38UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Os componentes moleculares de ambos, DNA e RNA. são semelhantes e por isso vamos caracterizá-los de forma única. A figura abaixo mostra os componentes de um nu- cleotídeo: um grupo fosfato, uma pentose e uma base nitrogenada. A pentose é um açúcar formado por cinco átomos de carbono e organizado em uma cadeia fechada (cíclico). No caso do DNA, a pentose presente é a desoxirribose (D) e no RNA é a ribose (R) (Figura 1). FIGURA 1 - COMPOSIÇÃO ESTRUTURAL DE UM NUCLEOTÍDEO, EVIDENCIANDO O GRUPAMENTO FOSFATO (AZUL), A BASE NITROGENADA (AMARELO) E O AÇÚCAR PENTOSE (ROSA) Assim como as pentoses, as bases nitrogenadas também são compostas cíclicos, mas que são marcadas pela presença de nitrogênio. Elas são divididas em dois grupos: as purinas (adenina-A e guanina-G) e as pirimidinas (citosina-C, timina-T e uracila-U). A adenina, a guanina e a citosina estão presentes no RNA e no DNA, porém a timina está presente apenas no DNA e a uracila apenas no RNA (Figura 2). Quando a pentose é ligada à base nitrogenada é formado um nucleosídeo. A estru- tura completa de nucleosídeo acrescido de grupo fosfato é então denominada de nucleotí- deo. Os nucleotídeos são unidos entre si por ligações fosfodiéster e formam o esqueleto do DNA e do RNA. Assim como as proteínas, podemos classificar a montagem em três níveis de complexidade: a primária, a secundária e a terciária. A primária é representada por esse esqueleto de nucleotídeos em sequência unidos por ligações covalentes. 39UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 39UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DOS NUCLEOTÍDEOS PRESENTES NO DNA E NO RNA A partir de agora, vamos focar na compreensão da estrutura secundária do DNA que é muito bem estabelecida e, a seguir, faremos breve considerações sobre o RNA. 1.1 O DNA A estrutura do DNA foi descoberta em 1953 por James Watson e Francis Crick e revolucionou a ciência, contribuindo para evolução de diversas áreas, após a descoberta da estrutura primária, avançamos para a estrutura secundária, em que visualizamos certos dobramentos na molécula no formato de dupla hélice. Em um estágio mais complexo de organização as moléculas de DNA formam os cromossomos e a cromatina no núcleo da célula, que representam a estrutura terciária (Figura 3). 40UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 40UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 3 - ORGANIZAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO EM NÍVEIS DE COMPLEXIDADE ESTRUTURAL. ESTRUTURA SECUNDÁRIA REPRESENTADA PELA DUPLA HÉLICE E TERCIÁRIA PELOS CROMOSSOMOS NO NÚCLEO DA CÉLULA A seguir, veremos algumas contribuições de pesquisadores que ajudaram a elucidar de forma completa a molécula de DNA: Chargaff e colaboradores (1940) descobriram algumas informações que são deno- minadas como “regras de Chargaff”, veja: 1. A composição de bases do DNA, em geral, varia de uma espécie para a outra. 2. Amostras de DNA isoladas de diferentes tecidos da mesma espécie têm a mesma composição de bases. 3. A composição de bases de DNA em uma dada espé-cie não muda com a idade do organismo, seu estado nutricional ou a mudança de ambiente. 4. Em todos os DNA celulares, independentemente da espécie, o número de resíduos da adenosina é igual ao número de resíduos da timidina (i.e., A 5 T) e o número de resíduos de guanosina é igual ao número de resíduos de citidina (G = C). Dessas correlações, conclui-se que a soma dos resíduos de purina é igual à soma dos resíduos de pirimidina; isto é, A + G = T + C (NEL- SON e COX, 2018, p. 278) Rosalind Franklin e Maurice Wilkins descobriram a partir de estudos de difração de raios X que o DNA ocorria na forma de dupla hélice. A partir de todas as informações, Watson e Crick criaram o modelo tridimensional do DNA que consiste em duas cadeias de DNA enroladas em torno do mesmo eixo, formando uma dupla hélice de orientação à direita e reforçando a sua alta capacidade de flexibilidade (Figura 4). 41UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 41UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 4 - REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA SECUNDÁRIA DO DNA: DUPLA HÉLICE Fonte: NELSON e COX, 2018. Nesse modelo, as bases ficam direcionadas no interior da molécula enquanto os grupos fosfatos e a pentose são orientados para o lado externo. Os pares de bases são unidos por pontes de hidrogênio triplas entre a citosina e a guanina e duplas entre adenina e a timina. Por esse motivo, a separação de bases ou desestabilização da união entre a C e a G é mais difícil (Figura 5). Vejam a representação da estrutura primária do DNA evidenciando a ligação (dupla e tripla) entre bases nucleotídicas, a complementaridade das cadeias na dupla-hélice de DNA e o sentido antiparalelo das fitas (fita à direita no sentido 5’→3’ e fita à esquerda no sentido 3’→5’): 42UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 42UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA PRIMARIA DO DNA Fonte: NELSON e COX, 2018. Vale ressaltar também que a orientação dessas duas fitas segue sentidos contrário (antiparalelas). Observe que na Figura acima, a fita esquerda está com uma indicação 5’ (lê-se cinco linha) na parte superior e 3’ (lê-se três linha) na parte inferior, enquanto a fica complementar está ao contrário. Assim, essa nomenclatura representa esse sentido oposto que as fitas assumem. Portanto, se em uma fita temos uma sequência de pares de bases a outra fita ne- cessariamente terá que apresentar uma sequência complementar, e para exemplificar isto, observe as quatro primeiras bases nucleotídicas da Figura acima. Iniciamos a fita do lado esquerdo com uma composição de bases na sequência C, A, A e T, então obrigatoriamente a outra fita à esquerda apresentará em sequência complementar G, T, T e A. É importante você saber que o DNA pode apresentar algumas variações na sua estrutura. Por exemplo, dependendo das condiçõesdo meio o DNA pode assumir outras formas tridimensionais diferentes (forma A e Z) da apresentada na figura X (B), que é a mais comum e mais estável. No entanto, não iremos nos aprofundar nessas formas. 43UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 43UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Outras variações estruturais incomuns podem acontecer e afetar a função do DNA, geralmente associadas à presença de sequências palindrômicas ou repetições de imagem especular. Veja na Figura 6 para entender como essas sequências ocorrem: FIGURA 6 - VARIAÇÕES ESTRUTURAIS QUE PODEM AFETAR A FUNÇÃO DO DNA: SE- QUÊNCIAS PALINDRÔMICAS E REPETIÇÕES DE IMAGEM ESPECULAR Fonte: NELSON e COX, 2018. Os palíndromos são sequências que se complementam em regiões próximas da fita dupla e as repetições de imagem especular ocorrem quando essas sequencias comple- mentar apresentam-se na mesma fita. Ambas podem ocasionar a formação de estruturas em forma de grampo ou cruciformes resultado da combinação dessas sequências comple- mentares (Figura 7). FIGURA 7 - COMBINAÇÃO DE SEQUÊNCIAS COMPLEMENTARES RESULTANDO EM ESTRUTURAS EM FORMATO DE GRAMPO OU CRUCIFORME Fonte: NELSON e COX, 2018. 44UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 44UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Essas estruturas são as que acontecem com maior frequência, mas também existem alterações que envolvem até quatro cadeias de DNA. Todas estas podem estar relacionar-se com a interrupção da expressão gênica, defeitos no metabolismo, e inclusive, podem ocasionar doenças genéticas e metabólicas. 2. O RNA O RNA apresenta estrutura diferente do DNA e quando vamos estudá-lo precisamos considerar as várias classes que incluem: os RNAs mensageiros, os RNAs transportadores e os RNAs ribossômicos. Quando o DNA é transcrito, o RNAm resultante apresenta uma estrutura de cadeia ou fita simples tendendo à conformação helicoidal devido ao empilha- mento das bases. O pareamento de bases ocorre de forma semelhante à do DNA, diferindo apenas na base uracila que ocorre no lugar da timina e é complementar à adenina. A estrutura primária do RNA está representada na Figura 8. Vale ressaltar que no DNA não temos padrões estabelecidos de estruturas secundárias e as suas conformações são altamente complexas e únicas. Os RNAs transportadores têm função na síntese proteica e apresentam um ami- noácido em uma extremidade, responsável por parear com um RNAm para dar início à leitura e produção de proteínas no processo de tradução. Os RNAs ribossômicos ocorrem como constituintes dos ribossomos que são essenciais para a Ainda, existem as ribozimas que são RNAs de função especial e têm como função principal a atuação como enzimas em reações do metabolismo. FIGURA 8 - ESTRUTURA PRIMÁRIA DO RNA 45UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2. LIPÍDEOS 2.1 Lipídeos Os lipídeos são compostos químicos que apresentam como principal característica a sua insolubilidade em água. A insolubilidade ocorre porque os lipídeos são constituídos por um esqueleto de hidrocarbonetos que confere essa propriedade apolar. Eles desempenham funções variadas nas células, sendo as duas principais: o armazenamento de energia como gorduras e óleos e componentes de membranas bio- lógicas. Nas membranas, podem exercer tanto o papel estrutural quanto funcionar como mediadores da adesão e do reconhecimento celular ou na transdução de sinal entre o ambiente intra e extracelular. Quando os lipídeos participam nessa passagem de informação e interligam os processos metabólicos recebem o nome de sinalizadores. Além disso, eles também po- dem ser classificados como cofatores ou pigmentos, auxiliando na atividade das enzimas em reações biológicas, conferindo cor à determinados componentes e participando de reações fotossensíveis. Para facilitar o nosso estudo, vamos conhecer a constituição química e principais funções dos lipídeos de acordo com a seguinte classificação: ácidos graxos, triacilgliceróis, fosfolipídios, esfingolipídios, glicolipídios, lipoproteínas e isoprenóides. 46UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 46UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2.2 Ácidos graxos Os ácidos graxos são chamados de ácidos devido a presença da função ácido carboxílico na extremidade de sua cadeia de hidrocarbonetos (Figura 9). Eles geralmente apresentam em média de 12 a 24 carbonos e podem ser formados por ligações simples (saturados) ou duplas (insaturados). As propriedades dos ácidos graxos são determinadas principalmente pelo comprimento e grau de insaturação da cadeia. FIGURA 9 - ESTRUTURA QUÍMICA DOS ÁCIDOS GRAXOS: HIDROCARBONETOS E FUNÇÃO DOS ÁCIDOS CARBOXÍLICOS. Como a função de ácido carboxílico é solúvel em água, quando a sua cadeia de hidrocarbonetos é curta eles podem apresentar certa polaridade. Entretanto, quanto maior a cadeia de hidrocarbonetos e menor o número de ligações duplas, mais baixa será a sua solubilidade em água. A insaturação da cadeia também influencia na estabilidade de arranjos desses ácidos graxos e na forma em que são encontrados no ambiente. Os mais insaturados apresentam maior dificuldade para empacotar-se devido à instabili- dade de ligações duplas (tipo cis) e as forças que os ligam uns aos outros são mais fracas. Assim, a temperatura necessária para desfazer esses arranjos é menor, resultando em agrupamentos de consistência mais líquida ou oleosa. O contrário acontece com as ceras, que apresentam maior instabilidade e se empacotam com interações muito estáveis (SAIBA MAIS 1). 47UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 47UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2.3 Triacilgliceróis ou triglicerídeos Alguns ácidos graxos são importantes para o desempenho de funções celulares e podem interferir na homeostase do metabolismo, mas a maioria são derivados de ácidos carboxílicos, apresentando funções ésteres ou amida. Os triacilgliceróis ou triglicerídeos, por exemplo, são formados por ésteres de ácidos graxos com glicerol (Figura 10). Sua principal função nas células eucarióticas animais e vegetais é o armazenamento de energia, geral- mente em células adiposas. A oxidação desses lipídeos gera mais energia do que a oxidação de carboidratos e por isso pode apresentar vantagem metabólica em certas situações. FIGURA 10 - ESTRUTURA QUÍMICA DOS TRIGLICERÍDEOS: ÉSTERES (EVIDENCIADO NA LIGAÇÃO C‒O‒C) DE ÁCIDOS GRAXOS (TRÊS) LIGADOS AO GLICEROL As ceras são ésteres de ácidos graxos saturados e insaturados com álcoois que apresentam pontos de fusão alto, ou seja, são encontradas na forma sólida. Além de da função de combustível, também desempenham funções relacionadas à propriedade imper- meabilizante principalmente em glândulas da pele, útil para alguns animais na proteção da pele e de pelos e também para evitar a evaporação excessiva. 48UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 48UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2.4 Fosfolipídios Os fosfolipídios são classificados como lipídios estruturais de membranas que apresentam em sua estrutura uma parte polar (hidrofílica) e uma apolar (hidrofóbica), caracterizando-os como anfipáticos. A parte apolar é constituída por ácidos graxos e são chamadas de caudas, enquanto a parte polar deve-se à presença de grupos carregados como o fosfato, sendo denominada de cabeça e ambas são ligadas por uma ligação fosfo- diéster (Figura 11). FIGURA 11 - REPRESENTAÇÃO DE UM FOSFOLIPÍDIO CONSTITUÍDO POR ÁCIDO GRAXOS (CAUDA HIDROFÓBICA) UNIDOS AO GLICEROL E UM GRUPO FOSFATO (CABEÇA HIDROFÍLICA) A característica anfipática dos fosfolipídios permite que eles se organizem em meios aquosos de forma vantajosa e que permite interações importantes. Na membra- na plasmática, por exemplo, os fosfolipídios assumem uma organização em bicamada em que suas partes hidrofóbicas ficam todas voltadas para um mesmo lado, evitando interações com a água. Os grupos polares das cabeçasdos fosfolipídios ficam voltados para fora em contato com esse meio aquoso garantindo que o interior da célula consiga se comunicar com o exterior (Figura 12). Como já citamos na unidade anterior, além da organização em bicamada lipídica, os fosfolipídios também podem se organizar na forma de micelas (Figura 12, Unidade I). 49UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 49UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 12 - ORGANIZAÇÃO DOS FOSFOLIPÍDIOS EM BICAMADA LIPÍDICA COM AS CAUDAS HIDROFÓBICAS VOLTADAS PARA O LADO INTERIOR E CABEÇAS HIDROFÍLICAS PARA O LADO EXTERIOR (ESPAÇO EXTRACELULAR E CITOPLASMA) Os fosfolipídios podem ser subclassificados de acordo com a constituição das suas regiões hidrofóbicas em glicerofosfolipídios ou esfingolipídios. Os glicerofosfolipídeos apresentam dois ácidos graxos ligados ao glicerol e são representados pela fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina. Já os esfingolipídios apresentam apenas um ácido graxo, que está ligado a uma amina e resulta em um composto chamado ceramida. 2.5 Esfingolipídios Os esfingolipídios são constituídos por um ácido graxo unido a uma função amida (--NH2) que resulta em um composto chamada ceramida. Eles ficam expostos na superfície da membrana celular e podem atuar como componentes de membrana ou agir como sítio de reconhecimento, ou seja, sinalizadores. Nós podemos dividi-los em três subclasses de acordo com a composição da cabeça polar: a esfingomielina (grupo fosfato), os glicoesfin- golipídios (açúcares) e os gangliosídios (oligossacarídeos e ácido siálico). De acordo com essa classificação, podemos concluir que dependendo dos grupos químicos presentes na estrutura do esfingolipídio, este poderá ser classificado como fosfo- lipídios ou glicolipídio. A esfingomielina possui grupo fosfato e por isso é classificada como fosfolipídio, exercendo função de componente e sinalizador ao mesmo tempo. Ela está presente na bainha de mielina, que envolve os neurônios e auxilia na condução nervosa através da sinalização nessas células. 50UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 50UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2.6 Glicolipídios Os glicolipídios podem ser esfingolipídios ou galactolipídeos. A constituição dos gli- colipídios difere dos fosfolipídios, pois eles apresentam um carboidrato (açúcar simples ou oligossacarídeo complexo) na sua extremidade polar e não o grupo fosfato que ocorre dos fosfolipídios. Como vimos anteriormente, os esfingolipídios classificados como glicolipídios são os glicoesfingolipídios e os gangliosídios. Os glicoesfingolipídios ocorrem na forma de cerebrosídios ou globosídios e também podem ser chamados de glicolipídios neutros, uma vez que não apresentam carga em pH neutro. Os gangliosídios estão presentes na membrana de células sanguíneas e possuem partes que contribuem para determinar os grupos sanguíneos humanos. Um outro grupo de glicolipídios que são mais comuns em células vegetais são os galactolipídeos e os sulfolipídeos. Os galactolipídeos são os mais abundantes e atuam como componentes de membranas, localizados nas membranas internas de cloroplastos. 2.7 Lipoproteínas As lipoproteínas são constituídas pela associação entre moléculas de proteínas com triacilgliceróis, colesterol e ésteres de colesterol. Essa organização faz com que as lipoproteínas tenham um núcleo hidrofóbico (triacilgliceróis, colesterol e ésteres de coles- terol) e outro hidrofílico (proteínas e fosfolipídios), sendo caracterizadas como anfipáticas. Estas moléculas podem ser classificadas em quatro tipos de acordo com a sua densidade: os quilomícrons, lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL), de densidade baixa (LDL) e de densidade alta (HDL). As suas respectivas funções encontram-se no quadro abaixo: QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO E FUNÇÃO DAS LIPOPROTEÍNAS Lipoproteína Função Quilomícrons Transporte de lipídeos da alimentação pela linfa e sangue até o intestino, músculo ou tecido adiposo. Lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) Transporte de triacilgliceróis e colesterol até o tecido hepá- tico. Precursora da LDL. Lipoproteína de densidade baixa (LDL) Transporte de lipídeos para os tecidos periféricos. Degra- dado por lisossomos e proteases. Lipoproteína de densidade alta (HDL) Transporte do colesterol do plasma e tecidos extra-hepáti- cos para o fígado. Fonte: A autora (2021). 51UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 51UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Todos esses lipídios desempenham funções fundamentais na célula, eles precisam ser produzidos e renovados. A renovação ocorre mediante degradação por enzimas presen- tes nos lisossomos, que atuam removendo o ácido graxo ou grupamento polar associado. As lipoproteínas possuem papel essencial e ajudam no transporte de lipídeos para remoção e renovação dos componentes. Defeitos nesse sistema de reposição podem ocasionar doenças graves relacionadas ao acúmulo desses componentes no ambiente celular. Nós iremos estudar um pouco mais dessas disfunções na última unidade desta apostila. 2.8 Isoprenóides Os isoprenóides são um grupo de biomoléculas derivadas de ácidos graxos re- presentados pelos esteroides e os terpenos. Os esteroides também são formados por um grupo polar e um apolar e estão presentes como elementos estruturais de membrana. Outra função importante é a de servir como precursor de diversos produtos biológicos (hormônios, vitamina D e sais biliares). O esterol mais conhecido é o colesterol, presente nos animais, mas as plantas e os fungos apresentam lipídeos dessa mesma classe denominados estigmasterol e ergosterol, respectivamente. O colesterol pode ser encontrado associado a esfingolipídios e proteínas ligadas ao fosfatidilinositol no interior da célula, formando balsas lipídicas que permitem a comunicação e a adesão entre células. Os terpenos podem ser representados por pigmentos e substâncias voláteis pro- duzidas naturalmente por plantas vasculares. As substâncias voláteis podem atuar como sinalizadores na comunicação com outras plantas e animais e os pigmentos produzem cor, desempenhando papel importante na visão (fotossensíveis) e na fotossíntese. O caroteno é um exemplo de pigmento de cor amarelo alaranjado que presente dá cor à cenoura e também a penas de aves. Além dos esteróis e dos terpenos, várias outras biomoléculas importantes são formadas por grupos isoprenóides, por exemplo, algumas vitaminas, as ubiquinonas e as plastoquinonas (transportadores de elétrons nas mitocôndrias e cloroplastos) e algumas citocinas. 52UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 3. AMINOÁCIDOS, PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS As proteínas são biomoléculas presentes em abundância em todas as células e desempenham funções importantes para o metabolismo. Como vimos anteriormente, elas são formadas por unidades mais básicas denominadas de aminoácidos. Os grupamentos funcionais amino e carboxila são unidos através de ligações covalentes gerando os pep- tídeos (cadeias de aminoácidos), que por fim, são combinados para formar uma proteína completa (Figura 13). FIGURA 13 - ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DAS PROTEÍNAS 53UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 53UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Os aminoácidos apresentam ligados ao seu esqueleto de carbono e hidrogênio dois grupos funcionais, o carboxil e o amino. Além destes, também apresenta uma cadeia lateral (grupo R) que é o que determina a diferença de um aminoácido para o outro. De modo geral, vinte aminoácidos mais comuns são combinados em quantidade e sequência diferentes e resultam em milhares de tipos de proteínas, que são responsáveis por uma infinidade de processos biológicos. A sequência em que esses aminoácidos serão combi- nados não é definida por acaso, na verdade, as proteínas são resultado da leitura do nosso material genético. A Figura 14 representa o processo de tradução que ocorre nos ribossomos,com a produção de proteínas através da leitura de trios de bases nucleotídeos (códon) do RNA mensageiro por um RNA transportador. Veja: FIGURA 14 - REPRESENTAÇÃO DO PROCESSO DE TRADUÇÃO DOS RIBOSSOMOS O DNA é formado por sequências de nucleotídeos que são lidos transcritos em RNA mensageiro (RNAm) através da transcrição. Sendo assim, podemos dizer que o RNAm é proveniente de uma informação genética que foi expressa pela célula. Nos ribossomos, esse RNAm será traduzido em polipeptídios com o auxílio de um RNA transportador (RNAt). O RNAt faz a leitura do RNAm em sequências específicas de três bases nucleotídicas, que são chamados de códon (Figura 14). Cada códon codifica um desses vinte aminoácidos mais comuns e o conjunto completo dessa relação entre códons e aminoácidos é chamado de código genético, repre- sentado na Figura 15 abaixo. 54UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 15 - REPRESENTAÇÃO DO CONJUNTO DE RELAÇÕES ENTRE CÓDONS E AMINOÁCIDOS, CHAMADO DE CÓDIGO GENÉTICO Os polipeptídios são usualmente classificados em oligopeptídeos ou polipeptídios de acordo com a quantidade de aminoácidos que constituem a sua estrutura. Os oligopeptídeos são formados por poucos aminoácidos, enquanto os polipeptídios são formados por muitos. Muitas vezes, o termo polipeptídio é usado para referir-se às proteínas e isso não é incorreto. Porém, devemos ter a consciência de que ao levar em conta o peso molecular, as proteínas tendem a ser muito maiores que os polipeptídios ao considerar seu sentido literal. Por exemplo, uma cadeia de 100 aminoácidos já seria classificada como polipeptídio, entretanto, as proteínas costumam ser formadas por até mais de 10.000 aminoácidos. Como as cadeias polipeptídicas são formadas pela união dos grupamentos amino e carboxila dos aminoácidos, naturalmente apresenta em uma extremidade de sua cadeia um grupo amino livre (aminoterminal ou N-terminal) e do lado oposto um grupo carboxil livre (carboxiterminal ou C-terminal). Esse arranjo proveniente da estrutura química dos aminoácidos confere às proteínas algumas propriedades específicas, demonstrando as extremidades aminoterminal e carboxiterminal. As ligações peptídicas evidenciadas pela marcação rosa (Figura 16). 55UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 16 - ARRANJO QUÍMICO DE AMINOÁCIDOS NA ESTRUTURA DE UMA PROTEÍNA Fonte: NELSON e COX, 2018. Ao observar essas extremidades na Figura 16, podemos ressaltar a sua característica iônica, de forma que a aminoterminal apresenta carga positiva enquanto a carboxiterminal, carga negativa. Isso se deve a propriedade de ionização das proteínas que é conferida pela capacidade que os grupos amino e carboxil possuem de se ionizar. Como vimos na unidade anterior, os íons são componentes importantes para a definição do pH do ambiente. Portanto, podemos concluir que as proteínas, além de apresentar carga, também podem contribuir para alterar as características acidobásicas, estabelecendo seu comportamento polar e de ionização. Devido a essas propriedades próprias das proteínas e que pode variar entre uma e outro, elas podem ser separadas e caracterizadas através de técnicas laboratoriais, facilitan- do o seu estudo. Algumas características das proteínas comumente utilizadas para realizar a sua purificação são: a sua carga, o seu tamanho, o seu comportamento de ionização e também suas propriedades de ligação. Um dos métodos mais simples utilizados para separar proteínas em pouca quantidade é a eletroforese, que se baseia no tamanho, forma e carga. As funções que as proteínas exercem na célula podem ser as mais variadas pos- síveis, podendo ser encontradas como enzimas, anticorpos, hormônios, transportadores, antibióticos, entre outros. A principal distinção entre proteínas com funções diferentes é a sua estrutura determinada pelas ligações internas. A estrutura pode ser classificada por ordem hierárquica em primária, secundária e terciária. A estrutura primária consiste na sequência de aminoácidos unidas por ligações peptídicas e podem apresentar também ligações dissulfeto. A estrutura secundária refe- re-se ao polipeptídio formado na etapa anterior que resultam em arranjos estruturais pa- dronizados e recorrentes, como as α-hélice. A estrutura terciária aborda todos os aspectos de dobramento que o polipeptídio assume na forma tridimensional. Quando as proteínas apresentam duas ou mais cadeias polipeptídicas diferentes, seus arranjos caracterizam a estrutura quaternária (Figura 17). 56UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 56UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 17 - DEMONSTRAÇÃO DAS ESTRUTURAS PRIMÁRIA (AMINOÁCIDOS), SECUNDÁRIA (HÉLICE), TERCIÁRIA (CADEIA DE POLIPEPTÍDEOS) E QUARTERNÁRIA (AGREGADOS COMPLEXOS DE UM OU MAIS POLIPEPTÍDEOS) DAS PROTEÍNAS A perda dessas estruturas organizadas implica em perda da função e pode oca- sionar defeitos relevantes no funcionamento celular, e inclusive determinar uma variedade de doenças. Isso pode ocorrer durante a falha na síntese implicando em um dobramento errado ou em condições externas que causam mudanças estruturais. O processo de desna- turação é responsável por causar alterações conformacionais nas proteínas, geralmente a partir de agentes físicos ou químicos, como a temperatura ou pH, solventes e detergentes, que rompem as interações ou ligações e causam modificação da sua forma. Além dos aminoácidos, algumas proteínas podem apresentar em sua constituição outros grupos chamados de prostéticos. Nessa situação as proteínas são denominadas de conjugadas e são classificadas de acordo com a natureza química do grupo conjugado, que pode ser um lipídeo (lipoproteína), um carboidrato (glicoproteína), um metal específico (metaloproteína), grupos heme (hemeproteínas) ou nucleotídeos de flavina (flavoproteínas). 57UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 57UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Geralmente a função de uma proteína ocorre dependente de uma ligação rever- sível com outra molécula em um sítio específico e essa interação resulta na alteração conformacional que aumenta a força de interação entre a proteína e o ligante, sendo denominado de encaixe induzido. Após esse contato, a proteína pode exercer sua função propriamente dita e desencadear uma ação via ligante para geração de um sinal, seja um estímulo, uma inibição, ou outros. Para exemplificar algumas das diversas funções que as proteínas podem exercer, vamos citar o funcionamento da hemoglobina e de alguns anticorpos. A hemoglobina é uma proteína presente nos eritrócitos humanos que possuem a função de transportar oxigênio no sangue de animais, ela apresenta múltiplas subunidades de ligação ao oxigênio, que, quando ligadas, mudam de conformação podendo diminuir a sua afinidade de ligação e assim, modular o transporte de acordo com a demanda exigida. O não funcionamento normal dessa proteína pode determinar doenças associadas à disfunção de oxigenação do sangue, como por exemplo, a anemia falciforme (SAIBA MAIS 2). Os anticorpos são proteínas de ligação do sistema imunológico, produzidos princi- palmente pelos leucócitos, esses anticorpos podem ser sintetizados e programados para reagir com antígenos de forma específica e desencadear uma série de reações que prova- velmente irão contribuir para eliminar um agente estranho associado a esse antígeno. Os antígenos nesse caso funcionam como ligantes das proteínas e podem ser representados por vírus, bactérias ou até mesmo outras proteínas ou partes destes. Os anticorpos mais abundantes são do tipo IgG, sendo formados por quatro cadeias polipeptídicas móveis. A especificidade da ligação dos anticorpos à um antígeno depende dos resíduos de aminoácidos presentes nessas cadeias que estabelece o momento da interação proteína-ligante. A partir daí, respostas imunológicas podem ser desencadeadas gerando mais células ou anticorpos importantes para fortalecero sistema de defesa do organismo. O quadro abaixo apresenta algumas outras proteínas, suas respectivas funções e também sua classe de acordo com a presença de grupo prostético: 58UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 58UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas QUADRO 2 - EXEMPLOS DE PROTEÍNAS DE ACORDO COM A SUA FUNÇÃO E PRESENÇA DE GRUPO PROSTÉTICO Proteína Função Classe (grupo prostético) Hemoglobina Transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos Hemeproteína (grupo heme) Anticorpos Resposta imunitária Glicoproteína (carboidrato) Mioglobina Transporte e armazenamento de oxi- gênio nos músculos esqueléticos e cardíacos de vertebrados Hemeproteína (grupo heme) Ferritina Armazenamento de ferro Metaloproteinase (ferro) Caseína Principal proteína do leite Fosfoproteína (grupo fosfa- to) Hormônio folículo estimulante (FSH) Estimula a secreção de estrogênio Glicoproteína (carboidrato) Colágeno Elasticidade e resistência à tensão glicoproteína (carboidrato) Elastina Elasticidade e retração dos tecidos glicoproteína (carboidrato) Fibronectina Adesão, migração e morfologia celu- lar glicoproteína (carboidrato) Integrinas Transdução de sinal glicoproteína (carboidrato) Fonte: Adaptado de: NELSON e COX, 2018. 59UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 4. ENZIMAS, COENZIMAS E VITAMINAS A maioria das enzimas são proteínas altamente especializadas responsáveis por catali- sar a maioria das reações químicas de um organismo, permitindo que elas aconteçam de forma mais rápida e eficiente, otimizando todos os processos do metabolismo. A catálise de reações também pode ser realizada por outros catalisadores não biológicos, porém, eles não costumam ser tão eficazes principalmente devido a menor especificidade com os substratos ou ligantes. O funcionamento das enzimas ocorre através de uma ligação entre o sítio ativo de uma enzima e um substrato, formando um complexo enzima-substrato (Figura 18). Esse complexo apresenta um alto grau de especificidade e culminam no aumento da velocidade de uma reação química sob condições ideais para o funcionamento da enzima. FIGURA 18 - INTERAÇÃO DE ENZIMA COM SUBSTRATO ATRAVÉS DE SÍTIO ESPECÍFICO 60UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 60UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas O encaixe induzido pode ser utilizado biologicamente como uma estratégia para evitar reações prematuras, de forma que em algumas situações pode ser necessário mais de uma interação enzima-substrato, em etapas consecutivas para ativar uma enzima. Em uma primeira etapa, após o primeiro encaixe induzido, a enzima muda sua conformação e expõe um novo sítio ativo. Esse segundo sítio pode ser ligado por um outro substrato de forma específica, e em seguida, a enzima poderá exercer a sua função propriamente dita. Os principais fatores que podem afetar a atividade enzimática são a temperatura, o pH a concentração da enzima e de substrato. Ao pensarmos que a enzima é uma proteína, fica simples de entender o porquê sua atividade pode ser influenciada pela temperatura e o pH, por estar suscetível ao processo de desnaturação. Já com relação à concentração de enzima e substrato, podemos entender como ambos afetam a atividade enzimática fazendo uma relação muito simples, que considera a quantidade de sítio ativo que a enzima possui disponível para ligar o substrato. Quando todos os sítios da enzima estiverem ligados, a reação não poderá continuar sendo catalisada por enzimas na mesma proporção de substrato disponível, pois há mais substrato que enzima. O mesmo acontece para o contrário, quando temos muita enzima e pouco substrato, pois todos os sítios da enzima serão ocupados e ela realizará sua função máxima. Assim, a reação não poderá continuar acontecendo na mesma velocidade, pois não haverá mais substrato disponível. A relação entre a velocidade de uma reação catalisada e a concentração é estudada pela cinética enzimática, porém, ela não é tão simples uma vez que a partir do momento que a reação inicia o substrato começa a ser consumido, sendo difícil estudar os efeitos durante essa conversão em produto intermediário e final. A maioria das enzimas seguem um mesmo padrão cinética e a partir de estudos desses parâmetros, os bioquímicos são capazes de comparar as atividades e caracterizar as eficiências catalíticas de enzimas. Algumas disfunções e doenças metabólicas podem ser resultantes do mau funcio- namento, do funcionamento excessivo ou do funcionamento deficiente de uma enzima. Por isso, pode ser muito comum na rotina de diagnóstico de doenças a pesquisa ou dosagem de algumas enzimas, buscando esclarecer algumas patologias. Algumas enzimas exigem a presença de um cofator ou coenzima para funcionar, que são componentes do tipo inorgânicos ou orgânicos, respectivamente. Entre os inorgâ- nicos, os mais comuns são os íons ferro, manganês, magnésio ou zinco e já os orgânicos na maioria das vezes é derivado de vitaminas ou nutrientes. Assim como nas proteínas, esses grupamentos que podem ser ligados à enzima recebem o nome de grupo prostético, e quando a enzima está ligada a eles formando uma estrutura completa e ativa, a denomi- namos de holoenzima. 61UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 61UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Observe a Figura 19, que demonstra a interação de uma enzima na sua forma ina- tiva (apoenzima) com uma coenzima, resultando na sua forma ativa (holoenzima) e capaci- tando-a para participar e catalisar reações. As vitaminas são exemplos de cofatores e suas propriedades e funções serão abordadas final deste tópico. Note que na primeira interação a enzima não é ativada (apoenzima) devido à ausência de cofator e na segunda interação, o cofator possibilita a interação com o substrato e torna a enzina funcional (holoenzima). FIGURA 19 - DEMONSTRAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DO COFATOR EM UMA INTERAÇÃO ENZIMA-SUBSTRATO Na maioria das situações o nome de uma enzima costuma representar a sua ativi- dade ou estar relacionado com seu substrato ou reação que catalisa. Além disso, qualquer um destes comumente pode estar associado a um sufixo –ase. Por exemplo, a enzima hidrolase que participa de reações de hidrólise, ou ainda, a ATP: glicose-fosfotransferase, que catalisa a transferência de um grupo fosforil do ATP para a glicose. Ao exercer suas funções, as enzimas agem em reações que ocorrem de forma consecutiva e dependentes uma das outras. A ação etapa após etapa geralmente gera uma variação de energia livre durante as reações, que podem ser conservadas ou transformadas e posteriormente utilizada para o desempenho do metabolismo. É importante ressaltar que em uma reação o papel da enzima é o aumentar a velocidade e ela é capaz de fazer isso sem alterar o equilíbrio ou ser gasta durante o processo. Observe o esquema abaixo de uma reação enzimática simples: 62UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 62UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas E + S ES EP E + P Onde E é a enzima, S é o substrato e P é o produto. ES representa o complexo enzima substrato que é formado e foi ilustrado na Figura 18. Ambos ES e EP são in- termediários da reação, ou seja, espécies químicas transitórias que aparecem antes do produto final. Observe que a enzima aparece no final da reação, indicando que ela não foi consumida e sim conservada. O símbolo de seta dupla ( ) indica que a reação está ocorrendo em equilíbrio, e independente da velocidade da reação ter sido aumentada, esse equilíbrio prevalece em todas as etapas. Como já vimos na primeira unidade, cada uma das etapas de uma reação gera uma variação de energia (∆G). Antes de iniciar, temos um estado basal de energia que precisa ser superado para um estado de transição, no qual a reação inicia. A diferença de energia entre esses dois estados é chamada de energia de ativação. Quanto maior é a energia de ativação, de forma mais lenta a reação ocorre. Os catalisadoresatuam justamente dimi- nuindo a energia de ativação, o que consequentemente diminui o tempo que as reações levariam para ocorrer. Tudo isso pode ser visualizado de forma mais clara quando demonstramos a partir de um gráfico chamado de Diagrama da coordenada da reação (Figura 19). Nesse gráfico temos a energia livre (G) no eixo y plotada pelo progresso da reação no eixo horizontal. Partindo de um estado fundamental ou basal, é necessário energia suficiente para atingir um estado de transição tanto para S (∆G S → P) quanto para P (∆G P → S). A diferença entre essas variações de energia (do estado de transição e fundamentais) representa a energia de ativação (Figura 19a). Observe na figura 19b que a diferença entre o estado fundamento e o de transição em uma reação catalisada é bem menor do que em uma reação não catalisada. Dessa forma, o tempo que a reação levaria para atingir o estado de transição é encurtado, e a reação ocorre em uma velocidade mais rápida. FIGURA 19A - DIAGRAMA DA COORDENADA DA REAÇÃO SEM ENZIMA Fonte: NELSON e COX, 2018. 63UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 63UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 19B - DIAGRAMA DA COORDENADA DA REAÇÃO COM ENZIMA Fonte: NELSON e COX, 2018. 4.1 Vitaminas As vitaminas são substâncias essenciais para o funcionamento do metabolismo pois agem como cofatores enzimáticos, ou seja, ajudam na ativação de enzimas e permitem que uma reação ocorra. Elas são classificadas em dois grupos principais: as hidrossolúveis (complexo B e vitamina C) e as lipossolúveis (A, D, E e K). A maioria delas precisa ser obtida de uma fonte externa, como a dieta, e são necessárias em baixas quantidades. O excesso ou falta de vitaminas podem ocasionar várias doenças, chamadas de hipervitaminoses ou hipovitaminoses. 4.2 Vitaminas lipossolúveis A vitamina A ou o retinol atua como um hormônio e um pigmento fotossensível no olho de vertebrados. O ácido retinóico é uma substância derivada dessa vitamina que tem papel importante na manutenção da pele. As principais fontes dessa vitamina são: óleo de peixe, fígado, ovos, leite e manteiga. Além disso, o pigmento β-caroteno presente na ce- noura e em outros vegetais pode ser convertido em vitamina A. devido ao seu envolvimento com a pele e olhos, naturalmente sua deficiência causa impacto nesses dois órgãos. A vitamina D ou colecalciferol é formada através de uma reação catalisada pela luz solar e está associada a regulação de cálcio nos rins, intestino e ossos. Por isso, a sua deficiência é interligada com defeitos ósseos e uma doença chamada raquitismo. As vitaminas E e K são encontradas principalmente em ovos, óleos vegetais e germe de trigo e atuam como antioxidantes. A proteção contra o dano oxidativo ocorre um anel aromático presente em sua estrutura reage com radicais livres e impede os danos que poderiam causar fragilidade celular. Essa característica faz com que ambas sejam consideradas cofatores. Além disso, a vitamina K participa da formação de alguns com- ponentes da coagulação sanguínea, e consequentemente, sua deficiência pode causar disfunções hemorrágicas. 64UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 64UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Os lipídios sinalizadores são aqueles que agem como mensageiros intracelulares e reagem à um sinal externo via receptor de membrana, desencadeando uma série de reações intracelulares para gerar uma resposta. Eles são representados principalmente por hormônios esteroides (testosterona, estradiol, cortisol, aldosterona), eicosanoides (prosta- glandinas, leucotrienos e tromboxanos) e outros mensageiros celulares (fosfatidilinositol e esfingolipídios de membrana). As prostaglandinas geram algumas respostas associadas à dor e a inflamação, afetando a temperatura corporal, o fluxo sanguíneo para outros locais e órgãos e a con- tração da musculatura lisa. Os tromboxanos atuam na formação de coágulos e redução do fluxo sanguíneo e os leucotrienos regulam a contração da musculatura lisa do pulmão, relacionando-se diretamente com alergias, asma e reações anafiláticas. 4.3 Vitaminas hidrossolúveis O grupo de vitaminas hidrossolúveis é constituído por pelas vitaminas do complexo B (B1 a B12) e a vitamina C. A maioria das vitaminas do complexo B (B1, B2, B3, B5 e B7) participam como coenzimas na respiração celular, um processo do metabolismo que gera energia principalmente a partir de moléculas de carboidratos, proteínas ou lipídios. Além da participação nesse processo que é primordial para o funcionamento dos organismos, as vitaminas também podem apresentar outras funções que apresentaremos a seguir, juntamente com as principais fontes e as consequências associadas à deficiên- cia de cada uma. A vitamina B1 ou tiamina é encontrada principalmente em cereais integrais, feijão, leite, fígado, peixe e carnes magras, apresenta papel importante na manutenção do tônus muscular e do sistema nervoso e sua carência pode ocasionar perda de apetite e fadiga muscular, além de causar uma doença chamada beribéri. A vitamina B2 ou riboflavina pode ser absorvida pelo organismo através da ingestão de carnes magras, ovos, leite, fígado e folhas vegetais. Sua função está associada à saúde da pele, do sistema nervoso e da produção de células do sangue. A vitamina B3 ou niacina é obtida de fontes semelhantes à da vitamina B2 e atua no funcionamento do sistema nervoso, digestório e na manutenção do tônus muscular. A carência de niacina pode causar fraqueza, nervosismo, distúrbios digestivos e feridas na pele. A vitamina B5 ou ácido pantotênico é encontrado principalmente em carnes e grãos integrais e suas funções estão associadas à síntese de alguns lipídios e hemácias. A vitamina B6 ou piridoxina tem fonte e funções semelhantes às das vitaminas B1, B2 e B3, além de também apresentar papel no funcionamento normal das células nervosas e na formação de hemácias. A carência de piridoxina associa-se das doenças de pele, apatia e distúrbios nervosos. 65UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 65UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Apesar de estar presente no ovo e fígado, a vitamina B7 ou biotina não precisa ser ingerida na dieta, pois é produzida por bactérias da microbiota intestinal. É encontrada principalmente em ovos e cereais integrais e sua função está relacionada com a síntese de proteínas e de células sanguíneas. A vitamina B9 ou ácido fólico possui papel importante na gravidez, relacionando-se com a síntese de bases do DNA e consequentemente com a multiplicação celular e forma- ção fetal. As principais fontes são folhas vegetais, frutas e cereais integrais, além da sua produção ser favorecida pelo metabolismo de bactérias presentes na microbiota intestinal. A vitamina B12 ou cianocobalamina é obtida de carnes, frutos do mar, ovos, leites e derivados e está associada com a síntese de nucleotídeos, renovação celular, maturação das hemácias. A carência desta vitamina pode causar distúrbios nervosos e anemia. A vitamina C ou ácido ascórbico é uma das vitaminas mais conhecidas por seu papel de auxiliar no sistema imunológico e na formação de colágeno. Níveis ideais desta vitamina contribuem para conservar o tecido conjuntivo, melhorar a integridade da pele e dos vasos sanguíneos. As principais fontes de vitamina C são frutas, principalmente as cítricas (laranja, limão, acerola, tomate, morango, etc.) e vegetais como couve e repolho. A carência de vitamina C pode causar dores nas articulações, alterações gengi- vais e dentárias, insônia, nervosismo e cansaço. A doença escorbuto é ocasionada pela deficiência desta vitamina e é caracterizada por um quadro de anemia com hematomas, sangramento nas gengivas e dentes enfraquecidos. As principais vitaminas, com suas respectivas fontes, funções e consequências das suas deficiências estão resumidas no quadro a seguir com destaque às fontes, funções e deficiências associadas à carência (hipovitaminoseou avitaminose): QUADRO 3 - PRINCIPAIS VITAMINAS (LIPOSSOLÚVEIS E HIDROSSOLÚVEIS) Vitamina Fonte Função Deficiência A ou retinol Vegetais amarelos, fígado, manteiga e gema de ovo Pele, mucosas e retina Secura da pele, olho e mucosas, cegueira, retardo no crescimento B1 ou tiamina Cereais, arroz, feijão, leite carnes, pão Respiração celular, tônus muscular e sistema nervoso Fadiga, perda de apetite e beribéri B2 ou riboflavina Carnes magras, ovos, leite, fígado e folhas vegetais Respiração celular, pele, sistema nervoso e produção de células sanguíneas Lesões na boca e inflamação na conjuntiva ocular 66UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 66UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas B9 ou ácido fólico Folhas vegetais, frutas e cereais integrais, microbiota intestinal Síntese de nucleotídeos e multiplicação celular Má formação fetal B12 ou cianocobalamina Carnes, ovos, leite e derivados Síntese de nucleotídeos, renovação celular, maturação das hemácias Distúrbios nervosos e anemia C ou ácido ascórbico Frutas e vegetais Formação de colágeno e integridade de vasos sanguíneos, pele, gengivas, sistema imunológico Escorbuto, dores nas articulações, nervosismo, alterações dentárias D ou colecalciferol Conversão por radiação solar (pré –vitamina D) Formação de ossos e dentes Raquitismo E ou tocoferol Cereais, leite, óleos, folhas Reprodução e antioxidante Aborto e esterilidade K ou filoquinona Vegetais, amêndoas, microbiota Coagulação sanguínea e antioxidante Hemorragias Fonte: A autora (2021). 67UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 5. CARBOIDRATOS Os carboidratos são as biomoléculas mais abundantes na Terra e apresentam fun- ções variadas nos diversos organismos vivos. Uma das funções mais importantes desem- penhadas por esse grupo de moléculas é a de servirem de fonte de energia para animais e vegetais. Também estão presentes como componentes estruturais e protetores de bactérias e vegetais, além de participar de processos metabólicos com papel no reconhecimento e adesão entre células. Quimicamente, são caracterizados como poli-hidroxialdeídos ou poli-hidroxiceto- nas, ou ainda, precursores desses compostos. Isso significa que apresentam na consti- tuição química um esqueleto de hidrocarbonetos com função aldeído ou cetona, ou seja, um grupamento carbonila (C=O) no início ou no meio da cadeia, respectivamente (Figura 20). Usualmente são chamados de açúcares e recebem o sufixo “ose” no final de sua nomenclatura. FIGURA 20 - ESTRUTURA QUÍMICA DE CARBOIDRATOS Fonte: NELSON e COX, 2018. 68UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 68UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Os carboidratos geralmente são classificados em três grupos de acordo com o tamanho de sua cadeia em monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos. Os mo- nossacarídeos são os carboidratos mais simples por apresentarem cadeias curtas de até seis carbonos e apenas uma unidade de poli-hidroxicetona ou poli-hidroxialdeído. Os oligossacarídeos geralmente são formados por cadeias curtas de monossa- carídeos e os polissacarídeos por cadeias longas, sendo considerados polímeros de mo- nossacarídeos. A seguir, iremos apresentar as características e funções dos carboidratos, evidenciando essas classes mais detalhadamente. 5.1 Monossacarídeos Os monossacarídeos são encontrados na natureza como sólidos, cristalinos e incolores solúveis em água e na maioria das vezes apresentam sabor adocicado. Estru- turalmente são constituídos por cadeias não ramificadas e seus carbonos são unidos por ligações simples. De acordo com a quantidade de carbonos em seu esqueleto, recebe as seguintes denominações: ● 3 carbonos = trioses ● 4 carbonos = tetroses ● 5 carbonos = pentoses ● 6 carbonos = hexoses ● 7 carbonos = heptoses As tetroses, pentoses, hexoses e heptoses tendem a formar estruturas cíclicas, ou seja, apresentam seu esqueleto de carbono e hidrogênio organizados em formato de anel. As pentoses já foram citadas anteriormente e possuem função importante como componen- tes dos nucleotídeos e dos ácidos nucleicos, a desoxirribose (DNA) e ribose (RNA). As hexoses também recebem destaque, sendo a glicose os monossacarídeos mais abundante presente na natureza. A glicose é utilizada como fonte de energia pela maioria dos organismos e é formada como produto da fotossíntese em plantas. Em solução aquosa passa por um fenômeno chamada mutarrotação, na qual suas formas linear e cíclica ficam em constante interconversão. Esse fenômeno aumenta a sua susceptibilidade à oxidação, e consequentemente, é considerada um açúcar redutor. Uma característica importante dos monossacarídeos é que eles apresentam pelo menos um átomo de carbono anomérico (quatro ligantes diferentes), e por isso, apresenta formas isoméricas opticamente ativas. Dessa forma, os monossacarídeos podem apresentar a mesma fórmula molecular e diferir apenas pela sua disposição es- pacial. Isso reflete na determinação das propriedades biológicas e também nas funções de alguns polissacarídeos. 69UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 69UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 5.2 Dissacarídeos Os monossacarídeos são unidos uns aos outros por ligações glicosídicas que se formam pela união de dois grupos hidroxila (OH), geralmente presente no carbono ano- mérico de um dos açúcares, produzindo uma molécula de água (Figura 21). Na maioria das vezes essas ligações são do tipo α (1 → 4), ou seja, formadas entre o carbono 1 de um açúcar e o carbono 4 de outro. A imagem ilustra a união de dois monossacarídeos de glicose por uma ligação glicosídica, resultando em um dissacarídeo chamado maltose. FIGURA 21 - REPRESENTAÇÃO DA LIGAÇÃO GLICOSÍDICA DO TIPO Α (1→4) ENTRE DOIS MONOSSACARÍDEOS (MALTOSE) 70UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 70UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Outros dissacarídeos importantes são a lactose (galactose + glicose) e a sacarose (glicose + frutose). A lactose está presente no leite e a sacarose é o açúcar de mesa e ambas apresentam sabor adocicado, ela usualmente pode ser responsável por causar um estado de intolerância, pois não é absorvida pelo intestino delgado antes de passar por um processo de hidrólise pela enzima lactase. A lactase quebra a lactose em galactose e glicose, que podem ser absorvidas pelo intestino. Entretanto, alguns indivíduos não apresentam essa enzima e desenvolvem a into- lerância à lactose, e nesses casos, a lactose fica dissolvida na luz no intestino aumentando a osmolaridade do meio. Como consequência, o intestino não absorve água e isso resulta em casos de diarreia. Além disso, as bactérias intestinais têm a capacidade de fermentar a lactose, produzindo gás carbônico (CO2) que causa inchaço, cólica e gases. A sacarose, diferente da glicose, não apresenta suscetibilidade à oxidação e por isso é considerada é um açúcar não redutor. Essas características a torna adequada para armazenar e transportar energias em plantas e além disso, também é um produto interme- diário da fotossíntese. 5.3 Polissacarídeos Os polissacarídeos são formados por repetições de monossacarídeos e diferem na constituição dependendo do tipo e quantidade de monossacarídeo, das ligações que os unem e também do grau de ramificação que apresentam em sua cadeia. De modo geral, podemos classificá-los em dois grupos: os homopolissacarídeos, que apresentam apenas um tipo de monossacarídeo, e os heteropolissacarídeos que apresentam dois ou mais tipos diferentes de monossacarídeos (Figura 22). FIGURA 22 - CLASSIFICAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS EM HOMOPOLISSACARÍDEOS E HETEROPOLISSACARÍDEOS EVIDENCIANDO CADEIAS NÃO RAMIFICADAS E RAMIFICADAS 71UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 71UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Os dois homopolissacarídeos mais conhecidos são o amido e o glicogênio, e ambos estão relacionados com o armazenamento de energia em plantas e animais,respectiva- mente. No caso dos heteropolissacarídeos, também podemos citar dois mais importantes, a celulose e a quitina, ambas associadas às funções de suporte em extracelular. O amido e o glicogênio são polímeros de subunidades de glicose, usando da es- tratégia para armazenar intracelularmente essa molécula energética de forma compacta, na forma de grânulos ou grandes agrupamentos. O amido exerce essa função nas células vegetais e é encontrado em grande quantidade em tubérculos como a batata. Estruturalmente, o amido é formado por uma cadeia não ramificada de glicose (amilose) unida por ligações do tipo α (1 → 4) e outra cadeia ramificada (amilopectina) formada por ligações do tipo α (1 → 6). Essas duas cadeias organizam-se no formato de hélice dupla com suas extremidades redutoras voltadas para um lado e as extremidades não redutoras para o outro (Figura 23). FIGURA 23 - ORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA DO AMIDO FORMADA PELA AMILOPECTINA E AMILOS Fonte: NELSON e COX, 2018. O glicogênio está presente nas células animais, principalmente no fígado e músculo esquelético, pois são tecidos que exigem maior disponibilidade de glicose. Assim como a celulose, é formado por duas cadeias: a principal apresentando ligações do tipo α (1 → 4) e a outra ramificada por ligações do tipo α (1 → 6). Essa estratégia de armazenamento é muito importante para as células, pois se a glicose fosse armazenada em quantidade equivalente na forma monomérica ocorreria uma descompensação osmótica. Dessa forma, a célula pode utilizar a glicose através de enzi- mas de degradação como as glicosídeas ou amilases, presentes na saliva ou no intestino, que vão quebrando o polímero (polissacarídeo) e liberando suas unidades monoméricas (monossacarídeos) quando necessário. 72UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 72UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas A celulose é o polissacarídeo mais abundante e é encontrada na natureza na forma fibrosa, resistente e insolúvel em água. Ela está presente na parede celular de plantas desempenhando papel estrutural importante. Estruturalmente é formada por uma cadeia linear resistente à tensão muito parecida com a amilose, diferindo na configuração das ligações entre glicose que são do tipo β (1 → 4). Essa configuração confere propriedades físicas muito diferentes entre a celulose e a amilose, além de influenciar na capacidade de digestão desse polissacarídeo. A maioria dos animais não possuem uma enzima capaz de hidrolisar ligações do tipo β (1 → 4), e, portanto, são incapazes de digerir e utilizar a celulose como fonte de combustível. Entre- tanto, outros tipos de organismos como os cupins, os fungos e as bactérias apresentam a celulase e conseguem digerir o material presente na estrutura das plantas. A quitina também é um composto linear que apresenta ligações do tipo β (1 → 4), diferindo da celulose pela presença de um grupo amina acetilado no lugar de uma hidroxila. Esse polissacarídeo também forma fibras longas e confere propriedade importante como componente de exoesqueleto de artrópodes. Outros heteropolissacarídeos importantes que podemos citar são: o peptidoglicano, ágar e os glicosaminoglicanos. O peptidoglicano é constituído por resíduos de N-acetilgli- cosamina e ácido N-acetilmurâmico organizados em cadeias alternadas e estão presentes na parede celular de bactérias desempenhando função estrutural e protetora. O ágar é encontrado na parede de algas e tem a propriedade de formar géis, apresentando utilidade comercial na culinária, na produção de géis de agarose, meios de cultura, ou ainda, cápsu- las para medicamentos. Os glicosaminoglicanos são heteropolissacarídeos lineares formados por unidades repetidas de dissacarídeos e estão presentes como componentes estruturais da matriz extracelular (MEC). A MEC é constituída por uma mistura de proteínas (colágeno, elastina e fibronectina) que formam uma rede de ligações cruzadas com esses glicosaminoglicanos, representados por: N-acetilglicosamina, N-acetilgalactosamina, ácido hialurônico, sulfato de condroitina, dermatan-sulfato, queratan-sulfato e heparan-sulfato. O quadro a seguir apresenta as características desses glicosaminoglicanos de forma resumida: 73UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 73UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas QUADRO 4 - PRINCIPAIS GLICOSAMINOGLICANOS E SUAS FUNÇÕES Glicosaminoglicanos Funções Ácido hialurônico Confere consistência gelatinosa ao humor vítreo dos olhos; Presente em tendões e cartilagens com função lubrificante, confere elasticidade e resistência à tensão. Sulfato de condroitina Auxilia na resistência à tensão das cartilagens, tendões e liga- mentos e das paredes da aorta Dermatan-sulfato Auxilia na flexibilidade da pele, presente em vasos sanguíneos e válvulas cardíacas Queratan-sulfato Presente em cartilagens, ossos e várias estruturas córneas formadas por células mortas como chifres, cabelos, unhas e garras. Heparan-sulfato Sintetizado por todas células animais, interagem com grande número de proteínas, incluindo fatores de crescimento e com- ponentes da MEC. Fonte: Adaptado de: NELSON e COX, 2018. 5.4 Oligossacarídeos e glicoconjugados Os carboidratos também possuem papel importante quando estão associados a outros tipos de moléculas, os chamados glicoconjugados. Geralmente, nesses casos são classificados em três tipos: os proteoglicanos, as glicoproteínas e os glicolipídios. De modo geral, desempenham funções associadas ao armazenamento de combustível, função es- trutural, transporte de informações, comunicação entre as células e a MEC, sinalização e reconhecimento celular. Os glicoconjugados são encontrados principalmente no glicocálice da célula na forma de oligossacarídeos associados a componentes da membrana plasmática. Observe na Figura 24 o glicocálice, uma camada formada do lado mais externo sobre a membrana apresentando glicoproteínas e glicolipídios na sua composição. 74UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 74UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 24 - REPRESENTAÇÃO DO GLICOCÁLICE ACIMA DA MEMBRANA PLASMÁTICA, EVIDENCIANDO A PRESENÇA DE GLICOPROTEÍNAS E GLICOLIPÍDIOS Fonte: ALBERTS, 2021. As glicoproteínas são constituídas por oligossarídeos ligados às proteínas e estão presentes no glicocálice, na MEC, no sangue, ou ainda, na parte interna da célula em organelas específicas. Elas apresentam em sua constituição locais específicos que são usados como pontos de reconhecimento celular em imunoglobulinas ou hormônios, além de apresentarem afinidade de ligação com outras proteínas como as lectinas. Os glicolipídios são formados por resíduos de açúcar associados à lipídeos e suas funções também são associadas à capacidade de ligar-se as lectinas. Além disso, eles também estão presentes na bainha de mielina de células nervosas auxiliando na condução nervosa, na superfície de hemácias determinando os grupos sanguíneos humanos, na membrana de bactérias conferindo sorotipo específico e contribuindo para virulência. As lectinas utilizam tanto dos glicolipídios como das glicoproteínas como pontos de reconhecimento celular, para sinalização e também adesão celular. O movimento dos neu- trófilos nos vasos sanguíneos em direção aos tecidos quando há inflamação é um exemplo que envolve um grupo de lectinas. Essas lectinas estão presentes na superfície interior dos vasos e reconhece os neutrófilos ligando-se à glicoproteínas da célula e partir disso controlam e direcionam o movimento dos neutrófilos. 75UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 75UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Os proteoglicanos são formados por uma proteína com um ou mais glicosaminogli- canos ligados e estão presentes na superfície celular como proteínas integrais de membra- na ou livres na MEC. Os mais conhecidos são os proteoglicanos de membrana ligados a heparan-sulfato, que são divididos em duas famílias:os sindecanos e os glipicanos. Alguns podem formar os agregados de proteoglicanos, que são grupos de proteí- nas ligados a uma única molécula de ácido hialurônico. Na MEC esses agregados formam uma rede de ligações cruzadas que confere resistência e elasticidade à matriz extracelular. Nesse caso, desempenham função de ancoragem e modulação através de receptores de superfície celular que permitem a propagação de sinais para o interior da célula. SAIBA MAIS A maioria dos óleos vegetais consumidos na dieta são constituídos de triacilgliceróis com ácidos graxos insaturados (líquidos à temperatura ambiente) ou saturados (sólidos à temperatura ambiente). Para aumentar a estabilidade dos óleos de cozinha em altas temperaturas realiza-se um processo de hidrogenação, que converte muitas ligações duplas em simples e aumentam seu ponto de fusão. Entretanto, essa hidrogenação faz com que as ligações cis sejam convertidas em ligações trans. O consumo de gorduras trans aumentam o nível de triglicerídeos e de colesterol LDL no sangue e por isso está associado à um maior risco de desenvolver doenças cardíacas. Fonte: NELSON e COX, 2018. 76UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 76UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas SAIBA MAIS A anemia falciforme é uma doença genética que ocorre em pessoas que herdam dois alelos (homozigotos) do gene que codifica a subunidade β da hemoglobina, determi- nando um defeito na estrutura da hemoglobina. Esses pacientes apresentam uma for- ma defeituosa de hemoglobina em formato de S que implica na sua incapacidade de oxigenação em níveis normais, além de ser insolúvel e formar agregados. Os eritróci- tos que carreiam essas hemoglobinas apresentam formas anormais resultantes desses problemas com a forma e a disfunção da hemoglobina dessas células. Os indivíduos que recebem apenas um alelo (heterozigotos) apresentam o traço falciforme e as con- sequências na função da hemoglobina são proporcionalmente muito menores, de forma que costumam levar uma vida praticamente normal. Fonte: (LEHNINGER, 2018). REFLITA Você já ouviu falar em gene mapping? O mapeamento genético é uma abordagem capaz de identificar todos os genes que co- dificam alguma informação e a sua localização no genoma humano. Essas informações vão desde características físicas, o perfil metabólico, até a presença de variantes que causam as doenças genéticas e hereditárias. Fonte: (MIGLIAVACCA, 2020). 77UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 77UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim da segunda unidade, na qual tivemos a oportunidade de conhe- cer as principais biomoléculas presentes nos seres vivos. Até o presente momento focamos em compreender a estrutura química dessas moléculas e caracterizá-las quanto à suas funções como componentes dos organismos e na próxima unidade, vamos conhecer o seu envolvimento no metabolismo propriamente dito. Em primeiro lugar, retratamos os nucleotídeos como constituintes dos ácidos nu- cleicos do DNA e do RNA que possibilitam que todas as informações genéticas das células possam ser processadas e traduzidas em produtos celulares. Também evidenciamos como os componentes do DNA se organizam em estruturas primárias, secundárias e terciárias e como isso reflete na forma tridimensional. Os lipídios foram apresentados de acordo com dois grupos funcionais maiores, os lipídeos de armazenamento e os estruturais. Sendo que, os de armazenamento estão relacionados com o seu papel como combustíveis e os estruturais com a presença na mem- brana, podendo desempenhar funções de adesão, reconhecimento ou transdução de sinal entre o meio intra e extracelular. Outro grupo de lipídeos presente em quantidades menores exercem papel como metabólitos e mensageiros, cofatores enzimáticos ou pigmentos. Em seguida, conhecemos a estrutura básica de aminoácidos e como eles são produzidos a partir do material genético através de um sistema de transformação de pares de bases, o código genético. Esses aminoácidos organizam-se em peptídeos e originam as proteínas, que podem exercer funções diversas nas células, entre enzimas, anticorpos, hormônios e transportadores. Também ressaltamos sobre a importância da organização estrutural desses componentes e como elas impactam no seu papel biológico. Então, as enzimas foram apresentadas de acordo com a sua principal função como catalisadores de reações, detalhando sua interação com o substrato, as características cinéticas da reação e os principais fatores que podem influenciar no seu desempenho. E o papel dos cofatores enzimáticos também foi esclarecido, dando enfoque para as vitaminas e suas principais funções. Por fim, os carboidratos foram caracterizados de acordo com a sua estrutura quí- mica, evidenciamos algumas particularidades e conhecemos os principais representantes desse grupo. De modo geral, podemos dividi-los em monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos, dos quais podemos citar funções variadas como estruturais, de comu- nicação intercelular e de armazenamento. Vários monossacarídeos e dissacarídeos são considerados moléculas chaves, que estão envolvidas em vários processos nos organismos vivos, dos quais alguns serão estudados com maior detalhe na próxima unidade. 78UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 78UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas LEITURA COMPLEMENTAR Artigo científico Caracterização bioquímica de linhagens de soja com alto teor de proteína MORAES, R. M. A., et al. Caracterização bioquímica de linhagens de soja com alto teor de proteína. Pesquisa agropecuária brasileira, v. 41, n. 05, p.725-729, 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pab/a/wLpsNx93kpNRzkHyDZxzpTp/? format=pdf&lang=pt Vitaminas do complexo B: uma breve revisão RUBERT, A., B. ENGEL, A. L. B. ROHLFES, L. MARQUARDT, N. M. B. Vitaminas do complexo B: uma breve revisão. Revista Jovens Pesquisadores, n. 07, p. 30-45, 2017. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/jovenspesquisadores/article/ view/9332/6112 79UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 79UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Princípios de Bioquímica de Lehninger Autor: David L. Nelson e Michael M. Cox. Editora: Artmed. Sinopse: Esta 7ª edição mantém a qualidade que tornou o texto original de Lehninger um clássico na área, com explicações úteis para conceitos complexos e apresentando aos estudantes uma vi- são clara e abrangente da bioquímica como é entendida e praticada hoje. Além de oferecer esclarecimentos importantes e aplicações práticas na medicina, na agricultura e pecuária, na nutrição e na indústria, a bioquímica dedica-se a elucidar o milagre da vida em si. Assim, por aproximar a bioquímica do dia a dia, enfocando seu papel fundamental nos avanços da saúde e do bem-estar humano e incorporando os mais recentes avanços científicos, esta nova edição de Princípios de bioquímica de Lehninger permanece como a referência ideal para estudantes e profissionais da área. FILME / VÍDEO Título: DNA: História da Vida Ano: 1987. Sinopse: A história de rivalidade das duas equipes de cientistas que tentam descobrir a estrutura do DNA. Francis Crick e James D. Watson na Universidade de Cambridge, e Maurice Wilkins e Rosalind Franklin na King’s College London. 80UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 80UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FILME / VÍDEO Título: Anemia Farciforme. Ano: 2011. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=FBXcJN1ETa4 Sinopse: A anemia falciforme é uma doença genética que ocorre em pessoas que herdam dois alelos (homozigotos) do gene que codifica a subunidade β da hemoglobina, determinando um defeito na estrutura da hemoglobina. Esses pacientes apresentam uma forma defeituosa de hemoglobina em formato de S que implica na sua incapacidade de oxigenação em níveis normais,além de ser insolúvel e formar agregados. Os eritrócitos que carreiam essas hemoglobinas apresentam formas anormais resultantes desses problemas com a forma e a disfunção da hemoglobina dessas cé- lulas. Os indivíduos que recebem apenas um alelo (heterozigotos) apresentam o traço falciforme e as consequências na função da hemoglobina são proporcionalmente muito menores, de forma que costumam levar uma vida praticamente normal. https://www.youtube.com/watch?v=FBXcJN1ETa4 81 Plano de Estudo: ● Metabolismo dos carboidratos; ● Ciclo do ácido cítrico e fosforilação oxidativa; ● Metabolismo de lipídeos; ● Metabolismo de proteínas e aminoácidos. Objetivos da Aprendizagem: ● Caracterizar as reações bioquímicas da glicólise, gliconeogênese e via das pentoses-fosfato; ● Compreender os passos do ciclo do ácido cítrico e da fosforilação oxidativa; ● Descrever o processo molecular de fotossíntese; ● Apresentar o processo de oxidação de lipídeos de animais e ressaltar os destinos diferentes em vegetais; ● Compreender o processo de obtenção de nitrogênio pelo ciclo do nitrogênio; ● Descrever o catabolismo de aminoácidos pelo ciclo da ureia e ciclo do ácido cítrico. UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos Professora Me. Andressa Lorena Ieque 82UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos INTRODUÇÃO Olá aluno(a)! Seja bem-vindo a Unidade III da disciplina de bioquímica. Chegamos ao momento de avançar um pouco mais em nosso conhecimento através do estudo minu- cioso das reações bioquímicas das principais biomoléculas que foram caracterizadas na unidade anterior. Vamos dar enfoque aos carboidratos, lipídeos e proteínas, pois vamos destacar principalmente os processos energéticos das células. No primeiro tópico, no metabolismo de carboidratos descreveremos quais os proces- sos metabólicos que envolvem a principal molécula dessa classe para obter energia, a glico- se. As principais rotas metabólicas descritas nesse tópico serão a glicólise, a gliconeogênese e a via das pentoses-fosfato, que são responsáveis pela degradação e produção de glicose. No segundo tópico, estudaremos o processo seguinte do destino da molécula de glicose que resulta na produção significativa de energia para a célula: o ciclo do ácido cítrico e a fosforilação oxidativa. Ambos são interconectados e apresentam uma série de reações, que serão descritas em detalhes com relação aos seus passos e o rendimento energético. No final do segundo tópico será apresentado os mecanismos moleculares envol- vidos no metabolismo de carboidratos em plantas. Uma vez que existem particularidades importantes entre as rotas metabólicas de diferentes organismos, precisamos descrever a fotossíntese, pois é o processo de síntese de energia utilizado pelas plantas. No terceiro tópico, vamos dar destaque ao metabolismo dos lipídeos e descrever o processo de oxidação na produção de energia para a célula. Veremos que a principal diferença é na fase inicial, em que é necessário passar pela etapa de β-oxidação, e a se- guir, também podem entrar no ciclo do ácido cítrico e na fosforilação oxidativa como ocorre para os carboidratos. Serão destacadas algumas particularidades de plantas através da descrição sucinta do ciclo do glioxilato. Por fim, no quarto e último tópico abordaremos sobre as proteínas e aminoácidos. Vamos compreender como as proteínas são transformadas em aminoácidos e quais os processos seguintes para que os aminoácidos sejam catabolizados através do ciclo da ureia ou do ciclo do ácido cítrico. Além disso, considerando a importância do nitrogênio na composição celular de biomoléculas, vamos descrever de forma breve o ciclo do nitrogênio. 83UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos 1. METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS Entre os carboidratos, a glicose apresenta papel especial no metabolismo de plan- tas, animais e microrganismos, pois seu alto potencial energético faz com que ela seja a principal fonte de energia para os seres vivos. Nem todos os organismos possuem glicose disponível para usar como energia, sendo necessário sintetizá-la em alguns casos. Os organismos fotossintéticos são capazes de produzir glicose através da captação de gás carbônico da atmosfera, gerando açúcares de três carbonos que são convertidos em glicose. Já os não fotossintéticos, podem produzir a partir de precursores de carbono pela gliconeogênese. Além da sua função energética, a glicose também é direcionada para outros desti- nos importantes no metabolismo, desempenhando papel de precursor para vários interme- diários de reações metabólicas (Figura 1). Segundo o autor NELSON e COX, a glicose tem quatro destinos principais em animais e vegetais, como segue: Síntese de polissacarídeos complexos direcionados ao espaço extracelular; Armazenada nas células na forma de amido, glicogênio e sacarose; Oxidada a compostos de três atomos de carbono por meio da glicólise para fornecer ATP e intermediários metabólicos; Oxidada pela via das pentoses-fosfato produzindo ribose-5-fosfato para sín- tese de ácidos nucleicos e NADPH para processos biossintéticos redutores. (NELSON e COX, 2018, p. 533). 84UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 84UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 1 - OS QUATRO DESTINOS PRINCIPAIS DA MOLÉCULA DE GLICOSE EM ANIMAIS E VEGETAIS Fonte: NELSON E COX, 2018, p. 533. Sendo assim, vamos focar nosso estudo nesses principais destinos buscando compreender como as vias Biosintética utilizam esse carboidrato para manter a célula em funcionamento. Como já vimos anteriormente, a glicose tende a ser armazenada na forma de amido e de glicogênio. Ambos servem como um estoque energético, sendo possível liberar glicose a partir deles para a produção de energia a célula necessita, como também armazenar este carboidrato quando não for utilizado totalmente. O processo de produção de energia pela liberação de glicose é chamado de gli- cólise, e o processo de estocagem na forma de glicogênio é chamado de gliconeogênese. Vamos descrever a seguir os principais processos envolvidos na utilização e síntese de glicose: glicólise, gliconeogênese e a via das pentoses-fosfato. 1.1 Glicólise A glicólise é uma via metabólica responsável pela produção de energia para tecidos e células animais e vegetais e também microrganismos através da degradação, via oxidação, de moléculas de glicose. Durante o processo, a energia da glicose é conservada na forma de NADH e de ATP. Outros carboidratos endógenos ou oriundos da dieta também podem ser transformados em intermediários e entrar na via glicolítica para produção de ATP. 85UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos A glicose é uma molécula de seis átomos de carbono e na glicólise ela é convertida em duas moléculas de piruvato, que possuem três átomos de carbono cada uma. Essa conversão ocorre em 10 etapas divididas em duas fases: a fase preparatória e a fase de compensação (Quadro 1). A fase preparatória recebe esse nome porque durante as cinco etapas ocorre o consumo de duas moléculas de ATP. Apesar do gasto energético, isso será compensado na próxima etapa, denominada fase de compensação, na qual a energia é recuperada pela produção de ATP. QUADRO 1 - FASES DA GLICÓLISE COM DESCRIÇÃO DAS ETAPAS E ENZIMAS ENVOLVIDAS Fase preparatória 1. Fosforilação da glicose em glicose-6-fosfato pela enzima hexocinase, com consumo de 1 ATP. 2. Conversão da glicose-6-fosfato em frutose 6-fosfato pela enzima fosfohexose-isomerase 3. Fosforilação da frutose-6-fosfato em frutose-1,6-bifosfato pela enzima fosfofrutocinase, com consumo de 1 ATP. 4. Conversão da frutose-1,6-bifosfato em gliceraldeído-3-fosfato e diidroxiacetona-fosfato pela enzima aldolase 5. Isomerização da diidroxiacetona-fosfato a duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato (2) pela triose-fosfato-isomerase Fase compensatória 6. Oxidação e fosforilação de gliceraldeído-3-fosfato (2) em 1,3-bifosfoglicerato (2) pela enzima gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase, com formação de 2 NADH. 7. Fosforilação de 1,3-bifosfoglicerato (2) em 3-fosfoglicerato (2) pela enzima fosfoglicerato cinase, com produção de 2 ATP. 8. Conversão de 3-fosfoglicerato (2) em 2-fosfoglicerato (2) pela enzima fosfoglicerato-mutase. 9. Conversão de 2-fosfoglicerato (2) em fosfoenolpiruvato (2) pela enzima enolase. 10. Conversão de fosfoenolpiruvato (2) em piruvato (2) pela enzima piruvato-cinase, com produção de 2 ATP. Fonte: Adaptado de: NELSON e COX, 2018. Desde a etapa cinco, surgem duas moléculas que são representadas no Quadro 1 pelo número 2 entre parênteses (2). Portanto, após todas as etapas verificamos que uma (1) única molécula de glicose é capaz de gerar duas (2) moléculas de piruvato (Quadro 1). Observe que ocorre produção de dois ATPs (Adenosina Trifosfato) na etapa 7 e dois ATPs na etapa 10, totalizando quatro ATPs. O ATP é produzido a partir da doação de dois gru- pos fosforil ou fosfatos inorgânicos (Pi) ao ADP (Adenosina Difosfato), portanto, para produzir os 4 ATPs da segunda fase necessariamente são utilizados 4 grupos fosforil (Quadro 1). 86UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos A produção de NADH ocorre de forma semelhante, sendo necessário para a sua formação um grupo fosforil para cada NAD+, visualizado na etapa 6 da segunda fase (Qua- dro 1). Na oxidação e fosforilação da etapa 6 ocorre essa reação com produção de dois NADH e um próton de hidrogênio livre (H+). Também vale destacar que na conversão das duas moléculas de 2-fosfoglicerato em duas moléculas de fosfoenolpiruvato há produção de duas moléculas de água (H2O), e por esse motivo, essa etapa da via também recebe o nome de desidratação. Durante a fosforilação da glicose e da frutose-6-fosfato o grupamento fosforil é utilizado e o ATP é convertido em ADP. Como dois ATPs foram consumidos na primeira fase da glicólise, consideramos que o rendimento líquido é de dois ATPs. O piruvato tende a ser direcionado à três destinos dependendo das condições de aerobiose ou anaerobiose. A partir dessas informações, usualmente é produzido um balanço geral da via glico- lítica a partir de uma equação global da glicólise em condições aeróbicas. Ao escrevermos todos os participantes da via metabólica e cancelar os termos comuns aos dois lados, obtemos a equação global. 1.2 Equação completa: Glicose + 2ATP + 2NAD+ + 4ADP + 2Pi → 2 piruvato + 2ADP + 2NADH + 2H+ 4ATP + 2H2O Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 545. 1.3 Equação global: Glicose + 2NAD+ + 2ADP + 2Pi → 2 piruvato + 2NADH + 2H+ + 2ATP + 2H2O Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 545. As duas moléculas de NADH formadas na glicólise são utilizadas na cadeia de transporte de elétrons, na qual os elétrons do NADH são transferidos ao oxigênio na mitocôndria de célula eucarióticas, com produção de energia para síntese de ATP. Esse processo será retomado no próximo tópico sobre fosforilação oxidativa. Na presença de oxigênio, o piruvato pode ser convertido em acetil-CoA e entrar no ciclo do ácido cítrico, que ocorre em animais, vegetais e alguns microrganismos sob con- dições aeróbias. Na ausência de oxigênio ou anaerobiose, o piruvato pode ser fermentado até lactato (fermentação láctica) ou etanol (fermentação alcóolica). Na fermentação a glicose é degradada de forma anaeróbia e a energia é conserva- da na forma de ATP. Realizada por alguns microrganismos parasitas e arqueobactérias que não possuem as enzimas necessárias para a glicólise. 87UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos A fermentação láctica ocorre principalmente no músculo esquelético em baixas con- centrações de oxigênio ou em determinados tecidos ou células como a retina ou eritrócitos. A fermentação alcóolica é muito comum em leveduras e é utilizada como estratégia para fabricação de pães e cervejas, mas também ocorre em tecidos vegetais, invertebrados, protistas e leveduras. 1.4 Gliconeogênese A gliconeogênese é uma via que permite a síntese de glicose a partir de precursores que não são carboidratos. Essa via ocorre de forma semelhante em todos os animais, ve- getais, fungos e microrganismos, diferindo apenas nos precursores, tecidos e na regulação. Em animais, os precursores mais importantes são o lactato, piruvato, triacilglicerí- deos, glicerol e alguns aminoácidos ocorrendo principalmente nos tecidos hepático, renal ou epitelial. As plantas podem utilizar proteínas (aminoácidos) e gorduras (triacilglicerois), além de serem capazes de converter gás carbônico em carboidratos (Figura 2). FIGURA 2 - PRECURSORES PARA A GLICONEOGÊNESE COM DESTAQUE PARA ROTAS ATÉ A GLICOSE-6-FOSFATO Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 559. 88UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos O seu funcionamento segue um sentido oposto ao da glicólise, partindo do piruvato e compostos relacionados em direção à produção de glicose. Podemos destacar que das 10 reações da via glicolítica, sete são exatamente o inverso (etapas 2 e 4 a 9) e três são diferentes porque são irreversíveis (etapa 1, 3 e 10). Na gliconeogênese, as etapas irreversíveis são contornadas por outras reações que utilizam enzimas diferentes e também são irreversíveis. Essas etapas estão destacadas no Quadro 2 abaixo, que representa as reações sequenciais que ocorrem na gliconeogênese a partir do piruvato. QUADRO 2 - REAÇÕES SEQUENCIAIS DA GLICONEOGÊNESE A PARTIR DO PIRUVATO, COM DESTAQUE PARA AS REAÇÕES IRREVERSÍVEIS E NÃO OPOSTAS NA GLICÓLISE Piruvato + ATP → oxalacetato + ADP + Pi x2 Oxalacetato + GTP ⇌ fosfoenolpiruvato + CO2 + GDP x2 Fosfoenolpiruvato + H2O ⇌ 2-fosfoglicerato x2 2-Fosfoglicerato ⇌ 3-fosfoglicerato x2 3-Fosfoglicerato + ATP ⇌ 1,3-bifosfoglicerato + ADP x2 1,3-Bifosfoglicerato + NADH + H+ ⇌ gliceraldeído-3-fosfato + NAD+ + Pi x2 Gliceraldeído-3-fosfato ⇌ di-hidroxiacetona-fosfato Gliceraldeído-3-fosfato + di-hidroxiacetona-fosfato ⇌ frutose-1,6-bi- fosfato Frutose-1,6-Bifosfato ⇌ frutose-6-fosfato + Pi Frutose-6-fosfato ⇌ glicose-6-fosfato Glicose-6-fosfato + H2O → glicose + Pi Fonte: Adaptado de: NELSON E COX, 2018. Assim como para a glicólise, podemos deduzir a equação geral e global da gliconeo- gênese. Inclusive, podemos utilizá-la para comparar com a equação da glicólise e confirmar que elas realmente não são exatamente opostas. A principal diferença está na molécula de ATP, pois se fossem contrárias, a gliconeogênese exigiria apenas dois ATPs e não quatro. 1.5 Equação global: 2 piruvato + 4ATP + 2NADH + 2H+ + 4H2O → glicose + 4ADP + 2GDP + 6Pi + 2NAD+ Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 563. 89UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos Via das pentoses-fosfato A via das pentoses-fosfato apresenta duas fases (uma oxidativa e uma não oxida- tiva) e é responsável por produzir um precursor importante, a ribose-5-fosfato (Figura 3). Apesar de a via glicolítica ser o principal destino da glicose-6-fosfato, esse produto também pode ser redirecionado a via das pentoses-fosfato nas seguintes situações principalmente: 1. Utilização da ribose-5-fosfato para produzir nucleotídeos, RNA, DNA e coenzimas que são essenciais para o funcionamento celular em células que apresentam alta taxa de multiplicação, como células da medula óssea, da pele e do intestino. 2. Utilização do NADPH como agente redutor 2.1) na biossíntese de ácidos graxos (fígado e tecido adiposo), colesterol e hormô- nios esteroides (fígado, gônadas e glândulas adrenais) 2.2) para amenizar os danos causados por espécies reativas de oxigênio (EROs) em células expostas ao oxigênio como os eritrócitos e células da córnea. FIGURA 3 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA VIA DAS PENTOSES-FOSFATO Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 565. 90UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos A fase oxidativa inicia pela transformação de glicose-6-fosfato em 6-fosgoliconato pela ação da enzima glicose-6-fosfato-desidrogenase. Nessa primeira etapa, forma-se um NADPH que é utilizado por uma enzima glutationa-redutase para transformar a glutationa reduzida (GSH) em glutationaoxidada (GSSG). A GSSG é a principal responsável por proteger a célula dos danos oxidativos das EROs. Na segunda etapa, o 6-fosfogliconato é transformado em ribulose-5-fosfato pela enzima 6-fosfogliconato-desidrogenase, com produção de um NADPH que pode ser utili- zado na biossíntese redutora de ácidos graxos e esteróis e gás carbônico (CO2). Por fim, a ribulose-5-fosfato é convertida em ribose-5-fosfato. Quando as pentoses fosfato não são utilizadas para a produção de nucleotídeos, coenzimas, DNA e RNA a fase não oxidativa recicla a glicose-6-fosfato através de rearranjos de esqueletos de carbono. Esse processo envolve as enzimas transcetolase e transalcolase e ocorre principalmente em células que precisam produzir NADPH continuamente. De modo geral, o que determina o direcionamento da glicose-6-fosfato para a via das pentoses fosfato ou para a glicólise é a demanda de NADPH, sendo que a via das pentoses ocorre em maior proporção que a glicólise o quando a demanda de NAPH está alta. A equação global da via das pentoses fosfato é a seguinte: 1.6 Equação global Glicose-6-fosfato + 2NADP+ + H2O → ribose-5-fosfato + CO2 + 2NADPH + 2H+ Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 565. 91UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos 2. CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO E FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA No tópico anterior, vimos que dependendo das condições de aerobiose ou anaerobiose, o piruvato formado na glicólise entra em vias diferentes. Em condições anaeróbias o destino é a fermentação e em condições aeróbias, o ciclo do ácido cítrico. Lembre-se se que partimos da molécula de glicose e estamos vendo a continuação do metabolismo desta molécula. Devido ao consumo de oxigênio e produção de gás carbônico, o ciclo do ácido cítri- co costuma ser denominado como respiração celular. O objetivo desse ciclo é a produção de ATP, ou seja, energia para manter o funcionamento da célula. Geralmente, a respiração celular é dividida em três estágios: a oxidação de compostos orgânicos, a oxidação do acetil-CoA, e por fim, a fosforilação oxidativa (Figura 4). 2.1 Ciclo do ácido cítrico O ciclo do ácido cítrico também pode ser chamado de ciclo de Krebs ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos, e é constituído de uma série de reações biológicas que resultam na produção de energia para as células. Além da glicose, outras moléculas também podem entrar nesse ciclo, mas não são processadas anteriormente em piruvato. Aminoácidos, ácidos graxos e a glicose entrar no ciclo, mas somente a glicose passa por uma transformação em piruvato pela glicólise. 92UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 4 - O CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO, COM DESTAQUE PARA SUAS ETAPAS Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 620. Como a glicose é a principal molécula envolvida, vamos dar destaque aos passos seguintes ao piruvato. No primeiro estágio, as duas moléculas de piruvato geradas na glicólise são convertidas em acetil-CoA através da atividade de um complexo chamado de complexo da piruvato desidrogenase (PDH). Vale destacar que apesar das etapas anteriores serem diferentes para os ami- noácidos e os ácidos graxos, a principal forma na qual estes entram no ciclo é na forma de acetil-CoA. O complexo da piruvato desidrogenase é formado por três enzimas e cinco coen- zimas. As enzimas são a piruvato-desidrogenase (E1), di-hidrolipoil-desidrogenase (E2) e di-hidrolipoil-transacetilase (E3) e as coenzimas: pirofosfato de tiamina (TPP), dinucleotídeo de flavina-adenina (FAD), coenzima A (CoA ou CoA-SH), dinucleotídeo de nicotinamida-a- denina (NAD1) e lipoato. 93UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos É importante chamar a atenção para as enzimas e coenzimas envolvidas na res- piração celular, pois o funcionamento correto delas é essencial para que o ciclo chegue ao final. Inclusive, as interferências ou má formação da enzima, do substrato ou do complexo enzima-substrato podem ocasionar doenças metabólicas importantes. A doença beribéri é um exemplo disto, advinda da deficiência da vitamina tiamina na dieta que é essencial para formar uma coenzima do complexo PDH a TPP. Como con- sequência, o metabolismo é incapaz de completar o ciclo pela oxidação da glicose, e o encéfalo que a utilizam como fonte energética não recebem a energia necessária. Esse complexo age através de cinco reações consecutivas com a participa- ção de todas as enzimas e coenzimas citadas. Nessas reações ocorrem modificações químicas que levam à descarboxilação oxidativa do piruvato gerando gás carbônico e a molécula de acetil-CoA. A partir daí, entramos na segunda etapa do ciclo do ácido cítrico, a oxidação da acetil-CoA. Para melhorar a efetividade da oxidação e evitar a sua metabolização, a acetil-CoA é transformada em oxalacetato. Essa reação marca o início do ciclo, no qual podemos dividir em oito etapas. Acompanhe essas etapas pela lista abaixo e também pela Figura 5. 1. O oxalacetato passa por uma condensação à citrato pela enzima citrato-sintase. 2. O citrato é transformado em isocitrato pela enzima aconitase. 3. O isocitrato é oxidado a α-cetoglutarato pela enzima isocitrato desidrogenase. Uma molécula de NADH e uma de CO2 são liberadas. 4. O α-cetoglutarato é oxidado a succinil-CoA pela enzima α-cetoglutarato-desi- drogenase. Uma molécula de NADH e uma de CO2 são liberadas. 5. O succinil-CoA é convertido em succinato pela enzima A succinil-Coa sintetase. Nessa etapa, a energia libera forma 1 ATP. 6. O succinato é oxidado a fumarato pela enzima succinato desidrogenase. Uma molécula de FADH2 é liberada. 7. O fumarato é transformado em malato pela enzima fumarase. 8. O malato é convertido a oxalacetato pela enzima malato desidrogenase, re- ciclando o componente da primeira etapa do ciclo. Uma molécula de NADH é liberada. 94UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 5 - ETAPAS DO CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO E PRODUTOS DE UMA RODADA A PARTIR DE UMA MOLÉCULA DE GLICOSE Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 635. O rendimento final dessas oito etapas é de apenas 1 ATP, mas no terceiro estágio da respiração celular esse rendimento será bem maior. A fosforilação oxidativa inicia com os transportadores de elétrons NADH (rendimento de 3 moléculas) e FADH2 (rendimento de 1 molécula) que foram produzidos no estágio anterior. 2.2 Fosforilação oxidativa A fosforilação oxidativa é caracterizada por reações de transferência de elétrons nas mitocôndrias. A anatomia da mitocôndria influencia diretamente nessas reações, de for- ma que apesar de a membrana externa permitir a passagem de moléculas e íons, a interna é impermeável e a passagem só é permitida devido a presença de transportadores. Além disso, na matriz mitocondrial encontra-se enzimas, coenzimas, cofatores e intermediários que estão envolvidos na fosforilação (Figura 6). 95UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 6 - VISÃO INTERNA DA ORGANELA MITOCÔNDRIA Dependendo da necessidade do tecido, a quantidade de mitocôndrias pode ser maior para proporcionar uma maior produção de ATP proporcional ao funcionamento des- sas células. Por exemplo, o músculo cardíaco exige muito mais energia do que o fígado e apresenta cerca de três vezes mais mitocôndrias. O início da fosforilação é marcado pela entrada de elétrons na cadeia respiratória, dos quais foram coletados anteriormente por enzimas desidrogenases e transferidos para os transportadores de elétrons chamados de nucleotídeos de nicotinamida (NAD e NADP) ou nucleotídeos de flavina (FAD e FMN). Além desses, também existem outros carreadores de elétrons que são as ubiquino- nas e proteínas que apresentam ferro como os citocromos e as proteínas ferro-enxofre. Elas foram complexas que acoplam uma séria de reações de transferência de elétrons, à medida que elas acontecem forma-se um gradiente de prótons e a diferença de concentração gera uma energia que impulsiona a síntese de ATP. O aceptor final de elétrons da cadeia respiratória é o oxigênio e quando ele recebeos prótons há formação de água (H2O). A figura a seguir resume as etapas da respiração aeróbia, demonstrando que o piruvato proveniente da glicose entra na mitocôndria para ser oxidado pelo ciclo de Krebs. E os produtos desse processo são dióxido de carbono (CO2), água e energia (ATP), como podemos perceber: 96UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 7 - RESPIRAÇÃO CÉLULA AERÓBIA A passagem de dois elétrons do NADH ao oxigênio é equivalente a aproximadamen- te 2,5 ATP, enquanto a do FADH2 a 1,5 ATP. Essa proporção permite calcula o rendimento total de ATP após a oxidação completa da glicose. Ao avaliar o processo desde a glicólise, pela equação global observamos um rendimento de: ● 2 NADH (na etapa de conversão do gliceraldeído 3-fosfato ao 1,3-bifosfoglicerato) ● 4 ATP (2 na etapa de conversão do 1,3 bifosfoglicerato a 3-fosfoglicerato e 2 na etapa de conversão do fosfoenolpiruvato a piruvato). Nas oito etapas do ciclo são formadas 3 moléculas de NADH, 1 de FADH2 e 1 ATP por molécula de glicose. Entretanto, também devemos considerar que na preparação do piruvato para entrar no ciclo como acetil-CoA, também é gerado 1 NADH. Uma vez que o ciclo é realizado a partir de 2 moléculas de glicose, temos que o rendimento total é o dobro disso: ● 2 de NADH (na etapa de conversão de 2 moléculas de piruvato a 2 moléculas de acetil-CoA); ● 6 moléculas de NADH (2 na etapa de conversão de 2 moléculas de isocitrato a α-cetoglutarato; 2 na etapa de conversão de 2 moléculas de α-cetoglutarato a succinil-CoA; e 2 na etapa de conversão do 2 moléculas de malato a 2 moléculas de oxalacetato); ● 2 de FADH2 (2 na etapa de conversão de 2 moléculas de succinato a 2 molécu- las de fumarato); ● 2 de ATP (na etapa de conversão de 2 moléculas de succinil-CoA a 2 moléculas de succinato). 97UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos Considerando que a cada duas moléculas de NADH geramos 2,5 ATP, temos que as 10 moléculas de NADH (2 provenientes da glicólise + 2 da formação da acetil-CoA + 6 do ciclo do ácido cítrico) produzirão 25 ATP. Se uma molécula de FADH2 gera 1,5 ATP, as 2 moléculas de FADH2 gerarão 3 ATP. Estes 25 ATP somados aos 6 ATP (4 da glicólise e 2 do ciclo do ácido cítrico), produzem em média 31 ATP (30 a 32 ATP) por oxidação completa de duas moléculas glicose. 2.3 Fotossíntese Os organismos fotossintéticos apresentam algumas diferenças importantes no processo de síntese de energia, e por isso, iremos estudar esses processos através da descrição da fotossíntese e da fotofosforilação. Em plantas, a fosforilação utiliza a luz como fonte de energia e pode ser chamada como fotofosforilação. Na reação de fotossíntese, o gás carbônico atmosférico (CO2) e a água (H2O) são utilizados como reagentes para produzir compostos orgânicos (CH2O) e oxigênio (O2). Como vimos na unidade 1 no tópico sobre princípios de bioenergético e metabolis- mo, os produtos da fotossíntese são aproveitados por organismos não fotossintéticos para degradar compostos ricos em energia em CO2 e H2O para gerar ATP. Portanto, à medida que os fotossintéticos utilizam os produtos dos não fotossintéticos, e vice-versa, os ciclos se complementam. Um ponto importante para destacar é que para sintetizar esses produtos, esses organismos precisam de energia. Essa energia é obtida inicialmente de a utilização da luz parar gerar NADPH e ATP. Isso é importante para possibilitar que o fluxo de elétrons aconteça, e partir daí, o processo fica muito parecido ao que ocorre na fosforilação oxidativa sendo criado um potencial eletroquímico para produzir ATP. Os cloroplastos são as organelas que representam o local em que a fotossíntese ocorre, suas características morfológicas são semelhantes à da mitocôndria, apresentando uma membrana externa que permite a passagem de pequenas moléculas e outra externa que exige o envolvimento de transportadores (Figura 8). Os tilacoides são membranas que apresentam pigmentos complexos de enzimas em suas membranas, necessários para as reações dependentes de luz e para a formação de ATP. Os pigmentos mais importantes são a clorofila e os pigmentos acessórios chama- dos de carotenoides, com destaque para o β-carotena e a luteína. Esses tilacoides se organizam em pilhas chamadas de grana e as suas membranas são chamadas de lamelas. O estroma é um tecido de sustentação que contém várias enzi- mas necessários nas reações de assimilação de carbono (Figura 8). 98UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 8 - REPRESENTAÇÃO ESTRUTURAL DE UM CLOROPLASTO Os pigmentos fotossintéticos são arranjados em fotossistemas que apresentam uma mistura de moléculas de clorofila, carotenoides e luteína. Cada pigmento absorve luz em um comprimento de onda característico. Como cada comprimento corresponde a uma cor específica, a combinação de pigmentos é responsável pela gama de cores que os organismos apresentam. As plantas têm cor verde porque seus pigmentos absorvem luz das regiões cor- respondentes à cor azul e vermelha do espectro, refletindo principalmente a luz verde. A clorofila a e b são os principais pigmentos coletores das plantas, possibilitando a absorção da maior parte de energia presente na luz solar. FIGURA 9 - FOTOSSISTEMAS NAS MEMBRANAS TILADOIDES Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 762. 99UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos Apesar de todos pigmentos absorverem luz (pigmentos coletores ou antenas), ape- nas alguns pigmentos do fotossistema mantém contato com o centro de reação fotoquímica, que transforma a luz em energia química (Figura 9). Nas plantas temos dois fotossistemas importantes, o I e o II, que apresentam a seguintes organizações: ● Fotossistema II: apresenta quantidade equivalente de moléculas de clorofila a e b e um centro de reação P680. ● Fotossistema I: apresenta maior quantidade de clorofila a do que de clorofila b e um centro de reação P700. Além desses fotossistemas, também existe um complexo muito importante para a produção de energia em organismos fotossintéticos, o complexo citocromo b6f. ● Complexo citocromo b6f: formado com uma associação de enzimas que interliga o fotossistema II e I através da catalisam a transferência de elétrons do centro de reação P680 ao P700. Tendo em vista todas as características relevantes das células vegetais fotossintéti- cas, agora podemos pontuar em passos as etapas da fotossíntese. A fotossíntese é dividida em duas etapas de acordo com a características das reações envolvidas, sendo a primeira etapa constituída por reações dependentes de luz e a segunda por reações de assimilação de carbono, também chamada de ciclo de Calvin (Figura 10). FIGURA 10 - REPRESENTAÇÃO DA FOTOSSÍNTESE EM PLANTAS NO INTERIOR DO CLOROPLASTO 100UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos 2.4 Reações dependentes de luz 1. Uma molécula de clorofila absorve luz, fica em um estado excitado e transfere a energia diretamente a uma molécula vizinha de pigmento. O estado excitado significa que um elétron da molécula passa para um nível maior de energia e pode ser transferido para um aceptor de elétron. Quando o elétron é transferido, a molécula retorna ao estado não excitado com carga positiva e sua carga é estabilizada novamente quando uma molécula vizinha doa um elétron para ela. Assim, inicia-se uma cadeia de oxidação-redução. 2. Quando um elétron atinge uma molécula de pigmento que está associada a um fotossistema, um centro de reação é excitado e uma sequência de reações acontecem. A excitação do centro P680 pela recepção de um elétron impulsiona a transferência desse elétron através da feofitina, seguido de uma plastoquinona ligada a proteínas (PQA e PQB), formando plastoquinol. 3. O complexo b6f conecta o fotossistema II com o I através da proteína plasto- cianina que carrega os elétrons do plastoquinol formado no centro de reação P680 até o centro de reação P700 do fotossistema I. 4. Após a excitação do centro P700,o elétron recebido é transferido por uma série de carreadores até a ferredoxina, que é responsável por reduzir NADP+ a NADPH. 5. A comunicação entre os dois fotossistemas forma um gradiente de prótons através da membrana tilacoide que é utilizado para produzir NADPH e ATP na fotofosforilação. 6. Ao fim de toda transferência de elétrons, obtém-se cerca de 2 NADPH e 3 ATP para cada oxigênio produzido. 2.5 Reações de assimilação de carbono ou ciclo de Calvin Estágio 1: 3 moléculas de CO2 são condensadas à 3 compostos de 5 carbonos (ribulose-1,5-bifosfato) para formar 6 moléculas de 3-fosfoglicerato (Figura 11). Estágio 2: 6 moléculas de 3-fosfoglicerato são reduzidas a trioses-fosfato formando 6 moléculas de gliceraldeído-3-fosfato. Nesse estágio há gasto de 6 ATP e 6 NADPH, com liberação de 6 ADP provenientes do ATP e 6 H+, 6 NADPH+ e 6 Pi provenientes do NADPH+ (Figura 11). Estágio 3: 5 moléculas de gliceraldeído-3-fosfato são recicladas e forma-se 3 moléculas de ribulose-1,5-bifosfato para reiniciar o ciclo. Nessa etapa são consumidas 3 moléculas de ATP com liberação de 3 ADP. A molécula que sobra de gliceraldeído-3-fosfato pode ser utilizada para formar moléculas de combustível, sacarose para o transporte ou amido para o armazenamento de energia (Figura 11). 101UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos No final do processo, conclui-se que são gastos 9 ATP e 6 NADPH para realizar a fi- xação de três moléculas de CO2, mas em contrapartida são formados os produtos sacarose, amido e outros precursores energéticos na forma de trioses-fosfato (gliceraldeido-3-fosfato) que podem ser utilizados na glicólise para produzir mais energia para a célula. FIGURA 11 - REAÇÕES DE ASSIMILAÇÃO DE CARBONO DE ORGANISMOS FOTOSSINTÉTICOS Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 781. 102UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos 3. METABOLISMO DE LIPÍDEOS Os lipídios representam uma das mais importantes fontes energéticas para os orga- nismos e normalmente ficam localizados principalmente no tecido adiposo na forma de reser- va energética. Os ácidos graxos também advêm da dieta, e quando há necessidade de gerar energia, precisam ser absorvidos no intestino ou mobilizados dos sítios de armazenamento. Por serem insolúveis, quando ingeridos a absorção intestinal precisa ser facilitada por processos emulsificantes por que as enzimas envolvidas na quebra dos ácidos graxos (lipases) são hidrossolúveis. Esse processo de emulsificação é realizado pelos sais biliares, sintetizados no fígado e liberados no intestino, transformando-os em micelas. A mobilização de lipídeos é controlada por hormônios em resposta aos níveis ener- géticos de glicose disponível e também à necessidade de obter energia. Em baixos níveis de glicose, a adrenalina e o glucagon ativam uma enzima na membrana plasmática que produz um mensageiro intracelular chamado AMP cíclico (AMPc), e este induz a ativação de lipases sensíveis a hormônios. A seguir, as lipases convertem os triacilgliceróis em mono e diglicerídeos, ácidos graxos livres e glicerol, que são absorvidos pela luz intestinal. Nesse ponto, podemos des- tacar alguns destinos importantes da mobilização: 1. Conversão em triacilglicerois e empacotamento com colesterol e proteínas em agregados, gerando os quilomícrons. 2. Associação diversas com proteínas, formando lipoproteínas (VLDL, VHDL, entre outras). 103UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos 3. A maioria dos ácidos graxos livres se ligam à albumina sérica para ser transpor- tados pelo sangue até os tecidos. 4. O glicerol passa pelas seguintes conversões enzimáticas: a glicerol-3-fosfato → diidroxiacetona-fosfato → gliceraldeído-3-fosfato. O gliceraldeído-3-fosfato é oxidado na glicólise. A associação as proteínas formando os quilomícrons e lipoproteínas diversas ocor- re para que o transporte, através do sangue e da linfa, para outros tecidos possa ocorrer. E à medida que são mobilizados podem ser degradados por outras lipases em ácidos graxos que são absorvidos pelos tecidos para serem oxidados para obter energia ou armazenados. O armazenamento ocorre principalmente quando a quantidade ingerida na dieta ultrapassa a necessidade de energia. Para isto, o fígado converte os ácidos graxos em tria- cilglicerois e os empacotam com lipoproteínas para formar as VLDLs, que são direcionadas ao tecido adiposo para tornar-se uma reserva energética. No fígado, além da produção de energia os lipídeos também podem ser dire- cionados para a formação de corpos cetônicos, o acetoacetato e o β-hidroxibutirato. Os compostos são solúveis no sangue e na urina e são uma forma de transportar os ácidos graxos para outros tecidos não hepáticos como músculo esquelético, cardíaco ou renal. Isso é importante, pois permite a oxidação de lipídeos de forma contínua independente da oxidação de lipídeos no fígado. Antes da utilização dos lipídeos como fonte de combustível, eles precisam ser direcionados para a membrana externa das mitocôndrias e transformados, por enzimas acil-CoA-sintetases, em compostos de alta energia chamados de acilgraxo-CoA. Esses compostos seguir em direção ao citoplasma para síntese de lipídeos ou migrar para o interior da mitocôndria para iniciar o processo de oxidação e formação de energia. O processo de oxidação completa de lipídeos ocorre em três etapas: (I) a oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa a fragmentos de dois carbo- nos, na forma de acetil-CoA (β-oxidação); (II) a oxidação de acetil-CoA a CO2 no ciclo do ácido cítrico; e (III) a transferência de elétrons de coenzimas (transportadoras de elétrons) reduzidas à cadeia respiratória mitocondrial. (NELSON e COX, 2018, p. 649) Apenas para relembrar, confira novamente a Figura 4 no segundo tópico, que evidencia que assim como a glicose, os lipídeos também podem entrar no ciclo do ácido cítrico através da formação da acetil-CoA, e consequentemente, produzir energia. Sendo assim, no tópico anterior já estudamos as etapas II e III citadas acima, portanto, vamos dar enfoque agora apenas à etapa de β-oxidação, que explica como os ácidos graxos são transformados em acetil-CoA (Figura 12). 104UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 12 - ETAPAS DA OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 655. A β-oxidação ocorre em quatro passos: 1. O acil-graxo CoA é transformado em trans-∆2-enoil-CoA pela enzima acil-CoA- -desidrogenase. Os elétrons retirados são conservados em 1 FADH2. 2. Trans-∆2-enoil-CoA é transformada em β-hidroxiacil-CoA pela enzima enoil- -CoA-hidratase, consumindo 1 molécula de água. 3. β-hidroxiacil-CoA é convertida em β-cetoacil-CoA pela enzima β-hidroxiacil-CoA- -desidrogenase. Os elétrons são conservados em 1 NADH. 4. β-cetoacil-CoA é transformada em acetil-CoA pela enzima acil-CoA-acetiltransfe- rase ou tiolase, pela adição de uma molécula de coenzima A (CoA). 105UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos O NADH e o FADH2 transferem seus elétrons conservados para os transportares de elétrons NADH-desidrogenase e flavoproteína de transferência de elétrons (ETF), respecti- vamente. Assim, os elétrons entram na cadeia respiratória e a medida que passam para o aceptor final O2 formam-se os ATP. Cada FADH2 gera a síntese de 1,5 ATP, enquanto cada NADH gera 2,5 ATP. O comprimento das cadeias de acil-graxo CoA pode variar, apresentando maior ou menor número de carbonos. Observe na figura 12 que nesse exemplo, o acil-graxo CoA apresenta 16 carbonos e é chamado de palmitoil-CoA. Esses quatro passos que constituem a β-oxidação resultam na redução da cadeia do acil-graxo CoA em dois átomos de carbono. Para que o palmitoil-CoA completamente consumido, esses quatro passos precisam ser repetidos por sete vezes. Isso significa o envolvimento de 7 FADH2 (etapa 1), 7, molé- culas de água (etapa 2), 7 NADH (etapa 3) e 7 CoA. O saldo resultante é de 8 moléculas de acetil-CoA, 17,5 ATP (2,5 x 7) provenientes do NADH e 10,5 (1,5x 7) moléculas de ATP provenientes do FADH2. Podemos representar a equação global da seguinte forma (NELSON e COX, 2018, p. 657): Palmitoil-CoA + 7CoA + 7FAD 6 7NAD+ + 7H2O → 8 acetil-CoA + 7FADH2 + 7NADH + 7H+ As 8 moléculas de acetil-CoA podem entrar no ciclo do ácido cítrico e a seguir na fosforilação oxidativa para gerar mais ATP. Como vimos no tópico anterior (página 18), ao desconsiderar os 2 NADH gerados na etapa de conversão da glicose à acetil-CoA, temos que nas etapas seguintes a cada 2 moléculas de acetil-CoA gera-se um saldo de 6 NADH e 2 FADH2, além de 2 ATP por rodada: ● 6 moléculas de NADH (2 na etapa de conversão de 2 moléculas de isocitrato a α-cetoglutarato; 2 na etapa de conversão de 2 moléculas de α-cetoglutarato a succinil-CoA; e 2 na etapa de conversão do 2 moléculas de malato a 2 moléculas de oxalacetato); ● 2 de FADH2 (2 na etapa de conversão de 2 moléculas de succinato a 2 molécu- las de fumarato); ● 2 de ATP (na etapa de conversão de 2 moléculas de succinil-CoA a 2 moléculas de succinato). Ao multiplicarmos isso por 4, que é a quantidade de vezes que as 8 moléculas de acetil-CoA completarão o ciclo do ácido cítrico, teremos um total de 24 NADH e 8 FADH2 e 8 ATP. Esses 24 NADH produzirão 60 ATP (24 x 2,5) e os 8 FADH2, 12 ATP (8 x 1,5). Se somarmos esse saldo de ATP ou saldo da etapa de β-oxidação (17,5 do NADH e 10,5 do FADH2) temos o saldo final da oxidação completa de um lipídeo, sendo 108 ATP (60 + 12 + 10,5 + 17,5 + 8). 106UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos O exemplo descrito anteriormente mostrou a oxidação de um ácido graxo saturado, ou seja, sem duplas ligações. Entretanto, é importante ressaltar que vários ácidos graxos e fosfolipídios de animais e plantas são insaturados. Nesses casos, a presença de ligação dupla impede a ação da enzima enoil-CoA-hidratase. Para permitir que o processo ocorra, é necessário duas enzimas adicionais na etapa de β-oxidação. Vale ressaltar que em alguns organismos, o destino do acetil-CoA pode ser diferente. Nas plantas, por exemplo, o acetil-CoA até pode ser utilizado para gerar energia, mas sua função principal é a de síntese de componentes celulares. Quando o objetivo é a produção de energia, a β-oxidação ocorre nos peroxissomos e quando o objetivo é a biossíntese de produtos celulares, nos glioxissomos e peroxissomos. Nos peroxissomos, o primeiro passo da oxidação dos triacilglicerois difere do pro- cesso mitocondrial pela transferência de elétrons do FADH2 para o O2, gerando peróxido de hidrogênio (H2O2). Devido ao seu potencial tóxico, este composto é rapidamente trans- formado em água e oxigênio pela ação de uma enzima chamada catalase, abundante nos peroxissomos e glioxissomos. Outra diferença importante é que o NADH formado no segundo passo é expor- tado para o citosol. Apesar de as enzimas envolvidas também apresentarem diferenças, as reações são essencialmente as mesmas. No final da β-oxidação no peroxissomos, a acetil-CoA é exportada para as mitocôndrias, para entrar no ciclo do ácido cítrico. Os glioxissomos são peroxissomos especializados presentes nas sementes em germinação. Nessas organelas os triacilglicerois têm função de percursos biossintético e após os processos de β-oxidação, a acetil-CoA formada é convertida pelo ciclo do glioxilato em precursores para a gliconeogênese. Alguns organismos como plantas, bactérias e leveduras não conseguem originar fosfoenolpiruvato para realizar a gliconeogênese, porém, conseguem utilizar o acetato como fonte desse composto e ao mesmo tempo produzir energia através da metabolização dele pelo ciclo do glioxilato. Nas plantas, o ciclo do glioxilato ocorre nos peroxissomos é parecido com o ciclo do ácido cítrico, iniciando com a acetil-CoA e seguindo as etapas (Acompanhe pela Figura 13): 1. Condensação de acetil-CoA a oxalacetato pela enzima citrato-sintase, formando citrato. 2. Conversão do citrato a isocitrato pela enzima aconitase 3. O isocitrato é convertido a succinato e a glioxilato pela enzima isocitrato-liase 4. O glioxilato é transformado em malato pela enzima malato-sintase 5. 5. O malato é convertido a oxalacetato pela malato-desidrogenase para reunir o ciclo. Nessa etapa é gerado 1 NADH. O succinato produzido na terceira etapa é exportado para as mitocôndrias e con- versito em oxalacetato pelo ácido cítrico, e ele pode ser utilizado para realizar a gliconeo- gênese e síntese de sacarose nas plantas (Figura 13). 107UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 13 - CICLO DO GLIOXILATO E SUA INTERAÇÃO COM O CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO E GLICONEOGÊNESE EM PLANTAS Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 801. 108UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos 4. METABOLISMO DE PROTEÍNAS E AMINOÁCIDOS A oxidação de aminoácidos pode ocorrer sob as condições de degradação de ami- noácidos a fim utilizá-los como fonte de energia ou simplesmente eliminar no organismo. Esse processo é denominado catabolismo e ocorre nas seguintes condições: jejum, dieta com excesso de proteínas ou degradação normal de proteínas. A produção de energia partir de aminoácidos não é tão comum quanto a de carboi- dratos e lipídeos, ocorrendo em os organismos carnívoros. As plantas raramente utilizam essa via para obtenção de energia, pois costumam conservá-los para a biossíntese de produtos celulares, como proteínas e ácidos nucleicos. A Figura 14 resume os destinos metabólicos dos aminoácidos e das proteínas em mamíferos. 109UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 14 - VISÃO GERAL DO CATABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS NOS MAMÍFEROS Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 676. Observe que as fontes de aminoácidos são proteínas da dieta ou intracelulares. No caso de a fonte ser a dieta, assim como os lipídios, as proteínas precisam do auxílio de alguns hormônios e enzimas para serem degradadas à aminoácidos, que a seguir, serão absorvidos no trato gastrointestinal. Os aminoácidos absorvidos são transportados até o fígado que é o local em que ocorre o catabolismo dos aminoácidos. O passo seguinte é a separação do grupamento amino presente em sua consti- tuição e liberação na forma de amônia (NH4 +) e esqueleto de carbonos. A amônia é tóxica para a célula e não pode ser mantida na sua forma livre. Por isso, é direcionada para a síntese de aminoácidos, nucleotídeos e outras aminas biológicas importantes para a célula, e quando em excesso, deve ser excretada pelo ciclo da ureia. 110UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos Os esqueletos de carbono seguem o mesmo percurso padrão que vimos para os carboidratos e lipídeos, nos quais podem entrar no ciclo do ácido cítrico para gerar energia. Observe que a entrada de aminoácidos no ciclo do ácido cítrico e da ureia ocorre na forma de compostos químicos específicos, os α-cetoácidos e o carbamoil-fosfato, respectivamen- te (Figura 14). Essas transformações serão estudadas à medida que entrarmos em cada um desses processos. Para facilitar o nosso estudo sobre o metabolismo de aminoácidos, vamos dividir o aprendizado através da caracterização das rotas subsequentes à separação dos aminoáci- dos em amônia e esqueletos carbonados, abordando nesse caminho o ciclo da ureia e sua relação com o ciclo do ácido cítrico. 4.1 A amônia A formação do grupo NH4+ ocorre por um processo enzimático no qual o grupo α-amino do aminoácido é transferido para o α-cetoglutarato. As enzimas envolvidas são as aminotransferases ou transaminases e os produtos resultantes são o α-cetoácido (aminoá- cido sem o grupo α-amino) e glutamato (α-cetoglutarato com o grupo amino) (Figura 15). FIGURA 15 - PRIMEIRA ETAPA DA TRANSFORMAÇÃO DO AMINOÁCIDO Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 679. 111UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos O glutamato formado na primeira etapa migra para o citosol e mitocôndria e com auxilia da enzima glutamato-desidrogenase libera o grupo amino na forma de amônia, reci- clando o α-cetoglutarato. O α-cetoglutarato pode entrar no ciclo do ácido cítrico e ou na via de síntesede glicose. A amônia livre produzida nos tecidos é tóxica para as células e precisa ser transpor- tada até o fígado para ser excretada. Esse transporte é realizado de uma forma não tóxica principalmente pela glutamina e a alanina. A glutamina é formada a partir da reação do glutamato com amônia livre pela ação da enzima glutamina-sintetase. Ela geralmente está envolvida no transporte de amônia de tecidos extra-hepáticos para o sangue, e a seguir, para o fígado ou os rins. Quando em ex- cesso a glutamina é revertida novamente em amônia e glutamato pela enzima glutaminase e a amônia entra no ciclo da ureia. Já a alanina está envolvia no transporte de amônia do tecido muscular esquelético até o fígado através de um ciclo específico denominado de ciclo da glicose-alanina. Nos músculos, o glutamato transfere o seu grupo α-amino para o piruvato pela ação da alanina- -aminotransferase e produz a alanina e o α-cetoglutarato. Ao chegar no fígado, a alanina transfere o seu grupo amino para o α-cetoglutarato com auxílio da mesma enzima, alanina-aminotransferase, e produz glutamato e o piruvato. O piruvato pode ser convertido em glicose e ser destinado para o músculo, enquanto o glutamato libera o grupo NH4+ que entrará no ciclo da ureia (Figura 16). O ciclo da alanina-glicose é uma estratégia de economia de energia, uma vez que a produção de glicose será produzida pelo fígado poupando o músculo de todo metabolismo e disponibilizando glicose pronta. FIGURA 16 - CICLO DA GLICOSE-ALANINA Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 683. 112UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos 4.2 O Ciclo da ureia O ciclo da ureia tem como principal objetivo metabolizar a amônia tóxica em um produto não tóxico que pode ser eliminado do organismo através dos rins. Esse ciclo ocorre no interior da mitocôndria e no citosol, sendo resumido em cinco etapas: 1. Na mitocôndria, duas moléculas de amônia (NH4 +) reagem com gás carbônico (CO2) na forma química de bicarbonato (HCO3 - ) para formar carbamoil-fosfato, através da ação da enzima carbamoil-fosfato-sintetase I. Nessa reação há consumo de 2 ATP com liberação de 2 ADP e 1 Pi. 2. O carbamoil-fosfato entra no ciclo da ureia e doa seu grupo carbamoil para or- nitina formando citrulina, pela ação da enzima ornitina-transcarbamoilase. Nessa reação há liberação de 1 Pi. A citrulina passa para o citosol e reage com um aspartato que entra no ciclo, formando arginino-succinato pela ação da enzima arginino-succinato-sintetase. Nessa reação há consumo de 1 ATP que gera 1 AMP e 2 Pi. 3. No citosol, o arginino-succinato é clivado em arginina livre e fumarato pela enzi- ma arginino-succinase. O fumarato entra na mitocôndria e se une à intermediários do ciclo do ácido cítrico, interconectando o ciclo da ureia e do ácido cítrico. 4. A arginina do citosol é clivada em ureia e ornitina pela enzima arginase. Nessa reação há consumo de 1 molécula de água. Por fim, a ureia entra na corrente sanguínea e pode ser excretada na urina após filtração renal (Figura 17). Ao avaliar os detalhes das reações que constituem o ciclo da ureia podemos pontuar que há consumo de 2 moléculas de NH4 + (etapa 1), 1 HCO3 - (etapa 1), 3 ATP (2 da etapa 1 + 1 da etapa 2) e 1 molécula de água (etapa 4). Por outro lado, foram produzidos 2 ADP (etapa 1), 3 Pi (1 da etapa 1 + 2 da etapa 2), 1 AMP (etapa 2) e 1 molécula de ureia (etapa 4). Diante disso, podemos montar a sua reação global: 2 NH4 + + HCO3 - + 3ATP + H2O → ureia + 2ADP + 4 Pi + AMP + 2H+ Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 688. 113UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 17 - DESCRIÇÃO DAS VIAS METABÓLICAS DO CICLO DA UREIA A conexão entre o ciclo da uréia e do ácido cítrico que ocorre na etapa 3 é evi- denciada na figura pelo circuito do aspartato-arginino-succinato. O nome do circuito vem do fato que as reações que envolvem esses três compostos fornecem intermediários ou metabólitos que interligam as vias de ambos os ciclos. Essa interconexão representa uma vantagem energética para a célula, pois o fumarato gerado produz 1 NADH e recupera 2,5 ATP, diminuindo o gasto de energético do ciclo da uréia. 4.3 Esqueletos carbonados Os aminoácidos podem ser catabolizados no sentido de produção de glicose ou de corpos cetônicos, sendo classificados em aminoácidos glicogênicos e cetogênicos, res- pectivamente. Os produtos de degradação dos aminoácidos, independente do grupo a qual pertencem, conseguem entrar no ciclo do ácido cítrico. O Quadro 3 abaixo resume os ami- noácidos de acordo com a classificação desses dois grupos e seus produtos de degradação. 114UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos QUADRO 3 - CLASSIFICAÇÃO DOS AMINOÁCIDOS EM GLICOGÊNICOS E CETOGÊNICOS E SEUS PRINCIPAIS DA SUA DEGRADAÇÃO Glicogênicos Arginina Glutamato α-cetoglutaratoGlutamina Histidina Prolina Isoleucina Succinil-CoA Metionina Treonina Valina Fenilalanina Fumarato Tirosina Asparagina Oxalacetato Aspartato Alanina Piruvato Cisteína Glicina Serina Treonina Triptofano Cetogênicos Fenilalanina Acetoacetil-CoA Leucina Lisina Triptofano Tirosina Isoleucina Acetil-CoA Leucina Treonina Triptofano Fonte: Adaptado de: NELSON e COX, 2018, p. 690. Como podemos ver no quadro, os aminoácidos glicogênicos podem ser degra- dados em diversos compostos como o piruvato, o α-cetoglutarato, o succinil-CoA, o fu- marato e o oxalacetato. Todos estes podem ser transformados em glicose ou glicogênio. Já os cetogênicos são degradados fígado à acetoacetil-CoA ou Acetil-CoA e passam por processos metabólicos que convertem esses compostos em corpos cetônicos, o acetoa- cetato e o β-hidroxibutirato. Essas informações também podem ser visualizadas na Figura 18, que ilustra em qual parte do ciclo do ácido cítrico que os produtos de degradação dos aminoácidos irão se inserir. 115UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 18 - ILUSTRAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DOS AMINOÁCIDOS E SUA RELAÇÃO COM O CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 690. O nitrogênio é um elemento químico muito importante e essencial para a produção de aminoácidos, nucleotídeos e ácidos nucleicos. O nitrogênio está presente em abundân- cia em sua forma molecular na atmosfera (N2), porém, na maioria dos organismos vivos ele só pode ser utilizado nas reações metabólicas na sua forma reduzida. As plantas e as bactérias desempenham papel importante nesse assunto, uma vez que são capazes de realizar a fixação do N2 da atmosfera. Esse processo é caracterizado pelo ciclo do nitrogênio, que descreveremos a seguir (Figura 19). 116UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FIGURA 19 - CICLO DO NITROGÊNIO 1. Bactérias fixadoras de nitrogênio que vivem em raízes de plantas leguminosas como simbiontes fixam o N2 atmosférico através da sua redução, produzindo amônia (NH3 ou NH4 +) (Figura 19). Esse processo ocorre pela ação de um complexo de enzimas chamado complexo da nitrogenase, constituído por dinitrogenase-redutase e dinitrogenase. Pelo menos 16 moléculas de ATP são consumidas. Segundo o autor NELSON e COX (2018), acredita-se que o alto gasto energético na primeira etapa de nitrificação (16 ATP) é a razão das bactérias sobreviverem em simbiose com plantas. Provavelmente as bactérias utilizam os ATP gerados pelo ciclo do ácido cítrico em plantas para fixar o nitrogênio em quantidades relevantes. 2. Bactérias do solo oxidam a amônia em nitrito (NO2 -) e nitrato (NO3 -) no processo de nitrificação (Figura 19). As plantas e outras bactérias podem adquirir o nitrato e o nitrito do solo e por ação das enzimas nitrato e nitrito-redutases transformá-los em amônia. As plantas e bactérias incorporam essa amônia em aminoácidos, o glutamato e a glutamina, através de reações enzimáticas (Figura 19). 117UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos A associação de NH4 + ao glutamato pela enzima glutamina-sintetase produz glutamina. Já o glutamato é formado por uma reação entre glutaminae α-cetoglutarato catalisada pela enzima glutamato-sintetase. Os animais podem obter o nitrogênio através dos aminoácidos presente nas plantas (Figura 19). 3. Bactérias e fungos desnitrificantes podem converter o NO3 - em N2 , geralmente sob condições anaeróbias para utilizá-lo como aceptor final de elétrons no lugar do O2 na produção de ATP nesses organismos (Figura 19). Quando os animais ou outros organismos morrem, o nitrogênio presente em sua constituição volta ao solo, ficando novamente disponível para a ação das bactérias nitrifican- tes. Além disso, as bactérias anamox presentes no solo são capazes de oxidar a amônia de forma anaeróbia e converter tanto a amônia quanto o nitrito em N2 atmosférico (Figura 19). SAIBA MAIS Você sabia que no jejum prolongado e na doença diabete os corpos cetônicos são pro- duzidos em excesso? Tanto o jejum prolongado quanto o diabetes não tratado podem levar a produção exage- rada de corpos cetônicos. No jejum, a gliconeogênese utiliza os intermediários do ciclo do ácido cítrico e desviam a acetil-CoA para a produção de corpos cetônicos. Na diabete, o nível baixo de insulina não permite a captação de glicose suficiente e o metabolismo de ácidos graxos é ativado para produção de acetil-CoA e produção de corpos cetônicos. O problema disso é que os corpos cetônicos produzidos abaixam o pH do sangue cau- sando uma condição conhecida como acidose. A acidose é perigosa nos casos extremos e pode causar coma e até morte. Laboratorialmente, a acidose pode ser diagnosticada pela quantificação dos níveis de corpos cetônicos na urina ou no sangue. As pessoas com dieta muito restrita em calorias também utilizam lipídeos como fonte de energia e podem apresentar altas taxas de corpos cetônicos, com risco de entrar tam- bém em estado de cetose. Fonte: NELSON e COX, 2011, p. 667. 118UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos REFLITA Você já havia parado para pensar qual tipo de fonte energética proporciona mais ener- gia: os carboidratos ou os lipídeos? O armazenamento de lipídeos na forma de gordura é mais eficiente do que o acúmulo de carboidratos. Entretanto, os carboidratos são extremamente importantes para manter níveis de glicose no sangue, pois estes que são utilizados como fonte de energia ime- diata no decorrer do dia, enquanto os lipídeos estocam energia que pode ser utilizada ao longo de semanas de uma forma mais lenta. Fonte: COELHO, T.; MENIM, R.; CABRAL, R.; DRUMMOND, R. SAID, R. Lipídios: mais que vilões, uma fonte de energia. Texto apresentado no programa: Na Onda da Vida, da Rádio UFMG Educativa FM 104,5. Adaptado por Hugo Huth. Disponível em: https://www.ufmg.br/cienciaparatodos/wp-content/ uploads/2011/08/37-lipidiosmaisqueviloesumafontedeenergia.pdf. Acesso em: 15 out. 2021. https://www.ufmg.br/cienciaparatodos/wp-content/uploads/2011/08/37-lipidiosmaisqueviloesumafontedeenergia.pdf https://www.ufmg.br/cienciaparatodos/wp-content/uploads/2011/08/37-lipidiosmaisqueviloesumafontedeenergia.pdf 119UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da Unidade III do nosso material sobre o metabolismo dos car- boidratos, lipídeos e proteínas, destacando as principais particularidades para os diferentes organismos. No estudo do metabolismo de carboidratos destacamos os principais destinos da glicose na célula de animais e vegetais, caracterizando as vias de degradação e síntese dessa molécula. A glicose é utilizada para gerar energia através de processos de duas vias principais de oxidação: a glicólise e a via das pentoses-fosfato. Ambas as vias foram caracterizadas, destacando cada reação química, os elementos necessários como reagentes e também os produtos formados. E já a glicólise tem como objetivo principal a produção de piruvato, que entra no ácido cítrico e, em seguida, na fosforilação oxidativa, gerando alta quantidade de ener- gia na forma de ATP. Já a via das pentoses-fosfato produz ribose-5-fosfato, um percurso importante para a produção de nucleotídeos, RNA, DNA e coenzimas essenciais para o funcionamento celular. A gliconeogênese também foi detalhada a fim de explicar como a glicose pode ser sintetizada a partir de moléculas diferentes de carboidratos. Suas etapas são muito semelhantes à glicólise ao inverso, entretanto, algumas vias irreversíveis da glicólise são substituídas para tornar possível o caminho contrário até a síntese de glicose. Também vimos que outras biomoléculas também podem ser utilizadas nesse ciclo para gerar energia, porém, as reações iniciais antes de formar a molécula central, acetil- -CoA, que inicia o ciclo diferem entre os diferentes precursores. Depois que a acetil-CoA é produzida ocorrem várias reações de transformações com auxílio de enzimas chave, para produção final de transportadores de elétrons (NADH e FADH2) e ATP. Esses transportadores de elétrons são responsáveis por atuar na transfe- rência de elétrons na cadeia respiratória, e através da criação de um gradiente de prótons gera energia que produz mais ATP. Esse processo de produção de ATP tem como aceptor final de elétrons o oxigênio e por isso é chamado de respiração celular em organismos heterotróficos. O rendimento final de ATP após o ciclo do ácido cítrico e da fosforilação oxidativa é bem significante e essencial para manter a célula em funcionamento. 120UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos Em determinados organismos autotróficos, a produção de energia parte de precur- sores diferentes dos carboidratos, como por exemplo, na fotossíntese que é realizada a partir de gás carbônico, água e luz. Os produtos da fotossíntese são compostos orgânicos e oxigênio, que inclusive, podem ser utilizados por organismos heterotróficos na respiração celular destacando a interação entre esses organismos. No metabolismo de lipídeos estudamos como os ácidos graxos são absorvidos e metabolizados até moléculas que podem ser utilizados para produzir energia, através de um processo de oxidação que inicia na β-oxidação. As etapas da β-oxidação que precedem a entrada dos lipídeos no ciclo do ácido cítrico e fosforilação oxidativa foram detalhados. Após o processo completo, pudemos verificar que o rendimento de ATP a partir de lipídeos é bem maior que a partir da glicose. Além disso, também estudamos como as plantas e alguns microrganismos podem gerar energia a partir de moléculas de lipídeos pelo ciclo do glioxilato. Por fim, o metabolismo das proteínas e dos aminoácidos foi apresentado desde a absorção até os produtos gerados após o ciclo da ureia e do ácido cítrico. Os aminoácidos seguem um padrão de degradação que cria duas vias, uma partir do grupo amino e outra a partir dos esqueletos carbonados. O grupo amino precisa passar por várias reações bioquímicas para evitar que o organismo sofra com a sua toxicidade, de forma que quando a amônia não é utilizada completamente da produção de componentes celulares ela é desviada para o ciclo da ureia para ser eliminada do organismo pela urina. O caminho dos esqueletos carbonados leva à produção de glicose ou de corpos cetônicos que podem ser utilizados para gerar energia. Além disso, o ciclo do nitrogênio também foi apresentado como uma alternativa que os organismos utilizam para conseguir utilizar o nitrogênio disponível na atmosfera possibilitando a produção de componentes celulares e ocorrência das reações bioquímicas que exigem a participação desse elemento. 121UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos LEITURA COMPLEMENTAR Artigo científico Consumo de carboidratos e lipídios no desempenho em exercícios de ultra-resistência Link de acesso: https://www.scielo.br/j/rbme/a/HHDRvSPfJv3DnJZgpBZMhXs/?lang=pt Fonte: FERREIRA, A. M. D.; RIBEIRO, B. G.; SOARES, E. A. Consumo de carboidratos e lipídios no desempenho em exercícios de ultra-resistência. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, n. 7, v. 2, 2001. Dis- ponível em: https://www.scielo.br/j/rbme/a/HHDRvSPfJv3DnJZgpBZMhXs/?lang=pt.Acesso em: 15 out. 2021. Artigo científico Aplicação foliar de aminoácidos e adubação nitrogenada de cobertura na cultura do milho safrinha Link de acesso: https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/hkkkLLyMbxCSd7FQQ4d7rPq/abstract/?lang= Fonte: GAZOLA, D.; ZUCARELI, C.; SILVA, R. R.; GONSECA, I. C. Aplicação foliar de aminoácidos e adubação nitrogenada de cobertura na cultura do milho safrinha. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, n. 18, v. 7, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/hkkkLLyMbxCSd7FQQ4d7rPq/ abstract/?lang=pt. Acesso em: 15 out. 2021. https://www.scielo.br/j/rbme/a/HHDRvSPfJv3DnJZgpBZMhXs/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbme/a/HHDRvSPfJv3DnJZgpBZMhXs/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/hkkkLLyMbxCSd7FQQ4d7rPq/abstract/?lang= https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/hkkkLLyMbxCSd7FQQ4d7rPq/abstract/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/hkkkLLyMbxCSd7FQQ4d7rPq/abstract/?lang=pt 122UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Bioquímica ilustrada de Harper Autor: Rodwell, V. W. et al. Editora: Artmed. Sinopse: Esta 30ª edição comemorativa do Bioquímica ilustrada de Harper representa um marco de longevidade e qualidade deste clássico, que foi publicado inicialmente em 1939. O livro man- tém-se fiel à sua missão original de oferecer uma apresentação concisa dos aspectos mais relevantes da bioquímica para o estudo da medicina. Esta edição traz uma atualização integrada do co- nhecimento, além de ampliar os já consagrados recursos didáticos que fizeram desta obra uma referência da bioquímica atual. FILME / VÍDEO Título: Ciclo de Krebs Ano: 2010 Sinopse: Este vídeo mostra uma breve revisão da glicólise e ex- plica o ciclo de krebs. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=Yq5ByiSFJjw https://www.youtube.com/watch?v=Yq5ByiSFJjw 123UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos FILME / VÍDEO Título: Vídeo animação da Fosforilação oxidativa - Cadeia trans- portadora de elétrons Ano: 2010 Sinopse: Este vídeo mostra a terceira fase da respiração celular com- preendido pela fosforilação oxidativa dentro da cadeia transportadora de elétrons, onde os mediadores NADH e FADH2 lançam os elétrons nos complexos enzimáticos da cadeia transformando em ATP. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=8zJjoJgNV-g. https://www.youtube.com/watch?v=8zJjoJgNV-g 124 Plano de Estudo: ● Integração das vias metabólicas e regulação hormonal do metabolismo; ● Doenças relacionadas ao metabolismo de carboidratos; ● Doenças relacionadas ao metabolismo de lipídeos; ● Doenças relacionadas ao metabolismo de proteínas e vitaminas. Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender como as vias metabólicas atuam de forma integrada através da regulação hormonal; ● Definir a causa das principais doenças relacionadas com o metabolismo de carboidratos; ● Pontuar os principais sintomas e efeitos de doenças metabólicas no corpo humano. UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal Professora Me. Andressa Lorena Ieque 125UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal INTRODUÇÃO Olá aluno(a)! Seja bem-vindo à Unidade IV do curso de Bioquímica. Agora que já fomos apresentados a todos os grupos de moléculas biológicas, as suas principais funções no metabolismo e como elas estão envolvidas em vias metabólicas independentes, pode- remos compreender como essas vias se integram e as consequências que defeitos podem ocasionar em um organismo. No primeiro tópico desta unidade, será apresentado os principais hormônios envol- vidos na integração das vias metabólicas. Veremos que a partir da secreção hormonal em diversas glândulas distribuídas pelo corpo, o cérebro é capaz de captar sinais externo e direcionar uma série de interações entre órgãos e sistemas para controlar o funcionamento do metabolismo de acordo com as necessidades do indivíduo. A seguir, daremos enfoque nas situações das quais os processos metabólicos não ocorrem como o esperado devido falhas nas vias metabólicas individuais, que determinam doenças com consequências graves para o indivíduo. Os mecanismos dos quais essas doenças ocorrem, os sintomas e consequências no funcionamento do organismo serão apresentados no decorrer dos tópicos dessa unidade. No segundo tópico serão apresentadas as doenças associadas ao metabolismo de carboidratos; no terceiro tópico as doenças relacionadas ao metabolismo de lipídeos e, no quarto e último tópico, as doenças associadas do metabolismo de proteínas e também das vitaminas. 126UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 1. INTEGRAÇÃO DAS VIAS METABÓLICAS E REGULAÇÃO HORMONAL DO METABOLISMO Visto as funções de cada um dos principais grupos de biomoléculas, podemos unificar esse conhecimento para compreender como os organismos utilizam dessas vias metabólicas individuais de forma integrada. Essa integração envolve a interação entre órgãos diferentes e dependem de processos de regulação como a disponibilidade de substrato para as reações, os padrões de reatividade de enzimas e também a participação de hormônios. A participação dos hormônios ocorre através de uma comunicação de um hormônio específico com um receptor celular, que é capaz de gerar um sinal que ativa ou inibe vias metabólicas. Essa comunicação é dependente da especificidade e afinidade. A especifi- cidade relaciona-se com complementaridade molecular, ou seja, o encaixe físico entre o receptor e seu ligante, enquanto a afinidade relaciona-se com a manutenção da interação para produção do sinal (Figura 1-a). Os hormônios interagem com a célula em quantidades muito pequenas, mas os si- nais são amplificados por cascatas que fazem com que essas quantidades sejam suficientes para produzir uma resposta. Por exemplo, uma única molécula pode formar um complexo receptor-hormônio que ativa um catalisador, e este, por conseguinte, ativa outro catalisador e o sinal vai sendo repassado até atingir um alvo final. Esse processo é denominado como transdução de sinal (Figura 1-b). 127UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal FIGURA 1 - CARACTERÍSTICAS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL. (1A) ESPECIFICIDADE E (1B) AMPLIFICAÇÃO Fonte: Adaptado de: NELSON e COX, 2018, p. 438. Os receptores hormonais geralmente podem ser encontrados no citosol, na superfí- cie ou no núcleo da célula. Dependendo do tipo do receptor e alvo envolvido, a transdução de sinal pode ser classificada nos seguintes tipos: 1. Através da interação de um hormônio com um receptor metabotrópico, um mensageiro por ser gerado no interior da célula e regular a ação de enzimas através da interação por contato, alostericamente. Alguns mensageiros que agem dessa forma são o cAMP e o cGMP (Figura 2). 128UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 2. O hormônio pode interagir via meio extracelular com um receptor tirosina-cinase, que promove a fosforilação de proteínas citosólicas ou de membrana plasmáticas. 3. A interação do hormônio com um receptor ionotrópico pode resultar na sua abertura ou fechamento, alterando a passagem de íons e o potencial de membrana celular (Figura 2). 4. Os hormônios podem entrar na célula e interagir com receptores nucleares, ge- rando alteração na expressão gênica aumentando ou diminuindo a produção de proteínas importantes em vias do metabolismo (Figura 2). FIGURA 2 - MECANISMOS DA AÇÃO HORMONAL POR RECEPTORES DE SUPERFÍCIE CELULAR (TIPO METABOTRÓPICO E IONOTRÓPICO) E NUCLEAR Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 911. 129UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal No tipo 1 ao 3, os hormônios conseguem ligar-se ao receptor no espaço extracelular e este receptor, que atravessa a membrana, permite a passagem de sinal para o interior da cé- lula. Esse mecanismo de ação ocorre principalmente para hormônio hidrossolúveis (peptídicos e amínicos) que alteram a atividade de enzimas, gerando respostas fisiológicas muito rápidas.Dois hormônios que podemos citar que atuam dessa forma são a insulina e a adrenalina. Já no Tipo 4, os hormônios atravessam a membrana plasmáticas para alcançar as proteínas receptoras que estão presentes no núcleo da célula. Esse mecanismo é comum para hormônios insolúveis em água (esteroides) que alteram a expressão gênica, e por isso, geram respostas mais demoradas. Alguns exemplos de hormônios que agem dessa maneira são os hormônios da tireoide, sexuais, retinoides e calcitriol. A partir de agora, vamos conhecer os principais hormônios envolvidos na regulação do metabolismo e seu modo de ação. De modo geral, os hormônios podem ser classificados de acordo com o trajeto que realizam até o alvo celular em endócrinos, parácrinos e autócrinos: ● Endócrinos: são liberados por uma célula no sangue e transportados para todas qualquer outra célula do corpo (geralmente células distantes das quais foram liberados). ● Parácrinos: são liberados por uma célula no espaço extracelular e transporta- dos até uma célula vizinha próxima. ● Autócrinos: agem sobre a própria célula da qual foram liberados (Figura 3). FIGURA 3 -DIFERENTES MODOS DE SINALIZAÇÃO HORMONAL (AUTÓCRINA, PARÁCRINA E ENDÓCRINA) NA TRANSMISSÃO DE SINAIS PARA OUTRAS CÉLULAS 130UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal Os hormônios são produzidos por estruturas chamadas de glândulas endócrinas (Figura 4). Todos os hormônios do corpo agem em conjunto para produzir uma resposta completa e coordenar todo o metabolismo. A alteração dos seus níveis e a atuação na regu- lação ocorre a partir de informações externas que são interpretadas pelo sistema nervoso, e em seguida, coordenadas em sinais hormonais. Algumas informações externas comuns que geram respostas do sistema nervoso são: a fome, a alimentação, estado de perigo, a pressão sanguínea, entre outros. Todas essas são captadas pelo centro de coordenação do sistema hormonal que fica no hipotála- mo, e este, comunica-se diretamente com a glândula hipófise. A partir daí, todos as outras interações ocorrem. FIGURA 4 - PRINCIPAIS GLÂNDULAS DO SISTEMA ENDÓCRINO Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 915. 131UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal A hipófise é dividida em adeno-hipófise ou hipófise anterior e neuro-hipófise ou hipófise posterior. A adeno-hipófise recebe sinais do hipotálamo para liberar os hormônios chamados de trópicos ou tropinas transportados pelo sangue, mais apropriado para a si- tuação vivenciada. Já a neuro-hipófise produz hormônios peptídicos que se deslocam pelos neurônios e ficam armazenados em grânulos. A imagem a seguir ilustra de forma resumida os principais hormônios liberados pela hipófise e seus alvos secundários, as glândulas responsáveis pela secreção de outros hormônios, que também terão um alvo final em órgãos e tecidos diversos (Figura 5). FIGURA 5 - INTEGRAÇÃO DOS SINAIS EXTERNOS E HORMÔNIOS Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 915. Cada tecido têm uma função especializada que é regulada pela ação hormonal. O fígado é considerado um órgão que possui papel central no metabolismo, no que diz respeito aos processamentos de carboidratos, aminoácidos e lipídeos. Como já vimos na unidade anterior, quando essas moléculas são absorvidas pelo intestino, entram no sangue e são transportadas principalmente para o fígado. Os carboidratos são utilizados principalmente para produzir glicogênio ou utilizar a glicose como fonte de energia. As vias envolvidas no processo de utilização da glicose para gerar energia são glicólise (ciclo do ácido cítrico e cadeia respiratória) ou a via das pentoses-fosfato. A glicose e o glicogênio são muito importantes para o funcionamento do tecido muscular, utilizados para gerar trabalho mecânico. Além disso, a glicose é a principal fonte de energia para os neurônios. 132UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal Os aminoácidos são direcionados para a produção de proteínas (grupo amino) e produção de glicose ou gliconeogênese (esqueletos carbônicos). A amônia gerada nesse processo é convertida em ureia e excretada pelos rins. Os lipídeos são transformados em lipoproteínas que ficam armazenadas no tecido adiposo, ou também podem ser utilizados para gerar ATP ou corpos cetônicos. Como a principal fonte energética advém da glicose, vale ressaltar os hormô- nios envolvidos na regulação de seus níveis. A concentração de glicose sanguínea é mantida pela ação combinada dos hormônios tais como Insulina, Glucagon, Adrenalina e Cortisol, como segue: A Insulina é um hormônio peptídico sintetizado no pâncreas e armazenado nas células β pancreáticas. Ela possui dois precursores: a pré-pró-insulina e a pró-insulina, uma é transformada na outra para pôr fim produzir a insulina madura. Quando concentração de glicose sanguínea é alta a insulina é secretada para estimular a sua absorção celular e convertê-la em glicogênio e triacilgliceróis para armazenamento energético. Assim, após os efeitos da insulina a concentração de glicose sanguínea diminui. O Glucagon também é um hormônio peptídico produzido no pâncreas, mas por células α-pancreáticas e possui efeitos opostos ao da insulina. Quando a concentração de glicose no sangue é baixa, o glucagon é secretado e estimula células a produzirem glicose pela degradação do glicogênio (gliconeogênese ou oxidação de gorduras) para reduzir o uso da glicose e poupar a sua concentração. A adrenalina é um hormônio amínico ou uma catecolamina e é produzida no sistema nervoso ou em glândulas adrenais, atuando como neurotransmissor e hormônio, respectivamente. Ela é liberada quando o corpo exige uma maior atividade, geralmente em situação de luta ou fuga, incentivando o funcionamento dos músculos esqueléticos, coração e pulmões. O Cortisol é um hormônio esteroide produzido a partir do colesterol por glândulas suprarrenais liberado em situações de estresse como ansiedade, dor e baixa concen- tração de glicose sanguínea. Nessas condições ele provoca aumento da liberação de ácidos graxos para serem utilizados como combustível pelos tecidos. Além disso, também estimula a gliconeogênese a partir de aminoácidos no fígado, regulando a concentração de glicose sanguínea. 133UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 2. DOENÇAS RELACIONADAS AO METABOLISMO DE CARBOIDRATOS Conforme visto anteriormente em nosso estudo, o metabolismo de carboidratos envolve várias rotas complexas, com participação de diversos intermediários e enzimas. O mau funcionamento dessas rotas pode ocasionar distúrbios relacionados ao metabolismo de carboidratos. A seguir, pontuaremos algumas doenças relacionadas ao metabolismo de carboidratos. 2.1 Diabetes mellitus O diabetes é um distúrbio metabólico causado por um defeito na produção de insulina no pâncreas. A insulina regula os níveis de glicose no sangue, estimulando a sua absorção quando a glicemia está alta. Quando a insulina não é secretada de forma correta, os níveis de glicose no sangue podem permanecer altos e ocasionar consequências graves para o metabolismo. Geralmente, o diabetes é classificado em Diabetes Tipo 1, Diabetes Tipo 2, Pré- -Diabetes e Gestacional. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), cerca de 90% das pessoas que possuem diabetes desenvolvem o tipo 2, e aproximadamente, 5 a 10% apresentam o diabetes do tipo 1 (SBD, 2021a). 134UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal O Tipo 1 costuma surgir em pessoas mais jovens e até mesmo crianças, pois a sua causalidade está relacionada à destruição autoimune de células pancreáticas. Dessa forma, o organismo não consegue produzir insulina para captar a glicose sanguínea (Figura 6). O controle neste caso está condicionado às injeções de insulina, e por isso, também é chamada de diabetes insulinodependente. FIGURA 6 - DIABETES TIPO 1: DEFEITO NA ABSORÇÃO DE GLICOSE PELA CÉLULA DEVIDO AUSÊNCIADO HORMÔNIO INSULINA Já o Tipo 2 pode manifestar-se mais tarde, na idade adulta ou mais avançada e também em obesos, pois está associada à hábitos de vida não saudáveis como má alimen- tação e sedentarismo. Pode ser chamado também de diabetes resistente à insulina, pois neste caso a insulina é produzida pelas células pancreáticas, o defeito reside no sistema de resposta a esse hormônio (Figura 7). Quando falamos em resistência insulínica significa que a insulina não é capaz de assegurar a captação adequada de glicose nos tecidos periféricos e é incapaz de bloquear a produção hepática de glicose. Assim, a concentração de glicose mantém-se alta no san- gue, e mesmo assim, a sua produção não é interrompida, contribuindo ainda mais para o aumento de seus níveis. 135UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal FIGURA 7 - DIABETES TIPO 2: DEFEITO NA ABSORÇÃO DE GLICOSE PELA CÉLULA DEVIDO AO MAU FUNCIONAMENTO DO HORMÔNIO INSULINA Portanto, no diabetes a glicose não será absorvida pelas células e não poderá passar pelas rotas normais de produção de energia, alterando o metabolismo não apenas dos carboidratos, mas também de lipídeos e proteínas. A figura abaixo demonstra o meta- bolismo energético em casos de diabetes não controlado (Figura 8). Podemos dividir essas alterações em três pontos principais: 1. Diminuição da utilização da glicose como fonte de energia: A não utilização da glicose devido resistência à insulina ou a sua ausência causa um estado de hiperglicemia, caracterizado pela alta concentração de glicose no sangue. A hipergli- cemia é responsável por causar desidratação intracelular pela perda de água para o ambiente externo e aumento da concentração de glicose na urina (glicosúria), pela filtração renal. Ambas causam perda de água e desidratação e explicam os principais sintomas do diabetes, a sede excessiva e o aumento da urina e frequência de micção (poliúria). Além disso, a perda de água e eletrólitos pode causar hipotensão, taquicardia e diminuição da consciência, que reflete em cansaço e fadiga. Em casos graves de perda de eletrólitos e hipotensão exagerada pode ocorrer choque. 2. Aumento do uso de lipídeos como fonte de energia (lipólise): Quando a glicose não está disponível para entrar na glicólise e ciclo do ácido cítri- co, os ácidos graxos passam a ser a principal fonte energética. A oxidação desses lipídeos ocorre de forma excessiva, gerando altos níveis de acetil-CoA que não pode ser comple- tamente oxidada. Assim, o acúmulo de acetil-CoA leva a produção de corpos cetônicos (acetoacetato e β-hidroxibutirato) e ao estado de acidose e cetose. 136UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal No caso de cetoacidose, podem surgir os sintomas de hiperventilação e dificul- dades respiratórias, vômitos com mais perda de água e eletrólitos piorando o estado de desidratação. A presença de corpos cetônicos pode ser detectada na urina (cetonúria) e também é responsável por ocasionar hálito forte nesses pacientes. 3. Aumento o uso de proteínas como fonte de energia (proteólise): A degradação de proteínas e aminoácidos é realizada para proporcionar a entrada no ciclo do ácido cítrico e produzir energia. Concomitantemente, a amônia é produzida e precisa ser transformada em ureia evitar a toxicidade e permitir sua excreção pela urina. O excesso de proteínas prejudica o funcionamento dos rins e ocasiona um estado de uremia, caracterizado pelo acúmulo de ureia e outros íons no sangue. FIGURA 8 - METABOLISMO ENERGÉTICO NO DIABETES NÃO CONTROLADO Fonte: NELSON e COX, 2018, p. 936. 137UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal Essas mudanças bioquímicas podem ser muito debilitantes para o paciente e contribui para a instalação de outras complicações, sendo as mais comuns a cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC) e hipertensão arterial. Além disso, também são muito comuns desenvolvimento de lesões em pequenos vasos sanguíneos que impedem a oxigenação dos tecidos, ocasionando isquemia. Essas lesões aos vasos e o fluxo sanguíneo diminuído explica o risco de doenças cardiovasculares e AVC. Quando atingem os vasos da retina, rins e sistema nervoso cau- sam a retinopatia, a nefropatia e a neuropatia diabética, respectivamente. Na nefropatia, os rins perdem a sua capacidade funcional progressivamente. Inicia com a presença de baixas concentrações de proteínas na urina, evoluindo para maior quantidade até atingir a uremia, com insuficiência renal e necessidade de diálise e até transplante renal. Na retinopatia, surgem microaneurismas nos olhos que evoluem para hemorragia intra-re- tiniana, com edema e espessamento da retina. Com a evolução, a isquemia (falta de oxigenação) da retina e hemorragias aumentam, causando descolamento de retina e perda da visão. Na neuropatia, as fibras nervosas são danificadas pouco a pouco, reduzindo a sensi- bilidade ao toque, a dor e a temperatura. Também é comum o desenvolvimento de parestesias e hiperestesias mais intensas a noite. Os pacientes costumam a gerar lesões, principalmente nos membros inferiores, que por não causarem dor podem passar desapercebidas. Essas feridas, quando presentes nos pés geralmente são chamadas de pé diabéti- co, sendo uma complicação muito comum advinda da neuropatia diabética. Nesses casos, as feridas apresentam-se muito evoluídas e a isquemia por lesões aos vasos contribui para necrose tecidual. Nesses casos, pode ser comum a necessidade de amputação. Na maioria das situações, o diabetes do tipo 2 pode ser controlado pela inserção de exercícios físicos e alimentação controlada evitando carboidratos e açúcares na rotina diária. O uso de medicamentos também pode ser necessário, e em casos raros, pode ser indicado o uso de insulina. O pré-diabetes é um estado que antecede o diabetes e indica que a pessoa apre- senta alto risco de desenvolver o tipo 2. Os níveis de glicose sanguínea encontram-se muito próximos do limite máximo, indicando possível progressão. Geralmente, a mudança de hábitos contribui para retardar e até mesmo evitar a instalação da doença. 138UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal O diabetes gestacional ocorre quando há um aumento da resistência à insulina durante a gestação. Geralmente ela retrocede após o parto, mas ocasiona risco ao bebê, incluindo hipoglicemia neonatal, complicações no parto, crescimento exagerado, obesidade e diabetes tardia. O diabetes também pode ocorrer devido defeitos genéticos associados a funcio- nalidade das células β-pancreáticas, na ação da insulina, pancreatites, endocrinopatias (acromegalia, síndrome de Cushing, hipertireoidismo), induzidos por fármacos e agentes químicos, por infecções (rubéola congênita e citomegalovírus) e imunogenéticas. 4. Doenças do armazenamento de glicogênio Algumas doenças genéticas afetam o funcionamento de enzimas específicas envol- vidas no metabolismo do glicogênio. Nessas situações, geralmente o fígado é o órgão mais afetado porque representa o órgão central da gliconeogênese. De modo geral, as principais consequências são a glicose sanguínea baixa, alta concentração de corpos cetônicos e fígado aumentado (hepatomegalia) (Figura 9). Como o metabolismo do glicogênio está diretamente interligado ao funcionamento muscular, também podem ser comuns sintomas associados ao músculo esquelético como dores musculares, cãibras por exercícios, deficiência no desenvolvimento, raquitismo e em alguns casos também pode causar disfunções renais. Dependendo do defeito genético, as consequências são tão graves que podem ocasionar a morte ainda na infância. A doença chamada Pompe, por exemplo, apresenta defeito em uma enzima que afeta a função de músculos esqueléticos e cardíacos. Na forma infantil, pode causar morte antes dos dois anos de idade. Quando se manifesta na faixa etária juvenil tende a ocasionar defeitos musculares e na formaadulta distrofia, muscular. FIGURA 9 - FACE EM FORMA DE BONECA E HEPATOMEGALIA MACIÇA (DELINEADA POR MARCAÇÕES) E ROSÁRIO RAQUÍTICO OBSERVADOS EM PACIENTE COM SÍNDROME DE FANCONI-BICKEL Fonte: Karande, Kumbhare e Kulkarni, 2007. 139UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 5. Intolerância hereditária à frutose A intolerância hereditária à frutose é causada por um defeito genético na produção da enzima necessária para realizar a metabolização da frutose, a frutose 1,6-difosfatase. A frutose é um tipo de carboidrato ingerido pela dieta e quando não é metabolizada acu- mula-se no sangue e na urina. Essa disponibilidade diminui a formação de glicose e de glicogênio, causando hipoglicemia persistente. A doença manifesta-se nos primeiros meses de vida, quando a criança começa a receber alimentos com frutose, sendo muito comum a percepção dos sintomas após a ingestão de suco de laranja. São sintomas comuns: náuseas, vômitos, irritabilidade, cólicas, vômitos, e devido a hipoglicemia, letargia, convulsões e até coma. Nos casos crônicos, pode ocorrer desnutrição, retardo no desenvolvimento, sinto- mas digestivos como vômitos, diarreia e diminuição do apetite, insuficiência hepática com icterícia, edema e danos renais, sepse, coagulopatia e hepatomegalia. O controle consiste em evitar a ingestão de alimentos com frutose, sacarose e sorbitol (DEMCZKO, 2020a). 6. Galactosemia A galactosemia é causada pela falta de enzima necessária para metabolizar a ga- lactose. Como consequência, um metabólito tóxico (galactitol) causa danos principalmente oculares, hepáticos e renais. A doença costuma manifestar-se após o nascimento com os seguintes sintomas: catarata, vômitos, desidratação, polidipsia, poliuria, dificuldade de alimentação, baixo ganho de peso, anorexia, fraqueza, letargia, dificuldade no crescimento, hepatoesplenomegalia, ascite e cirrose hepática (Figura 10). A catarata é um dos sintomas mais comuns e ela ocorre porque o aumento da concentração de galactitol as células do epitélio do cristalino no olho causam uma alteração na osmolaridade e retenção de água. Consequentemente, a diminuição da solubilidade das proteínas da lente ocasiona a catarata. Também podem ocorrer sintomas neurológicos e endócrinos, percebidos a medida que o crescimento ocorre, como deterioração neurológica, retardo mental, problemas na fala e coordenação. As alterações endócrinas são comuns apenas em meninas, marcadas pela disfunção ovariana, amenorreia e aumento de risco de câncer de ovário. 140UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal FIGURA 10 - PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DA GALACTOSEMIA Fonte: ADAM, 2011. 7. Distúrbios do metabolismo do piruvato Os distúrbios do metabolismo que envolvem a incapacidade de metabolizar piruvato causam um acúmulo de ácido láctico e um estado de acidose láctica. A deficiência pode ocorrer devido a um defeito na formação ou função do complexo da piruvato desidrogenase (PDH), o grupo de enzimas essenciais para a transformação de piruvato no ciclo do ácido cítrico. Se o PDH não é funcional, a oxidação do piruvato não ocorre e não há disponibi- lização de glicose para o cérebro utilizar como fonte de energia. Consequentemente, isso pode causar deficiência neurológica com malformações, convulsões, problemas motores de coordenação e equilíbrio, além de retardo intelectual. Apesar de não ter cura, o controle pode ser feito através de dieta rica em gordura, pobre em carboidratos e suplemento de tiamina, pois esta faz parte da composição do complexo da piruvato desidrogenase (DEMCZKO, 2020a). 141UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 3. DOENÇAS RELACIONADAS AO METABOLISMO DE LIPÍDEOS As doenças relacionadas ao metabolismo de lipídeos são chamadas de dislipi- demias. Elas são caracterizadas pelo aumento ou diminuição anormal de uma ou mais classes de lipoproteínas, sendo classificadas como hiperlipidemias e hipolipidemias, respectivamente. Nas hiperlipidemias, encontra-se altos níveis de lipídeos como colesterol e trigli- céridos no sangue que causam consequências a outros tecidos principalmente devido a deposição dessas gorduras na parede dos vasos sanguíneos, caracterizando casos de aterosclerose. Na aterosclerose ocorre uma produção desregulada de colesterol acima da ne- cessidade para síntese de componentes funcionais do metabolismo. Como resultado, os lipídeos acumulam-se nos vasos sanguíneos formando as placas ateroscleróticas. Essas placas contribuem para o aumento da inflamação local, e com o tempo, podem levar à obstrução de vasos parcial ou completa dos vasos. Quando há obstrução e oclusão de artérias, o fluxo sanguíneo ao coração e outros órgãos é impedido levando à consequência mais comum, a falência cardíaca. O perfil lipídico nesses indivíduos costuma estar associado à altos níveis de LDL e baixos níveis de HDL. 142UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal As hiperlipidemias são comumente classificadas em seis tipos diferentes: 1. Hiperlipidemia do tipo I 2. Hiperlipidemia do tipo IIa 3. Hiperlipidemia do tipo IIb 4. Hiperlipidemia do tipo III 5. Hiperlipidemia do tipo IV 6. Hiperlipidemia do tipo V 3.1 Hiperlipidemia do tipo I ou Síndrome de hiperquilomicronemia familiar grave A hiperlipidemia do Tipo I geralmente se manifesta na infância e caracteriza-se pelo acúmulo de quilomícrons e afeta principalmente o fígado, pâncreas, baço e medula óssea. As principais manifestações são: dor abdominal e hepatoesplenomegalia, devido à pancreatite, degeneração gordurosa no fígado e infarto esplênico. Também são comuns xantomas eruptivos (pápulas amareladas provenientes do acúmulo de lipídeos em macrófagos) e lipemia retiniana (acúmulo de lipídeos nos vasos da retina). Os xantomas podem aparecer nas regiões das pálpebras (palpebrais), de tendões de aquiles e das mãos (tendinosos) ou nos cotovelos e joelho (tuberosos) (Figura 11, 12 e 13). FIGURA 11 - XANTOMAS PALPEBRAIS Fonte: Adamski e Bligny, 2015, p. 02. 143UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal FIGURA 12 - XANTOMAS TENDINOSOS Fonte: Adamski e Bligny, 2015, p. 02. FIGURA 13 - XANTOMAS TUBEROSOS Fonte: Adamski e Bligny, 2015, p. 02. Esse tipo de hiperlipidemia pode ser causada por defeito genético na produção de uma enzima lipoproteica ou da sua ativadora apolipoproteína CII (APOCII). A enzima lipoproteica é responsável pela hidrólise de triglicerídeos e conversão de quilomícrons, e quando a sua ativadora não está disponível pode ocasionar hidrólise com atividade mais baixa que o normal. 144UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 3.2 Hiperlipidemia do Tipo II ou Hipercolesterolemia familiar Hiperlipidemia do tipo II é dividida em dois tipos, a do tipo IIa e IIb, sendo a primeira relacionada ao aumento de LDL e a segunda ao de VLDL. A hiperlipidemia do tipo IIa ocorre devido a um defeito genético que ocasiona excesso de LDL e níveis altos de colesterol. O defeito pode estar relacionado com as seguintes situações: ● Falta ou ausência de receptores para captação de LDL devido defeito na sínte- se, no transporte para a superfície celular ou por incapacidade de interagir com o ligante. ● Aumento de enzima envolvida na síntese de LDL. ● Ausência de enzimas que degradam LDL. De modo geral, o LDL não consegue entrar na célula para ser catabolizado e fica no ambiente extracelular em excesso. Mesmo sob o quadro de alto colesterol no sangue, o corpo continua sintetizando colesterol e como consequência pode surgir doenças vascu- lares precoce devido a deposição de colesterol na parede de vasos do coração e cérebro. Quando o indivíduo é homozigoto para essa doença, apresenta níveis muito altos de colesterol e doença arterial coronariana ainda mais precoce devido ao acúmulo de LDL nos vasos e comprometimento da função cardíaca. A presença de xantomas earco cornea- no (halo esbranquiçado ao redor da córnea) também são comuns (Figura 14). FIGURA 14 - ARCO CORNEANO EM INDIVÍDUO COM HIPERCOLESTEROLEMIA Fonte: SANTOS, et al., 2012. A hiperlipidemia do tipo IIb é comum em indivíduos obesos e é caracterizada pela produção excessiva de VLDL e de uma proteína responsável pelo transporte de colesterol para os tecidos. Nela, os casos de doença arterial coronariana ocorrem mais tardiamente comparados ao tipo IIa e os xantomas são menos comuns. 145UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 3.3 Hiperlipidemia do tipo III ou Hipercolesterolemia A hiperlipidemia do tipo III ocorre resultante de um defeito genético na remoção de quilomícrons e VLDL devido a produção de uma proteína que não se liga eficientemente aos receptores hepáticos e não conseguem intermediar o seu catabolismo. Além do defeito genético, geralmente também é necessário a presença de um fator ambiental externo para a doença manifestar-se, incluindo quadros de obesidade, hipotireoidismo e diabetes. De modo geral, os indivíduos apresentam quadro de aterosclerose grave e precoce, sendo mais comum a manifestação nas artérias periféricas do que nas coronárias. Também são comuns os xantomas tuberosos em cotovelos e joelho, xantomas tendinosos e estrias palmares e plantares. No lipidograma, os triglicerídeos e colesterol apresentam-se em níveis mais altos que o normal, enquanto o LDL costuma estar baixo devido a um defeito na conversão de VLDL em LDL. 3.4 Hiperlipidemia do tipo IV ou Hiperlipemia endógena (Hipertrigliceridemia familiar). A hiperlipidemia do tipo IV é caracterizada pela produção excessiva de VLDL no fí- gado induzida pela ingestão exagerada de carboidratos. Na patogenia, há um desequilíbrio entre síntese e catabolismo de triglicerídeos que resulta em uma alta produção de VLDL. No perfil lipídico, o VLDL apresenta-se alto e o colesterol e os triglicerídeos também podem estar acima do normal. Esse tipo de hiperlipidemia acomete principalmente indivíduos obesos e pode agravar-se quando concomitante à diabetes, na ingestão de álcool e uso de estrógenos. Por esses motivos, o quadro clínico tende associar-se a obesidade, resistência à insulina, hiperglicemia e gota (resultante de ácido úrico alto). Também são comuns as manifestações de xantomas, aparência anormal de vasos da retina devido ao acúmulo de lipídeos, dor na região abdominal devido pancreatite e hipertensão arterial. 3.5 Hiperlipidemia do tipo V ou Hiperlipemia mista (endógena e exógena) A causa de hiperlipidemia do tipo V é desconhecida, mas é caracterizada pelo aumen- to da síntese de VLDL, provavelmente relacionada a falha uma no metabolismo que interfere no catabolismo. Geralmente acomete indivíduos mais velhos e surge de forma secundária à diabetes do tipo I, síndrome nefrótica ou hiperlipemia devido alta ingestão de álcool. 146UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal As principais manifestações são: dor abdominal associada a hepatoesplenomega- lia e pancreatite, lipemia retiniana e xantomas. O perfil lipídico apresenta altos níveis de quilomícron, VLDL, triglicerídeos, e em alguns casos, colesterol. 3.6 Hipolipidemias As hipolipidemias apresentam o perfil contrário da hiperlipidemias, sendo caracte- rizadas por níveis muito baixos ou até ausência de quilomícrons, colesterol, VLDL e LDL. O mecanismo é explicado pelo defeito na síntese ou catabolismo aumentado dos lipídeos. De modo geral, as principais consequências desses quadros metabólicos é a má absorção de gorduras, incluindo as vitaminas lipossolúveis, associado à esteatorreia (excesso de gordura nas fezes), podendo surgir retardo mental e físico dependendo da gravidade do caso. 3.7 Defeitos genéticos nas acil-CoA As acil-CoA são enzimas desidrogenases que catalisam a primeira etapa de β-o- xidação de lipídeos. Quando ocorrem defeitos genéticos na sua produção, podem surgir consequências no metabolismo de lipídeos relacionadas a incapacidade de oxidar ácidos graxos a partir de triacilgilcerídeos. Entre as acil-CoA envolvidas, a deficiência na acil-CoA desidrogenase de cadeia média (MCAD) é a mais comum, mas também podem estar envolvidas com as seguintes enzimas: acil-CoA desidrogenase de cadeia curta (SCAD), deficiência de 3-hidroxiacil-CoA desidrogenase de cadeia longa (LCHAD), deficiência de acil-CoA desidrogenase de cadeia muito longa (VLCAD), acidemia glutárica tipo II e a deficiência da proteína trifuncional (TFP) mitocondrial (DEMCZKO, 2020b). Entre as manifestações mais comuns podemos citar: acúmulo de gordura no fígado; altos níveis de ácido octanóico no sangue; baixos níveis de glicose no sangue; altos níveis de ácidos carboxílicos e baixos níveis de corpos cetônicos na urina. Como os triacilgliceróis tendem a ser a principal fonte de energia para a contração muscular, essa disfunção leva a consequências associadas ao funcionamento dos músculos, principal- mente o cardíaco e o esquelético. Entre os possíveis quadro sintomáticos pode surgir hipoglicemia, acidose metabó- lica, alteração na função hepática, destruição de tecido muscular, sonolência, confusão, coma, vômito e cardiomiopatia. Recomenda-se dieta com pouca quantidade de gordura e ricas em carboidratos, além de evitar intervalos longos entre as refeições para impedir que o corpo utilize reservar internas de gordura para a produção de energia. 147UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 3.8 Acidose metabólica O quadro de acidose metabólica surge em situações de jejum prolongado, devido ao uso da reserva energética de lipídeos do tecido adiposo como fonte de energia gerando aumento dos corpos cetônicos no sangue e urina. Geralmente ocorre no diabetes descon- trolado, em jejum prolongado ou outros distúrbios relacionados ao metabolismo de lipídeos. O aumento dos corpos cetônicos deve-se a incapacidade de proceder a oxidação de ácidos graxos e acúmulo de seus intermediários, como por exemplo, a acetil-CoA. Esses corpos cetônicos diminuem o pH sanguíneo estabelecendo o quadro de acidose metabólica, com sintomas de vômito, fadiga, dificuldade respiratória, dor de cabeça e confusão mental, além do risco de coma e morte. 148UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 4. DOENÇAS RELACIONADAS AO METABOLISMO DE PROTEÍNAS E VITAMINAS A divisão de doenças metabólicas de acordo com as principais biomoléculas do organismo pode ser um pouco complicada, uma vez que os mecanismos se entrelaçam durante as vias bioquímicas. Por exemplo, as principais causas de doenças que envolvem o mau funcionamento de proteínas associam-se com defeitos genéticos, e portanto, proble- mas no desenvolvimento de nucleotídeos e ácidos nucleicos podem afetar na formação de peptídeos e proteínas. Nesse sentido, é importante compreendermos que apesar da divisão, as doenças podem ter causas que envolvem o funcionamento de diferentes biomoléculas, incluindo diversas vias metabólicas não isoladas. Nesse tópico, vamos pontuar algumas doenças relacionadas a proteínas e vitaminas pontuando algumas vias metabólicas das quais estas moléculas participam. 4.1 Doenças relacionadas a proteínas e seu metabolismo 4.4.1 Fibrose cística A fibrose cística é causada por um defeito no gene que codifica uma proteína de membrana chamada de regulador de condutância transmembrana da FC (CFTR). Essa proteína funciona como um canal iônico específico para o íon cloreto (Cl-), responsável pela condução de íons através da membrana. 149UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal Geralmente o defeito faz com que a proteína produzida se dobre incorretamente e não consiga ser inserida na membrana em células epiteliais que revestem as vias aéreas e o trato digestório, assim como glândulas exócrinas. A exportação diminuída de cloro é acompanhada pela exportação diminuída de águae torna o muco mais concentrado, com estrutura espessa e pegajosa. As células epiteliais dos locais citados que são recobertas por esse muco, não conse- guem atuar perfeitamente para remover as bactérias que se instalam nesse muco através da função ciliar porque o muco espesso dificulta esse processo. Por esses motivos, os indivíduos com fibrose cística estão mais suscetíveis às infecções bacterianas frequentes. Essas infecções, comumente causadas por Staphylococcus aureus e Pseudomo- nas aeruginosa, provocam dano progressivos aos pulmões que evolui para diminuição da eficiência respiratória, falha dos pulmões e morte. 4.2 Adrenoleucodistrofia A adrenoleucodistrofia ocorre como resultado de uma mutação em um gene co- dificador de uma proteína de membrana responsável pelo transporte de ácidos graxos de cadeia muito longa. Consequentemente, esses ácidos graxos não são degradados e acumulam-se em tecidos e fluidos corporais (FURLAN et al., 2019). Os principais órgãos acometidos são as glândulas adrenais e o sistema nervoso cen- tral. O dano nas glândulas suprarrenais ocasiona insuficiência adrenal e impede a liberação de hormônios muito importantes para o metabolismo de forma geral (FURLAN et al., 2019). Observe que nesta doença, apesar do defeito ser genético e envolve a molécula de DNA, ele reflete na produção e função de uma proteína envolvida no metabolismo de ácidos graxos e também afeta a regulação hormonal (FURLAN et al., 2019). Os danos no sistema nervoso levam a neurotoxicidade por mecanismos não muito bem estabelecidos, mas que parecem estar relacionados ao estresse oxidativo e instabili- dades de membrana (FURLAN et al., 2019). Essa doença também é conhecida como doença de Lorenzo e acomete princi- palmente homens, por ser ligada ao cromossomo X. Os sintomas envolvem problemas na visão, perda de movimentos, da fala, da capacidade de alimentar-se e estrabismo (FURLAN et al., 2019). 150UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 4.3 Doenças relacionadas ao catabolismo de aminoácidos Algumas doenças genéticas afetam o catabolismo de aminoácidos, inclusive o fun- cionamento o ciclo da ureia. Os indivíduos que apresentam essas doenças quando ingerem dietas ricas em proteínas geram aminoácidos que não podem ser catabolizados da forma ideal, e acabam ficando acumulados no fígado. Os aminoácidos em excesso são transformados em amônia e não podem ser convertidos em ureia, geralmente devido a disfunção do ciclo da ureia. Assim, a amônia também se acumula e causa efeitos tóxicos no organismo. O quadro abaixo resume as enzimas envolvidas em algumas doenças genéticas humanas que afetam o catabolismo de aminoácidos, além de esclarecer sobre o defeito genético e os seus principais sintomas (Quadro 1). QUADRO 1 - PRINCIPAIS DOENÇAS ASSOCIADAS AO CATABOLISMO DE AMINOÁCIDOS Doença Defeito genético Enzima defeituosa Sintomas Albinismo Síntese de melanina a partir de tirosina Tirosinase Falta de pigmentação, cabelo branco e pele rosada. Alcaptonúria Degradação da tirosina Homogen t i sa to -1 , - 2-Dioxigenase Pigmento escuro na urina e artrite. Argininemia Síntese de ureia Arginase Deficiência intelectual. Acidemia argininos- succínica Síntese de ureia Arginino-succinase Vômitos e convulsões. Deficiência de car- bamoil-fosfato-sinte- tase I Síntese de ureia Carbamoil-fosfato-sin- tetase I Letargia, convulsões e morte prematura. Homocistinúria Degradação de metio- nina Cistationina-β-sintase Desenvolvimento inadequado dos ossos e deficiência inte- lectual. Doença do xarope de bordo Degradação de isoleu- cina, leucina e valina Complexo da desidro- genase dos α-cetoáci- dos de cadeia ramifi- cada Vômitos, convulsões, deficiên- cia intelectual e morte prema- tura. Acidemia metilmalô- nica Conversões de propio- nil-CoA em succinil-CoA Metilmalonil-CoA-mu- tase Vômitos, convulsões, deficiên- cia intelectual e morte prema- tura. Fenilcetonúria Conversão de fenilala- nina em tirosina Fenialanina-hidroxilase Vômitos no período neonatal e deficiência intelectual. Fonte: Adaptado de: NELSON e COX, 2018, p. 694. A fenilcetonúria é uma doença ocasionada por um defeito genético que afeta o funcionamento da enzima fenilalanina-hidroxilase, que prejudica o metabolismo do ami- noácido fenilalanina. Como resultado, a fenilalanina acumula-se no sangue e nos tecidos caracterizando um quadro de alta concentração na urina, chamado de fenilcetonúria. 151UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal Como os aminoácidos podem atuar como neurotransmissores ou precursores destes defeitos no seu metabolismo podem ocasionar problemas na transmissão de informações do sistema nervoso. As principais consequências disso são o atraso no desenvolvimento neural e retardo mental. No caso da fenilcetonúria, a fenilalanina não decomposta compete com outros aminoácidos pelo transporte na barreira hematoencefálica e resulta em déficit de metabó- litos necessários para o desenvolvimento do sistema nervoso. Assim, o desenvolvimento do encéfalo é seriamente prejudicado e ocorre retardo mental grave. Geralmente é iden- tificada nos primeiros dias de vida e controlada através da dieta, evitando alimentos ricos em proteínas. 4.4 Intoxicação por amônia Em casos de intoxicação por amônia, os altos níveis de amônia levam ao aumento nos níveis de glutamina. A glutamina tem a propriedade de ser um soluto que altera o meio osmótico, e no interior de células do encéfalo ocasiona um aumento na captação de água. Como resultado há produção de edema cerebral e aumento da pressão intracraniana. 4.4.1 Gota A gota é uma doença das articulações causada pela concentração elevada de ácido úrico no sangue e tecidos. Isso ocorre principalmente devido a excreção diminuída pelos rins; consumo excessivo de alimentos ricos em purina (precursor) ou produção exacerbada. De acordo com Adam (2017), os depósitos de ácido úrico são chamados de tofos e desenvolvem-se após muitos anos de doença no tecido da cartilagem, tendão e tecidos moles. Por isso, são considerados sintomas crônicos e podem evoluir para a deformidade nas articulações e limitação de movimento (ADAM, 2017). Quando em excesso, cristais de ácido úrico depositam-se nas articulações, refletindo em inflamação e dor. Essa deposição também pode ocorrer nos rins levando a insuficiência renal crônica e outros órgãos, mas comumente são visualizados nas mãos e pés (Figura 15). 152UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal FIGURA 15 - TOFOS NA MÃO Fonte: ADAM, 2017. FIGURA 16 - HOMEM COM PÉ DIREITO INCHADO E INFLAMAÇÃO DA GOTA ISOLADA 4.2 Doenças relacionadas às vitaminas e seu metabolismo 4.2.1 Pelagra A pelagra é causada pela deficiência de niacina ou vitamina B3, que pode surgir de- vido baixa ingestão de alimentos que contém essa vitamina ou de triptofano, pois este é um aminoácido precursor para a formação de vitamina B3. Como a niacina é uma precursora de dinucleotídeos de nicotinamida e adenina (NAD), a sua deficiência pode afetar a função normal de enzimas desidrogenases dependentes de NAD. 153UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal Os sintomas são conhecidos como os 3 D’s: dermatite, diarreia e demência. Na dermatite surgem lesões na pele que costumam surgir nas mãos e nos pés com o formato de luva ou bota e no rosto em formato de borboleta (Figura 10). Na mucosa pode gerar inflamação com edema, dor e aumento da saliva com aspecto de cor brilhante na língua ou ulcerações na boca. Além da diarreia, também podem acontecer outras manifestações que incluem o sistema gastrointestinal como queimação na altura da faringe e esôfago, náuseas e vômito. A demência ocorre como resultado do acometimento do sistema nervoso central, iniciando com alterações na consciência, perda de memória, confusão mental, depressão, paranoia até alcançar um quadro de demência. 4.2.2 Síndromede Wernicke-Korsakoff A síndrome de Wernicke-Korsakoff é causada pela deficiência de tiamina, um componente importante da tiamina pirofosfato (TPP) que constitui o complexo da piruvato desidrogenase (PDH) no ciclo do ácido cítrico. A causa mais comum dessa síndrome é relacionado com o alcoolismo crônico, mas também pode surgir como resultado do uso de outras drogas, medicamentos, má nutrição e câncer. A síndrome recebe esse nome porque combina dois quadros: a encefalopatia de Wernicke e a síndrome de Korsakoff. A encefalopatia de Wernicke o paciente de- senvolve perda de equilíbrio, sonolência, tontura e confusão mental. Já na síndrome de Korsakoff, desenvolve-se um quadro de perda de memória. Com o tempo, também pode surgir paralisia parcial. 4.2.3 Beribéri A doença beribéri ocorre devido a perda da função neural consequente à incapa- cidade de utilizar piruvato para a formação de glicose, uma vez que a principal forma que o cérebro utiliza para obter energia é a oxidação de glicose via piruvato. O mecanismo envolvido relaciona-se com a disfunção do complexo da piruvato desidrogenase (PDH). A disfunção do PDH pode ocorrer por mutações em genes que codificam as subuni- dades do complexo ou pela deficiência de tiamina na dieta. Geralmente ocorre em indivíduos que costumam ingerir arroz polido (sem casca) na dieta, pois a tiamina está presente prin- cipalmente nas cascas. Também pode ocorrer em casos de ingestão de alta quantidade de bebidas alcóolicas, pois são calorias vazias e podem interferir na qualidade da dieta. 154UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal Os principais sintomas são perda de apetite, fraqueza muscular, alteração no modo de andar, diminuição dos reflexos, inchaço nas pernas e nos pés, confusão mental, paralisia e dificuldades respiratórias (Figura 16). FIGURA 16 - PACIENTE COM BERIBÉRI Fonte: PGBLAZER, 2021. 4.2.4 Anemia perniciosa Em situações em que há deficiência de vitamina B12 pode instalar-se uma doença chamada anemia perniciosa. Uma causa comum para anemia perniciosa é explicada pela autoimunidade, em que o próprio organismo ataca a mucosa do estômago e causa au- mento na secreção de ácido clorídrico e diminuição de fator intrínseco, uma glicoproteína essencial para a absorção de vitamina B12. Como a vitamina B12 é obtida pelo organismo através da síntese por bactérias in- testinais e ingestão de carne, indivíduos com dieta pobre em carnes como os vegetarianos podem desenvolver a doença. Os indivíduos que possuem essa doença apresentam baixa produção de eritróci- tos (células vermelhas no sangue), de hemoglobina (proteína carreadora de oxigênio). A anemia é classificada como anemia megaloblástica, pois ocorre o aparecimento de células imaturas e precursoras de outras células sanguíneas na medula óssea (megaloblastos). 155UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal As principais manifestações clínicas são fadiga, cansaço, palidez e retardo no desenvolvimento. Nos casos mais graves também pode surgir dificuldades na locomoção, confusão mental e depressão devido o envolvimento do sistema de nervoso central. 4.2.5 Deficiência de ácido fólico A deficiência de ácido fólico pode ser causada por baixa ingestão dessa vitamina na dieta ou alta ingestão de álcool e desnutrição; por deficiência na absorção intestinal por doenças intestinais ou uso de medicamentos; ou ainda, pelo aumento da necessidade comum no período gestacional e de amamentação. Esse tipo de deficiência é comum em gestantes e por isso deve-se tomar cuidado no acompanhamento para evitar o risco de comprometimento à saúde do bebê. As prin- cipais consequências para o feto ou recém-nascido é má formação da medula espinhal ou no cérebro. O ácido fólico é essencial para a síntese de componentes do DNA, e quando de- ficiente pode causar defeitos genéticos que estão associados à efeitos no coração, no encéfalo e na mutagênese. Assim, a deficiência de ácido fólico pode causar consequências diversas, incluindo doença cardíaca, câncer e distúrbios encefálicos. Além disso, esses defeitos podem prejudicar a síntese normal de célula de defesa como os linfócitos T e B, e quando estes não se desenvolvem adequadamente os indiví- duos ficam sujeitos a um quadro grave de imunodeficiência e maior susceptibilidade para o desenvolvimento de outras doenças. 156UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal SAIBA MAIS Você sabia que o teste do pezinho é utilizado para diagnosticar várias doenças metabó- licas em recém-nascidos? As doenças pesquisadas são: ● Fenilcetonúria; ● Hipotireoidismo Congênito; ● Fibrose Cística; ● Doença Falciforme; ● Hemoglobinopatias; ● Deficiência de Biotinidase; ● Hiperplasia Adrenal Congênita; ● Deficiência da desidrogenase acetil CoA de cadeia curta (SCAD); ● Deficiência da desidrogenase acetil CoA de cadeia média (MCAD); ● Deficiência da desidrogenase acetil CoA de cadeia longa (LCHAD); ● Deficiência da desidrogenase acetil CoA de cadeia muito longa (VLCAD); ● Deficiência do transporte da carnitina primária (CTD). Acesse o link a seguir para saber mais sobre esse teste: https://aps.bvs.br/aps/o-que-e- -o-teste-do-pezinho/ Fonte: FEPE, 2021; BVS, 2013. https://aps.bvs.br/aps/o-que-e-o-teste-do-pezinho/ https://aps.bvs.br/aps/o-que-e-o-teste-do-pezinho/ 157UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal REFLITA Você já parou para pensar como é possível detectar e purificar um hormônio? Os hormônios são detectados laboratorialmente por imunes ensaios que utilizam anti- corpos que se ligam aos hormônios com alta afinidade e especificidade. Após isso, um outro elemento capaz de ser detectado por fluorescência ou colorimetria é adicionado para ligar-se a esse complexo e revelar a reação. Isso pode ser quantificado para avaliar se os níveis estão normais, baixos ou elevados. Fonte: NELSON e COX, 2011, p. 904. 158UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da última unidade da disciplina de Bioquímica, na qual fomos apresentados à integração do metabolismo a partir do controle hormonal e conhecemos várias características importantes de doenças que afetam as vias metabólicas de carboi- dratos, proteínas e lipídeos. Além disso, pontuamos também as doenças associadas as deficiências de algumas vitaminas. Os hormônios possuem papel essencial para que as vias metabólicas atuem de forma integrada e esse controle inicia no cérebro, com a atuação da glândula hipófise. De- pois que o sistema nervoso capta informações externas, o hipotálamo se comunica com a hipófise, que coordena a secreção de vários hormônios em órgãos diferentes do organismo. O corpo humano é estrategicamente organizado contendo glândulas espalhadas que são responsáveis pela secreção de hormônios específicos e que regulam o meta- bolismo de cada sistema. Quando esses sinais não se desenvolvem de forma correta, ocorre desregulação e mau funcionamento de rotas metabólicas importantes para a vida do organismo em questão. Essas alterações também podem ocorrer devido falhas na síntese e montagem dos sistemas biológicos, envolvendo na maioria das vezes receptores e enzimas das vias de degradação ou utilização de carboidratos, proteínas e lipídeos. Normalmente conse- guimos detectar a principal biomolécula envolvida, entretanto, a divisão é difícil uma vez que tudo é interligado. Os nucleotídeos e os ácidos nucleicos desempenham papel crucial, pois a maioria das alterações disfuncionais devem-se as mutações que envolvem estes elementos. O DNA que codifica todos os componentes pode carrear uma mutação que produz moléculas alteradas e incapazes de desempenhar sua função de modo eficiente. A partir disso, as vias podem apresentar defeitos que ocasionam consequências graves se manifestando na forma de doenças, geralmente crônicas. O conhecimento des- ses mecanismosé importante, pois podem ser decisivos no desenvolvimento de medidas terapêuticas e melhoria da qualidade de vida desses indivíduos. 159UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal LEITURA COMPLEMENTAR ● Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose Link de acesso: http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2017/02_DIRETRIZ_ DE_DISLIPIDEMIAS.pdf Fonte: FALUDI et al. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, n. 1, v. 109, v. 4, 2017. Diretriz de Diabetes – Sociedade Brasileira de Diabetes Acesse o link abaixo e confira mais informações sobre diabetes: https://diretriz. diabetes.org.br/ Fonte: SOCIEDADE Brasileira de Diabetes. Diretriz de Diabetes. Disponível em: https://diretriz. diabetes.org.br. Acesso em: 11 out. 2021. https://diretriz.diabetes.org.br/ https://diretriz.diabetes.org.br/ https://diretriz.diabetes.org.br https://diretriz.diabetes.org.br 160UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Endocrinologia e Metabolismo: solução de problemas Autor: Lee Kennedy e Ansu Basu. Editora: Thieme Revinter. Sinopse: Endocrinologia e Metabolismo, que faz parte da série Solução de Problemas, apresenta casos de distúrbios observados em pacientes pelo endocrinologista e pelo clínico geral. Os autores basearam-se em sua experiência clínica, e também na literatura especializada mais atual e abrangente sobre o assunto para iden- tificar problemas que refletem a realidade dos pacientes que se apresentam, diariamente, no consultório. Cada caso é apresentado com várias perguntas práticas a fim de estimular o leitor, segui- das de uma apresentação clínica. Logo após, há uma discussão detalhada, acompanhada de algoritmos e referências essenciais, das causas potenciais e armadilhas diagnósticas, bem como das opções terapêuticas, considerando os estilos de vida pertinentes. Este procedimento lógico, detalhado, com as opções de tratamen- to mais atualizadas, tornam a obra uma referência essencial para o clínico geral e para o endocrinologista, onde são abordadas as principais áreas da endocrinologia, como: tireoide, glândulas su- prarrenais, hipófise, reprodução, crescimento e desenvolvimento, cálcio e ossos, hipertensão endócrina, água, eletrólitos e glicose. FILME / VÍDEO Título: O óleo de Lorenzo Ano: 1993. Sinopse: Um garoto levava uma vida normal até que, quando tinha seis anos, estranhas coisas aconteceram, pois ele passou a ter diversos problemas de ordem mental que foram diagnostica- dos como ALD, uma doença extremamente rara que provoca uma incurável degeneração no cérebro, levando o paciente à morte em no máximo dois anos. Os pais do menino ficam frustrados com o fracasso dos médicos e a falta de medicamento para uma doença desta natureza. Assim, começam a estudar e a pesquisar sozi- nhos, na esperança de descobrir algo que possa deter o avanço da doença. 161 REFERÊNCIAS ADAM Inc. Galactosemia. (2011). Disponível em: https://ssl.adam.com/content.aspx?pro- ductid=125&pid=70&gid=17187&site=bestdoctors.adam.com&login=BEST4545. Acesso em: 11 out. 21. ADAM Inc. Tofo gotoso na mão. (2017). Disponível em: http://se3.adam.com/content.as- px?productid=126&pid=70&gid=19833. Acesso em: 11 out. 21. ADAMSKY, H.; BLIGNY, D. Xantomas. Dermatologia, v. 49, n. 4, p. 1-13, 2015. ALBERTS, B. Fundamentos da Biologia Celular. Porto Alegre: Artmed, 2017. BROWN, T. A. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. BVS. Atenção Primária em Saúde. O que é o “teste do pezinho”? Núcleo de Telessaúde. Rio Grande do Sul, 2013. Disponível em: https://aps.bvs.br/aps/o-que-e-o-teste-do-pezinho/. Acesso em: 11 out. 21. 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MedBook Editora, 2011. 164 CONCLUSÃO GERAL Prezado(a) aluno(a), Este material foi preparado para fornecer conhecimento sobre como as células funcionam e mantém um organismo vivo, destacando todo processo bioquímico envolvido. Ao chegar no fim deste material, agora, você tem uma visão mais completa dos princípios metabólicos e bioenergéticos dos sistemas biológicos, o que claramente é muito complexo. Essa complexidade exige um conhecimento básico que foi abordado no início de nosso material, em que retomamos sobre a estrutura química das moléculas evidenciando como essas características químicas refletem na estrutura de cada biomolécula e conse- quentemente relacionam-se com as suas funções. Ao avançar um pouco mais em nosso conhecimento, fizemos um estudo minucioso sobre as reações bioquímicas das as biomoléculas exercem papel essencial, dando enfoque especial ao metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, devido a sua importância nos processos energéticos das células. Depois que fomos apresentados aos grupos de moléculas biológicas mais importan- tes, as suas principais funções no metabolismo e suas vias metabólicas, foram destacados a forma como as vias metabólicas se integram através da regulação hormonal e as doenças humanas advindas de defeitos presentes nessas rotas bioquímicas. Assim, acreditamos que você está preparado para compreender como a bioquímica está inserido e interligada com diversos campos de ciência e da tecnologia. Independente da sua área de estudo, você será capaz de aplicar esse conhecimento e desenvolver ainda mais suas habilidades nos próximos passos de sua caminhada profissional, que eu espero ser repleta de muito sucesso. Até uma próxima oportunidade. Muito obrigada! +55 (44) 3045 9898 Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR www.unifatecie.edu.br _GoBack _GoBack UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas UNIDADE III Metabolismo de Carboidratos UNIDADE IV Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal