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43 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS Unidade II 5 TOXINFECÇÕES DE ORIGEM ALIMENTAR E SEUS AGENTES 5.1 Epidemiologia As doenças transmitidas por alimentos, mais comumente conhecidas como DTAs, são causadas pela ingestão de água ou alimentos contaminados química, física ou biologicamente. Existem mais de 250 tipos de DTA, e a maioria é de infecções causadas por bactérias, vírus e parasitas (GERMANO; GERMANO, 2015). Vale a pena lembrar que surto alimentar por doença transmissível por alimento (DTA) é definido como um incidente em que duas ou mais pessoas apresentam uma enfermidade semelhante após a ingestão de um mesmo alimento ou água, e as análises epidemiológicas apontam a mesma origem da enfermidade (BRASIL, 2016). A probabilidade de um surto ser reconhecido e notificado pelas autoridades de saúde depende, entre outros fatores, da comunicação dos consumidores, do relato dos médicos e das atividades de vigilância sanitária das secretarias municipais e estaduais de saúde (BRASIL, 2016). A figura a seguir apresenta informações, de acordo os dados atualizados da Vigilância Epidemiológica das DTA no Brasil, que relatam os dados até o mês de janeiro de 2016. No ano de 2014, foram registrados 886 surtos de DTA e 15.700 pessoas doentes, contra 861 surtos e 17.455 pessoas doentes no ano de 2013. Até o mês de janeiro de 2016, o número de surtos e doentes está pouco maior do que a metade se comparado com os números do ano de 2014. 2000 427 9.535 2001 872 15.631 2002 806 12.391 2003 619 17.910 2004 635 21.776 2005 913 17.214 2006 573 10.312 2007 683 11.708 2008 641 8.995 2009 594 9.431 2010 498 8.628 2011 795 17.884 2012 863 14.670 2013 861 17.455 2014 886 15.700 2015 575 9.267 1.000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 Do en te s Su rt os Surtos Doentes * Dados sujeitos a alteração. Figura 1 – Série histórica de surtos e casos de DTA no Brasil entre os anos de 2000 e 2015 44 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II A tabela que se segue mostra a série histórica dos surtos de DTA no Brasil, incluindo o número de pessoas expostas pelas DTA e o número de óbitos, na qual a taxa de letalidade se manteve entre 0,05% e 0,08% nos anos de 2013 a 2015. Tabela 1 – Série histórica de surtos de DTA: Brasil, 2000 a 2015* Ano Surtos Doentes Expostos Óbitos Taxa de letalidade 2000 427 9.535 31.821 5 0,05% 2001 872 15.631 211.228 5 0,03% 2002 806 12.391 116.962 5 0,04% 2003 619 17.910 688.772 4 0,02% 2004 635 21.776 368.109 21 0,10% 2005 913 17.214 242.191 12 0,07% 2006 573 10.312 49.465 8 0,08% 2007 683 11.708 25.195 11 0,09% 2008 641 8.995 23.275 26 0,29% 2009 594 9.431 24.014 12 0,13% 2010 498 8.628 23.954 11 0,13% 2011 795 17.884 52.640 4 0,02% 2012 863 14.670 42.138 10 0,07% 2013 861 17.455 64.340 8 0,05% 2014 886 15.700 124.359 9 0,06% 2015* 575 9.267 32.647 7 0,08% Total 10.666 209.240 2.107.229 155 0,07% *Dados sujeitos a alteração. Fonte: Brasil (2016, p. 6). Observando-se a figura a seguir, é possível concluir que a Região Sudeste lidera o histórico com mais notificações nos casos de DTA (40,2%) até janeiro de 2016 e, na sequência, a Região Sul, com 34,5%. 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% Região Sudeste Região Sul Região Nordeste Região Centro-Oeste Região Norte 40,2% 34,5% 14,8% 5,2% 4,5% Figura 2 – Distribuição dos surtos de DTA por região brasileira, entre 2000 e 2015 45 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS De acordo com a figura a seguir, os alimentos mistos (aqueles preparados com diversos ingredientes) continuam à frente dos alimentos mais envolvidos nos surtos, seguidos de ovos, produtos à base de ovos e água. Os casos não identificados se sobressaem com 51,4% dos registros. A dificuldade de se identificar o agente causador é um fato que se repete historicamente. Não identificados Alimentos mistos Ovos e produtos à base de ovos Água Doces e sobremesas Carne bovina in natura, processados e miúdos Leite e derivados Carne de ave in natura, processados e miúdos Carne suína in natura, processados e miúdos Cereais, farináceos e produtos à base de cereais Hortaliças Pescados, frutos do mar e processados Especiarias, molhos industrializados e similares Bebidas não alcoólicas Frutas, produtos de frutas e similares Gelados comestíveis Edulcorantes 51,4% 14,1% 7,7% 6,1% 4,1% 3,4% 3,3% 2,2% 2,1% 1,9% 1,2% 0,8% 0,5% 0,4% 0,3% 0,2% 0,1% Figura 3 – Distribuição de alimentos incriminados em surtos de DTA entre 2000 e 2015 Um dado que chama a atenção, observando-se a figura a seguir, é que, entre os anos 2000 e 2015, em 58,8% dos registros não foi possível identificar o agente etiológico responsável pelo surto DTA. As bactérias Salmonella, S. aureus e E. coli mostram-se como os principais agentes etiológicos mais associados aos surtos, respectivamente. 0,2% 0,4%1,9%2,3% 3,1% 6,4% 7,6% 58,8% 14,3% 0,7%1,1% 2,1% 1,0% Não identificados Salmonella spp. S. aureus E. coli B. cereus Vírus da hepatite A C. perfringens Rotavírus Shigella spp. Coliformes Outros Norovírus Giardia Figura 4 – Agentes etiológicos responsáveis pelos surtos de DTA 46 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II De acordo com a figura a seguir, as residências continuam como o local principal de ocorrência dos surtos, com 38,4% dos casos relatados até outubro de 2015, seguido dos restaurantes/padarias (similares) com 15,5%, um número bastante preocupante. 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 38,4% 15,4% 11,2% 8,7% 8,2% 8,4% 3,6% 2,8% 1,4% 1,3% 0,5% 0,1% Re sid ên cia Ign or ad o Ou tro s Ev en to s As ilo Ho sp ita l/ un ida de de sa úd e Ca so s d isp ers os n o b air ro Ca so s d isp ers os pe lo m un icí pio Ca so s d isp ers os Cr ec he /Es co la Re sta ur an te s/P ad ar ias e sim ila res Ou tra s i ns tit uiç õe s ( alo jam en to ...) Figura 5 – Distribuição dos surtos de DTA por local de ocorrência É importante levar em consideração que, de maneira geral, existe perda de informações epidemiológicas devido à subnotificação dos surtos por parte dos consumidores e profissionais da área da saúde. Estima-se que apenas 1% a 10% dos casos sejam computados pelas estatísticas oficiais (GERMANO; GERMANO, 2015). As principais DTAs possuem como características comuns um curto período de incubação, seguido de quadro clínico gastrointestinal manifestado por diarreia, náusea, vômito e dor abdominal, acompanhado ou não de febre. Normalmente, possuem curta duração, não ocasionando maiores sequelas em indivíduos adultos sadios, mas podendo ocasionar complicações graves e até morte em indivíduos muito jovens ou idosos (GERMANO; GERMANO, 2015). Em termos de saúde pública, há indícios de que a ocorrência dessas doenças esteja aumentando de forma gradativa e de que estas sejam responsáveis por centenas de mortes e milhares dehospitalizações (GERMANO; GERMANO, 2015). A figura a seguir constitui um dos principais indicadores da ocorrência de DTAs em toda a cadeia de produção de alimentos, de modo que oriente as ações da vigilância sanitária com foco nas diversas áreas, desde a produção até o consumo dos alimentos. 47 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS Cadeia de produção de alimentos Matéria-prima e insumos alimentares Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) Perigos: químicos, físicos e biológicos Transporte Processamento Comercialização Consumo Transporte de alimentos Transporte Transporte Armazenagem de alimentos Figura 6 – Modelo epidemiológico das DTAs em toda a cadeia de produção de alimentos 6 CARACTERÍSTICAS DOS MICRORGANISMOS E DOS ALIMENTOS As doenças transmitidas por alimentos de origem microbiológica ou parasitária são causadas por diversos agentes, podendo ser de origem endógena, quando os agentes já se encontram nos alimentos antes de sua obtenção, ou exógena, quando os alimentos são contaminados durante o processamento (EVANGELISTA, 1994). Nos casos de agentes de origem endógena, a maioria dos exemplos encontra-se nas carnes, aves e pescados, podendo ser citados os agentes responsáveis por zoonoses, como a tuberculose, a brucelose e a cisticercose. Como exemplo dos agentes de origem exógena têm-se os agentes patogênicos para o ser humano, causadores de infecções e intoxicações alimentares, como a salmonelose e o botulismo (EVANGELISTA, 1994). Todos os alimentos, tanto de origem vegetal quando animal, podem apresentar contaminação pelos mais diversos tipos de microrganismos, que fazem parte de suas floras habituais. O que deve ser feito para eliminar ou manter esses microrganismos em níveis que não causem danos à saúde dos seres humanos é a vigilância quanto à manipulação adequada dos alimentos e a manutenção de condições desfavoráveis à multiplicação dos microrganismos, sendo que esta última varia conforme o tipo de microrganismo, as características intrínsecas de cada alimento (umidade, pH, quantidade de nutrientes) e as características do ambiente (extrínsecas, como oxigênio e temperatura). O principal parâmetro extrínseco que influencia o desenvolvimento dos microrganismos é a temperatura. Assim, é muito importante sabermos quais as faixas de temperatura que representam 48 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II maior risco para os alimentos para evitá-las ou, quando da impossibilidade, diminuir o tempo de exposição de um dado alimento a uma temperatura dita “perigosa” para sua qualidade. Os microrganismos podem se desenvolver em temperaturas que variam de 2 °C a 70 °C, porém há casos de multiplicação a temperaturas extremas de -35 °C e 100 °C (JAY, 2009). De acordo com as necessidades de temperatura, os microrganismos podem ser classificados em mesófilos, psicrófilos, psicrotróficos e termófilos (tabela a seguir). Tabela 2 – Divisão dos microrganismos de acordo com as faixas de temperatura de desenvolvimento Grupo Temperatura (°C) Mínima Ótima Máxima Mesófilos 5 a 15 30 a 45 35 a 47 Psicrófilos -5 a +5 12 a 15 15 a 20 Psicrotróficos -5 a +5 25 a 30 30 a 35 Termófilos 40 a 45 55 a 75 60 a 90 Adaptado de: Jay (2009). Os microrganismos mesófilos são, em sua maioria, patogênicos. Nesse grupo há, sobretudo, bactérias e mofos. É importante ressaltar que todos os microrganismos que constituem risco à segurança dos alimentos multiplicam-se na faixa de temperatura dos mesófilos, intervalo médio de 30 °C a 45 °C (PIMENTEL; PICCOLO, 1992). No grupo dos psicrófilos estão os microrganismos que se desenvolvem entre 0 °C e 20 °C, com um intervalo ótimo de desenvolvimento entre 12 °C e 15 °C; podem-se citar como exemplos Salmonella, Clostridium, Corynebacterium, Micrococcus, Proteus, Streptococcus, Vibrio, algumas cepas de Escherichia, muitas espécies de Aspergillus, Cladosporidium e outros mofos. Algumas leveduras podem se comportar como psicrófilas, desenvolvendo-se a menos de 0 °C (JAY, 2009). Os psicrotróficos são, na sua maioria, responsáveis pela deterioração de carnes e vegetais. Possuem temperatura ótima de desenvolvimento entre 25 °C e 30 °C. Nesse grupo se encontram bactérias, leveduras e bolores. Alguns exemplos são Aeromonas, Bacillus, Citrobacter, Escherichia, Candida, Cryptococcus, Aspergillus e Penicillium (JAY, 2009). Os microrganismos termófilos crescem entre 55 °C e 75 °C; alguns exemplos são Lactobacillus thermophillus e algumas espécies do gênero Clostridium (JAY, 2009). O controle da temperatura nos processos produtivos de alimentos é uma importante ferramenta para evitar a multiplicação de microrganismos. De acordo com a figura a seguir, que faz um 49 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS comparativo entre a temperatura de multiplicação bacteriana e as temperaturas de maior risco para manipulação de alimentos, observa-se que a faixa de maior perigo está entre 7 °C e 60 °C, exatamente a faixa de temperatura em que ocorrem o pré-preparo e o preparo. Para driblar esse perigo, recomenda-se que o tempo de manipulação de alimentos nessas faixas de temperatura seja o menor possível, em torno de 30 minutos. 100 ºC 100 ºC 77,8 ºC 60 ºC 7 ºC 0 ºC 0 ºC 7,2 ºC 37 ºC 40 ºC 50 ºC 60 ºC 0 ºC -18 ºC -18 ºC Cocção Sem multiplicação bacteriana Sem multiplicação bacteriana Multiplicação bacteriana lenta Multiplicação bacteriana lenta Multiplicação bacteriana Multiplicação bacteriana Multiplicação bacteriana rápida Aquecimento Perigo Refrigeração Congelamento Figura 7 – Comparativo entre temperaturas de multiplicação bacteriana e temperaturas de risco para manipulação de alimentos Observação Os microrganismos podem se desenvolver em temperaturas que variam de 2 °C a 70 °C, porém há casos de multiplicação a temperaturas extremas de -35 °C e 100 °C. Por isso, é importante controlar sempre a temperatura dos alimentos. 7 PRINCIPAIS AGENTES BACTERIANOS DE TOXINFECÇÕES No meio ambiente, os seres vivos estabelecem diferentes tipos de relação, geralmente entre duas espécies distintas. As mais comuns são simbiose ou comensalismo, mutualismo, parasitismo e citofilismo (GERMANO; GERMANO, 2015). 50 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II A simbiose se caracteriza pelo desenvolvimento de cada espécie de forma independente, sem que uma prejudique a outra (GERMANO; GERMANO, 2015). No mutualismo, as espécies interagem de maneira que ambas se beneficiam e acabam não conseguindo viver isoladamente. Um exemplo é o caso da vitamina K2, que é sintetizada no organismo humano a partir de bactérias intestinais, como a Escherichia coli; desta forma, nem o homem nem a bactéria sobrevivem isoladamente (GERMANO; GERMANO, 2015). No parasitismo, a interação das espécies gera benefício para uma e malefício para a outra, tendo como exemplo as bactérias e os protozoários que garantem sua sobrevivência mediante prejuízo à saúde humana (GERMANO; GERMANO, 2015). O citofilismo refere-se à exigência, por algumas espécies, de habitats particulares para garantirem a sua sobrevivência; um exemplo são os vírus que sobrevivem somente no meio intracelular (GERMANO; GERMANO, 2015). As bactérias patogênicas utilizam-se de diferentes métodos para atingirem o seu habitat, apossarem-se das reservasmetabólicas de seus hospedeiros, reproduzirem-se, disseminarem-se pelos organismos parasitados e serem eliminadas para atingir novos hospedeiros, de modo que garanta a sua perpetuação no ambiente. Nessa interação, as bactérias podem destruir o hospedeiro ou ser destruídas pela ação do sistema imunológico do hospedeiro (GERMANO; GERMANO, 2015). A diarreia de natureza infecciosa é um sintoma comum, na maioria dos casos, de infecção por bactérias, sendo um dos mais importantes problemas de saúde pública de repercussão mundial e a principal causa de óbito entre crianças que habitam países em desenvolvimento. Essas patologias fazem parte das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) e são responsáveis pelas elevadas taxas de mortalidade populacional, principalmente em regiões com condições precárias de saúde, educação e saneamento (GERMANO; GERMANO, 2015). Para a prevenção e o controle das DTAs, o Ministério da Saúde sugere algumas atividades educativas que poderão ser desenvolvidas em restaurantes, hotéis e demais espaços em que há a comercialização de alimentos, como pode ser visto no quadro a seguir. 51 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS Quadro 13 – Atividades para o desenvolvimento das práticas educativas na prevenção e no controle das DTAs em hotéis e restaurantes Espaço Estratégia Clientela Conteúdo Hotéis e restaurantes Fazer a inspeção sanitária sistemática dos estabelecimentos Distribuir material informativo Oportunizar a participação de técnicos de saúde nos treinamentos para formação de pessoal de cozinhas e hotelaria Profissionais da rede de hotelaria e restaurantes • Conceito de alimento • Água como alimento • Relação dos alimentos com a transmissão de doenças • Qualidade da água • Limpeza e desinfecção dos reservatórios e poços • Tratamento da água (fervura, desinfecção por produtos à base de cloro e iodo) • Cuidados na utilização da água • Condições dos locais e das instalações destinadas ao preparo de alimentos • Produção, transporte, conservação, armazenamento e consumo de alimentos • Condições de preparo dos alimentos • Descongelamento de alimentos • Preparo e conservação dos alimentos • Tempo e temperatura de cozimento, congelamento e reaquecimento de cada tipo de alimento • Destino adequado dos dejetos e resíduos sólidos • Providência em situação de surtos de DTA Adaptado de: Brasil (2010). Lembrete A diarreia é um dos mais importantes problemas de saúde pública de repercussão mundial e a principal causa de óbito entre crianças que habitam países em desenvolvimento. 8 OS TIPOS DE MICROORGANISMOS CAUSADORES DE DTAS 8.1 Bacillus cereus O Bacillus cereus é uma bactéria de recente conhecimento no mundo científico, causadora de toxinfecções alimentares (SHINAGAWA, 1990). Encontra-se amplamente distribuída pelos ambientes, podendo ser isolada do solo e de plantas. Por apresentar notável capacidade de sobrevivência em condições ambientais estressantes, 52 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II essa bactéria é muito encontrada nas instalações industriais e comerciais de alimentos, o que favorece a contaminação cruzada entre o meio ambiente e os alimentos. Outro fator que facilita sua sobrevivência em diferentes meios é o fato de ser uma bactéria produtora de esporos termorresistentes (SHINAGAWA, 1990). O B. cereus é uma bactéria que pode ser apresentada na forma de esporos. Produz enzimas e toxinas causadoras de vômitos e/ou diarreia (FINLAY; LOGAN; SUTHERLAND, 2002). As condições ótimas para o seu desenvolvimento incluem faixa de temperatura entre 30 °C e 40 °C, pH entre 6 e 7 e, sobre a atividade de água, sabe-se apenas que o valor mínimo deve ser de 0,93 (GERMANO; GERMANO, 2015). Para facilitar o entendimento, os alimentos frequentemente contaminados por B. cereus podem ser divididos em dois grupos: aqueles que causam a síndrome emética e aqueles que causam a síndrome diarreica (SHINAGAWA, 1990). No primeiro grupo temos produtos cárneos, pescados, hortaliças, leite e derivados, cremes, sopas e molhos, purê de batata e salada de legumes; já no segundo grupo estão os cereais, em especial o arroz (GERMANO; GERMANO, 2015). Na forma diarreica, os sintomas iniciam-se de 8 a 16 horas após o consumo do alimento contaminado por células ou toxinas do B. cereus. Os sintomas são diarreia aquosa, dores abdominais e náuseas. A evolução favorável do quadro clínico ocorre entre 12 e 24 horas (GERMANO; GERMANO, 2015). Na síndrome emética, o período de incubação varia de 30 minutos a 6 horas, com sintomas de náuseas, vômito e, menos frequentemente, diarreias e/ou cólicas abdominais. Na maioria dos casos, as duas síndromes possuem evolução benigna (GERMANO; GERMANO, 2015). As manifestações clínicas das duas síndromes podem ser facilmente confundidas com toxinfecções por outros agentes, como Clostridium perfringens e Staphylococcus. Porém, levando-se em consideração a evolução benigna da doença, o tempo de incubação e o tipo de alimento envolvido no surto, é possível diagnosticar a toxinfecção por B. cereus (SHINAGAWA, 1990). O procedimento capaz de diagnosticar com clareza o microrganismo é a análise microbiológica do alimento suspeito e do vômito dos doentes (SHINAGAWA, 1990). Na maioria dos casos é necessário apenas um tratamento de suporte com antiespasmódicos, antidiarreicos e soluções hidratantes para reposição de sais minerais (GERMANO; GERMANO, 2015). A população em geral está permanentemente exposta ao agente devido ao elevado grau de disseminação, no ambiente, do B. cereus (SHINAGAWA, 1990). As principais medidas de controle são os cuidados durante o tratamento térmico dos alimentos, bem como sua manipulação e seu armazenamento, de acordo com as Boas Práticas de Fabricação, citadas anteriormente neste material (GERMANO; GERMANO, 2015). 53 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS Observação Um surto de DTA é caracterizado quando há a ocorrência de dois ou mais casos da doença, que foi investigada epidemiologicamente e identificada como da mesma causa etiológica. 8.2 Listeriose A Listeria monocytogenes é o agente etiológico da listeriose, doença reconhecida nos animais desde 1926, mas que só passou a ter importância em saúde pública a partir de 1980, quando foi reconhecida a importância dos alimentos na cadeia de transmissão da infecção ao homem. É uma bactéria patogênica oportunista, capaz de sobreviver e multiplicar-se fora do organismo dos hospedeiros em meios com nutrientes simples; nos animais e nos seres humanos a multiplicação ocorre intracelularmente (ARRUDA et al., 2006). Em 1988, um grupo de trabalho informal da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que: A Lysteria monocytogenes é um contaminante ambiental amplamente distribuído, cujo modo de transmissão primário para o homem é através da contaminação dos alimentos em qualquer ponto da cadeia alimentar, desde a origem até a cozinha. A eliminação total da L. monocytogenes de todos os alimentos é impraticável e pode ser impossível (OMS, 1988 apud GERMANO; GERMANO, 2015, p. 342-343). Com base nessa informação é possível observar a clara dimensão do grau de dificuldade que o controle da infecção representa para a saúde pública. A contaminação por L. monocytogenes pode ser tanto de natureza ambiental quanto através de reservatórios naturais do agente como também proveniente das instalações agroindustriais. Nessas instalações,em particular, a bactéria, por causa da elevada capacidade de sobrevivência no solo, piso, ralos, superfícies, água e alimentos, multiplica-se com relativa facilidade, mesmo sob condições adversas, fato que causa grande preocupação para a indústria alimentícia (GERMANO; GERMANO, 2015). A L. monocytogenes é uma bactéria não formadora de esporos, anaeróbia facultativa, apresenta mobilidade a 25 °C, mas a 35 °C torna-se imóvel. Possui capacidade de multiplicação a baixas temperaturas, podendo ser encontrada em alimentos armazenados em geladeiras e freezers. Assim, é capaz de multiplicar-se entre 2,5 °C e -44 °C, sendo resistente a sucessivos congelamentos e descongelamentos (ARRUDA et al., 2006). O intervalo de pH ótimo para a sua multiplicação fica em torno de 6 a 8, e a atividade de água necessária é muito baixa, de 0,83 (ARRUDA et al., 2006). 54 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II A maioria dos casos de contaminação de alimentos por Listeria ocorre nos seguintes alimentos: produtos lácteos (leite cru ou pasteurizado, sorvetes e queijos), produtos cárneos, crus ou termoprocessados de diversas origens (bovina, ovina, caprina, suína e de aves), peixes crus ou defumados e embutidos preparados com carne crua fermentada. Além desses alimentos, o leite materno de mães com listeriose é contaminado pelo agente causador (ARRUDA et al., 2006). O quadro do paciente acometido pela listeriose tem início com sintomas semelhantes aos da gripe, podendo evoluir para septicemia, meningite, meningocefalite, febre, vômitos e diarreia. As gestantes são praticamente assintomáticas, podendo apresentar, na maioria dos casos, apenas sintomas semelhantes aos da gripe, isso porque o agente acomete preferencialmente o feto, podendo ocorrer abortos, partos prematuros ou nascimento de crianças extremamente doentes (GERMANO; GERMANO, 2015). É importante salientar que os recém-nascidos podem contrair a listeriose pós-natal do leite materno de mães infectadas ou de outras crianças infectadas nos berçários (ARRUDA et al., 2006). O período de incubação da Listeria monocytogenes varia de 1 dia a 3 semanas. Pessoas sadias, sobretudo com relação ao estado imune, quando expostas ao agente, geralmente não desenvolvem os sintomas da infecção (ARRUDA et al., 2006). O método mais empregado para diagnóstico consiste no isolamento do agente a partir do sangue e do líquor dos pacientes, ou da placenta e do feto das gestantes. Quando há a necessidade de um diagnóstico mais rápido, podem-se utilizar os testes imunoenzimáticos, disponíveis no comércio. Os métodos para isolamento da bactéria em alimentos ainda são muito complexos e demoram de 5 a 7 dias para serem realizados (ARRUDA et al., 2006). Para o tratamento da listeriose, são recomendados antibióticos (ARRUDA et al., 2006). A letalidade da listeriose atinge 25% dos adultos com idade inferior a 60 anos e 40% daqueles com mais de 60 anos; 84% dos casos de infecção ocorrem abaixo dos 50 anos, enquanto 40% verificam-se acima dos 70 anos (GERMANO; GERMANO, 2015). De acordo com Arruda (2007), um terço dos casos de infecção acomete gestantes, fetos e recém-nascidos; grupos também importantes a serem citados como os mais acometidos os enfermos submetidos a transplante de órgãos, pacientes com aids, indivíduos infectados pelo HIV, doentes com câncer e idosos. Como há grande dificuldade na eliminação do agente do meio ambiente e dos alimentos, as medidas de maior importância são dificultar a contaminação ao máximo nos locais de processamento de alimentos, realizar a triagem criteriosa dos fornecedores de matérias-primas, além de cumprir todas as etapas de processamento, conforme descritas pelas Boas Práticas de Fabricação (GERMANO; GERMANO, 2015). 55 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS 8.3 Clostridium botulinum A doença causada pelo Clostridium botulinum denomina-se botulismo e pode ser subdividida em três tipos: • Botulismo alimentar: ocorre pela ingestão de toxinas produzidas pelo Clostridium botulinum presente em alimentos que foram contaminados por terem sido produzidos ou conservados de maneira inadequada. • Botulismo por ferimentos: acontecem pela contaminação de ferimentos pela bactéria C. botulinum, que, em condições de anaerobiose, assume a forma vegetativa e produz toxina in vivo. • Botulismo intestinal: resulta da ingestão de esporos presentes no alimento, seguida da germinação de produção da toxina botulínica no interior do intestino. Esta última forma de botulismo é mais comum em crianças de até 12 meses de idade pelo fato de a microflora intestinal das crianças não ser capaz de impedir a colonização da bactéria (BRASIL, 2006; 2009). Neste livro-texto serão descritos mais detalhadamente o botulismo intestinal e o alimentar, por serem incluídos no rol das doenças transmitidas por alimentos. O agente etiológico do botulismo pode ser encontrado no solo, nos sedimentos aquáticos e no intestino de herbívoros e peixes. Apesar de sua ampla distribuição na natureza, os níveis de contaminação são baixos (GERMANO; GERMANO, 2015). As células vegetativas do C. botulinum são destruídas rapidamente pelas temperaturas de pasteurização e cocção culinária, porém as toxinas botulínicas são as mais ativas que se conhece, podendo levar um indivíduo à morte mesmo em quantidades ínfimas (BRASIL, 2009). A distribuição do botulismo é mundial, com casos esporádicos ou surtos familiares, em geral relacionados à produção e à conservação de alimentos de maneira inadequada. Raramente ocorrem surtos envolvendo produtos processados comercialmente. A notificação de um caso suspeito é considerada surto e emergência de saúde pública (BRASIL, 2009). O Clostridium botulinum é uma bactéria esporulada, anaeróbia e produtora de toxinas patogênicas ao ser humano. Seus esporos são resistentes a temperaturas de até 120 °C por 15 minutos (BRASIL, 2006; BRASIL, 2009). As condições ideais para que a bactéria assuma a forma vegetativa produtora da toxina são: ausência de oxigênio, pH alcalino ou próximo do neutro (4,8 a 8,5), atividade de água de 0,95 a 0,97 e temperatura ótima de 37 °C (BRASIL, 2006). A toxina é termolábil, sendo inativada pelo calor em uma temperatura de 80 °C por, no mínimo, 10 minutos (BRASIL, 2009). 56 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II Os esporos contidos nos alimentos contaminados germinam, dando origem às formas vegetativas, que, por sua vez, multiplicam-se e produzem a toxina botulínica. Porém, determinados fatores podem impedir a produção da toxina: umidade inferior a 30%, pH abaixo de 4,6 e concentrações de cloreto de sódio superiores a 8% (BRASIL, 2006). Os alimentos mais comumente envolvidos são: conservas vegetais, principalmente as artesanais (palmito, picles, pequi); produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto e salame); pescados defumados, salgados e fermentados; mel, queijos e pasta de queijos. Raramente estão envolvidos alimentos enlatados industrializados (BRASIL, 2006). No caso da contaminação pelo mel, são suscetíveis apenas as crianças menores de um ano de idade (BRASIL, 2006). O período de incubação do botulismo alimentar pode variar de 2 horas a 10 dias, enquanto o do botulismo intestinal não é conhecido devido à impossibilidade de detectar o momento exato da ingestão de esporos. Embora o local de produção da toxina botulínica seja diferente nos dois tipos de botulismo citados, todas as formas se caracterizam pelas manifestações neurológicas e/ou gastrointestinais.A doença apresenta elevada letalidade e deve ser considerada uma emergência médica e de saúde pública (BRASIL, 2006; BRASIL, 2009; GERMANO; GERMANO, 2015). No botulismo alimentar os sinais e sintomas iniciais são náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal e podem anteceder os sintomas neurológicos ou coincidir com eles, que têm início com cefaleia e vertigem, progredindo para visão turva, disfagia e boca seca. Com a evolução da doença, a fraqueza muscular pode se propagar de forma descendente para os músculos do tronco e dos membros, o que pode ocasionar dispneia e insuficiência respiratória. Na maioria dos casos, não há comprometimento da sensibilidade, o que auxilia no diagnóstico diferencial com outras doenças neurológicas (BRASIL, 2006; BRASIL, 2009; GERMANO; GERMANO, 2015). No botulismo intestinal, o aspecto clínico caracteriza-se por constipação e irritabilidade, seguidos de sintomas neurológicos caracterizados por dificuldade de controle dos movimentos da cabeça, sucção fraca (dos bebês), disfagia, choro fraco, hipoatividade e paralisias bilaterais descendentes, que podem progredir para comprometimento respiratório (BRASIL, 2006; BRASIL, 2009; GERMANO; GERMANO, 2015). O diagnóstico do botulismo é realizado, geralmente, por meio da coleta de soro sanguíneo, fezes e vômito de pacientes para pesquisa da toxina. Para minimizar o risco de morte e sequelas, é essencial que o diagnóstico seja feito rapidamente (GERMANO; GERMANO, 2015). A eficácia do tratamento terapêutico está intimamente relacionada com a precocidade do diagnóstico e do início do tratamento específico. Este deve ser realizado em unidade hospitalar que disponha de terapia intensiva (UTI), para possibilitar ações de suporte e monitorização cardiorrespiratória. Além disso, faz-se necessário o tratamento com soro antibotulínico (BRASIL, 2006). A variedade de alimentos passíveis de serem contaminados com a toxina botulínica é muito grande; assim, toda a população corre o risco de ser acometida pela doença, independentemente de idade 57 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS e do estado de saúde prévio, dado que, para causar a doença, o alimento ingerido necessita estar contaminado com doses muito pequenas da toxina (BRASIL, 2006). Pelo fato de muitos casos de contaminação pela toxina botulínica ou pelos esporos do Clostridium botulinum ocorrerem em conservas caseiras, uma boa medida de controle é preferir a utilização de conservas industrializadas, em detrimento das caseiras, tendo em vista que a possibilidade de falha no processo de produção caseiro é maior do que no industrial (GERMANO; GERMANO, 2015). São consideradas medidas de controle eficazes para destruição dos esporos do C. botulinum a conservação dos alimentos sob refrigeração e congelamento, a realização de processos de cura e/ ou acidificação de alimentos e a autoclavagem de embalagens de conservas pelas indústrias de alimentos. Além disso, é importante observar o estado de conservação da lataria de conservas, pois aquelas que se apresentarem amassadas, estufadas ou abauladas não deverão ser utilizadas (GERMANO; GERMANO, 2015). Lembrete Os alimentos mais comumente contaminados por Clostridium botulinum são as conservas de palmito, picles e pequi; salsichas, presunto e salame; pescados defumados, salgados e fermentados; mel, queijos e pasta de queijo. Observação O consumo de mel deve ser evitado entre crianças menores de um ano, visto que ainda não possuem um sistema imunológico totalmente formado, sendo mais suscetíveis à contaminação pelo Clostridium botulinum. 8.4 Clostridium perfringens O Clostridium perfringens é um dos agentes mais envolvidos em surtos de toxinfecções alimentares em todo o mundo (GERMANO; GERMANO, 2015). Os tipos desse organismo são classificados de acordo com suas exotoxinas produzidas. Existem cinco tipos diferentes, dos quais os tipos A, C e D são patogênicos para o ser humano (HATHEWAY, 1990). O C. perfringens tipo A está amplamente distribuído no ambiente, ocorrendo com frequência no intestino dos homens e dos animais. Seus esporos podem ser encontrados em fezes de seres humanos sadios, no solo, na água, nos sedimentos e nas áreas passíveis de contaminação por matéria fecal. O microrganismo na sua forma vegetativa, pode ser encontrado nos alimentos crus e nos cozidos (GERMANO; GERMANO, 2015). 58 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II A principal via de transmissão ocorre por meio dos alimentos contaminados por fezes ou sujidades do solo e armazenados em condições que favoreçam a multiplicação do agente em meio anaeróbio (OTUKI, 2010). O processo de infecção tem início com a ingestão de células do microrganismo na forma vegetativa, as quais ultrapassam a barreira gástrica, atingindo o intestino delgado, onde se desenvolvem, esporulam e liberam toxinas (GERMANO; GERMANO, 2015). Os surtos por infecção com Clostridium perfringens são comuns em locais onde são servidas refeições para um grande número de pessoas. Merendas escolares e restaurantes industriais de grande porte constituem alguns exemplos. Isso ocorre porque nesse tipo de estabelecimento os alimentos costumam ser preparados em grandes volumes e antecipadamente, sendo requentados no momento da distribuição. Dessa forma acaba ocorrendo a multiplicação do microrganismo quando o reaquecimento é realizado de maneira inadequada (OTUKI, 2010). O C. perfringens é um microrganismo anaeróbio, esporulador, produtor de toxinas. Sua temperatura ótima de desenvolvimento está na faixa de 43 °C a 47 °C (HATHEWAY, 1990). Essa bactéria é sensível ao congelamento e suas enterotoxinas podem ser inativadas por meio de processo térmico, com tempo e temperaturas adequadas, conforme o tipo de alimento. Nos produtos curados, as células vegetativas não são capazes de germinar, devido aos teores de cloreto de sódio e nitritos (HATHEWAY, 1990). O pH ótimo para sua multiplicação é de 7,2, porém podem sobreviver ao pH mínimo de 5,5 na sua forma vegetativa (GRANUN, 1990). A atividade de água considerada ideal está na faixa de 0,93 a 0,97 (GRANUN, 1990). Os alimentos geralmente envolvidos em contaminação pelo Clostridium perfringens são carnes e produtos cárneos, aves, molhos de carnes, embutidos, conservas de peixes, patês e ostras (OTUKI, 2010). As enterotoxinas são as responsáveis pela sintomatologia do quadro clínico (GERMANO; GERMANO, 2015). De acordo com Otuki (2010), o período de incubação varia de 8 a 24 horas, quando o paciente apresenta sintomas de intensas cólicas abdominais e diarreia aquosa. O caso mais grave de infecção pelo C. perfringens é provocado por cepas do tipo C. Nessa situação há o quadro de enterite necrótica, caracterizado por infecção e necrose da mucosa intestinal, podendo evoluir para óbito dos pacientes (OTUKI, 2010). Para confirmação do diagnóstico é utilizado o isolamento da bactéria, feito laboratorialmente em amostras de alimentos suspeitos ou fezes dos pacientes. No entanto, antes da análise laboratorial é importante considerar os sinais clínicos, o período de incubação e o tipo de alimento ingerido (OTUKI, 2010). 59 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS Nos casos de infecção por C. perfringens, os antibióticos não são recomendados. A conduta a ser adotada, apenas nos casos mais graves em que há perfuração ou obstrução intestinal, é o ato cirúrgico para remoção das áreas afetadas (OTUKI, 2010). O principal grupo que está exposto à infecção são as pessoasque se utilizam de serviços de alimentação coletiva, como cantinas escolares, refeitórios de hospitais, indústrias, entre outros, porém toda a população é passível de adquirir a infecção (OTUKI, 2010). O contato humano com C. perfringens está relacionado, principalmente, ao consumo de alimentos cozidos que foram resfriados lentamente ou armazenados sob temperatura abusiva, e consumidos posteriormente sem o reaquecimento suficiente para destruir as células vegetativas. Esse tipo de situação ocorre na maioria dos casos com as carnes. Dessa forma, recomenda-se seguir as boas práticas de fabricação no momento do resfriamento pós-cocção, que deve ser realizado sob refrigeração, e do reaquecimento, que deve ocorrer de forma que o centro geométrico do alimento atinja a temperatura de 74 °C e, posteriormente, seja mantido a temperaturas acima de 60 °C durante o processo de distribuição dos alimentos aos comensais (GERMANO; GERMANO, 2015). Veja o passo a passo de uma estória fictícia que se passa em uma cozinha escolar e que culmina em uma intoxicação alimentar causada por Clostridium perfringes na população de escolares: • Fato 1: na terça-feira, pela manhã, a escola recebeu uma grande quantidade de carne de boi que seria servida na quarta-feira. • Fato 2: na própria terça-feira, à tarde, essa carne de boi foi cozida em uma grande panela com capacidade para 10 quilos de carne cozida. • Fato 3: na cozinha da escola não havia um local refrigerado para colocar as carnes já cozidas e, por isso, elas ficaram expostas sobre o fogão da cozinha com um pano por cima, deixando a carne esfriar lentamente. Atenção: este fato foi o principal causador do início da multiplicação das bactérias. Sempre é importante manter os alimentos em temperatura adequada. • Fato 4: durante a noite de terça-feira as bactérias presentes na carne cresceram e se multiplicaram, produzindo esporos termorresistentes. • Fato 5: as bactérias se multiplicaram muito mais depois que a carne foi reaquecida e foi acrescentada a ela um molho de tomate. Atenção: o reaquecimento lento fez com que as bactérias se multiplicassem ainda mais, pois muito provavelmente atingiu a temperatura ótima de multiplicação. • Fato 6: das 350 crianças da escola que comeram a carne que foi servida na quarta-feira, 300 desenvolveram dor de barriga e diarreia. 60 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II Saiba mais Para saber mais sobre contaminação alimentar por Clostridium botulinum, leia o artigo científico: CERESER, N. D. et al. Botulismo de origem alimentar. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 1, p. 280-287, jan./fev. 2008. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/cr/v38n1/a49v38n1.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2016. 8.5 Escherichia coli A Escherichia coli faz parte da flora intestinal de seres humanos e animais de sangue quente, com os quais possui uma relação de comensalismo, suprimindo bactérias nocivas e participando da síntese de muitas vitaminas (KAPER; NATARO; MOBLEY, 2004). Por ser uma bactéria eliminada pelas fezes, é largamente disseminada no meio ambiente pela água, especialmente em países onde há saneamento básico ineficiente. A contaminação ocorre, principalmente, por meio da utilização de água contaminada com fezes na irrigação e nos estabelecimentos processadores de alimentos ou por meio da manipulação de alimentos por pessoas sem higiene (BUERIS, 2005). As diarreias causadas pela E. coli apresentam distribuição mundial e acontecem pela ingestão de alimentos contaminados com o microrganismo. As E. coli podem ser divididas em sete tipos, mas neste material serão citados apenas os principais, a saber: E. coli enteropatogênica (EPEC); E. coli enterotoxigênica (ETEC); E.coli enteroinvasiva (EIEC); E. coli êntero-hemorrágica (EHEC). De todas essas classes, a que representa maior preocupação para as autoridades de saúde é a êntero-hemorrágica, causada pela E. coli O15:H7, pela gravidade de seus sintomas (KAPER; NATARO; MOBLEY, 2004). A E. coli é uma bactéria não produtora de esporos, produtora de toxinas (no caso de algumas cepas), mesófila, com temperatura ótima de desenvolvimento de 37 °C; não apresenta termorresistência, sendo destruída a 60 °C em poucos minutos, porém é capaz de resistir por longo tempo à temperatura de refrigeração (BUERIS, 2005). Segundo Beppler (2015), a atividade de água mínima necessária para seu desenvolvimento é de 0,95 e o pH ótimo é de 7,5. Todas as cepas patogênicas da E. coli são destruídas por desinfetantes clorados, daí a importância da higienização de equipamentos, móveis e utensílios nos estabelecimentos produtores de alimentos, além da higienização de frutas, verduras e legumes com hipoclorito de sódio (BEPPLER, 2015). De acordo com Bueris (2005), a mais importante fonte de contaminação é a água de abastecimento não tratada, que pode vir a contaminar os alimentos durante a irrigação, durante sua utilização nas residências e nos estabelecimentos produtores de alimentos e por meio da ingestão. Outra forma 61 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS de contaminação importante é pela exposição dos alimentos a material fecal por meio das mãos incorretamente higienizadas de manipuladores de alimentos. Há relatos de casos de surtos envolvendo carnes bovina (principalmente hambúrguer) e de aves cruas ou insuficientemente cozidas, leite ou sucos de frutas não pasteurizados e, em menor quantidade, queijos (BUERIS, 2005). O tempo de incubação e os sintomas variam de acordo com o tipo de E. coli, a idade e a condição imunológica do paciente (BUERIS, 2005; GERMANO; GERMANO, 2015). A infecção por EPEC caracteriza-se por diarreia aquosa com muco, náuseas, dores abdominais, vômitos, cefaleia, febre e arrepios; seu tempo médio de incubação é de 36 horas (BUERIS, 2005; KAPER; NATARO; MOBLEY, 2004). No caso da infecção por ETEC, os sintomas são diarreia aquosa, febre, cólicas abdominais, mal-estar e náuseas. O período de incubação varia de 8 a 44 horas (BUERIS, 2005). A infecção por EHEC apresenta um quadro de colite hemorrágica com fezes sanguinolentas, dor abdominal intensa e vômitos. Seu período de incubação é de 3 a 9 dias (BUERIS, 2005). O período de incubação médio é de 11 horas nos casos de infecção por EIEC, tendo como sintomatologia diarreia, cólicas abdominais, arrepios, febre, cefaleia e mialgia; muco e sangue podem ser encontrados nas fezes dos pacientes (BUERIS, 2005). O isolamento da bactéria nas fezes de pacientes e/ou do alimento suspeito é uma das formas de confirmação de diagnóstico da doença (GERMANO; GERMANO, 2015). O tratamento varia conforme a gravidade da doença. No entanto, na maioria dos casos, o restabelecimento ocorre em dois ou três dias, sendo necessária apenas a reidratação do paciente nesse período (BUERIS, 2005). Nos casos mais graves, em que é necessária a utilização de antibióticos, é importante confirmar o tipo de E. coli que acometeu o paciente, pois algumas dessas bactérias são resistentes a antibióticos específicos (BUERIS, 2005). Todas as pessoas podem vir a se contaminar com E. coli, porém crianças e idosos são os grupos que mais padecem com os sintomas (BEPPLER, 2015). As pessoas mais acometidas podem ser divididas em grupos conforme o tipo de E. coli: (BUERIS, 2005): • E. coli enteropatogênica: recém-nascidos e lactentes. • E. coli enterotoxigênica: crianças e viajantes. • E. coli êntero-hemorrágica: crianças e idosos. 62 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II Para evitar a contaminação dos alimentospor esse microrganismo, é preciso ter cuidado com a cadeia produtora de alimentos desde a escolha dos fornecedores de matérias-primas, passando pela água utilizada nos processos, até o controle do produto final. Todas essas etapas devem seguir as boas práticas de fabricação (GERMANO; GERMANO, 2015). Os pontos mais importantes a serem levados em consideração são a higienização tanto dos locais produtores de alimentos quanto dos locais de ordenha e abate, a qualidade da água utilizada em toda a cadeia produtiva do alimento, incluindo a água utilizada na irrigação, a higiene dos manipuladores de alimentos, o controle do processo de resfriamento correto dos alimentos e o tratamento térmico correto dos produtos de origem animal (GERMANO; GERMANO, 2015). 8.6 Salmoneloses O agente causador das salmoneloses é a Salmonella, considerada a mais importante bactéria quando se fala em doenças transmitidas por alimentos, a maioria destas patogênica ao ser humano (FRANZOLIN, 2005). Dentre as diversas espécies e subespécies da bactéria do gênero Salmonella, a typhmurium é relatada com maior frequência nos casos de gastroenterites no homem; já a S. thyphi é o agente etiológico da febre tifoide; a Salmonella paratyphi A, S, C e sendai são espécies específicas do homem (reservatório natural) responsáveis pela síndrome septicêmica-tifoide. As salmonelas têm como reservatório o trato gastrointestinal de aves, répteis e mamíferos domésticos e silvestres; a maior disseminação está entre as aves e os suínos. A maioria desses animais apresenta-se apenas como portador do microrganismo, sem manifestar sintomas da doença (FRANZOLIN, 2005). O ciclo de infecção para o homem ocorre principalmente pela via fecal-oral, pelas fezes, pela água e pelos alimentos de origem vegetal e animal ingeridos. Nos casos de produtos de origem vegetal, a infecção ocorre pela ingestão desses produtos contaminados com adubo ou água de irrigação contendo o microrganismo (GERMANO; GERMANO, 2015). Após a ingestão do alimento contaminado, as bactérias penetram no epitélio do intestino delgado, multiplicando-se, provocando inflamação e, em alguns casos, produzindo toxinas (GERMANO; GERMANO, 2015). Outras formas de contaminação também já foram descritas na literatura. Schloesser, Schaefer e Groll (2004) descreveram um caso de transmissão transplacental em seres humanos. Reller et al. (2003) documentaram casos de febre tifoide entre sete homossexuais masculinos com história de relação sexual oroanal e/ou orogenital com o parceiro comum portador de Salmonella typhi. As salmonelas são bactérias formadoras de esporos, anaeróbias facultativas, redutoras de nitratos e nitritos; algumas podem produzir toxinas, são geralmente móveis e possuem flagelos (NASCIMENTO, 2002). 63 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS A temperatura ideal para multiplicação é de 37 °C, mas pode ocorrer também na faixa de temperatura de 7 °C a 49,5 °C. A atividade de água em níveis adequados é de extrema importância para o seu desenvolvimento, sendo o limite mínimo de 0,94, embora existam relatos de salmonelas que sobreviveram durante anos em baixos níveis de atividade de água em alimentos como o chocolate (FRANZOLIN, 2005). O pH mínimo para seu desenvolvimento é de 3,8. Abaixo ou acima desse valor há diminuição da atividade de multiplicação (FRANZOLIN, 2005). Os alimentos mais envolvidos são aqueles com alto teor de umidade e porcentagem de proteínas. São eles os leites e queijos cremosos, ovos utilizados crus ou malcozidos em preparações, carnes (bovina, suína e de aves). Em menor grau de envolvimento em surtos, tem-se peixes, camarões, pernas de rã, sobremesas recheadas com cremes, manteiga de amendoim e chocolate (GERMANO; GERMANO, 2015) Os vegetais podem se apresentar contaminados quando há utilização de água de fonte não tratada e adubo orgânico contaminado nos processos de plantio (FRANZOLIN, 2005). O quadro clínico das gastroenterites causadas por salmonelas, apresentado no período agudo, caracteriza-se por cólicas abdominais, náuseas, vômito, diarreia, calafrios, febre e cefaleia. Nas infecções crônicas, podem ser observados sintomas de artrite 3 a 4 semanas depois da manifestação do quadro agudo (GERMANO; GERMANO, 2015) Nos casos de infecção por Salmonella causadora de febre tifoide, os sintomas são febre, calafrios, cefaleia, prostração, anorexia, náusea, desconforto abdominal e tosse seca. O abdômen fica sensível à palpação, sendo comuns hepatomegalia e esplenomegalia, aumento do fígado e do baço, respectivamente. A progressão da doença caracteriza-se por perfuração intestinal causando importante sangramento (NASCIMENTO, 2002). O período de incubação médio é de 18 horas para a maioria das salmonelas; porém, nos casos de salmonelas causadoras de febre tifoide, esse período pode ser de 10 a 14 dias (NASCIMENTO, 2002). Devem ser levados em consideração os sinais clínicos, o período de incubação e os tipos de alimentos ingeridos. Para comprovação do diagnóstico, é realizada a identificação sorológica do agente, determinando-se o tipo de salmonela que acometeu o paciente. Nos casos de gastroenterites causadas por salmonelas, recomendam-se a reidratação do paciente e tratamento de suporte para diminuição da severidade de sintomas como cólicas, vômitos e diarreia. Para os grupos de risco (pessoas com sistema imunológico debilitado), para crianças e para pacientes com febre tifoide, o tratamento com antimicrobianos faz-se necessário (NASCIMENTO, 2002). De maneira geral, estão expostas ao agente causador das salmoneloses todas as pessoas que habitam áreas com precárias condições de saneamento ambiental (NASCIMENTO, 2002). 64 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II As pessoas mais acometidas são aquelas que têm por costume o consumo de alimentos crus ou malcozidos, tais como carnes e gemas de ovos. Também estão expostos os trabalhadores rurais que trabalham na agricultura e na manufatura de produtos animais (NASCIMENTO, 2002). Para evitar a salmonelose, os estabelecimentos produtores de alimentos devem selecionar bem os seus fornecedores de matérias-primas, a fim de verificar se utilizam água tratada. Nos casos de ovos e carnes, é importante verificar se há veterinário responsável na área do abate, assim como a higiene desses locais e a presença de selos de certificação nas embalagens dos produtos, fornecidos pelos órgãos competentes (GERMANO; GERMANO, 2015; NASCIMENTO, 2002). Além da correta seleção dos fornecedores, é importante seguir as boas práticas de Fabricação, principalmente no que diz respeito à conservação e à cocção em temperaturas corretas e ao controle da qualidade da água de abastecimento (GERMANO; GERMANO, 2015; NASCIMENTO, 2002). O quadro a seguir ilustra os principais tipos de alimentos envolvidos em surtos alimentares por Salmonella na Inglaterra e no País de Gales entre 1987 e 1990, assim como o número de pessoas afetadas e os locais em que foram servidos os alimentos. Quadro 14 – Principais tipos de alimentos envolvidos em surtos alimentares por Salmonella na Inglaterra e no País de Gales de 1987 a 1990 Ano Tipo de alimento Localização do consumo Número de pessoas Infectadas Com risco de serem infectadas 1987 Patê de fígado de frango Hotel 169 553 Peru Restaurante 35 102 Bolo recheado de creme Buffet de casamento 60 102 Frango Restaurante 60 400 Carne de vaca e peru Hotel 49 59 Alimentos diversos Avião 53 88 Carne de porco Buffet de casamento 50 90 Peru Pousada 30 79 Carne de vaca Buffet de casamento 24 180 Frango Restaurante 50 80 1988 Peru ao curry Cantina65 400 Patê de fígado de frango Hotel 169 553 Sobremesa gelada Coquetel 18 33 Frango com maionese Clube 30 70 Sorvete caseiro Prefeitura 18 75 Peru Restaurante 34 92 Torta de frango e presunto Clube 101 191 Doce de amêndoas Conferência 96 472+ Peru Hotel 35 53 Creme de coco Centro de convenções 51 123 65 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS 1989 Sobremesa Escola 60 130 Carne picada Creche 100 107 Coquetel de camarão com molho rosé Restaurante 54 110 Quiche de frango Banquete de casamento 66 102 Maionese Escola 72 100 Peru Banquete de casamento 67 159 Carne de vaca Banquete de casamento 106 222 1990 Merengue Acampamento infantil 42 48 Maionese Hotel 91 110 Frango Coquetel 86 93 Salada de frango e repolho Escola 42 86 Buffet frio de saladas Banquete de casamento 80 100 Frango Acampamento infantil 38 70 Peru Hotel 50 210 Frango com maionese Comida de empresa – refeição para o trabalhador servida na própria empresa 90 362 Adaptado de: Hobbs e Roberts (1997). Lembrete A Salmonella é considerada a mais importante bactéria quando se fala em doenças transmitidas por alimentos, e a maioria das salmoneloses é patogênica ao homem. 8.7 Shigelose ou disenteria bacilar A shigelose ou disenteria bacilar é a doença causada pela bactéria Shigella, que tem como principal sintoma a diarreia, resultante de inflamação aguda no trato intestinal (GERMANO; GERMANO, 2015). O agente etiológico da shigelose é restrito aos seres humanos, acometendo raramente outros animais (VICENTE, 2006). O principal reservatório é o intestino humano. Assim, essas bactérias são encontradas com relativa frequência em águas contaminadas com fezes humanas (VICENTE, 2006). As principais formas de contaminação são de pessoa a pessoa, por via oral-fecal, ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados. As fezes de doentes na fase aguda da infecção ou de convalescentes com sintomas atípicos são a principal fonte de contaminação do meio ambiente com a Shigella (VICENTE, 2006). 66 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II A shigelose se instala no organismo humano por meio da ingestão da bactéria Shigella, que adere e penetra nas células epiteliais da mucosa do intestino grosso ou cólon, onde se multiplica e, posteriormente, invade as células vizinhas, causando lesões ulcerativas na mucosa (VICENTE, 2006). Além do intestino, essa bactéria pode invadir as células epiteliais do geniturinário e da córnea (GERMANO; GERMANO, 2015). A bactéria causadora da diarreia bacilar caracteriza-se por ser anaeróbia facultativa; algumas cepas produzem endo e enterotoxinas, são mesófilas, desenvolvendo-se em temperatura média na faixa de 6,1 °C a 47,1 °C, porém são destruídas a temperaturas superiores a 65 °C (VICENTE, 2006). O pH ótimo para o seu desenvolvimento encontra-se na faixa entre 4,9 e 9,3, mas as bactérias não resistem a valores inferiores a 4,5 na maioria das cepas (VICENTE, 2006; GERMANO; GERMANO, 2015). Nenhuma das cepas da Shigella sobrevive à pasteurização e à radiação ionizante, nem a desinfetantes clorados ou a base de iodo quaternário (VICENTE, 2006; GERMANO; GERMANO, 2015). Os alimentos frequentemente contaminados com Shigella são as saladas de batata, atum, camarão, macarrão, peru e frango, vegetais crus, leite sem pasteurização, queijo, manteiga, arroz cozido, hambúrguer, peixes e frutos do mar (VICENTE, 2006; GERMANO; GERMANO, 2015). O período de incubação da Shigella varia de 12 horas a 4 dias, em média. O quadro clínico é autolimitante nos adultos em boas condições de saúde; porém, nas crianças menores de 12 anos, podem ocorrer complicações neurológicas, insuficiência renal e até a morte (VICENTE, 2006). Quando a infecção ocorre por S. dysenteriae, S. flexneri e S. boydii, os sintomas são dores abdominais, cólicas, diarreia com sangue, pus ou muco, febre e vômito. Já na shigelose por S. sonnei os sintomas são os mesmos, com exceção do tipo de diarreia provocada, que é a aquosa (GERMANO; GERMANO, 2015). As entero e endotoxinas produzidas por algumas cepas de Shigella são responsáveis pelo sintoma de febre, inflamação da parede intestinal, degeneração das vilosidades e erosão do epitélio intestinal (VICENTE, 2006). O diagnóstico é realizado pelo isolamento e identificação da bactéria em fezes de pacientes (GERMANO; GERMANO, 2015). Como os sintomas são autolimitantes, recomenda-se apenas a realização de reidratação do paciente; apenas nos casos mais graves são indicados antibióticos (VICENTE, 2006; GERMANO; GERMANO, 2015). Os grupos mais vulneráveis à infecção por Shigella são crianças de 1 a 4 anos, idosos, pessoas debilitadas e homossexuais (VICENTE, 2006; GERMANO; GERMANO, 2015). 67 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS As medidas de controle estão intimamente relacionadas com a higiene pessoal e o saneamento ambiental (VICENTE, 2006; GERMANO; GERMANO, 2015). Nos locais produtores e processadores de alimentos é importante seguir as boas práticas de fabricação, dando ênfase à higiene pessoal, sobretudo às técnicas e a frequência de lavagem de mãos e higiene operacional, evitando-se ao máximo o contato direto das mãos dos manipuladores com os alimentos prontos para o consumo e realizando a correta higienização do ambiente de trabalho. 8.8 Staphylococcus aureus Diversas espécies de Staphylococcus são patogênicas para humanos e animais, causando grande preocupação tanto no setor de alimentos quanto na área médica (TRABULSI, 2004). O Staphylococcus aureus é a espécie mais patogênica para o ser humano. É uma bactéria formadora de biofilmes que são caracterizados por comunidades complexas de organismos envoltos por substâncias, principalmente açúcares, produzidas por elas próprias. Esse tipo de formação torna-os mais resistentes a adversidades ambientais, do sistema imunológico do hospedeiro e de antibióticos, por este motivo é considerada uma bactéria de preocupação tanto para as indústrias de alimentos quanto para a área médica (TRABULSI, 2004). O S. aureus pode ser encontrado na pele, nas mucosas do trato respiratório superior e no intestino humano (principal reservatório), além de estar presente na flora bacteriana de animais silvestres e domésticos. Dessa forma, o homem, mesmo em bom estado de saúde, possui esta bactéria em seu organismo, constituindo fonte de contaminação dos alimentos por ele preparados, e estes, por sua vez, oferecem risco para os consumidores (GERMANO; GERMANO, 2015). A infecção por S. aureus ocorre, geralmente, pela ingestão de alimentos contaminados em razão de técnicas incorretas de cocção com temperaturas insuficientes para inativação das bactérias, conservação do alimento em temperaturas abusivas e secreções da boca e nariz dos manipuladores de alimentos, além do contato com mãos ou superfícies higienizadas de maneira incorreta (TRABULSI, 2004). O S. aureus é uma bactéria formadora de esporos e biofilmes, anaeróbia facultativa e pode ser produtora de enterotoxinas (TRABULSI, 2004). Sua temperatura ótima de multiplicação é de 37 °C, porém as enterotoxinas são produzidas entre 10 °C e 48 °C (TRABULSI, 2004). As faixas de pH e atividade de água suportadas pela bactéria são muito amplas, o mesmo sucedendo com a produção de toxina, embora os limites desta sejam ligeiramente menores. O pH situa-se entre 4 e 10, e a atividade de água, entre 0,83 e 0,99; sempre há alguma variação de acordo com o substrato em que a bactériase encontra (TRABULSI, 2004). 68 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II O S. aureus tem preferência por alimentos com alto teor de umidade e proteínas para se desenvolver; os que aparecem geralmente relacionados a surtos são o leite e seus derivados, tortas e doces recheados de creme e as bombas de chocolate (GERMANO; GERMANO, 2015). Além dos citados, a bactéria pode ser encontrada em todos os alimentos que requerem considerável manipulação durante o seu preparo e cuja temperatura de conservação é inadequada; alguns exemplos são saladas e recheios de sanduíches, carnes (bovinas, suínas e de aves) e ovos (GERMANO; GERMANO, 2015). Os sintomas mais comuns são náusea, vômito, cólicas abdominais e diarreia. Nos casos mais graves podem ocorrer cefaleia e prostração, sendo os sintomas autolimitantes na maioria dos casos (TRABULSI, 2004). O período de incubação médio é de 2 a 4 horas; o início dos sintomas é, geralmente, rápido e agudo, dependendo da suscetibilidade do paciente à toxina, bem como da quantidade de alimento contaminado que foi ingerido (TRABULSI, 2004). A avaliação dos sinais clínicos, do tempo de incubação e dos tipos de alimentos ingeridos é importante para o diagnóstico da infecção, porém apenas a análise microbiológica ou a detecção de toxinas no alimento suspeito podem ser conclusivas para o diagnóstico (GERMANO; GERMANO, 2015). Os pacientes acometidos pela infecção do S. aureus devem ser reidratados; nos casos de vômitos excessivos, é importante a prescrição de medicamentos antieméticos. Caso a perda de líquidos seja intensa, recomenda-se a reposição por via endovenosa (GERMANO; GERMANO, 2015). Todos os seres humanos podem se contaminar com o S. aureus, pois esta bactéria se encontra amplamente distribuída no ambiente, nos animais e no próprio homem (TRABULSI, 2004). Para evitar a contaminação de alimentos com essa bactéria, as regras de higiene pessoal e operacional nos estabelecimentos produtores de alimentos devem ser reforçadas, além da oferta, aos manipuladores de alimentos, de treinamento correto com relação à higiene de alimentos, equipamentos, móveis e utensílios e com relação à temperatura de cocção e conservação (GERMANO; GERMANO, 2015). O quadro a seguir ilustra os principais tipos de alimentos envolvidos em surtos alimentares por Staphylococcus aureus na Inglaterra e no País de Gales, de 1987 a 1991, assim como o número de pessoas afetadas e os locais que serviram as refeições. 69 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS Quadro 15 – Principais tipos de alimentos envolvidos em surtos alimentares por Staphylococcus aureus na Inglaterra e no País de Gales de 1987 a 1990 Ano Tipo de alimento Localização do consumo Número de pessoas Infectadas Com risco de serem infectadas 1987 Frango Casa de portadores de necessidades especiais 15 44 Presunto Coquetel 22 99 Quiche Festa de batizado 18 47 Sanduíche de maionese e ovo Lanchonete 10 1988 Comida japonesa Catering 72 Sanduíche de maionese e ovo Lanchonete de empresa 18 20 Presunto Residência particular 4 famílias 1989 Carne de boi enlatada Residência particular 40 Presunto Mercado 4 4 Frango ao molho Creche 16 30 Pato Residência particular 2 2 1990 Prato à base de peixe, arroz e curry Cruzeiro 7 107 Frango ao molho Piquenique 24 66 Carne de vaca enlatada Residência particular 3 Presunto Lanchonete-café 8 1991 Frango ao molho Festa 12 39 Pudim de chocolate Catering 26 Peru Residência particular 3 3 Adaptado de: Hobbs e Roberts (1997, p. 82). A seguir, quadro com os principais fatores que contribuíram para o desenvolvimento de surtos de DTAs na Inglaterra e no País de Gales entre 1970 e 1982 por algumas bactérias importantes já mencionadas neste material. 70 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II Quadro 16 – Fatores que contribuíram na ocorrência de1.490 surtos por intoxicação alimentar na Inglaterra e no País de Gales (1970-1982) Fatores que contribuíram Samonella (número de surtos) Clostridium perfringens (número de surtos) Staphylococcus aureus (número de surtos) Bacillus cereus (número de surtos) Outros (número de surtos) Total Preparar o alimento com muita antecedência 240 464 80 54 6 844 Deixar o alimento em temperatura ambiente 172 276 75 39 4 566 Esfriamento inadequado 125 313 12 17 1 468 Reaquecimento inadequado 76 275 5 33 2 391 Alimento processado contaminado 100 19 27 4 86 246 Falta de cocção 139 74 2 1 7 223 Alimento enlatado contaminado 2 4 42 1 55 104 Descongelamento incorreto 61 34 95 Contaminação cruzada 84 8 2 94 Consumo de alimento cru 84 1 8 93 Manutenção incorreta dos alimentos quentes – balcão térmico em temperatura inadequada 15 52 8 2 77 Manipuladores de alimentos contaminados 13 50 65 Uso de sobras 25 25 11 1 62 Preparar quantidades excessivas de comida 29 17 2 48 Total 566 525 166 63 159 1479 Adaptado de: Hobbs e Roberts (1997, p. 197). No quadro é possível notar que a maioria dos surtos por Salmonella ocorreu em razão do preparo do alimento com antecedência (n = 240), fator que foi também observado nos surtos por Clostridium perfringens (n = 464), Staphylococcus aureus (n = 80) e Bacillus cereus (n = 54). Assim, o controle do tempo na etapa de preparo de alimento em uma cozinha deverá ser feito para que a comida não seja preparada muito tempo antes de ser servida, pois, caso isso aconteça, a temperatura do alimento irá reduzir-se gradualmente, atingindo o ponto ótimo de proliferação de bactérias. 71 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS Saiba mais Para entender mais sobre os diversos tipos de DTAs, formas de controle e tratamento, consulte: BRASIL. Ministério da Saúde. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimentos. Brasília, 2010. (Série A – Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: <http://portalsaude.saude. gov.br/images/PDF/2014/setembro/22/Manual-VE-DTA.PDF>. Acesso em: 11 ago. 2016. Resumo Vimos nesta unidade que as bactérias patogênicas utilizam-se de diferentes métodos para atingirem o seu habitat, apossarem-se das reservas metabólicas de seus hospedeiros, reproduzirem-se, disseminarem- se pelos organismos parasitados e serem eliminadas para atingir novos hospedeiros, de modo que garanta a sua perpetuação no ambiente. Nessa interação, as bactérias podem destruir o hospedeiro ou serem destruídas pela ação do sistema imunológico do hospedeiro. A diarreia de natureza infecciosa é um sintoma comum em infecções por bactérias, constituindo um dos mais importantes problemas de saúde pública de repercussão mundial e a principal causa de óbito entre crianças que habitam países em desenvolvimento. A bactéria Bacillus cereus é muito encontrada nas instalações industriais e comerciais de alimentos e pode ser apresentada na forma de esporos, produzindo enzimas e toxinas causadoras de vômitos e diarreia. O Bacillus cereus é encontrado principalmente em produtos cárneos, pescados, hortaliças, leite e derivados, cremes, sopas e molhos, purê de batata, salada de legumes e, em especial, no arroz. A Listeria monocytogenes é o agente etiológico da listeriose, doença reconhecida nos animais desde 1926. Bactéria amplamente distribuídadesde a produção até o consumo de alimentos, pode ser encontrada até em alimentos mantidos em baixas temperaturas, sendo, portanto, de difícil controle. A Listeria monocytogenes é encontrada, principalmente, em leite cru ou pasteurizado, sorvetes e queijos, produtos cárneos crus ou termoprocessados de diversas origens (bovina, ovina, caprina, suína e de aves), peixes crus ou defumados e embutidos preparados com carne crua fermentada. 72 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II A doença causada pelo Clostridium botulinum denomina-se botulismo. O botulismo pode ser dos tipos intestinal e alimentar. O agente etiológico do botulismo pode ser encontrado no solo, nos sedimentos aquáticos e no intestino de herbívoros e peixes, e apesar de sua ampla distribuição na natureza, os níveis de contaminação são baixos, por isso a notificação de um caso suspeito é considerada surto e emergência de saúde pública. Os alimentos mais comumente envolvidos com o botulismo são: conservas vegetais, principalmente as artesanais (palmito, picles, pequi); produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto e salame); pescados defumados, salgados e fermentados; mel, queijos e pasta de queijos. O Clostridium perfringens é um dos agentes mais envolvidos em surtos de toxinfecções alimentares. Esse microrganismo pode ser encontrado nos alimentos crus e nos cozidos. A principal via de transmissão ocorre por meio dos alimentos contaminados por fezes ou sujidades do solo e armazenados em condições que favoreçam a multiplicação da bactéria. Os surtos por infecção com Clostridium perfringens são comuns em locais onde são servidas refeições para um grande número de pessoas, como escolas e restaurantes industriais de grande porte. Essa bactéria pode ser inativada com o congelamento. Os alimentos geralmente envolvidos em contaminação pelo Clostridium perfringens são carnes e produtos cárneos, aves, molhos de carnes, embutidos, conservas de peixes, patês e ostras. A Escherichia coli é uma bactéria eliminada pelas fezes e largamente disseminada no meio ambiente por meio da água, principalmente em países onde há saneamento básico ineficiente. A contaminação ocorre principalmente pela utilização de água contaminada por fezes liberadas no ambiente. Destruída a 60 °C em poucos minutos. Há relatos de casos de surtos envolvendo carnes bovina (principalmente hambúrguer) e de aves cruas ou insuficientemente cozidas, leite ou sucos de frutas não pasteurizados e, em menor quantidade, os queijos. O agente causador das salmoneloses é a Salmonella, considerada a mais importante bactéria quando se fala em doenças transmitidas por alimentos. A temperatura ideal para sua multiplicação é de 37 °C, mas pode ocorrer também na faixa de temperatura de 7 °C a 49,5 °C. Os alimentos mais envolvidos são aqueles com alto teor de umidade e porcentagem de proteínas. São eles: leites e queijos cremosos, ovos utilizados crus ou malcozidos em preparações e carnes (bovina, suína e de aves). Com menor grau de envolvimento em surtos, tem-se peixes, camarões, pernas de rã, sobremesas recheadas com cremes, manteiga de amendoim e chocolate. 73 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 CONTROLE DE QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS O Staphylococcus aureus é a espécie mais patogênica para o ser humano. A infecção por S. aureus ocorre, geralmente, pela ingestão de alimentos contaminados em razão de técnicas incorretas de cocção, com temperaturas insuficientes para inativação das bactérias, conservação do alimento em temperaturas abusivas e secreções da boca e do nariz dos manipuladores de alimentos, bem como do contato com mãos ou superfícies higienizadas de maneira incorreta. O S. aureus tem preferência por alimentos com alto teor de umidade e proteínas para desenvolver-se. Os alimentos que aparecem geralmente relacionados a surtos são: leite e seus derivados, tortas e doces recheados de creme e bombas de chocolate. Exercícios Questão 1. Para uma festa no domingo o arroz a ser servido foi preparado com antecedência, e foi reservado à temperatura ambiente, enquanto se aguardava o roast beef ficar pronto. A salada de folhas foi higienizada e preparada adequadamente e guardada na geladeira até a hora de servir. Porém, infelizmente, alguns convidados relataram apresentar quadro diarreico no dia seguinte. Provavelmente, o alimento contaminado e o patógeno são, respectivamente: A) Arroz e Bacillus cereus. B) Carne e Bacillus cereus. C) Salada e Salmonela thypi. D) Arroz e Clostridium perfringens. E) Salada e Clostridium perfringens. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: o arroz pode ter sido contaminado pelo B. cereus, causando a diarreia em alguns convidados. Os sintomas aparecem em torno de 12 a 24 horas após o consumo do alimento contaminado. B) Alternativa incorreta. Justificativa: se a carne estivesse contaminada por B. cereus, os principais sintomas seriam náusea e vômitos, e, em menor frequência, a diarreia, em torno de 30 minutos a 6 horas após o consumo do alimento contaminado. 74 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 Unidade II C) Alternativa incorreta. Justificativa: tendo em vista que a salada de folhas foi higienizada e guardada em refrigeração, dificilmente foi o motivo da toxinfecção alimentar referida. D) Alternativa incorreta. Justificativa: os alimentos geralmente envolvidos na contaminação por Clostridium perfringens são as carnes e não o arroz. E) Alternativa incorreta. Justificativa: os alimentos geralmente envolvidos em contaminação pelo Clostridium são as carnes e não as folhas. E ressalta-se que a salada foi higienizada e armazenada adequadamente. Questão 2. Diversos patógenos estão associados às doenças transmitidas por alimentos (DTAs). E as ocorrências clínicas consequentes à ingestão de alimentos que possam estar contaminados com microrganismos patogênicos, toxinas de microrganismos, substâncias químicas, objetos lesivos ou que contenham em sua constituição estruturas naturalmente tóxicas são denominadas de DTAs. Selecione a alternativa correta: A) A Listeria. monocytogenes é um microrganismo patogênico exclusivo de produtos lácteos. B) Os indivíduos que consomem alimentos contaminados por Staphylococcus aureus geralmente apresentam em 24 a 48 horas sintomas como náusea, vômitos e cólicas. C) A maioria dos casos de contaminação de alimentos por Listeria ocorre em carnes cruas ou termoprocessadas e pães. D) O Clostridium perfringens ocasiona a doença denominada de botulismo. E) A contaminação por Escherichia coli geralmente ocorre por água contaminada com fezes e pela má higiene pessoal dos manipuladores de alimentos (material fecal pela mãos dos manipuladores). Resolução desta questão na plataforma. 75 GA ST - R ev isã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 8/ 08 /2 01 6 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 BRASIL. Doenças transmitidas por alimentos. Brasília, 2016. p. 5. Disponível em: <http://portalsaude. saude.gov.br/images/pdf/2016/marco/10/Apresenta----o-dados-gerais-DTA-2016.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2016. Figura 2 BRASIL. Doenças transmitidas por alimentos. Brasília, 2016. p. 7. Disponível em: <http://portalsaude. saude.gov.br/images/pdf/2016/marco/10/Apresenta----o-dados-gerais-DTA-2016.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2016. Figura 3 BRASIL. Doenças transmitidas por alimentos. Brasília, 2016. p. 8. Disponível em: <http://portalsaude.saude.
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