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Unidade II HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Prof. Rodrigo Stolf Introdução Sejam bem-vindos! Essa aula foi elaborada para apresentar ao longo da história o desenvolvimento da hospitalidade, para traçar esse caminho optou-se por demonstrar os principais fatos que contribuíram para a evolução desse setor. Início da hospitalidade A origem da hospitalidade está ligada à própria evolução do ser humano e da sua capacidade de comunicação com os outros. Desde o princípio da humanidade, o homem cultivou o ato de viajar. Os primeiros registros de viagens foram notados em paredes de cavernas há cerca de 13.000 anos. Início da hospitalidade Ao que tudo indica, nas culturas primitivas os grupos sociais que viviam sem contato com o mundo exterior e que hostilizavam – ou matavam – os estrangeiros desenvolveram progressivamente, tanto por motivos mágicos e religiosos como utilitários, uma primeira forma de hospitalidade: a acolhida amigável. Assim como será visto ao longo de toda história, inclusive nos primórdios da hospitalidade brasileira, os viajantes eram recebidos com distinção não somente pela caridade de acolher o próximo, mas por essa recepção facultar a possibilidade de conhecer outros povos e culturas. Início da hospitalidade Civilizações que ainda ignoravam o uso do dinheiro ou que só lhe conheciam as formas primitivas, dão ao visitante abrigo, proteção e alimentação por um tempo limitado, em geral três dias. Essa hospitalidade criava uma ligação estreita entre hospedeiro e visitante. Se esta obrigava o anfitrião a tomar partido do hóspede e a abraçar sua causa, qualquer que fosse ela, tornava-o também o representante de seu convidado face ao mundo exterior, assim como seu herdeiro caso ele viesse a falecer sob seu teto. Início da hospitalidade Posteriormente, a difusão do uso do dinheiro nas transações comerciais, o desenvolvimento da escrita e a invenção da roda permitiram na antiguidade que o número de viagens se ampliasse e facilitaram a criação dos empreendimentos voltados para hospitalidade com objetivo de oferecer abrigo, alimentos e bebidas aos viajantes. Início da hospitalidade As principais motivações de viagens do ser humano em seus primórdios eram: encontrar alimentos; viajar para encontrar abrigo; fugir de climas inóspitos e de tribos hostis; para realizar celebrações religiosas. Início da hospitalidade A partir do momento que o homem se fixou nas cidades e desenvolveu a agricultura e a pecuária houve a necessidade de comercializar os excedentes da produção e com isso ocorreu a oportunidade de serem construídos albergues e tabernas ao longo das rotas comerciais. O nascimento da indústria da hospitalidade está ligado à obrigação do homem de viajar para efetuar negócios. Hospitalidade na antiguidade Os sumérios, um dos povos da Mesopotâmia, e os fenícios foram as civilizações que estabeleceram as primeiras rotas de comércio, introduziram a cunhagem de moedas e fizeram mapas, facilitando para as pessoas o ato de viajar. Os sumérios também cultivavam grãos, que transformavam em bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja. Hospitalidade na antiguidade Para o consumo da população e de viajantes, eles construíram as tabernas onde havia comida e bebida e o convívio entre os pares. Essas tabernas foram algumas das primeiras empresas de hospitalidade comercial, eram locais geridos por mulheres, que também ficavam responsáveis pela produção da cerveja, entretanto, o público nesses estabelecimentos era sobretudo masculino. Hospitalidade na antiguidade Em nenhuma outra região do mundo o culto à hospitalidade superou o do Oriente Médio, pois abria àqueles a quem solicitavam invejável oportunidade de cumprir imperativo moral prescrito nos livros sagrados. Apesar da vida nômade de muitos povos, sempre havia uma tenda pronta para receber o estranho sem que lhe perguntassem o nome. O hábito de acolher o estranho sem mesmo lhe perguntar o nome também se manteve na Grécia e em Roma, onde o viajante era recebido sem ressalvas nas casas desses povos. Hospitalidade na antiguidade O Egito e a Grécia desempenharam um papel importante nos primórdios da hospitalidade comercial, tanto as pirâmides quanto os jogos olímpicos foram as principais atrações que catapultaram as viagens, pois as pessoas tinham a intenção de visitar esses locais e consequentemente precisavam de lugares para comer, beber e dormir. Os primeiros jogos olímpicos foram realizados na cidade de Olímpia e ocorreram em 776 a.C. Diversas estruturas de hospedagem, alimentação e transporte acabaram sendo criadas ao longo do trajeto para os participantes e espectadores dos Jogos Olímpicos. Hospitalidade na antiguidade Essas viagens para assistir jogos são consideradas algumas das primeiras exercidas a caráter de lazer, os jogos eram diferentes dos atuais. Os atletas ficavam concentrados num alojamento conhecido como Leonidaion, nome oriundo de um de seus patrocinadores, Leônidas . Mercadores, artesãos e vendedores de comida comercializavam seus produtos. A programação era extensa e incluía cerimônias religiosas, sacrifícios, discursos feitos pelos filósofos, recitais de poesias, paradas, banquetes e celebrações pelas vitórias conquistadas. Hospitalidade entre os gregos Os gregos entendiam que a hospitalidade se revestia de uma forma pública (entre Estados) ou privada (entre particulares); o estrangeiro, independentemente de sua índole e ideias políticas, estava protegido por Zeus. Para os gregos, oferecer a hospitalidade significava uma questão de honra, o visitante devia ser bem recebido primeiramente lavando os seus pés e proporcionando-lhe, abrigo, alimento e bebida. A violação do direito de hospitalidade, considerada um dever do estado, era tida como crime. Os representantes religiosos gregos, como missionários, sacerdotes e peregrinos formavam uma grande parte desse público viajante. Hospitalidade na antiguidade As casas dos gregos eram concebidas para ter uma parte reservada aos estrangeiros, com entrada separada. Essas posturas constituíam o caráter hospitaleiro dos habitantes das cidades gregas. O Estado dava uma grande importância à boa impressão que toda cidade deveria dar a quem a nela chegasse. Inclusive para facilitar a recepção e hospitalidade aos viajantes, eram designados pelo Estado cidadãos chamados proxenos, que tinham a responsabilidade de acolher e proteger os estrangeiros e, caso surgissem complicações, ajudá-los a regressar às suas cidades de origem. Hospitalidade entre os gregos As festas e banquetes eram momentos importantes para os gregos, pois nessas ocasiões podiam exercer a prática da comensalidade, que significava obedecer às regras associadas ao comportamento adequado em público e as boas maneiras, que deveriam ser exercidas nos rituais dos banquetes. O exercício da comensalidade era uma forma de diferenciar o homem civilizado. Portanto, a hospitalidade ocupava lugar de destaque na hierarquia de valores desse povo, pois ela materializava-se sobretudo nos banquetes e nos symposions, que eram festas dedicadas às conversas e discussões políticas onde eram servidas bebidas. Hospitalidade entre os gregos No sistema de valores elaborado pelo mundo grego e romano, o primeiro elemento que distingue o homem civilizado das feras e dos bárbaros é a comensalidade: o homem civilizado come não somente (e menos) por fome, para satisfazer uma necessidade elementardo corpo, mas também (e sobretudo) para transformar essa ocasião em um momento de sociabilidade [...]. Além da prática da comensalidade, os gregos valorizavam os tipos de alimentos consumidos em especial o pão e o modo de cozinhar, que deveria estar relacionado com a dietética. Esses três princípios caracterizam o homem civilizado grego. Hospitalidade entre os gregos Sobre a valorização dos alimentos pelos gregos, em especial o pão, MONTANARI (1998 p. 108) estabelece: O pão – exemplo absoluto de artifício, de produto totalmente “cultural” em todas as fases de sua complexa preparação – que é o símbolo da civilização, da distinção entre o homem e o animal. O pão – e é preciso acrescentar a ele também o vinho e o óleo – é o sinal que distingue uma sociedade que não repousa sobre recursos “naturais”, mas que é capaz de fabricar, ela própria, seus recursos, de criar – com a agricultura e a criação de animais – suas próprias plantas e seus próprios animais. Hospitalidade entre os gregos Sobe a relação do alimento com a dietética, MONTANARI (1998 p. 108) coloca que: “A ciência dietética tem um papel fundamental na formação da cultura alimentar e gastronômica da antiguidade.” A cozinha antiga vive em estreita simbiose com o pensamento médico e com a reflexão dietética. Contentemo-nos em recordar que desde as origens e, de certa forma, pela própria essência, a arte da cozinha consiste em não apenas tornar o sabor dos alimentos mais agradável, mas também e ao mesmo tempo, transformar a natureza do produto, adaptando-o às necessidades nutricionais dos homens. Hospitalidade entre os gregos Sobre as diferentes formas de hospedagem encontradas pelos viajantes, PEYER (1998 p.438-9) destaca: Expandia-se em todo o mundo grego um tipo de serviço de hospedagem profissional, remunerada, com tabernas e locais em que se vendia carne assada. Esses hotéis ofereciam à sua clientela lugares onde dormir e estrebarias. Já bastante comuns por volta de 400 a.C., eles se encontravam principalmente nos portos e nas polis comerciais, nos santuários e nas cidades termais, assim como às margens das grandes estradas que ligavam as polis. Hospitalidade entre os gregos O conceito de hospitalidade adotado na atualidade tem, pois, muito a ver com as ideias crenças e os valores apregoados pelos cidadãos da Grécia antiga. As boas maneiras à mesa e saber conviver em público, tão enfatizados pelos gregos, passaram a fazer parte da educação de todos os povos, constituindo-se em pressupostos básicos da hospitalidade. Interatividade Nas civilizações mais antigas dava-se ao visitante abrigo, proteção e alimentação por um tempo limitado. Qual era esse tempo? a) 07 dias. b) 05 dias. c) 03 dias. d) 02 dias. e) 10 dias. Hospitalidade entre os romanos Os romanos, por obra dos legisladores, tinham a obrigação de receber o estrangeiro e protegê-lo. As tradições de hospitalidade eram semelhantes às dos gregos, seja para a hospitalidade privada, seja para a hospitalidade pública. O hóspede recebia o pão, o vinho e sal antes mesmo de banhar-se e de degustar o banquete. Hospitalidade entre os romanos A sociedade romana teve uma influência singular na indústria da hospitalidade devido principalmente ao fato de que: Muitos de seus cidadãos eram suficientemente ricos para viajar por prazer e as bem construídas estradas facilitavam o acesso para a maior parte do mundo conhecido. A comunicação entre hóspedes e anfitriões não apresentava problemas, visto que o latim havia se tornado um idioma universal. Na verdade, muito da terminologia relacionada à hospitalidade vem do latim hospe significa hóspede ou hospedeiro; hospitium significa acomodação de hóspede, hospedaria ou alojamento. Outras palavras relacionadas incluem “hospício”, “hostel”, “hospital” e “hotel”. Hospitalidade entre os romanos Os romanos das classes mais abastadas viajavam por prazer para a Grécia e Egito e usavam nesses deslocamentos guias de viagens, conhecidos como periegesis, que foram os antecessores dos atuais guias turísticos, eles traziam informações sobre as cidades a serem conhecidas, as obras e os monumentos mais importantes e costumes da população. O Império Romano foi responsável por construir mais de 80.000 km de estradas em toda a Europa, o que possibilitou um acesso muito mais simples para as diferentes áreas em todo o território, tornando as viagens muito mais fáceis de serem realizadas. Hospitalidade entre os romanos Com o auxílio de suas estradas, os Romanos expandiram sua cultura para diferentes locais. Também foram capazes de estabelecer leis que trouxeram a paz e a segurança para as pessoas viajarem. O desenvolvimento desses caminhos propiciou o incremento da hospitalidade comercial, pois em virtude das viagens serem extensas, havia a cada 10 ou 20 km uma casa de recepção com alimentação, hospedagem, banhos e trato para os cavalos. Os principais hóspedes desses locais eram militares, comerciantes, peregrinos e viajantes. Hospitalidade entre os romanos As lojas de vinho e as bodegas (taberna, caupona, popina), assim como as hospedarias, que colocavam à disposição de seus clientes lugares onde dormir e estrebarias (taberna, hospitum, diversorium, mansio, stabulum), se multiplicaram nas cidades e, progressivamente, nas etapas e nas postas (pontos de parada onde se efetuava a muda de cavalos dos veículos) que ficavam ao longo das grandes estradas do Império. A alimentação oferecida nesses locais era simples e compunha-se normalmente de sopa de peixe e os onipresentes pão e vinho. Raramente aparecia a carne nas iguarias ofertadas aos viajantes nesses estabelecimentos. Hospitalidade entre os romanos As termas eram outros dos principais locais que ofereciam hospitalidade para os romanos e possuíam salas para banhos a vapor, piscinas para descanso e massagens. Os romanos criaram o hábito de frequentar locais para lazer, como as praias. Hospitalidade entre os romanos O papel dos meios de hospedagem romanos foi muito importante para a evolução de sua sociedade, visto que houve o estabelecimento de aldeias e cidades no entorno desses locais. É interessante perceber que a mesma forma de ocupação seria verificada no Brasil, com diversas vila e cidades surgindo a partir dos locais onde ficavam os ranchos de tropeiros. Hospitalidade entre os romanos Os principais fatores que ilustram o progresso das viagens entre os romanos são: devido ao extenso domínio territorial havia um grande estímulo do comércio, o que fez despontar uma classe média com condições para viajar; as moedas romanas eram aceitas em todos os locais no percurso das viagens; As estradas eram extensas e tinham boas condições; A comunicação era simples, visto que o latim eram uma das principais línguas faladas, juntamente com o grego; Havia garantia de segurança para o viajante. Hospitalidade na Idade Média Refere-se ao período da história do século V até o século XV. A partir do declínio do Império Romano, as estradas deixaram de ser seguras. Viajar tornou-se um sério risco, esta situação se prolongou por vários séculos. A hospitalidade nesse período esteve extremamente ligada à religião. A partir da evolução do Cristianismo, os monges e padres são os principais disseminadores da hospitalidade e seus admiradores são importantes para as viagens por meio das peregrinações aos monastérios. Hospitalidade na Idade Média A hospitalidade monástica desempenha um papel crucial para a evoluçãoda hospedagem e alimentação no período, visto que a recepção do viajante era feita muitas vezes nos conventos e mosteiros. A Igreja considerava a hospitalidade um ato de fé e caridade ao abrigar os viajantes e acolhendo as diversas peregrinações permitiu a perpetuação das tradições hospitaleiras. Hospitalidade na Idade Média O movimento nas estradas passa a ser marcado por um outro tipo de viajante: o peregrino, estes viajam pelos seguintes motivos: cristãos dirigem-se a Jerusalém; Roma (daí a origem da palavra romeiro: o peregrino que ia em visita a Roma); visita a Santiago de Compostela; os muçulmanos se punham a caminho de Meca. Hospitalidade na Idade Média No século XII, o papa Calixto II, reconhecendo importância das peregrinações e as dificuldades enfrentadas pelo viajante da época, encarregou o sacerdote francês Aymeric Picaud de escrever o primeiro guia do Caminho de Santiago. Este livro surgiu em 1131 e tornou-se conhecido como Codex Calixtinus (por causa do nome do papa). O livro descreve os detalhes da viagem, passo a passo. A peregrinação a Santiago de Compostela acarretaria também as primeiras excursões pagas registradas pela História. Hospitalidade na Idade Média Do século IV ao XI, a Igreja Católica Romana manteve a indústria da hospitalidade viva por meio do estímulo às viagens dos peregrinos aos monastérios e catedrais da Europa. Estradas foram construídas e mantidas pelos monastérios locais. Os alojamentos construídos nas Igrejas ofereciam um lugar para comer e dormir e não cobravam por essas acomodações, apesar de esperar que os viajantes fizessem uma contribuição. As viagens e o comércio aumentavam gradualmente na Europa e os monastérios permaneceram como os principais estabelecimentos de hospedagem, tanto para os que viajavam a negócios quanto para os que viajavam a lazer. Hospitalidade na Idade Média No Oriente, nesse período, por volta de 1200, estações de correios e postos de estadia para os viajantes foram criados na China e Mongólia. Em 1282, na cidade de Florença, na Itália, um grupo de proprietários de hospedaria se uniu para criar uma associação, com o objetivo de transformar a hospitalidade em um negócio. A partir desse momento a hospitalidade irá deixar de ter seu caráter altruísta para evoluir para empreendimentos comerciais. Hospitalidade na Idade Média Hotel de fato: estabelecimentos sempre abertos aos estrangeiros ou à população local, aos quais oferecem, mediante pagamento, hospedagem e comida por um período determinado – só se desenvolveu na Europa nos séculos XIII e XIV a partir de diferentes formas bem mais antigas de hospitalidade. Em 1407 foram criadas leis reguladoras dos empreendimentos de hospitalidade na França, que obrigavam os hoteleiros e as casas privadas que alugavam quartos a manter registro de todas as pessoas que se alojavam, buscando com essa medida mais segurança. Hospitalidade na Idade Média Algumas grandes navegações já tinham sido feitas no período da Idade Média: no século XI os vikings já haviam navegado até a América do Norte, no século XIII Marco Polo explorou as Rotas da Ásia. No final do século XV e no século XVI devem ser destacados o crescimento das grandes viagens marítimas de descobrimento. No final do século XV Colombo irá descobrir a América. Os portugueses descobrem o Brasil e o caminho das Índias no início do século XVI. Hospitalidade na Idade Média As motivações das viagens, até o fim da Idade Média, são de diferentes ordens: a busca de um lugar sagrado pelo peregrino; o mercador em busca de prosperidade; o explorador à procura de novos mundos e riquezas; as peregrinações, na esperança de uma cura para enfermidades; os nobres percorrendo os domínios de suas terras. Interatividade A hospitalidade no período da Idade Média esteve ligada a qual principal motivo para a realização das viagens? a) Comércio. b) Lazer. c) Cura e saúde. d) Transporte de carga. e) Religião. A Idade Moderna Período da história que tem início em 1453 e vai até o ano de 1789, data da Revolução Francesa. Dentro desse período da história se destacam a expansão marítima Europeia, a Revolução Comercial e o Renascimento Cultural. A Idade Moderna Ao final da Idade Média, com o crescimento das cidades e o início da Revolução Mercantil houve um maior desenvolvimento das estalagens e hospedarias, que passaram a oferecer serviços de alojamento, refeições e bebidas como cervejas e vinhos, cuidados e alimentação para os cavalos e serviços de manutenção e limpeza para charretes ou outro tipo de veículos. O desenvolvimento da hospitalidade, como será observado, portanto, está muito ligado à evolução dos meios de transportes. A Idade Moderna Na Inglaterra, em 1539, como parte de sua disputa com a Igreja Católica Romana, o rei inglês Henrique VIII declarou que todas as terras de propriedade da Igreja deveriam ser doadas ou vendidas. Esse decreto inadvertidamente causou o crescimento das hospedarias particulares, pois a igreja teve de abrir mão de suas propriedades. Ela perdeu o papel de anfitriã hospedeira e as propriedades. Crescimento da hospitalidade comercial. A Idade Moderna Nesse período a maioria das viagens era para peregrinos, soldados, embaixadores e comerciantes que faziam viagens árduas e muitas vezes perigosas por razões como religião, comércio, administração e para guerra. Em 1589 foi editado pelos ingleses o primeiro “Guia de Viagem” de que se tem notícia, definindo os diferentes tipos de acomodação da época, para uso em diversas localidades na Inglaterra. A Idade Moderna Neste século nasce o advento do turismo enquanto viagem de recreação. Procuram-se conhecimentos novos e o desejo de trocas e de encontros, motivos que encontrarão na prática da hospitalidade seu lugar mais apropriado. A Idade Moderna O serviço de carruagens foi colocado em vigor por volta de 1650. As carruagens viajavam entre as principais cidades inglesas e paravam onde os passageiros queriam. As hospedagens foram construídas ao longo dos percursos, principalmente em locais onde devido ao trajeto percorrido havia a necessidade da troca de cavalos. Criam-se transporte e linhas regulares de diligências e carruagens entre Paris e uma dezena de grandes cidades, permitindo e proporcionando a instalação definitiva de infraestruturas de recepção. A Idade Moderna A chegada das ferrovias modificou os meios de hospedagem existentes na época. Aqueles que não se adaptaram às novas tecnologias fecharam as portas. Mais uma vez a hospitalidade moldou-se aos novos meios de transporte. Hotéis e pousadas foram construídos nas redondezas das estações de trens e não mais ao longo das vias por onde passavam as diligências. A Idade Moderna No século XVII o Estado desenvolve um papel mercantilista, criando indústrias, escritórios comerciais e outros aparelhos de produção. As descobertas científicas anunciam também os tempos modernos por meio da noção de progresso e pela paixão pela viagem; paixão pela literatura exótica e pelos costumes e hábitos estrangeiros. A Idade Moderna É favorecido o retorno às águas termais. O crescimento do capitalismo permitiu a expansão do hábito de se viajar para as estações de água. A mais famosa era Baden-Baden, na Alemanha. Os SPAs (Salut per Aqua , significa “saúde pela água”) deixam de ser locais somente para tratamento de saúde e passam também a ser procuradospara lazer, eventos sociais e outras formas de entretenimento. A Idade Moderna Ao longo do século XVIII, tornou-se frequente uma longa viagem com objetivos culturais, sociais e de lazer, que os jovens aristocratas faziam pela Europa para completar sua educação. Era o chamado Grand tour, destinado a formar cavalheiros para as cortes, diplomatas e pessoas com uma visão mais ampla do mundo. As viagens dirigiam-se ao Mediterrâneo e passavam por várias cidades italianas, repletas de tesouros artísticos, culturais e históricos. A Idade Moderna Em geral, o filho mais velho de uma família nobre viajava com um tutor culto e preparado para observar e aprender em terras estrangeiras. Era comum hospedar-se junto a familiares, pois a nobreza possuía parentesco em várias cortes europeias. Porém, ao longo das estradas haviam pequenos inns e lodges para comer e dormir, alimentar e descansar os cavalos e fazer pequenos consertos nas carruagens ou carroças. A Idade Moderna As cidades italianas mais visitadas eram Nápoles, Veneza, Roma e Florença. Os objetivos culturais visavam visitas a galerias de artes, museus, capelas, igrejas e mosteiros que possuíam obras do Renascimento, além da arquitetura e urbanismo que marcaram o desenvolvimento italiano. Evolução da hospedagem nos EUA Nos Estados Unidos, inicialmente irá ocorrer a influência da hotelaria inglesa, entretanto, o sistema hoteleiro americano irá se sustentar em uma visão de igualdade para todos, ou seja, desde que pudesse pagar, qualquer pessoa poderia se hospedar em um hotel. Essa visão era distinta da hotelaria europeia, que se mantinha principalmente para servir somente aqueles que pertenciam à aristocracia. Também surgiram, ao longo dos rios navegáveis, hotéis de apoio aos barcos fluviais frequentemente luxuosos que ofereciam hospedagem, cassinos e diversões aos clientes. A Idade Moderna As melhorias do século XIX nas tecnologias de transporte e comunicação tornaram as viagens muito mais fáceis e mais baratas. Navios a vapor e ferrovias reduziram drasticamente o tempo que levou para percorrer a Europa e o telégrafo garantiu contato instantâneo. A indústria de viagens e turismo que conhecemos desenvolveu-se durante essa época para atender às demandas de uma classe média emergente. Interatividade O sistema hoteleiro americano irá se diferenciar do europeu por qual visão? a) Serviço para clientes comuns e aristocracia no mesmo espaço. b) Gratuidade para todos. c) Oferecimento de hotéis para cuidar da saúde. d) Visão de igualdade para todos, quem pudesse pagar poderia se hospedar em um hotel. e) Ambiente de luxo e apenas para a aristocracia. Idade Contemporânea A Idade Contemporânea é estudada de 1789, época da Revolução Francesa, até os dias atuais. Em toda a Europa o século XVIII foi aquele da construção de estradas e o desenvolvimento de redes de comunicação necessárias à circulação das diligências, das carroças, entre outros. Nascem as viagens com permanências mais longas. São criados postos de alfândega nas fronteiras de cada província francesa (1798). Idade Contemporânea É introduzido o passaporte (1802). A legislação determina a responsabilidade dos hoteleiros enquanto depositários das bagagens trazidas pelos viajantes e o direito sobre estas no caso de falta de pagamento. São melhor caracterizados os componentes da boa recepção em hotéis e albergues, “limpeza, honestidade, abundância e delicadeza”, o século XVIII ainda verá a história da hospitalidade transpor uma etapa importante com o aparecimento dos restaurantes (1769). Idade Contemporânea A palavra restaurante significa fortificante e aplica-se a certas sopas particularmente indicadas depois de uma doença ou de um grande esforço. Contrariamente ao que se apresentava em albergues ou tabernas, os restaurantes eram mais limpos e melhor decorados e ofereciam cozinha, conforto e tranquilidade. Idade Contemporânea É nesse período que se impõe definitivamente o método de servir prato após prato, conforme os preceitos de La Reynière (1758-1838) em seu “Manual dos anfitriões” e de seu guia gastronômico “O almanaque dos gourmands”. Os franceses Grimond de la Reynière, Brillat-Savarin e Alexandre Dumas foram muito importantes na história contemporânea da gastronomia e podem ser considerados os precursores dos jornalistas e críticos gastronômicos. Idade Contemporânea A grande contribuição de Grimond de la Reynière (1758-1837) foi criar o primeiro guia gastronômico e dar lições de comportamento à mesa. Em 1803, lançou o “Almanaque dos gourmands”, um guia parisiense dos restaurantes e de lojas de especialidades, pois as classes emergentes europeias tinham interesse em saber o que e como comer, além de ter orientação. O almanaque também funcionava como um manual, ao descrever deveres recíprocos de anfitriões e convivas, ensinava como destrinchar carnes e comentava sobre a composição dos cardápios. Idade Contemporânea La Reynière estabeleceu o padrão da comida parisiense e da cozinha francesa, divulgando inclusive os grandes chefs da época. O almanaque era lido também em Londres e foi um dos meios que contribuiu para a fama de Paris como centro gastronômico. Em seguida às Guerras Napoleônica do século XIX, a sociedade sofrerá profundas modificações: o progresso da ciência, a explosão da indústria, o desenvolvimento dos transportes, o nascimento da imprensa e da transmissão de ideias, conduzirão a uma nova revolução: a Revolução Industrial. Idade Contemporânea A introdução de ferrovias teve grande influência sobre a indústria da hospitalidade. No início de 1800, os trilhos de trem foram estabelecidos em todo o mundo ocidental, diversos tipos de hospedagem que ofereciam alimentação começaram a surgir acompanhando as ferrovias. Na maioria dos casos o hotel foi conectado diretamente à estação de trem. Idade Contemporânea A viagem turística encontra sua verdadeira identidade: o interesse às particularidades de cada povo, aos aspectos pitorescos, às tradições, à autenticidade, à natureza, à liberdade, ao exotismo, ao sonho. Em 1814, Georges Stephensos, o pai da locomotiva, personifica, de alguma maneira, esse século de mudanças tecnológicas: canais, portos, estradas são construídas por toda parte, ampliando as formas de hospedagem e alimentação. Em 1825 foi criada a primeira ligação ferroviária entre Stockton e Darlington (Inglaterra). Idade Contemporânea Durante a metade do século XIX os transatlânticos se ocupavam do transporte de imigrantes. No entanto, previu-se que este mercado caminhava para uma diminuição de sua demanda. Os navios foram então melhorados e transformados em cruzeiros marítimos que atraíram, sobretudo, as elites, que uniram o meio de transporte com a hospedagem e transformaram a viagem em lazer e diversão. Idade Contemporânea A recepção de um viajante no século XIX era ainda uma relação humana no estado puro. O turismo se organiza: Thomas Cook (1808 – 1891) proporciona viagens de centenas de pessoas com a colaboração das estradas de ferro e de navegação. Idade Contemporânea O marco inicial do desenvolvimento do turismo ferroviário foi a venda antecipada, em 1841, de 570 passagens para o percurso entre Leicestere e Loughborough pela agência Cook, de Londres. Motivo da viagem: assistirem a uma manifestação antialcoólica. Idade Contemporânea Thomas Cook foi responsável por: oferecer as primeiras formas negociaçõesde desconto para grupos de passageiros; elaborar o primeiro roteiro descritivo de viagem; realizar a primeira viagem com um guia de acompanhante; foi a primeira agência de um evento, levou 165 mil visitantes à Primeira Exposição Universal de Londres; responsável pela criação do voucher e do traveller check (cheque de viagem). Idade Contemporânea O conforto dos hotéis (César Ritz é pioneiro) engloba: leito, mesa, tranquilidade (o antirruído), iluminação adequada (natural, vela, eletricidade). Em 1898, César Ritz, de Valais, na Suíça, que se tornou, para citar a famosa frase do Rei Edward VII, o “rei dos hoteleiros e o hoteleiro dos reis”, abriu o hotel que leva o seu nome famoso na Place Vendôme, em Paris. Idade Contemporânea Principais inovações foram: instalação de banheiro privativo; os armários embutidos nos apartamentos; a uniformização dos empregados; a criação de galerias de lojas junto ao hotel e os concertos musicais durante as refeições. Também iniciou o marketing direto ao mandar cartas pessoais aos seus clientes. Seus hotéis possuíam uma ficha de cada cliente na recepção, assim, quando eles chegavam fazia-se de tudo para agradá-los. Idade Contemporânea A fama de Ritz era associada à de Auguste Escoffier, considerado na época o melhor chef de cozinha do mundo. Ritz valorizava os atributos dos grandes cozinheiros. Idade Contemporânea No século XX, além do desenvolvimento fulgurante dos transportes, o período denominado de Belle Époque, até 1914, caracteriza-se por inovações marcantes ligadas à descoberta do telefone e do telégrafo. A sociedade democratiza-se, o trabalho racionaliza-se (noções de rendimento, trabalham em cadeia, standardização). Em 1906, na França, promulga-se uma lei sobre a obrigação de dar aos trabalhadores o repouso semanal. Idade Contemporânea A nova condição dos trabalhadores, os desejos de mudanças, o gosto da viagem, atuam sobre as estruturas da sociedade e do indivíduo. O século XX marca a passagem definitiva da hospitalidade para a recepção remunerada. Interatividade Qual o motivo da viagem considerada o marco inicial do desenvolvimento do turismo? a) Ida aos Jogos Olímpicos. b) Viagem de volta ao mundo. c) Congresso de medicina. d) Manifestação antialcoólica. e) Viagem para uma partida de futebol. ATÉ A PRÓXIMA!
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