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METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA HISTÓRIA E GEOGRAFIA Profa. Sueli Aparecida Martins Barberio Unidade I - História O que é História? A História é fruto da produção cultural do homem na sua interação com o meio físico, social e político. Essa interação da pessoa humana no seu mundo implica uma concepção política e consciente diante das transformações pelas quais passaram as sociedades humanas, pois a transformação e a permanência constituem a essência da História. Nada permanece igual e é através do tempo que a mudança é percebida, ditada pela relação de força, de poder ou de domínio que direciona os conflitos das sociedades. Para que a escola forme pessoas atuantes e participantes da sociedade, é fundamental que os alunos conheçam e entendam os processos de produção do conhecimento histórico como prática social, que deve estar vinculada à vivência do aluno. Mas como motivar a curiosidade do aluno, instigando-o a sentir-se parte fundamental da História? A relacionar o ontem ao agora? A incendiar o desejo da descoberta, a busca da resposta e a sua vontade de transformação? Como formar esse aluno capaz de exercer sua plena cidadania? Formando o aluno cidadão. Nesta perspectiva, para que os alunos desenvolvam a habilidade de estabelecer relações de conhecimento e adquiram competência para discussões e transformações de situações sociais vivenciadas, torna-se necessário o desenvolvimento de temas significativos como: 1 - A construção da identidade; 2 - A relação do homem com a terra; 3 - A relação de trabalho e de poder; 4 - A relação com a diversidade cultural. Formando o aluno cidadão 1 - A construção da identidade: o ensino de História deve partir da construção da identidade do sujeito como membro de uma família e de suas diferentes histórias, expandindo-se para as problemáticas locais nas quais as escolas e os alunos estão inseridos, de forma a propiciar a articulação dessa realidade próxima às questões regionais, nacionais e mundiais. Para que haja a compreensão da História como um processo dinâmico, o educando constrói as noções de relações de tempo e espaço, semelhança e diferença, mudança e permanência, a partir da realidade cotidiana, observando a vida em sua casa, seu bairro e sua escola. 2 - A relação do homem com a terra: o uso que o homem faz da terra, a sua apropriação, os movimentos pela sua posse, o modo de trabalho e conflitos registrados pela História propiciam discussões que envolvem aspectos ligados à cidadania. Esse conteúdo tem como finalidade estudar, pesquisar e refletir sobre a problematização produzida pela ocupação do homem e pelo uso da terra e seus diversos enfoques – político, econômico e cultural. 3 - A relação de trabalho e de poder: as várias dimensões da vida relacionam-se com o trabalho, iniciando com a necessidade de sobrevivência, destacando-se também pelas culturas e representações sociopolíticas, atingindo os limites de relações de poder. Portanto, a História do trabalho torna-se significativa para compreender as relações de produção vinculadas em diferentes períodos e que caracterizam mudanças econômicas em diversas organizações políticas. A reflexão e a problematização sobre o trabalho possibilitam a criação do diálogo com a realidade social na busca da ação para a transformação. 4 - A relação com a diversidade cultural: o momento de globalização que vivenciamos neste século XXI nos deslumbra com um processo de constantes mudanças que exige a transformação de concepções a respeito dos elementos que compõem essa sociedade. A diversidade, as diferenças, os antagonismos de classes e etnias, religiões e culturas, modos de vida e trabalho, modificam-se e reafirmam-se pelos reflexos e tendências impostos pela multiculturalidade, que promove a sua transformação para que surjam outras formas culturais. A História é fruto da produção cultural do homem na sua interação com o meio físico, social e político. Essa interação da pessoa humana no seu mundo implica uma concepção política e consciente diante das transformações pelas quais passaram as sociedades humanas, pois constituem a essência da História: a) A transformação e a permanência. Ensinando História Parâmetros Curriculares Nacionais → o ensino e a aprendizagem de História envolvem uma distinção básica entre: Saber histórico – conhecimento produzido no campo das pesquisas dos historiadores. Saber histórico escolar – conhecimento produzido no espaço escolar → das informações veiculadas pela população e por meios de comunicação com as representações sociais constituídas pela vivência do aluno. Esta relação compreende três conceitos fundamentais: fato histórico, sujeito histórico e tempo histórico. Fatos históricos: ações humanas significativas relacionadas a eventos políticos, festas cívicas, ações de heróis nacionais. Sujeitos históricos: agentes de ação social que se tornam significativos para estudos históricos (indivíduos, grupos ou classes sociais). Tempo histórico: tempo cronológico (datas), tempo biológico (crescimento, envelhecimento), tempo psicológico interno (ideia de sucessão, de mudança), tempo cronológico e astronômico, construído pelos povos conforme suas culturas (sucessão de dias e noites, de meses e séculos). Por que ensinar História? A qualidade no ensino de História não consiste apenas em situar acontecimentos históricos e localizá-los em uma multiplicidade de tempos, mas em compreender que as histórias pessoais são partes integrantes de histórias coletivas e que conhecer modos de vida de diferentes grupos em diversos tempos e espaços, e reconhecer semelhanças e diferenças é a melhor maneira de respeitá-los. É importante que se ensine História para que os alunos possam questionar a realidade, identificando seus problemas e descobrindo formas político- institucionais que possam ajudar a resolvê-los. Aprender História é importante para que se valorizem o patrimônio sociocultural e o direito de cidadania como condição de fortalecimento da liberdade de expressão e da democracia, único sistema capaz de manter o respeito às diferenças e a luta contra as desigualdades. Particularidades da História Noções históricas → desde o início dos tempos, quando os primatas descobriram os ciclos da Lua, do dia e da noite, os fenômenos físicos, as alterações da natureza. Como disciplina escolar → século XIX, incluída na Filosofia, da qual se desliga no início do século XX, para se tornar ciência, com métodos próprios de investigação. O aluno pode e deve organizar o próprio conhecimento, por meio de estudos e experiências, individuais ou grupais; deve ser instigado a pesquisar, encontrar informações. O papel do professor, portanto, consiste em mediar esse processo de construção do conhecimento de História do aluno. Os autores Nemi e Martins (1996) sugerem que as aulas de História devem possibilitar a interpretação das diferentes visões que se têm do Brasil para que o aluno faça a sua própria leitura. É necessário que o aluno compreenda o momento histórico em que vive e, para atingir esse objetivo, é importante disponibilizar situações em que o aluno possa analisar e interpretar os processos de transformação das relações entre os homens e destes com a natureza. A História no contexto educacional brasileiro 1549: os jesuítas chegam ao Brasil e fundam as primeiras escolas elementares brasileiras. Os textos históricos bíblicos eram usados apenas com o intuito de ensinar a ler e escrever. 1837: o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, inclui a disciplina como obrigatória. 1920: escolas abertas por operários anarquistas tentam implantar a ótica das lutas sociais para entender a História. 1934: é criado o primeiro curso superior de História, na USP → visão tradicionalista → sucessão de fatos como a linha mestra. 1971: A História e a Geografia deixam de existir separadamente → são criadas a disciplina de Estudos Sociais e a licenciatura na área. 1976: o Ministério da Educação determina que, para dar aulas de Estudos Sociais,os professores precisam ser formados na área, fechando-se assim as portas para os graduados em História. 1997: abolição dos Estudos Sociais; voltam a História e a Geografia separadamente. 1998: os PCNs definem objetivos da área de História (formar indivíduos como parte da construção do processo histórico). Uma das atribuições do ensino de História nas primeiras séries do Ensino Fundamental é: a) A construção da identidade social escolar do aluno. Diferentes visões da História História tradicional: influenciada pelo positivismo, destaca-se pela busca de fatos passados, isolados, situados no tempo linear, contínuo e sem rupturas → relato de fatos isolados, grandes acontecimentos, grandes heróis → nada ocorria fora do que era definido pela sociedade dominante no poder → a escola desenvolveu por várias décadas. Contraposição ao positivismo → final do século XIX e metade do século XX, outra história influenciada pelas ideias de Karl Marx → socialismo. → muitos conflitos gerados pelas forças produtivas (os patrões e donos das indústrias) e pelas relações de produção (os empregados e sua força de trabalho) do mundo capitalista e da sociedade. O antagonismo motivado pelos conflitos e/ou oposições entre patrões e empregados gera a “luta de classes” que, por sua vez, provoca transformações sociais, modificando as relações do trabalho. O resultado é uma nova sociedade baseada no socialismo → cada pessoa passa a ser sujeito e objeto da História (representação coletiva e social). A proposta atual para as aulas de História no Ensino Fundamental é a compreensão da realidade e o levantamento de possibilidades de mudanças a serem realizadas pelo homem com o objetivo de ampliar suas experiências coletivas. A reinterpretação do passado contribui para que o aluno compreenda a origem social e histórica dos conflitos de seu país e do mundo em que vive, devendo partir do seu espaço vivido, acumulado conforme seu desenvolvimento e recursos. Objetivos gerais no ensino de História Os Parâmetros Curriculares Nacionais determinam como objetivos gerais do ensino de História no Ensino Fundamental que os alunos sejam capazes de: identificar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem com outros tempos e espaços; localizar acontecimentos no tempo: presente e passado; conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais; reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas; questionar sua realidade, identificando alguns de seus problemas e refletindo sobre algumas de suas possíveis soluções; valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade; reconhecer algumas relações sociais, econômicas, políticas e culturais; identificar as ascendências e descendências das pessoas; identificar as relações de poder; utilizar diferentes fontes de informação para leituras críticas; valorizar as ações coletivas. Habilidades e competências Competência é uma habilidade de ordem geral, enquanto habilidade é uma competência de ordem particular, específica (MACEDO, 1999). Competência, portanto, é a capacidade “de mobilizarmos nossos equipamentos” mentais, é a maneira como articulamos nossas habilidades para alcançar um objetivo, para superar um desafio, vencer um obstáculo. É importante que os professores de História ajudem seus alunos em diferentes competências, graduando seu padrão de dificuldade conforme a idade e ano de escolaridade. Os conteúdos e sua importância no ensino de História O conteúdo na escola é o meio para que o aluno desenvolva sua capacidade, exercite sua competência e coloque em prática as habilidades que aprendeu. Pode ser classificado em três grupos: Conteúdos conceituais (o que devemos saber): envolvem a abordagem de conceitos, fatos, teorias, hipóteses e princípios e se referem à construção ativa e dinâmica das capacidades intelectuais para que os alunos possam operar símbolos, signos, ideias, imagens que representam a realidade. Conteúdos procedimentais (como devemos fazer): correspondem aos modos de buscar e aplicar, organizar e comunicar os conteúdos conceituais. Os primeiros não se isolam dos segundos e de nada adianta um saber se o conhecimento o isola de sua ação. Conteúdos atitudinais (como devemos ser): referem-se às normas, valores e virtudes – são as atitudes que devem apresentar-se e permear todo conhecimento escolar. Para que a aprendizagem dos alunos em História seja significativa, os conteúdos devem ser analisados e apresentados de modo a estruturar uma rede de significações. Portanto, os conteúdos possuem vários sentidos e podem ser classificados em: a) Conceituais – o que devemos saber. b) Procedimentais – como devemos fazer. c) Atitudinais – como devemos ser. d) As alternativas “a”, “b” e “c” estão corretas. O planejamento no ensino de História O planejamento está presente em quase todas as nossas ações, pois ele norteia a realização das atividades. Portanto, é essencial em diferentes setores da vida social, tornando-se imprescindível também na atividade docente. Libâneo (1994): “[...] tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos de organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino”. Ao planejar uma aula, entenda-a como um degrau situado no meio de uma escada: seu apoio necessário é o degrau anterior e seu objetivo será sempre o degrau seguinte. É essencial que os temas que serão trabalhados estejam claramente definidos, conforme o ano de escolaridade em que o aluno se encontra, seguindo assim uma linha vertical de conceitos. O planejamento não pode ser uma singela relação de assuntos que devem ser apresentados a uma turma, mas uma hierarquização de objetivos a atingir por meio da execução de um plano de atividades. Constituem elementos do planejamento: determinação das metas ou objetivos que deverão ser atingidos dentro de um espaço de tempo; determinação dos conteúdos conceituais, a linha temática que levará os alunos a atingir essas metas; determinação das condições materiais mínimas exigidas; determinação das unidades de trabalho e de suas formas de realização (aulas, práticas educativas, atividades extracurriculares etc.). Avaliação do ensino de História A avaliação como parte do processo educativo compreende tanto a ação pedagógica como o desenvolvimento das habilidades, competências e conhecimentos construídos pelos alunos. No processo de ensino e aprendizagem, o ato de avaliar deve transformar-se num momento privilegiado de diálogo entre alunos e professores. O ato de avaliar é a ferramenta que proporciona aos alunos demonstrar o que aprenderam, o que sabem e as relações que estabelecem entre o seu próprio conhecimento e o adquirido. Características da avaliação É formativa: traz benefícios ao aluno, situando seu progresso e seus limites, e destaca os pontos em que precisa de maior empenho e dedicação. É global: oferece informações não apenas sobre os avanços numéricos conquistados pelo aluno, mas também sobre seus interesses e suas motivações, sobre suas necessidades e habilidades. É contínua: baseia-se, sobretudo, na observação do desempenho cotidiano do aluno. É diversificada: utiliza diferentes fontes de informação. É integradora: considera a diversidade cultural e linguística do aluno e o seu processo de integração na escola. É apaziguadora: dessa forma, o aluno a percebe como instrumento normal do acompanhamento de seu progresso, não causando tensões e ansiedades. É explícita: informa aos pais não apenas resultados, mas etapas de conquistas e progressos. O planejamento escolar em História não pode estar centrado apenas em uma série, pois possui uma dimensão pedagógica totalizante que contribui para a formação integral do aluno. Cada série apresenta um objetivo a ser trabalhado pelas disciplinas do currículo, pois o planejamento em História possui uma estrutura: c) Vertical. Unidade II – Geografia Tomando-secomo referência os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental de Geografia e textos de diversos autores, organizamos o trabalho em quatro títulos: 1 - Geografia e o espaço vivido; 2 - Ensinando Geografia; 3 - Os saberes de Geografia em sala de aula; e 4 - Avaliação do ensino de Geografia. Reflitamos um pouco sobre o ensino da Geografia: Cabe à Geografia levar a compreender o espaço produzido pela sociedade na qual vivemos hoje, suas desigualdades e contradições, as relações de produção que nela se desenvolvem e a apropriação que esta sociedade faz da natureza. É nestes termos que a Geografia hoje se coloca e que seu ensino adquire menção fundamental no currículo escolar. Portanto, o estudo de Geografia tem por finalidade: compreender o espaço produzido pela sociedade na qual vivemos hoje, suas desigualdades e contradições, as relações de produção que nela se desenvolvem e a apropriação que esta sociedade faz da natureza. desenvolver nos alunos uma postura crítica diante da realidade. observar e comparar as relações de interdependência e de determinação que existem entre o mundo urbano, rural e demais espaços. O que é Geografia O ensino de Geografia procura entender o aqui e o agora, o imediato e o vivenciado, ponto de partida e de referência para a compreensão da realidade, que requer um processo de ir e vir no espaço, do próximo ao distante e vice-versa, num processo contínuo em que ambos se expliquem. A escola deve propor um ensino de Geografia centrado, não exclusivamente nas diferentes relações entre a cidade e o campo, mas também em suas dimensões sociais, culturais e ambientais, considerando o papel do trabalho, da tecnologia, da informação, da comunicação e do transporte. 1 - Geografia e o espaço vivido O indivíduo como parte integrante da construção do lugar em que vive Consciência de como se constrói o lugar em que se vive, ampliando a ideia de participação e de seu papel de cidadão. Entender o porquê da existência ou não de cada equipamento urbano no lugar em que se vive é desvendar as formas de apropriação e valorização do espaço. O lugar ganha uma dimensão para além de sua materialidade; é espaço que circunda imediatamente o corpo, portanto, dotado de representações. As relações do homem com a natureza e com o espaço: O homem sempre produziu ferramentas para facilitar seu trabalho ou para ajudá-lo a superar suas limitações físicas. Assim, o homem, um ser que facilmente seria vencido pelos elementos da natureza, produziu um enorme número de artefatos que lhe possibilitaram dominar e transformar o meio natural. A forma como a criança vai adquirindo noções de espaços decorrem das experiências vivenciadas a partir de objetos, ações e representações. Os estudos de Geografia partem da concepção de lugar como espaço próximo, espaço vivido e como espaço de expressão de relações horizontais (relações da comunidade com seu meio) e espaço de relações verticais (relações sociais mais amplas determinando a especificidade dos lugares). A relação natureza/sociedade/trabalho produz o espaço, portanto, são inerentes à Geografia. Cartografia na escola: Linguagens gráficas mais conhecidas: O desenho - uma das manifestações mais antigas da humanidade, presente na cultura de praticamente todos os povos; aparece espontaneamente nas atividades das crianças, desde bem pequenas. O mapa - resulta de séculos de acumulação de conhecimentos e do desenvolvimento de técnicas cartográficas, o que exige um longo aprendizado para que se possa ler e entender. Ambos representam o espaço geográfico. “É por demais sabido que a principal forma de relação entre o homem e o meio, é dada pela técnica. As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço” (MILTON SANTOS, 2004, p. 25). Portanto, são inerentes à Geografia na produção do espaço, a relação: c) Natureza, sociedade e trabalho. Espaço geográfico: Diversas concepções: “localização”, “algo separado dos demais elementos espaciais”, “o homem como ser que cria e modifica espaços de acordo com suas culturas e objetivos”, Concepção atual: “o espaço é produto das relações entre homens e dos homens com a natureza, e ao mesmo tempo, é fator que interfere nas mesmas relações que o constituíram. O espaço é, então, a materialização das relações existentes entre os homens na sociedade”. (Alves,2005). 2 - Ensinando Geografia Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o ensino e a aprendizagem de Geografia envolvem as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço geográfico e da paisagem. Embora o espaço geográfico deva ser o objeto central de estudo em Geografia, as categorias paisagem, território e lugar devem também ser abordadas, principalmente nos anos iniciais, quando se mostram mais acessíveis aos alunos. Por que ensinar Geografia Uma das razões de se ensinar Geografia na atualidade, justifica-se pela possibilidade de ampliação das capacidades dos alunos para apreenderem a realidade, sob o ponto de vista da espacialidade complexa. As primeiras noções de espacialidade, desenvolvidas desde as séries iniciais do Ensino Fundamental, estiveram somente relacionadas às formas e arranjos espaciais. Atualmente a espacialidade envolve também as relações presentes no espaço geográfico e os processos socioespaciais que a constitui. Ensina-se Geografia para que os alunos possam construir e desenvolver uma compreensão de espaço e do tempo, fazer uma leitura coerente do mundo e dos intercâmbios que o sustentam, apropriando-se de conhecimentos específicos e usando-os como verdadeira ferramenta para seu crescimento pessoal e para suas relações com os outros. As noções de Geografia envolvem o sentido que se tem do lugar e do espaço e a materialização das muitas relações próximas ou distantes. Particularidades da Geografia História do pensamento geográfico Idade Antiga → Grécia - ciência que à época se confundia com a Filosofia. Roma →périplo, documento que descrevia os portos e as escalas que os viajantes dos mares poderiam encontrar em suas viagens. Idade Média → aprofundamento do legado dos gregos e romanos. Idade Moderna → expansão dos conhecimentos geográficos → Marco Polo. Renascimento → escritos teóricos com detalhamentos mais precisos sobre a Terra → Gerardo Mercator (mapa do mundo). Idade Moderna →Alexander Von Humboldt (1769–1859), cientista considerado o pai da Geografia Moderna. Idade Contemporânea → acréscimo das informações geográficas → integrar os currículos universitários. Séculos XX e XXI → surgimento de instrumentos de precisão → Friedrich Ratzel, geógrafo e etnógrafo alemão, responsável também pela constituição de mais uma dimensão da Geografia, a Geografia Política. A Geografia no Contexto Educacional Brasileiro: 1837 - Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, inclui a disciplina como obrigatória. 1900 - A Geografia ganha espaço nas escolas de todo o país. Acredita-se que, conhecendo as características físicas do local, o sentimento de nacionalismo e patriotismo será despertado nos estudantes. 1905 - O livro “Compêndio de Geografia Elementar”, Manuel Said Ali Ida → estudo do Brasil por regiões, abrindo espaço para melhor conhecer o território nacional. 1934 - departamento e o curso superior de Geografia – USP → tradicional. 1971 - Geografia e História são aglutinadas na disciplina de Estudos Sociais. 1978 - Milton Santos, considerado o maior geógrafo do Brasil, publica o livro “Por uma Geografia Nova” → preconiza a importância do estudo das questões sociais. 1993 - Núcleo de Pesquisa sobre Espaço e Cultura da UERJ. 1998 - PCNs definem objetivos da área de Geografia (compreender as relações entre a formação da sociedade e o funcionamento da natureza com base na paisagem. No contexto educacional, a primeira escola brasileira a incluir Geografianas disciplinas curriculares obrigatórias foi: a) O Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro em 1837. Diferentes Visões da Geografia À época do determinismo geográfico, a Geografia explicava que as forças ambientais (frio, calor, umidade excessiva, extrema aridez) atuavam sobre as pessoas, definindo suas características. Na prática, o determinismo geográfico era evidente na linguagem e no conhecimento do senso comum, por meio das frases: “quem habita os trópicos é preguiçoso, não gosta de trabalhar, é ‘molenga’; e os que vivem nos países onde o frio é intenso são mais espertos e inteligentes”. Geografia Regional → campo próprio de trabalho da Geografia: o espaço e os lugares geográficos → pesquisa e estudo das características dos lugares (semelhanças de vegetação, clima, etc.). Década de 1950 → homem chega à Lua → Revolução Quantitativa → o fim último da Geografia era testar as regras gerais que definiam as várias regiões do globo terrestre → método estatístico (espaço geográfico foi matematizado e representado pelos índices de frequência (%) e conforme o desenvolvimento da tecnologia, também foi informatizado. Geografia Crítica ou Radical: representada pela dimensão humanista, surgindo assim a Geografia Humana → originada pela explicação dos princípios de Karl Marx (explica a ação das relações sociais e espaciais pelas ideias do pós-modernismo e das teorias pós-estruturalistas). Brasil: Milton Santos e Aziz Ab’Saber → Geografia como ciência social, acusando a sociedade capitalista pelo estudo do espaço sob a mira do capitalismo ou da economia neoliberal. Jurandyr Ross: mapear detalhadamente o relevo do solo brasileiro. Objetivos Gerais no Ensino de Geografia: PCNs: o ensino de Geografia para todos os anos do Ensino Fundamental possui objetivos que visam permitir a cada aluno, dentro de seu limite e respeitando seu nível de compreensão, que sejam capazes de: conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar; identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas consequências em diferentes espaços e tempos. Compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos. Conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da Geografia para compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar. Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação. Saber utilizar a linguagem cartográfica para obter informações e representar a espacialidade dos fenômenos geográficos. Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a socio diversidade. 3 - Os saberes de Geografia em sala de aula - Os Conteúdos no Ensino de Geografia: PCNs: “Embora o espaço geográfico deva ser objeto central de estudo, as categorias paisagem, território e lugar devem também ser abordadas. Portanto, devemos começar o ensino dessa a disciplina a partir do que está mais próximo e seguir na direção do que está mais distante, porém com significado.” Devem possibilitar o pleno desenvolvimento e a construção de uma identificação com o lugar onde vive e com a nação brasileira, valorizando os aspectos socioambientais que caracterizam seu patrimônio cultural e ambiental. Devem possibilitar, desenvolver e aprimorar a tomada de consciência sobre o território nacional que é composto de muitas e diferentes culturas. Um dos critérios a serem usados para a seleção dos conteúdos é a preservação da diversidade nacional. Somos todos diferentes, porém iguais quanto à natureza e aos direitos. Nos primeiros anos de escolaridade, o estudo da Geografia deve voltar-se sobretudo para os temas relativos à presença e ao papel da natureza e sua relação com a ação das pessoas, dos grupos sociais e da sociedade na construção do espaço geográfico. O conhecimento que o aluno traz de casa é a referência para a organização do trabalho do professor. A seleção dos conteúdos → atividades significativas e conhecimentos transformadores aos alunos → é necessário disponibilizar meios e ferramentas. Devemos começar o ensino de Geografia a partir do que está mais próximo ao aluno e seguir na direção do que está mais distante, porém com significado. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, o objeto central de estudo no ensino de Geografia é: d) O espaço geográfico. Meios e Ferramentas para o ensino de Geografia Fato Geográfico - Um vulcão se torna “fato geográfico” quando se localiza o lugar onde se encontra, quando são examinadas suas características e origem e se percebe ação e riscos sociais. Não existe um fato geográfico em um único fenômeno, mas na análise cuidadosa desse fenômeno com seu entorno e suas muitas relações com as pessoas. O vulcão é o “objeto geográfico” e é a análise de seu conteúdo social que lhe dá sentido (fato geográfico). Milton Santos: o espaço geográfico é a configuração territorial dos objetos geográficos e seu conteúdo social. O texto e a carta geográfica: duas das mais importantes linguagens da Geografia: o texto geográfico e a representação geográfica, isto é, a cartografia. Os mapas nos permitem ter domínio espacial e fazer síntese dos fenômenos que ocorram em um determinado espaço, pois aprender “geograficamente” o texto é tão importante quanto “aprender cartograficamente” um mapa e, nesse sentido, um essencial papel do professor é “alfabetizar cartograficamente” seus alunos. A alfabetização cartográfica → o primeiro passo de um aluno em sua alfabetização cartográfica é aprender a ver um mapa ou carta geográfica, diferenciando a ação do verbo ver (olhar com interesse, atenção) a com a ação do olhar (fitar os olhos). Não é necessário aprendermos a olhar, mas é importante que aprendamos a ver, ação essencial para quem pratica a alfabetização cartográfica. Todo aluno tem necessidade de ir se acostumando com as diferenças entre a linguagem escrita e a linguagem visual. O que ver em uma carta geográfica? O título: de que natureza é a carta geográfica. A escala do mapa: perceber a extensão da área mapeada. Análise da localização da área mapeada: decompor o todo em suas partes constituintes. A orientação espacial: é o sentido da posição geográfica. As correlações: interação dos elementos naturais com os humanos. A síntese: concluir a leitura com um trabalho que permita explicar, comparar, classificar, descrever, associar e aplicar em outras situações a paisagem que o mapa ilustra. Trabalhos de campo e o estudo do meio. Por meio de uma atividade externa, os alunos têm a chance de descobrir uma nova Geografia e de percebê-la, não como tema restrito à sala de aula, mas como projeto de pesquisa no qual se aprende a ver o objeto estudado e a atribuir-lhe sentido. 4 - Avaliação do ensino de Geografia Ao final de cada ano de escolaridade, os alunos devem ter avaliadas suas conquistas numa perspectiva de continuidade aos seus estudos. Para uma avaliação adequada é necessário estabelecer critérios, como: Reconhecer algumas das manifestações da relação entre sociedade e natureza presentes na sua vida cotidiana e na paisagem local. Reconhecer e localizar as características da paisagem local e compará-las com as de outras paisagens. Ler, interpretar e representar o espaço através de mapas. A linguagem é um dos elementos essenciais à vida moderna e às ciências. Muito mais que um meio de comunicação entre pessoas, expressa o que se entende por conhecimento, pois a linguagem encarna as significações. Quem ensina Geografia deve estar muito atento a duas de suas mais importantes linguagens: b) O texto geográfico e a cartografia.
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