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Tratamento cirúrgico de obesidade mó~12' ontos essenciais: -Indícações de tratamento cirúrgico; - Principais técnicas utilizadas; - Vantagens e desvantagens das técnicas; - Complicações mais comuns. =igura 1-Paciente com obesidade mórbida 1. Introdução A prevalência da obesidade vem aumentando de modo significativo nas últimas décadas. Atualmente, estima-se que :0% dos brasileiros são obesos. Alguns graus de excesso de eso já atingiam mais de 32% da população adulta no Brasil, em 1989. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, a incidência de obesidade infanto-juvenil no Brasil cresceu 240% nos últimos 20 anos. Hoje, a obesidade é considerada ma epidemia mundial. As doenças relacionadas a ela figuram entre as principais causas de mortalidade nos países desen- volvidos e têm sua incidência aumentada em nosso meio. Aqueles com mais de 45kg além do peso ideal ou com índice de Massa Corpórea (IMe) acima de 40kgfm2 são clas- sificados como portadores de obesidade mórbida. A perda da qualidade e a diminuição da expectativa de vida nesse subgrupo de pacientes, associadas aos altos índi- ces de recidiva com a terapêutica conservadora, fazem que o tratamento cirúrgico seja indicado para essa morbidade. 2. Definição e classificação de obesidade A obesidade pode ser definida como um acúmulo exces- sivo de gordura corporal ou uma participação maior que 20% da massa do indivíduo em gordura. Inúmeras classificações foram propostas para obesidade. As de maior utilidade prá- tica são as que utilizam as relações entre o peso e a altura. O IMC, que é a massa do indivíduo dividida pelo quadrado da altura, definido em kg/rn", é utilizado para classificar os pacientes em diversas categorias. Tabela 1-Classificação sugerida pela Organização Mundial de Saú- de (OMS) Sobrepeso I >2Skg/m2 Obesidade 35 a 39,9kg/m2 >30kg/m2 Obesidade classe I 30 a 34,9kg/m2 Obesidade classe II Obesidade classe 111 40kg/m2ou mais Tabela 2 - Classificação sugerida pela Sociedade Americana de Ci- rurgia Bariátrica Eutrofia <2Skg/m2 Sobrepeso >65kg/m2 25 a 30kg/m2 Obesidade 30 a 39kg/m2 Obesidade mórbida 40 a 49kg/m2 Superobesidade 50 a 65kg/m2 Superlsuperobesidade 3. Indicação do tratamento A redução da expectativa e da qualidade de vida, a pre- sença de doenças relacionadas ao excesso de peso, além do MEDCEL - PRINCIPAIS TEMAS EM GASTROENTEROLOGIA . - - ~ - iMedcel insucesso freqüente dos tratamentos conservadores, favo- recem a aceitação do tratamento cirúrgico por um número crescente de médicos e pacientes. O racional para a indicação cirúrgica baseia-se nos resultados satisfatórios da perda de peso causada pela operação e no conceito de que essa perda de peso diminuirá a incidência e facilitará o controle das co- morbidades, além de diminuir a mortalidade relacionada à obesidade. Os tratamentos conservadores para a obesidade mórbida baseados em dietas hipocalóricas, exercícios físicos, drogas que inibem a ingesta ou a absorção de alimentos e alterações do comportamento raramente obtêm bons resultados em longo prazo. Foi demonstrado que a maioria dos pacientes recupera o peso perdido em 5 anos. A operação bariátrica é, nos dias de hoje, o tratamento com resultados mais expressivos e duradouros para a obesi- dade mórbida. Apresenta melhora objetiva das co-morbida- des como hipertensão arterial, diabetes mellitus, úlceras em membros inferiores, perfil lipídico alterado, insuficiência res- piratória, pseudotumor cerebral, entre outras. Também traz incremento na qualidade de vida, na auto-estima, no humor e na afetividade interpessoal. Pacientes portadores de graves co-morbidades relaciona- das à obesidade podem ter indicação de cirurgia, mesmo que não atinjam um grau expressivo de obesidade, enquanto pa- cientes com alto risco cirúrgico e obesidade mórbida podem ter mais prejuízo que benefícios em uma operação. Desde 1991, quando o consenso do Nationallnstitute of Health dos Estados Unidos da América (EUA) recomendou os preceitos vigentes para a indicação cirúrgica, inúmeras as- sociações e órgãos governamentais vêm corroborando suas premissas, como a Sociedade Americana de Cirurgia Bariátri- ca, a Federação Internacional para Cirurgia da Obesidade, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, dentre outras. Em 1999, o Ministério da Saúde do Brasil reconheceu a gastro- plastia como um dos procedimentos cobertos pelo Sistema Único de Saúde, estabelecendo os seguintes critérios para a sua indicação: - Portadores de obesidade de grandes proporções com duração superior a 2 anos, com IMC maior que 40kg/ m2 e resistente aos tratamentos conservadores (dietas, medicamentos, exercícios, psicoterapia); - Obesos com IMC superior a 35kg/m2 portadores de do- enças associadas (diabetes, hipertensão, artropatias, apnéia do sono, hérnia de disco) e que tenham situação clínica agravada pela obesidade. Algumas contra-indicações para a operação foram levanta- das, mas, a cada dia, deixam de ser absolutas para se tornarem relativas: pneumopatias e cardiopatias graves, cirrose hepática, - insuficiência renal, não-concordância com cuidados médicos prévios, dependência de álcool ou outras drogas, algumas do- enças psiquiátricas (esquizofrenia, depressão incontrolável, bu- limia). A seleção de pacientes para o tratamento cirúrgico deve ficar a cargo de uma equipe multidisciplinar (incluindo psicó- logos) capaz de identificar aspectos individuais que possam in- terferir nos resultados cirúrgicos, a partir de uma visão global do paciente em questão, conhecendo seus anseias, expectati- vas e capacidades para que se torne agente ativo do processo terapêutico. É fundamental afastar doença endócrina como causa da obesidade (síndrome de Cushing). O paciente deve ainda ter capacidade intelectual de compreender todos os as- pectos do tratamento proposto, seus riscos e a importância do acompanhamento em longo prazo. Limites de idade para a operação, cada vez mais realiza- da em adolescentes e em pacientes mais idosos, não devem ser rigorosos, e as contra-indicações clínicas clássicas devem ser avaliadas individualmente, para não privarmos pacientes de prováveis benefícios com a cirurgia ou colocá-Ias em risco excessivo para o procedimento. 4. Técnicas operatórias O tratamento cirúrgico visa a uma perda e um controle de peso duradouro, melhora das co-morbidades, recupera- ção da auto-estima, reintegração à sociedade, aumento na expectativa e da qualidade de vida. Podemos dividir as operações para o tratamento da obe- sidade mórbida, a grosso modo, em restritivas, disabsortivas e mista. Cada uma dessas categorias traz vantagens e desvan- tagens. A - Técnicas restritivas As técnicas restritivas tiveram seu auge na década de 1980, quando a gastroplastia à'Mason foi a operação bariá- trica mais realizada. Atualmente, vem ganhando força a co- locação de bandas gástricas laparoscópicas ajustáveis, com grande aceitação principalmente na Europa e na Austrália, onde já são consideradas, por muitos serviços, como um pro- cedimento bariátrico de 1ª escolha, tendo demonstrado re- sultados duradouros em longo prazo. Tais procedimentos se baseiam, exclusivamente, na restrição à ingesta de alimentos pela redução do volume da câmara gástrica, levando a sacie- dade precoce e conseqüente redução da quantidade calórica de cada refeição. a) Gastroplastia vertical com bandagem Dentre as várias técnicas restritivas propostas, a gastro- plastia vertical com bandagem introduzida por Mason e 1982 merece atenção por ter dominado o cenário norte- iMedcel americano da cirurgia bariátrica na década de 1980. A simpli- cidade técnica, o baixo custo, a baixa morbimortalidade e os bons resultados iniciaisforam responsáveis pela rápida po- pularização do método. A operação consiste na septação do estômago em uma bolsa proximal superior rente à pequena curvatura, através da abertura de um orifício por grampea- mento circular seguido de grampeamento linear, formando uma câmara proximal com Scm de comprimento e 1,Scm de diâmetro, com capacidade de 20 a 40mL. Essa bolsa é envol- vida por uma banda inelástica. Modificações técnicas, como a proposta por MacLean realizando a separação das câmaras gástricas com grampeador linear cortante, foram tentadas, mas os bons resultados em longo prazo não ultrapassam 20%, principalmente devido à adaptação alimentar dos pacientes, que podem passar a ingerir doces. Atualmente, deve ser indicada apenas em casos seleciona- dos, tendo sido amplamente substituída nos EUA pelas deriva- ções gastrojejunais desde a década de 1990. b) Balão intragástrico <içura2 - Balão intragástrico No início da década de 1990, passaram a fazer parte do arsenal terapêutico do tratamento da obesidade os balões in- . agástricos, como forma de preencher parcialmente o estô- mago. Esse procedimento visa à sensação de saciedade pre- coce ao paciente, diminuindo, assim, o volume de alimentos "ngeridos. Devido a várias complicações decorrentes de seu so, como a obstrução pilórica e a obstrução intestinal decor- -entes de sua migração, sua comercialização foi suspensa, até encontro de um possível balão ideal. Atualmente, com o surgimento de novos balões, está libe- -ada a sua comercialização, sendo empregado com indicações -estritas e em protocolos de estudo, além do preparo pré-ope- ratório em pacientes obesos que não querem ser submetidos 3 operações bariátricas. c) Banda gástrica Figura 3 -Banda gástrica ajustável o conceito de uma prótese ao redor do estômago sem gastroplastia foi introduzido por Molina em 1983. A idéia foi aprimorada por Kuzmak, em 1986, que criou uma prótese de silicone oca, inflável por punção transcutânea, capaz de per- mitir a calibração do orifício de esvaziamento da câmara gás- trica proximal para a distal. Em pouco tempo, o procedimento passou a ser realizado por via laparoscópica, tendo ganhado muitos adeptos e tornando-se bastante popular na Europa, onde a operação bariátrica é mais realizada. Nos EUA, a partir de 2003, as bandas ajustáveis passaram a ser indicadas como procedimento de 1ª escolha em casos selecionados. Há alguns anos no Brasil, há serviços que tam- bém executam esse procedimento como 1ª escolha. O procedimento videolaparoscópico de colocação de ban- das gástricas ajustáveis consiste na implantação de uma pró- tese de silicone circular inflável ao redor da porção mais pro- ximal do estômago, criando uma pequena cavidade calibrada por um balão intragástrico de volume pré-determinado. Essa banda é fixada ao estômago através de pontos gastrogástri- cos entre as partes proximal e distal à prótese de modo a im- pedir ou dificultar a sua migração. Um grande atrativo das bandas gástricas ajustáveis é a possibilidade de reversão do procedimento em caso de ne- cessidade. Entretanto, os resultados em longo prazo ainda são discrepantes e necessitam de um acompanhamento pós- operatório freqüente para haver bons resultados. B - Técnicas disabsortivas As operações exclusivamente disabsortivas, como as deri- vações intestinais, têm apenas interesse histórico, pois não são mais recomendadas como opção no tratamento da obesida- de mórbida. As complicações pós-operatórias são inevitáveis, tornando-as inaceitáveis na prática médica atual. Assim, atu- almente usam-se técnicas chamadas mistas, que associam um procedimento restritivo a um procedimento disabsortivo. iMedcel c -Técnicas mistas Atualmente, as operações mais realizadas para o trata- mento da obesidade mórbida no Brasil e nos EUA são as ope- rações mistas. Nelas, há associação de um procedimento res- tritivo a outro disabsortivo, com objetivo da perda ponderal expressiva, prolongada e com poucos efeitos colaterais. Em cada tipo de procedimento, há predomínio do fator restritivo ou disabsortivo, criando uma enorme gama de op- ções técnicas que podem ser utilizadas individualmente de acordo com cada paciente e com a experiência do serviço. Dentre inúmeras técnicas descritas, discutiremos as princi- pais derivações gastrojejunais e bileopancreáticas. a) Derivações gastrojejunais Essas técnicas associam uma limitação mecânica de um reservatório gástrico mínimo, com ou sem anel para retardar seu esvaziamento, com a limitação funcional tipo dumping causada por uma gastrojejunoanastomose. Trata-se, portan- to, de técnicas mistas, em que o fator mais importante parece ser o restritivo. São considerados os procedimentos padrão- ouro para a cirurgia bariátrica nos EUA, sendo também a 1ª opção no tratamento da obesidade mórbida na maioria dos serviços brasileiros. Figura 4 - Gastroplastia à Capella (aspecto final) No final da década de 1980, Rafael Capella e Mathias Fobi, concomitante e independentemente, propuseram operações bariátricas bastante semelhantes utilizando gastroplastia ver- tical com bandagem e derivação gástrica em Y-de-Roux. Os bons resultados iniciais, a padronização técnica e a reproduti- vidade dos resultados em outros centros fizeram que o procedimento se transformasse, em pouco tempo, no mais executado nos EUA, assim como na maioria dos serviços bra- sileiros. A operação consiste na criação, por meio de sucessivos grampeamentos com grampeadores lineares cortantes, de uma pequena câmara gástrica proximal de 10cm de compri- - mento, junto à pequena curvatura, moldada por sonda tipo Fouchet, separada do restante do estômago. A parte distal do estômago, o duodeno e os 50 primeiros centímetros do jejunoficam excluídos do trânsito alimentar. Coloca-se um anel de silicone de 6,2cm de circunferência, 3cm acima da extremidade distal da pequena bolsa gástrica, circundando-a. A alça distal da enterotomia realizada a sOcm do ângulo de Treitz é passada ao andar superior do abdome por via, trans- mesocólica e interposta entre as 2 câmaras gástricas. Então, é realizada gastrojejunoanastomose término-lateral. A anas- tomose jejunojejunal é realizada 100cm abaixo da gastroen- teroanastomose. E a indicação de drenagem cavitária e de gastrostomia é variável segundo os serviços. § oo Figura 5 - Gastroplastia à Capella - esquema b) Derivações bileopancreátícas Dentre as operações mistas, asderivações bileopancreáticas são as que têm o maior efeito disabsortivo. A má absorção dos nutrientes é responsável pela manutenção dos resultados da cirurgia. O componente disabsortivo é secundário a unia deri- vação gastroileal, e o restritivo, secundário a alguma forma de gastrectomia. São, em outras palavras, gastrectomias parciais com gastroileoanastomoses em Y-de-Roux. A perda de peso definitiva observada nesses pacientes não está sujeita a variações individuais de dieta, havendo eliminação dos nutrientes ingeridos em excesso. Defende-se que há uma capacidade limitante de absorção de energia dos carboidratos e gorduras. Também devido à preponderância do componente disabsortivo nessas técnicas, observam-se maiores índices de complicações nutricionais pós-operatórias que nas derivações gástricas. iMedcel TRATAMENTO CIRÚRGICO DE OBESIDADE MÓRBIDA o - Técnica de Scopinaro o italiano Nicola Scopinaro descreveu, em 1979, as pri- meiras derivações bileopancreáticas em estudos experimen- tais iniciados em 1976. Deste ano até 1998, realizou 41 opera- ções, sendo sua técnica também utilizada por outros serviços envolvidos em operações bariátricas. Na técnica de Scopinaro, é realizada uma gastrectomia horizontal com coto gástrico de 200 a 400mL de capacidade, anastomose desse coto aos 2s0cm terminais do íleo (canal alimentar) e da porção proximal do intestino (canal bileopan- creático)ao íleo, sOcm acima da válvula ileocecal (canal co- mum). A colecistectomia é realizada rotineiramente. Figura 6 - Operação de Scopinaro - Troca duodenal ou duodenal switch A gastrectomia vertical com preservação pilórica e do bulbo duodenal, associada à anastomose duodenoileal foi proposta por Picard Marceau, de Quebec, em 1993, Douglas Hess em 1994 nos EUA e Baltasar em 1995 na Espanha. Base- ada em uma operação proposta por DeMeester para o trata- mento da gastrite alcalina, essa variação técnica das deriva- ções bileopancreáticas de Scopinaro vem sendo utilizada em alguns centros com resultados semelhantes aos das outras derivações bileqpancreáticas. O duodenal switch, como é mais conhecida essa opera- ção, consiste em uma gastrectomia vertical, retirando-se parte do estômago relacionada à grande curvatura gástrica com preservação de toda a pequena curvatura, secção do duodeno em sua lª porção, sepultamento do coto duodenal, duodenoileoanastomose término-terminal a 2s0cm da válvu- la ileocecal e anastomose íleo-ileal a 100cm acima da válvula ileocecal. Figura 7 - DuodenalSwitch 5. Vias de acesso Desde o início de era da cirurgia videolaparoscópica, fo- ram notados os benefícios dessa via de acesso nos pacien- tes obesos, tão suscetíveis a complicações pós-operatórias metabólicas, cardiovasculares e de ferida operatória. Alguns trabalhos demonstraram a superioridade da videolaparos- copia nas colecistectomias realizadas em obesos. Todos os tipos de operações bariátricas realizadas na atu- alidade podem ser realizados por via aberta ou videocirurgia. Devido aos resultados superiores e à recomendação de que seja o procedimento bariátrico de 1ª escolha nos EUA, as derivações gastrojejunais em Y-de-Roux foram mais bem es- tudadas quanto à via de acesso. Dois estudos prospecrivos controlados aleatorizados dessa técnica comparando as vias aberta e laparoscópica demonstraram resultados semelhantes quanto à satisfação pessoal e à perda de peso, tendo maior tempo cirúrgico com a videocirurgia, mas menor tempo de internação hospitalar. A recuperação da cirurgia pareceu ser mais rápida nos pa- cientes operados por via laparoscópica, mas, após 3 meses, isso não foi significativo. Várias séries com numerosos pacientes demonstram se- gurança e resultados semelhantes da laparoscopia aos das séries históricas com a via aberta; no entanto, esses assun- tos ressaltam a difícil curva de aprendizado, sendo neces- sária experiência em videocirurgia avançada e em cirurgia bariátrica para a implementação de um programa. iMedce 6. Resultados Os resultados cirúrgicos estão relacionados às técnicas utilizadas em cada série publicada, ao tempo de acompanha- mento e ao rigor científico utilizado. A gastroplastia vertical com bandagem à Mason, ainda realizada com certa freqüência, causa as perdas ponderais, principalmente nos primeiros 12 meses. Nos pacientes sem complicações tardias (70%), a perda do excesso de peso em 3 anos pode ser de S4 a 70%, segundo Mason. Em nosso meio, a perda média em S anos dos pacientes não-reoperados é em torno de 20% do peso inicial. Todos os trabalhos relacionados à colocação de bandas ajustáveis enfatizam as visitas freqüentes ao médico no pós- operatório como fator importante no sucesso do procedi- mento. Em uma série de 500 casos consecutivos, com acom- panhamento médio de 21 meses, houve perda de 56% do excesso de peso em 1 ano, 6S% em 2 anos e 64% em 3 anos. Complicações como erosão da banda foram vistas em até 10% dos casos nesses trabalhos. Outros autores, como Gag- ner, relatam taxas de até 70% de reoperações. A perda média de peso não-sustentada e a incidência dís- par das complicações em várias publicações fazem que mui- tos sejam cautelosos quanto ao entusiasmo inicial com esse procedimento, não esperando perdas de peso maiores que 20 a 25% do inicial nos casos bem sucedidos. Os pacientes submetidos à operação de Fobi-Capella são os mais conhecidos em nosso meio. Casuísticas brasileiras com até 4.000 pacientes operados demonstram uma perda de peso expressiva e duradoura, corroborando com dados de outras séries da literatura que variam de 35 a 42% do peso inicial. Em termos de excesso de peso, isso significa de 50 a 78%. As complicações nutricionais são maiores que nas opera- ções exclusivamente restritivas, sobressaindo a anemia fer- ropriva e a deficiência de microelementos. A ulceração da mucosa, as fístulas gastrogástricas e as estenoses das anas- tomoses, apesar de diminuírem com a experiência, perma- necem uma preocupação para o cirurgião. A criação de uma câmara gástrica exclusa e inacessível preocupa-nos em razão da possibilidade de se tornar sede de lesões gástricas em lon- go prazo. A mortalidade entre as operações bariátricas é maior nos procedimentos mistos que nos exclusivamente restritivos. Trombose venosa profunda com embolia pulmonar e fístulas são as principais causas de óbito precoce. Nas diversas séries, a mortalidade perioperatória varia de zero a 1%. - Complicações pós-operatórias: São diferentes, conforme o procedimento utilizado. Po- dem ser didaticamente divididas em 3 fases: 1- Fase 1 (de 1 a 6 semanas): sangramento, afrouxamento das anastomoses, perfuração intestinal, obstrução intestinal, infecções. 2 - Fase 2 (de 7 a 12 semanas): vômitos prolongados, úlce- ra marginal (normalmente, ocorre na porção gástrica da gas- trojejunostomia e são de natureza isquêmica), dumping. 3 - Fase 3 (de 13 semanas a 1 ano): problemas psiquiátri- cos e psicológicos, colelitíase, aderências das alças intestinais gerando obstrução, erosão da banda gástrica sobre a parede do estômago, mudança da posição da banda (invalidando o procedimento), hérnia incisional. - Alterações de peso: é esperada uma redução de, apro- ximadamente, 20% do peso nos casos de sucesso tera- pêutico, acarretando melhora da qualidade de vida e co- morbidades associadas à obesidade; entretanto, alguns pacientes podem voltar a ganhar peso, devido à ingesta alimentar fracionada excessiva e ao aumento de consu- mo de carboidratos e doces. Vale lembrar que complicações inespecíficas inerentes a qualquer procedimento cirúrgico também se aplicam aqui, como seromas e hematomas da parede abdominal, infecção de ferida operatória, sangramento intracavitário, abscesso in- tracavitário, evisceração. Outra complicação é a trombose ve- nosa profunda, potencialmente grave pelo risco de tromboem- bolismo pulmonar, sendo obrigatória a profilaxia de rotina. O índice de complicações graves é baixo, menor que 1% (fístulas na linha do grampeamento, TVP).
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