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Rafael Fonseca de Souza
ASSESSORIA JURÍDICA
	
EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA COMARCA __ ___/__
Autos nº.: ___
JOÃO DE SANTO CRISTO, já qualificado nos autos em epígrafe, apresenta tempestivamente RESPOSTA ESCRITA À ACUSAÇÃO, por intermédio de seu advogado que ao final subscreve, com escritório profissional constante neste rodapé onde recebe intimações, com procuração anexa, sob fundamentos nos artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal.
DOS FATOS
Em 10 de agosto de 2018, o réu foi citado para apresentar resposta à acusação da Denúncia oferecida pelo Ministério Público, que o acusa de ter praticado o crime disposto no artigo 155, caput, do Código Penal.
Narra a Denúncia que em 10 de fevereiro de 2017, na residência da vítima MARIA LÚCIA, seu salário foi subtraído pelo réu, no montante de R$ 1.000,00 (mil reais) em espécie. Consta ainda que o réu realizou a conduta pois, seu filho JEREMIAS estava acometido de grave doença degenerativa, e não dispunha de numerário suficiente para a aquisição de medicamentos necessários para o tratamento.
No despacho que analisou a Denúncia, o juiz da causa rejeitou a mesma sob o fundamento de que a situação social do réu impedia que o mesmo respondesse penalmente pela sua atitude. 
Inconformado o Ministério Público recorreu desta decisão via Recurso em Sentido Estrito, sendo que o recurso subiu sem que a defesa de João fosse oportunizada à resposta via contrarrazões.
Assim, por medida de Justiça, apresenta-se a contemporânea defesa. 
DO DIREITO
DA NULIDADE PROCESSUAL – CERCEAMENTO DE DEFESA
A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 5º, inciso LV assegura a todo cidadão brasileiro e aos estrangeiros que aqui residem, o direito ao princípio do Contraditório e da Ampla Defesa. 
A garantia constitucional assegura que ninguém será processado ou julgado sem que tenha conhecimento das acusações que são imputadas, bem como oportuniza o direito de manifestação e resposta aos atos praticados nos processos judiciais.
No caso em tela, visualiza-se um cenário em vige o cerceamento de defesa do acusado, afinal, o recurso acusatório apresentado para impugnar a rejeição da inicial, foi remetido ao egrégio Tribunal, sem que a defesa tivesse a oportunidade de apresentar contrarrazões. 
Em grave ofensa aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Neste sentido, a Corte Máxima da Justiça Brasileira sumulou o entendimento no seguinte Enunciado:
Súmula 707 do STF - Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.
Dessa forma, outro não poderia ser a decisão de Vossa Excelência, senão o reconhecimento da nulidade processual arguida, em respeito à Súmula acima apresentada, a fim de decretar a extinção do feito sem análise de mérito.
DO MÉRITO – EXCLUDENTE DE ILICITUDE
Na remota hipótese de que Vossa Excelência não visualize a nulidade consistente em cerceamento de defesa, cabe aponta que, conforme exposto nos fatos que o réu realizou a conduta ilícita norteado pela busca de reparabilidade da grave doença degenerativa que acomete seu filho JEREMIAS. 
Ao se valer do ato ilícito, típico na legislação penal em subtrair coisa móvel alheia, artigo 155 do CP, o réu agia em estado de necessidade, uma vez não possuir recursos financeiros suficientes para a aquisição de medicamentos necessários para o tratamento médico.
Veja-se que não se trata de erro de tipo ou de erro de proibição, certo que o réu sabia da conduta que praticava, mas norteado pelas circunstâncias desesperadoras de um pai de família buscou em sua conduta, primar pelo bem da vida de um ente querido. 
Assim, o caso em tela exige o reconhecimento de temas que transcendem a Ciência Jurídica, recorrendo-se às Ciências Sociais, a religião e a Políticas de saúde pública. Bitencourt (2012) conceitua o Estado de necessidade em:[1: Bitencourt, Cezar Roberto. Código penal comentado — 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012]
[...] colisão de interesses juridicamente protegidos, devendo um deles ser sacrificado em prol do interesse social. Como salientava Heleno Fragoso: “O que justifica a ação é a necessidade que impõe o sacrifício de um bem em situação de conflito ou colisão, diante da qual o ordenamento jurídico permite o sacrifício do bem de menor valor”, desde que imprescindível, acrescentamos, para a salvaguarda do bem preservado.
Desmunido de recursos, o imputado atuou em verdadeiro estado de necessidade em desfavor do terceiro, excluindo-se assim a ilicitude da conduta por ele praticada, como verdadeira causa justificante, merecendo, sem dúvidas um decreto absolutório, como indica a direção do artigo 24 do Código Penal. Vejamos:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
E uma vez reconhecida a excludente de uma conduta antijurídica, conclui-se pela impossibilidade procedência de denúncia, ensejando Decreto Absolutório nos termos do artigo 397, inciso I do Código de Processo Penal.
Art. 397.  Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
        I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Colaciona-se decisão do E. Tribunal de Justiça que absolveu acusado em crime patrimonial por estar em estado de necessidade:
“Deve ser mantida a absolvição proferida em Primeira Instância se constatado que o réu agiu amparado pela excludente de ilicitude do estado de necessidade, sendo flagrante a sua condição de penúria, o que justificou a sua investida desesperada contra o patrimônio alheio” (TJMG, Apelação 2.0000.00.445191-6/000(1), Rel. Vieira de Brito, j. 29-9-2004)
Ante o exposto, pleiteia-se subsidiariamente pela absolvição sumária do acusado, nos termos do artigo 24 do Código Penal, e do artigo 396 e 396-A do Código de Processo Penal.
DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Dessa forma, pede-se a Vossa Excelência:
a) A declaração de nulidade absoluta do processo pela não oportunidade de apresentação de contrarrazões ao recurso acusatório, com fundamento na súmula 707 do STF;
b) No mérito pede-se a absolvição sumária do Réu, com fulcro no artigo 24 do Código Penal c/c o disposto do artigo 397, inciso I do Código de Processo Penal.
c) Pelo princípio da eventualidade, caso Vossa Excelência entenda pela não absolvição sumária do Réu, requer de desde logo a produção de todas as provas admitidas, especialmente, documental e testemunhal cujo rol segue anexo, para efeito de designação de audiência de instrução e julgamento ao feito.
Campo Mourão, 12 de agosto de 2018.
(assinado digitalmente)
ADVOGADO
OAB/PR
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