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Luciana Miranda de Souza Notas de Aula de Equac¸o˜es Diferenciais Ordina´rias agosto de 2012 1 Introduc¸a˜o Quando falamos de equac¸o˜es diferenciais, temos a ideia de que estamos nos referindo a algum tipo de equac¸a˜o envolvendo derivadas. De fato, uma equac¸a˜o diferencial e´ uma equac¸a˜o em que a inco´gnita e´ uma func¸a˜o que e´ dada sob a forma de suas respectivas derivadas. Estas derivadas podem ser de primeira ordem, segunda ou de qualquer ordem de derivac¸a˜o. Matematicamente, uma equac¸a˜o diferencial e´ descrita da seguinte forma: F (x, y(x), y′(x), y′′(x), ..., y(n)(x)) = 0 ou seja, e´ uma igualdade envolvendo uma func¸a˜o inco´gnita y = y(x) e suas derivadas (ou suas diferenciais). Nesta expressa˜o, x e´ dita varia´vel independente e y e´ a varia´vel dependente . O s´ımbolo y(k)(x) denota a derivada de ordem k da func¸a˜o y = y(x). Vejamos alguns exemplos: y(5)(x) + 3y′′′(x)− y(x) = 7 (senx)y′′(x) + (y(x))2 = y′(x) y′(x) = x2 + xy(x) + (y(x))2 x2 ut(x, t) = 3uxx(x, t) utt(x, t) = uxx(x, t) + ux(x, t) Nos treˆs primeiros exemplos, notamos que a varia´vel dependente e´ y(x), ou seja, e´ uma func¸a˜o de uma varia´vel independente x, enquanto nos dois u´ltimos, a varia´vel dependente e´ uma func¸a˜o de duas varia´veis independentes (x, t) e por isso nestas equac¸o˜es aparecem as derivadas parciais de u(x, t). Em decorreˆncia destas difererenc¸as, precisamos classificar as equac¸o˜es para podermos agrupa´-las e estuda´-las separadamente. 1.1 Classificac¸a˜o de Equac¸o˜es Diferenciais Classificaremos as equac¸o˜es diferencias segundo treˆs crite´rios: 1.1.1 Quanto ao tipo: Vimos nos exemplos acima que a soluc¸a˜o de uma equac¸a˜o diferencial pode ser uma func¸a˜o de uma ou de va´rias varia´veis. No primeiro caso, na equac¸a˜o aparecem condic¸o˜es sobre as derivadas da func¸a˜o. Mas se a soluc¸a˜o tiver mais de uma varia´vel, as condic¸o˜es sa˜o sobre as derivadas parcias. Por isso, dividimos as equac¸o˜es diferenciais em ordina´rias; quando a varia´vel dependente depende de somente uma varia´vel, ou parciais , que e´ quando a varia´vel dependente depende de duas ou mais varia´veis. 1 Por exemplo, as equac¸o˜es y(5)(x) + 3y′′′(x) − y(x) = 7, (sen x)y′′(x) + (y(x))2 = y′(x) e y′(x) = x2 + xy(x) + (y(x))2 x2 sa˜o equac¸o˜es diferenciais ordina´rias (E.D.O), enquanto as equac¸o˜es ut(x, t) = 3uxx(x, t) e utt(x, t) = uxx(x, t) + ux(x, t) sa˜o equac¸o˜es diferenciais parciais (E.D.P.). 1.1.2 Quanto a` ordem: A ordem da derivada de maior ordem em uma equac¸a˜o diferencial e´, por definic¸a˜o, a ordem da equac¸a˜o. Assim, as equac¸o˜es (senx)y′′(x) + (y(x))2 = y′(x), ut(x, t) = 3uxx(x, t) e utt(x, t) = uxx(x, t) + ux(x, t) sa˜o de segunda ordem; ja´ y ′(x) = x2 + xy(x) + (y(x))2 x2 e´ de primeira ordem; enquanto y(5)(x) + 3y′′′(x)− y(x) = 7 e´ de quinta ordem. Note que a classificac¸a˜o quanto a` ordem, e´ independente da equac¸a˜o ser ordina´ria ou parcial. 1.1.3 Quanto a` linearidade: Sabemos que uma equac¸a˜o alge´brica e´ dita linear se for da forma ax+ b = 0, ou seja, o expoente da inco´gnita x e´ igual a 1. Portanto, as equac¸o˜es alge´bricas anx n + an−1xn−1 + ...+ a1x+ a0 = 0 ou por exemplo senx = pi, ex = 5, lnx = 0, etc, na˜o sa˜o lineares. Uma equac¸a˜o diferencial e´ dita linear se for da forma an(x)y (n)(x) + an−1(x)y(n−1)(x) + ...+ a1(x)y′(x) + a0(x)y(x) = q(x). Note que este tipo de equac¸a˜o e´ caracterizada por duas propriedade: 1. A varia´vel dependente y(x) assim como todas as suas derivadas sa˜o do primeiro grau; isto e´ a potencia de cada termo envolvendo y(x) ou suas derivadas e´ igual a 1. 2. Cada coeficiente depende apenas da varia´vel independente x. Uma equac¸a˜o diferencial que na˜o e´ linear e´ dita na˜o linear Na tabela abaixo segue alguns exemplos para explicitar a diferenc¸a: Lineares Na˜o Lineares 3y(4)(x) + 2y′′′(x)− y′(x) = −y(x) 3y(4)(x) + 2y′′′(x)− (y′(x))2 = −y(x) y′(x) = x2 + xy(x) y′(x) = x2 + xy(x) x2y(x) x3y(4)(x) + 2exy′′′(x)− y′(x) = −y(x) xy(4)(x) + 2(y′′′(x))3 − (y′(x))2 = e−y(x) (senx)y′(x) + 2 = (cosx)y(x) sen y′(x) + 2 = cos y(x) No decorrer deste texto vamos observar que em geral, as equac¸o˜es lineares sa˜o mais fa´ceis de resolver e que muitas te´cnicas usadas para resolver equac¸a˜oes lineares na˜o podera˜o ser usadas para resolver equac¸o˜es na˜o lineares. 2 1.2 Soluc¸o˜es de Equac¸o˜es Diferenciais Neste curso, nosso objetivo e´ encontrar as soluc¸o˜es de uma equac¸a˜o diferencial. Qualquer func¸a˜o y que quando substitu´ıda na equac¸a˜o diferencial reduz a equac¸a˜o a uma iden- tidade, e´ chamada de soluc¸a˜o para equac¸a˜o. Isso vale tanto para equac¸o˜es diferenciais ordina´rias quanto para as parciais. No nosso curso trataremos apenas das ordina´rias e portanto, de agora em diante faleremos apenas das E.D.O.’s. Para ilustrar a definic¸a˜o de soluc¸a˜o vejamos alguns exemplos: Exemplo 1.1. A func¸a˜o f1(x) = e x e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o y′(x) = y(x); de fato, f ′1(x) = e x e portanto, f ′1(x) = f1(x). Temos tambe´m que f0(x) = 0 e fn(x) = ne x para todo n ∈ R sa˜o soluc¸o˜es da equac¸a˜o em que questa˜o. Exemplo 1.2. Para a equac¸a˜o y′(x) = x √ y(x), uma soluc¸a˜o e´ a func¸a˜o f(x) = x4 16 , pois f ′(x) = x3 4 e x √ f(x) = x √ x4 16 = x3 4 assim, f ′(x) = x √ f(x). A func¸a˜o f0(x) = 0 tambe´m e´ uma soluc¸a˜o para y′(x) = x √ y(x). Exemplo 1.3. Uma soluc¸a˜o para a equac¸a˜o y′′(x)− 2y′(x) + y(x) = 0 e´ a func¸a˜o g(x) = xex. Temos que g′(x) = ex + xex e g′′(x) = ex + ex + xex = 2ex + xex. Portanto, g′′(x) − 2g(x) + g(x) = 2ex + xex − 2(ex + xex) + xex = 0, o que confirma g(x) ser soluc¸a˜o da equac¸a˜o proposta. Exemplo 1.4. Para algumas equac¸o˜es diferenciais na˜o e´ poss´ıvel escrever a soluc¸a˜o explicitamente como func¸a˜o da varia´vel independente. Um exemplo disso e´ a equac¸a˜o y′(x) = x y(x) . Suas soluc¸o˜es y(x) sa˜o dadas implicitamente pela equac¸a˜o x2−(y(x))2 = c, para todo c ∈ R. De fato, se derivarmos a u´ltima equac¸a˜o implicitamente em func¸a˜o de x, teremos: 2x− 2y(x)dy dx = 0. Isolando a derivada, temos dy dx = −2x −2y(x) = x y(x) o que comprova a afirmac¸a˜o acima. Em geral, as soluc¸o˜es de uma equac¸a˜o diferencial, podem ser dadas explicitamente como func¸o˜es da varia´vel independente como nos exemplos (1.1), (1.2) e (1.3), ou implicitamente como no exemplo (1.4). Outra observac¸a˜o que cabe salientar e o nu´mero de soluc¸o˜es de uma equac¸a˜o diferencial. Em alguns exemplos acima, vimos que podemos ter infinitas soluc¸o˜es para uma mesma E.D.O. e isso alcontece na maioria das vezes. Teremos unicidade de soluc¸a˜o, quando a equac¸a˜o estiver sujeita a uma condic¸a˜o inicial. 1.3 Problemas de Valor Inicial (P.V.I) Comecemos com um exemplo de crescimento populacional que pode se descrito por uma equac¸a˜o diferencial: Considere uma populac¸a˜o de ratos do campo que habita uma certa a´rea rural. Vamos supor que na auseˆncia de predadores, a populac¸a˜o de ratos cresce a uma taxa proporcional a populac¸a˜o atual. 3 Se denotarmos o tempo por t e a populac¸a˜o de ratos por p(t), enta˜o a hipo´tese sobre o crescimento populacional pode ser expressa pela equac¸a˜o dp dt = rp, onde o fator de proporcionalidade r e´ chamado de taxa ou de taxa de crescimento. Para sermos espec´ıficos, suponhamos que o tempo e´ medido em meses e que a taxa r e´ igual a 0,5 por meˆs. Vamos ainda, aumentar o problema supondo que diversas corujas moram na mesma vizinhanc¸a e que elas matam 15 ratos do campo por dia, isto e´ 450 ratos por meˆs, ja´ que e´ esta a unidade de tempo. Com essas considerac¸o˜es a equac¸a˜o se transforma em dp dt = 0, 5p− 450. Apesar de ainda na˜o sabermos resolver este tipo de equac¸a˜o, podemos verificar que para todo c ∈ R, p(t) = 900− ce t2 e´ soluc¸a˜o; poiscomo p′(t) = c 2 e t 2 , temos c 2 e t 2 = 0, 5(900 + ce t 2 )− 450. Assim, neste exemplo, encontramos uma infinidade de soluc¸o˜es para uma u´nica equac¸a˜o diferen- cial, correspondendo a` infinidade de valores reais que c pode assumir. Muitas das vezes queremos focalizar nossa atenc¸a˜o em um u´nico elemento dessa famı´lia de soluc¸o˜es e para isso, precisamos especificar uma condic¸a˜o inicial sobre a soluc¸a˜o. Para determinar a constante c acima, poderiamos contar a populac¸a˜o inicial de ratos. Por exem- plo, vamos considerar que inicialmente na a´rea em questa˜o, exista 850 ratos, isto e´, p(0) = 850. Substituindo t por 0 e p(t) por 850 na soluc¸a˜o, obtemos que 850 = 900 + ce0 ou seja, c = −50. Logo, a soluc¸a˜o que satisfaz esta condic¸a˜o inicial e´ p(t) = 900− 50e t2 . Este exemplo serve para motivar a a seguinte definic¸a˜o: Denominamos Problema de Valor Inicial (P.V.I) uma equac¸a˜o diferencial ordina´ria de primeira ordem da forma dy dx = f(x, y), sujeita a` condic¸a˜o inicial y(x0) = y0. Em geral, este tipo de problema e´ denotado por { dy dx = f(x, y) y(x0) = y0. 1.4 Exerc´ıcios 1. Nos problemas a seguir, classifique quanto a` ordem e quanto a` linearidade. (a) (1− x)y′′ − 4xy′ + 5y = cosx (b) x d3y dx3 − 2 (dy dx )4 + y = 0 (c) x3y(4) − x2y′′ + 4xy′ − 3y = 0 (d) x2 + (y − xy − xex)dy dx = 0 4 (e) yy′ + 2y = 1 + x2 (f) d2y dx2 + 9y = sen y (g) dy dx = √ 1 + d2y dx2 (h) d2r dt2 = k r2 (i) (senx)y′′′ − (cosx)y′ = 2 (j) (1− y2) + xdy dx = 0 2. Verifique se a func¸a˜o dada e´ soluc¸a˜o para a equac¸a˜o diferencial, considerando c e k constates. (a) 2y′ + y = 0; y = e− x 2 (b) dy dx − 2y = e3x; y = e3x + 10e2x (c) y′ = 25 + y2; y = 5tg 5x (d) y′ + y = senx; y = 1 2 senx− 1 2 cosx+ 10e−x (e) x2 + 2xy dy dx = 0; y = − 1 x2 (f) y′ − 1 x y = 1; y = x lnx (g) dX dt = (2−X)(1−X); ln 2−X 1−X = t (h) y′′ + y′ − 12y = 0; y = ce3x + ke−4x (i) y′′′ − 3y′′ + 3y′ − y = 0; y = x2ex (j) x2y′′ − xy′ + 2y = 0; y = x cos(lnx), x > 0. 3. Nos problemas abaixo, determine os valores de m para que y = emx seja soluc¸a˜o para cada equac¸a˜o diferencial. (a) y′′ − 5y′ + 6y = 0 (b) y′′ + 10y′ + 25y = 0 4. Mostre que y1 = x 2 e y2 = x 3 sa˜o ambas soluc¸o˜es para x2y′′ − 4xy′ + 6y = 0. As func¸o˜es cy1 e ky2 para c ∈ R e k ∈ R, sa˜o tambe´m soluc¸o˜es? E a soma y1 + y2 ? 5. Nos problemas a seguir, verifique se a func¸a˜o defida por parte e´ soluc¸a˜o da E.D.O. dada. (a) xy′ − 2y = 0; y = { −x2, se x < 0 x2, se x ≥ 0 (b) (y′)2 = 9xy; y = { 0, se x < 0 x3, se x ≥ 0 5 1.5 Respostas 1. (a)2a ordem, linear; (b) 3a ordem, na˜o linear; (c) 4a ordem,linear; (d) 1a ordem, na˜o linear; (e) 1a ordem, na˜o linear; (f) 2a ordem, na˜o linear; (g) 2a ordem, na˜o linear; (h) 2a ordem, na˜o linear; (i) 3a ordem, linear; (j) 1a ordem, na˜o linear. 2. Apenas os itens (c) e (e) na˜o e´ soluc¸a˜o, no resto todas as func¸o˜es satisfazem a equac¸a˜o direnecial. 3. (a) m = 3 ou m = 2; (b) m = −5 4. Todas as func¸o˜es dadas na questa˜o sa˜o soluc¸o˜es. 6 2 Equac¸o˜es Diferenciais Ordina´rias de Primeira Ordem Estamos agora prontos para resolver algumas equac¸o˜es diferencias ordina´rias. Comec¸aremos com as de primeira ordem ou seja, as do tipo y′(x) = F (x, y(x)) (1) De agora em diante, para simplificar a notac¸a˜o, omitiremos a varia´vel independente no termo y(x). Para podermos estudar os me´todos de resoluc¸a˜o de equac¸o˜es diferenciais, sera´ conveniente escrever a equac¸a˜o (1) considerando F (x, y) como −M(x, y) N(x, y) , isto e´, escreveremos a equac¸a˜o (1) como y′(x) = −M(x, y) N(x, y) (2) ou ainda, podemos escrever a equac¸a˜o (2) como M(x, y) +N(x, y)y′(x) = 0 (3) Para ilustrar essas notac¸o˜es, usaremos os seguintes exemplos: Exemplo 2.1. A E.D.O. y′ = cos(xy), tem F (x, y) = cos(xy). Usando a notac¸a˜o (3), podemos considerar M(x, y) = − cos(xy) e N(x, y) = 1 e escrevemos a equac¸a˜o em questa˜o como − cos(xy) + y′ = 0. Exemplo 2.2. Se a E.D.O for y′ = ex + y x2 − 3 − sen (xy), temos F (x, y) = ex + y x2 − 3 − sen (xy). Igualando a equac¸a˜o a zero, temos (x2− 3)sen (xy)− ex + y+ (x2− 3)y′ = 0, ou seja, M(x, y) = (x2− 3)sen (xy)− ex + y e N(x, y) = (x2 − 3). Exemplo 2.3. Para y′ = 3x2 − 4x+ 2 2(y − 1) temos F (x, y) = 3x2 + 4x+ 2 2(y − 1) e igualando a 0, −3x 2 + 4x − 2 + (2(y − 1))y′ = 0, o que nos da´ portanto, M(x, y) = −3x2 + 4x− 2 e N(x, y) = 2(y − 1). Tambe´m e´ comum escrever a equac¸a˜o (3) como M(x, y) +N(x, y) dy dx = 0 (4) ou ainda, na forma diferencial, como M(x, y)dx+N(x, y)dy = 0 (5) Com isso estamos prontos para aprender a resolver o primeiro tipo de E.D.O. 2.1 Equac¸o˜es Separa´veis Uma equac¸a˜o diferencial ordina´ria de primeira ordem dy dx = −M(x, y) N(x, y) , e´ dita separa´vel , se M(x, y) depende apenas de x e se N(x, y) depende apenas de y, isto e´, M(x, y) = M(x) e N(x, y) = N(y). Neste caso, escrevemos a equac¸a˜o da seguinte forma: M(x) +N(y) dy dx = 0 (6) ou ainda na forma diferencial 7 M(x)dx+N(y)dy = 0 (7) O nome sepera´vel e´ motivado pelo fato de que e´ poss´ıvel separar as func¸o˜es de modo que cada membro da igualdade possua uma func¸a˜o com apenas uma varia´vel. Assim, podemos resolver a e.d.o. por um processo de integrac¸a˜o “simples”. Vejamos alguns exemplos: Exemplo 2.4. Resolva a e.d.o. dy dx = x2 1− y2 . Comec¸amos reescrevendo a equac¸a˜o como a equac¸a˜o (7), separamos as varia´veis e integramos ambos os lados da igualdade: −x2dx+ (1− y2)dy = 0⇒ (1− y2)dy = x2dx⇒ ∫ (1− y2)dy = ∫ x2dx⇒ y − y 3 3 = x3 3 + c Portanto a soluc¸a˜o e´ dada implicitamente pela equac¸a˜o y − y 3 3 = x3 3 + c. Exemplo 2.5. Resolva o P.V.I. dy dx = 3x2 − 4x+ 2 2(y − 1) y(0) = −1. Vemos que esta e´ uma equac¸a˜o separa´vel, portatanto, vamos separa´-la e integrar ambos os lados da desigualdade. (−3x2 + 4x− 2)dx+ 2(y − 1)dy = 0⇒ 2(y − 1)dy = (3x2 − 4x+ 2)dx⇒ ∫ 2(y − 1)dy = ∫ 3x2 − 4x+ 2dx⇒ y2 − 2y = x3 − 2x2 + 2x+ c, completando quadrado ⇒ (y − 1)2 − 1 = x3 − 2x2 + 2x+ c⇒ (y − 1)2 = x3 − 2x2 + 2x+ 1 + c⇒ y = 1± √ x3 − 2x2 + 2x+ 1 + c. Neste caso temos infinitas soluc¸o˜es dependendo de c e do sinal da raiz quadarada. Mas, como temos uma condic¸a˜o inicial, determinamos unicamente a soluc¸a˜o. Enta˜o se x = 0 e y = −1, −1 = 1± √ 03 − 2 · 02 + 2 · 0 + 1 + c⇒ 8 −2 = ±√1 + c, como o lado esquerdo da equac¸a˜o e´ negativo, o sinal do lado direito tambe´m deve ser ; −2 = −√1 + c⇒ c = 3 Assim, a soluc¸a˜o do p.v.i. e´ y = 1−√x3 − 2x2 + 2x+ 4. Exemplo 2.6. Determine a soluc¸a˜o da equac¸a˜o y′ = y cos(x) 1 + 2y2 . Note que esta tambe´m e´ uma equac¸a˜o separa´vel. Assim, como nos exemplos anteriores, temos: (1 + 2y2) y dy = cos(x)dx⇒ ∫ (1 + 2y2) y dy = ∫ cos(x)dx⇒ ∫ 1 y + 2y dy = sen (x) + c⇒ ln y + y2 = sen (x) + c Assim a soluc¸a˜o e´ dada implicitamente por ln y + y2 = sen (x) + c. Exemplo 2.7. Vamos resolver mais um P.V.I.: { xy4dx+ (y2 + 2)e−3xdy = 0 y(0) = 3. Comec¸amos seperando a equac¸a˜o e em seguida, integramos. Para separar, multiplicamos por e3x e dividimos po y4: e3x y4 [ xy4dx+ (y2 + 2) e3x dy = 0 ] ⇒ xe3xdx+ (y2 + 2) y4 dy = 0⇒ ∫ xe3xdx = − ∫ (y2 + 2) y4 dy ⇒ A integral da esquerda e´ por partes: u = x v = e 3x 3 du = dx dv = e3x xe3x 3 − ∫ e3x 3 dx = − ∫ 1 y2 + 2 y4 dy ⇒ xe3x 3 − e 3x 9 + c = − ( − 1 y − 2 3y3 ) ⇒ e3x(3x− 1) + c = 9 y + 6 y3 em que a u´ltima equac¸a˜o foi otida multiplicando ambos os lados por 9. Para terminar, temos que calcular c usando a condic¸a˜o inicial y(0) = 3.9 e3·0(3 · 0− 1) + c = (9 3 + 6 33 ) ⇒ −1 + c = 1 3 + 2 9 ⇒ c = 5 9 + 1 = 14 9 . Logo, a soluc¸a˜o do P.V.I. e´ implicitamente dada por 9 y + 6 y3 = e3x(3x− 1) + 14 9 . 2.2 Equac¸o˜es Exatas Vamos considerar agora uma classe de equac¸o˜es conhecida como equac¸o˜es exatas, para as quais existe tambe´m um me´todo bem definido de soluc¸a˜o. Devemos ter em mente que estes grupos de equac¸o˜es de primeira ordem, que podem ser resolvidas por me´todos de integrac¸a˜o elementares, sa˜o bastante especiais, uma vez que a maioria das equac¸o˜es de primeira ordem na˜o podem ser resolvidas desta forma. Suponha dada a equac¸a˜o diferencial de primeira ordem M(x, y) +N(x, y) dy dx = 0, (8) Uma E.D.O. da forma (8) e´ dita exata se existir uma func¸a˜o ψ(x, y), diferencia´vel, tal que dψ dx (x, y) = ∂ψ ∂x (x, y) + ∂ψ ∂y (x, y) dy dx = M(x, y) +N(x, y) dy dx = 0. (9) Neste caso, devemos ter ∂ψ ∂x (x, y) = M(x, y) e ∂ψ ∂y (x, y) = N(x, y), e assim, equac¸a˜o (8) se reduz a` equac¸a˜o diferencial dψ dx (x, y) = 0. (10) A soluc¸a˜o impl´ıcita do problema (8) e´ dada pela integrac¸a˜o de ambos os lados de (10), por ψ(x, y) = c. Mas como determinar se dada uma E.D.O. de primeira ordem e´ exata? Ou seja, como saber se e´ poss´ıvel encontrar a func¸a˜o ψ(x, y) ? Do ca´lculo diferencial, sabemos que (Teorema de Claraut), se ψ(x, y) e´ uma func¸a˜o diferencia´vel, com derivadas parciais ∂ψ ∂x (x, y) e ∂ψ ∂y (x, y) cont´ınuas e diferencia´veis, enta˜o, as derivadas mistas de segunda ordem sa˜o iguais, ∂2ψ ∂y∂x (x, y) = ∂2ψ ∂x∂y (x, y). (11) Como a func¸a˜o ψ(x, y) procurada satisfaz ∂ψ ∂x (x, y) = M(x, y) e ∂ψ ∂y (x, y) = N(x, y), da equac¸a˜o (11) temos, Teorema 2.1 (Criterio para E.D.O. exata). Uma equac¸a˜o diferencial ordina´ria de primeira ordem M(x, y) +N(x, y) dy dx = 0 10 em que as func¸o˜es M(x, y) e N(x, y) sa˜o cont´ınuas e diferencia´veis em uma regia˜o aberta de R2, e´ exata, se e somente se ∂M ∂y (x, y) = ∂N ∂x (x, y) ou em outra notac¸a˜o, My = Nx Depois de verificar que uma dada equac¸a˜o e´ exata, usamos que ψx = M e ψy = N , para encontrar ψ(x, y) e assim, resolver a equac¸a˜o. Vamos ver alguns exemplos: Exemplo 2.8. Resolva a equac¸a˜o difrencial (y cosx+ 2xey) + (senx+ x2ey − 1)y′ = 0 (12) Temos que M(x, y) = y cosx+ 2xey e N(x, y) = senx+ x2ey − 1. Enta˜o My = cosx+ 2xe y e Nx = cosx+ 2xe y e portanto a equac¸a˜o e´ exata. Neste caso, vamos calcular a func¸a˜o ψ(x, y). Podemos usar que ψx = M ou ψy = N , escolhendo entre M ou N a que for mais fa´cil de integrar. Neste exemplo, integrar M com relac¸a˜o a x ou N com relac¸a˜o a y e´ equivalente. Vamos escolher integrar M com relac¸a˜o a x: Se ψx = M , temos ψ(x, y) = ∫ Mdx, assim, ψ(x, y) = ∫ y cosx+ 2xey dx = y senx+ x2ey + g(y) A func¸a˜o g(y) que apareceu na u´ltima equac¸a˜o e´ devido ao fato de M(x, y) ser func¸a˜o de duas varia´veis e estar sendo integrada somente com relac¸a˜o a´ varia´vel x. Neste caso, como a integral e´ indefinida, devemos considerar a constante dependendo de y, uma vez que se derivarmos parcialmente com relac¸a˜o a x a func¸a˜o encontrada ψ(x, y) = y senx+ x2ey + g(y), (13) obteremos exatamente a func¸a˜o M(x, y). Para determinarmos finalmente a func¸a˜o ψ(x, y), resta calcular g(y). Usaremos a segunda condic¸a˜o que ψ(x, y) deve satisfazer: ψy = N . Se ψy = N , senx+ x2ey + g′(y) = senx+ x2ey − 1⇒ g′(y) = −1⇒ g(y) = −y. Assim, a func¸a˜o procurada e´ ψ(x, y) = y senx+x2ey − y e a soluc¸a˜o de (12) e´ dada implicitamente por ψ(x, y) = y senx+ x2ey − y = c. 11 Exemplo 2.9. Determine a soluc¸a˜o do P.V.I. { (2xy + x2)dx+ (x2 − 3)dy = 0 y(0) = −5. Primeiramente vamos verificar se a equac¸a˜o e´ exata, calculando My e Nx: My = 2x e Nx = 2x. Como My = Nx a equac¸a˜o e´ exata. Vamos agora encontrar ψ(x, y). ψ(x, y) = ∫ M dx = ∫ 2xy + x2 dx = x2y + x3 3 + g(y) Como obtemos ψ(x, y) = x2y + x3 3 + g(y), vamos usar que ψy = N , para determinar g(y). ψy = N ⇒ x2 + g′(y) = x2 − 3⇒ g′(y) = −3⇒ g(y) = −3y. Portanto a func¸a˜o procurada e´ ψ(x, y) = x2y + x3 3 − 3ey e a soluc¸a˜o e´ dada implicitamente por x2y + x3 3 − 3y = c Como temos um P.V.I., devemos determinar o valor de c usando a condic¸a˜o inicial y(1) = −5. 12 · (−5) + 1 3 3 − 3 · (−5) = c⇒ c = 31 3 . A soluc¸a˜o e´ dada pela equac¸a˜o x2y+ x3 3 − 3y = 31 3 , e pode ser escrita explicitamente como func¸a˜o de x por y(x) = 31− x3 3(x2 − 3) . Exemplo 2.10. Resolva e E.D.O. − 2xy 2 (1 + 2x2)2 + 2y(1 + x2) 1 + 2x2 dy dx = 1. As func¸o˜es M e N sa˜o M(x, y) = − 2xy 2 (1 + 2x2)2 − 1 e N(x, y) = 2y(1 + x 2) 1 + 2x2 verificando se e´ exata: My = − 4xy (1 + 2x2)2 e Nx = 2y(2x)(1 + 2x2)− 2y(1 + x2)(4x) (1 + 2x2)2 = 4xy + 8x3y − 8xy − 8x3y (1 + 2x2)2 = − 4xy (1 + 2x2)2 Como e´ exata, vamos calcular ψ(x, y). Note que neste exemplo e´ mais fa´cil integrar N em func¸a˜o de y do que M em func¸a˜o de x, e portanto comc¸aremos usando que ψy = N ; 12 ψy = N ⇒ ψ(x, y) = ∫ N dy = ∫ 2y(1 + x2) 1 + 2x2 dy = y2(1 + x2) 1 + 2x2 + g(x) derivando ψ(x, y) = y2(1 + x2) 1 + 2x2 + g(x) em func¸a˜o de x e igualando a M , ψx = M ⇒ 2xy 2(1 + 2x2)− y2(1 + x2)(4x) (1 + 2x2)2 + g′(x) = − 2xy 2 (1 + 2x2)2 − 1⇒ 2xy2 + 4x3y2 − 4xy2 − 4x3y2 (1 + 2x2)2 + g′(x) = − 2xy 2 (1 + 2x2)2 − 1⇒ − 2xy 2 (1 + 2x2)2 + g′(x) = − 2xy 2 (1 + 2x2)2 − 1⇒ g′(x) = −1⇒ g(x) = −x. Portanto ψ(x, y) = y2(1 + x2) 1 + 2x2 − x e a soluc¸a˜o e´ dada implicitamnete por y 2(1 + x2) 1 + 2x2 − x = c, ou explicitamente por y(x) = ± √ (c+ x)(1 + 2x2) (1 + x2) . Exemplo 2.11. Resolva a equac¸a˜o 3xy + y2 + (x2 + xy)y′ = 0. (14) Primeiramente vamos verificar se e´ exata: Se M(x, y) = 3xy+y2 e N(x, y) = x2+xy, temos My = 3x+2y e Nx = 2x + y. Como My 6= Nx, a equac¸a˜o (15) na˜o e´ exata e portanto na˜o tem como encontrar ψ(x, y) como nos exemplos acima. Para resolver equac¸o˜es com as do exemplo 2.11, usaremos um artif´ıcil va´lido para apenas alguns tipos de equac¸o˜es. Trataremos isso na pro´xima sec¸a˜o. 2.3 Fatores Integrantes para Transformar Equac¸o˜es Diferenciais em Equac¸o˜es Exatas. No exemplo 2.11, vimos que a equac¸a˜o 3xy + y2 + (x2 + xy)y′ = 0 (15) na˜o e´ exata. Mas se multiplicarmos (15) pela func¸a˜o µ(x, y) = x, obteremos uma nova equac¸a˜o 3x2y + xy2 + (x3 + x2y)y′ = 0 (16) que tem a mesma soluc¸a˜o da equac¸a˜o (15), com um pequeno detalhe: nesta nova equac¸a˜o, temos M(x, y) = 3x2y + xy2 e N(x, y) = x3 + x2y, o que nos da, My = 3x 2 + 2xy e Nx = 3x 2 + 2xy, ou seja, a equac¸a˜o (16) e´ exata e tem a soluc¸a˜o procurada. Assim, basta resolve-la como qualquer outra equac¸a˜o exata. Mas de onde surgiu esta func¸a˜o ma´gica µ(x, y) = x? E´ lo´gico, que esta func¸a˜o depende essencialmente da equac¸a˜o (15) , ou seja, na˜o e´ so´ multiplicar qualquer equac¸a˜o na˜o exata por x que vamos obter uma 13 equac¸a˜o exata. Veremos a seguir como calcular µ(x, y) e em quais casos isso e´ poss´ıvel. Dada uma E.D.O. na˜o exata M(x, y) +N(x, y) dy dx = 0, (17) queremos encontrar uma func¸a˜o µ(x, y), de forma que a equac¸a˜o µ(x, y)M(x, y) + µ(x, y)N(x, y) dy dx = 0, (18) seja exata. Em geral encontrar µ(x, y) e´ ta˜o dif´ıcil quanto resolver a equac¸a˜o algebricamente, mas para dois casos particulares e´ poss´ıvel encontar facilmente a func¸a˜o µ(x, y). Caso (1): Se µ(x, y) depende so´ de da varia´vel x: µ(x, y) = µ(x). Neste caso, (18) se reduz a µ(x)M(x, y) + µ(x)N(x, y) dy dx = 0. (19) Para (19) ser exata, devemos ter (µ(x)M(x, y))y = (µ(x)N(x, y))x ⇒µ(x)My(x, y) = µ ′(x)N(x, y) + µ(x)Nx(x, y)⇒ µ′(x) = µ(x)My(x, y)− µ(x)Nx(x, y) N(x, y) ⇒ µ′(x) = µ(x)(My(x, y)−Nx(x, y)) N(x, y) (20) Ja´ que µ(x) depende so´ da varia´vel x, a equac¸a˜o (20) so´ e´ poss´ıvel se o seu lado esquerdo depender somente de x, isto e´, se (My(x, y)−Nx(x, y)) N(x, y) (21) depender so´ de x. Neste caso, para calcular µ(x), basta resolvermos a equac¸a˜o separa´vel µ′(x) = µ(x) (My −Nx) N (22) Vejamos enta˜o como encontrar µ(x) para a equac¸a˜o na˜o exata 3xy + y2 + (x2 + xy)y′ = 0: (My −Nx) N = (3x+ 2y)− (2x+ y) (x2 + xy) = x+ y x(x+ y) = 1 x (23) que depende so´ da varia´vel x. Portanto, substituindo (23) em (22), temos a equac¸a˜o separa´vel µ′(x) = µ(x) x ⇒ dµ µ = dx x ⇒ 14 ∫ dµ µ = ∫ dx x ⇒ lnµ = lnx⇒ µ(x) = x Multiplicando 3xy+y2+(x2+xy)y′ = 0 por µ(x) = x, obtemos a equac¸a˜o exata 3x2y+xy2+(x3+x2y)y′ = 0, com M(x, y) = 3x2y + xy2 e N(x, y) = x3 + x2y. Para encontar ψ(x, y) usando que ψ(x, y) = ∫ M , ψ(x, y) = ∫ M dx = ∫ 3x2y + xy2 dx = x3y + x2y2 2 + g(y) Como ψ(x, y) = x3y + x2y2 2 + g(y), vamos usar que ψy = N , para determinar g(y). ψy = N ⇒ x3 + x2y + g′(y) = x3 + x2y ⇒ g′(y) = 0⇒ g(y) = k. Como k pode ser uma constante qualquer, podemos considerar k = 0 e portanto a func¸a˜o procurada e´ ψ(x, y) = x3y + x2y2 2 e a soluc¸a˜o de (15) e´ dada implicitamente por x3y + x2y2 2 = c. Caso (2): Se µ(x, y) depende so´ de da varia´vel y: µ(x, y) = µ(y). Agora a equac¸a˜o µ(x, y)M(x, y) + µ(x, y)N(x, y) dy dx = 0 se reduz a µ(y)M(x, y) + µ(y)N(x, y) dy dx = 0. (24) Analogamente ao Caso (1), para que (24) seja exata, devemos ter (µ(y)M(x, y))y = (µ(y)N(x, y))x ⇒ µ′(y)M(x, y) + µ(y)My(x, y) = µ(y)Nx(x, y)⇒ µ′(y) = µ(y)Nx(x, y)− µ(y)My(x, y) M(x, y) ⇒ µ′(y) = µ(y)(Nx(x, y)−My(x, y)) M(x, y) (25) 15 Como µ(y) depende somente da varia´vel y, a equac¸a˜o (25) so´ e´ poss´ıvel se o seu lado esquerdo depender somente de y, isto e´, se (Nx(x, y)−My(x, y)) M(x, y) (26) depender so´ de y. Neste caso, para calcular µ(y), basta resolvermos a equac¸a˜o separa´vel µ′(y) = µ(y) (Nx −My) M (27) Uma func¸a˜o µ(x, y) que ao ser multiplicada por uma equac¸a˜o diferencial a torna resolv´ıvel por me´todos de integrac¸a˜o ba´sicos, e´ denominada fator integrante . Nos casos acima, tanto µ(x) quanto µ(y) sa˜o fatores integrantes para os casos dados. Para ilustrar os casos acima, faremos dois exemplos: Exemplo 2.12. Resolva a E.D.O. y(x+ y + 1)dx+ (x+ 2y)dy = 0 (28) Considerando M(x, y) = y(x+y+ 1) e N(x, y) = x+ 2y, temos que My = x+ 2y+ 1 e Nx = 1. Portanto a equac¸a˜o na˜o e´ exata. Agora vamos verificar se e´ poss´ıvel encontrar um fator integrante dependendo apenas de x; (My −Nx) N = x+ 2y + 1− (1) x+ 2y = 1 como e´ constante, podemos considerar que e´ uma func¸a˜o apenas de x. Assim, o fator integrante e´ obtido resovendo-se a equac¸a˜o separa´vel (22) µ′(x) = µ(x) (My −Nx) N = µ(x) · 1⇒ dµ µ = dx⇒ ∫ dµ µ = ∫ dx⇒ lnµ = x⇒ µ(x) = ex Para obter a equac¸a˜o exata, multiplicamos (28) por µ(x) = ex: (xyex + y2ex + yex)dx+ (xex + 2yex)dy = 0 (29) Vemos agora que se M(x, y) = xyex + y2ex + yex e N(x, y) = xex + 2yex, e My = xe x + 2yex + ex enta˜o Nx = xe x + ex + 2yex. Pelo teste, a equac¸a˜o (29) e´ exata. Enta˜o, devemos encotrar ψ(x, y) para resolve-la. Podemos fazer isso integrando M(x, y) com relac¸a˜o a x ou N(x, y) com relac¸a˜o a y. Neste exemplo, notamos que a integrac¸a˜o de M(x, y) com relac¸a˜o a x deve ser por partes enquanto N(x, y) com relac¸a˜o a y e´ mais simples. Por isso, escolhemos a segunda: ψ(x, y) = ∫ N dy = ∫ xex + 2yex dy 16 = yxex + y2ex + g(x) Para calcularmos g(x); ψx = M ⇒ yex + yxex + y2ex + g′(x) = xyex + y2ex + yex ⇒ g′(x) = 0⇒ g(x) = k. Como k pode ser uma constante qualquer, podemos considerar k = 0 e portanto a func¸a˜o procurada e´ ψ(x, y) = yxex + y2ex e a soluc¸a˜o de (28) e´ dada implicitamente por yxex + y2ex = c. Exemplo 2.13. Encontre a soluc¸a˜o do problema de valor inicial{ (6xy)dx+ (4y + 9x2)dy = 0 y(0) = −7. (30) Como de costume, verificamos se a e.d.o. e´ exata: para M(x, y) = 6xy e N(x, y) = 4y+ 9x2, temos que My = 6x e Nx = 18x. Logo na˜o e´ exata. Enta˜o vamos ver se e´ poss´ıvel encontrar um fator integrante que dependa so´ se x ou so´ de y. Aplicando o teste da equac¸a˜o (21), (My −Nx) N = 6x− 18x 4y + 9x2 = −12x 4y + 9x2 que na˜o depende so´ de x. Enta˜o na˜o e´ poss´ıvel encontrar um fator integrante µ(x). Neste caso, vamos ver se e´ poss´ıvel encontar um fator integrante µ(y), aplicando o teste de equac¸a˜o (26): (Nx −My) M = 18x− 6x 6xy = 12x 6xy = 2 y que depende so´ de y. Portanto para calcular µ(y) resolvemos a equac¸a˜o separa´vel (27) µ′ = µ(Nx −My) M = µ 2 y ⇒ dµ µ = 2 y dy ⇒ ∫ dµ µ = ∫ 2 y dy ⇒ lnµ = 2 ln y ⇒ lnµ = ln y2 ⇒ µ(y) = y2 17 Multiplicando a e.d.o. (30) por µ(y) = y2, (6xy3)dx+ (4y3 + 9x2y2)dy = 0 (31) e agora temos M(x, y) = 6xy3 e N(x, y) = 4y3 + 9x2y2, o que nos da´ My = 18xy 2 e Nx = 18xy 2. Resolvendo a equac¸a˜o exata (31) obtemos ψ(x, y) = 3x2y3 + y4 e a soluc¸a˜o da equac¸a˜o (30) e´ dada por 3x2y3+y4 = c. Como temos um P.V.I., devemos calcular a constante c, usando a condic¸a˜o inicial y(0) = −7: 3 · 02 · (−7)3 + (−7)4 = c⇒ c = 2401⇒ Logo, a soluc¸a˜o do problema e´ 3x2y3 + y4 = 2401 Na pro´xima sec¸a˜o, seguiremos com as equac¸o˜es lineares que tambe´m dependem de um fator integrante para serem resolvidas. 2.4 Equac¸o˜es Lineares Na sec¸a˜o 1.1.3, definimos a forma geral de uma equac¸a˜o linear como an(x)y (n)(x) + an−1(x)y(n−1)(x) + ...+ a1(x)y′(x) + a0(x)y(x) = g(x) em que a linearidade significa que todos os coeficientes sa˜o func¸a˜o apenas da varia´vel independente x e que y e todas as suas derivadas sa˜o elevadas a` poteˆncia 1. Trataremos nesta sec¸a˜o das equac¸o˜es lineares de primeira ordem, ou seja da forma a1(x)y ′(x) + a0(x)y(x) = g(x) (32) Para simplificar as notac¸o˜es que sera˜o usadas nesta sec¸a˜o, vamos reescrever a equac¸a˜o (32) da forma y′(x) + p(x)y(x) = q(x) (33) obtida dividindo-se todos os termos de (32) por a1(x), considerando x pertencente ao intervalo em que a1(x) 6= 0 1. Neste caso temos p(x) = a0(x) a1(x) e q(x) = g(x) a1(x) . Olhando para a equac¸a˜o (33), vemos que em geral ela na˜o e´ exata e tambe´m na˜o e´ separa´vel. Enta˜o precisamos de outra te´cnica para resolve-la. Ja´ que usamos um fator integrante na sec¸a˜o anterior, podemos tentar fazer o mesmo com esta equac¸a˜o. Se a multiplicarmos enta˜o por uma func¸a˜o µ(x), teremos µ(x)y′(x) + µ(x)p(x)y(x) = µ(x)q(x). (34) Agora observando a equac¸a˜o (34), seria muito bom que seu lado esquerdo fosse a derivada de alguma “coisa”, pois desta forma, bastaria integrarmos ambos os lados da equac¸a˜o para poder resolve-la. Mas no seu lado esquerdo ha´ uma soma de duas parcelas, em que cada uma delas tem um produto entre func¸o˜es. Isso nos lembra a regra do produto para derivadas em que temos para duas func¸o˜es de x, (fg)′ = f ′g+ fg′. Enta˜o a boa ide´ia e´ que se conseguirmos encontar uma func¸a˜o µ(x), de forma que o lado esquerdo da equac¸a˜o (34) seja a derivada do produto entre µ(x) e y(x), estamos feitos. Mas isso e´ fa´cil: Queremos que (y(x)µ(x))′ = µ(x)y′(x) + µ(x)p(x)y(x)⇒ 1Veremos nas sec¸o˜es seguintes como determinar intervalo em que a soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial esta´ definida. 18 y′(x)µ(x) + y(x)µ′(x) = µ(x)y′(x) + µ(x)p(x)y(x)⇒ y(x)µ′(x) = µ(x)p(x)y(x)⇒ µ′(x) = µ(x)p(x) (35) em que a u´ltima implicac¸a˜o vale apenas se considerarmos y(x) 6= 0.2 A equac¸a˜o (35) e´ separa´vel e portanto ja´ sabemosresolve-la: dµ dx = µp(x)⇒∫ dµ µ = ∫ p(x)dx⇒ lnµ = ∫ p(x)dx⇒ µ(x) = e ∫ p(x)dx (36) Assim, a equac¸a˜o (36), nos da´ o fator integrante procurado, e com ele resolvemos as equac¸o˜es lineares de primeira ordem. Exemplo 2.14. Resolva a equac¸a˜o y′ + 2 x y = 4x. Esta e´ uma equac¸a˜o linear, em que (na notac¸a˜o (33)), p(x) = 2 x e q(x) = 4x. Enta˜o, para encontar o fator integrante, ∫ p(x)dx = ∫ 2 x dx = 2 lnx = lnx2 ⇒ µ(x) = e ∫ p(x)dx = elnx 2 = x2 multiplicando a equac¸a˜o em questa˜o pelo fator integrante, x2 · y′ + x2 · 2 x y = x2 · 4x⇒ x2 · y′ + 2xy = 4x3 (37) Note que o lado esquerdo desta u´ltima equac¸a˜o e´ justamente, como quer´ıamos, a derivada de (µ · y); pela regra do produto, (µ · y)′ = (x2 · y)′ = 2xy + x2y′. Assim, a equac¸a˜o (37) fica (x2 · y)′ = 4x3 ⇒∫ (x2 · y)′dx = ∫ 4x3 dx⇒ x2 · y = x4 + c⇒ y(x) = x4 + c x2 2Discutiremos o caso y(x) ≡ 0 no final da explicac¸a˜o 19 Exemplo 2.15. Resolva o P.V.I. { xy′ − 2x2y = −3x2 para x > 0 y(0) = 2. Como a equac¸a˜o e´ linear, devemos encontrar o fator integrante. Mas para isso, a equac¸a˜o deve ter a forma (33). Enta˜o vamos dividi-la por x, ja´ que por hipo´tese, x > 0. Assim, temos a seguinte equac¸a˜o: y′ − 2xy = −3x (38) que nos da p(x) = −2x; enta˜o ∫ p(x)dx = ∫ −2xdx = −x2 + c. Logo o fator integrante e´ µ(x) = e ∫ p(x)dx = e−x 2 , pois para o fator integrante podemos considerar c assumindo qualquer valor. Enta˜o escolhemos o mais simples: c = 0. Multiplicado a equac¸a˜o (38) por µ(x) = e−x2 , e−x 2 y′ − 2xe−x2y = −3xe−x2 ⇒ (e−x 2 y)′ = −3xe−x2 ⇒ (e−x 2 y) = ∫ −3xe−x2dx⇒ e−x 2 y = 3 2 e−x 2 + c⇒ y = 3 2e −x2 + c e−x2 = 3 2 + cex 2 Para encotrar c, substiru´ımos a condic¸a˜o inicial y(0) = 2 : 2 = 3 2 + ce0 2 ⇒ c = 2− 3 2 = 1 2 A soluc¸a˜o procurada e´: y(x) = 3 2 + 1 2 ex 2 Os treˆs me´todos de resoluc¸a˜o de E.D.O. que estudamos neste cap´ıtulo sa˜o os mais simples de resoluc¸a˜o de equac¸o˜es diferencias de primeira ordem. Estes sera˜o os que estudaremos no nosso curso. 2.5 Exerc´ıcios 1. Resolva a equac¸a˜o dada por separac¸a˜o de varia´veis. (a) dy dx = sen 5x; y(x) = −15 cos 5x+ c (b) (x+ 1) dy dx = x+ 6; y(x) = x+ 5 ln |x+ 1|+ c (c) xy′ = 4y; y(x) = cx4 20 (d) dy dx − y 3 x2 = 0 y−2 = 2x−1 + c (e) dy dx = x2y2 1 + x ; −3 + 3x ln |x| = xy3 + cx (f) dy dx = e3x+2y; −3e−2y = 2e3x + c (g) (4y + yx2) dy dx + (2x+ xy2) = 0 2 + y2 = c(4 + x2) (h) x ln y dy dx = (x+ 1 y )2 ; y 3 3 ln y − 19y3 = x 2 2 + 2x+ ln |x|+ c 2. Resolva a equac¸a˜o dada sujeita a` condic¸a˜o inicial indicada. (a) (e−y + 1)senx− (1 + cosx)dy dx = 0, y(0) = 0; (1 + cosx)(1 + ey) = 4 (b) y dy dx = 4x √ y2 + 1, y(0) = 1; √ y2 + 1 = 2x2 + √ 2 (c) dy dx = 4(y2 + 1), y (pi 4 ) = 1 y = tg (4x− 3pi4 ) (d) x2y′ = y − xy, y(−1) = −1; xy = e−(1+ 1x ) 3. Verifique se a equac¸a˜o dada e´ exata; se for, resolva (a) (2x− 1) + (3y + 7)y′ = 0; x2 − x+ 32y2 + 7y = c (b) (5x+ 4y) + (4x− 8y3)dy dx = 0; 52x 2 + 4xy − 2y4 = c (c) (2y2x− 3)dx+ (2yx2 + 4)dy = 0; x2y2 − 3x+ 4y = c (d) (x+ y)(x− y) + x(x− 2y)dy dx = 0; na˜o exata (e) (y3 − y2senx− x) + (3xy2 + 2y cosx)dy dx = 0; xy3 + y2 cosx− 12x2 = c (f) (y ln y − e−xy) + (1 y + x ln y ) y′ = 0; na˜o exata (g) tg x− senx sen y + (cosx cos y)dy dx = 0; − ln | cosx|+ cosx sen y = c (h) (1− 2x2 − 2y)dy = (4x3 + 4xy)dx; y − 2x2y − y2 − x4 = c 4. Resolva os problemas de valor inicial (P.V.I.) (a) (x+ y)2dx+ (2xy + x2 − 1)dy = 0, y(1) = 1; 13x3 + x2y + xy2 − y = 43 (b) (4y + 2x− 5)dx+ (6y + 4x− 1)dy = 0, y(−1) = 2; 4xy + x2 − 5x+ 3y2 − y = 8 (c) (y2 cosx− 3x2y − 2x)dx+ (2ysenx− x3 + ln y)dy = 0, y(0) = e; y2senx− x3y − x2 + y ln y − y = 0 5. Encontre o valor de k para que a equac¸a˜o diferencial dada seja exata. (a) (y3 + kxy4 − 2x)dx+ (3xy2 + 20x2y3)dy = 0; k = 10 (b) (2xy2 + yex)dx+ (2x2y + kex − 1)dy = 0; k = 1 21 6. Determine uma func¸a˜o M(x, y) para que a seguinte equac¸a˜o diferencial seja exata: M(x, y) + ( xexy + 2xy + 1 x ) y′ = 0 7. Determine uma func¸a˜o N(x, y) para que a seguinte equac¸a˜o diferencial seja exata: y 1 2x− 1 2 + x x2 + y +N(x, y) dy dx = 0 8. As equac¸o˜es abaixo na˜o sa˜o exatas. Encontre um fator integrante µ(x) ou µ(y), para cada equac¸a˜o, de forma que se torne uma equac¸a˜o exata. Em seguida, resolva-a. (a) 6xydx+ (4y + 9x2)dy = 0; µ(y) = y2; 3x2y3 + y4 = c (b) (2y2 + 3x)dx+ 2xydy = 0; µ(x) = x; x2y2 + x3 = c (c) y′ = e2x + y + 1; µ(x) = e−x; y = cex + 1 + e2x (d) 1 + (x y − sen y )dy dx = 0; µ(y) = y; xy + y cos y − sen y = c 9. Resolva as equac¸o˜es lineares a seguir: (a) y′ + 3y = x+ e−2x y(x) = ce−3x + x3 − 19 + e−2x (b) y′ + 1 x y = 3 cos 2x, x > 0 y(x) = cx + 3 cos 2x 4x + 3sen 2x 2 (c) xy′ + 2y = senx, x > 0 y(x) = c−x cosx+senx x2 (d) y′ + 2xy = 2xe−x 2 y(x) = x2e−x2 + e−x2 (e) (1 + x2)y′ + 4xy = (1 + x2)−2 y(x) = arctg (x)+c (1+x2)2 (f) y′ + y = 5sen 2x y(x) = ce−x + sen 2x− 2 cos 2x 10. Encontre a soluc¸a˜o do problema de valor inicial dado. (a) { y′ − y = 2xe2x y(0) = 1 y(x) = 3ex + 2(x− 1)e2x (b) { xy′ + 2y = x2 − x+ 1 y(1) = 12 y(x) = 3x 4−4x3+6x2+1 12x2 (c) { x3y′ + 4x2y = e−x y(−1) = 0 y(x) = − (1+x)e−x x4 , x 6= 0 22 3 Alguns Modelos Matema´ticos Envolvendo Equac¸o˜es Di- ferenciais de Primeira Ordem Quando os cieˆntistas buscam formalizar nossa compreensa˜o da natureza e quando os engenheiros bus- cam encontrar respostas para problemas te´cnicos, a te´cnica de representar nosso “mundo real” em termos matema´ticos, tornou-se uma ferramenta valiosa. Esse processo de traduzir a realidade usando linguagem matema´tica e´ conecido como modelagem matema´tica. A modelagem matema´tica e suas soluc¸o˜es, nos levam a equac¸o˜es que relacionam as varia´veis e os paraˆmetros dos problemas modelados. Essas equac¸o˜es nos permitem muitas vezes, fazer previso˜es sobre o comportamento do processo natural em circusntaˆncias diversas. E´ fa´cil fazer com que os paraˆmetros do modelo matema´tico variem em grandes intervalos, mas num contexto experimental, isso pode ser um processo muito longo ou caro. Modelo matema´ticos sa˜o validados comparando-se suas previso˜es com resultados experimentais. Por outro lado, modelos matema´ticos podem sugerir as direc¸o˜es mais promissoras a serem exploradas experi- mentalmente e podem indicar, com precisa˜o razoa´vel quais dados experimentais sera˜o mais u´teis. Existem treˆs esta´gios que esta˜o sempre presentes no processo de modelagem: • Construc¸a˜o do Modelo: Envolve uma traduc¸a˜o da situac¸a˜o f´ısica em liguagem matema´tica. Isso exige conhecimento na a´rea do problema e tambe´m conhecimentos matema´ticos. • Ana´lise do Modelo: Uma vez formulado matematicamente o processo, deve-se agora resolver as equac¸o˜es, ou se isso na˜o for poss´ıvel, descobrir tudo que for poss´ıvel sobre as propriedades da soluc¸a˜o. • Comparac¸a˜o do Experimentos ou Observac¸o˜es: Finalmente, tendo obtido a soluc¸a˜o ou pelo menos alguma informac¸a˜o sobre ela, precisa-se interpretar tal informac¸a˜o no contexto do problema em que ela apareceu. Os exemplos nesta sec¸a˜o sa˜o t´ıpicos de aplicac¸o˜es onde aparecem equac¸o˜es diferenciais de primeira ordem. Eles foram retirados da apostila Introduc¸a˜o a Equac¸o˜es Diferenciais, do professor Reginaldo Santos da UFMG. 3.1 Dinaˆmica Populacional Crescimento Exponencial O modelo mais simples de crescimento populacional e´ aquele em que se supo˜e que a taxa de crescimento de uma populac¸a˜o que varia com o tempo y(t), e´ proporcional a populac¸a˜o presente naqueleinstante. Podemos descrever o problema de encontrar y(t) como o problema de valor inicial{ dy dt = ky y(0) = y0 (39) A equac¸a˜o (39) e´ linear (e tambe´m sapara´vel) e pode ser reescrita como dy dt − ky = 0. (40) Para resolveˆ-la devemos calcular o fator integrante µ(x) = e ∫ p(t)dt = e ∫ −kdt = e−kt 23 Multiplicando a equac¸a˜o (40) por µ(x) = e−kt obtemos e−kt dy dt − ke−kty = 0⇒ (e−kty)′ = 0⇒ e−kty = c⇒ y(x) = cekt Substituindo a condic¸a˜o inicial y(0) = y0, obtemos y0 = ce k0 = c Ou seja a soluc¸a˜o do problema de valor inicial e´ y(t) = y0e kt. Exemplo 3.1 Consideremos uma situac¸a˜o formada por uma populac¸a˜o de organismos zooplanctoˆnicos. Sa˜o colocadas em um be´quer 3 feˆmeas partenogene´ticas gra´vidas (na˜o ha´ necessidade de fecundac¸a˜o pelo macho) de um microcrusta´ceo chamado clado´cero em condic¸o˜es ideais de alimentac¸a˜o, temperatura, aerac¸a˜o e iluminac¸a˜o e auseˆncia de predadores. Sabendo-se que em 10 dias havia 240 indiv´ıduos determine a populac¸a˜o em func¸a˜o do tempo supondo-se que a taxa de crescimento da populac¸a˜o e´ proporcional a` populac¸a˜o atual (crescimento exponencial). A populac¸a˜o, y(t), e´ a soluc¸a˜o do problema de valor inicial{ dy dt = ky y(0) = 3 que como vimos acima tem soluc¸a˜o y(t) = y0e kt = 3ekt. Como em 10 dias a populac¸a˜o e´ de 240 indiv´ıduos, enta˜o substituindo-se t = 10 e y = 240 obtemos 240 = 3ek10 ⇒ ln 80 = ln ek10 ⇒ ln 80 10 = k Assim, a func¸a˜o que descreve como a populac¸a˜o de bacte´rias varia com o tempo e´ y(t) = 3e ln 80 10 t = 3eln(80) t 10 = 3 · 80 t10 Na tabela abaixo, calculamos o nu´mero de indiv´ıduos por litro de uma populac¸a˜o de clado´ceros (Daphnia laevis) em experimento de laborato´rio (dados obtidos de Ricardo Motta Pinto Coelho: Fundamentos em Ecologia. Editora Artes Me´dicas, Porto Alegre, 2000.)) 24 Dias Populac¸a˜o Dias Populac¸a˜o 1 3 13 510 2 7 14 630 3 10 15 638 4 9 16 628 5 39 17 666 6 39 18 668 7 40 19 620 8 113 20 663 9 180 21 667 10 240 22 645 11 390 23 690 12 480 24 650 Vamos comparar com uma tabela usando a func¸a˜o encontrada y(t) = 3 · 80 t10 : Dias Populac¸a˜o Dias Populac¸a˜o 1 4,695 13 893,590 2 7,207 14 1384,992 3 11,170 15 2146,63 4 17,312 16 3327,095 5 26,832 17 ... 6 41,589 18 ... 7 64,459 19 ... 8 99,906 20 ... 9 154,847 21 ... 10 240,000 22 ... 11 371,981 23 ... 12 576,540 24 ... Notamos que nos primeiros 12 dias, a func¸a˜o modela bem o crescimento da populac¸a˜o, mas depois do 12o dia, esta func¸a˜o na˜o e´ mais ideal para fazer previso˜es a respeito da populac¸a˜o. Isso ocorreu porque na˜o levamos em conta o fato da populac¸a˜o y(t) tem um valor ma´ximo sustenta´vel, digamos, yM . Para o modelo ser mais adequado, devemos supor que a taxa de crescimeto ale´m de ser proporcional a populac¸a˜o atual, e´ proporcional tambe´m a` diferenc¸a entre yM e a populac¸a˜o presente. Crescimento Log´ıstico Neste caso a populac¸a˜o como func¸a˜o do tempo, y(t), e´ a soluc¸a˜o do problema de valor inicial{ dy dt = ky(yM − y) y(0) = 3 (41) Esta equac¸a˜o na˜o e´ linear, ja´ que do lado direito da igualdade temos kyMy− ky2, mas e´ separa´vel. Este tipo de crescimento descrito por (41) e´ denominado crescimento log´ıstico. Exemplo 3.2 Consideremos a mesma situac¸a˜o do Exemplo 3.1. Sabendo-se que essa populac¸a˜o atinge o ma´ximo de 690 indiv´ıduos e que em 10 dias havia 240 indiv´ıduos. Determine a populac¸a˜o em func¸a˜o do tempo supondo-se que a taxa de crescimento da populac¸a˜o e´ proporcional tanto a populac¸a˜o atual quanto a` diferenc¸a entre a populac¸a˜o ma´xima e a populac¸a˜o atual (crescimento log´ıstico). 25 A populac¸a˜o como func¸a˜o do tempo, y(t), e´ a soluc¸a˜o do problema{ dy dt = ky(690− y) y(0) = 3, y(10) = 240 A equac¸a˜o e´ separa´vel. Assim, obtemos dy y(690− y) = kdt⇒∫ dy y(690− y) = ∫ kdt (42) Para calcular ∫ dy y(690− y) precisamos usar decomposic¸a˜o por frac¸o˜es parciais: 1 y(690− y) = A y + B 690− y = 690A−Ay +By y(690− y) = 690A+ (−A+B)y y(690− y) ⇒ 1 = 690A+ (−A+B)y ⇒ 690A = 1 e −A+B = 0⇒ A = 1 690 e B = 1 690 . Com isso temos que 1 y(690− y) = 1 690 y + 1 690 690− y e portanto o lado direito equac¸a˜o (42) e´∫ dy y(690− y) = ∫ 1 690 y + 1 690 690− y dy = 1 690 ln y − 1 690 ln(690− y) + c Da equac¸a˜o (42) temos 1 690 ln y − 1 690 ln(690− y) = kt+ c⇒ 1 690 ln y (690− y) = kt+ c⇒ ln ( y 690− y ) 1 690 = kt+ c⇒ ( y 690− y ) 1 690 = ekt+c ⇒ ( y 690− y ) = Ce690kt Esta u´ltima equac¸a˜o nos da´ a soluc¸a˜o implicitamente. Substituindo a primeira condic¸a˜o y(0) = 3, temos( 3 690− 3 ) = Ce0 ⇒ C = 1 229 Usando a segunda condic¸a˜o y(10) = 240,( 240 690− 240 ) = 1 229 e6900k ⇒ k = − ln( 15 1832) 690 26 Reescrevendo a soluc¸a˜o, explicitando y em func¸a˜o de t, obtemos y(t) = 690 229e( t 10 ln( 15 1832 )) + 1 = 690 229( 151832) t 10 + 1 (43) Agora usando que y(t) = 690 229( 151832) t 10 + 1 descreve a populac¸a˜o do crusta´ceo, obtemos a seguinte tabela: Dias Populac¸a˜o Dias Populac¸a˜o 1 4,837 13 477,985 2 7,788 14 541,463 3 12,506 15 589,914 4 19,997 16 624,474 5 31,766 17 647,951 6 49,943 18 663,375 7 77,303 19 673,287 8 116,910 20 679,567 9 171,144 21 683,510 10 240,000 22 685,971 11 319,499 23 687,503 12 401,819 24 688,454 Esta tabela mostra que com o passar dos dias a populac¸a˜o se aproxima de 690 indiv´ıduos, assim como foi observado em laborato´rio. Portanto este problema, para grandes valores de t, se aproxima mais da situac¸a˜o real do que o primeiro. 3.2 Datac¸a˜o por Carbono 14 A proporc¸a˜o de carbono 14 (radioativo) em relac¸a˜o ao carbono 12 presente nos seres vivos e´ constante. Quando um organismo morre a absorc¸a˜o de carbono 14 cessa e a partir de enta˜o o carbono 14 vai se transformando em carbono 12 a uma taxa que e´ proporcional a quantidade presente. Podemos descrever o problema de encontrar a quantidade de carbono 14 em func¸a˜o do tempo, Q(t), como o problema de valor inicial { dQ dt = kQ Q(0) = Q0 (44) A equac¸a˜o e´ a mesma do crescimento exponencial, mas vamos resolver, agora, como uma equac¸a˜o separa´vel, ou seja, a equac¸a˜o e´ equivalente a dQ Q = kdt⇒ ∫ dQ Q = ∫ kdt⇒ lnQ = kt+ c⇒ Q = Cekt 27 Substituindo a condic¸a˜o inicial Q(0) = Q0, obetmos Q(t) = Q0e kt Exemplo 3.3 Em um pedac¸o de madeira e´ encontrado 1500 da quantidade originalde carbono 14. Sabe-se que a meia-vida do carbono 14 e´ de 5600 anos, ou seja, que em 5600 anos metade do carbono 14 presente transformou-se em carbono 12. Vamos determinar a idade deste pedac¸o de madeira. O problema de valor inicial que descreve esta situac¸a˜o e´ { dQ dt = kQ Q(0) = Q0 que tem soluc¸a˜o Q(t) = Q0e kt. Substituindo a condic¸a˜o t = 5600 e Q = Q0 2 (meia-vida) obtemos Q0 2 = Q0e 5600k ⇒ k = − ln 2 5600 Assim a soluc¸a˜o e´ Q(t) = Q0e − ln 2 5600 t. Abaixo segue o gra´fico da soluc¸a˜o: Q0 Q0 2 Agora substituindo Q = Q0 500 obtemos Q0 500 = Q0e − ln 2 5600 t ⇒ 1 500 = e− ln 2 5600 t ⇒ ln 1 500 = − ln 2 5600 t⇒ t = − ln 1 500 ln 2 5600 ≈ 5200 anos 28 3.3 Misturas Suponha inicialmente que um tanque contenha uma mistura de a´gua e sal com um volume inicial de V0 litros e Q0 gramas de sal. A concentrac¸a˜o de um soluto em um solvente e´ dada pela quantidade de soluto dividido pelo volume da soluc¸a˜o. Assim, temos: V0: volume inicial da mistura em litros Q0 : quantidade de sal em gramas C0 = Q0 V0 : concentrac¸a˜o da soluc¸a˜o inicial em gramas/litroUma soluc¸a˜o salina e´ bombeada para dentro do tanque a uma taxa de Te litros por minuto possuindo uma concentrac¸a˜o de Ce gramas de sal por litro: Te: taxa de entrada da soluc¸a˜o salina em litros/minuto Ce : concentrac¸a˜o da mistura que esta´ entrado no tanque em gramas/litro Considerando que a soluc¸a˜o e´ bem misturada e sai do tanque a uma taxa de Ts litros por minuto com uma concentrac¸a˜o Cs, queremos saber a quantidade de sal, Q(t), existente no tanque no instante t. Ts: taxa de saida da soluc¸a˜o salina em litros/minuto Cs : concentrac¸a˜o da mistura que esta´ saindo no tanque em gramas/litro A taxa de variac¸a˜o da quantidade de sal no tanque e´ igual a taxa com que entra sal no tanque menos a taxa com que sai sal do tanque; dQ dt = taxa de entrada− taxa de sa´ıda. A taxa com que entra sal no tanque e´ igual a taxa com que entra a mistura, Te, vezes a concentrac¸a˜o de entrada, Ce. E a taxa com que sai sal do tanque e´ igual a taxa com que sai a mistura do tanque, Ts, vezes a concentrac¸a˜o de sal que sai do tanque, Cs; dQ dt = CeTe − CsTs Os valores Ce, Te e Ts sa˜o constantes, mas Cs na˜o, ja´ que a concentrac¸a˜o de sal varia o tempo todo dentro do tanque, poi a soluc¸a˜o e´ bem misturada. Enta˜o Cs e´ uma func¸a˜o de t; Cs(t) = Q(t) V (t) Como o volume no tanque, V (t), e´ igual ao volume inicial, V0, somado ao volume que entra no tanque menos o volume que sai do tanque, V (t) = V0 + volume que entra − volume que sai = V0 + Tet− Tst = V0 + (Te − Ts)t a quantidade de sal no tanque, Q(t), e´ a soluc¸a˜o do problema de valor inicial 29 dQ dt = TeCe − Ts V0 + (Te − Ts)tQ Q(0) = Q0 Exemplo 3.4 Num tanque ha´ 100 litros de salmoura contendo 30 gramas de sal em soluc¸a˜o. A´gua pura (sem sal) entra no tanque a` raza˜o de 6 litros por minuto e a mistura se escoa a` raza˜o de 4 litros por minuto, conservando a concentrac¸a˜o uniforme por agitac¸a˜o. Vamos determinar qual a concentrac¸a˜o de sal no tanque ao fim de 50 minutos. O problema pode ser modelado pelo seguinte problema de valor inicial dQ dt = − 4 100 + 2t Q Q(0) = 30 A equac¸a˜o e´ separa´vel e pode ser escrita como dQ Q = − 4 100 + 2t dt⇒ ∫ dQ Q = − ∫ 4 100 + 2t dt⇒ lnQ = −4 2 ln(100 + 2t) + c⇒ lnQ = ln(100 + 2t)−2 + c⇒ Q(t) = C(100 + 2t)−2 Da condic¸a˜o inicial, t = 0 e Q = 30 temos, 30 = C(100)−2 ⇒ C = 3 · 105 Substituindo o valor de C encontrado, Q(t) = 3 · 105 (100 + 2t)2 . Segue abaixo o gra´fico da soluc¸a˜o Q(t) = 3 · 105 (100 + 2t)2 . A concentrac¸a˜o e´ o quociente da quantidade de sal pelo volume que e´ igual a V (t) = 100 + 2t. Assim 30 Cs(t) = 3·105 (100+2t)2 100 + 2t = 3 · 105 (100 + 2t)3 ⇒ Cs(50) = 3 · 105 (100 + 100)3 = 0, 0375 gramas/litro. A seguir, temos o gra´fico da concentrac¸a˜o em func¸a˜o do tempo: 3.4 Resisteˆncia em Fluidos Um corpo que se desloca em um meio fluido sofre uma forc¸a de resisteˆncia que e´ proporcional a velocidade do corpo, kv(t). A velocidade, v(t), e´ a soluc¸a˜o do problema de valor inicial{ m dv dt = F − kv v(0) = 0 Para um corpo que cai a forc¸a F e´ igual ao peso do corpo. Para um barco que se desloca na a´gua ou um carro em movimento a forc¸a F e´ igual a forc¸a do motor. Na equac¸a˜o, o sinal negativo na forc¸a de resisteˆncia do fluido, quer dizer que esta atua em direc¸a˜o oposta ao movimento do corpo. Exemplo 3.5 Um pa´ra-quedista com o seu pa´ra-quedas pesa 70 quilogramas e salta de uma altura de 1400 metros. O pa´ra-quedas abre automaticamente apo´s 5 segundos de queda. Sabe-se que a velocidade limite e´ de 5 metros por segundo. Vamos determinar a velocidade que o pa´ra-quedista atinge no momento que em que abre e quanto tempo demora para a velocidade chegar a 5,1 metros por segundo. 31 Vamos convencionar que o sentido positivo e´ para cima e que a origem esta´ na superf´ıcie da terra. Ate´ o momento em que o pa´ra-quedas abre a velocidade e´ a soluc¸a˜o do problema de valor inicial{ m dv dt = −mg v(0) = 0 em que P = mg e´ o peso do pa´ra-quedista com o pa´ra-quedas. Ou seja,{ dv dt = −10 v(0) = 0 o que leva a soluc¸a˜o v(t) = −10t Quando o pa´ra-quedas abre a velocidade e´ enta˜o de v(5) = −50 m/s Do momento que o pa´ra-quedas abre em diante a velocidade do pa´ra-quedista e´ a soluc¸a˜o do problema de valor inicial { m dv dt = −mg − kv v(5) = −50 A forc¸a de resisteˆncia e´ igual a −kv, e o sinal menos com uma constante positiva indica que a forc¸a de resisteˆncia e´ no sentido contra´rio ao da velocidade. Observe que a velocidade e´ negativa o que faz com que a forc¸a de resisteˆncia seja positiva, ou seja, para cima como convencionamos no in´ıcio.{ dv dt = −10− kv 70 = −10−Kv, com K = k 70 v(5) = −50 A equac¸a˜o separa´vel dv dt = −10−Kv pode ser reescrita como dv 10 +Kv = −dt⇒ ∫ dv 10 +Kv = − ∫ dt⇒ 1 K ln |10 +Kv| = −t+ c⇒ ln |10 +Kv| 1K = −t+ c⇒ |10 +Kv| 1K = e−t+c ⇒ 10 +Kv = e(−t+c)K ⇒ Kv = −10 + Ce−Kt ⇒ v(t) = −10 K + Ce−Kt A velocidade limite limite e´ de −5 m/s, logo −5 = lim t→∞ v(t) = limt→∞− 10 K + Ce−Kt = −10 K ⇒ K = 2 32 Substituindo a condic¸a˜o inicial t = 5 e v = −50 em v(t) = −5 + Ce−2t, obtemos −50 = −5 + Ce−10 ⇒ C = −45e10 ou seja, a soluc¸a˜o do problema e´ v(t) = −5− 45e10−2t. Assim, se v = −5, 1 (lembre-se que e´ negativo por que e´ para baixo!) obtemos −5, 1 = −5− 45e10−2t e portanto, 10− 2t = − ln 450 e assim, t = 10 + ln 450 2 ≈ 3 segundos. ou seja, 3 segundos depois do pa´ra-quedas aberto a velocidade ja´ e´ de 5,1 m/s. 3.5 Exerc´ıcios 1. Sabe-se que a populac¸a˜o de uma certa comunidade cresce a uma taxa proporcional ao nu´mero de pessoas presentes em qualquer instante. Se a populac¸a˜o duplicou em 5 anos, quando ela triplicara´? Quando quadruplicara´? 2. A populac¸a˜o de uma cidade cresce a uma taxa proporcional a` populac¸a˜o em qualquer tempo. Sua populac¸a˜o inicial de 500 habitantes aumenta 15% nos 10 primeiros anos. Qual sera´ a populac¸a˜o em 30 anos? 3. Uma populac¸a˜o de bacte´rias cresce a uma taxa proporcional a populac¸a˜o presente. Sabendo-se que apo´s uma hora a populac¸a˜o e´ 2 vezes a populac¸a˜o inicial, determine a populac¸a˜o como func¸a˜o do tempo e o tempo necessa´rio para que a populac¸a˜o triplique. 4. Em 1790, a populac¸a˜o dos Estados Unidos era de 3,93 milhoes e em 1890 era de 62,98 milho˜es. (a) Usando o modelo exponencial, estime a populac¸a˜o norte americana como um func¸a˜o do tempo. (b) Usando o modelo logistico, estime a populac¸a˜o norte americana como um func¸a˜o do tempo. (c) Considerando que segundo o Censo dos EUA, a populac¸a˜o esta´ descrita na tabela abaixo, com- pare com o esultado das func¸o˜es obtidas e conclua qual e´ a de melhor aproximac¸a˜o. Ano Populac¸a˜o Ano Populac¸a˜o 1790 3,93 1860 31,44 1800 5,31 1870 39,82 1810 7,24 1880 50,19 1820 9,64 1890 62,98 1830 12,87 1900 76,21 1840 17,07 1910 92,23 1850 23,19 1920 106,02 5. O craˆnio de um humano´ide foi encontrado em uma caverna na A´frica do Sul, junto com os restos de uma fogueira. Os arqueo´logos acrditam que o craˆnio tenha a mesma idade da fogueira. Determina-se que 2% da quantidade de C-14 original restam na madeira queimada. Com base nestes dados, estime a idade do craˆnio, considerando que a meia vida do C-14 e´ de 5600 anos. 6. O iso´topo radioativo de chumbo, Pb-209, decresce a uma taxa proporcional a` quantidade presente em qualquer tempo. Sua meia vida e´ 3,3 horas. Se 1 grama de chumbo esta´ presente inicialmente, quanto tempo levara´ para 90% de chumbo desaparecer? 33 7. Um tanque conte´m 100 litros de uma soluc¸a˜o a uma concentrac¸a˜o de 1 grama por litro. Uma soluc¸a˜o com uma concentrac¸a˜o de 2te− 1 100 t gramas por litro entra no tanque a uma taxaconstante de 1 litro por minuto, enquanto que a soluc¸a˜o bem misturada sai a` mesma taxa. (a) Determine a quantidade de sal no tanque em cada instante t, onde t e´ contado a partir do in´ıcio do processo. (b) Calcule a concentrac¸a˜o de sal no tanque t = 10 minutos apo´s o in´ıcio do processo. 8. Um tanque conte´m inicialmente 100 litros de a´gua pura. Enta˜o, a´gua salgada, contendo 30e− 2 10 t gramas de sal por litro, passa a ser bombeada para o tanque a uma taxa de 10 litros por minuto. Simultaneamente a soluc¸a˜o passa a ser agitada e retirada do tanque na mesma taxa. (a) Determine a quantidade de sal no tanque em cada instante t, onde t e´ contado a partir do in´ıcio do processo. (b) Calcule em que instante a concentrac¸a˜o de sal no tanque sera´ de 7,5 gramas por litro. 9. Um tanque conte´m inicialmente 100 litros de a´gua e 100 gramas de sal. Enta˜o uma mistura de a´gua e sal na concentrac¸a˜o de 5 gramas de sal por litro e´ bombeada para o tanque a uma taxa de 4 litros por minuto. Simultaneamente a soluc¸a˜o (bem misturada) e´ retirada do tanque na mesma taxa. (a) Determine a quantidade de sal no tanque em cada instante t, onde t e´ contado a partir do in´ıcio do processo. (b) Calcule a concentrac¸a˜o limite de sal no tanque quando t→∞ e o tempo necessa´rio para que a concentrac¸a˜o atinja metade deste valor. 10. Suponha que um tanque contenha uma mistura de a´gua e sal com um volume inicial 100 litros e 10 gramas de sal e que a´gua pura seja bombeada para dentro do tanque a uma taxa de 1 litro por minuto. Suponha que a soluc¸a˜o bem misturada sai a uma taxa de 2 litros por minuto. (a) Determine a quantidade de sal no tanque em cada instante t, onde t e´ contado a partir do in´ıcio do processo. (b) De qual valor se aproxima a concentrac¸a˜o quando o tanque se aproxima de ficar vazio? 11. Um bote motorizado e seu tripulante teˆm uma massa de 120 quilogramas e estava inicialmente no repouso. O motor exerce uma forc¸a constante de 10 newtons, na direc¸a˜o do movimento. A resisteˆncia exercida pela a´gua, ao movimento, e´, em mo´dulo, igual ao dobro da velocidade. (a) Determine a velocidade do bote em func¸a˜o do tempo. (b) Determine a velocidade limite do bote. 12. Uma massa de 0,25 Kg cai, a partir do repouso em um meio com resisteˆncia de 0, 2|v|, em que v e´ a ve- locidade medida em m/s. Se a massa cai de uma altura de 30 m, encontre a velocidade ao atingir o solo. Respostas: 1. 7,9 anos e 10 anos ; 2. 760 habitantes; 3. aproximadamente 1hora e 35 minutos; 4. (a) y(t) = 3, 93e(0,027742)t, (b) y(t) = 989,50 3,93+(247,85)e−(0,30463)t ; 5. 31606 anos; 6. 11 horas; 7.(a) Q(t) = t 2e− 1 100 t + 100e− 1 100 t gramas , (b) C(10) = 2e− 1 10 gramas/litro; 8.(a) Q(t) = 3000(e− 1 10t − e− 110 t) gramas , (b) t = 25 ln 8 5 ; 9. (a) Q(t) = 500 − 400e− 125 t gramas, (b) t = 25 ln 8 5 ; 10. (a) Q(t) = 10−3(100 − t)2 gramas; 11. 5 m/s; 12. 11,58m/s. 34 4 Equac¸o˜es Diferenciais de Segunda Ordem 4.1 Equac¸o˜es Homogeˆneas com Coeficientes Constantes As equac¸o˜es diferenciais de segunda ordem, sa˜o do tipo y′′(x) = F (x, y(x), y′(x)) (45) Uma equac¸a˜o diferencial de segunda ordem e´ dita linear, se puder ser escrita como y′′(x) + p(x)y′(x) + q(x)y(x) = g(x) (46) em que p(x), q(x), e g(x) sa˜o func¸o˜es de uma varia´vel real, x. Uma E.D.O. linear de segunda ordem e´ denominada homogeˆnea, se a func¸a˜o g(x) for identicamente nula, ou seja, se g(x) = 0 para todo x. Inicialmente estudaremos um caso particular de equac¸o˜es lineares de segunda ordem: as homogeˆneas com coeficientes constantes. Tais equac¸o˜es podem ser escritas como ay′′(x) + by′(x) + cy(x) = 0 (47) em que a, b e c sa˜o nu´meros reais e a 6= 0. Para ilustrar a ide´ia do me´todo de soluc¸a˜o de equac¸o˜es desse tipo, considere como exemplo a E.D.O. y′′ − y = 0 em que, associando-a com a equac¸a˜o (47), obtemos a = 1, b = 0 e c = −1. Tal equac¸a˜o pode ser reescrita como y′′ = y. Enta˜o, na verdade, estamos procurando uma func¸a˜o cuja derivada de segunda ordem seja igual a ela mesma. Se pensarmos um pouco, logo nos vem a cabec¸a que y1(x) = e x e´ uma soluc¸a˜o, pois as derivadas de todas as ordens desta func¸a˜o sa˜o iguais a ela mesma. Uma outra soluc¸a˜o e´ a func¸a˜o y2(x) = e −x, pois, da regra da cadeia, temos que y′2(x) = −e−x e y′′2(x) = −(−e−x) = e−x. Portanto y1(x) e y2(x) sa˜o ambas soluc¸o˜es da equac¸a˜o y ′′ − y = 0. Apesar de termos apenas um exemplo, comec¸amos a imaginar enta˜o, se toda equac¸a˜o de segunda ordem da forma ay′′(x) + by′(x) + cy(x) = 0, tem soluc¸o˜es do tipo y(x) = erx, para algum valor de r ∈ R. Se for o caso, como y′(x) = rerx e y′′(x) = r2erx, devemos ter, substituindo estas func¸o˜es na equac¸a˜o (47), o seguinte: a(r2erx) + b(rerx) + c(erx) = 0⇒ erx(ar2 + br + c) = 0 Como erx 6= 0 para qualquer x ∈ R, so´ nos resta ar2 + br + c = 0 que e´ uma equac¸a˜o nume´rica do segundo grau, denominada equac¸a˜o caracter´ıstica associada a` E.D.O.. Assim, se r e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o ar2 + br + c = 0, teremos que y(x) = erx e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial (47). 35 Sabemos que uma equac¸a˜o do segundo grau pode ter duas soluc¸o˜es distintas, uma soluc¸a˜o (ou duas iguais) ou pode na˜o ter soluc¸a˜o real, dependendo do valor de ∆ = b2 − 4ac. Devido a isso, dividiremos a resoluc¸a˜o das E.D.O. com coeficientes constantes em treˆs casos. Caso 1. Duas ra´ızes distintas, r1 6= r2: ∆ > 0 Dada a E.D.O. ay′′(x) + by′(x) + cy(x) = 0, suponha que sua equac¸a˜o caracter´ıstica ar2 + br + c = 0 tenha duas soluc¸o˜es distintas r1 6= r2. Enta˜o, pelo que vimos acima y1(x) = er1x e y2(x) = er2x, sa˜o soluc¸o˜es da E.D.O., denominadas soluc¸o˜es fundamentais da equac¸a˜o. Ale´m disso, e´ fa´cil verificar que para toda c1 e c2 constantes reais, y(x) = c1y1(x) + c2y2(x) = c1e r1x + c2e r2x (48) e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o (47). A func¸a˜o (48) e´ chamada de soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o. Exemplo 4.1. Resolva a equac¸a˜o y′′ + 5y′ + 6y = 0. Primeiramente, escrevemos a equac¸a˜o caracter´ıstica r2 + 5r + 6 = 0. Suas soluc¸o˜es sa˜o: r1 = −2 e r2 = −3. Assim, as soluc¸o˜es fundamentais da E.D.O. sa˜o y1(x) = e−2x e y2(x) = e−3x, e a soluc¸a˜o geral e´ y(x) = c1e −2x + c2e−3x. Para resolver um P.V.I. de segunda ordem, precisamos de duas condic¸o˜es iniciais, ja´ que na soluc¸a˜o geral precisamos determinar duas constantes, c1 e c2. Em geral, as condic¸o˜es iniciais sa˜o dadas pelo valor da func¸a˜o em um ponto e tambe´m pelo valor da derivada da func¸a˜o neste ponto, como no exemplo a seguir: Exemplo 4.2. Resolva o P.V.I. { y′′ + 5y′ + 6y = 0 y(0) = −5 e y′(0) = 1 A equac¸a˜o e´ a mesma do exemplo anterior e portanto a soluc¸a˜o geral e´ y(x) = c1e −2x + c2e−3x. Substi- tuindo a condic¸a˜o inicial y(0) = −5 obtemos −5 = c1 + c2. Para substituir a segunda condic¸a˜o, precisamos antes de derivar a soluc¸a˜o geral: y′(x) = −2c1e−2x−3c2e−3x e como y′(0) = 1, temos que 1 = −2c1 − 3c2. Com estas duas equac¸o˜es lineares, obtemos o sistema linear { c1 + c2 = −5 −2c1 − 3c2 = 1. As soluc¸o˜es deste sistema sa˜o c1 = −14 e c2 = 9 e portanto a soluc¸a˜o do P.V.I. e´ y(x) = −14e−2x + 9e−3x. Caso 2. Na˜o possui ra´ızes reais: ∆ < 0 Sabemos que a equac¸a˜o ar2 + br + c = 0, se ∆ = b2 − 4ac < 0 na˜o tem soluc¸a˜o real, pois pela Fo´rmula de Ba´skara, as soluc¸o˜es sa˜o dadas por r = −b±√∆ 2a e na˜o existe raiz quadrada e nu´mero real positivo. Enta˜o neste caso, na˜o conseguimos determinar a soluc¸a˜o da E.D.O. da mesma forma que fizemos no primeiro caso. Mas enta˜o, recorremos ao conjunto dos nu´meros complexos C. Neste cunjunto, todas as equac¸o˜es do segundo grau possuem duas soluc¸o˜es complexas α± βi em que i e´ o nu´mero complexo imagina´rio, definido por i = √−1. Para relembrar isso, considere a equac¸a˜o r2 + 4r + 5 = 0. 36Temos que ∆ = 16 − 20 = −4, que na˜o tem raiz real, mas tem raiz complexa dada por √∆ = √−4 = 2i. Assim, as soluc¸o˜es complexas da equac¸a˜o sa˜o r = −4±√−4 2 = −4± 2i 2 = −2± i . Uma outra coisa que vamos precisar para este caso e´ da Fo´rmula de Euler3 que “define”a exponencial complexa: eix = cosx+ i senx Com isso, temos que dada a equac¸a˜o diferencial ay′′(x) + by′(x) + cy(x) = 0, se as raizes complexas de sua equac¸a˜o caracter´ıstica ar2 + br + c = 0 sa˜o r1 = α + βi e r2 = α − βi, por uma analogia ao caso 1, as soluc¸o˜es da E.D.O. sa˜o y˜1(x) = e (α+βi)x e y˜2(x) = e (α−βi)x Vamos reescreveˆ-las usando a Fo´rmula de Euler : y˜1(x) = e (α+βi)x = eαx · eβi x = eαx(cos(βx) + i sen (βx)) y˜2(x) = e (α−βi)x = eαx · e−βi x = eαx(cos(βx)− i sen (βx)) Como a soluc¸a˜o geral e´ dada por y(x) = c˜1y˜1(x) + c˜2y˜2(x), reagrupando os termos, podemos escrever a soluc¸a˜o geral como y(x) = eαx(c1 cos(βx) + c2 sen (βx)), (49) em que c1 e c2 sa˜o constantes complexas. Por isso, as soluc¸o˜es fundamentais sa˜o dadas por: y1(x) = e αx cos(βx) e y2(x) = e αxsen (βx). Para ilustrar este caso, recorremos ao exemplo; Exemplo 4.3. Resolva o P.V.I. { y′′ + 4y′ + 5y = 0 y(0) = 2 e y′(0) = −1 A equac¸a˜o diferencial y′′ + 4y′ + 5y = 0 tem equac¸a˜o caracter´ıstica r2 + 4r + 5 = 0 que como vimos acima, tem soluc¸o˜es complexas r = −4± 2i 2 = −2 ± i. Portanto, como α = −2 e β = 1, temos que da equac¸a˜o (49), a soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial e´ y(x) = e−2x(c1 cos(x) + c2 sen (x)). Resta encontrar as constantes c1 e c2; substituindo as condic¸o˜es iniciais: Se y(0) = 2, 2 = e0(c1 cos(0) + c2 sen (0)) = c1 ⇒ c1 = 2 3A Fo´rmula de Euler e´ obtida das se´ries de Maclaurin das func¸o˜es ex, senx e cosx. Para entende-la veja Calculo volume 2, James Stewart, capitulo 11 37 Para segunda condic¸a˜o inicial y′(0) = −1, derivando y(x), y′(x) = −2e−2x(c1 cos(x) + c2 sen (x)) + e−2x(−c1sen (x) + c2 cos(x))⇒ y′(x) = e−2x(−2c1 + c2) cos(x) + e−2x(−c1 − 2c2)sen (x)⇒ y′(0) = e0(−2c1 + c2) cos(0) + e0(−c1 − 2c2)sen (0) = −2c1 + c2 ⇒ −1 = −2c1 + c2 ⇒ c2 = 3 Assim, a soluc¸a˜o do P.V.I. e´ y(x) = e−2x(2 cos(x) + 3 sen (x)) Caso 3. Possui uma ra´ız real: ∆ = 0 Para este caso temos que a equac¸a˜o caracter´ıstica ar2 + br+ c = 0 associada a E.D.O. ay′′+ by′+ cy = 0 tem apenas uma soluc¸a˜o, ou seja, ∆ = b2 − 4ac = 0. Se r e´ a u´nica raiz da equac¸a˜o caracter´ıstica, y1(x) = e rx e´ uma das soluc¸o˜es fundamentais da euqac¸a˜o diferencial. Mas para obtermos a soluc¸a˜o geral, devemos encontar a segunda soluc¸a˜o fundamental. Para isso, usaremos o Me´todo da Reduc¸a˜o de Ordem. Este me´todo, geralmente e´ usado quando temos uma das soluc¸o˜es fundamentais de uma equac¸a˜o linear homogeˆnea qualquer (na˜o so´ as com coeficientes constantes) e queremos encontar a outra. Vamos supor que a soluc¸a˜o geral e´ da forma y(x) = v(x)y1(x) = v(x)e rx. Assim, temos da regra do produto, y′(x) = v′(x)erx + v(x)rerx e y′′(x) = (v′′(x)erx + v′(x)rerx) + (v′(x)rerx + v(x)r2erx) Como y(x) = v(x)erx e´ a soluc¸a˜o geral, substituindo na equac¸a˜o temos, a(v′′(x)erx + 2v′(x)rerx + v(x)r2erx) + b(v′(x)erx + v(x)rerx) + c(v(x)erx) = 0 Reagrupando os termos, v(x) [ ar2 + br + c ] erx + av′′(x)erx + [ 2arv′(x) + bv′(x) ] erx = 0 Como r e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o caracter´ıstica, o primeiro colchete e´ igual a zero, enta˜o nos resta av′′(x)erx + [ 2arv′(x) + bv′(x) ] erx = 0 (50) Para resolver a equac¸a˜o (50), vamos usar uma varia´vel auxiliar. Chamaremos a func¸a˜o v′(x) de w(x); w(x) = v′(x) . Assim a equac¸a˜o (50) pode ser reescrita como: aw′(x)erx + [ 2arerx + berx ] w(x) = 0 que e´ uma equac¸a˜o separa´vel. Logo, aw′(x)erx = −[2arerx + berx]w(x)⇒ w′(x) w(x) = − ( 2arerx + berx ) aerx ⇒ 38 dw w(x) = −2ar + b a dx⇒ ∫ dw w(x) = − ∫ 2ar + b a dx⇒ lnw(x) = − ∫ 2r + b a dx (51) Nesta u´ltima integral, tem um pequeno detalhe: como a equac¸a˜o caracter´ıstica ar2 + br + c = 0 tem o ∆ = 0, temos da Fo´rmula de Ba´skara que, r = −b±√∆ 2a = −b 2a Enta˜o, a equac¸a˜o (51) pode ser escrita como lnw(x) = − ∫ 2r + b a dx = − ∫ 2 (−b 2a ) + + b a dx = − ∫ (−b a ) + b a dx = − ∫ 0 dx = C ⇒ lnw(x) = C ⇒ w(x) = eC = c2 Portanto, v′(x) = w(x) = c2 ⇒ v(x) = ∫ c2 dx = c2x+ c1 Com isso, obetemos a soluc¸a˜o y(x) = v(x)erx = (c2x+ c1)e rx = c2xe rx + c1e rx. Como uma das soluc¸o˜es fundamentais e´ y1(x) = e rx, a outra soluc¸a˜o fundamental e´ y2(x) = xe rx. Depois deste trabalho todo para deduzir o resultado, vamos a um exemplo para mostrar como e´ fa´cil. Exemplo 4.4. Resolva o P.V.I. { 3y′′ + 6y′ + 3y = 0 y(0) = 3 e y′(0) = 2 Primeiramente, escrevemos a equac¸a˜o caracter´ıstica associada: 3r2 + 6r + 3 = 0. ∆ = 36− 36 = 0⇒ r = −6 6 = −1 Enta˜o as soluc¸o˜es fundamentais sa˜o y1(x) = e −x e y2(x) = xe−x, e a soluc¸a˜o geral e´ y(x) = c1e −x + c2xe−x Para a condic¸a˜o inicial y(0) = 3, 3 = c1e 0 + c2 · 0e0 = c1 39 e derivando a soluc¸a˜o para susbstituirmos y′(0) = 2, temos y′(x) = −c1e−x − c2xe−x + c2e−x ⇒ 2 = −c1e0 − c2 · 0e0 + c2e0 = −c1 + c2 = −3 + c2 ⇒ c2 = 5 Enta˜o, a soluc¸a˜o do P.V.I. e´ y(x) = 3e−x + 5xe−x 4.2 Movimento Harmoˆnico Simples Suponha que uma massa m seja atada a uma mola flex´ıvel suspensa por um suporte r´ıgido. O peso desta massa provocara´ uma distensa˜o na mola, ate´ chegar em uma posic¸a˜o de equil´ıbrio, como mostra o ı´tem (b) da figura abaixo. E´ intuitivo que a distensa˜o s e´ proporcional ao peso da massa m, ou seja, quanto maior o peso, maior sera´ s. Segundo a` Lei de Hooke (1635-1703), a mola exerce uma forc¸a restauradora Fr que e´ proporcional e oposta a` direc¸a˜o do alongamento s da mola, simplismente enunciada por: Fr = ks em que k e´ uma constante de proporc¸a˜o (constante ela´stica da mola) que depende da mola. a b c m m s x(t) Na posic¸a˜o de equil´ıbrio, o peso do objeto devera´ ser igual a` forc¸a restauradora P = Fr ⇒ mg = ks ou ainda mg − ks = 0 (52) 40 Se depois disso, a massa m for deslocada de uma quantidade x(t) de sua posic¸a˜o de equil´ıbrio e em seguida for solta, a forc¸a resultante neste caso de dinaˆmica e´ dada pela segunda Lei de Newton F = ma = m d2x dt2 , pois acelerac¸a˜o e´ dada pela derivada de segunda ordem do deslocamento x(t). Supondo que na˜o haja forc¸as de retandamento agindo sobre o sistema, e supondo que a massa vibre sem influeˆncia de outras forc¸as externas (movimento livre), podemos igualar F a` forc¸a resultante do peso P e da forc¸as restauradora Fr, em que o sinal negativo na seguinte equac¸a˜o se deve ao fato de a forc¸a restauradora atuar em sentido oposto ao movimento do objeto: m d2x dt2 = −k(x+ s) +mg ⇒ m d2x dt2 = −kx+ (−ks+mg)⇒ m d2x dt2 = −kx em que na segunda equac¸a˜o, o parentese ser igual zero segue da equac¸a˜o (52). Dividindo ambos os lados desta u´ltima equac¸a˜o por m, obtemos a Equac¸a˜o Diferencial do Movimento Livre Sem Amortecimento d2x dt2 + k m x = 0 (53) Sua soluc¸a˜o portanto, nos da´ justamente a posic¸a˜o da massa m em func¸a˜o do tempo; x(t). Ha´ duas condic¸o˜es imediatas associadas a equac¸a˜o diferencial (53): x(0) e x′(0), isto e´, a posic¸a˜o e a velocidade inicial da massa m depois que esta e´ colocada em movimento. Para ilustrar essa dinaˆmica, consideremos o seguinte exemplo: Exemplo 4.5. Uma massa de 2Kg distende uma mola em 6cm. No instante t = 0, a massa e´ solta de um ponto a 8cm abaixo da posic¸a˜o de equil´ıbrio com uma velocidade direcionada para cima de 25cm/s. Determine a func¸a˜o x(t) que descreve o movimento livre. Pela Lei de Hooke, Fr = ks e portanto, 2.(9, 8) = k.6 o que implica que k = 3,27 N/cm. Logo, temos a equac¸a˜o d2x dt2 + 3, 27 2 x = 0⇒ d2x dt2 + 1, 64x = 0 A equac¸a˜o caracter´ıstica e´ r2 + 1, 64 = 0 o que implica r2 = −1, 64 e portanto, r = ±1, 28i. A soluc¸a˜o da equac¸a˜o e´ x(t) = c1 cos(1, 28t) + c2 sen (1, 28t). Para calcular c1 e c2, usamos as condic¸o˜es iniciais x(0) = 8 e x ′(0) = −25: 8 = c1 cos(1, 28.0) + c2 sen (1, 28.0)⇒ c1 = 8 Para a segunda condic¸a˜o, derivamos a soluc¸a˜o obetndo x′(t) = −1, 28c1 sen (1, 28t) + 1, 28c2 cos(1, 28t)⇒ 41 −25 = −1, 28c1 sen (1, 28.0) + 1, 28c2 cos(1, 28.0)⇒ −25 = 1, 28c2 ⇒ c2 = −19, 53 Assim, a soluc¸a˜o e´ dada por x(t) = 8 cos(1, 28t)− 19, 53 sen (1, 28t). 4.3 Exerc´ıcios 1. Resolva os problemas abaixo: (a) { 2y′′ + 13y′ + 11y = 0 y(0) = −3 e y′(0) = 1 (b) { y′′ + 64y = 0 y(pi) = 13 e y′(pi) = 7 (c) { 4y′′ + 4y′ + y = 0 y(0) = 3 e y′(0) = 2 (d) { 2y′′ + 2y′ + 5y = 0 y(0) = −1 e y′(0) = 1 (e) { y′′ + 12y′ + 36y = 0 y(0) = 0 e y′(0) = −2 (f) { 3y′′ + 6y′ − 3y = 0 y(0) = 1 e y′(0) = 0 2. Uma massa de 750 gramas, atada a uma mola, provoca nesta uma distensa˜o de 13 m. Encontre a equac¸a˜o do movimento se o peso for solto a partir do repouso de um ponto 0,25 m acima da posic¸a˜o de equil´ıbrio. 3. Detremine a equac¸a˜o do movimento se o peso do exerc´ıcio 2 for solto a partir da posic¸a˜o de equil´ıbrio com uma velocidade inicial para baixo de 2m/s 4. Um peso de 600 gramas distende uma mola em 0,5m. O peso e´ solto a partir do repouso 0,5m abaixo da posic¸a˜o de equil´ıbrio. (a) Encontre a posic¸a˜o do peso nos instantes t = pi12 , pi 8 , pi 6 , pi 4 e 9pi 32 segundos. (b) Qual e´ a velocidade quando t = 3pi16 ? Qual e´ a direc¸a˜o da velocidade neste instante, ou seja, o peso esta´ subindo ou descendo? (c) Quando o peso passa pela posic¸a˜o de equil´ıbrio? 5. Uma forc¸a de 400 newtons distende uma mola em 2 m. Uma massa de 50 Kg e´ atada a mola e solta na posic¸a˜o de equil´ıbrio com uma velocidade de 10m/s para cima. Encontre a equac¸a˜o do movimento. Respostas: 2. x(t) = −14 cos(4 √ 6t); 4. (a) x( pi12) = −14 ; x(pi8 ) = −12 ; x(pi6 ) = −14 ; x(pi4 ) = 12 ; x(9pi32 ) = √ 2 4 ; (b) 4m/s para baixo. (c) t = (2n+1)pi16 , n ∈ N. 42
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