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1 ADMINITRAÇÃO TRIBUTÁRIA ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário – 11. Ed. rev, atual, ampl. Salvador – Ed. JusPodivm, 2017; CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br>. Sumário Considerações Iniciais ............................................................................................................... 1 Fiscalização ................................................................................................................................. 1 Poderes das Autoridades Fiscais ........................................................................................ 2 Possibilidade do Fisco Requisitar Informações Protegidas por Sigilo Bancário Diretamente ......................................................................................................................... 3 Deveres das Autoridades Fiscais ........................................................................................ 4 Dever de Documentar o Início do Procedimento........................................................... 4 Dever de Manter Sigilo e Suas Exceções ...................................................................... 5 Permuta de Informações Sigilosas Entre Entes Tributantes ....................................... 6 Dívida Ativa ................................................................................................................................. 7 Certidões Negativas ................................................................................................................... 8 Certidões Positivas com Efeitos de Negativas .................................................................. 9 Dispensa da Apresentação de Certidão Negativa ............................................................ 9 Responsabilidade por Expedição de Certidão com Erro ............................................... 10 Meios Indiretos de Cobrança e a Vedação Às Sanções Políticas .................................... 10 Jurisprudência ....................................................................................................................... 11 Súmulas ................................................................................................................................. 11 Considerações Iniciais É a atividade exercida pelo Poder Público, com o objetivo de verificar o cumprimento das obrigações tributárias, ou seja, é uma atividade voltada para fiscalização e arrecadação tributária. Fiscalização Dívida Ativa Certidões Negativas Estímulo do cumprimento espontâneo/Punição dos infratores. Providências executórias contra os que não cumpriram suas obrigações. Comprovação da regularidade possibilitando acesso aos benefícios legais. Fiscalização A fiscalização é um poder-dever orientado pela isonomia, que, em matéria tributária, se prende à ideia de tributar cada pessoa na medida de sua capacidade contributiva. A legislação relativa à fiscalização aplica-se às pessoas naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, inclusive às que gozem de imunidade tributária ou de isenção de caráter pessoal (CTN, art. 194, parágrafo único). 2 Assim, se uma associação sem fins lucrativos (imune) faz pagamento sujeito à retenção de imposto de renda na fonte, será sujeito passivo do tributo (responsável), o que também aponta no sentido de que, assim como as demais pessoas físicas e jurídicas, os entes imunes devem se sujeitar, ao menos potencialmente, à atividade fiscalizatória do Estado. Poderes das Autoridades Fiscais O caráter sigiloso da escrituração comercial e fiscal, bem como dos documentos que comprovam os fatos escriturados, não pode ser oposto ao Fisco, devendo os sujeitos passivos mantê-los (livros e documentos) até que ocorra a prescrição dos créditos decorrentes das operações a que se refiram (CTN art. 195, parágrafo único). Não resta duvidas, portanto que, caso solicitados pela autoridade fiscal, os livros obrigatórios de escrituração comercial deverão ser apresentados, sob pena de cometimento de ilícito fiscal. Por outro lado, no que diz respeito aos livros opcionais, o sujeito passivo não é obrigado a mantê-los, razão pela qual não pode sofrer nenhuma punição por isso. Mas caso o sujeito passivo mantenha livro opcional, não pode negar-se a apresenta-lo quando solicitado pelo Fisco, sob pena de configuração de embaraço à fiscalização ou ilícito mais grave. Súmula 439 STF: Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação. Por força da referida súmula, é vedado à autoridade administrativa desviar a finalidade do procedimento e adentrar nos demais pontos constantes da escritura fiscal que deveriam permanecer sigilosos. Ou seja, o Fisco deve acessar apenas os livros necessários a elucidação da matéria que desencadeou a fiscalização. Conforme o artigo 197 do CTN, são pessoas obrigadas a fornecer informações: I - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício; II - os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições financeiras; III - as empresas de administração de bens; IV - os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais; V - os inventariantes; VI - os síndicos, comissários e liquidatários; VII - quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de seu cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão. Importante destacar que essa lista não é exaustiva, uma vez que o inciso VII deixa aberta a possibilidade que a lei designe outras entidades ou pessoas não elencadas no ártico citado. Outro poder outorgado às autoridades fiscais pelo CTN, em seu artigo 200, é a possibilidade de requisitar a força pública, ou seja, apoio policial. Tal poder é da autoridade que preside a diligência e não necessariamente o chefe da repartição fiscal. 3 Possibilidade do Fisco Requisitar Informações Protegidas por Sigilo Bancário Diretamente1 Historicamente sempre houve grande controvérsia acerca da possibilidade da autoridade administrativa requisitar diretamente às instituições financeiras (inciso II) informações protegidas por sigilo bancário. Tal possibilidade encontra fundamento no artigo 6º da LC 105/2001: As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo administrativo instaura ou procedimento em curso e tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente. Em 2016 o STF julgou as ADIs 2390/DF, 2386/DF, 2397/DF e 2859/DF e considerou constitucional a previsão do artigo 6º da LC 105/2001, pois tal previsão não se caracteriza como "quebra" de sigilo bancário, ocorrendo apenas a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Vale ressaltar que os Estados-Membros e os Municípios somente podem obter as informações previstas no art. 6º da LC 105/2001, uma vez regulamentada a matéria de forma análoga ao Decreto Federal nº 3.724/2001, observados os seguintes parâmetros: a) Pertinência temática entre a obtenção das informações bancárias e o tributo objeto de cobrança no procedimento administrativo instaurado; b) Prévia notificação do contribuinte quanto à instauração do processo e a todos os demais atos, garantido o mais amplo acesso do contribuinte aos autos, permitindo-lhe tirar cópias, não apenas de documentos, mas também de decisões; c) Sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico;d) Existência de sistemas eletrônicos de segurança que fossem certificados e com o registro de acesso; e, finalmente, e) Estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de desvios. A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque possui esse regulamento. Trata-se justamente do Decreto 3.724/2001 acima mencionada, que regulamenta o art. 6º da LC 105/2001. O art. 5º da LC 105/2001, que permite obriga as instituições financeiras a informarem periodicamente à Receita Federal as operações financeiras realizadas acima de determinado valor, também é considerado constitucional. Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produzida no âmbito da Receita Federal do Brasil por meio da obtenção de informações de instituições financeiras sem prévia autorização judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF decidiu que são constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/2001, que permitem o acesso direto da Receita Federal à movimentação financeira dos 1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras informações bancárias sobre os contribuintes sem intervenção do Poder Judiciário. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/17e62166fc8586dfa4d1bc0e1742c08b>. Acesso em: 18/07/2018 4 contribuintes. STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/4/2016 (Info 822). Resumo dos órgãos que podem requisitar informações bancárias diretamente (sem autorização judicial): SIGILO BANCÁRIO Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições financeiras? Polícia NÃO. É necessária autorização judicial. Ministério Público NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/09/2011). Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário (STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em 20/10/2015). TCU NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/2012). Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF. MS 33340/DF, j. em 26/5/2015). Receita Federal SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001. O repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo bancário". Fisco Estadual, DF e Municipal SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de competência, o art. 6º da LC 105/2001, de forma análoga ao Decreto Federal 3.724/2001. CPI SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/2001). Prevalece que CPI municipal não pode. Deveres das Autoridades Fiscais Dever de Documentar o Início do Procedimento Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligências de fiscalização lavrará os termos necessários para que se documente o início do procedimento, na forma da legislação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusão daquelas. Além de precisar o termo inicial do prazo para a conclusão do procedimento, a lavratura de Termo de Início de Fiscalização pode produzir dois outros efeitos, quais sejam: a) Antecipar a contagem do prazo decadencial; b) Afastar a espontaneidade do sujeito passivo. Regra geral, o prazo decadencial inicia no primeiro dia do exercício seguinte em que o lançamento poderia ter sido feito. Entretanto, se antes de atingida tal data, for iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento, o termo inicial é antecipada para a data da notificação. 5 Nesse sentido, se lavrado e cientificado um Termo de Início de Fiscalização, fica afastada a espontaneidade do sujeito passivo quanto às infrações que sejam correlacionadas com o objeto da fiscalização. Resumindo, os efeitos da lavratura de Termo de Início de Fiscalização com a notificação formal do fiscalizado são: a) Estabelece o termo inicial para o término do procedimento fiscalizatório; b) Antecipa o termo inicial de fluência do prazo decadencial (se já não teve seu curso iniciado); c) Afasta a espontaneidade do sujeito passivo. Dever de Manter Sigilo e Suas Exceções Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades. § 1º Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199, os seguintes: I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça; II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de infração administrativa. Nos casos previstos no § 1º, a informação não deixa de ser sigilosa, apenas sendo transferida do âmbito da Administração Tributária para uma outra organização. Nos termos do inciso I, a autoridade judiciária requisita a informação protegida pelo sigilo, sendo que ela não é divulgada, devendo permanecer em sigilo também no âmbito do judiciário. Já o inciso II tem aplicabilidade quando instaurado processo administrativo no âmbito da entidade solicitante, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de infração. Nesse caso, aplica-se a regra procedimental contida no § 2º do art. 198 do CTN: § 2º O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração Pública, será realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega será feita pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo. Já nos casos previstos no § 3º, também do art. 198 do CTN, a informação deixa de ser sigilosa, podendo ser divulgada inclusive pela imprensa: § 3º Não é vedada a divulgação de informações relativas a: I – representações fiscais para fins penais; II – inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública; III – parcelamento ou moratória. 6 No que diz respeito as investigações que constatam a existência de crime contra a administração pública, a autoridade fiscal deve imediatamente formular representação fiscal para fins penais. Por outro lado, quando para a existência do crime é necessária a existência do crédito tributário, como nos crimes contra a ordem tributária, apropriação indébita previdenciária ou sonegação de contribuição previdenciária, o legislador estipulou no art. 83 da Lei 9.430/1996 o seguinte: A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto- Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente. O objetivo é evitar o conflito entre decisões administrativas e judiciais, bem comoo oferecimento prematuro de denúncias criminais contra contribuintes que ainda não tiveram oportunidade de defesa quanto à matéria estritamente tributária. Súmula Vinculante 24 – Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a V, da Lei n.º 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. Caso não tenha sido efetuado o lançamento e constituído o crédito tributário, não haverá justa causa para a ação penal. Logo, só haverá justa causa após o fim do processo administrativo fiscal. A representação fiscal não é condição de procedibilidade para a instauração de ação penal púbica, mas a definitividade da constituição do crédito é condição para a configuração do crime. Enquanto não concluído o processo administrativo, não corre o prazo prescricional para responsabilização criminal do sujeito passivo. Apesar disso, o STF entende possível a instauração de inquérito policial para apuração de crime contra a ordem tributária, antes do encerramento do processo administrativo fiscal. Entretanto, nos casos em que é possível a requisição direta nos termos da regulamentação da matéria, não mais é necessária a instauração de inquérito policial para instrumentalizar o pedido de quebra do sigilo bancário. Ou seja, se é possível o Fisco requisitar a quebra do sigilo bancário diretamente, colher as provas e posteriormente entregar ao Ministério Público para tomar as providências no âmbito criminal, não tem necessidade do Fisco representar ao Ministério Público, para que requeira a instauração do Inquérito Policia, para que haja diligências que corroborem um pedido de quebra de sigilo via judicial. Permuta de Informações Sigilosas Entre Entes Tributantes Art. 199. A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização dos tributos respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida, em caráter geral ou específico, por lei ou convênio. Parágrafo único. A Fazenda Pública da União, na forma estabelecida em tratados, acordos ou convênios, poderá permutar informações com 7 Estados estrangeiros no interesse da arrecadação e da fiscalização de tributos Pode o fisco federal se utilizar das provas produzidas pelo fisco estadual e realizar o lançamento suplementar de tributo federal? SIM. O intercâmbio de informações protegidas pelo sigilo fiscal, entre fazendas públicas dos entes federados dá amparo, consoante entendimento do STF, à chamada prova emprestada entre fisco federal e o fisco estadual, sendo tal prova coligida mediante a garantia do contraditório. Prova emprestada não é o mesmo que conclusão emprestada. O que se empresta é o conjunto probatório e a partir desse conjunto de informações a autoridade pode extrair suas conclusões, para realizar sua própria autuação. Dívida Ativa O principal objetivo da inscrição de um crédito tributário em dívida ativa é exatamente extrair o título executivo que vai aparelhar a ação de execução fiscal a ser ajuizado pelo Estado na busca da satisfação do seu direito. Art. 201. Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito dessa natureza, regularmente inscrita na repartição administrativa competente, depois de esgotado o prazo fixado, para pagamento, pela lei ou por decisão final proferida em processo regular. Para ser qualificada como tributária, basta que a dívida ativa seja proveniente de crédito desta natureza. Inscrever em dívida ativa é incluir um devedor num cadastro em que estão aqueles que não adimpliram suas obrigações no prazo. Apesar de, na prática, as inscrições serem feitas de maneira eletrônica, deve-se entender – principalmente em provas de concurso – que existe um ato de inscrição, a cargo da autoridade competente, cujo efeito é conferir à dívida regularmente inscrita a presunção relativa (admite prova em contrário) de liquidez e certeza, passando a ter o efeito de prova pré-constituída (Art. 204, CTN). STJ: as planilhas elaboradas unilateralmente pela Fazenda Pública constituem prova idônea, gozando de presunção de veracidade e legitimidade, por consistirem em verdadeiros atos administrativos enunciativos, não se comparando a meras declarações particulares. Art. 201 – Parágrafo único. A fluência de juros de mora não exclui, para os efeitos deste artigo, a liquidez do crédito. Significa dizer que após a inscrição em dívida ativa, o decurso do tempo e os consequentes juros de mora não afetam a liquidez do documento, uma vez que se a CDA tiver o valor exato devido, basta mera cálculo aritmético para se chegar aos valores atualizados. Requisitos para a inscrição em dívida ativa: Art. 202. O termo de inscrição da dívida ativa, autenticado pela autoridade competente, indicará obrigatoriamente: 8 I - o nome do devedor e, sendo caso, o dos co-responsáveis, bem como, sempre que possível, o domicílio ou a residência de um e de outros; II - a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora acrescidos; III - a origem e natureza do crédito, mencionada especificamente a disposição da lei em que seja fundado; IV - a data em que foi inscrita; V - sendo caso, o número do processo administrativo de que se originar o crédito. A palavra certidão tem o sentido de cópia fiel. De acordo com o art. 203 do CTN, qualquer omissão de quaisquer dos requisitos previstos no termo de inscrição ou o erro a eles relativo é causa de nulidade da inscrição, o que contaminará a certidão e o processo de cobrança decorrente. A jurisprudência vê como princípio geral de direito que as nulidades – mesmo as absolutas – só devem ser declaras se houver prejuízo. STF: perfazendo-se o ato na integração de todos os elementos reclamados para a validade da certidão, há de atentar-se para a substância e não para os defeitos formais que não comprometem o essencial do documento. Sendo o caso de nulidade, o art. 203 do CTN afirma que também será nulo o processo de cobrança decorrente, mas a nulidade poderá ser sanada até a decisão de primeira instância, mediante substituição da certidão nula, devolvido ao sujeito passivo, acusado ou interessado o prazo para defesa, que somente poderá versar sobre a parte modificada. Súmula 392 STJ: A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução. STJ: inadmissível a substituição da CDA referente à cobrança de IPTU e taxas sobre áreas a maior, por isso que não se trata de simples correção de erro material ou formal do título executivo, mas de modificação do próprio lançamento, com alteração do valor do débito, o que não guarda apoio no art. 2º, § 8º, LEF. Certidões Negativas São os documentos aptos à comprovação de inexistência de débito de terminado contribuinte, de determinado tributo ou relativo a determinado período. Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do interessado, que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se refere o pedido. Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na repartição. 9 Apesar da denominação de Certidão Negativa de Débito, o STJ tem considerado válida a recusa de emissão quando o contribuinte descumpre obrigaçãoacessória, desde que tal consequência esteja prevista em lei, como é o caso da Guia de Recolhimento do FGTS e informações à Previdência Social. Certidões Positivas com Efeitos de Negativas Trata-se de certidão positiva, pois débitos existem, mas com efeitos de negativa, pois o requerente está em situação regular. Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa. a) Créditos não estão vencidos: Se constar da certidão a presença de crédito não vendido a mesma será positiva, mas com efeitos de negativa; b) Os créditos estão em curso de cobrança executiva em que tenha sido efetivada a penhora: Se já foi proposta a execução fiscal e realizada a apreensão judicial de bens suficientes à total extinção do crédito (penhora), o direito do Fisco está garantido, dependendo sua satisfação tão somente do natural andar do procedimento judicial, não podendo o particular ser punido pela lentidão do aparelho judicial – STJ. c) Os créditos estão com exigibilidade suspensa: caso em que o fisco não pode promover atos de cobrança, tal regra vale para todas as hipóteses suspensivas do art. 151 do CTN. STJ – a lei de determinado ente pode exigir apresentação de garantia para a obtenção do parcelamento. Se não o faz, os particulares que legalmente parcelam seus débitos têm direito à certidão positiva com efeito de negativa. Dispensa da Apresentação de Certidão Negativa Art. 207. Independentemente de disposição legal permissiva, será dispensada a prova de quitação de tributos, ou o seu suprimento, quando se tratar de prática de ato indispensável para evitar a caducidade de direito, respondendo, porém, todos os participantes no ato pelo tributo porventura devido, juros de mora e penalidades cabíveis, exceto as relativas a infrações cuja responsabilidade seja pessoal ao infrator. Trata-se de normal autoaplicável (pois independe de disposição legal permissiva) e tem por objetivo evitar que a exigência de apresentação da prova de quitação de tributo impeça a prática de um ato que se afigura urgente e acabe por gerar caducidade (perda) de direito. Se uma greve na repartição fiscal impediu o licitante de obter a certidão, o mesmo pode participar do procedimento sem o documento. Entretanto, como se extra do dispositivo transcrito, todos os participantes do ato responderão pelo tributo porventura devido, juros de mora e penalidades cabíveis, exceto as relativas a infrações cuja responsabilidade seja pessoal do infrator. Claro que o licitante beneficiado pela regra responderá pelo tributo devido, afinal de contas, ele é o sujeito passivo. Apesar de “participarem do ato”, as testemunhas e 10 membros da comissão de licitação não podem ser responsabilizados por débito porventura existente. Em resumo, para os efeitos do dispositivo são participantes do ato apenas os interessados na sua pratica, ou seja, aqueles que foram, com base na regra, dispensados da apresentação da certidão, ai incluídos não apenas os sujeitos passivos, mas também as pessoas físicas que, em nome daqueles, tenham invocado a aplicação do dispositivo. Responsabilidade por Expedição de Certidão com Erro A responsabilidade é pessoal do funcionário que a expedir, pelo crédito tributário e juros de mora acrescidos. Haverá dolo quando o servidor, sabendo do erro que macula a certidão, mesmo assim a expede, normalmente, visando ao benefício da pessoa a que se refere o documento. Há fraude quando o servidor altera, maquia, simula, insere dados sabidamente falsos na certidão que está a expedir. Se o erro não decorreu de dolo ou fraude do servidor que a expediu este não será responsabilizado. Ricardo Alexandre entende que a interpretação correta quando a responsabilidade é que a responsabilidade deve ser solidária entre o beneficiário da emissão da certidão e o servidor que a expediu. Entretanto, para fins de concurso público, ele aconselha seguir a literal disposição da lei: Art. 208. A certidão negativa expedida com dolo ou fraude, que contenha erro contra a Fazenda Pública, responsabiliza pessoalmente o funcionário que a expedir, pelo crédito tributário e juros de mora acrescidos. Parágrafo único. O disposto neste artigo não exclui a responsabilidade criminal e funcional que no caso couber. Meios Indiretos de Cobrança e a Vedação Às Sanções Políticas A utilização destes meios coercitivos indiretos (cadastro de devedores – CADIN e protesto extrajudicial da CDA) depende do cumprimento de dois requisitos: a) Há necessidade de expressa autorização legal, em respeito ao princípio da legalidade; b) O mecanismo de cobrança não pode consistir numa desproporcional ou desarrazoara restrição ao exercício de atividades econômicas ou profissionais lícitas. Esse segundo entendimento é tradicionalmente enxergado pelo STF como uma vedação a utilização de sanções políticas como meio coercitivo para o recebimento de tributo. STF: não são sanções políticas toda e qualquer medida coercitiva caracterizada como restrição aos direitos dos devedores. 11 Diferenciando o mero inadimplemento da sonegação, os casos isolados da contumácia, bem como atentando para os valores envolvidos, o Supremo chegou a admitir como legítima a cassação de registo especial para fabricação e comercialização de cigarro de empresa que era contumaz sonegadora de IPI. Em suma, diante da gravidade da situação, foi admitida proporcional providência estatal. O STF considerou constitucional a previsão que permite o protesto extrajudicial das certidões de dívida ativa (parágrafo único do art. 1º da Lei 9.492/1997. STF: o protesta configura um meio de cobrança menos invasivo que a própria execução fiscal, da qual pode decorrer a constrição patrimonial forçada do devedor. STF: o protesto das CDA constitui mecanismo constitucional e legitimo, por não restringir de forma desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção política. O protesto extrajudicial da certidão de dívida ativa não tem o efeito de interromper o prazo prescricional para ajuizando da execução fiscal, uma vez que o inciso II do parágrafo único do art. 174 do CTN somente atribui tal consequência ao protesto judicial. Jurisprudência O Estado não pode adotar sanções políticas para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos em atraso. STJ. 1ª Turma. RMS 53.989-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 17/04/2018 (Info 626). STF RE 565.048-RS: sanção política é a coerção indireta que impeça ou dificulte o exercício da atividade econômica para constranger o contribuinte ao pagamento em atraso. O Poder Público já está vinculado ao procedimento de execução fiscal para cobrança de seus créditos. Logo, tratar de maneira diferente contribuinte inadimplente, onerando-o de maneira desigual em relação a quem está em dia com o fisco, dificultando o exercício da atividade econômica, característica sanção política, a qual é vedada. O protesto das certidões de dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de forma desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção política. STF. Plenário. ADI 5135/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 9/11/2016 (Info 846). É INCONSTITUCIONAL a lei que exija que a empresa em débito com a Fazenda Pública tenha que oferecer uma garantia (ex.: fiança) para que possa emitir notas fiscais. Tal previsão configura “sanção política”(cobrança do tributo por vias oblíquas), o que viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão (art. 5º, XIII), da atividade econômica (art. 170, parágrafo único) e do devido processo legal (art. 5º, LIV). STF. Plenário. RE 565048/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/5/2014 (repercussão geral) (Info 748). Súmulas Súmula 70-STF: É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de tributo. Súmula 323-STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos. 12 Súmula 547-STF: Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais. Súmula 127-STJ: É ilegal condicionar a renovação da licença de veículo ao pagamento de multa, da qual o infrator não foi notificado.
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