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COMO IMPLANTAR O SISTEMA DE ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS ANDRÉA C. S. DAMIAN MSc. Ciência dos Alimentos andrea.damian@neoprospecta.com 2 SUMÁRIO Introdução 03 Capítulo 1 - Análise de Perigos dos Pontos Críticos de Controle 04 • Introdução ao Sistema de APPCC 04 • História do Sistema APPCC 05 • Benefícios da Implantação do sistema 06 • Legislações Brasileiras relacionadas ao sistema 06 • Pré-requisitos para a implantação do sistema 07 Capítulo 2 - Etapas preliminares para elaboração do Plano APPCC0 09 • Montar equipe APPCC 09 • Descrição do alimento 10 • Uso e prováveis consumidores 10 • Elaboração do fluxograma 10 • Validação do fluxograma 11 Capítulo 3 - Princípios do Sistema APPCC 12 • 1° Princípio 12 P Revisar material recebido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 P Avaliar os perigos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 P Observar práticas operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 P Realizar medições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 P Analisar medidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 • 2° Princípio 17 • 3° Princípio 18 • 4° Princípio 19 P O que é monitorado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 P Como serão monitorados? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 P Qual será a frequência? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 P Quem irá monitorar?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 • 5° Princípio 21 • 6° Princípio 23 • 7° Princípio 26 Capítulo 4 – O Diagnóstico Microbiológico Digital 29 Conclusão / Referências 31 Sobre a autora 32 Sobre a Neoprospecta 32 3 INTRODUÇÃO Com certeza você já ouviu falar do sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), ou seja, o sistema de segurança de alimentos que revolucionou a área da qualidade de muitas empre- sas no Brasil e no mundo. Nós, da Neoprospecta Microbiome Technologies, escrevemos um e-book sobre o assunto para que você possa aprofundar um pouco mais o seu co- nhecimento, além de saber como o nosso laborató- rio, especializado em sequenciamento de DNA em larga escala, pode auxiliar a sua empresa no contro- le das contaminações de alimentos. Neste e-book trouxemos desde o histórico do sis- tema APPCC, as etapas prévias para a implantação do sistema, passando pelos princípios do Sistema APPCC, até a etapa final de implementação, ou seja, quando o APPCC já estiver rodando e com todos os controles em andamento na sua empresa. O Sistema APPCC estabelece um controle rigoro- so em todas as etapas de produção com o objetivo de garantir a segurança dos alimentos, engloban- do desde a produção primária até o preparo do alimento para o consumo, passando por transpor- te, armazenamento, distribuição, processamento e industrialização de todos os grupos de alimentos. Você deve estar pensando que o APPCC é muito trabalhoso, mas ele foca os cuidados nas etapas críticas do processo, aquelas que, controladas, po- dem realmente garantir a segurança do produto. Ao ler este material você irá ver como a Neopros- pecta desmistificou o APPCC para você!! Seja bem-vindo ao e-book de APPCC, faça bom proveito do material que foi escrito cuidadosamen- te pela nossa equipe. Nos colocamos à disposição para auxiliar a você e a sua equipe para a manutenção da segurança dos alimentos. Saiba mais sobre a Neoprospecta aqui! 4 Capítulo 1 ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE (APPCC) 1 Introdução ao Sistema de Análise de Pe- rigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) Com certeza você já deve pelo menos ter ouvido falar no Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, ou APPCC, e talvez seja um grande conhecedor do assunto. Mas, você já parou para pensar no impacto que ele causou na segurança de alimentos no mun- do e no Brasil desde a década de 60? Muita coisa mudou até hoje, com impactos na sua vida profis- sional e pessoal. O Sistema APPCC estabelece um controle rigo- roso em todas as etapas de produção com o ob- jetivo de garantir a segurança deste alimento. Mas lembre-se que esta garantia está relacionada ao modo de consumo habitual ou esperada para cada produto. Quando o consumidor inova, inventado uma nova receita ou forma de consumir este produto, a ga- rantia da segurança do alimento se perde. É como se você comprasse um fogão que precisa ser insta- lado pelo técnico autorizado pelo fabricante e você faz a instalação por conta própria. Neste caso você perde a garantia de fábrica do produto. Em se tratando dos alimentos, as empresas que fabricam precisam estar atentas e adaptar seu sis- tema de garantia às inovações dos consumidores. Afinal, além da enorme criatividade dos brasileiros, existem programas de culinária na televisão que ajudam a difundir estas novidades. Um exemplo simples de mudança de forma de con- sumo é a sopa desidratada de cebola. Segundo o fabricante,você deve diluir em água e cozinhar por determinado tempo, mas alguém descobriu que misturar este pó com creme de leite resulta num delicioso patê de cebola para ser consumido sem aquele cozimento que estava previsto. A empresa fabricante tem que estar atenta a isso e atualizar seu Sistema APPCC para estender a garantia ao produ- to sem tratamento térmico. Este é um exemplo da aplicação do Sistema APPCC, mas ele pode ser aplicado em qualquer etapa da cadeia produtiva de alimentos, desde a produção primária até o preparo do alimento para consumo, passando por transporte, armazenamento, distri- buição, processamento e industrialização de todos os grupos de alimentos. Você deve estar pensando que é muito trabalho, mas o Sistema APPCC foca os cuidados nas etapas críticas do processo, aquelas que, controladas, po- dem realmente garantir a segurança do produto. Deste modo, você verá que mesmo em alguns pro- cessos muito extensos, com várias etapas, o contro- le do Sistema APPCC, ou o Ponto Crítico de Contro- le (PCC) fica restrito a apenas algumas etapas do processo. Mas estas etapas são muito importantes, críticas mesmo! O Sistema APPCC é jovem se o compararmos aos mais de três mil anos de registros de problemas com alimentos na história da humanidade. Ele foi desenvolvido na década de 60 e, apesar de ter promovido grandes mudanças na produção de ali- mentos, ainda há muito a se fazer. Em 2005 foi publicada a primeira norma internacio- nal ISO sobre Sistema de Gestão da Segurança de Alimentos, a ISO 22000. Esta norma foi elaborada por profissionais das indústrias de alimentos e es- pecialistas de organizações internacionais como o Códex Alimentarius. Outras normas como o GLOBALGAP, British Retail Consortium (BRC) também existem com a mesma finalidade de garantir a segurança do alimento, mas têm foco em boas práticas e em sistemas de gestão, respectivamente. O que se observa é uma tendência cada vez maior de exigência de certifica- ções ou auditorias de terceira parte que garantam a segurança do produto. E se, mesmo com o advento do Sistema APPCC te- mos este cenário de aumento das Doenças Trans- 5 mitidas por Alimentos (DTAs) no mundo todo, já imaginou como seria sem ele? 2 História do Sistema APPCC Provavelmente você já saiba que o Sistema APPCC foi aplicado inicialmente pela Administração Espa- cial e da Aeronáutica dos Estados Unidos (NASA). Mas antes disso, saiba que a origem deste sistema está fortemente relacionada com William Eduard Deming. As teorias de gerenciamento da qualidade postuladas por ele são consideradas o principal fa- tor de mudança na qualidade dos produtos japone- ses, nos anos 50. Ele também é considerado o res- ponsável pela popularização do ciclo PDCA. Mas a ferramenta desenvolvida pelo Dr. Deming e outros profissionais que influenciou o Sistema APPCC é o sistema de Gerenciamento da Qualidade Total (to- tal quality management - TQM). Esta ferramenta se aplica em sistemas de produção com o objetivo de melhorar a qualidade e reduzir os custos. Os princípios do Sistema APPCC foram, então, apli- cados desde a década de 50, em indústrias quí- micas na Grã-Bretanha e passaram a ser bastante usados nas duas décadas seguintes nas usinas de energia nuclear. O fato que culminou com o desenvolvimento do conceito do Sistema APPCC aconteceu na década de 60, quando a empresa norte-americana Pillsbury, o exército dos Estados Unidos e a NASA desenvol- veram um programa que garantisse a segurança dos alimentos destinados ao programa espacial ameri- cano. Você já teve uma noção da importância deste assunto no início desta aula. Então, a Pillsbury Com- pany, responsável pela produção destes alimentos, introduziu e adotou o Sistema APPCC para garantir mais segurança, ao mesmo tempo em que reduzia o número de testes e inspeções no produto final. A aplicação do Sistema APPCC permitiu o controle do processo através da adoção de técnicas de moni- toramento e medidas de controle nas etapas consi- deradas mais importantes para a segurança do pro- duto final, ou seja, nos pontos críticos de controle. O Sistema APPCC foi apresentado à comunidade científica pela Pillsbury Company em 1971, em uma conferência sobre segurança de alimentos, nos Es- tados Unidos. A partir de então, o sistema depois serviu de base para a Administração de Alimentos e Medicamentos norte-americana (FDA) para desen- volver as normas e leis para a produção de alimentos pouco ácidos, que era o grande desafio na época. O primeiro documento que detalhava a metodo- logia do Sistema APPCC foi publicado em 1973 pela Pillsbury, com o título: Food Safety through the Hazard Analysis and Critical Control Point System ou Segurança de Alimentos através do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle. A base deste documento foi o treinamento dos inspe- tores do FDA. Uma década depois, em 1985, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (National Academy of Sciences - NAS) recomendou a adoção do Siste- ma APPCC nos programas de segurança de alimen- tos. Alguns anos depois, em 1988, a Comissão In- ternacional para Especificações Microbiológicas em Alimentos (International Commission on Microbiolo- gical Specifications for Foods - ICMSF) publicou um livro no qual sugeria o Sistema APPCC como a base para o controle de qualidade, do ponto de vista hi- giênico e microbiológico na produção de alimentos. Nos Estados Unidos, o FDA e o Departamento de Agricultura (USDA) exigem que o Sistema APPCC seja aplicado para produtos pesqueiros desde 1995 e para carnes e aves no ano seguinte. Além disso, desde 2001, o FDA exige que a produção de suco de frutas, nacional ou importada, aplique os princí- pios do Sistema APPCC na industrialização das frutas garantindo a segurança do produto final. Nos países da União Européia, a adoção do Sis- tema APPCC foi regulamentada através da Direti- va do Conselho 93/43/CEE, relativa à higiene dos gêneros alimentícios. Em 2000 esta Diretiva foi in- corporada ao Livro Branco sobre a Segurança dos Alimentos. Ainda em 1993, o Canadá introduziu o programa Quality Management Program (QMP). Este foi, no mundo, o primeiro programa obrigatório de inspe- ção baseado no Sistema APPCC. O foco deste pro- grama eram os produtos pesqueiros. O país expan- diu seu programa de segurança de alimentos para o Agriculture Canada’s Food Safety Enhancement Program (FSEP), aplicado a todos os alimentos. Todas estas normas e outras existentes têm em co- mum a fundamentação nas normas internacionais da Comissão do Códex Alimentarius (CAC), que já havia publicado uma recomendação internacional relacionada com Boas Práticas em 1969. Em 1993, em sua vigésima reunião, em Genebra, na Suíça, incorporou as Diretrizes para aplicação do Sistema APPCC. E, em 1997, O Código de Práticas Interna- cionais Recomendadas - Princípios Gerais de Higie- 6 ne Alimentar [CAC/RCP 1-1969, Rev. 3 (1997)], revi- sado e com o documento acima anexo, foi adotado pela Comissão do Codex Alimentarius (FAO, 1998). Você estudou que o Sistema APPCC já faz parte da legislação de vários países e é requisito importante no comércio internacional de alimentos. Em 1994, na rodada do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) que deu origem à Organização Mundial do Comércio (OMC), foi aprovado o Acordo de Medi- das Sanitárias e Fitossanitárias (SPS). Este acordo estabelece regras que garantem a segurança de ali- mentos, a saúde dos animais e dos vegetais. No que se refere à segurança dos alimentos, o Acordo ado- ta as recomendações do Codex Alimentarius como base para as decisões. Este fato foi muito importante porque fortaleceu a atuação da Comissão do Codex Alimentarius e estabeleceu medidas científicas para a imposição de barreiras. 3 Benefícios da implantaçãodo Sistema APPCC Você já conheceu a história do Sistema APPCC e viu que ele tem sido adotado em todo o mundo. Mas, o que o leva a ser tão difundido? Você acha que ele pode ser útil em empresas grandes da mes- ma forma que nas microempresas? Estas e outras perguntas serão respondidas aqui. Mas antes, veja a definição do Sistema APPCC, de acordo com o Organismo para Alimentos e Agricultura das Na- ções Unidas, a Food and Agriculture Organiza- tion (FAO, 1998, p.109): “O Sistema APPCC é uma abordagem preventiva e sistemática direcionada a perigos biológicos, quí- micos e físicos, através de antecipação e prevenção, em vez de inspeção e testes em produtos finais.” P Primeira Vantagem Ao fazer esta abordagem preventiva e sistemáti- ca, você pode ver a primeira vantagem do Sistema APPCC: ele inclui todas as operações, desde a produção primária até o consumo do alimento. Isso quer dizer que o estudo dos perigos não se limita a uma etapa do processo produtivo, mas é aplicada a todas as etapas, desde o início da produ- ção podendo chegar ao preparo do alimento pelo consumidor. P Segunda Vantagem Outro aspecto favorável do Sistema é que, ao fazer um levantamento dos perigos potenciais, também são identificadas as medidas preventivas e de con- trole dos mesmos. Esta sistemática baseia-se em um sistema de en- genharia conhecido como Failure, Mode and Effect Analysis (FMEA) conhecido como Análise de Fa- lhas, Modos e Efeitos. Neste, em cada etapa do processo são observados os possíveis erros, as pro- váveis causas destes e o seu efeito. A partir destas informações você tem condições de estabelecer mecanismos de controle. Note que o FMEA pode ser aplicado para qualquer processo, não apenas na produção de alimentos. O sistema APPCC garante um programa efetivo de controle de perigos, isso acontece porque se ba- seia em informações registradas e oficiais relacio- nadas à ocorrência das DTA. P Terceira Vantagem Por ser um sistema contínuo e detectando os pro- blemas antes que ocorram ou no momento que surgem, é possível aplicar ações imediatas de cor- reção e de controle. PQuarta Vantagem Pelas características acima, você já deve ter percebi- do que o Sistema APPCC é compatível com outros sistemas de controle de qualidade. Com isso, a segurança do alimento ou inocuidade, a qualidade e a produtividade podem ser abordadas em con- junto. E este conjunto resulta em benefícios para os consumidores, mais lucros para as empresas e uma melhor relação entre os atores desta cadeia. PQuinta Vantagem Com certeza você já ouviu dizer que o Sistema APPCC reduz custos de análises laboratoriais. Mas cuidado, isso é verdade apenas para as empre- sas que fazem estas análises! A indústria de alimentos brasileira possui milhares de micro e pequenas empresas que estão sem profissio- nais da área técnica e que nem sempre fazem testes em seus produtos. Quando estas empresas come- çam a implementar o Sistema APPCC o que acontece é um aumento de custos, pois elas começam a fazer ensaios e testes em seus produtos, seja para a identi- ficação de perigos ou para checar a eficiência de seus controles. No início estas análises demandaram um investimento que depois diminui quando o Sistema estiver implantado e controlado. Os benefícios, neste caso, aparecerão quando a empresa perceber que deixou de perder ou reprocessar produtos e o in- vestimento inicial será compensado. P Sexta Vantagem A empresa que implanta o Sistema APPCC tem mais facilidade para atender exigências legais, uti- liza de modo mais eficiente seus recursos e conse- gue uma resposta mais imediata para as questões de segurança de alimentos. Outro aspecto a des- tacar é que, de acordo com a FAO (1998), quan- do o Sistema está implementado corretamente, há um maior envolvimento dos colaboradores no processo e isso gera uma motivação das pessoas, que percebem a importância de sua função no processo como um todo. 4 Legislações Brasileiras relacionadas ao Sistema APPCC Em se tratando de normas mais técnicas, para as in- 7 dústrias e estabelecimentos produtores / manipu- ladores de alimentos, o Sistema APPCC apareceu pela primeira vez no Brasil em 1993, com a Por- taria 1428 do Ministério da Saúde. Este documento estabelece o “Regulamento Téc- nico para Inspeção Sanitária de Alimentos”, as “Diretrizes para o Estabelecimento de Boas Prá- ticas de Produção e de Prestação de Serviços na Área de Alimentos” e o “Regulamento Técnico para o Estabelecimento de Padrão de Identida- de e Qualidade (PIQ´s) para Serviços e Produtos na Área de Alimentos”. Em 1998, a Portaria 40 do Ministério da Agricul- tura e Abastecimento (MAA), como era chamado o MAPA, estabelece um manual de procedimentos para as indústrias de bebidas e vinagres, baseado nos princípios do Sistema APPCC (BRASIL, 1998). No mesmo ano, a Portaria 46 do MAA estabelece a obrigatoriedade da implantação gradativa do Sistema APPCC nas indústrias de produtos de origem animal sob o controle do Serviço de Inspe- ção Federal (SIF) (BRASIL, 1998b). A partir destes documentos legais, o MAPA publi- cou diversos regulamentos e normas técnicas ba- seadas neste sistema de segurança de alimentos. Além destes há documentos que os complemen- tam como a Instrução Normativa 70/2003, que estabelece o programa de redução de patógenos para controle de Salmonella sp. em carcaças de frangos e perus (BRASIL, 2003). Na área de produtos de origem vegetal, o MAPA tem publicado as normas técnicas específicas de diversos alimentos, sempre com base nas boas prá- ticas e no Sistema APPCC. Ainda no MAPA você tem um exemplo interessan- te da aplicação do Sistema APPCC, que é o ofício circular aplicado a estabelecimentos fabricantes de alimentos para animais de companhia e de ingredientes para alimentação animal para ex- portação para a Comunidade Européia. Neste caso, os alimentos são todos destinados à alimen- tação de animais, mas mesmo assim o Sistema APPCC é requerido. A ANVISA já publicou vários documentos técni- cos específicos de produtos para os quais exige a adoção do Sistema APPCC para garantir a segu- rança destes. Alguns exemplos são o palmito (RDC 18/1999), o amendoim (RDC 172/2003), os gela- dos comestíveis (RDC 267/2003) e a água mineral (RDC 173/2006). Além destas, ainda existem os documentos legais relacionados aos pré-requisitos ao Sistema APPCC. Outros órgãos, como o INMETRO, também esta- belecem regras em temas relacionados a alimen- tos, mas estas normas estão direcionadas ao com- bate a fraudes como peso declarado e peso real. 5 Pré-requisitos para implantação do Siste- ma Os pré-requisitos para implantação do Sistema APPCC são as Boas Práticas de Fabricação e os Pro- cedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO), também conhecidos por Procedimentos Operacio- nais Padrão (POP), dependendo do tipo de produto. P As Boas Práticas de Fabricação Você pode identificar as Boas Práticas de Fabrica- ção por diferentes nomes, depende da etapa da cadeia em que se aplicam. Você pode usar as Boas Práticas de Produção, na produção primária; as Boas Práticas de Manipulação, em processos onde a manipulação é muito aplicada e assim por diante. Mas todas elas têm em comum sua origem nos Prin- cípios Gerais de Higiene dos Alimentos do Códex Alimentarius. Isso significa que, de um modo geral, os princípios a seguir são os mesmos para todas: • Produção primária; • Estabelecimento: projeto e instalações; • Controle de Operações; • Estabelecimento: manutenção e sanificação; • Estabelecimento: higiene pessoal; • Transporte; • Informações e avisos ao consumidor; • Treinamento. Pode-se dizer que as Boas Práticas estabelecem três níveis de controle higiênico: operacional, pes- soal e ambiental. Desta forma, todas as variáveis, no que se refere à higiene,são controladas por estes princípios e, por isso, as Boas Práticas são consideradas a base para o Sistema APPCC, pois permitem que o Sistema mantenha o foco nas eta- pas realmente importantes, ou seja, críticas para a segurança dos alimentos. POs Procedimentos Padrão de Higiene Ope- racional Os Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO) têm sua origem nos Sanitation Standard Operating Procedure (SSOP), estabelecidos em 1995 para pescados e posteriormente aplicados em carne e frango nos Estados Unidos. No Brasil, os PPHO foram introduzidos em 1997 pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), do MAPA, através da Cir- cular no 272/97 (BRASIL, 1997). Provavelmente você conheça os Procedimentos Operacionais Padrão (POP). Eles possuem algu- mas diferenças, mas muito mais semelhanças. Am- bos são programas derivados das Boas Práticas, mas são estudados separadamente devido ao alto grau de importância que possuem. Algumas em- presas também os denominam de Procedimento Operacionais (PO). Para que você entenda o que são estes procedi- 8 mentos, sejam eles PPHO ou POP, é importante ter em mente o que é o Manual de Boas Práticas de Fabricação: É um documento formal que estabe- lece as regras de higiene operacional, pessoal e ambiental de uma empresa de alimentos. Para que estas regras sejam colocadas em práticas são ne- cessários procedimentos detalhados, que são os PPHO ou os POP. Ou seja, eles se complementam! A ANVISA define POP como sendo um procedi- mento escrito de forma objetiva que estabelece instruções sequenciais para a realização de opera- ções rotineiras e específicas na produção, armaze- namento e transporte de alimentos. E, ainda per- mite que sejam usadas outras nomenclaturas para estes procedimentos, desde que respeitem o con- teúdo mínimo obrigatório (BRASIL, 2002). A definição do MAPA é de que os PPHO são como procedimentos descritos, desenvolvidos, implanta- dos e monitorizados, visando estabelecer a forma rotineira pela qual o estabelecimento industrial evitará a contaminação direta ou cruzada e a adul- teração do produto, preservando sua qualidade e integridade por meio da higiene antes, durante e depois das operações industriais (BRASIL, 2003). O conceito é basicamente o mesmo, mas o MAPA deixa claro que as atividades devem ser realizadas antes, durante e depois das atividades. A norma internacional de certificação de siste- mas de gestão de segurança de alimentos, a NBR ISO 22 000:2006, estabelece um programa de pré-requisitos operacionais, que engloba os POP. Ela define POP como aspectos, indicados pela análise de perigos, como essenciais para controlar a probabilidade da introdução de contaminação ou proliferação de perigos à segurança de alimen- tos no (s) produto (s) ou no ambiente de processo (ABNT, 2006). Você percebeu que esta definição é diferente das anteriores? Não é o Manual de BPF que define os PPHO ou POP, e sim a análise de perigos. Nenhuma contradição se o Manual estabelecer que os POPs serão definidos pela análise de perigos, controlando etapas importantes, mas que não são consideradas críticas para a segurança do produto. De todos os modos acima, os PPHO ou POP são essenciais à implantação do Sistema APPCC uma vez que garantem a adoção de práticas de higiene prévias ao sistema citado. 9 Capítulo 2 ETAPAS PRELIMINARES PARA A ELABORAÇÃO DO PLANO APPCC Etapas prévias à implantação do Sistema APPCC O Códex Alimentarius estabelece cinco etapas preli- minares importantes que devem ser cumpridas antes da implantação dos princípios do Sistema APPCC. Entretanto, há uma etapa fundamental, que deve ser cumprida antes mesmo da implementação dos programas de pré-requisitos e que, sem a qual, nenhum sistema funcionará efetivamente. Esta eta- pa é necessária em todos os tipos de sistemas de gestão a serem implementados numa empresa, é o compromisso formal da direção da empresa com a segurança dos alimentos. Você já deve ter ouvido falar dela como compro- metimento da direção. Mas o que isso significa? Uma declaração assinada pelo diretor da empresa no início do plano APPCC? Ela é muito mais que isso, são atitudes garantindo que investimentos e recursos humanos serão dis- ponibilizados para que o programa de segurança de alimentos funcione. É a participação da direção nas decisões e análises críticas, nas revisões do sis- tema de segurança de alimentos, no investimento em treinamento e capacitação dos colaboradores envolvidos, ou seja, na viabilização de ações que darão confiabilidade e solidez ao Sistema APPCC. Agora sim, veja as etapas preliminares estabeleci- das pelo Códex Alimentarius. P 1 - Montar a equipe APPCC Depois de ter o comprometimento formal da dire- ção, sua primeira tarefa antes de elaborar o plano APPCC, caso seja o coordenador desta atividade, é selecionar pessoas que tenham experiência, co- nhecimentos específicos, competências, habili- dades e atitudes para integrarem a equipe APPCC. Estas pessoas devem conhecer bem o processo e o produto. Você sabe que em empresas menores a si- tuação é mais complicada, mas dentro do possível, esta equipe deve ser multidisciplinar e incluir pro- fissionais das áreas de engenharia, produção, sane- amento, garantia de qualidade e microbiologia de alimentos, além de pessoas diretamente envolvi- das nas operações, pois estarão mais familiarizados com suas variabilidades e limitações. Participar da equipe aumenta o senso de responsabilidade entre aqueles que implementam o plano. O coordenador da equipe pode ser definido pela direção ou pela maior experiência ou conhecimen- to. Mas o coordenador da equipe, além de conheci- mento, precisa ter habilidade para liderar a equipe e seus trabalhos. Em alguns casos, a equipe APPCC pode precisar do auxílio de um especialista ou consultor exter- no, com vasto conhecimento sobre os perigos bio- lógicos, químicos e físicos potenciais associados ao produto e ao processo ou pode ser necessário um especialista em sistemas de segurança de alimentos. Mas lembre-se que a função deste especialista é aju- dar a equipe e não desenvolver um plano APPCC e entregá-lo pronto. Se isso acontecer, há o risco de que o plano não esteja de acordo com a realidade da empresa. Muitas empresas já compraram planos prontos que não puderam implementar porque pre- via ações impossíveis de serem colocadas em prática. Os integrantes da equipe devem receber trei- namentos e devem ter experiência suficiente para cumprir certas tarefas específicas como • Realizar a análise de perigos; • Identificar os perigos potenciais e os que preci- 10 sam ser controlados; • Recomendar controles, limites críticos, proce- dimentos de monitoramento e verificação e ações corretivas adequadas; • Validar o plano APPCC. P 2 - Descrição do alimento A equipe APPCC deve preparar uma descrição ge- ral do alimento, dos ingredientes e métodos de processamento. Esta descrição do produto deve ser por escrito, e incluir informações relevantes para segurança, como composição, estrutura físico-quí- mica (incluindo atividade de água, pH, etc.), tipo de embalagem, validade do produto na embalagem e depois de aberto, condições de armazenamento, e métodos de distribuição (congelado, refrigerado ou em temperatura ambiente). Estas informações são importantes para a análise de perigo e para a caracterização dos tipos de perigos que podem estar envolvidos com este alimento. [Veja como o DMD pode lhe ajudar!] Em algumas empresas, a qualidade é controlada junto com os perigos à segurança dos produtos. Neste caso, as características descritas devem in- cluir os atributos de qualidade relevantes. E lembre- -se, quando a qualidade é controlada pelo Sistema APPCC, ela é igualmente auditadae tratada como mais uma categoria de perigo. Caso a empresa não tenha nenhum outro sistema de gerenciamento da qualidade, esta pode ser uma boa opção, mas é im- portante ter cuidado para que sua equipe não per- ca o foco da segurança do produto. P 3 - Descrição do uso proposto e dos prová- veis consumidores Como membro da equipe, você precisa conhecer, além do uso ou forma de consumo normal propos- to, outras formas não usuais de consumo que pos- sam ter impacto na segurança do produto. Tam- bém é muito importante que você saiba que são os prováveis consumidores, se são o público em geral ou um segmento específico da população, como bebês, crianças, idosos, pacientes imuno- deprimidos, etc. Alguns destes grupos são muito mais suscetíveis aos perigos que os indivíduos adultos e sadios, por isso você precisa conhecer bem seu consumidor e seus hábitos. A forma de consumo interfere na segurança final do produto, principalmente nos casos de produtos que passam, ou deveriam passar, por algum tipo de tratamento térmico antes do consumo. Geralmente esta etapa é considerada um ponto importante do controle pela indústria e se for suprimida o produto ficará desprotegido. P 4 - Elaboração do fluxograma de processo O objetivo de um fluxograma é fornecer um esbo- ço claro e simples de todas as etapas envolvidas no processo. Lembre-se que todas as etapas que estejam sob o controle direto da empresa devem aparecer no fluxograma. Etapas que ocorram antes ou depois também podem aparecer, mas não são obrigatórias. Você não precisa desenhar um dia- grama muito complicado, o importante é que não faltem etapas importantes. Veja um exemplo de um fluxograma para produção de ovos desidratados: Fonte: http://www.setor1.com.br/ovos/fluxo_desidra.htm 11 Veja que as etapas estão definidas e sua ordem no processo também. O fluxograma é peça fundamen- tal para a elaboração do plano APPCC, se estiver in- correto ou incompleto poderá comprometer todo o sistema de segurança de alimentos já que a aná- lise de perigos e a definição dos pontos críticos de controle se apoiam no fluxograma. O fluxograma pode ser de um produto ou de um processo. Algumas empresas processam alimen- tos muito semelhantes que seguem as mesmas, ou pelo menos quase todas, as etapas. Neste caso você pode elaborar seu plano APPCC para um processo. P 5 - Validação do fluxograma Depois de elaborado o fluxograma, você deve fazer uma validação do mesmo, ou seja, conferir todas as etapas com o processo real e checar se o que foi desenhado corresponde à realidade. Em caso de alguma divergência, o fluxograma deve ser refeito e validado novamente. Nunca avance para a elabo- ração do plano APPCC sem checar o fluxograma, pois isso pode gerar um retrabalho desnecessário. Depois de cumpridas estas etapas e implantados os pré-requisitos, você pode, finalmente, começar a elaborar o plano APPCC. 12 Capítulo 3 PRINCÍPIOS DO SISTEMA APPCC 1° Princípio Identificação de perigos e estabelecimento das medidas de controle Para começar o primeiro princípio do plano APPCC, tenha com você o fluxograma do produto ou do processo já validado. A identificação dos perigos é feita em todas as etapas deste fluxograma, estar com ele em mãos facilitará a visualização do pro- cesso como um todo e evita o esquecimento de alguma etapa. Na identificação dos perigos, é importante que você estude sua matéria-prima e seus ingredien- tes, além de conhecer bem o que acontece em cada etapa do processo. Aqui é fundamental a multidisciplinaridade na equipe e a presença de pessoas que conheçam bem a rotina de produção. Normalmente, esta é a etapa mais demorada, de- manda muito estudo, pesquisa em livros e artigos científicos e revisão de registros da empresa. De- dique bastante tempo para esta etapa. Analise to- das as possibilidades, todas as etapas e possíveis variações. Para fazer a análise de perigos, considere os diver- sos fatores que contribuem para a ocorrência, pre- valência e intensificação dele. Um destes fatores é a dose infectante, que é nú- mero mínimo de microrganismos necessários para causar a doença. Apesar de ter uma definição simples, para a maioria das bactérias esta ques- tão ainda não está bem definida. Além disso, a dose infectante varia em função do hospedeiro. Isso acontece porque existem grupos especiais de risco, mais suscetíveis – bebês e crianças me- nores que cinco anos, idosos, mulheres grávidas e pessoas imunodeprimidos. A dose infectante tam- bém é influenciada por fatores que possam afetar as defesas do consumidor, como o grau de acidez gástrica, o conteúdo gástrico, a microbiota intes- tinal e o estado imunológico da pessoa (UNTER- MANN, 1999; SCOTT & MOBERG, 1995). Outro aspecto importante é que a quantidade de microrganismos em um alimento muda cons- tantemente por causa da cinética de crescimento e morte das bactérias. Esta cinética é influencia- da por fatores que podem estar relacionados ao meio ou alimento, ao microrganismo e ao proces- so. Esses fatores incluem pH, atividade de água, potencial redox e temperatura do alimento, além da presença de microbiota competitiva, ao tipo de processo ou preparo e das condições de em- balagem e armazenamento, entre outros (UNTER- MANN, 1999). [Veja como o DMD pode ajudar!] Rápida revisão sobre PERIGOS EM ALIMENTOS A Comissão do Códex Alimentarius define pe- rigo como uma propriedade biológica, física ou química, que pode tornar um alimento prejudi- cial para o consumo humano. Segundo o ICMSF (1988), perigo é uma contaminação inaceitável, crescimento ou sobrevivência de bactérias em alimentos que possam afetar a segurança ou qualidade (deterioração), ou ainda é a produção ou persistência de substâncias como toxinas, en- zimas ou produtos do metabolismo bacteriano em alimentos. Veja que a definição do Códex não se refere a outras condições indesejáveis do alimento ou à presença de outros tipos de contaminantes como insetos, cabelo, decomposição, fraude econômi- ca, violação das exigências de qualidade. Já a de- finição do ICMSF considera a decomposição bac- teriana como perigo. Caso o seu plano APPCC contemplar aspectos de qualidade e os padrões de identidade do produto, você deve considerar estes outros aspectos! 13 P Classificação dos Perigos A primeira classificação é quanto a sua natureza e podem ser biológicos, químicos ou físicos (GUIA, 1999). Agora, classifique-os de acordo com sua severi- dade, ou seja, o grau de dano ou lesão causado no consumidor. A severidade varia de nenhuma à grave, com todas as variações entre esses extre- mos. Assim, os perigos podem ser classificados em três grupos, de acordo com sua gravidade para a saúde do ser humano: • Severidade alta: os efeitos para a saúde são muito graves, com sequelas irreversíveis e até mesmo a morte. Entre os perigos biológicos de severidade alta estão as toxinas do Clostri- dium botulinum, Salmonella typhi, S. paratyphi A e B, Shigella dysenteriae, Vibrio cholerae O1, Vibrio vulnificus, Brucella melitensis, Clostri- dium perfringens tipo C, vírus da hepatite A e E, Listeria monocytogenes (em alguns pa- cientes), Escherichia coli O157:H7, Trichinella spiralis e Taenia solium (em alguns casos). Os perigos químicos de severidade alta podem estar relacionados com a contaminação direta de alimentos por substâncias químicas proibi- das ou determinados metais, como mercúrio, ou aditivos químicos que podem causar uma intoxicação grave em número elevado ou que podem causar danos a grupos de consumido- res mais sensíveis. Os perigos físicos são todos considerados de severidade alta pelo tipo de lesão invasiva que causam. É o caso de pe- dras, vidros, agulhas, metais e objetos cortan- tes e perfurantes, constituindoum risco à vida do consumidor ou abrindo portas de entrada para infecções secundárias. • Severidade moderada (com disseminação potencialmente extensa): a patogenicidade e o grau de contaminação são menores. Os efeitos podem ser revertidos, mesmo incluin- do hospitalização, mas não ameaçam a vida do consumidor. Alguns exemplos de perigos biológicos de severidade moderada são as demais Escherichia coli enteropatogênicas, Salmonella spp., Shigella spp., Streptococcus spp., Vibrio parahaemolyticus, Listeria mono- cytogenes, Streptococcus pyogenes, rotaví- rus, vírus Norwalk, Entamoeba histolytica, Di- phyllobothrium latum, Cryptosporidium par- vum. Não existem perigos químicos ou físicos nesta classificação. Importante considerar alguns microrganismos como a Escherichia coli O157:H7, Clostridium bo- tulinum e outros cuja presença, independentemen- te do número, é suficiente para tornar um alimento potencialmente perigoso! • Severidade baixa (disseminação limitada): os sintomas são leves e passageiros, sem seque- las. Os alimentos envolvidos contêm um alto grau de contaminação e as doenças geralmen- te são auto limitantes, ou seja, a recuperação acontece naturalmente. Alguns perigos bioló- gicos de severidade baixa são o Bacillus cereus, Clostridium perfringens tipo A, Campylobacter jejuni, Yersinia enterocolitica, a toxina do Sta- phylococcus aureus e a maioria dos parasitas. Entre os perigos químicos de severidade baixa estão as substâncias permitidas em alimentos que podem causar reações moderadas, como sonolência ou alergias transitórias. Depois de classificar os perigos quanto à natureza e severidade dos danos ou lesões que possam cau- sar ao consumidor, o próximo passo é fazer a ava- liação do risco. Segundo a FAO (1998, p.147), “o risco é uma função da probabilidade de um efeito adverso e da magni- tude deste efeito, resultante de um perigo em um alimento”. Quando se fala em probabilidade, se fala também em análise estatística. Geralmente, a estimativa do risco é qualitativa, ob- tida a partir de dados experimentais, dados epide- miológicos locais ou regionais e informação biblio- gráfica específica. Para realizar uma avaliação do risco, você precisa considerar os seguintes dados: P Revisão das reclamações de clientes; P Devolução de lotes ou carregamentos; P Resultados de análises laboratoriais; P Dados de programas de vigilância de agentes de doenças transmitidas por alimentos; P Informação da ocorrência de doenças em ani- mais ou outros fatos que possam afetar a saúde humana. O risco pode ser classificado em graus, que variam de alto a moderado, baixo ou insignificante. Es- ses dados são úteis para determinar os locais ade- quados para estabelecer os pontos críticos de con- trole, o grau de controle necessário e qualquer mu- dança no processo ou nos ingredientes que possa reduzir a intensidade do perigo existente. PMODELO BIDIMENSIONAL PARA AVALIA- ÇÃO DE PERIGOS SIGNIFICATIVOS E DE RIS- COS À SAÚDE A FAO (1988) sugere o método a seguir para ana- lisar a significância do perigo. Considerando a probabilidade de ocorrência (inversa ao grau de controle) e a gravidade das consequências, a signi- ficância do perigo pode ser diferenciada como sa- tisfatória (Sa), menor (Mi), maior (Ma) ou crítica (Cr) (FAO, 1998). 14 Severidade (Probabilidade de ocorrência): Significância do perigo Sa (0): Desprezível Mi (1-2): Menor Ma (3-6): Maior Cr (>6): Crítica Fonte: FAO, 1996, modificado A análise de perigos é específica para cada produto e linha de produção, e deve ser atualizada sempre que houver modificações nas matérias-primas usa- das, na formulação, na técnica de preparo, nas con- dições de processo, no material de embalagem ou no uso esperado para o produto (GUIA, 1999). Além de analisar todo o processo de fabricação do alimento, considere também as matérias primas e os ingredientes, assim como o tipo e a duração do armazenamento, o método de distribuição e o uso esperado do produto final pelo consumidor. Observe que para um mesmo tipo de produto, os perigos e seus riscos podem variar devido a fatores como fontes diferentes de ingredientes e matéria-prima, pequenas variações na formula- ção, tipo de equipamento usado, tempo de du- ração do processo ou armazenamento, além da experiência e conhecimento dos funcionários da linha de produção. Para simplificar a análise de perigos, a FAO (1998) sugere que o procedimento de análise de perigo seja dividido em cinco etapas que você conhecerá a seguir. Aplique-as de uma maneira lógica, em se- quência para evitar qualquer omissão. P 1 - Revisar o material recebido Revise toda a informação no formulário de descri- ção do produto e analise a influência destes dados na análise do processo. Por exemplo, um produto pronto para o consumo não deve conter patógenos em quantidade que possa prejudicar o consumidor. Por outro lado, se o produto final não é um produ- to pronto para o consumo, alguns microrganismos podem ser aceitáveis no produto final se houver uma operação adicional (por exemplo, o cozimento em casa), que elimine ou reduza os microrganismos a um nível aceitável. Para identificar os perigos potenciais, para cada material recebido, é útil res- ponder às seguintes perguntas: Alta Sa Mi Ma Cr Média Sa Mi Ma Ma Baixa Sa Mi Mi Mi Insignificante Sa Sa Sa Sa Baixa Média Alta 1 – Os microrganismos patogênicos, toxinas, subs- tâncias químicas ou objetos físicos podem es- tar presentes neste material? 2 - Os produtos devolvidos ou reformulados são usados como ingredientes? Em caso afirmativo, há algum perigo relacionado a esta prática? 3 – São utilizados conservantes ou aditivos na for- mulação para eliminar micro-organismos ou inibir seu crescimento ou para aumentar a vida de prateleira? 4 – Algum ingrediente é perigoso se usado em ex- cesso? (por exemplo, nitritos podem ser um pe- rigo químico se usados em excesso). 5 – Algum ingrediente, se usado em quantidade menor que a recomendada, ou se excluído, pode resultar em um perigo por crescimento de micro-organismos vegetativos ou de células esporuladas? 6 – A quantidade e o tipo de ingredientes ácidos e o pH resultante do produto final afetam o cresci- mento ou a sobrevivência de micro-organismos? 7 – O conteúdo de umidade e a atividade de água (aw) do produto final afetam o crescimento mi- crobiano? Afetam a sobrevivência de patóge- nos (parasitas, bactérias, fungos)? 8 – Deve-se manter refrigeração adequada para os produtos durante o transporte ou conservação? P 2- Avaliar os perigos em cada operação de processamento O objetivo desta atividade é identificar os perigos potenciais reais relacionados a cada operação do processo, o fluxo de produto e o padrão de movi- mentação do funcionário. DICAS! Numere cada etapa do processo no fluxograma horizontal, desde a recepção até a distribuição; Examine cada passo no fluxograma de proces- so e determine se existe algum perigo (bioló- gico, químico ou físico) para aquela operação Revise a distribuição da planta e o padrão de mo- vimentação dos funcionários da mesma maneira. Para ajudar a determinar se um perigo existe, as perguntas seguintes devem ser respondidas por cada etapa do processo: • Os contaminantes poderiam entrar em contato com o produto durante esta operação de pro- cesso? (Considere higiene pessoal, contamina- ção de equipamento ou material, contamina- ção cruzada de matérias-primas, vazamento de válvulas ou placas, cantos mortos, nichos, gote- jamentos, etc.). • Algum microrganismo importante poderia se multiplicar ou sobreviver durante esta opera- ção de processo a ponto de constituir um peri- go? (Considere temperatura, tempo). 15 P 3 - Observar práticas operacionaisreais A equipe APPCC deve estar muito familiarizada com todos os detalhes da operação sob investiga- ção, e qualquer perigo identificado deve ser regis- trado em um formulário apropriado. A equipe pode observar a operação durante tempo suficiente para ter certeza de que corresponde ao processo ou às práticas normais. É importante observar os funcionários (por exem- plo, o produto cru ou contaminado pode fazer con- taminação cruzada com as mãos de trabalhadores, luvas ou equipamentos usados para produtos ter- minados ou após o processo?). Observar as práticas higiênicas e notar os perigos, e analisar se há uma etapa que elimine (processo que destrói todos os microrganismos) durante o processo (nesse caso, deve-se enfatizar a contami- nação cruzada potencial depois desta operação de processo). P 4 - Realizar medições Pode ser necessário realizar medições de parâme- tros de processos importantes para confirmar as condições operacionais reais. Antes de medir, as- segure que todos os dispositivos sejam precisos e foram corretamente calibrados. Os exemplos seguintes referem-se a algumas das medidas que podem ser tomadas, dependendo do produto ou do tipo de processo: • Medida de temperaturas de produto, conside- rando o processamento com calor e operações de resfriamento: meça no ponto mais frio do produto, ao avaliar o processo de aquecimen- to, e no ponto mais morno, ao analisar o resfria- mento (em geral, no centro do maior pedaço); • Medida de tempo/temperatura para cozimen- to, pasteurização, resfriamento de enlatados (taxas), armazenamento, descongelamento, re- constituição, etc.; • Dimensão dos recipientes usados para conser- var alimentos sendo resfriados e a profundida- de da massa de alimento; • Medida de pressão, espaço superior, ventila- ção, adequação do fechamento do recipiente, temperaturas iniciais e qualquer outro fator crí- tico ao êxito de um processo programado; • Medida do pH do produto durante o processa- mento, e, também, do produto acabado, me- dindo o pH à temperatura ambiente, sempre que possível; • Medida de Aw do produto, tomando amostras em duplicata, sempre que possível, e lembran- do-se de fazer correções para temperatura am- biente, se necessário. • Coleta de amostras, estudos de inoculação em produtos embalados e estudos de desafio mi- crobianos podem ser necessários quando não há informações disponíveis sobre perigos, para produtos novos ou para avaliar a vida de prate- leira esperada. P 5 - Analisar as medidas Um profissional qualificado, com conhecimento científico adequado, deve analisar as medidas para interpretar corretamente os dados coletados. Alguns exemplos desta atividade são: • Plotar medidas de tempo/temperatura utilizan- do computador ou papel milimetrado; • Interpretar os dados controlados com as tem- peraturas ótimas de crescimento de microrga- nismos e a variação de temperatura em que po- dem se multiplicar; • Estimar e avaliar os prováveis valores de res- friamento e comparar as temperaturas medidas com o intervalo de crescimento ótimo das bac- térias importantes para o produto e processo; • Determinar se são usadas tampas nos recipien- tes para resfriar os alimentos (o que pode retar- dar o resfriamento, mas também evitar a conta- minação); • Verificar se os recipientes são empilhados de modo que afetem o tempo de esfriamento ou de aquecimento; • Avaliar o impacto; • Comparar os valores de aw e pH para os inter- valos em que os patógenos se multiplicam ou são eliminados; • Avaliar a estabilidade do produto. Após concluir a análise de perigo, você deve consi- derar as medidas de controle existentes que pos- sam ser aplicadas a cada perigo. Medidas de controle As medidas de controle são qualquer ação e ativi- dade que podem ser utilizadas para evitar ou eli- minar um perigo à segurança do alimento ou que possam reduzi-lo a um nível aceitável. Mais que uma medida pode ser necessária para controlar um determinado perigo, e mais que um perigo pode ser controlado por uma medida específica. O méto- do de análise de riscos pode ajudar a determinar o nível de controle que deve ser implementado para controlar um perigo. Os perigos biológicos podem ser controlados através de diferentes métodos. As medidas podem considerar a destruição, a eliminação, a redução significativa, o impedimento ou diminuição do cres- cimento microbiano e da produção de toxinas. O controle geralmente se dá através de processo tér- mico (aquecimento ou cozimento), congelamento, desidratação, acidificação ou através de aditivos. [Veja como o DMD pode ajudar!] 16 Veja alguns exemplos de medidas de controle para perigos biológicos, considerando as bactérias: Controle de temperatura/tempo (o controle adequado do tempo de refrigeração e de ar- mazenamento, por exemplo, minimiza a proli- feração de micro-organismos). O aquecimento e o cozimento (processo térmi- co) por um determinado tempo e a uma tem- peratura adequada eliminam os micro-organis- mos ou os reduzem a níveis aceitáveis. Resfriamento e congelamento. Fermentação e/ou controle de pH (por exem- plo, as bactérias produtoras de ácido láctico em iogurte inibem o crescimento de outros mi- cro-organismos que não toleram as condições ácidas e a competição). A adição de sal ou de outros conservantes, em níveis aceitáveis, pode inibir o crescimento de micro-organismos. A desidratação, que pode usar calor suficiente para matar micro-organismos ou remover bastan- te água do alimento para evitar que certos micro- -organismos cresçam, mesmo quando a desidra- tação é feita em temperaturas mais baixas. As características da embalagem (pode-se utili- zar embalagem a vácuo, por exemplo, para ini- bir micro-organismos aeróbios). Controle de fornecedores, isto é, controlar a presença e nível de micro-organismos obten- do ingredientes de fornecedores que possam demonstrar controle adequado (por exem- plo, fornecedores que seguem um programa APPCC). Limpeza e sanitização, que podem eliminar ou reduzir os níveis de contaminação microbiana. Comportamento e práticas higiênicas, que po- dem reduzir os níveis de contaminação micro- biana. Considerando os vírus como perigos para os ali- mentos, as medidas de controle incluem: Processamento térmico – métodos de aqueci- mento ou cozimento, como cozinhar ao vapor, fritar ou assar, que podem destruir muitos, mas não todos os vírus (o tipo de vírus determina o controle adequado). Práticas pessoais higiênicas, inclusive a exclu- são de funcionários com determinadas doen- ças virais, como a hepatite. Para os parasitas (vermes e protozoários), as medidas de controle incluem: Controle alimentar. A infestação por Trichinella spiralis em suínos, por exemplo, diminuiu como resultado de um melhor controle ambiental e da alimentação dos porcos. Porém, este mé- todo nem sempre é prático para todas as es- pécies animais produtores de alimento. A die- ta e o ambiente de pescados capturados, por exemplo, não podem ser controlados. Aquecimento, desidratação ou congelamento. Salga ou salmoura. Inspeção visual. Pode ser utilizada em alguns alimentos para descobrir parasitas visíveis a olho nu (por exemplo, em certos pescados). Boas práticas de higiene pessoal por manipu- ladores de alimentos, eliminação adequada de fezes humanas e tratamento apropriado de es- goto. O controle de perigos químicos geralmente está baseado na prevenção da contaminação e na de- tecção de matérias primas contaminadas. Alguns exemplos de medidas de controle para pe- rigos químicos: Controle de fornecedores, isto é, especificações para as matérias-primas e ingredientes, e decla- ração do fornecedor atestando que substâncias químicas prejudiciais não estejam presentes. Controledo processo, ou seja, controle de for- mulação, uso e controle adequados de aditi- vos alimentares e sua quantidade. Separação adequada das substâncias químicas não comestíveis durante armazenamento e ma- nipulação. Controle de contaminação acidental por subs- tâncias químicas (por exemplo, graxas, lubrifi- cantes, água e substâncias químicas de trata- mento a vapor, tintas). Controle de rotulagem, assegurando que o produto acabado seja etiquetado com preci- são, incluindo ingredientes e alérgenos conhe- cidos. O controle de perigos físicos baseia-se na preven- ção e na eliminação dos mesmos: Controle do fornecedor, através de especifica- ções para matérias-primas e ingredientes, e de- claração do fornecedor atestando que perigos físicos inaceitáveis não estejam presentes. Controle de processo, por exemplo, uso de imãs, detectores de metal, peneiras, decanta- dores, clarificadores, túneis de ar. Controle ambiental, assegurando que as Boas Práticas de Fabricação sejam cumpridas e que não ocorra contaminação física do alimento através do edifício, das instalações, das superfí- cies de trabalho ou dos equipamentos. Manutenção preventiva dos equipamentos para processamento ou produção do alimento. 17 2° Princípio Identificar os Pontos Críticos de Controle (PCC) no processo O Ponto Crítico de Controle (PCC) é definido como: “uma etapa em que se pode aplicar um con- trole e que seja essencial para evitar ou eliminar um perigo à segurança do alimento ou para reduzi-lo a um nível aceitável” (CODEX, 1997). Você já deve ter se deparado ou algum dia ainda vai se deparar com situações em que um perigo é iden- tificado em uma etapa onde é necessário o controle, mas não há nenhuma medida de controle nesta ou em etapa posterior. O que fazer neste caso? O produto ou o processo deve ser modificado na etapa em questão ou em outra anterior ou poste- rior, mas de modo que seja possível a adoção de uma medida de controle para este perigo. Mas, como determinar se a etapa que controla um certo perigo é ou não um PCC? P DIAGRAMA DECISÓRIO NA IDENTIFICA- ÇÃO DE PCC A determinação do PCC no sistema APPCC pode ser facilitada pela aplicação de uma árvore deci- sória, como aquela sugerida pelo Codex (2003), que faz uma abordagem de raciocínio lógico. A aplicação da árvore decisória dever ser flexível, de acordo com o tipo de operação (processa- mento, armazenamento, distribuição ou outras operações). Questão 1: Existem medidas de controle? A primeira questão deve ser aplicada como se você estivesse perguntando se o operador poderia ou não usar uma medida de controle para esta ope- ração, ou qualquer outra, no estabelecimento de alimento para controlar o perigo identificado. As medidas de controle podem incluir, por exemplo, o controle de temperatura, exame visual ou uso de um detector de metal. Se a resposta para a Questão 1 for “sim”, descre- va as medidas de controle que o operador poderia usar e siga para a Questão 2 na árvore decisória. Se a resposta for “não”, ou seja, não existe uma me- dida de controle, indique como o perigo identifica- do será controlado antes ou depois do processo de fabricação (fora da área de controle do operador). P Questão 2: Esta etapa foi projetada especi- ficamente para eliminar ou reduzir o perigo a níveis aceitáveis? Os níveis aceitáveis e inaceitáveis precisam ser de- finidos dentro dos objetivos globais ao identificar o PCC. Se o processo ou operação for projetado com o propósito específico de eliminar a possível ocor- rência do perigo ou reduzi-la a um nível aceitável, a etapa automaticamente se torna um PCC e deve ser identificado como tal. É o caso dos detectores de metal, cuja única finalidade é detectar os perigos metálicos que possam estar presentes no produto. Se a etapa não for especificamente projetada, res- ponda “não” e passe à próxima pergunta. 18 PQuestão 3: A contaminação com o perigo poderia ocorrer em níveis inaceitáveis ou o pe- rigo poderia aumentar a níveis inaceitáveis? Em outras palavras, é possível que o perigo tenha impacto na segurança do produto? A questão 3 se refere à probabilidade de ocorrência e gravidade dos sintomas. A resposta é um julgamento que en- volve a análise de risco, que deve estar baseada em toda a informação coletada. Quando responder “sim” ou “não”, vale a pena que você justifique sua resposta, ela servirá para refe- rência futura. Isto é especialmente útil quando es- tiver lidando com alguns perigos que podem ser controversos. Se a pesquisa nos arquivos de reclamação da em- presa ou se a literatura científica sugerir que a con- taminação com o perigo identificado pode aumen- tar até um nível inaceitável e resultar em um perigo à saúde, responda “sim” e passe para a próxima pergunta na árvore decisória. Se a contaminação não representa uma ameaça significativa para a saúde do consumidor ou não há possibilidade de ocorrer, responda “não” (não é um PCC) e passe para o próximo perigo identificado no processo. P Questão 4: Existe uma etapa posterior que elimine os perigos ou reduza os mesmos a ní- veis aceitáveis? O objetivo desta pergunta é identificar os perigos que representam uma ameaça à saúde humana ou que poderiam aumentar até um nível inaceitável, e que serão controlados por uma etapa subsequente no processo. Se não há uma operação subsequente no processo para controlar o perigo, responda “não”. Essa etapa do processo se torna um PCC e deve ser identifica- da como tal. Se há alguma etapa posterior no processo que eli- minará o perigo identificado ou o reduzirá a um ní- vel aceitável, responda “sim”. Esta etapa não é um PCC, e sim a etapa subsequente onde este perigo é controlado. É hora de dar um nome! Depois de estabelecido o Ponto Crítico de Contro- le, você dará um “nome” a ele, ou seja, precisa iden- tificá-lo. Um PCC pode ser identificado conforme sua cate- goria em B, se for biológico; F, se for físico; ou Q, se for químico. Além disso, você pode numerá-lo de acordo com a ordem em que aparece no fluxo- grama. Por exemplo, se o primeiro PCC identificado controlar um perigo biológico, é registrado como PCC-1 (B). Se o segundo PCC identificado controlar um perigo químico, é registrado como PCC-2 (Q). Se o quinto PCC controlar um perigo biológico e um químico, na mesma operação do processo, é re- gistrado como CCP-5 (BQ), e assim por diante. Este protocolo de identificação identifica os PCC sequencialmente, independente da numeração da operação de processo, e para indicar prontamente ao usuário do plano APPCC que tipo de perigo pre- cisa ser controlado em uma operação específica do processo (FAO, 1998). Além disso, existem ainda os perigos identificados, mas que não são controlados pela organização fabricante de alimentos. Estes perigos devem ser reavaliados para confirmar que realmente não pos- sam ser controlados pela organização. Confirmada esta situação, é necessário identificar a medida de controle apropriada ou como este perigo deve ser tratado fora do processo de fabricação. Um bom exemplo para esta situação é o perigo da Salmo- nella em um abatedouro de frango. O controle será realizado pelo consumidor no preparo do alimento, fora das instalações da organização. Como exem- plo de medida de controle, pode-se usar o rótulo para transmitir orientações sobre o modo adequa- do de preparo para o consumidor. Agora que os PCC foram estabelecidos serão tra- balhados os princípios 3 ao 7 do Sistema APPCC que se referem especificamente aos PCC. Estes princípios são chamados de “coração do APPCC”. 3° Princípio Estabelecer os limites críticos para cada Ponto Crítico de Controle (PCC) Os limites críticos são os parâmetros usados para separar, num processo, o que é aceitáveldo que não é aceitável. Os limites críticos podem estar relacionados a fato- res como temperatura, tempo (exposição mínima de tempo a um determinado processo), dimen- sões físicas do produto, atividade de água, nível de umidade, etc. Esses parâmetros, se mantidos dentro dos limites, confirmam a segurança do pro- duto. [Veja como o DMD pode ajudar!] Para estabelecer estes limites é necessário que você considere, em primeiro lugar, as exigências legais oficiais e recomendações dos órgãos de fiscaliza- 19 ção sanitária. A organização também pode adotar padrões próprios ou dados encontrados em litera- tura científica sempre que estes sejam mais rigoro- sos que a legislação ou quando esta não existir. Nem todos os limites são facilmente estabeleci- dos. Em alguns casos você pode ter dificuldades para encontrar a fundamentação científica para isso. Nestes casos é importante buscar referências em publicações científicas que abordem produtos iguais ou semelhantes no que se refere a caracte- rísticas de processo e de produto. Outra fonte é a consulta a especialistas na área. Outra fonte de informação a ser utilizada, são os es- tudos experimentais. Isso quer dizer que na falta de documentos legais ou publicações científicas, a or- ganização deve realizar estudos experimentais para estabelecer os limites a serem adotados. Esta ativi- dade também está fortemente relacionada com a validação dos PCC que você estudará mais adiante. E, finalmente, na falta de informações e da possibi- lidade de realizar os estudos experimentais, seja o mais conservador e adote os valores que confiram segurança ao seu processo. Registre todo o material de referência e informa- ções coletadas durante o estudo experimental. Estes dados farão parte da documentação do seu plano APPCC. Depois de estabelecidos os limites críticos, você deve registrá-los junto com a descrição da etapa de processo, o número do PCC e a descrição do perigo. Limites operacionais Quando o monitoramento mostrar uma tendência para perda de controle de um PCC, os operadores podem agir de forma a evitá-la antes de exceder o limite crítico. O ponto em que os operadores to- mam essa atitude é chamado “limite operacional”. Não confunda limites operacionais com limites crí- ticos. Os limites operacionais são, em geral, mais restritivos e estabelecidos em um nível que ocorre antes do limite crítico ser violado; isto é, devem evi- tar um desvio dos limites críticos. Um fabricante pode observar previamente um pos- sível defeito, que se não for resolvido pode indicar a perda de controle, como um defeito do fogão, não mantendo a temperatura desejada de manei- ra constante. Observar uma tendência prematura de perda de controle com a ação imediata pode- -se evitar o reprocessamento do produto, ou pior ainda, a destruição do produto. Quando se exce- de o limite crítico, é necessária uma ação corretiva. Por isso, um processador pode escolher operar um PCC em um limite mais conservador que o limite crítico. Os limites operacionais podem ser escolhi- dos por várias razões: • Para evitar que o limite crítico seja ultrapassado, ou seja, um exemplo disto é usar uma tempera- tura de cozimento mais alta que o limite crítico como um ponto de alarme, para advertir o ope- rador que a temperatura está se aproximando do limite crítico e precisa de ajustes • Para aceitar a variabilidade normal, podemos ilustrar como exemplo, determinando a tempe- ratura de um fogão com 2°C de variabilidade, pelo menos 2°C acima do limite crítico para evi- tar que seja violado. • O processo pode precisar de ajustes quando o limite operacional for excedido. Tais ações são chamadas “ajustes de processo”. Um processa- dor deve usar esses ajustes para evitar a per- da de controle e a necessidade de descarte de produtos. A Tabela 1 mostra alguns exemplos de limites críticos e de limites operacionais. Tabela 1: Limites críticos e limites operacionais 4° Princípio: Monitoramento dos PCCs Neste princípio você deve estabelecer uma siste- mática de monitoramento para cada Ponto Crítico de Controle determinado. As Diretrizes para Aplicação do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) do Códex definem monitoramento como “o ato de realizar uma sequência planejada de observações ou medidas de parâmetros de controle para avaliar se um CCP está sob controle”. Monitorar é a medida programada ou observação de um PCC para determinar se os limites críticos Processo Limite crítico Limite operacional Acidificação pH 4,6 pH 4,3 Desidratação 0,84 Aw 0,80 Aw Envase a quente 80°C (176°F) 85°C (185°F) Fatiamento 2 cm 2,5 cm 20 estabelecidos estão sendo respeitados. Os pro- cedimentos de monitoramento devem detectar perda de controle de um PCC a tempo de evi- tar a produção de alimento inseguro ou de inter- rompê-la. Deve-se especificar, de modo completo, como, quando e por quem será executado o moni- toramento. [Veja como DMD pode ajudar!] O monitoramento tem como objetivos: 1. Medir o nível de desempenho da operação do sistema no PCC (análise de tendência); 2. Determinar quando o nível de desempenho do sistema leva a uma perda de controle do PCC, por exemplo, quando há desvio de um limite crítico; 3. Estabelecer registros que reflitam o nível de desempenho da operação do sistema do PCC para cumprir o plano APPCC. O monitoramento é uma ferramenta usada para confirmar se o plano APPCC está sendo seguido. O produtor terá meios para demonstrar que as con- dições de produção estão de acordo com o plano APPCC, se necessário. [Veja como o Diagnóstico Microbiológico Digital pode ajudar!] O monitoramento ideal deve fornecer informação a tempo para permitir qualquer ajuste no processo, evitando-se, assim, a perda de controle e ultrapassa- gem dos limites críticos. Na prática, os limites ope- racionais (conforme você já viu antes) são usados com mais frequência para propiciar uma margem de segurança, permitindo tempo extra para ajustar o processo antes que se exceda o limite crítico. Existem várias formas de monitorar os limites críti- cos de um PCC. O monitoramento pode ser feito de modo contínuo (100%) ou por lote. O monito- ramento contínuo é preferível, quando possível de ser aplicado, pois gera maior confiabilidade. Em- pregado para descobrir alterações nos níveis es- perados permite correção dessas alterações e evita desvios além dos limites críticos. Quando o monitoramento não é realizado de for- ma contínua, a quantidade e a frequência desse procedimento devem ser suficientes para fornecer um nível aceitável de garantia de que o PCC esteja sob controle. Quanto mais frequente o monitora- mento, menor a quantidade de produtos afetados, em caso de perda de controle do PCC. Mas fique atento, pois significa, também, que há um interva- lo em que o produto processado é suspeito, pois não foi monitorado. O tempo necessário para alcançar o resultado do procedimento de monitoramento deve ser sempre considerado. Os procedimentos de monitoramen- to devem ser rápidos, já que se referem a processos online, que, em geral, acontecem simultaneamen- te a produção e não permitem uma prova analítica demorada. Por isso, dá-se preferência às medidas físicas e químicas ou às observações visuais, que podem ser feitas rapidamente. [Veja como o DMD pode ajudar!] Todos os procedimentos de monitoramento execu- tados durante a operação resultam em um docu- mento escrito, que serve como um registro real das condições operacionais, além de fornecerem infor- mações sobre as condições durante a operação, permitindo que sejam tomadas ações corretivas no caso de uma perda de controle, ou que seja feito um ajuste de processo, caso haja uma tendência à perda de controle. É importante ressaltarque as ações corretivas de- vem ser realizadas por colaboradores capacitados e que quando necessário tenham autonomia para revisar os dados do monitoramento e avaliá-los. Assim como o colaborador responsável pelo mo- nitoramento, que também deve ser devidamente treinado nos procedimentos de monitoramento do PCC do qual é encarregado. Estes colaboradores devem também compreender o propósito e a im- portância do monitoramento, ter acesso rápido à atividade, ser imparcial ao exercer sua função e re- gistrar sua atividade com precisão. Tudo isto com o intuito de fornecer dados reais e condizentes com o monitoramento do processo em questão, para que os limites críticos não sejam ultrapassados. Lembre-se: quando ocorrer um desvio, ou um limite crítico for ultrapassado, pode su- gerir que o alimento não está mais seguro. Procedimentos de monitoramento Os procedimentos de monitoramento determinam se as medidas de controle estão sendo implemen- tadas, além de assegurar que os limites críticos não sejam ultrapassados. As medidas de controle po- dem controlar um ou mais perigos em cada PCC. É necessário que seja descrito para cada PCC, as especificações de monitoramento, contendo as se- guintes informações: 1) O que será monitorado? Monitoramento pode significar o controle através de medida de uma característica do produto ou do processo para determinar o cumprimento de um li- mite crítico, como: • medida do tempo e da temperatura em um processo térmico; • medida de temperatura de armazenamento a frio; • medida de pH; • medida de Aw. A observação de uma medida de controle de um PCC, com o objetivo de avaliar se a mesma está sendo implementada, também pode ser uma forma de monitoramento. Por exemplo, o exame visual de fechamento hermético de latas e a verificação dos certificados de análise do fornecedor. Vale ressaltar 21 que, nesta fase, os procedimentos de monitoramen- to podem determinar se os limites operacionais, mais do que os limites críticos, estão sendo atendi- dos, de forma que o operador tenha tempo para fa- zer algum ajuste necessário durante o processo. 2) Como serão monitorados os limites críticos e as medidas preventivas? O desvio de um limite crítico deve ser detectado no menor tempo possível para permitir uma ação corretiva. Para assegurar o conhecimento preciso das condições durante o processo, os procedimen- tos de monitoramento devem gerar resultados em tempo real. [Veja como o DMD pode ajudar!] A eficiência do monitoramento depende da se- leção adequada e da calibração do equipamento de mensuração. Alguns exemplos de equipamento para monitorar incluem termômetros, relógios, ba- lanças, medidores de pH, medidores de atividade de água, e equipamento químico analítico. Os equi- pamentos escolhidos devem ser submetidos à ca- libração periódica ou padronização, se necessário, para garantir a precisão, e consequentemente a ve- racidade dos resultados. Os operadores devem ser treinados para uso adequado do equipamento de monitoramento e além de receber uma descrição clara de como realizar o monitoramento. Segundo a ABNT (2006) deve ser assegurado ao pessoal responsável pelo monitoramento, corre- ções e ações corretivas do sistema de gestão de segurança de alimentos que estejam treinados. 3) Qual será a frequência do monitoramento? O monitoramento pode ser contínuo ou descon- tínuo. Sempre que possível, prefere-se o monito- ramento contínuo por ser mais abrangente, e tem possibilidade de ser empregado para muitos tipos de métodos físicos ou químicos. O monitoramento contínuo inclui: • Medidas de tempo e de temperatura de um processo de pasteurização. • Controle individual de pacote de espinafre con- gelada, cortada mecanicamente, através de um detector de metal. • Monitoramento do fechamento de recipientes de vidro, passando-os debaixo de um detector de partículas. Para que o monitoramento contínuo seja eficaz, é necessário revisar periodicamente os resultados do monitoramento e agir quando apropriado, em casos de desvios de limites críticos. Este intervalo de tempo entre as verificações é importante para que em casos de desvios, seja identificado o ponto exato do desvio, fornecendo assim a quantidade de produto envolvido. Quando a opção de escolha for o monitoramento descontínuo, deve ser determinada a frequência de monitoramento pelo conhecimento prévio do produto e do processo. Ao se detectar problemas, a frequência de monitoramento deve ser imedia- tamente aumentada até que a causa do problema seja corrigida. E para determinar a frequência cor- reta, é necessário saber o nível de variação do pro- cesso, a distância entre o limite crítico e o operacio- nal e o nível de preparo do fabricante para agir no caso de um desvio. 4) Quem irá monitorar? Ao desenvolver o plano APPCC, considere a nome- ação de um responsável pelo monitoramento. Os colaboradores nomeados para monitorar os PCC podem ser operadores de linha de produção, ope- radores de equipamento, supervisores, colabora- dores de manutenção ou da garantia de qualidade. O colaborador nomeado responsável por monito- rar um PCC deve: • Ser treinado adequadamente nas técnicas de monitoramento do PCC; • Compreender bem a importância do monitora- mento do PCC; • Ter proximidade física com a atividade que é monitorada; • Relatar com exatidão cada atividade de moni- toramento; • Ter autoridade para tomar uma ação apropriada conforme o que foi definido no plano APPCC; • Relatar imediatamente desvios nos limites crí- ticos. O colaborador responsável pelo monitoramento deve estar atento a todas as ocorrências raras e aos desvios dos limites críticos, registrá-los e relatá-los imediatamente, para assegurar que os ajustes de processo e as ações corretivas sejam realizadas em tempo hábil. Todos os resultados de monitora- mento devem ser assinados pelo colaborador res- ponsável pelos monitoramentos, e posteriormente assinado por um ou mais colaboradores revisores nomeados da empresa. 5° Princípio: Ações corretivas Estabelecer ações corretivas a serem tomadas quando o monitoramento indicar que há desvio em um limite estabelecido. 22 Estabelecer ações corretivas As Diretrizes para Aplicação do Sistema de Análise de Perigo e Ponto Crítico de Controle (APPCC) (Có- dex, 1997) definem ação corretiva como “qualquer ação a ser tomada quando os resultados do monito- ramento do PCC indicarem uma perda de controle”. A perda de controle do processo é considerada um desvio do limite crítico de um PCC. Os proce- dimentos de desvio consistem em um conjunto de ações documentadas e pré-determinadas e que devem ser implementadas em caso de desvio. To- dos os desvios podem e devem ser controlados, aplicando ações para retomar o controle do pro- duto que não está de acordo e imediatamente cor- rigir a causa da não conformidade. O controle do produto inclui identificação adequada, controle e eliminação do produto afetado. As ações correti- vas tomadas devem ser registradas e arquivadas pelo colaborador responsável pela ação. Todas as ações corretivas, bem como seus proce- dimentos de execução, estabelecidas para cada PCC, devem estar descritas de forma a ser aplicável pelo colaborador responsável pelo monitoramen- to sem dificuldades. É importante revisar sempre o processo e realizar ajustes e atualizações quando necessário. Todos os procedimentos para desvio de cada PCC devem ser devidamente registrados, bem como suas revisões e atualizações. Desvios As Diretrizes para a Aplicação do Sistema APPCC (Códex, 1997) definem desvio como “falha em aten- der um limite crítico”. Devem existir procedimentos para identificar, isolar e avaliar os produtos quando se excede os limites críticos. Os procedimentos de desvio
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