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AULA 4 GESTÃO DE SERVIÇOS EM TI Prof. Marcelo Carneiro Gonçalves 02 CONVERSA INICIAL Neste tema, vamos apresentar os principais conceitos de gestão de serviços em TI. Para tanto, vamos discutir sobre: O papel e a importância da TI; Ciclo PDCA; Serviços de TI; Ciclo de vida de um serviço; Definição de valor de um serviço de TI. CONTEXTUALIZANDO O valor financeiro decorrente dos problemas nos serviços de TI é extremamente alto e isso evidencia a dependência que as empresas têm dos serviços de TI para a execução dos seus negócios. Considere uma companhia telefônica e operadora de TV a cabo, que provê serviços de telecomunicação de voz, vídeo, dados e internet para empresas. Recentemente, o gestor de TI da empresa realizou uma atualização da versão do sistema que estava prevista para durar 6 horas, contudo, levou 26 horas. Esse fato custou à empresa US$ 40 milhões em descontos nas faturas de serviço devido ao não cumprimento de acordos de nível de serviço celebrado com os clientes. Pergunta-se, qual foi a principal falha desse gerente considerando um cenário de gestão de serviços em TI? TEMA 1 – O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DA TI 1.1 O papel da TI De acordo com Magalhães e Pinheiro (2007), o papel que a TI (Tecnologia da informação) desempenha nas organizações move-se da eficiência e eficácia para a efetividade e a economicidade quando relacionados à estratégia de negócio. Nesse cenário, é preciso a implementação de um gerenciamento de serviços voltados à área de TI, que exteriorize a contribuição da área de TI para a 03 geração de valor nas empresas alinhados com os objetivos organizacionais, seja este de maximizar lucros ou de minimizar despesas. Com a finalidade de que as empresas não passem pelos mesmos erros que muitas já passaram, foi levantado na literatura um conjunto de melhores práticas, também conhecido como: otimização de processos, qualidade de serviços, alinhamento estratégico, etc. Neste tema vamos falar rapidamente sobre a ITIL. Ela corresponde a um conjunto de melhores práticas que auxilia diretamente a área de tecnologia da informação, propondo um novo estilo de vida, orientando a construção de um caminho que está em um nível “caótico” para o nível de “valor”, (Magalhães; Pinheiro, 2007). A fim de ilustrar, na figura 1 a seguir, apresentamos um esquema de como está organizado. Figura 1 – Adaptação do modelo de maturidade do processo de gerenciamento de TI em relação à ITIL Fonte: Magalhães; Pinheiro, 2007. A ITIL é um modelo de referência utilizado mundialmente para o gerenciamento de processos na área da tecnologia da informação. É importante ressaltar que a ITIL pode ser adaptada conforme a realidade da empresa. Logo, a ITIL está relacionada com a melhoria de processos da empresa, a identificação de prioridades e formas de otimização de trabalho, tais como: fortalecimento da gestão da área de TI, melhoria da satisfação dos usuários internos e os clientes •Gerenciamento financeiro e alinhamento entre TI e o negócio demonstrado por meio de indicadores de desempenho Valor •Gerenciamento do nível de serviço e da capacidadeServiço •Gerenciamento de mudanças e dos problemasProativo •Gerenciamento de incidentes e eventosReativo •Existência de vários help-Desks • Inexistência de supervisão centralizada Caótico 04 relacionados à prestação de serviços, apresentação da indisponibilidade de recursos e sistema gerenciados pela TI por falta de planejamento, entre outros. Para a aplicação da ITIL nas organizações, é importante saber que ela é um conjunto de bibliotecas, livros e publicações que forma o ciclo de vida do serviço prestado pela TI, e esse ciclo consiste em 5 etapas. 1.1.1 Estratégia de serviços Nessa fase são levantadas as informações da empresa e criadas estratégias a serem seguidas baseadas nessas informações. 1.1.2 Desenho do serviço Nesse momento são levantados os objetivos pretendidos e quais recursos (software, hardware, pessoas, etc.) que você precisa para que eles sejam alcançados. O foco consiste nos elementos relevantes para a entrega do serviço. 1.1.3 Transição do serviço É orientado o desenvolvimento dos recursos para a implementação da entrega de serviço. 1.1.4 Operação do serviço É neste momento que são entregues valores e serviços aos clientes garantindo a eficácia e a eficiência dos processos da organização. 1.1.5 Melhoria contínua do serviço Nesse momento devemos identificar os pontos positivos, os pontos a serem melhorados e quais as ações corretivas que a equipe deve executar para que ela seja capaz de agregar um valor maior ao negócio. 1.2 Importância da área de TI Com a finalidade de atender aos negócios em que as empresas atuam, a cada dia as organizações estão mais dependentes da tecnologia da informação para satisfazerem seus objetivos estratégicos. Atualmente, a área de TI deixou de ser um simples provedor de tecnologia, não alinhado com os objetivos 05 estratégicos da organização, principalmente em virtude do crescimento desse setor e da demanda por serviços. Nem sempre realizar um grande investimento na área de TI é suficiente para gerar vantagem competitiva para a organização. O diferencial acontece quando o gestor tem conhecimento sobre a real importância da TI e utiliza seus recursos de forma inteligente e focando na competividade do mercado. Atualmente, a TI foi incentivada a elevar o grau de maturidade em termos de atuação dentro das empresas e já pode ser considerada como um parceiro estratégico dos demais setores de negócio, dotando-se de uma forte governança de TI. Na figura 2, a seguir, apresentamos a evolução da área de TI nas organizações. Figura 2 – Escala de maturidade da função de TI Fonte: Adaptação de Magalhães; Pinheiro, 2007. TEMA 2 – CICLO PDCA No começo do século passado, as empresas viam o planejamento como uma etapa importante; era preciso investir em recursos de tempo para que o planejamento dos processos ocorresse de forma ordenada e visando a não ocorrência de erros, falhas e não conformidades. Contudo, essa era a única função do planejamento: evitar a ocorrência de erros durante o desenvolvimento Gerenciamento de infraestrutura (provedor de tecnologia) Gerenciamento de serviços (provedor de serviços) Governança de TI (parceiro estratégico) 06 do processo. Sendo assim, a fase mais importante correspondia à execução. E, por consequência, muito projetos saiam do papel totalmente em desacordo com o planejado. Nesse contexto, na década de 1960, surgiu um método estruturado para a resolução de problemas: o PDCA (Plan, Do, Check, Action). Inicialmente ele fazia parte da área de controle da qualidade total (TQC) e era uma ferramenta inovadora para época, ainda muito utilizada atualmente (Slack, 2009). O PDCA proporcionou para as empresas mais competitividade pois os problemas eram corrigidos de forma mais eficiente, uma vez que, por meio do ciclo de melhoria que o PDCA propunha, era possível padronizar os resultados ao término de cada ciclo e assim os problemas não retornavam e o desempenho era estabilizado. O PDCA era visto como uma ferramenta de soluções de problemas e além disso estimulava o enfoque na prevenção e na melhoria contínua dos processos alinhados com a visão estratégica da organização (Slack, 2009). Na figura 3 a seguir apresentamos uma ilustração de como ocorre o ciclo PDCA. Figura 3 – Ciclo PDCA Nesse cenário, vamos compreender cada etapa do PDCA e o que significa. 07 2.1 Planejar(P) A primeira fase corresponde ao planejamento, e nela buscamos identificar os problemas e realizar uma análise detalhada sobre o fenômeno com que estamos lidando; em seguida realizamos uma análise do processo, buscando identificar possíveis oportunidades do processo. Por fim, elaboramos o plano de ação do processo, buscamos realizar um levantamento de informações e dados, a fim de construir o escopo, realizar prevenção, propor melhorias e ditar o que deverá ser executado nas próximas fases (Slack, 2009). Algumas ferramentas de qualidade podem auxiliar nesta etapa, como: fluxograma; folha de verificação; histograma; técnica de brainstorming; diagrama de dispersão; diagrama de Ishikawa; diagrama de Pareto; gráfico de Gantt, etc. 2.2 Desenvolver (D) Esta etapa corresponde ao momento que colocamos em prática o que foi planejado a fim de resolver o problema. Na etapa de planejamento já foram descobertas as causas e as possíveis ideias para resolver, então nesta fase devemos colocar em desenvolvimento o plano (Slack, 2009). 2.3 Controlar (C) Esta etapa corresponde ao momento em que mensuramos as ações que foram executadas na etapa anterior. Para realizar essa medição para saber se o resultado atingiu ao esperado no planejado, podemos utilizar as seguintes ferramentas de controle: histograma; cartas de controle; indicador de OEE; 08 indicador de capacidade de processo (CPK); 6 sigmas, etc. 2.4 Agir (A) Neste momento buscamos padronizar os ganhos obtidos, a fim de que não se repitam os mesmos problemas no decorrer de cada ciclo do processo, e além disso, é importante para que o desempenho dos processos não sofra declínio; por fim devemos elaborar uma conclusão para o processo, expondo seus ganhos e oportunidades de melhoria. Dessa forma, o PDCA ocorre por meio de um ciclo, ou seja, é um processo cíclico e contínuo, pois nem sempre conseguimos executar as ações conforme o que foi planejado, dessa forma, ao finalizar a fase de “Agir”, retornamos à etapa inicial de “Planejar” em busca de melhorias contínuas quantas vezes forem necessárias. A norma ISO 9001 de 2015 é elaborada praticamente na sua íntegra considerando este ciclo do PDCA. TEMA 3 – SERVIÇO DE TI Neste tema vamos conceituar sobre o que se trata os serviços e, principalmente, quando são aplicáveis a área de TI. Na literatura existe uma gama de definições sobre o significado de serviços. A seguir apresentamos algumas possíveis definições. “Atividades, benefícios ou satisfações que são colocados à venda ou proporcionados em conexão com a venda de bens” (American Marketing Association, 1960). “Quaisquer atividades colocadas à venda que proporcionem benefícios e satisfações valiosas; atividades que o cliente prefira ou não possa realizar por si próprio” (Bessom, 1973). “Serviço ao cliente significa todos os aspectos, atitudes e informações que ampliem a capacidade do cliente de compreender o valor potencial de um bem ou serviço essencial” (Uttal; Davidow, 1991). “Em resumo, o serviço caracteriza-se por ser uma experiência intangível, executada por alguém ou por alguma coisa, não podendo ser estocado e apresentando dificuldade para ser produzido em massa ou atender mercados de massa” (Magalhães e Pinheiro, 2007). Aplicados à área de TI, podemos definir os serviços como: 09 “Um conjunto de recursos, TI e não-TI, mantidos por um provedor de TI, cujo objetivo é satisfazer uma ou mais necessidades de um cliente (áreas de negócios) e suportar os objetivos estratégicos do negócio do cliente” (Magalhães; Pinheiro, 2007). Para a ITIL, a definição apropriada de serviços de TI é a seguinte: “Um ou mais sistemas de TI que habilitam um processo de negócio”, onde um sistema de TI corresponde à uma combinação de hardware, software, facilidades, processos e pessoas (Magalhães; Pinheiro, 2007). A diferença de um produto para serviços é apresentada abaixo: Tabela 1 – Diferença entre produtos e serviços Produtos Serviços Tangível Intangível Divisibilidade Indivisibilidade Invariabilidade Variabilidade Transforma objetos em bens Consumido enquanto é prestado Armazenados em estoque Não estocáveis Formas de medir e cobrar: mensurados em métricas (grama, quilograma, massa) Formas de medir e cobrar: unidades de tempo (diária, hora de trabalho, mensal) ou de esforço De acordo com Magalhães e Pinheiro, 2007, a indivisibilidade está relacionada com o fato de os serviços não se separarem do seu prestador e da forma como é percebido (profissionalismo, aparência, conduta, etc.). A variabilidade está relacionada com a qualidade dos serviços prestados, os quais são inseparáveis das pessoas prestadoras. Além disso, o critério de satisfação é totalmente diferente, pois o cliente participa ativamente do processo. Para ficar claro, a seguir apresentamos alguns exemplos de serviços, que provam a sua intangibilidade: Pessoas que se submetem à cirurgia plástica, elas não podem observar os resultados antes de contratar os serviços. Processo legal, não tem possibilidade de saber sobre o resultado antes do julgamento. Turmas que contratam serviços de festas de formatura, não podem usufruir do momento de festa sem fechar acordo antes. 010 Logo, esse é um grande desafio da área de serviços de TI, pois os clientes tentam reduzir essa incerteza ao máximo, procurando evidências de que o serviço ofertado será de qualidade. Portanto, a área de TI precisa oferecer uma representação tangível que comunique o processo e os possíveis resultados dos serviços que está se propondo a oferecer (Magalhães; Pinheiro, 2007). A seguir, na figura 4, apresentamos como é realizada a composição de um serviço sob a luz de Magalhães e Pinheiro, 2007. Figura 4 – Composição de um serviço de TI Fonte: Adaptação de Magalhães; Pinheiro, 2007. Portanto, os serviços possuem essas peculiaridades, ou seja, quando compramos um carro, temos a possibilidade de realizar um test drive, contudo, em relação aos serviços, primeiro eles são vendidos, para serem, em seguida, produzidos e consumidos simultaneamente. Por exemplo, se um advogado sugerir estabelecer um acordo, antes que um processo vá a julgamento, o cliente nunca saberá que resultados a outra opção poderia ter trazido. TEMA 4 – CICLO DE VIDA DE UM SERVIÇO DE TI Neste tema falaremos sobre um ciclo de vida de um serviço de TI. Assim como os produtos, os serviços também possuem ciclos de vida. Segundo Magalhães e Pinheiro (2007), os serviços de TI possuem 4 fases, e em cada fase perguntas devem ser feitas e respondidas a fim de que possamos realizar um acompanhamento da vida do serviço. A seguir, na figura 5, apresentamos as fases. 011 Figura 5 – Fases do ciclo de vida de um serviço A fase de requisição corresponde ao momento inicial, o primeiro contato do cliente com o serviço proposto, e algumas perguntas básicas a serem levantadas, sob a luz dos autores Magalhães e Pinheiro (2007), são as seguintes: Qual é o serviço necessário? Por que ele é necessário? Qual a quantidade demandada? A segunda fase corresponde à fase de aquisição, e as perguntas a serem respondidas são: Onde o serviço será solicitado? Onde o serviço será provido? Quanto será pago pelo serviço? A terceira corresponde à utilização e as perguntas a serem respondidas são: Como o serviço será usado? Como validar o serviço provido? Como o serviço será restabelecido em caso de falha? A última fase corresponde à desativação e as perguntasa serem respondidas são: Quanto está sendo gasto para manter o serviço? Qual o retorno que o serviço proporcionou? Há uma nova opção? Fase de requisição Fase de aquisição Fase de utilização Fase de desativação 012 Portanto, é importante a compreensão sobre cada fase do ciclo de vida dos serviços, pois não é um fato comum realizar a análise do ciclo voltada para a concepção de serviços e deixar claro o que cada fase se propõe e busca responder. A partir das fases bem definidas e as suas respectivas perguntas respondidas, a eficiência e eficácia de um serviço serão mais perceptíveis para o consumidor. TEMA 5 – DEFINIÇÃO DE VALOR DE UM SERVIÇO DE TI Neste tema falaremos sobre o que é um valor, e o que ele representa para a área de serviços de TI. Vamos focar neste tema no âmbito de gerenciamento de serviços de TI. Dessa forma, segundo os autores Magalhães e Pinheiro (2007), o valor de um serviço pode ser mensurado em função de quatro parâmetros: 5.1 Alinhamento estratégico com o negócio O alinhamento estratégico com o negócio corresponde a medir o grau em que o serviço de TI está alinhado com as atuais e futuras necessidades que o negócio requer. 5.2 Custo O parâmetro custo está relacionado com o valor monetário que é desembolsado pela disponibilização do serviço de TI. 5.3 Qualidade O parâmetro qualidade corresponde aos níveis de atendimento do serviço de TI em relação aos Acordos e nível de serviço e Acordo de nível Operacional estabelecidos. Corresponde à capacidade da área de TI em reagir a: Demandas de suporte; Atender às mudanças planejadas em relação ao serviço de TI disponibilizados. 013 A fim de maximizar o valor dos serviços de TI a organização deve envolver a integração dos diferentes componentes de um serviço de TI, a saber: pessoas, processos e tecnologia. A figura 6, a seguir, apresenta a integração entre os componentes de um serviço de TI proposta por Magalhães e Pinheiro (2007), elucidando cada componente de um serviço de TI e suas respectivas características. Figura 6 – Integração entre os componentes de um serviço de TI Fonte: Adaptado de Magalhães; Pinheiro, 2007. Portanto, note que a definição de valor para um serviço de TI é diferente em relação à venda de um produto acoplado com serviços pós-venda, com atendimentos extras para um usuário. As preocupações para os serviços de TI estão relacionadas no âmbito do alinhamento estratégico, custos, qualidade (em relação ao atendimento dos acordos) e à independência de tempo. 014 FINALIZANDO Retomando o nosso contexto. Foi apresentado um caso de uma companhia telefônica e operadora de TV a cabo, que provê serviços de telecomunicação de voz, vídeo, dados e internet para empresas. E o gestor de TI da empresa realizou uma atualização da versão do sistema que estava prevista para durar 6 horas, contudo, levou 26 horas. Esse fato custou à empresa US$ 40 milhões em descontos nas faturas de serviço devido ao não cumprimento de acordos de nível de serviço celebrado com os clientes. A pergunta a ser respondida era a seguinte: Qual foi a principal falha desse gerente considerando um cenário de gestão de serviços em TI? Considerando o cenário estudado nesta aula, a principal falha que o gestor apresentou foi não ter realizado um planejamento adequado de como iria se comportar o processo de atualização da versão do sistema da empresa. Uma empresa que depende diretamente da TI para a realização das suas funções e atividades não deve poupar tempo na etapa de planejamento do ciclo PDCA a fim de evitar possíveis falhas na execução do plano. 015 REFERÊNCIAS MAGALHÃES, I. L.; PINHEIRO, W. B. Gerenciamento de serviços de TI na prática: uma abordagem com base na ITIL. São Paulo: Nova Tec, 2007. PMBOK. A guide to the project management body of knowledge. 4. ed. Estados Unidos: PMI, 2010. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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