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Resumo de Penal I

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RESUMO DE PENAL I
1 – Finalidades
O direito penal é um ramo do Direito que define os crimes, fixa as penas e também estabelece uma série de regras de aplicação do ordenamento jurídico penal. 
Principal: Proteger os bens jurídicos mais importantes ou fundamentais ao convívio social. E a seleção desses bens jurídicos que serão protegidos cabe ao legislador (através de um critério político), devendo este atentar, contudo, que “apenas os interesses mais relevantes são erigidos à categoria de bens jurídicos penais, em face do caráter fragmentário e da subsidiariedade do Direito Penal”.
Secundários:
Preventiva: Ao criminalizar uma conduta e fixar uma pena, o Direito Penal, antes de punir pretende evitar que os crimes aconteçam. Ao prescrever e castigar qualquer lesão aos deveres ético-sociais, o Direito Penal acaba por exercer uma função de formação do juízo ético dos cidadãos, que passam a ter bem delineados quais os valores essenciais para o convívio do homem em sociedade.
Retributiva: Por esta finalidade, o Direito Penal possibilita as autoridades aplicar as sanções sobre aquele que isolam o ordenamento jurídico penal. O Direito Penal estabelece limites ao poder estatal de punir. Nesse aspecto funciona como garantia para o cidadão. Por exemplo: a pessoa somente pode ser punida por comportamento considerado formalmente como crime; exige-se lei anterior para incriminar condutas etc. Essa gama de garantias está toda consolidada no Direito Penal, oriunda de normatizações insertas no Código Penal, Constituição Federal e outros instrumentos legislativos, sendo marcante a influência dos princípios jurídicos (identificados explícita ou implicitamente na legislação) nessa sistematização.
2 – Conceitos
Conceitos básicos
Infrações penais: condutas consideradas contrárias à ordem penal. As infrações penais se subclassificam em:
crimes, 
delitos e 
contravenções.
Estes conceitos estão em ordem decrescente em gravidade. Os delitos, portanto, seriam os crimes menos graves e as contravenções as mais brandas infrações penais. Exemplos: vadiagem e jogo do bicho.
Sanções penais: se subdividem em:
penas, destinadas aos imputáveis (maiores de 18 anos com capacidade de discernimento);
medidas de segurança, destinadas aos inimputáveis (menores de 18 anos, que não estão sujeitos ao Código Penal, mas ao Estatuto da Criança e do Adolescente). As medidas de segurança podem ser: tratamento ambulatorial, em que o indivíduo permanece solto, mas recebe a visita de um médico toda semana, ou internação no HCT (Hospital de Custódia e Tratamento). Na prática, o HCT é uma prisão também.
Já as penas podem ser de...
Reclusão, destinadas aos crimes mais graves, cumpridas em regime fechado ou semiaberto;
detenção, destinadas aos crimes menos graves. São cumpridas em regime semiaberto ou aberto;
prisão simples, destinadas à contravenção penal, cumprida em regime aberto.
Há também as penas restritivas do direito, que são penas substitutivas.
3 - Fontes do Direito Penal
Direta: Lei (Art. 22, I.C.F). 
 Indiretas: Princípios gerais do Direito; costumes; jurisprudência; doutrina. Antes de tudo, deve saber que as fontes indiretas não criam leis e não revogam leis. Elas servem para integrar a norma. Servem, apenas, para auxiliar ao intérprete.
Lei
A fonte direta e imediata do Direito Penal é a Lei Federal, ou seja, aquela aprovada pelo Congresso Nacional. No Brasil, a Lei Penal tem vigência de forma igual em todo o território nacional, uma vez que não é facultado aos estados e municípios produzir leis sobre o Direito Penal.
Princípios gerais do Direito
São premissas éticas que orientam a compreensão do ordenamento jurídico para melhor elaboração, aplicação e integração das normas. 
Costumes
 Trata-se do conjunto de normas de comportamento que as pessoas obedecem de forma constante e uniforme, pela convicção de sua obrigatoriedade. Costume há obrigatoriedade; hábito não há obrigatoriedade. Obs.: os costumes não criam delitos, servem apenas para integrar a lei penal. Ex: se uma garota for à praia com um biquíni extremamente curto, por nada responderá, pois está-se diante de um insignificante jurídico. E se essa garota entrar com essa mesma vestimenta em um Tribunal? Provavelmente enfrentará problemas.
Jurisprudência
É formada pelas decisões reiteradas de nossos tribunais sobre uma determinada questão jurídica. A jurisprudência auxilia o profissional do Direito na interpretação e aplicação do Direito Penal, não sendo em regra, obrigatória, exceto no caso de súmulas vinculantes.
Doutrina
É formada pelo conjunto das obras jurídicas, tais como livros, artigos jurídicos, vídeos de aulas ou palestras, etc, e auxiliam também na interpretação e aplicação do Direito Penal. 
4 – Princípios penais
Princípio da Legalidade
Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
Princípio da Intervenção Mínima
Princípio da Insignificância 
Princípio da Lesividade
Princípio da Fragmentariedade
Princípio da Adequação Social
Princípio de Culpabilidade
Princípio da Proporcionalidade
Princípio da Legalidade
O princípio da legalidade constitui uma efetiva limitação ao poder punitivo estatal. A elaboração de normas incriminadoras é função exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção correspondente.
É necessário que o legislador penal evite ao máximo o uso de expressões vagas, equívocas ou ambíguas. Ademais, contraria o princípio da divisão dos poderes, porque permite ao juiz realizar a interpretação que quiser, invadindo, dessa forma, a esfera do legislativo. O princípio da legalidade exige que a norma contenha a descrição hipotética do comportamento proibido e a determinação da correspondente sanção penal, com alguma precisão, como forma de impedir a imposição a alguém de uma punição arbitrária sem uma correspondente infração penal.
Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
De acordo com esse princípio, desde que uma lei entra em vigor até que cesse a sua vigência, rege todos os atos abrangidos pela sua destinação. Não alcança, assim, os fatos ocorridos antes ou depois dos dois limites extremos. Contudo, a lei nova que for mais favorável ao réu sempre retroage. Ex: abolitio criminis ou descriminalização.
As leis temporárias ou excepcionais constituem exceções ao princípio da irretroatividade da lei penal, e são ultra-ativas. Mesmo esgotado seu período de vigência, terão aplicação aos fatos ocorridos durante a sua vigência. São leis de vida curta e cujos processos, de regra, estendem-se para além do período de sua vigência.
Novatio legis in pejus: uma conduta que já era crime, e lei posterior passa a dar tratamento mais duro aos agressores. Lei 8072/90 – Lei de Crimes Hediondos. Matar já era crime de homicídio, mas a lei de 1990 agravou as consequências do delito. A lei não retroage. Só atinge os crimes praticados posteriormente à sua entrada em vigor.
Novatio legis in mellius: a conduta não deixou de ser crime, mas a pena ficou mais branda por conta de lei nova. Nesse caso, a lei retroage para favorecer o réu. Exemplo: a lei de drogas em relação aos usuários. Certa feita, um sujeito chamado Marcelo Anthony foi beneficiado por esta lei por portar cerca de trezentos gramas de maconha. Não existe mais pena de prisão; há advertência, tratamento, obrigação de frequentar cursos, etc.
Princípio da Intervenção Mínima
Também conhecido como “ultima ratio”, preconiza que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a prevenção de ataques contra bens jurídicos importantes. Ademais, se outras formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a cautela desse bem, a sua criminalização é inadequada e não recomendada. Por isso, o Direito Penal deve ser a “ultima ratio” do sistema normativo, isto é, deve atuar somente quando os demais ramos do Direito revelarem-seincapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivíduo e da própria sociedade. 
Princípio da Lesividade
Para que se tipifique algum crime, em sentido material, é indispensável que haja, pelo menos, um perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem jurídico penalmente protegido. Somente se justifica a intervenção estatal em termos de repressão penal se houver efetivo e concreto ataque a um interesse socialmente relevante. O legislador deve abster-se de tipificar como crime ações incapazes de lesar ou, no mínimo, colocar em perigo concreto o bem jurídico protegido pela norma penal.
Princípio da Insignificância
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para configurar o injusto típico. Também conhecido como Princípio da Bagatela. Segundo esse princípio, é imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervenção estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determinado tipo penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância material, porque em verdade o bem jurídico não chegou a ser lesado.
Princípio da Fragmentariedade
O significado do princípio constitucional da intervenção mínima ressalta o caráter fragmentário do Direito Penal. Ora, esse ramo da ciência jurídica protege tão somente valores imprescindíveis para a sociedade. Não se pode utilizar o Direito Penal como instrumento de tutela de todos os bens jurídicos. E nesse âmbito, surge a necessidade de encontrar limites ao legislador penal.
Nem todas as ações que lesionam bens jurídicos são proibidas pelo Direito Penal, como nem todos os bens jurídicos são por ele protegidos. Faz-se uma tutela seletiva do bem jurídico, o que significa que o Direito Penal não deve sancionar todas as condutas lesivas dos bens jurídicos, mas tão somente aquelas condutas mais graves e mais perigosas praticadas contra bens mais relevantes.
Princípio da Adequação Social
O Direito Penal tipifica somente condutas que tenham uma certa relevância social; caso contrário não poderiam ser delitos. Deduz-se, consequentemente, que há condutas que por sua “adequação social” não podem ser consideradas criminosas. Em outros termos, segundo essa teoria, as condutas que se consideram “socialmente adequadas” não se revestem de tipicidade e, por isso, não podem constituir delitos.
Princípio da Culpabilidade
Segundo esse princípio, em sua configuração mais elementar, “não há crime sem culpabilidade”. Em primeiro lugar, a culpabilidade, como fundamento de pena, significa um juízo de valor que permite atribuir responsabilidade pela prática de um fato típico e antijurídico a uma determinada pessoa para a consequente aplicação de pena. Para isso, exige-se a presença de uma série de requisitos – capacidade de culpabilidade, consciência da ilicitude e exigibilidade da conduta – que constituem os elementos positivos específicos do conceito dogmático de culpabilidade. Ninguém responderá por um resultado absolutamente imprevisível se não houver obrado, pelo menos, com dolo ou culpa.
 Princípio da Proporcionalidade
O Princípio da Proporcionalidade exige a observância da proporcionalidade entre a gravidade do crime e a sanção a ser aplicada, onde a lei só deve cominar penas estritamente necessárias e proporcionais ao delito.
	Princípio da Legalidade
	“Nullum crimen, nulla poena sine lege”	 (Não há crime sem lei anterior que o defina.)
	Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
	“Tempus regit actum” (O tempo rege o ato.)
	Princípio da Intervenção Mínima
	“Ultima ratio” (A última razão, último argumento.)
	Princípio da Insignificância
	“De minimis non curat praetor" (O pretor não cura das questões mínimas;  o magistrado não deve preocupar-se com as questões insignificantes.)
	Princípio da Lesividade
	“nullum crimen sine iniuria” (não há crime sem ofensa (lesão ou perigo concreto de lesão) ao bem jurídico.)
	Princípio da Fragmentariedade
	O estado só protege os bens jurídicos mais importantes.
	Princípio da Adequação Social
	 Não se pode reputar criminosa uma conduta tolerada pela sociedade.
	Princípio da Culpabilidade
	“Nullum crime sine culpa” (Não há crime sem culpabilidade.)
	Princípio da Proporcionalidade
	A proporcionalidade entre a gravidade do crime e a sanção a ser aplicada.
5 – Analogia e interpretação analógica
Analogia: Deve-se observar que não existe analogia de norma penal incriminadora – in malam partem. Utiliza-se analogia apenas para beneficiar o acusado – in bonam partem. Mas o que é analogia? É a análise por semelhança. É aplicar a alguma hipótese não prevista em lei, lei relativa ao caso semelhante. Ex: O art. 128 do CP prevê as hipóteses legais de abortamento. A hipótese mais clássica é aquela em que a mulher é vitima é estupro e fica grávida. A lei, nesse caso, admite a manobra abortiva. Mas o legislador impôs requisitos, quais sejam: que haja consentimento da gestante e seja realizado por médico. Isto é, se o abortamento não for realizado por médico, o agente que o praticou responderá pelo crime de aborto, ok? Mas imaginemos que Eva tenha ficado grávida em decorrência do estupro. E Eva mora em cidade longínqua que não há médico na região; há, apenas, uma parteira. Eva procura a parteira e esta realiza a manobra abortiva. Ocorre que a parteira responderá pelo crime de aborto, porque o legislador disse que tem de ser praticado apenas por médico. Para que não ocorra injustiça, teremos de fazer o uso da analogia, in bonam partem, para beneficiar a parteira.
Interpretação analógica: O que temos é uma interpretação extensiva ou ampliativa, onde o julgador, através de um raciocínio lógico, usa uma interpretação que amplia o alcance da norma. A interpretação analógica pode ser usada também em “malam partem”. É o processo de extração do autêntico significado da norma, ampliando-se o alcance das palavras legais, a fim de se atender a real finalidade do texto.
6 – As leis penais
Norma penal: Podemos inicialmente afirmar que as normas tidas penais cumprem a finalidade de punir determinadas condutas descritas no Código Penal e estão em direção ao que promana a legalidade como princípio, além da conduta do agente que a norma proíbe ou manda determinada conduta. É por isso que as normas penais incriminam ou não conforme o previsto em lei.
Normas penais incriminadoras: tem por escopo definir as infrações penais descrevendo o crime, proibindo ou impondo condutas, desse modo, o seu não cumprimento se sujeita a penalidade. Essas normas possuem dois preceitos: primário (descreve o crime) e secundário (comina a pena).
II)       Normas penais não incriminadoras: Possuem tais finalidades, como:
Tornar licitas determinadas condutas;
Afastar a culpabilidade do agente, como no caso de isenção de penas;
Esclarecer determinados conceitos;
Fornecer princípios penais para a aplicação da lei penal.
Há outro critério classificativo das normas penais não incriminadoras, como: a) permissivas; b) explicativas e c) complementares
a)    Permissivas:
Podem ser:
Justificantes: afasta a ilicitude da conduta do agente, por exemplo: arts. 23, 24 e 25do CP.
Exculpantes: elimina a culpabilidade, isentando o agente de pena, por exemplo: art.26 “caput” e 28 do CP.
b)    Explicativas: visam esclarecer ou explicitar conceitos. P. ex. os arts. 327 e 150,§ 4º, do Código Penal, quando tratam sobre o conceito de “funcionário público” e de “casa”.
c)    Complementares: fornecem princípios gerais para a aplicação da lei penal. P. ex. o art. 59, do CP, quando trata sobre a aplicação de pena.
Normas penais em branco (ou primariamente remetidas) : São aquelas nas quais, embora haja uma descrição da conduta proibida, se faz necessário um complemento por outro dispositivo vigente, como as leis, os decretos, portarias, regulamentos, entretanto, desde que sejam proibitórios ou impostos pela norma penal.Preceito: É a regra de comportamento que extraímos da definição da conduta criminosa prevista na norma incriminadora (Art. 121- “matar alguém” -> Preceito “não devo matar”).
7 – A Lei Penal no Tempo
Em regra, aplica-se a lei penal vigente ao tempo da prática do fato criminoso, de acordo com o princípio do tempus regit actum. Quer-se dizer que a lei penal produzirá efeitos, em regra, no período da sua vigência, de acordo com a lei vigente na época do fato. Assim, praticado um crime, por exemplo, na data de 22 de julho de 2013, reger-se-á a pretensão punitiva estatal, a princípio, de acordo com as regras vigentes nesta data. Exceção à regra supracitada ocorre nos casos de extra-atividade da lei penal, em que abrange a retroatividade da lei mais benéfica e sua ultra-atividade.
ABOLITIO CRIMINIS: Haverá abolição de crime quando a lei nova deixa de considerar crime/contravenção penal o fato anteriormente tipificado como ilícito penal. Nesse caso, o legislador retira a ilicitude da conduta, descriminalizando o ato que outrora era considerado como delito. O instituto da abolitio criminis está descrito no caput do art. 2º do Código Penal, sendo causa de extinção de punibilidade (art. 107, inciso III, do CP).
NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA: Em se tratando de novatio legis incriminadora, ou seja, uma lei posterior que criminaliza determinada conduta, aplica-se a regra geral da irretroatividade penal. Como se vê, nesta hipótese, a regra é aquela insculpida no princípio da legalidade e da anterioridade: não haverá crime ou pena sem lei prévia.
NOVATIO LEGIS IN PEJUS: Entende-se por novatio legis in pejus, também chamada de lex gravior, a lei posterior que, de qualquer modo, agrava a situação do agente. Aplicando-se o critério supracitado, a lei nova que prejudica o agente não retroage, isto é, deve ser mantida a lei revogada (ultra-atividade da lei vigente na época do fato). 
NOVATIO LEGIS IN MELLIUS: Finalmente, a quarta hipótese de conflito de lei penal no tempo é a novatio legis in mellius, vale dizer, ocorre quando a lei posterior que traz um benefício, de certa forma, para o agente do fato (a lei nova beneficia a situação do acusado). Em suma, a novatio legis in mellius, assim como a abolitio criminis, retroage para beneficiar o agente criminoso, aplicando-se de forma imediata aos processos em andamento, sentenciados ou não, e também à execução penal.
8 – Tempo do Crime
Consoante artigo 4º do código penal, "Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado". Nos sistemas penais é possível adotar a teoria da atividade na qual o que importa é o momento da conduta (omissiva ou comissiva) delituosa, pouco importando em que momento se deu o resultado.
9 – Crimes permanentes 
É aquele cujo momento da consumação se prolonga no tempo por vontade do agente, como acontece no crime de sequestro, previsto no artigo 148 do Código Penal, que se consuma com a retirada da liberdade da vítima, mas o delito continua consumando-se enquanto a vítima permanecer em poder do agente.
Crimes permanentes e súmula 711 STF: De acordo com a jurisprudência do STF, se ao longo do crime permanente, ou seja, durante sua execução prolongada, a lei penal é modificada e se torna mais severa, antes de cessar a permanência, aplica-se a este delito essa nova lei, uma vez que também será a lei vigente ao tempo do crime.
10 – Lei Penal no Espaço 
Princípio da Territorialidade (Art.5º): Em razão do princípio da soberania, as leis vigoram exclusivamente no espaço geográfico que pertence ao Brasil. O princípio da territorialidade determina que o processamento e julgamento dos crimes cometidos dentro de nosso território são compete ao Brasil. O princípio vem para evitar que leis de fora valham aqui.
Tratado de imunidade diplomática: Significa que o Brasil não será soberano para julgar um crime cometido aqui se houver um acordo com outro Estado. Isso é o princípio da reciprocidade. Um diplomata francês que venha a cometer um crime aqui no Brasil não está, em princípio, sujeito às leis brasileiras, assim como um diplomata brasileiro que vier a cometer um crime no país onde trabalha não estará, em princípio, sujeito às leis daquele país. Isso também depende dos limites do acordo internacional firmado. 
11 – Conceito de território e lugar do crime
Não coincide necessariamente com o conceito geográfico. Território jurídico é todo o espaço fluvial, marítimo, lacustre, aéreo e terrestre em que o país exerce sua soberania. Isso inclui as embaixadas brasileiras no exterior.  
Aeronaves e embarcações
Aeronaves e embarcações públicas brasileiras: as que estiverem em território estrangeiro serão consideradas como extensão do território nacional. Neste quesito também vigora o princípio da reciprocidade: navio público a serviço do Estado estrangeiro é considerado território do Estado estrangeiro.
Embarcações e aeronaves privadas: Aviões e barcos privados estrangeiros no Brasil fazem parte do território nacional, já os brasileiros em território estrangeiro serão território estrangeiro. Já aeronaves e embarcações brasileiras em alto-mar são considerados extensão territorial.
Lugar do crime: Suponha se tratar de uma embarcação com a bandeira brasileira, com tripulação brasileira, passageiros brasileiros, navegando pela faixa litorânea brasileira. Quando a embarcação se aproxima da divisa entre águas brasileiras e águas uruguaias, um sujeito esfaqueia outro a bordo. No meio da hemorragia, o barco entra em território uruguaio, lá atraca, e a vítima é levada para o hospital. Qual é o lugar do crime?
Há três teorias para resolver essa situação:
Teoria da ação: importa onde a facada foi desferida, neste caso, no Brasil.
Teoria do resultado: importa onde ocorreu o resultado: a morte da vítima, que, no caso, foi no Uruguai.
Teoria mista ou da ubiqüidade: não importa se o crime começou no Brasil e a vitima morreu no Uruguai; o lugar do crime será os dois países. O CP adotou essa teoria.
	Tempo do crime
	Considera-se praticado o crime no MOMENTO DA AÇÃO OU OMISSÃO, ainda que outro seja o momento do resultado.
	Lugar do crime
	Teoria mista: pode ser tanto o local onde ocorreu a ação criminosa ou o lugar onde se deu o resultado. 
12 – Extraterritorialidade
 É a capacidade que possui a lei penal brasileira a ser aplicada num crime ocorrido no estrangeiro, mas somente se tal crime se encaixar nas hipóteses do Art.7º da CP.
Incondicionada (Art.7*, I): Nestas hipóteses a lei brasileira pode incidir independente do cumprimento de qualquer condição. 
Em razão da alta relevância dos interesses atingidos, é aplicável incondicionadamente a lei brasileira aos crimes praticados no estrangeiro nos seguintes casos:
a)     contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b)    contra o patrimônio ou a fé publica da União, do Distrito Federal, de Estados, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquias ou fundações instituídas pelo Poder Público;
c)     contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d)    de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
Essas hipóteses estão em acordo com o princípio da defesa. 
Condicionada (Art. 7º, II, ~2º): A lei penal brasileira somente poderá ser aplicada ao criminoso se preenchidas as condições do ~2º:
Os crimes em que se verifica a extraterritorialidade condicionada da lei brasileira são os seguintes (art. 7º, II, do CPB);
a)     crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b)    crimes praticados por brasileiros no estrangeiro;
c)     crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro, e ai não tenham sido julgados;
d)    crimes praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, § 3º, do CPB)
No caso da alínea “a”, trata-se de crimes que afetam a comunidade internacional, como a pirataria, a danificação ou destruição de cabossubmarinos, o comércio clandestino e o tráfico de entorpecentes, tráfico de mulheres, etc. Para puni-los, a lei adere ao princípio da justiça universal (ou da universalidade).
Em relação a alínea “b”, a lei brasileira acolhe limitadamente o princípio da personalidade, em conseqüência da norma constitucional que impede a extradição de nacionais (art. 5º, LI, da CF). 
Na alínea “c”, a lei contempla situações de crimes cometidos, por exemplo, a bordo de aeronave comercial brasileira, em vôo sobre território estrangeiro, onde não faz escala, sendo o autor e vítima estrangeiros. Ou o caso de crime cometido a bordo de navio brasileiro, que está deixando as águas territoriais de outro país, sendo autor e vítima estrangeiros.
O quarto caso, letra “d”, previsto no art. 7º, § 3º, do CPB, acolhe o princípio da defesa (ou da personalidade passiva). O Estado tem o dever de proteger seus cidadãos. Devendo, neste caso, a aplicação da lei brasileira ser feita: 1- Se o país a que pertence o estrangeiro não pediu sua extradição, ou se foi negada pelo Brasil; 2- Se houve requisição do Ministro da Justiça (pressuposto processual necessário).
Os pressupostos ou condições que nosso Código prevê para a extraterritorialidade de nossa lei são vários e devem ocorrer simultaneamente, são elas: (art. 7º, § 2ª)
a)     Entrar o agente no território nacional. É irrelevante a causa da entrada do agente no território.
b)    Ser o fato punível também no país em que foi praticado. O fato deve necessariamente ser crime no país onde foi praticado.
c)     Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição. Quando nossa lei não permite a extradição relativa ao crime praticado não poderá haver a extraterritorialidade da lei brasileira.
d)    Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro, ou não ter aí cumprido pena. Não é possível aplicar a lei brasileira se o agente já foi julgado e absolvido no estrangeiro.
e)     Não Ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo,  não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Esta condição é da mesma natureza que a anterior.
13 – Conflito aparente de normas
O conflito aparente de normas ou de leis é cada vez mais freqüente e mais comum em nossa sociedade. Não raro é difícil resolver esse problema, que necessariamente demanda interpretação. O que é o conflito aparente de normas? É um conflito que ocorre quando, sobre uma dada situação, com um mesmo crime, mesmo fato, incidem várias normas penais.  Quando isso ocorre, podemos aplicar todas ao mesmo tempo? Não, pois haveria a violação de um princípio: o da proporcionalidade e mais exatamente o princípio ne bis in idem, que veda a múltipla penalização de um mesmo comportamento. Também relaciona-se com o princípio da legalidade. 
Princípios aplicáveis
São três: o da especialidade, o da consunção ou absorção e o da subsidiariedade.
Princípio da especialidade: quando há uma norma geral que descreve o tipo penal de uma forma genérica e há um outro tipo penal que descreve aquela mesma conduta de uma forma mais especifica. Ambas tratando o mesmo crime, a mesma conduta. Homicídio: norma geral. Mas no mesmo Código Penal temos uma norma especial: o infanticídio: "matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após": estas são especializantes. Quando isso acontecer, a norma especial prevalecerá sempre sobre a norma geral. Lex specialialis derogat legi generali. Toda violação à norma especial é também violação à norma geral, mas não vice-versa. A norma geral contém a norma especial.
Princípio da consunção ou absorção: aplicado quando uma norma mais ampla absorve ou tem na sua descrição a menos ampla. O homicídio em relação às lesões corporais: o homicídio já compreende as lesões corporais. Extorsão mediante seqüestro já contém o seqüestro. Roubo compreende o furto. Latrocínio compreende o roubo. É possível ocorrer o contrario, ou seja, o menos grave absorver o mais grave? Em tese, não; mas, na pratica, sim: muitas vezes o legislador descreve, por absoluta falta de técnica, um crime menos grave com pena mais severa que o mais grave.
Princípio da subsidiariedade Se o crime fim é abandonado pelo agente, que desiste de pratica-lo, ou então, não chega a ser executado, o criminoso pode responder pelo crime meio\subsidiário. Ex.: Um estuprador que ameaça e leva a vitima, mas não pratica o ato criminoso. Os tipos tentados são subsidiários em relação aos consumados. Os crimes de perigo são subsidiários em relação aos de dano. A subsidiaridade pode ser expressa ou tácita. 
14 – Classificação doutrinária dos crimes
Crimes comuns: É aquele que qualquer pessoa pode cometer, pois a definição da conduta criminosa no tipo penal não exige uma qualidade especial do agente. 
Crimes próprios: É aquele que exige para se configurar uma qualidade especial do autor do crime. 
Ex.: Art.302 (médico)
De mão própria: É aquele em que o agente somente pode praticar pelas próprias mãos, ou seja, não é possível mandar alguém praticar o crime em seu lugar. Ex.: 342 (falso testemunho).
Crime material: É aquele que exige ocorrência de um resultado para o crime se consumar. Ex.: Art.21 (precisa que ocorrera a morte).
Crime formal: É aquele onde o tipo penal, da forma como define o crime não existe a ocorrência do resultado para o crime se consumar. Ex.: Art. 59 – extorsões mediante sequestro (não precisa receber resgate para ter tal ato consumado).
De mera conduta: É aquele que não possui resultado físico\material, onde o tipo penal criminaliza a pratica de um determinado comportamento. Ex.: Art.14 – porte de arma (o simples fato de ser encontrado com a arma já é caracterizado a conduta criminosa).; Art.306 – embriaguez no volante.
Crime de dano: São aqueles em que a ação criminosa produz uma lesão afetiva sobre bem jurídico, causando uma espécie de dano concreto ao sujeito passivo. Ex.: Arts. 121; 157;213 e 255.
Crime de perigo: idem ao de conduta.
Crime complexo: É aquele que atinge mais de um bem jurídico. Ex.: Latrocínio, estupro com resultado morte.
15 - Teoria do Crime
O que é? É o sistema do delito: o conjunto de conceitos fundamentais com os quais trabalham os juízes, promotores, e demais operadores do Direito. É a sistematização dos institutos essenciais à aplicação e compreensão do Direito Penal. Então, estudar a teoria do delito é o mesmo que estudar os conceitos básicos de aplicação e interpretação no Direito Penal.
Conceitos sobre crimes
Há vários conceitos de crimes: um deles é o conceito formal, que é o mais usual e comum. Parte da própria lei, para dizer que crime é um fato definido em lei como tal. Simples.
Se a lei não disser que é crime, crime não é.
Há mais conceitos:
Conceito material: parte do pressuposto que o crime é uma lesão grave a um bem jurídico, e o crime é um comportamento que lesiona o bem jurídico alheio. Matar, estuprar, caluniar, invadir domicílio. Podemos fazer uma junção desses conceitos (formal e material): crime é um comportamento descrito na lei como tal que lesiona o bem jurídico alheio.
Conceito analítico: é um desdobramento do conceito formal. De acordo com o conceito analítico, o crime é um fato típico, ilícito e culpável. É um continuum do conceito formal.
Conceito definitorial: é o conceito criado pela teoria do etiquetamento (teoria do labeling approach: diz que o crime não existe, e é socialmente construído). Qualquer comportamento pode ser crime ou não, a depender dos interesses em jogo. Remonta a Nietzsche: não há fatos, mas sim interpretações.
Três conceitos fundamentais: tipicidade, ilicitude e culpabilidade
Tipicidade: é a relação de adequação entre um fato da vida e a norma penal incriminadora. Matar alguém é um fato típico: há uma norma penal que o tipifica. Dizemos, entretanto, que o fato é atípico se ocorre o contrário, ou seja, quando não houver correspondência entre o fato e a norma penal incriminadora. Adultério, por exemplo, se trata, hoje em dia, apenas de um ilícitocivil. Aborto: só é fato típico se praticado na forma dolosa; se o aborto for culposo, então o fato é atípico. Dano: crime na forma dolosa apenas. Mas se o crime de dano for praticado na forma culposa, ele será atípico; será apenas um ilícito civil, passível de ação de reparação de danos.
Quase todos os crimes são puníveis apenas na forma dolosa. Em geral, o fato só é típico se praticado na forma dolosa, exceto alguns, como o homicídio. Furto e roubo não podem ser culposos. Fato típico é previsto em lei como crime ou contravenção, ou seja, como infração penal. É atípico quando não há essa correspondência.
Ilicitude ou antijuridicidade: depois, verificamos se o fato é ilícito ou antijurídico. O fato é antijurídico quando, sendo previamente típico, for praticado contrariamente ao direito. Ou seja, para aferir a licitude de um fato, primeiramente devemos determinar se ele é típico. Mais que isso, ele ofende o Direito como um todo, e não está amparado por nenhuma causa de justificação. Pode acontecer de alguém praticar um homicídio em conformidade com o Direito, então será um crime, porém não ilícito. Pode ocorrer de o sujeito praticar o crime amparado por uma causa de justificação, conhecida como excludente de ilicitude.
Culpabilidade: é um juízo de reprovação que incide sobre o autor de um fato típico e ilícito em que era perfeitamente exigível o comportamento conforme o direito. Dizemos que o agente é culpável quando é exigível o comportamento diverso, e inculpável quando é inexigível o comportamento diverso.
16 – Fato típico
I ) DOLO 
Há dolo quando o agente quer o resultado (conceito legal de dolo) ou assume o risco de produzi-lo.
Elementos: de acordo com a teoria adotada pelo Código, o dolo se compõe de vontade e representação, que são respectivamente o elemento volitivo e o elemento cognitivo. 
O elemento cognitivo significa que, para que haja dolo, é necessário que o sujeito tenha consciência da lesividade de sua ação no caso concreto. Se um sujeito tem uma arma em mãos, carregada, e sabe que se apontar para alguém e atirar ele mata, então podemos dizer que há o elemento representativo ou cognitivo. Outro exemplo: se se sabe  que  determinada menina é menor de 14 anos, e que, ainda que ela queira a relação sexual isso está proibido, então se o sujeito fizer sexo com ela haverá estupro com violência presumida. Se, todavia, o agente possui uma arma de fogo e pensa que é uma arma de brinquedo, então não há dolo: falta o elemento cognitivo. Ou então estar convencido que as balas aqui na arma são balas de festim. Falta a consciência, o elemento essencial para a realização. Se o sujeito acredita que a menina com quem está prestes a ter sexo tem pelo menos 18 anos mas tem apenas 13, então lhe faltará a consciência da ilicitude, e não haverá dolo.
O elemento volitivo é a vontade, a intenção.
No código penal, há o conceito de dolo direto e o de dolo eventual.  O agente quer praticar o crime e vai até o fim. Dolo indireto ou eventual: o agente não quer diretamente o resultado, mas sabe que a ação é perigosa e mantém essa ação. Exemplo: mirar em uma pessoa e acertar outra; colocar bomba em avião, com o objetivo de matar uma única pessoa. Com relação à pessoa que ele quer matar, há dolo direto. Com relação às outras, dolo indireto ou eventual. 
II) CULPA
De acordo com o conceito do próprio Código Penal, há crime culposo quando o sujeito dá causa ao resultado mediante negligência, imperícia ou imprudência. O que vem a ser cada uma dessas coisas? São conceitos bem vagos, e alguns autores dizem que a imprudência abrange a imperícia e a negligência, enquanto outros falam o mesmo da negligência.
Imprudência é a pratica de uma ação perigosa, arriscada. Exemplo: dirigir em alta velocidade, tirar racha, atender celular ao volante.
Negligência é normalmente é associada à omissão: deixar de tomar os cuidados necessários para executar determinada ação. Dirigir com pneus carecas, não fazer a manutenção do veículo, dirigir sem freio, pular ou correr com tesouras ou facas na mão...
Imperícia é falta de habilidade para praticar determinadas ações. Fazer cirurgia sem esterilizar os aparelhos, fazer lipoaspiração sendo médico especialista em fertilidade. Falta de habilitação para exercer alguma função, profissão, etc.
III ) RESULTADO
Resultado Naturalístico → É a alteração no mundo dos fatos produzida pela conduta típica. Nem todo crime possui resultado naturalístico.
Resultado Jurídico ou Normativo → É a ofensa ao bem jurídico produzido pela conduta típica. TODO CRIME TEM RESULTADO JURÍDICO.
IV) RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
 É a relação de causa-efeito entre a conduta e o resultado criminoso, uma vez que no direito penal o resultado somente é imputável a quem lhe deu causa.
V) TIPICIDADE
 É a adequação entre o fato concreto e a norma jurídica. Só será responsabilizado criminalmente aquele que praticar fato descrito em lei penal incriminadora.
Tipicidade Formal → É a adequação do fato a norma.
Tipicidade Material → Conduta que provoca lesão ou ameaça de lesão a bem jurídico. 
Tipicidade Conglobante → Tipicidade Formal mais Tipicidade Material.
Crime doloso: O agente pratica a conduta com vontade de produzir o resultado criminoso, ou então, prevendo o resultado e assumindo o risco de produzi-lo. (Art.18).- Direto (vontade) e eventual (consentimento).
Crime culposo-(Art.18 inciso 2): O resultado criminoso por falta de cuidado, praticando a conduta com imprudência, negligencia ou imperícia. No crime culposo, temos a inobservância de afobação, precipitação (tipos penais abertos) -> interpretação muda de acordo com cada julgador. Precipitação: não admite tentativa.
Crime preterdolosos – (art.19): Temos dolo no crime antecedente e culpa no crime consequente, ou seja, o agente pratica a conduta com vontade de produzir um resultado, mas acaba produzindo outro resultado superior ao pretendido. Nessa modalidade criminosa, o resultado final que não era pretendido pelo agente ocorre culposamente. Ex.: Lesão corporal com resultado morte.
Crime culposo pela culpa consciente: O agente também tem previsão do resultado, mas não assume o risco de produzi-lo, pelo contrario, o agente pratica a conduta acreditando que o resultado não ocorrera, mas acaba produzindo o crime por falta de cuidado.
Diferença entre o dolo eventual e culpa consciente: No dolo eventual o agente tem a previsão e a despreza o resultado, ou seja, assume o risco de produzi-lo, enquanto na culpa consciente o agente tem a previsão, mas não despreza o resultado, assume o risco, pois acredita que o resultado não ocorrera.
Crimes comissivos: São aquele que derivam da ação, do fazer, do comportamento positivo do agente. Ex.: matar, roubar, estuprar.
Crimes omissivos: São aqueles que definem como crime o “não-fazer” ou seja, o comportamento negativo. São também chamados de crime omissivo próprio. Ex.: Omissão de socorro – Art.269 (não admite tentativa).
Crimes comissos por omissão: Também chamados de crimes comissivos impróprios, o agente através de um “não fazer”, ou seja, uma omissão produz o resultado de “fazer”, ou seja, um crime comissivo. Nesse caso, o agente que se omite esta na posição de “garante” e tem dever de agir para evitar o resultado. Garante: Art.13 ~2: a) quem por lei tem proteção; b) através de contrato ou ajuste; c) causar risco a outrem.
17 – Causas excludentes de ilicitude
São quatro tipos previstos no Código Penal:
Legítima defesa
Estado de necessidade
Exercício regular da profissão
Estrito cumprimento do dever legal
  1 - Legítima defesa  
É a resposta do agente a um ataque de terceiro, sempre pessoa humana, moderadamente, para a proteção de direito próprio ou alheio.
Ex: dar tesourada em estuprador. É uma situação de legítima defesa real. Para rechaçar uma violência, o sujeito usa, moderadamente (discutível), um meio de defesa.
1.2 – Ofendículos
Instrumentos utilizados para a proteção da propriedade. Cerca de arame farpado, metralhadora de parede, cães de guarda, cerca eletrificada,minas terrestres, etc.
Se um ladrão invade uma casa e morre por causa dos ofendículos, será isso considerado legítima defesa? Quanto a isso, há dois posicionamentos:
Sim, é legítima defesa, porque no momento em que o ladrão está furtando e sofre a ação dos ofendículos, o proprietário está reagindo a uma agressão atual ao patrimônio (que está se consumando).
Não, mas trata-se de exercício regular do direito.
Só pode alegar legítima defesa para esses casos quando há o uso moderado dos meios; a ação dos ofendículos deve ser proporcional. Se os tiros da metralhadora ativada por sensor atingirem um inocente (aberratio ictus), o proprietário responderá por homicídio culposo, ou até homicídio com dolo eventual, a depender do caso concreto.
1.3 - Consentimento do ofendido
Não tem previsão legal; é uma criação essencialmente doutrinária. Alguns crimes só existem se houver dissentimento, ou melhor, se faltar o consentimento. Ora se exige o consentimento explícita ora implicitamente.
Por exemplo: há o crime de introdução de animais em propriedade alheia sem autorização do dono. Esse termo "sem autorização" é a falta de consentimento. Se houver a autorização, não há crime algum pois o fato se torna atípico.
2 - Estado de necessidade
Ocorre quando o agente está numa situação de perigo atual e, para proteção de direito próprio ou alheio, ele tem de violar um bem jurídico alheio. Exemplo: ser atacado por um cão. Também em situação de calamidade, em que o sujeito pode estar com fome, então vai ao mercado da quadra e pega um biscoito, etc. 
A doutrina propõe outras excludentes que não estão no Código: são as excludentes “supralegais” de ilicitude. Em geral, os autores propõem, por exemplo, o consentimento do ofendido. 
Resumo dos requisitos do estado de necessidade
Situação de perigo atual e real;
O perigo deve ser inevitável;
Inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado;
Não estar o agente em situação de garante;
Não ter o agente sido o próprio provocador da situação de perigo.
3 - Exercício regular do direito
Também chamado de exercício regular da profissão. A distinção entre este e o anterior é que lá há um dever legal imposto a funcionário público. No exercício regular do direito, o sujeito exerce, em sua faculdade, sem o dever legal de agir. Qualquer pessoa que, exercendo normalmente seu direito, moderadamente lesione bem jurídico alheio, pode alegar exercício regular do direito. Por exemplo: pais em relação aos filhos, com castigos moderados. Os pais às vezes agridem verbalmente, o que em tese haveria atentado à honra. Mas pode-se invocar o exercício regular do direito neste caso. Quem prende alguém em flagrante sendo particular não pode alegar estrito cumprimento do dever legal, mas exercício regular do direito. Logo, o pressuposto do exercício regular do direito é, obviamente, a existência de um direito. Segundo, o exercício regular e moderado desse direito. No passado, poderiam os senhores de engenho bater nos escravos e deixá-los com fome. Seria uma situação de exercício regular do direito. Logo, o exercício regular do direito varia no espaço e no tempo.
4 - Estrito cumprimento do dever legal
Em relação ao estrito cumprimento do dever legal, discute-se se ele é um excludente de ilicitude ou um excludente de tipicidade. Entende-se que o que pratica algo em estrito cumprimento do dever legal não pratica crimes justamente porque era o dever legal, logo, em conformidade com o Direito.
Requisitos:
Deve existir, obviamente, um dever legal. Em geral vem de uma ordem de autoridade competente. Como o oficial de justiça com ordem para realizar o despejo de inquilino. Em geral, ocorre violência nos casos de resistência. A violência necessária para o cumprimento da ordem é aceitável e amparada, sendo apenas o excesso punível.
Regular cumprimento do dever legal. Digamos que um funcionário público tem a ordem de prisão preventiva de dois criminosos. No local, havia mais dois meliantes. Se o funcionário prender os outros dois, ele está se excedendo em relação a eles, portanto não pode alegar estrito cumprimento do dever legal, somente para os que estavam previstos na ordem.
18 – Causas excludentes de culpabilidade
Inimputabilidade por doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado
Coação moral irresistível
Obediência hierárquica
A embriaguez, emoção e paixão e a exclusão de culpabilidade
Menoridade
Descriminantes putativas
Erro de proibição
1 - Inimputabilidade por doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado
O sujeito é considerado inimputável se, sendo maior de 18 anos, ele for portador de um dos seguintes males:
Doença mental
Perturbação da saúde mental
Desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
Doença mental é qualquer transtorno mental capaz de tirar do sujeito a capacidade de discernimento. É qualquer distúrbio da mente que remove a capacidade de autodeterminação. A doença mental não implica, necessariamente, a inimputabilidade. O grau da doença mental pode não ser tão elevado a ponto de remover a capacidade de discernimento.
Observação: não basta que o sujeito seja louco. Ele também tem que ter a capacidade de discernimento reduzida. A doença mental é diagnosticada por um perito designado pelo juiz.
2 – Coação moral irresistível 
A única coação que realmente exclui a culpabilidade é a coação moral irresistível. Nessa hipótese o agente pratica a ação típica sob uma coação que não tem como resistir, sendo certo que neste caso quem responde pelo crime configurado é o autor da coação.
Só existe coação moral se houver três personagens, necessariamente:
O autor da coação;
O coagido;
O dono do bem jurídico ameaçado (a vítima da coação).
3 – Obediência hierárquica
No serviço público, quem exerce função pública é obrigado, em princípio, a cumprir as ordens do superior. A situação dos militares é ainda mais grave. Alguém poderá eventualmente praticar crime a pretexto de cumprir ordem hierárquica superior, ou cumprir a ordem hierárquica que implique em cometimento de um crime. Nunca o contrário; por exemplo, Coronel não pratica obediência hierárquica a um Capitão. Um delegado pode ordenar aos agentes que matem crianças que estão praticando tráfico de drogas. Essas pessoas que participam de grupo de extermínio a mando de um delegado ou capitão respondem penalmente ou não?
Duas situações possíveis. A ordem, que é sempre de funcionário público, pode ser:
Manifestamente ilegal ou criminosa;
Dúbia ou não manifestamente ilegal - o sujeito não sabe ao certo se o é.
No primeiro caso, há crime do superior e do inferior hierárquico. Logo, há uma situação de co-autoria. O inferior não tem a obrigação de cumprir uma ordem claramente criminosa. O fato será típico, ilícito e culpável por parte de todos, como por exemplo em caso de atuação de grupos de extermínio. Se, entretanto, o chefe ameaçar o inferior, este poderá alegar outra excludente, como a coação moral ou física irresistível.
No segundo caso, como no caso em que o sujeito é um novo policial, a culpabilidade será excluída por parte do inferior hierárquico. Se a ordem for cumprida por aquele que acha que a ordem é legal, este não será culpável, basta que alegue cumprimento de ordem não manifestamente ilegal. O superior que deu a ordem responde normalmente.
Para invocar essa excludente de culpabilidade, há um provérbio: “Soldado mandado não tem crime”. Está certo ou não o provérbio? Sim e não. Depende de cada um dos casos: ordem manifestamente ilegal ou não manifestamente ilegal.
Para que o inferior hierárquico possa alegar essa excludente de culpabilidade, há alguns requisitos:
Que exista uma ordem superior, portanto um dever de atuar;
Atribuição para cumprir;
Não seja a ordem manifestamente ilegal.
Não existe no Código Penal essa excludente.
4 – A embriaguez, a emoção e a paixão
Espécies de embriaguez:
Involuntária, que é a que decorre de caso fortuito ou de força maior. A embriaguez involuntária pode ser completa ou incompleta. Completa é aquela na qual o sujeito perdecompletamente a capacidade de discernimento, mas ainda assim consegue praticar crimes.
Voluntária, que é querida de alguma forma pelo agente, chamada também de embriaguez dolosa. Não necessariamente se trata de bebidas alcoólicas. A embriaguez, para o Direito, é a perda total ou parcial da capacidade de autodeterminação em razão do uso de droga, lícita ou ilícita, conforme escrito na parte destacada do quadro acima, que contém um trecho no qual se deve usar a interpretação analógica. Também há a culposa, que é a que normalmente ocorre. O sujeito não quer se embriagar mas se altera mesmo assim. Decorre de imprudência.
Preordenada, uma espécie de embriaguez dolosa, em que o sujeito se embriaga para tomar coragem de cometer um crime, ou para alegar, posteriormente, que não se lembra do que fez.
Patológica, equiparada à doença mental. 
Qual dessas espécies de embriaguez tomaremos como a excludente de culpabilidade? De acordo com o Código Penal, a única embriaguez que caracteriza uma excludente de culpabilidade é a embriaguez involuntária completa. Ou seja, o sujeito se embriagou sem saber que estava se embriagando, na ocasião de caso fortuito ou de força maior. Em todos os demais casos não há excludente de culpabilidade por conta da embriaguez. 
Já a Paixão e a Emoção, o Código diz que não excluem a culpabilidade. É inclusive uma regra inútil, pois não há crime que seja praticado sem nenhuma dose de emoção ou paixão. As paixões são ora vis, ora nobres. Há um crime chamado de registro de filho alheio como próprio.
Às vezes o sujeito pratica esse crime para proteção de alguém, ou também seqüestro. Os autores, em geral, dizem que a emoção é um sentimento de excitação passageiro, enquanto a paixão é uma excitação mais duradoura. A emoção e a paixão não excluem a culpabilidade, como regra. Há situações de emoção e paixão que podem chegar ao estagio patológico. Nesse caso, ele poderá invocar excludente de culpabilidade em razão da doença mental.
Alguns também chegam a abrir os túmulos onde seus ídolos estão enterrados e praticam vilipêndio a cadáver por paixão a eles; a cabeça do compositor austríaco Joseph Haydn foi subtraída e somente encontrada 86 anos depois. Embora não seja, como regra, excludente de culpabilidade, em alguns crimes a pena pode ser atenuada ou reduzida, desde que não patológica. 
5 – Menoridade 
 Em relação à menoridade, falta exatamente a imputabilidade. Parte-se do pressuposto que menores de 18 anos são inimputáveis, portanto não podem ser sujeitos ativos para o Direito Penal. No Brasil, eles responderão, conforme os casos, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. A menoridade no caso brasileiro tem assento constitucional.
É possível, obviamente, alguém ter 19 anos e não ter tido boa criação, ser imaturo. Isso é bastante relativo, mas o Código Penal brasileiro adotou o critério objetivo: não respondem penalmente os menores de 18 anos.
6 – Descriminantes Putativas
Nessa hipótese o agente pratica o fato típico induzido pelas circunstâncias a erro aceitável ou justificável, imaginando ao praticar a ação que está amparado por uma causa excludente de ilicitude. Nesse caso será afastada a culpabilidade da conduta.
7 – Erro de proibição
Há erro de proibição quando o agente toma por legal ou legítima uma ação proibida. O sujeito supõe atuar legalmente mas atua contrariamente ao Direito. Se uma pessoa possui cocaína, sabe que realmente é cocaína, porém acha que é permitido porque está em pouca quantidade, então é erro de proibição. Aconteceu de um homem comprar, em viagem ao litoral, alguns pentes de cabelo feitos de fósseis de peixes. Foi detido no aeroporto ao tentar embarcar com os pentes, sob a acusação de crime ambiental. É um caso concreto em que dificilmente o sujeito saberia da proibição, então houve erro de proibição. Note que ele sabia que se tratava de um pente de cabelo feito de ossos de peixes. Outro caso foi um homem que descobriu uma nascente de água, então passou a engarrafar e vendê-la. Foi processado também por crime ambiental, pois em verdade precisa-se de autorização para esse tipo de atividade. Tirar Xerox é um outro caso notório: muitos alegarão que não sabiam da ilicitude quando forem abordados por uma autoridade lhes acusando de violação de direitos autorais, já que é uma prática corriqueira aqui.
 Espécies: evitável e inevitável
Inevitável: ocorrerá erro de proibição inevitável nas circunstâncias do caso concreto em que for impossível ao agente se dar conta de que o fato era proibido. O conhecimento da ilicitude lhe era impossível completamente. Se isso ocorre, diz-se que o erro de proibição é inevitável. Se for assim considerado, o agente não responde por absolutamente nada. O erro de proibição é um excludente de culpabilidade. Então, o fato é típico, ilícito, porém não culpável em razão do erro de proibição, por causa da teoria finalista adotada pelo nosso Código Penal. O dolo não compreende a consciência da ilicitude. A consciência da ilicitude faz parte da culpabilidade. 
Evitável: ocorre quando, nas circunstâncias concretas do caso, considerando a situação pessoal do agente, lhe era possível o conhecimento da ilicitude se tivesse tido um mínimo de cuidado. Deve-se saber que é proibido baixar músicas.  Se for provado, o agente responde por fato típico, ilícito, culpável, porém com pena reduzida de 1/6 a 1/3. Enquanto o erro de proibição inevitável exclui a culpabilidade, o evitável nada exclui. 
19 – Erro
O erro pode ser tanto falsa representação da realidade, como falso ou equivocado conhecimento de um determinado objeto. Vale dizer que este difere da ignorância, uma vez que é a falta de representação da realidade ou total desconhecimento do objeto – sendo um estado negativo, enquanto o erro é um estado positivo. Entretanto, apesar de didática e teoricamente diferentes, a legislação penal brasileira trata de forma idêntica tanto erro como ignorância, com as mesmas consequências.
I – Erro de tipo
Trata-se do erro de tipo, quando o agente não quer praticar o crime, mas, por erro, vem a cometê-lo.
O erro aí incide sobre elementar ou circunstância do tipo penal (abrangidas também as qualificadoras, causas de aumento de pena e as circunstâncias agravantes). O agente tem uma falsa percepção da realidade, enganando-se, imaginando não estar presente uma elementar ou circunstância do tipo penal, e com isso falta-lhe a consciência e sem ela não há dolo, logo, o erro de tipo exclui o dolo, e sem este não há conduta, que, como se viu, integra o fato típico, excluindo a existência do próprio delito – caso inexista a previsão de figura culposa.
Como exemplos citados pela doutrina tem-se o caso do caçador que atira em seu companheiro achando tratar-se de um animal bravio; indivíduo que se casa com pessoa já casada, desconhecendo o casamento anterior; alguém que recebe um carro idêntico ao seu das mãos do manobrista e o leva embora. Ora, nesses casos faltou aos agentes o dolo de matar “alguém” (pessoa), o dolo de casar com pessoa já casada e o dolo de furtar (subtrair coisa alheia móvel), respectivamente, logo não respondem por crime algum.
Erro de Tipo essencial
Há erro de tipo essencial quando o erro do agente recai sobre os dados constitutivos do tipo fundamental, do tipo qualificado ou sobre circunstâncias agravadoras (agravantes e causas de aumento de pena ).
Apresenta-se sob duas formas :
a)                  Erro invencível (ou escusável)
b)                 Erro vencível (ou inescusável)
Se tratando de erro invencível (escusável ou inculpável) ocorre quando não pode ser evitado pela normal diligência, ou seja, qualquer pessoa, empregando o cuidado intenso, ordinariamente exigido pelo ordenamento jurídico, nas condições em que se viu o sujeito, incidiria em erro.
Há erro vencível (inescusável ou culpável) quando pode ser evitado pela diligência ordinária, resultado de imprudência ou negligência. Qualquer pessoa empregaria a prudência normal exigida pela ordem jurídica, não cometeria o erro em que incidiu o sujeito.II – Erro sobre o objeto
A hipótese de erro sobre objeto se dá quando o autor, dolosamente, tendo consciência da ilicitude de seu ato, se propõe a cometer conduta típica e o faz, mas erra sobre a avaliação das características do objeto, como no caso de um ladrão que subtrai anel supondo o ser de ouro, quando, na verdade, era apenas bijuteria.
III – Erro sobre a pessoa
Ocorre erro sobre a pessoa quando o agente pretende praticar crime contra A e pratica contra B. Atinge-se pessoa diversa da pretendida. A lesão se dirige a uma pessoa diversa daquela que se supõe estar lesionando. Exemplo: matar um sósia.
Como o Código trata essa situação? Há duas teorias para esse erro. 
Teoria da concretização: para ela, o que importa é o que de fato aconteceu. Se o sujeito queria matar A, atirou contra A e acertou B, então, de fato, houve homicídio doloso contra B. O erro sobre a pessoa é irrelevante de acordo com essa teoria.
IV - Aberatio ictus
É uma modalidade de erro sobre a pessoa. É um erro na execução do crime. Erro de ataque. Então, por exemplo, quero matar meu pai, atiro contra ele, ele desvia e eu acerto um estranho. É o mesmo caso da mulher que queria envenenar o marido e acabou matando os filhos, já discutido. Tanto no erro sobre a pessoa quanto na aberatio ictus, o Código adotou a teoria da equivalência. Se houver um único resultado, responde-se por aquele. Se houver mais de um resultado, aplica-se a regra do concurso formal. O agente responde por um único crime. Se forem diferentes, o mais grave, se iguais, um único, sempre com pena aumentada.
V – Aberatio criminis
Sendo assim, o agente dirige a sua conduta para a prática de um crime contra uma pessoa, mas acaba atingindo uma coisa (ou ambas). A outra opção é o agente dirigir a sua conduta para a prática de um crime contra uma coisa, mas acabar atingindo uma pessoa (ou ambas).
Pode ser com unidade simples ou com unidade complexa:
 ABERRATIO CRIMINIS COM UNIDADE SIMPLES:
- O agente quer causar dano, mas acaba atingindo uma pessoa:
(COISA à PESSOA)
Ele só responde por sua culpa em relação à pessoa.
Homicídio Culposo OU Lesões Corporais Culposas
- O agente quer atingir a pessoa, mas acaba causando dano:
(PESSOA à COISA)
Ele responderá por seu dolo em relação à pessoa.
Tentativa de Homicídio OU Tentativa de Lesões Corporais
 ABERRATIO CRIMINIS COM UNIDADE COMPLEXA:
- O agente quer causar dano, mas acaba atingindo uma coisa e uma pessoa:
(COISA à COISA + PESSOA)
Ele responderá por seu dolo em relação à coisa e por sua culpa em relação à pessoa.
Dano + Lesão Corporal Culposa OU Dano + Homicídio Culposo
Pena mais grave aumentada de 1/6 a 1/2
- O agente quer atingir a pessoa, mas acaba atingindo uma pessoa e uma coisa:
(PESSOA à PESSOA + COISA)
Lesão Corporal Dolosa OU Homicídio Doloso
20 – Iter Criminis
Como regra, no Direito Penal, só se punem crimes consumados e tentados. Vale dizer: como regra, ações meramente preparatórias ou de cogitação não têm relevância penal. Como dito antes, o Direito Penal tem caráter subsidiário. É a “ultima ratio” do controle social formal. Então, o Direito Penal só se ocupa de coisas lesivas, como diz o princípio da lesividade ou da ofensividade.
Exemplo: sujeito deseja matar um desafeto. Compra arma, ou contrata um pistoleiro, e, no caminho da realização do plano, desiste. Suponhamos que ainda assim ele é preso. Será ele acusado de tentativa de homicídio? Negativo. No máximo por porte ilegal de arma, na pior das hipóteses.
A pena para os crimes tentados é a mesma para os consumados, reduzida em um terço a dois terços, a critério do juiz.
 Iter criminis
É o caminho do crime. Possui três fases:
A primeira é a que começaria pela cogitação, o pensar em praticar o crime, bem como levantar os planejamentos.
Depois segue-se para a fase de preparação ou de atos preparatórios. Comprar arma, veículo, manufaturar a bomba, contratar falsário, contador, pistoleiro, etc.
E finalmente aos atos executórios. Esta é a fase de consumação e tentativa. O agente planeja, compra a arma, aponta e atira. Se acertar e matar, então é consumado o crime de homicídio. Se não chegar a matar, é tentado. Somente na execução que falamos na relevância jurídico-penal da ação; só os atos executórios interessam ao Direito Penal. Como regra, atos de cogitação e preparação são considerados irrelevantes. Algumas exceções: petrechos para falsificação de moeda, porte de armas, de drogas e (formação de) bando ou quadrilha.
Exemplo: um bando se reúne num hotel que fica ao lado de um banco roubá-lo, banco esse que abre às 11 horas da manhã. Se o bando for preso às 10:30 com armas e com os integrantes prontos para a assaltar o banco, não haverá tentativa de roubo; o único crime praticado até então terá sido o próprio bando ou quadrilha e o porte de armas, ambos já consumados.
O exaurimento é uma fase posterior à execução do crime, à sua consumação. O crime já se consumou e o agente consegue realizar tudo o que havia pensado. Exemplo: meliante que mata os pais para obter a herança: recebê-la seria o exaurimento do crime já consumado (de homicídio). Na verdade, o exaurimento, em geral, ou é um crime autônomo, ou não-autônomo. Pode ser uma qualificadora ou causa de aumento de pena, ou então não ser nada. Matar e ocultar o cadáver: a ocultação é exaurimento, ou fase do exaurimento o crime de homicídio, e será um crime autônomo. Se o assassino também por acaso for necrófilo, o vilipêndio a cadáver que ele venha a praticar será um exaurimento, porém classificado como novo crime autônomo.
Conceito de consumação
É um conceito essencialmente formal. Ou seja, só sabemos se um crime é consumado ou tentado se observarmos a redação do tipo penal.Crime consumado é aquele em que nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.
Consumação dos crimes materiais: ocorre com a consumação do resultado. Exemplo: homicídio. Se a vítima sobrevive, não há consumação, mas mera tentativa. 
Consumação dos crimes formais: a consumação se dá antecipadamente. É o caso da extorsão mediante seqüestro. Se o seqüestrador entra em contato com a família para exigir o dinheiro e a polícia o prende horas depois, mas antes que ele receba o dinheiro, o crime já está consumado. Extorsão mediante seqüestro tem o seguinte tipo penal: ”seqüestrar com o fim de...” (art. 159); concussão: “exigir vantagem...” (art. 316). Na observação dos tipos penais, é fundamental atentar para o verbo na redação.
Consumação dos crimes de mera conduta: são crimes sem resultado. A consumação também se dá antecipadamente. Exemplo: violação de domicílio e violação de correspondência (arts. 150 e 151, respectivamente). Também os crimes omissivos próprios, como a omissão de socorro (art. 135). A consumação se dá no ato da própria omissão.
Conceito de tentativa
A tentativa ocorre quando, iniciada a execução do crime, ele deixa de se consumar por uma circunstância alheia à vontade do agente. Por exemplo: o sujeito deseja matar alguém, mas erra o tiro ou a vítima resiste. A circunstância estranha pode ser: falta de perícia, inesperada capacidade de resistência da vítima, vento, etc.
Qual a diferença entre crime tentado e consumado?
Subjetivamente, não há diferença. Do ponto de vista da intenção, o dolo do agente é o mesmo tanto no tentado quanto no consumado. Então, a diferença é está exclusivamente no plano objetivo. No crime consumado, há a produção do resultado previsto em lei. Na tentativa, não há a produção do resultado previsto no tipo.
No passado, alguns autores propunham que consumação e tentativa tivessem a mesma pena, pelo fato de o dolo ser o mesmo. Mas é que os autores atuais fazem uma distinção entre o desvalor da ação e desvalor do resultado. No crime consumado e no crime tentado, o desvalor da ação seria o mesmo. Num caso a vítima morreu, noutro sobreviveu, inclusive com a possibilidade de ter ficado sem seqüelas.
21 – Tentativa
Crimes que não a admitem
Nem todos os crimes admitem a forma tentada. Há crimes incompatíveis com a forma tentada, como os culposos.Todos os crimes culposos são necessariamente consumados ou então não ocorreram. Exemplo: “atropelamento”. Não cabe falar em tentativa em crime consumado; se houve de fato uma “tentativa intencional” de se atropelar alguém, deve-se observar o dolo do agente, se foi de causar lesão corporal ou homicídio, não atropelamento. Devemos lembrar que nos crimes culposos o sujeito não quis o resultado, mas deu causa a ele por negligência, imperícia ou imprudência.
Os crimes preterdolosos também não admitem a tentativa, pela mesma razão: é a fusão de dolo e culpa. Se não houver resultado culposo, então o crime não é preterdoloso, apenas doloso, e a tentativa é admitida.
Também não cabe falar em tentativa nos crimes habituais. Exemplo: bando ou quadrilha (art. 288), exercício ilegal da medicina (art. 282), charlatanismo (art. 283), curandeirismo (art. 284), etc. Para configurar o tipo penal, deve haver habitualidade ou o fato é considerado atípico. Se um bando for preso depois de roubar o banco, se foi a primeira vez que eles se reuniram, haverá roubo consumado mas não haverá o crime de bando ou quadrilha porque faltou a habitualidade. O mesmo para o sujeito que se finge médico e prescreve medicamento que causa lesões corporais graves.
Contravenções também não admitem tentativa.
Desistência voluntária e arrependimento eficaz
Desistência voluntária: o agente pode, durante o iter criminis, desistir de um ato já iniciado. Ocorre a desistência quando, iniciado o ato executório, o sujeito interrompe os atos que praticaria subseqüentemente. Se isso acontece, e se essa interrupção for voluntária, ele não responderá por crime tentado. A desistência voluntária afasta a tentativa. Se for o caso, ele responde pelos atos já praticados:
Lesão corporal para matar: o agente que está agredindo alguém e desiste em seguida do homicídio que tinha a intenção de praticar responderá apenas por lesão corporal. A desistência voluntária não leva à impunidade; apenas afasta a tentativa do crime posterior.
Dar um tiro, errar e desistir (sem esgotar a munição): a desistência voluntária pode levar à impunidade total ou à punição em relação aos atos já praticados, desde que eles configurem um tipo penal.
Para ter lugar, a desistência tem que ser voluntária. O sujeito poderia prosseguir, mas não quis. É o mesmo caso do sujeito que furta o carro com uma criança dentro, já visto antes. Se a desistência voluntaria for inútil, então o crime se consuma, e o agente responderá por ele.
Arrependimento eficaz: possui o mesmo tratamento legal. Quando o sujeito pratica a ação necessária à consumação do crime, exaurindo o meio que dispõe para praticar o crime (como o pente da pistola), mas se arrepende: ele dispara uns sete ou oito tiros e, depois de feito, leva a vítima para o hospital. A diferença básica é em relação ao momento. Aqui no arrependimento eficaz, há uma intervenção positiva. Se houver arrependimento eficaz, o sujeito não responde por crime tentado, apenas pelos atos já praticados. Se a “tentativa de conserto” não der certo, o crime será consumado. Na melhor das hipóteses, o sujeito pode ter uma atenuação de pena por ter se arrependido.
 Crime impossível
Ocorre em duas situações: quando houver ineficácia absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto (ou então a conjugação de ambos.)
Ineficácia absoluta do meio: quando é absolutamente impossível, no caso concreto, com aquele instrumento, a consumação do crime. Exemplo: balas de festim. Ou então, colocar açúcar no café de alguém achando que é veneno, com o objetivo de matar a pessoa. Esses são casos de ineficácia absoluta do meio. Agora, se Arlindo (A) jura matar Berginaldo (B), que se previne e coloca um boneco (B’) na cama e o cobre com edredons, para que B’ se pareça com B; A chega na casa de B e atira em B’: também é crime impossível por causa da impropriedade absoluta do objeto. Note que o tipo penal do homicídio é matar alguém, não "algo", até porque não faz sentido dizer que "algo morreu".
Na prática, os juízes não têm sido tão exigentes para admitir a ineficácia absoluta do meio. Houve um caso em que uma jovem de 17 anos tomou a carteira de identidade de uma mulher de 52 para ir ao banco tentar sacar dinheiro de sua conta. O caixa, não precisando de muito discernimento, logo perguntou a idade da esperta moça. Ela respondeu "52". De tão ineficaz a tentativa de se enganar o sujeito do caixa, a acusação de estelionato foi indeferida. Também é caso de crime impossível tentar passar nota falsa de R$ 3,00. Naquele hilário caso (em que o falsário nem se deu ao trabalho de inventar um novo animal brasileiro para ilustrar a cédula, que imitava a de R$ 2,00), houve ineficácia absoluta do meio.
Ineficácia absoluta do objeto: tentar matar “alguém” que já está morto, por exemplo, ou então "estuprar" boneca inflável.
Só há crime impossível quando há absoluta ineficácia do meio ou do objeto. Se a ineficácia for relativa, o crime é possível, portanto é tentado.
Situações controvertidas: atirar contra carro blindado, com a intenção de matar o ocupante. É circunstância acidental ou relativa o fato de o carro ser blindado. Logo é tentativa, até porque o agente poderia usar uma arma com maior poder de penetração, e aí conseguiria seu objetivo. Entretanto, atirar com um revólver calibre .38 num alvo a 500m  de distância também é impossível. Na dúvida, invoquem o in dúbio pro reo.
A ineficácia ou impropriedade deve ser analisada concretamente. Em abstrato, o meio pode ser ineficaz, mas concretamente eficaz, como é o caso do açúcar ministrado a diabéticos: o açúcar é considerado, abstratamente, um meio inócuo para matar alguém. Mas se a vítima for diabética, então o açúcar poderá ser tão eficiente quanto um veneno.
Flagrante retardado
Algumas leis admitem expressamente o instituto do flagrante retardado. Ocorre quando a polícia, sem intervir no iter criminis ou curso causal, adia ou retarda a prisão do sujeito ou agentes do crime. É muito comum a polícia fazer escutas e deixar passar pequenas coisas quando já poderia prendê-los desde logo. Mas ela aguarda mais tempo para identificar toda a quadrilha e interceptar o carregamento maior de drogas. É uma espécie do flagrante esperado.
Na prática, é difícil distinguir flagrante retardado de flagrante provocado. É como o caso de um sujeito que foi preso na Alemanha com grande quantidade de drogas para vir ao Brasil, mas, em vez de ir direto para o xadrez, fez um acordo com a justiça alemã coordenado com a brasileira para que ele viesse com as drogas para cá, permanentemente policiado, para que pudesse ser preso juntamente com os outros integrantes da quadrilha. Se tivesse sucesso, teria sua pena reduzida. O que interpretar, então? O flagrante foi provocado ou esperado? Ora, o crime já estava acontecendo quando ele foi interceptado pela polícia alemã. Entretanto, a segunda parte foi provocada mesmo. Então tanto pode-se dizer que houve quanto que não houve intervenção no iter criminis. O bom advogado deverá alegar a súmula 145.
 Arrependimento posterior
É uma causa de diminuição de pena aplicável aos crimes consumados ou tentados nos quais não tenha havido violência ou grave ameaça à pessoa. Não é propriamente um arrependimento. É aplicável quando o sujeito reparar o dano ou restituir a coisa. A pena é reduzida de um terço a dois terços em razão disso. Também pode ser aplicado eventualmente em crimes tentados.

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