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TEXTO 2 PERCEPCAO

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trução verbal que dava à posição da ruptura o valor de sinal
ainda não influenciava a agudeza da sensibilidade visual das
crianças pequenas, ela exercia influência substancial nas crian-
ças em idade igual e superior a 5-6 anos. As crianças que,
sob as condições do teste indiferente distinguiam a posição
da ruptura do círculos de Lamdoldt apenas a uma distância
de 200-300cm, captavam a posição dessa ruptura a uma dis-
tância de 310-320em quando se dava a essa posição valor
de sinal correspondente.
Esses experimentos, que mostram o quanto a atribuição
de valor de sinal ao estímulo pode aguçar a sensibilidade.
são de grande importância psicológica, constituindo um exem-
plo da extraordinária plasticidade que existe no funciona-
mento dos órgãos dos nossos sentidos e varia dependendo da
importância do estímulo. . .
O aumento da sutileza da sensibilidade sob a influên-
cia do significado do indício perceptível pode ocorrer tanto
na sensibilidade absoluta quanto na relativa. Sabe-se que a
discriminação dos matizes da cor, das mudanças signifícan-
tes do tom ou das mínimas variações gustativas pode tornar-
se acentuadamente aguda como resultado de atividade pro-
fissional. Foi estabelecido que os pintores podem distinguir
de 50 a 60 matizes do negro; os fundidores de aço distinguem
os matizes mais sutis do fluxo incaridescente de metal, Que
indicam mudanças mínimas de impurezas estranhas, cuja dis-
tinção é inacessível a observador de fora. É sabido que su-
tileza pode atingir a discriminação de nuances gustativas en-
tre os degustadores, que são capazes de determinar a marca
do vinho ou do tabaco pelos mínimos matizes da degusta-
ção, chegando às vezes até a dizer de que lado do desfiladei-
ro> foi cultivada a uva usada para o preparo de um deter-
minado vinho. Por último, sabe-se a que sutileza pode che-
gar a capacidade dos músicos para distinguir os sons; eles se
tomam capazes de captar variações de tons absolutamente
imperceptíveis para o ouvinte comum.
Todos esses fatos demonstram que, sob as condições do
desenvolvimento de formas complexas de atividade conscien-
te, a agudeza ,da sensibilidade absoluta e da diferencial pode
mudar substancialmente, e que a inclusão desse ou daquele
indício na atividade consciente do homem pode, em limites
consideráveis, mudar a agudeza dessa sensibilidade,
11
Percepção
A atividade perceptiva do homem.
Características gerais
ATÉ AGORA examinamos as formas mais elementares de
reflexo da realidade, os processos através dos quais o homem
reflete indícios particulares do mundo exterior ou os sinais
que indicam o estado do seu organismo.
Vimos que esses processos, que são as fontes básicas
da informação que o homem recebe dos meios exterior e ln-
terior, são executados por órgãos dos sentidos pertencentes
a modalidades distintas; esses órgãos receptores pertencem
aos grupos dos intero, próprio e extero-receptores, dividin-
do-se o último grupo, por sua vez, em dois subgrupos de re-
ceptores de contato (tato, paladar) e receptores de distân-
cia (olfato, visão e audição). Vimos ainda que os proces-
sos de percepção dos indícios do mundo exterior e do meio
interno podem distribuir-se em níveis variados e apresentar
complexidade diversa. À forma protopática estruturalmente
36 J7
mais elementar de sensibilidade pertencem antes de tudo o
olfato e o paladar, bem como as formas mais simples de
sensibilidade tátil; à forma de sensibilidade epicrítica estru-
turalmente mais complexa pertencem a visão, a audição e os
tipos mais complexos de atividade tátil.
Vimos, por último, que os processos de reflexo de in-
dícios particulares que atuam sobre o homem a partir do
meio exterior ou interior ou os processos das sensações po-
dem ser objetivamente medidos; tomamos conhecimento dos
meios de medição da sensibilidade absoluta e relativa e
dos fenômenos da variação dessa sensibilidade.
.Nada do que falamos no capítulo anterior foi além dos
limites do estudo das formas mais elementares de reflexo ou
dos limites do estudo de elementos particulares de reflexo
do mundo exterior ou interior. Mas os processos reais de re-
flexos do mundo exterior vão muito além dos limites das for-
mas mais elementares. O homem não vive em um mundo de
pontos luminosos ou coloridos isolados, de sons ou conta-
tos, mas em um mundo de coisas, objetos e formas, em um
mundo de situações complexas; independentemente de ele
perceber as coisas que o cercam em casa, na rua, as árvores
e 'a relva dos bosques, as pessoas com quem se comunica, os
quadros que examina e os livros que lê, ele está invariavel-
mente em contato não com sensações isoladas mas com ima-
gens inteiras; o reflexo dessas imagens ultrapassa os limites
das sensações isoladas, baseia-se no trabalho conjunto dos
órgãos dos sentidos, na síntese de sensações isoladas e nos
complexos sistemas conjuntos. Essa síntese pode ocorrer tan-
to nos limites de uma modalidade (ao analisarmos um qua-
dro, reunimos impressões visuais isoladas numa imagem inte-
gral) como nos limites de várias modalidades (ao perceber-
mos uma laranja, unimos de fato impressões visuais, táteis e
gustativas e acrescentamos os nossos conhecimentos a respei-
to da fruta). Somente como resultado dessa unificação é que
transformamos sensações isoladas numa percepção integral,
passamos do reflexo de indícios isolados ao reflexo de obje-
tos ou situações inteiros. .
Seria profundamente errôneo pensar que esse processo
de transição de sensações relativamente simples a sensações
complexas é um simples processo de soma de sensações iso-
38
lada ou, como costumam dizer os psicólogos, o resultado de
simples "associações" de indícios isolados.
Em realidade, o processo de percepção (ou o reflexo de
objetos inteiros ou situações) é bem mais complexo.
Esse processo requer que se discriminem do conjunto de
indícios atuantes (cor, forma, propriedades táteis, peso, sa-
bor, etc.) os indícios básicos determinantes com a abstra-
ção simultânea de indícios inexistentes. Requer a unificação
do grupo dos principais indícios e o cotejo do conjunto de
indícios percebidos e despercebidos com os conhecimentos an-
teriores do objeto. Se no processo dessa comparação a hi-
pótese do objeto proposto coincidir com a informação que
chega, ocorrerá a identificação do objeto e o processo de per-
cepção deste se concluirá; se como resultado dessa compa-
ração não ocorrer a coincidência da hipótese com a informa-
ção que realmente chega ao sujeito, a procura da solução
adequada continuará enquanto o sujeito não encontrá-Ia, nou-
tros termos, enquanto ele não identificar o objeto ou não
incluí-Ia em determinada categoria.
Na percepção de objetos conhecidos (um copo, uma gar-
rafa, uma mesa), esse processo de identificação do objeto
ocorre com muita rapidez, bastando ao homem unir dois-três
indícios perceptíveis para chegar à solução adequada. Na
percepção de objetos novos ou desconhecidos, o processo de
sua identificação é bem mais complexo e assume formas bem
mais desenvolvidas.
Imaginemos que o homem examina um dispositivo his-
tológico desconhecido para a obtenção de delicadíssimos cor-
tes de tecidos: o micrótomo. Inicialmente ele percebe uma
complexa construção instalada numa pesada base de ferro
fundido, em seguida distingue partes metálicas isoladas e
pode ter a súbita impressão de tratar-se de uma balança. No
entanto ele não vê os pratos indispensáveis à balança ou as
escalas que representam o peso. Ele continua a examinar
esse objeto desconhecido até que seus olhos distinguem a su-
perfície plana do aparelho e uma lâmina muito afiada. En-
tão ele pode lembrar-se de que viu algo semelhante numa
mercearia e que esse aparelho era empregado para cortar
presunto ou salame em fatias finas. Somente depois disto a
lâmina aguda, contígua à superfície metálica, torna-se indí-
cio determinante e o sujeito começa a formar a idéia de que
39o objeto percebido tem relação com os instrumentos de cor-
te cujas hélices micrmétricas parecem assegurar uma regu-
Iação precisa da espessura dos cortes. Deste modo, a per-
-cepção plena do objeto surge como resultado de um com-
plexo trabalho de análises e síntese, que ressalta os indícios
essenciais e inibe os indícios secundários, combinando os de-
talhes percebidos num todo apreendido.
É a esse processo complexo de reflexo de objetos ou
situações inteiras que em Psicologia se chama sensação.
Vê-se facilmente que a sensação é o processo complexo
e ativo que às vezes requer um considerável trabalho de
análise e síntese.
Eis porque a percepção, num grau ainda menor do que
a sensação, pode ser considerada reflexo passivo da realida-
de, registro passivo da informação que chega ao organismo.
Esse caráter complexo e ativo da percepção manifesta-
se em toda uma série de indícios que requerem uma análise
especial.
O processo de informação não é, de modo algum, o
resultado da simples excitação dos órgãos dos sentidos e da
simples chegada ao córtex cerebral das excitações que sur-
gem nos receptores periféricos (a pele, os olhos). No pro-
cesso de percepção estão sempre incluídos componentes mo-
tores em forma.de apalpação do objeto, de movimento dos
olhos que distingue os pontos mais informativos, de emis-
são de sons correspondentes que desempenham papel essen-
cial no estabelecimento das peculiaridades mais importantes
-do fluxo sonoro. Ainda abordaremos essa tese básica quando
analisarmos os diversos tipos de percepção. Por isso é mais
correto considerar o processo de percepção como atividade
receptara do sujeito.
A seguir o processo de percepção está intimamente liga-
·do à reanimação dos remanescentes da experiência anterior,
à comparação da informação que chega ao sujeito com as
-concepções anteriores, ao cotejo das ações atuais com as con-
cepções do passado, com a discriminação dos indícios essen-
-ciais, com a criação de hipóteses do valor suposto da in-
formação que a ele chega e com a sintetização dos indí-
cios perceptíveis em totalidades e com a (tomada de deci-'
são) a respeito da categoria a que pertence o objeto per-
40
~,
~
ceptível. Noutros .termos, a atividade receptara do sujeito se
assemelha aos processos' de pensamento direto e essa seme-
lhança será tanto maior quanto mais novo e mais complexo
for o objeto perceptível.
Por isto é natural que a atividade perceptiva quase
nunca se limita a uma modalidade mas compreende o resul-
tado do trabalho conjunto dos vários órgãos dos sentidos
(analisadores) em cujo processo formaram-se as concepções
do sujeito. Por último é essencial, ainda, a circunstância .de
que o processo de percepção do objeto nunca se realiza em
nível elementar e sua composição tem sempre como inte-
grante o nível superior de atividade psíquica, particularmen-
tea fala (discursá).
O homem não contempla simplesmente os objetos ou
lhes registra passivamente os indícios. Ao discriminar e reu-
nír os indícios essenciais, ele sempre designa pela palavra os
objetos perceptíveis, nomeando-os, e deste' modo apreende-
Ihes mais a fundo as propriedades e as atribui a determina-
das categorias. Ao perceber o relógio e norneá-Io mental-
mente com essa palavra, ele abstrai indícios secundários corno
li cor, o tamanho, a forma e põe em destaque o traço funda-
mental representado no nome relógio, destaca a função de
indicar o tempo (as horas); ao mesmo tempo, ele situa o
objeto perceptível em determinada categoria, separa-o de ou-
tros objetos exteriormente semelhantes mas pertencentes a
outras categorias (o telefone, por exemplo, que também tem
mostrador com os respectivos números mas sua função é in-
teiramente distinta). Tudo isso torna a confirmar a tese se-
gundo a qual a atividade receptor a do sujeito pode, pela es-
trutnra psicológica, aproximar-se do pensamento direto. O cá-
ráter complexo e ativo da atividade receptara do homem leva
a uma série de' particularidades da percepção humana que
pertencem, no mesmo grau, a todas as formas dessa per-
cepção; ,
. O primeiro traço peculiar da percepção consiste em seu
caráter ativo e imediato. Como já lembramos, 'a percepção do
homem é mediada pelos seus conhecimentos anteriores; decor-
rentes da' experiência 'anterior e constitui uma complexa ativi-
dade de análise e síntese que compreende' a criação da hipó-
tese do caráter do objeto perceptível e a decisão acerca da
correspondência do objeto perceptível a essa hipótese.
41
A segunda peculiaridade da percepção do homem consis-
te 'em seu caráter material e genérico. Corno já indicamos, o
-homem percebe não só o conjunto de indícios que lhe che-
gam mas também analisa esse conjunto como um objeto de-
terminado, não se limitando a estabelecer os traços indicado-
res desse objeto mas sempre atribuindo-o a certa categoria,
considerando-o "relógio", "mesa", "edifício", "animal", etc,
Esse caráter generalizado da percepção evolui com a idade
e o desenvolvimento mental, tornando-se cada vez mais níti-
do e refletindo o objeto perceptível com profundidade cada
vez maior, englobando todo o grande número de traços essen-
ciais que caracterizam o objeto e as conexões e relações em
que este entra.
A terceira peculiaridade da percepção humana consiste
em sua constância e correção (ortoscopicidade). A experiên-
cia com objetos nos dá uma informação bastante precisa das
suas propriedades fundamentais; sabemos que o prato é re-
dondo, que a caixa de fósforo é retangular, que o lírio é
branco. o rato é pequeno e o cavalo é grande.
Esse conhecimento anterior do objeto incorpora-se à sua
percepção direta e torna esta mais constante e mais correta
(ortoscópica); compreende certa correção às peculiaridades
que a percepção do objeto pode adquirir em condições va-
riáveis.
É fato conhecido que se girarmos um prato para o qual
o sujeito está olhando, a marca desse objeto na retina muda-
rá, assumindo paulatinamente um caráter oval ou até de um
retângulo alongado; mas continuamos por muito tempo a per-
ceber a forma que muda a posição do prato como "redondo"
fazendo a respectiva correção do conhecimento real da forma
desse objeto. .
O mesmo ocorre na percepção da cor. É sabido que um
pedaço de carvão colocado num ambiente de iluminação cla-
ra, reflete mais raios luminosos do que um pedaço de papel
branco ao crepúsculo. No entanto continuamos a perceber o
carvão como negro, corrigindo imediatamente a impressão
imediata que muda em decorrência da .situação, Em suma, a
última peculiaridade da percepção humana consiste em ser
ela móvel e dirigível.
O processo de atividade perceptiva é sempre determi-
nado pela tarefa que se coloca diante do sujeito. Ao examí-
42
~
I
I
!
y,
!f
~.
nar um quadro, visando a determinar o método de trabalho
do pintor, o homem ignora o conteúdo e destaca a maneira
da distribuição da tinta no, quadro; propondo-se a tarefa de
determinar o tempo a que pertence o quadro, ele destaca as
maneiras do desenho, a roupa dos personagens representados,
a forma arquitetônica dos edifícios; tentando analisar a ima-
gem do quadro ou o acontecimento nele representado, ele
amplia o círculo de informações que vai recebendo e analisa
todo o quadro em conjunto; ao contrário, propondo-se a ta-
refa de captar a mímica das pessoas representadas no qua-
dro, ele restringe aparentemente o volume de sua percepção e
se concentra em detalhes isolados do quadro.
É natural que esse determinismo da' percepção pela ta-
refa que se coloca diante do homem ou do seu objetivo tor-
na a percepção elástica e dirigível, e essas peculiaridades da
percepção .humana dependem altamente do papel que na ati-
vidade receptora desempenha a experiência prática do su-
jeito e o seu discurso interior, que permite formular e mudar
as tarefas.
É perfeitamente compreensível que tudo isto distingue
essencialmente a atividadereceptara do homem da percepção
do animal, que, apesar de toda a sua mobilidade, carece das
qualidades dirigíveis e arbitrárias que caracterizam à ativida-
de .perceptíva consciente do homem.
Todas as referidas peculiaridades da atividade receptara
do homem permitem compreender melhor as condições das
quais ela depende.
É natural que a percepção correta dos complexos obje-
tos não depende apenas da precisão do funcionamento dos
nossos órgãos. dos sentidos mas também de várias outras con-
dições essenciais. Situam-se entre estas a experiência ante-
rior do sujeito e a amplitude de profundidade das suas con-
cepções, a tarefa a que ele se propõe ao analisar determina-
do objeto, o caráter ativo, coerente e crítico da sua atividade
receptora, a manutenção dos movimentos ativos que inte-
gram a atividade receptara, a capacidade de reprimir a tempo
as hipóteses do significado do objeto perceptível se estas não
corresponderem à informação afluente.
A complexidade do desempenho perceptivo 'ativo permite
explicar também as falhas que se verificam na percepção da
43
criança nas etapas tenras do desenvolvimento bem como as
peculiaridades do distúrbio da percepção que podem surgir
nos estados patológicos do cérebro. Essas peculiaridades po-
dem assumir cara ter variado dependendo do elo da atividade
receptora insuficientemente desenvolvido ou perturbado.
Assim, a insuficiente agudez da sensibilidade (visual ou
auditiva) pode acarretar erros de percepção que, não obstan-
te, podem ser compensados com êxito com o emprego de
aparelhos de reforço da sensibilidade ou pela concentração
da atenção 'do sujeito.
As falhas, relacionadas com a distorção da síntese dos
indícios perceptíveis (verificadas na afecção das zonas ter-
darias e sintéticas do córtex cerebral), podem levar a que
alguns indíciosrdo Objeto visível continuem a ser bem perce-
bidos' enquanto o sujeito se mostra incapaz de perceber o
objeto no' conjunto e é forçado a fazer angustiantes conjetu-
ras tentando descobrir o que pode significar a combinação
dos indícios por ele percebidos.
É inteiramente distinto o caráter das falhas da percepção
durante a perturbação do processo de percepção ativo. Nes-
tes casos, todo o complexo processo de discriminação dos in-
dícios essenciais do objeto e a' comparação da hipótese que
surge com á informação que realmente chega pode ser per-
turbado e o homem pode limitar-se a fazer suposições impul-
sivas do significado do objeto perceptível com base nos indí-
cios particulares deste e, às vezes, com base em detalhes mais
nítidos ou que mais saltam à vista, sem comparar a sua hi-
pótese com a informação que recebe nem corrigir as suas
conjeruras verrôneas,
• Por último, podem adquirir novamente outro caráter as
falhas da percepção nos casos em que o objetivo do homem
adquire inércia patológica e ele começa a perceber não o que
corresponde às peculiaridades do objeto que atua sobre ele
quanto o que ele espera ver e que corresponde aos seus obje-
tivos inertes preconcebidos. Algumas Iormas de engano da
percepção, que ocorrem em determinados grupos de doentes
com patologia cerebral, adquirem justamente esse caráter,
Analisamos as teses mais gerais, da psicologia da ativida-
de perceptiva do ,homem e agora podemos passar ao exa-
me de algumas formas isoladas de percepção humana.
44
I1I
1I
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II1
1
111
11
I/li
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I1II
111
Ilil
~
e o sujeito se revela incapaz de descrever um tema integral
em desenvolvimento, incluindo nesses quadros partes não re-
presentadas em quadros isolados.
O estudo da avaliação dos .quadros temáticos e de suas
séries é amplamente empregado na prática e na Psicologia
clínica.l
Desenvolvimento da percepção material
i
Seria incorreto pensar que, desde o início, a percepção
tem as leis que observamos no adulto.
Como mostraram as pesquisas, a percepção percorre um
longo caminho de desenvolvimento. A essência desse desen-
volvirnento consiste não tanto no enriquecimento quantitativo
quanto na profunda reorganização qualitativa cujo resultado
é a substituição das formas elementares imediatas por uma
complexa atividade perceptiva, constituída tanto pela atividade
prática de conhecimento do objeto quanto pela análise das
particularidades essenciais deste, análise essa que é feita com
a participação imediata do discurso.
É sabido que a percepção de um bebê é muito difusa
e ele percebe não tanto os objetos destacados quanto os seus
traços difusos particulares (matizes, traços expressivos, etc.).
Por isto as reações do bebê diante do mundo depende em alto
grau de um sorriso, uma pose ou da maneira como a mãe
está vestida, etc. Há fundamentos para se pensar que as pri-
meiras percepções constantes dos objetos começam a formar-
se na criança no processo em que ela agarra, manipula as
coisas, etc. No entanto os vestígios do estágio difuso tenro
de desenvolvimento da -percepção ainda persistem durante um
tempo bastante longo.
Como mostraram as pesquisas do psicólogo soviético G. L.
Rosengardt-Punko, a criança de 1,5-2 anos continua a dis-
tinguir no objeto traços isolados, sem revelar a constância da
percepção do objeto que é própria da percepção dos adultos.
Quando se pede a uma criança para trazer um brinquedo como
o urso de pelúcia que lhe foi mostrado, ela pode trazer um
pano macio de pelúcia, reagindo à maciez, ao aspecto peludo
e à cor e não ao objeto em conjunto. Quando se lhe pede
para trazer o pato de porcelana que lhe foi mostrado, ela pode
75
trazer qualquer figura de porcelana ou uma bola com uma
ponta fina ("o bico"), etc. Somente depois que o objeto co-
meça a ser designado pela palavra ("urso", "pato") é que a
percepção da criança adquire caráter material constante e ela
deixa de cometer os erros aqui descritos.
Os testes, realizados pelo psicólogo soviético A. A. Lyu-
blinsky, mostraram que a incorporação da palavra transforma
radicalmente o processo de percepção, permite distinguir mais
nitidamente as imagens com base não em indícios isolados mas
no seu caráter material complexo (após assimilar a represen-
tação verbal do objeto, a criança deixa de cometer erros de
percepção, elabora um processo bem mais preciso, rápido e
constante de diferenciação). Por conseguinte, sob a influên-
cia da linguagem, a percepção da criança se transforma radi-
calmente numa percepção material complexa e concreta.
Pesquisas posteriores mostraram que, a par com a lin-
guagem, participam da formação da percepção complexa os
movimentos (movimentos da mão que tateia o objeto) táteis
e os movimentos dos olhos, que distinguem os traços informa-
tivos essenciais do objeto e os sintetizam. Esses movimentos
têm inicialmente caráter amplamente desdobrado e caótico e
só paulatinamente se tornam organizados e cada vez mais re-
duzidos.
Deste modo, o desenvolvimento da percepção é essencial-
mente o movimento das ações voltadas para a descoberta das
particularidades essenciais dos objetos e a sua identificação.
A identificação rápida e simultânea dos objetos visualmente
perceptíveis é, de fato, o resultado do desenvolvimento paulati-
no de uma atividade desdobrada de orientação e pesquisa e
sua transformação em "ação perceptiva" interna.
Processo análogo de redução dos movimentos analisadores
e identificadores dos olhos, que se manifesta no processo de
desenvolvimento, pode ser visto também no estudo do pro-
cesso de análise de complexos quadros temátícos.
Dados igualmente essenciais foram obtidos no estudo do
desenvolvimento de formas mais complexas de atividade per-
ceptíva nas crianças. Como mostraram os experimentos de
A. V. Zaporojets e seus colaboradores, atos como a avaliação
de uma magnitude, da forma e até da cor dos objetos não
são funções congênitas simples mas se formam através de uma
atividade de orientação e pesquisa que se "desprende" da ati-vidade prática e começa paulatinamente a apoiar-se na aplí-
76
,
cação de "medidas" .ou "padrões" conhecidos e elaborados
pela criança, sendo que a aplicação destes "padrões" começa
a ter caráter cada vez mais reduzido.
Tudo isto mostra que a percepção material do homem
se forma no processo de uma ampla atividade perceptiva, sen-
do a própria percepção material um produto "reduzido" dessa
atividade.
Ao estudarmos o desenvolvimento da percepção na infân-
cia, não podemos omitir um importante episódio da história
desse problema.
Em seu livro sobre Psicologia infantil, o famoso psicólogo
alemão William Stern lançou a hipótese de que a percepção de
quadros e situações na criança revela quatro estágios básicos:
no primeiro a criança percebe apenas objetos isolados, no se-
gundo, ações, no terceiro, as qualidades da coisa, no quarto,
as complexas relações entre as coisas.
Essa concepção das vias de desenvolvimento da percepção
manteve-se na ,Psicologia durante um período muito longo. Mas
em meados da década de 20 do nosso século o psicólogo so-
viético S. Vigotsky mostrou que essa hipótese estava em con-
tradição com o fato de que a criança percebe inicialmente si-
tuações inteiras e só depois é capaz de separar nela os com-
ponentes isolados. Vigotsky demonstrou essa afirmação pro-
pondo a crianças não narrar mas representar .ativamente o te-
ma de um quadro. A criança, que através das palavras podia
designar apenas alguns objetos isolados, conseguia entender
facilmente e "representar" o tema do quadro.
Isto levou Vigotsky a levantar a hipótese de que os está-
gios descritos por Stern em realidade não são estágios de de-
senvolvimento da percepção mas estágios de desenvolvimento
do discurso infantil, no qual, como se sabe, predominam ini-
cialmente os substantivos e só mais tarde discriminam-se as
palavras que significam ações, qualidades e relações.
Esse fato (que analisaremos adiante) indica o grande pa-
pel desempenhado na percepção da criança pela linguagem
e constitui um dos fatos mais importantes da Psicologia atual.
Patologia da percepção material
Se a percepção do homem tem uma estrutura tão comple-
xa e percorre uma via tão complexa de desenvolvimento fun-
77

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