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37 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Unidade II 5 AVALIAÇÃO: CONCEITOS BÁSICOS Avaliar um serviço não é tão simples quanto avaliar produtos, as pessoas têm necessidades e expectativas diferenciadas, portanto, a avaliação de A em relação a um determinado serviço pode ser totalmente diferente da avaliação de B em relação ao mesmo serviço. 5.1 Avaliação do serviço De acordo com Bridi e Paladini (2013), não é tão simples avaliar serviços quanto avaliar bens tangíveis. Conforme destacam os autores, um bem tangível como um carro, por exemplo, existe fisicamente. Assim, tem-se a impressão que a avaliação desse produto é concreta, porque se refere a algo que tocamos, que sentimos, que vemos. Figura 23 Segundo Bridi e Paladini (2013), durante o processo de fabricação do carro, são desenvolvidas operações cujo resultado é igualmente sensível, palpável, visível, real, enfim. O resultado dessas operações é mais fácil de ser analisado. Nesse exemplo, é possível observar a instalação de uma peça do carro, percebe-se o funcionamento de um motor, toca-se a superfície externa. Dessa forma, fica mais fácil perceber que uma peça está faltando, constata-se o inadequado funcionamento do motor pelos seus ruídos ou por sua vibração e detectam-se imperfeições de acabamento pelo tato. 38 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Lembrete Bem tangível é aquilo que pode ser mensurado, medido, tocado etc. Por outro lado, conforme Bridi e Paladini (2013), o serviço é intangível. Trata-se, na verdade, de uma ação associada a um desempenho, direcionada para um atendimento específico. A avaliação do serviço depende de quanto essa atividade representou efetivo ganho, benefício ou préstimo ao usuário. E isso, claro, é mais difícil de avaliar. Vejamos o exemplo de uma organização hospitalar: As organizações hospitalares, de acordo com Borba e Lisboa (2006), são prestadoras de serviços e diferem das produtoras de bens, caracterizando-se pela intangibilidade, inseparabilidade e perecebilidade. Lembrete Bem intangível é aquele que não se consegue tanger, ou seja, que não pode ser tocado. Dessa forma, na avaliação do serviço, leva-se em conta a percepção do cliente, a sua necessidade satisfeita ou se a impressão de que a expectativa foi atingida ou mesmo superada. Muitas dessas avaliações acabam no campo do estritamente subjetivo, o que dificulta ainda mais o processo. Segundo Bridi e Paladini (2013), pode-se definir a avaliação do serviço como a análise do valor que ele confere ao usuário. Esse valor é sempre estruturado na visão do usuário e depende dos referenciais que ele determina. A avaliação do serviço dimensiona o quanto o benefício desse serviço é considerado como valor pelo usuário. Por outro lado, Toledo et al. (2012) colocam que a avaliação que o cliente faz de um determinado serviço se dá por meio da comparação entre o que o cliente esperava do serviço e o que ele percebeu do serviço prestado. Essa avaliação se dá durante ou após o término da prestação do serviço prestado. Toledo et al. (2012) destacam que a qualidade do serviço percebida é dada pela relação entre a qualidade esperada (serviço esperado) e a qualidade experimentada (serviço percebido), ou seja, é a diferença entre as expectativas e necessidades do cliente em relação ao serviço e à percepção do serviço pelo cliente. Segundo os autores, para a compreensão correta do conceito da qualidade percebida, precisamos primeiro entender o que são necessidades, expectativas, percepções e satisfação, e como estão relacionadas. 39 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Uma necessidade é um estado de desequilíbrio interno do indivíduo, que é resultado de uma privação da satisfação. A Teoria das Necessidades de Maslow, figura a seguir (ENDEAVOR, [s.d.]), classifica as necessidades humanas em cinco categorias: fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e de autorrealização. Moralidade, criatividade espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceitos, aceitação dos fatos Autoestima, confiança, conquista, respeito dos outros, respeito aos outros Amizade, família, intimidade sexual Respiração, comida, água, sexo, sono, homeostase, excreção Segurança do corpo, do emprego, de recursos, da moralidade, da família, da saúde, da propriedade Fisiologia Fisiologia Segurança Amor/Relacionamento Realização pessoal Figura 24 As expectativas representam o que o cliente espera do serviço e são geradas a partir de suas necessidades, porém podem ser mais ou menos exigentes que as necessidades reais. Por exemplo: um cliente pode ter a necessidade de acomodação, entretanto tem a expectativa de se hospedar num hotel luxuoso. Figura 25 Toledo et al. (2012) colocam que é importante observar que a avaliação do serviço não envolve o repasse de um bem nem uma transação definida pela transferência de benefícios materiais efetivos. Trata-se, antes, de uma transação associada a uma necessidade, a um desejo, a uma preferência ou a uma solicitação específica do usuário. Essa transação provoca uma alteração para o usuário. O resultado dessa transação é, então, dimensionado e, por meio dela, avalia-se o serviço como um todo. 40 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Nesse sentido, a avaliação dos serviços difere da avaliação de produtos. Para melhor entendimento, vamos analisar o que diz Bridi e Paladini (2013) sobre o desempenho de um equipamento em termos do número de peças produzidas por hora ou custo de operação: se, por exemplo, um equipamento produz 300 peças por hora, a um custo de 20 unidades monetárias por um período considerado, tem-se aí um referencial absoluto. Um equipamento similar, desenvolvendo o mesmo processo e nas mesmas condições, que produza 400 peças por hora a um custo de 15 unidades monetárias por período sempre será melhor, independentemente de quem está avaliando. A avaliação de bens tangíveis, assim, pode utilizar escalas absolutas e, por isso, incontestes. Podemos concluir que a avaliação de bens tangíveis, cujo conceito já vimos anteriormente, sempre será mais fácil de ser realizada e mensurada. Por outro lado, a avaliação do serviço não opera desse modo, conforme Bridi e Paladini (2013). Esse tipo de avaliação é relativo, porque depende de quem está desenvolvendo o processo de avaliação. Assim, a posição do usuário é a única fonte efetiva de avaliação do serviço. Exemplo de aplicação Determinada pousada tem uma avaliação de 9,2; o que é uma excelente nota. Os itens avaliados foram: limpeza, conforto, comodidades, funcionários, custo-benefício, Wi-Fi gratuito, estacionamento e localização. Faça uma pesquisa em sites de reservas de hotéis, escolha um hotel, pousada, etc. e verifique os itens da pesquisa de satisfação dos clientes. Observe as notas atribuídas e a nota final do local pesquisado. Faça a comparação entre um hotel de luxo e outro mais simples. As expectativas dos clientes, na sua opinião, foram atendidas? Bridi e Paladini (2013) dizem que avaliar um serviço significa medir atos, ações, esforços, empenho, dedicação, disposição. Quem mede não é o agente produtivo, como muitas vezes ocorre com bens tangíveis, mas o receptor (alvo, beneficiário) do serviço. O problema, claro, é que nem sempre esse consumidorutiliza escalas mensuráveis ou precisas. Muitas vezes, suas escalas de avaliação são subjetivas e inexatas. Exemplo de aplicação Você costuma avaliar os serviços que utiliza? Com base em todos os exemplos que vimos até o momento, quais são as variáveis que você considera ao fazer a avaliação de um serviço. Considere viagens, cursos realizados, restaurantes, cinemas, serviços de saúde (clínicas, hospitais) etc. 41 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Segundo os autores, é importante observar que o serviço ocorre na interface do relacionamento entre consumidores e fornecedores. Por isso, a própria interface é objeto de avaliação do serviço. Assim, o consumidor analisa o atendimento do restaurante (interface), mas considera, também, o ambiente da interface (layout, decoração, limpeza das mesas e cadeiras, por exemplo). Figura 26 Exemplo de aplicação Avalie o serviço de um restaurante que você, um familiar ou colega costumem frequentar, identifique os pontos fortes e fracos em relação à percepção de cada um e faça a comparação. As opiniões foram divergentes? Em quais variáveis? Observação A avaliação de determinado serviço depende muito da percepção de quem o usufrui, portanto, é um fator subjetivo, e os resultados devem ser considerados pelos prestadores de serviços. 5.2 Avaliação da qualidade De acordo com Bridi e Paladini (2013), avaliar significa, em termos práticos, determinar a valia ou o valor de alguma coisa. Por isso, a análise de valor sempre está associada aos processos de avaliação. Portanto, avaliar significa, também, apreciar o mérito, o interesse, a importância ou o merecimento. Por isso, a avaliação gera um processo de reconhecimento de quanto um serviço, por exemplo, é relevante para um grupo de consumidores ou, de forma mais geral, para a sociedade. Talvez advenha daí o unânime apreço que se dedica a certas atividades, como as ações dos garis das prefeituras ou o serviço de atendimento médico de urgência (por razões diversas, claro) (BRIDI; PALADINI, 2013). 42 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Como a avaliação depende do julgamento dos envolvidos, e muitas vezes os critérios são subjetivos, haja vista que as pessoas são diferentes nas suas expectativas e desejos, conforme nos coloca Bridi e Paladini (2013); em geral, julgamentos que envolvem qualidade centram-se em benefícios, em resultados ou em efeitos de determinadas ações, ou seja, quais os benefícios que um determinado serviços proporciona aos usuários daquele serviço. Esses benefícios, resultados ou efeitos são sempre determinados e considerados pelo consumidor das ações em questão. Por isso, com muita propriedade, destacam Bridi e Paladini (2013), qualidade tem sido definida como “adequação ao uso”, já que a adequação é o elemento central do julgamento e o uso é definido pelo referencial do julgamento – o consumidor. Segundo Bridi e Paladini (2013), observa-se que a avaliação da qualidade sempre prioriza uma análise quantitativa de produtos ou processos, até para criar maior exatidão na definição das ações que decorrerem dessa avaliação. Esta, aliás, tem sido a prioridade de todo o esforço de melhoria dos processos de avaliação da qualidade: quantificar resultados. É importante para a análise dos resultados verificar o que foi planejado versus o produzido. Essa confrontação do planejado e o produzido significa observar: • A qualidade planejada refere-se ao impacto positivo que se deseja gerar no consumidor pela prestação de determinado serviço. • A qualidade produzida significa o nível de atendimento que o serviço determinou. De acordo com os autores, há dupla vantagem em definir a avaliação da qualidade nesses moldes (planejado versus produzido). Inicialmente, torna-se necessário planejar a qualidade, ou seja, definir metas a atingir com o serviço prestado. A seguir, é imprescindível medir essa qualidade, ou seja, dimensionar a satisfação do usuário em uma escala contínua. Os conceitos descritos alteram o entendimento usual que se tem de controle. Conforme destacam os autores, normalmente, o controle centra-se na comparação dos resultados que vão sendo obtidos em um processo e as especificações que foram fixadas para cada fase desse processo. Por outro lado, no contexto da avaliação da qualidade, o conceito de controle vai um pouco além, e inclui, também, as ações que visam impor comportamentos para o processo, de modo que ele opere no sentido de alcançar resultados. Tem-se, assim, uma ação proativa, que fixa desempenhos definidos. Observação O controle da qualidade aborda técnicas operacionais e atividades utilizadas para atender aos requisitos da qualidade em estágios relevantes do ciclo da qualidade, objetivando o monitoramento de processos, a eliminação de desempenho insatisfatório, a satisfação de clientes e a eficácia econômica. 43 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Segundo Campos (2014), a qualidade está diretamente ligada à satisfação do cliente interno ou externo, portanto, a qualidade é medida por meio das características da qualidade dos produtos ou serviços finais ou intermediários da empresa. Ela inclui a qualidade do produto, ou seja, a ausência de defeitos e presença de características que irão agradar o consumidor. Engloba, ainda, segundo o autor, a qualidade da rotina da empresa (previsibilidade e confiabilidade em todas as operações, a qualidade do treinamento, a qualidade da informação, a qualidade das pessoas da empresa, a qualidade da administração etc). Dessa forma, o mecanismo mais adequado para realizar o controle da qualidade é o monitoramento, que pressupõe um processo de permanente acompanhamento do desenvolvimento do serviço e da sua efetiva prestação ao usuário. Bridi e Paladini (2013) destacam que na prestação de serviços pode-se centrar os conceitos da qualidade nas operações produtivas (gestão da qualidade no processo); no atendimento ao mercado (relação de consumo) ou, de modo mais abrangente, à sociedade (impacto social da qualidade). Nesse sentido, torna-se necessário para as empresas ter uma visão estratégica sobre fornecedores, clientes, mercados e concorrentes. Essa visão direcionará o processo de avaliação da qualidade. Esse componente estratégico considera a dimensão espacial da qualidade, abrangendo toda a organização e o ambiente em que ela está inserida e envolve, também, a dimensão temporal da qualidade: variáveis que se alteram ao longo do tempo (progresso tecnológico e gosto ou desejos do mercado, por exemplo). Nesse contexto, Bridi e Paladini (2013) colocam que as decisões estratégicas são as que incluem análises abrangentes e no longo prazo, com o estudo detalhado de variáveis amplas que impactam sobre toda a organização. Em geral, tais decisões estão concentradas na alta administração da empresa, embora, claro, envolvam níveis gerenciais táticos e operacionais. Bridi e Paladini (2013) dizem que as decisões estratégicas são reunidas no planejamento estratégico. Esse planejamento integra a gestão estratégica, que pode ser desdobrada em processos gerenciais específicos, como a gestão estratégica de custos ou a gestão estratégica da qualidade. Segundo Marshall Junior et al. (2012), a qualidade que passou a ser discutida é a agenda estratégica de negócio, e o mercado passou a valorizar quem a possui e a penalizar as organizações que não se preocupam com a qualidade dos seus produtos e/ouserviços. De acordo com Marshall Junior et al. (2012), as legislações de defesa do consumidor, além de normas internacionais amplas e aplicáveis na cadeia de interação cliente – fornecedor, como a família ISO 9000, transformaram definitivamente o escopo da qualidade, consolidando-a em todos os pontos dos negócios. Dessa forma, conforme Bridi e Paladini (2013), o perfil estratégico da avaliação da qualidade pode ser conceituado como segue: 44 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II • A avaliação da qualidade distingue e individualiza a ação das organizações produtivas, ou seja, ela cria diferenciais. • Trata-se de uma opção estratégica das organizações. • Refere-se a um diferencial para o planejamento ou para a ação. • Esse diferencial cria as bases para a modelagem de estratégias competitivas para a prestação de serviços. Ao agregarmos os conceitos de avaliação, estratégia e qualidade, podemos definir a avaliação estratégica da qualidade como sendo a análise de valor em relação a padrões de processo, de mercado ou de alcance social positivo a fim de delimitar formas adequadas de sobrevivência das organizações (BRIDI; PALADINI, 2013). A avaliação da qualidade, segundo Bridi e Paladini (2013), utiliza algumas abordagens básicas, como a avaliação da qualidade pautada em indicadores, a avaliação estatística das operações produtivas e a avaliação estatística dos produtos por meio de processos de inspeção. As duas últimas são típicas da avaliação da qualidade de bens tangíveis. A abordagem baseada em indicadores é usada em ambos os contextos, bens tangíveis e serviços. Nesse sentido, Marshall Junior et al. (2012) coloca que os indicadores são fundamentais para controlar processos e produtos, introduzir melhorias e avaliar a satisfação das partes interessadas, principalmente os clientes. Assim sendo, o uso dos indicadores permite aos gestores de uma organização tomar decisões apoiadas em fatos, pois, com os resultados apurados, poderá verificar se os objetivos estão sendo atingidos. Figura 27 45 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS 5.3 Processo de avaliação da qualidade em serviços Vamos analisar o desdobramento do processo de avaliação da qualidade em serviços, que, segundo Bridi e Paladini (2013), podem ser desdobrados em quatro ações a seguir descritas. • Definição do referencial conceitual. • Desenvolvimento das etapas da avaliação da qualidade a partir dos conceitos selecionados. • Itens do processo de avaliação associados aos ambientes de gestão. • Elaboração do modelo estrutural. Cada ação geral comporta atividades específicas que viabilizam a construção do modelo de avaliação da qualidade em serviços, como se verá a seguir. 5.3.1 Referencial conceitual Conforme destaca Bridi e Paladini (2013), todo o processo de avaliação da qualidade é determinado pelo próprio conceito da qualidade. Assim, o primeiro passo para definir a avaliação da qualidade nos processos de desenvolvimento e prestação de serviços é delimitar quais conceitos da qualidade são relevantes aqui. Conforme vimos anteriormente, em sua forma básica, os conceitos tradicionais da qualidade a colocam como uma relação de consumo, definindo-a como adequação ao uso. Assim, o esforço pela qualidade centra-se no ajuste entre produto e demanda e sua avaliação depende do dimensionamento do grau de satisfação das necessidades do usuário. Por outro lado, a avaliação da qualidade em serviços considera as duas dimensões usuais da qualidade: Multiplicidade Evolução Figura 28 A dimensão multiplicidade significa que o serviço prestado engloba muitos aspectos simultaneamente. Essa seria a componente “espacial” do conceito, refletindo-se sobre o serviço na forma como ele é disponibilizado hoje. No segundo caso, de acordo com Bridi e Paladini (2013), observa-se que a qualidade do serviço vai sofrendo alterações conceituais ao longo do tempo. Trata-se de um processo evolutivo. Esse seria a componente “temporal” do conceito. Assim sendo, a multiplicidade atende às necessidades atuais dos consumidores. A evolução atua nas suas expectativas e visa fidelizar os consumidores dos serviços a que hoje a organização produtiva presta. A evolução visa transformar clientes em consumidores, ou seja, gerar novos consumidores dos 46 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II serviços disponibilizados. A multiplicidade mantém a empresa no momento atual. A evolução garante seu crescimento (BRIDI; PALADINI, 2013). Vamos analisar alguns exemplos colocados pelos autores, o que permitirá melhor entendimento sobre essas dimensões e sua aplicabilidade. Na dimensão multiplicidade, os autores falam de um posto de gasolina, ao qual se agregam outros serviços para carros (como lavagem ou troca de óleo), mas também lojas de conveniência, lavanderias e locação de DVDs, entre outros serviços. Figura 29 Na dimensão evolução, seria a ampliação de serviços por aporte tecnológico diferenciado, e os autores citam como exemplo a inclusão, no telefone celular, da capacidade de tirar fotos ou de acessar a internet. Figura 30 ̀ À gestão da qualidade, segundo Bridi e Paladini (2013), caberá operacionalizar esses dois aspectos, que podem ser considerados como referenciais básicos da sua atividade. No primeiro caso, trata-se do conceito da qualidade que mantém a empresa em operação hoje, fidelizando os atuais consumidores. No segundo, considera-se o direcionamento da organização para o crescimento, ou seja, para seu futuro. Dessa forma, a multiplicidade de itens, como o aspecto básico do conceito da qualidade, é bem evidente. A meta da gestão da qualidade nesse contexto é simples: focalizar toda a 47 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS atividade produtiva para o atendimento do consumidor, considerando os (múltiplos) itens que ele considere relevantes. Exemplo de aplicação Vamos supor que você deseja adquirir um novo aparelho telefônico, faça uma pesquisa e relacione pela dimensão multiplicidade quais os itens que você considera relevante para adquirir o aparelho A ou B. Por outro lado, Bridi e Paladini (2013) dizem que o elemento evolutivo é bem visível, na medida em que se investe em um processo de acompanhamento visando observar como clientes e consumidores se comportam e como alteram suas necessidades e preferências, de forma a atendê- las continuamente melhor. Exemplo de aplicação As empresas de TV a cabo, para fidelizar os seus clientes, precisam constantemente estar em plena evolução, com novas tecnologias e novos serviços. Faça, por exemplo, uma análise sobre a mudança no comportamento do consumidor com a entrada no mercado de empresas como a Netflix. Quais os impactos na fidelização dos consumidores nesse segmento? Diante do que vimos até o momento, os conceitos estratégicos mais relevantes para a qualidade são a multiplicidade (ter vantagens estratégicas) e evolução (criar e manter vantagens estratégicas). Segundo Bridi e Paladini (2013), também para serviços, a generalização do conceito da qualidade é crítica. O quadro a seguir detalha esses conceitos, mostrando como as constatações decorrentes dos conceitos listados criam relações externas à organização produtiva. Quadro 8 Constatação Relação A adequação ao uso cria uma relação com o consumidor. Empresa prestadora deserviço -> mercado. O compromisso da empresa com a sociedade transcende as relações com seu mercado consumidor. Ela envolve, inicialmente, os clientes. Empresa prestadora de serviço -> mercado -> ampliação do leque de consumidores -> clientes. Os clientes são parte da sociedade. Empresa prestadora de serviço -> mercado -> ampliação do leque de consumidores -> clientes -> sociedade. A sociedade tem valores abrangentes. Empresa prestadora de serviço -> mercado -> ampliação do leque de consumidores -> clientes -> sociedade -> meio ambiente -> qualidade de vida. Fonte: Bridi; Paladini (2013, p. 39). 48 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II A seleção do conceito mais adequado para cada ação do processo de avaliação da qualidade é essencial para o êxito de todo o processo. 5.3.2 Etapas da avaliação O processo de avaliação da qualidade para serviços envolve conceitos bem definidos, distribuídos em etapas que mostram a capacidade de ampliação do raio de atuação da empresa (sem necessariamente alterar o foco do negócio). Bridi e Paladini (2013) destacam quatro as etapas pelas quais a avaliação da qualidade em serviços se estrutura. Vamos analisar essas etapas, conforme quadro a seguir: Quadro 9 Etapas Etapa 1 Centra-se nos consumidores efetivos (usuários) do serviço. Dimensiona a posição dos consumidores em relação a um serviço já utilizado. Permite uma avaliação precisa das faixas de mercado nas quais a organização prestadora de serviços atua. Refere-se a uma avaliação mais simples de ser feita, já que envolve a análise da posição de usuários efetivos do serviço. Etapa 2 Foca o esforço de ampliar mercados atendidos, buscando novos consumidores. Diferencia bem clientes e consumidores. Busca transformar clientes em consumidores. Avalia oportunidades de mercado entre consumidores bem definidos. Refere-se a uma avaliação um pouco mais complexa de ser feita, já que envolve a análise de potenciais usuários dos serviços (ou seja, de clientes que poderiam vir a se transformar em consumidores). Etapa 3 Prioriza relações mais amplas, com toda a sociedade. Amplia a noção de cliente para envolver todas as camadas sociais. Busca encontrar potenciais áreas de atuação em áreas da sociedade ainda fora de contato. Refere-se a uma avaliação mais complexa de ser feita, já que envolve a análise de mecanismos de atuação ainda não utilizados na empresa. São novas formas de atuação, na verdade. Etapa 4 Envolve a empresa com valores sociais relevantes, como a preservação ambiental e o incentivo à qualidade de vida de funcionários e consumidores. Expande o conceito de qualidade para além de mercados já em atendimento ou com bom potencial de alcance em futuro próximo, fixando-se em valores externos que devem se transformar em diretrizes de atuação da empresa. Busca adequar os serviços prestados aos modelos socialmente aceitos, priorizando características dos serviços que apresentam essa característica. Refere-se a uma avaliação bastante complexa de ser feita, já que envolve alterações culturais, em certos casos, profundas, na organização. Fonte: Bridi; Paladini (2013, p. 41). 49 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS De acordo com essas etapas, vamos analisar os exemplos citados pelos autores. Na etapa 1, temos o exemplo de um restaurante, vamos considerar de comida japonesa, que define e analisa os consumidores a que atende regularmente. Esse restaurante abre apenas para o almoço e serve pessoas que trabalham no centro da cidade. Por causa das preferências de seus usuários regulares, o restaurante projeta as opções que serão disponibilizadas no bufê. Os pequenos ajustes a fim de ampliar a oferta de novos pratos, por exemplo, ou alterar aqueles já disponibilizados, são realizados conforme as pesquisas de mercado efetuadas com esse público-alvo. Figura 31 Na etapa 2, o restaurante passa a considerar a possibilidade de abrir para o jantar. O mercado a ser atendido não mais se refere às pessoas que trabalham no centro da cidade, mas aos moradores da vizinhança e às pessoas que querem relaxar em um agradável jantar, sem pressa. Esses consumidores serão atendidos por um processo de escolha das opções de um cardápio, extinguindo-se o bufê. Há um esforço promocional para divulgar o novo serviço (“jantar relaxante”). A peça promocional é divulgada junto a consumidores bem definidos e os primeiros experimentos no horário do jantar são monitorados por uma equipe de marketing para verificar seu ajuste a essa nova faixa de mercado. Figura 32 50 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Seguindo, vamos para a etapa 3, quando um novo esforço promocional evidencia os dois modelos de atendimento, bem diferentes entre si. O restaurante define uma marca forte, que possa ser memorizada por toda a sociedade. O restaurante contrata uma agência que cria comerciais com palhaços e artistas infantis para divulgar um novo espaço e um novo conjunto de pratos, servidos no Kids Space. Figura 33 Além disso, estuda-se a possibilidade de abrir uma filial em um bairro de classe média, fora do circuito do centro da cidade e, nesse novo espaço, o restaurante pretende focar em comida italiana, uma opção diferente dos pratos orientais servidos na matriz original, situada no centro da cidade. Figura 34 Dando continuidade aos exemplos, observamos que na etapa 4 o restaurante abre espaço para comidas naturais, de baixas calorias (opções diet). O restaurante cria um bufê exclusivo para vegetarianos. 51 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Figura 35 O restaurante passa a desenvolver um programa de separação e reciclagem de todo seu lixo e divulga esse fato em uma campanha que prioriza ações sustentáveis. Campanhas contra o desperdício de alimentos são desenvolvidas entre os funcionários. O restaurante cria um programa de assistência social que encaminha sobras aproveitáveis de alimentos para instituições que atendem a pessoas carentes. Passa-se a desenvolver outras empresas que atuam em áreas similares nesse mesmo programa. Figura 36 De acordo com Bridi e Paladini (2013), a estruturação dessas etapas mostra que a avaliação da qualidade dos serviços é um processo evolutivo que se caracteriza por uma constante ampliação do foco de atuação da organização prestadora de serviços. Esse processo é definido pelo conceito de qualidade adotado em cada fase. Os autores destacam que definidas as etapas que compõem a avaliação da qualidade dos serviços, é interessante considerar os principais itens que integram essa avaliação. Esses itens referem-se a cada modelo de gestão da qualidade em serviços. 52 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II No quadro a seguir, vamos verificar os itens de acordo com o ambiente operacional, tático e estratégico. Quadro 10 Avaliação da qualidade em serviços Ambiente Itens a considerar 1. Operacional Operações de desenvolvimento do serviço Execução eficiente do serviço Execução confiável do serviço Custo do serviço Disponibilidade de operação Tempo de operação Flexibilidade Agilidade Transmissão de informações Execução eficaz do serviçoOrientações aos usuários 2. Tático Recursos humanos Postura e apresentação dos funcionários Apoio ao usuário Zelo Comprometimento Qualificação dos funcionários Processo gerencial Relações internas Relações externas 3. Estratégico Ambientes físicos Localização Compatibilidade Ações ante a concorrência Preços competitivos Informações Relações com o mercado Fidelidade Confiabilidade Relações com a sociedade Imagem Envolvimento em ações sociais Ética Fonte: Bridi; Paladini (2013, p. 43). A empresa prestadora de serviços deve considerar no seu planejamento os itens citados anteriormente nas três dimensões: operacional, tática e estratégica. Analisar esses ambientes e definir as estratégias de atuação, de acordo com o negócio, resultará em benefícios para a permanência da empresa no mercado e, consequentemente, a fidelização da sua clientela. 53 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Por outro lado, Corrêa e Gianesi (2012) colocam que identificar os critérios segundo os quais os clientes avaliam os serviços é uma forma de compreender melhor as expectativas dos clientes. Os autores destacam que a determinação dos critérios priorizados pelos clientes, em determinado serviço-mercado, permite que a gestão das operações de serviço, desde o projeto do serviço até o projeto e operação do sistema de operações, possa garantir o desempenho nesses critérios priorizados. De acordo com o autores, esses critérios de avaliação devem refletir os fatores que determinam a satisfação do cliente ou, em outras palavras, a qualidade do projeto e da prestação do serviço. Na manufatura, listas de critérios, denominados critérios competitivos, têm sido sugeridas por diversos autores. Slack apud Corrêa e Gianesi (2012) resumem e apontam cinco critérios como fundamentais: Confiabilidade de entrega Velocidade de entrega Flexibilidade Qualidade Custo Figura 37 Conforme destacam Corrêa e Gianesi (2012), vários autores têm discutido atributos ou critérios de desempenho para operações de serviço na tentativa de explicar o processo de avaliação pelo cliente. Alguns autores argumentam que alguns atributos fazem parte do serviço essencial, enquanto outros fazem parte dos serviços periféricos. Essa nomenclatura carrega um julgamento de valor que leva a entender que o serviço essencial é mais importante para o cliente do que os demais atributos dos serviços periféricos. Vamos analisar o exemplo de uma academia de ginástica, vê-se que é difícil saber qual atributo é o mais importante para um cliente: a qualidade das aulas (que seria o serviço essencial) ou a possibilidade de contato social com outras pessoas (que faria parte dos serviços periféricos). O que os autores querem salientar é que não se pode priorizar os atributos, a priori, sem que se realize algum tipo de pesquisa com os clientes de determinado segmento de mercado pretendido, sob o risco de cometer equívocos. 54 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Figura 38 Exemplo de aplicação Considerando o exemplo da academia, quais os atributos que você considera importantes? Corrêa e Gianesi (2012) destacam um dos trabalhos mais conhecidos na área desenvolvido por Valarie A. Zeithaml, A. Parasuraman e Leonard L. Berry. Segundo Corrêa e Gianesi (2012), esses autores criaram um instrumento para avaliar a percepção dos clientes a respeito da qualidade do serviço, denominado service quality (servqual), baseado em uma lista de cinco critérios, descritos a seguir: Quadro 11 Critério Descrição Confiabilidade A habilidade de prestar o serviço de forma confiável, precisa e consistente. Responsividade A disposição de prestar o serviço prontamente e auxiliar os clientes. Confiança O conhecimento (competência) e a cortesia dos funcionários e sua habilidade de transmitir confiança, segurança e credibilidade. Empatia O fornecimento de atenção individualizada aos clientes, facilidade de contato (acesso) e comunicação. Tangíveis A aparência das instalações físicas, dos equipamentos, dos funcionários e dos materiais de comunicação. Fonte: Corrêa; Gianesi (2012, p. 90). De acordo com Corrêa e Gianesi (2012), o critério confiança, por exemplo, inclui dimensões de qualidade que significam coisas diferentes e podem ser conseguidas através de decisões gerenciais diferentes. Por exemplo, em uma loja de roupas de luxo, muitos clientes desejam uma consultoria de moda, o que demanda investir em vendedoras com essa competência. Elas podem ser muito educadas (cortesia) e atentas ao que o cliente demonstra querer (comunicação), mas, sendo incompetentes para 55 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS fazer sugestões, não estarão atendendo às expectativas dos clientes. Quando se deseja competência, o tipo de funcionário a ser selecionado e o treinamento a ser dado podem ser completamente diferentes do caso em que cortesia e atenção bastam. Saiba mais Para observar esse critério, uma sugestão é assistir ao filme Uma Linda Mulher, em especial às cenas em que a personagem principal entra em uma loja de roupas de luxo. Observe o comportamento das vendedoras antes e depois da transformação da personagem. UMA LINDA mulher. Dir. Garry Marshall. EUA: Touchstone Pictures, 1990. 119 minutos. Outro exemplo citado pelos autores é o de um restaurante, onde atributos como credibilidade e segurança podem estar relacionados à higiene do local, à qualidade dos insumos utilizados e ao cuidado com o processo de preparo da comida, tendo pouca relação com competência, que se relaciona ao conhecimento e à qualificação do chef de cuisine. Figura 39 Por outro lado, de acordo com Corrêa e Gianesi (2012), a segurança pode ser conseguida através de padronização de procedimentos, controle e exposição do processo ao cliente, enquanto competência se consegue pela formação profissional do cozinheiro responsável. É conveniente, portanto, assim como no exemplo anterior, manter alguns desses conceitos separados. A dimensão acesso também deve ser destacada por sua importância, dada a necessidade frequente de o cliente estar presente para que a prestação do serviço ocorra. Temos como exemplo a entrega a domicílio de refeições, oferecida por alguns restaurantes, que afeta particularmente a dimensão acesso, através da redução do esforço global do cliente em receber o serviço. 56 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Figura 40 Um atributo pouco citado explicitamente é a flexibilidade. Flexibilidade, segundo Corrêa e Gianesi (2012), significa ser capaz de variar e adaptar rapidamente as operações em virtude de mudanças nas necessidades dos clientes, no processo ou no suprimento de recursos. Esse atributo é bastante importante em se considerando a alta variabilidade e incerteza, intrínseca às operações de serviço, principalmente no front office. Observação Front office ou linha de frente são atividades de uma empresa que tem alto contato com o cliente; as empresas de prestação de serviço têm um nível de contato com o cliente bem alto. Dessa forma, pode-se, então, definir um conjunto de critérios de avaliação do serviço, combinando- se as visões de diferentes autores e observações empíricas de trabalhos de consultoria realizadas por Corrêa e Gianesi (2012), cujo resultado estárepresentado a seguir: Consistência Critérios de avaliação da qualidade em serviço Flexibilidade Velocidade de atendimento CustoTangíveis AcessoCredibilidade/segurança Competência Atendimento/atmosfera Figura 41 57 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Conforme Corrêa e Gianesi (2012), os critérios tangíveis referem-se à qualidade e/ou aparência de qualquer evidência física do serviço ou do sistema de operações, ou seja, bens facilitadores, equipamentos, instalações, de pessoal ou, ainda, outros consumidores. Como o cliente não consegue avaliar o serviço antes da compra, esse critério é importante para a maioria dos serviços, fazendo com que se esteja atento àqueles aspectos que ele consegue avaliar facilmente: os itens tangíveis. Os autores citam o exemplo de alguns médicos obstetras que costumam fornecer ao casal que espera o nascimento de uma criança, logo na primeira consulta, uma apostila com informações sobre a gestação, a evolução do feto, principais cuidados a serem tomados, entre outras informações, o que é uma forma de materializar seu conhecimento, fornecendo aos clientes uma evidência física de fácil avaliação da qualidade do serviço. Essas informações são de suma importância para o casal, que poderá dirimir dúvidas sobre a evolução da gestação. Outro ponto destacado por Corrêa e Gianesi (2012) refere-se à preocupação das empresas com seus funcionários, em especial, com a forma como os funcionários de contato direto com os clientes se vestem e o que aparentam, pois esses itens influenciam na formação da percepção de qualidade do cliente. Para contribuir com o visual de seus funcionários de forma que crie uma boa impressão aos clientes, muitas empresas adotam uniformes, mantendo, assim, a padronização na vestimenta dos seus colaboradores. Podemos observar isso em hospitais, clínicas, hotéis, entre outros. Figura 42 Já o critério consistência significa conformidade com experiência anterior, ausência de variabilidade no resultado ou no processo. Esse critério é importante para clientes que querem saber o que esperar de um serviço. De acordo com Corrêa e Gianesi (2012), muitos clientes que são aversos ao risco e à experimentação de novos serviços e/ou fornecedores preferem aqueles que lhe proporcionem consistência no serviço prestado. 58 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Como exemplo, podemos citar o viajante que se encontra em um local desconhecido, ou seja, um bairro, cidade ou país, para fazer uma refeição rápida, provavelmente, irá procurar um local conhecido, como o McDonald’s, mesmo que não seja adepto de sanduíches, deve preferir um local que conhece a experimentar uma lanchonete local, sobre a qual nada se sabe em relação aos produtos, à higiene, ao tempo de atendimento, entre outros aspectos. Exemplo de aplicação Faça uma reflexão e descreva quantas vezes você, um familiar ou colega, retornou a um prestador de serviço em razão da experiência satisfatória com o local? Acredito que muitas, não é mesmo? Agora, se o serviço não atendeu a sua expectativa, certamente não retornou mais ao local. Dessa forma, a consistência na prestação do serviço ajuda a formar uma expectativa no cliente coerente com a capacitação do fornecedor em prestar o serviço. Corrêa e Gianesi (2012) destacam que a consistência pode influenciar até a propaganda boca a boca realizada por clientes frequentes a clientes potenciais. Por outro lado, a dimensão competência refere-se à habilidade e ao conhecimento do fornecedor para executar o serviço, relacionando-se às necessidades “técnicas” dos consumidores. Segundo Corrêa e Gianesi (2012), a competência é geralmente um critério importante para os serviços profissionais, nos quais o cliente procura uma capacitação da qual não dispõe. Por exemplo, para a execução de serviços na área jurídica, de manutenção de automóveis e de consultoria, há necessidade de pessoas com conhecimento e competência na área. Quanto mais complexas as necessidades dos clientes, mais estarão buscando alta competência do fornecedor do serviço. Figura 43 Outro ponto destacado por Corrêa e Gianesi (2012) em relação ao critério competência ocorre sempre que o cliente necessitar de alguma espécie de diagnóstico, principalmente quando não se 59 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS considera hábil para identificar suas reais necessidades. O cliente avaliará a competência do fornecedor do serviço em fazer o diagnóstico e, posteriormente, em especificar e implantar soluções que resolvam os problemas identificados. Observação Sempre que necessário, o cliente poderá solicitar documentos que possam aferir a competência do fornecedor, tais como: diplomas, currículo, atestados de capacidade técnica, entre outros, o que irá reduzir o risco percebido pelo cliente antes da prestação do serviço. Quanto ao critério velocidade de atendimento, Corrêa e Gianesi (2012) colocam-no como importante para a maioria dos consumidores de serviços, notadamente quando a presença do cliente for necessária. O tempo que o cliente tem que despender para receber o serviço é geralmente considerado um tempo perdido, a menos que o serviço envolva algum tipo de lazer para o cliente. Dessa forma, a velocidade de atendimento refere-se, também, à prontidão da empresa e de seus funcionários em prestar o serviço. O tempo em que o cliente é colocado para esperar nas diversas fases da prestação do serviço tem duas dimensões. Observe-as na figura a seguir. Velocidade no atendimento Dimensão real Dimensão percebida Figura 44 Podemos dizer que a dimensão real refere-se ao tempo físico (minutos, horas, dias), enquanto a dimensão percebida refere-se à percepção que o cliente forma do tempo que deve esperar. Exemplo de aplicação Quanto tempo você espera na fila de um supermercado ou agência bancária para ser atendido? Reflita sobre isso. De acordo com Corrêa e Gianesi (2012), a separação desses conceitos é importante, pois a redução do tempo real de espera é conseguida através de mudanças no processo de atendimento, por exemplo, em um supermercado (utilização de leitoras de código de barra para registrar a compra de um supermercado). 60 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Figura 45 Muitas vezes, um tempo de espera de apenas alguns segundos pode criar uma percepção de espera muito grande. É o caso de uma pessoa que chega em um pronto-socorro e espera ser atendida imediatamente, no entanto, precisa passar por uma triagem para avaliação e encaminhamento. Figura 46 Já o critério atendimento/atmosfera refere-se a quão agradável é a experiência que o cliente tem durante o processo de prestação do serviço. Nesse sentido, Corrêa e Gianesi (2012) destacam que contribui para a boa avaliação nesse critério a atenção personalizada dispensada ao cliente, principalmente quando ele percebe que os funcionários do fornecedor do serviço o reconhecem. A cortesia dos funcionários também é um elemento importante para criar uma boa percepção. Exemplo de aplicação Faça uma retrospectiva dos locais que você obteve um atendimento que pode ser considerado como exemplo para o critério atendimento/atmosfera. Reflita sobre a sua experiência. Num restaurante ou salão de beleza, por exemplo, não apenas a cortesia irá criar uma atmosferaagradável, como também a música, a luz, a temperatura, o ambiente e a decoração do local estarão formando a percepção do cliente nesse critério. 61 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Figura 47 Por outro lado, o critério flexibilidade significa ser capaz de mudar e adaptar-se rapidamente à operação de acordo com mudanças nas necessidades dos clientes no processo ou no suprimento de recursos. Segundo Corrêa e Gianesi (2012), devido à alta variabilidade e incerteza presentes no processo de prestação de serviços, principalmente nas operações de front office, a flexibilidade tende a ser um critério importante. Lembrete Front office significa linha de frente. De acordo com Corrêa e Gianesi (2012), o critério felixibilidade pode ser dividido em sete tipos, conforme quadro a seguir: Quadro 12 Tipo Conceito Flexibilidade de projeto de serviço Habilidade de introduzir novos serviços que melhor atendam às necessidades dos clientes (“por que sua oficina não passa a fazer regulagem de freios, além de regulagem de motores?”). Flexibilidade do pacote de serviço Habilidade de oferecer serviços variados dentro de determinado período de tempo (“eu preciso que você verifique todos os principais sistemas de meu carro; posso vir buscá- lo hoje à tarde?“). Flexibilidade de data de fornecimento do serviço Habilidade de antecipar a entrega do serviço de acordo com o requerido pelo cliente (“vocês podem liberar-me este empréstimo amanhã em vez de na próxima semana?”). Flexibilidade de local de fornecimento do serviço Habilidade de oferecer o serviço em vários locais diferentes (“vocês podem consertar meu caminhão que está na estrada Boa Esperança do Sul – Trabiju, ou eu tenho que rebocá-lo até sua oficina?”). Flexibilidade de volume de serviço Habilidade de se adaptar a variações nos níveis de demanda pelos serviços (“eu fiz reservas para 30 pessoas para jantar hoje à noite, mas gostaria de levar mais 15, será possível?”). Flexibilidade de robustez do sistema de operações Habilidade de se manter operando eficazmente apesar das mudanças que possam ocorrer no processo e no fornecimento de insumos e recursos (“o sistema computa dorizado do banco está fora do ar, como posso verificar o saldo de minha conta-corrente?”). Flexibilidade de recuperação de falhas Habilidade de recuperar-se de uma falha percebida pelo cliente (“minhas malas se perderam no voo e eu estou furioso, o que você fará a esse respeito?”). Fonte: Corrêa; Gianesi (2012, p. 95). 62 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Exemplo de aplicação Com base nos tipos descritos anteriormente, cite exemplos que você conhece como clientes de serviços que possibilitem algumas dessas flexibilidades. Outro critério que deve ser considerado é a questão da credibilidade e segurança, pois quando o cliente não puder avaliar o serviço antes da compra o grau de risco será inerente à compra do serviço. Corrêa e Gianesi (2012) colocam que a percepção de risco varia com a complexidade das necessidades do cliente e com o conhecimento que ele tem do processo de prestação do serviço, conforme ilustra a figura a seguir. Esse critério refere-se, portanto, à formação de uma baixa percepção de risco no cliente e à habilidade de transmitir confiança. As necessidades do cliente são pouco complexas As necessidades do cliente são muito complexas O cliente tem bom conhecimento do processo Baixa percepção de risco (lavagem do carro) Percepção de risco moderada (cirurgia para cliente médico) O cliente tem bom conhecimento do processo Percepção de risco moderada (regulagem de motor para cliente leigo em mecânica) Alta percepção de risco (cirurgia para cliente leigo) Figura 48 Dessa forma, reduzir a percepção de risco do cliente é um fator de sucesso para os prestadores de serviços. Temos, como exemplo, o caso de uma cirurgia. Quanto maior a percepção de risco pelo cliente, maior peso terá o critério credibilidade e a segurança a ser observada em relação à prestação de outro serviço que não envolva a vida, por exemplo, como é o caso de uma cirurgia ou até mesmo uma viagem de avião. Figura 49 63 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS O critério acesso, segundo Corrêa e Gianesi (2012), avalia a facilidade que o cliente tem em entrar em contato com o fornecedor do serviço. É mais importante quando o cliente tem de comparecer fisicamente às instalações do fornecedor para que possa receber o serviço. Várias características contribuem para a facilidade de acesso, entre outras: • localização conveniente; • acesso sinalizado; • disponibilidade de estacionamento; • amplo horário de operação; • ampla disponibilidade de linhas telefônicas para acesso por telefone; • serviço levado até o cliente (entrega de pizzas em domicílio); • entrega de talões de cheque em domicílio). Figura 50 Corrêa e Gianesi (2012) colocam que o critério custo de um serviço é o que avalia quanto o consumidor irá pagar, em moeda, por determinado serviço. Uma característica importante desse critério, segundo os autores, é que os clientes, na falta de melhores informações sobre a qualidade dos serviços, tendem a associar níveis de preço mais altos a níveis de qualidade mais altos. Figura 51 64 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II 6 FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA SERVIÇOS Vimos os conceitos de serviços, falamos sobre a percepção dos clientes em relação aos serviços, agora vamos analisar algumas ferramentas utilizadas para avaliação da qualidade em serviços, como: Pesquisa de satisfação Canais de comunicação Benchmarking Cliente misterioso Figura 52 6.1 Benchmarking Bridi e Paladini (2013) destacam que o benchmarking é a prática de aprender com outras empresas por meio de uma análise de determinado processo em outra empresa que possua conhecimento e experiência no assunto. Desse modo, as práticas vencedoras poderão ser utilizadas na instituição que está sendo investigada. Observação Benchmarking é o método de comparação de produtos, processos e desempenho de uma organização com outra de referência. Há vários exemplos de empresas que adotam essa ferramenta para analisar os serviços prestados frente a outras entidades similares. É muito utilizada pelas instituições que participam do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), na elaboração dos relatórios de gestão, evidenciando, dessa forma, as melhores práticas do mercado. Saiba mais Para conhecer as boas práticas adotadas por algumas empresas, acesse o site da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), que realizou o 14º Fórum de Boas Práticas com o objetivo de compartilhar e debater experiências sobre gestão. Conheça os cases da Embraer, AES Brasil e Promon Logicalis. <http://fnq.org.br>. 65 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS O benchmarking é considerado uma forma de aprendizado, pois pode gerar melhorias técnicas com reflexos nos indicadores de desempenho financeiro e de satisfação dos clientes. Segundo Bridi e Paladini (2013), são dois os intuitos do benchmarking: O aprendizado A comparação Figura 53 Quando a empresautilizar a comparação, poderá avaliar se os serviços prestados estão abaixo de um determinado parâmetro analisado, na média ou acima. Isso levará ao aprendizado, pois medidas poderão ser tomadas para melhorar a prestação dos serviços. De acordo com Bridi e Paladini (2013), em termos de alvo para comparação, o benchmarking pode ser classificado em quatro categorias, conforme descrito a seguir. Comparação com não concorrentes Comparação temporal Comparação com não filiais Comparação com concorrentes Figura 54 A comparação temporal é realizada quando houver a comparação da variação do desempenho de uma unidade ao longo do tempo. Os indicadores podem ser diversos, advindos de dados internos, pesquisas de satisfação, cliente misterioso, índices de devolução, índices de reclamação etc. Na comparação com concorrentes, de acordo com Bridi e Paladini (2013), o concorrente pode: • Estar ciente: projeto conjunto e não sigiloso, como a avaliação de um rol de empresas da mesma associação, núcleo ou centro de compras (shopping center). • Não estar ciente: projeto sigiloso da avaliação. Definem-se alvos considerados adequados por desenvolver um serviço de excelência ou serem concorrentes diretos. Bridi e Paladini (2013) colocam que projetos dessa natureza utilizam indicadores de front office. Normalmente, aqui, avalia-se serviço e atendimento, utilizando o cliente misterioso. Exemplos: restauantes, hotéis, companhias aéreas. 66 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Já a comparação com não concorrentes é resultado da ajuda mútua entre empresas. Os indicadores são específicos e são coletados por meio de entrevistas, análise documental e observação. Algumas dicas para realização desse tipo de comparação oferecidas por Caon e Corrêa apud Bridi e Paladini (2013) são: • Escolha bem os parceiros. • Dê ênfase em práticas, e não em desempenhos. • Estude bem seu próprio processo. • Prepare a visita. • Não pergunte o que não quiser compartilhar. • Leve o gestor funcional junto. • Visite a operação in loco. A comparação com filiais é utilizada quando a empresa possuir uma rede de pontos de venda ou atendimento em serviços. Nesse caso, é possível comparar as unidades com o objetivo de divulgar práticas vencedoras (troca de experiência) entre elas e motivar as unidades a buscarem sempre um melhor desempenho. Segundo Bridi e Paladini (2013), associar políticas de recompensas é interessante para um resultado mais efetivo. Os indicadores para a realização do processo podem ser os mesmos da comparação temporal. Projetos de cliente misterioso são amplamente utilizados para essa prática, vamos abordar o conceito de cliente misterioso adiante. A contribuição de Marshall Junior et al. (2012) quanto ao objetivo do benchmarking é captar e aprender, identificando oportunidades e ameaças. A empresa que se propõe a realizá-lo almeja aperfeiçoar sua gestão por meio de: • Busca de melhores processos e práticas inovadoras. • Aceleração dos ciclos de aprendizado e melhoria como um todo. • Redução de prazos e custos. • Formação de consenso interno sobre limitações da organização e suas deficiências. • Estabelecimento de referências quantitativas para a melhoria dos resultados. 67 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Nesse sentido, Marshall Junior et al. (2012) relatam que as atividades de benchmarking são, normalmente, regidas por um código de conduta, ao qual empresas e participantes se submetem ao iniciarem uma atividade dessa natureza. Outra forma de verificar a qualidade dos serviços é analisar os índices de reclamação e recompra. Vamos verificar o que são esses índices. 6.2 Índices de reclamação e recompra Conforme destacam Bridi e Paladini (2013), as empresas devem quantificar os índices de reclamação e recompra e analisar as causas periodicamente para efetuar as correções necessárias caso as metas não sejam as anteriormente estipuladas. Vejamos o exemplo no gráfico a seguir, em que constam as dez empresas com mais reclamações no ano de 2016, segundo o Procon-SP. 5500 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Cla ro / NE T / E mb rate l Pão de Açú car / E xtra Vivo / Te lefô nica Tim Ce lula r S/ A Sky Bra sil S erv iços ... Bra des co Itaú Un iban co Sam sun g E letr ôni ca D ... Oi Cai xa E con ôm ica Fed era l 4704 26.17% 73.83% 72.19% 67.38% 19.27% 27.01% 47.41% 52.87% 58.43% 45.86% 55.27% 44.73%52.59% 47.13% 41.57% 54.14% 73.99%80.73% 27.81% 32.82% 4300 4022 1676 1533 1255 1235 1169 1088 921 Não atendidas Atendidas Figura 55 - Top 10 empresas com mais reclamações Observa-se que em 2016 as reclamações foram direcionadas às empresas de telefonia, no entanto, em 2017, conforme gráfico a seguir, essas empresas ficaram em 3º lugar, o que acentua que adotaram medidas de saneamento para minimizar os problemas decorrentes das reclamações dos consumidores. 68 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II 5500 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Cla ro / NE T /E MB RAT EL Pão de Açú car / E xtra Vivo / Te lefô nica Tim Ce lula r S/ A Elet rop aul o M etro pol ... Bra des co Itau Un iban co Sky Oi B2W / A me rica nas .com 4722 22.85% 75,15% 56.33% 69.78% 27,57% 43.98% 57.45% 59.77% 35.86% 35.14% 42.81% 57.19%42.55% 40.23% 64.14% 64.86% 56.02% 72.43% 43.67% 30.22% 4081 3008 1759 1537 1295 1111 1004 905 883 Não atendidas Atendidas Figura 56 - Top 10 empresas com mais reclamações Além de dados dos atendimentos realizados pela Fundação Procon-SP, são apresentados o ranking geral e recortes setoriais, acompanhados de comentários a respeito de segmentos do mercado e de fornecedores que se destacaram ao longo do ano. Saiba mais A Fundação Procon disponibiliza informações sobre as reclamações dos consumidores em diversos segmentos. No estado de São Paulo, o site é: <http://www.procon.sp.gov.br/>. Quando um consumidor tem uma experiência infeliz, nem sempre, ou melhor, poucas vezes, ocorrerá uma reclamação. De acordo com Ferrell e Hartline apud Bridi e Paladini (2013, p. 154), “mais de 90% dos consumidores nunca reclamam, simplesmente vão a outro lugar para ter suas necessidades atendidas”. Esse índice está mudando com a facilidade de achar o local correto para reclamar e interagir, proporcionado por endereços eletrônicos específicos, formulários em sites e agora também nas redes sociais. Vavra apud Bridi e Paladini (2013) descreve que o consumidor pode agir de cinco maneiras: • Ele sofre em silêncio: se for necessário comprar novamente, vai reduzir ao máximo a quantidade e a frequência. • Ele muda para outra empresa em silêncio: se a empresa não tiver um trabalho de pós-venda ativo, nunca saberá que esse consumidor a deixou. 69 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS • Ele comenta com amigos e vizinhos sobre a sua insatisfação: ele irá prejudicar a imagem da empresa. • Ele procura órgãos legais de defesa do consumidor: a empresa poderá ser condenada e exposta nos meiosde comunicação. • Ele procura a empresa para reclamar: melhor opção para a empresa! De acordo com Bridi e Paladini (2013), as intervenções do consumidor que formarão o índice de reclamação, quando tabuladas, podem ser vistas de duas maneiras: um incômodo, um transtorno para a empresa, advindo muitas vezes de um consumidor julgado como muito exigente; e uma oportunidade de descobrir a existência de falhas com a finalidade de realinhar os processos. Os gestores devem perceber que as reclamações dos consumidores podem servir de subsídio para o desenvolvimento de melhorias na prestação dos serviços. Dessa forma, deve ser considerado como benéfico para a empresa quando ocorrer uma reclamação, pois medidas poderão ser adotadas para saná-la. Vejamos o que diz Bridi e Paladini (2013) sobre como a empresa deve aproveitar essas informações: • Dispor de múltiplos canais de comunicação: os consumidores têm preferências diversas sobre a melhor forma de se comunicar com a empresa (pessoalmente, telefone, internet). • Estruturar a área de comunicação com os consumidores (em empresas de maior porte) com hardwares e softwares específicos para a abertura do chamado, acompanhamento das reclamações, gravação de voz etc. • Capacitar a equipe ou a pessoa para lidar com os clientes: algumas empresas dispõem, além dos atendentes, da figura do ombudsman, que seria uma espécie de “advogado” dos consumidores dentro da empresa. • Divulgar em materiais promocionais e nos pontos de venda as formas e meios para reclamar. • Investigar com agilidade e responsabilidade a reclamação efetuada, demonstrando ao consumidor que seu contato é importante. • Responder ao consumidor de forma cortês, com a solução do problema, pedidos de desculpas e agradecimento, pois muitas vezes o fato gerador da reclamação já desencadeou uma tensão emocional. Assumir o erro é uma demonstração de maturidade e responsabilidade perante o consumidor. • Oferecer uma compensação, dependendo da lucratividade do consumidor, do dano causado a ele e do potencial problema jurídico que pode ocorrer, pode ser conveniente para a empresa. 70 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Quanto mais rápida for a resposta da empresa, mesmo que não resolva imediatamente o problema, o efeito em relação ao consumidor tende a ser positivo. Temos, ainda, para pesquisar sobre reclamações, o Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec), que é um sistema informatizado que permite o registro das demandas individuais dos consumidores que recorrem aos Procons. Ele consolida registros em bases locais e forma um banco nacional de informações sobre problemas enfrentados pelos consumidores. Veja na figura a seguir o total registrado desde 2004: 84,91% são de reclamações ou denúncias de consumidores. Reclamação ou denúncia 84,91% Consulta 15,09% Figura 57 No gráfico a seguir, você poderá observar os atendimentos por área, sendo que os assuntos financeiros estão em primeiro lugar, o que denota que as instituições financeiras são alvo de muitas reclamações e, em segundo lugar, estão as empresas de telecomunicações. Assuntos financeiros Telecomunicações Produtos Serviços privados Serviços essenciais Saúde Habitação Alimentos 28,21% 26,04% 19,66% 14,08% 8,1% 2,03% 1,2% 0,45% Figura 58 - Atendimento por área 71 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Saiba mais O Sindec foi criado para sistematizar e integrar a ação dos Procons. Porém, com o tempo, tornou-se fonte primária de informações para a definição de políticas públicas de defesa do consumidor. Está disponível no site a seguir: SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES DE DEFESA DO CONSUMIDOR (SINDEC). Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec). [s.l.], 2015. Disponível em: <http://sindecnacional.mj.gov.br/ pentaho/api/repos/%3Apublic%3Asindec2016%3AsobreSindec.wcdf/ generatedContent>. Acesso em: 8 maio 2018. Segundo Bridi e Paladini (2013), outra forma de constatar o desempenho dos serviços é o índice de recompra. Citam, como exemplo, uma escola de inglês que pode identificar por meio das matrículas se está havendo abandono de alunos. Caso haja, deve-se aprofundar a pesquisa para identificar os motivos que estão causando a perda de consumidores. Por sua vez, o índice de recompra está diretamente relacionado com a satisfação do consumidor e todas as variáveis que a influenciam. Exemplo de aplicação Faça uma pesquisa no site do Procon da sua região e verifique o ranking das empresas com maior índice de reclamações. Faça a comparação com as empresas citadas nos gráficos anteriores. 6.3 Canais de comunicação De acordo com Bridi e Paladini (2013), os canais de comunicação são a porta de entrada de informações advindas dos consumidores e não consumidores, sendo uma forma essencial para interagir com o público. Os canais de comunicação são vias pelas quais as informações são solicitadas, fornecidos elogios, realizadas reclamações e, algumas vezes, geradas vendas. 72 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Figura 59 As empresas prestadoras de serviços devem ficar atentas aos canais de comunicação disponibilizados e adotar tratamento adequado para cada situação coletada. A ouvidoria é um canal que pode ser utilizado, mas muitas vezes os procedimentos para acessá-la inibem a participação do consumidor. Com as redes sociais, os consumidores tendem a utilizar esse canal como meio de comunicação quando desejam reclamar de algum prestador de serviço. Nesse sentido, muitas empresas buscam nessas redes coletar as informações, sejam elas de reclamações ou não e, a partir dessas informações, delinear seus planos de ação para melhoria na prestação dos serviços. Segundo Bridi e Paladini (2013), a abertura e a disponibilização de canais de comunicação para os consumidores são um instrumento importante para saber se a empresa está agradando (satisfazendo) ou deixando a desejar e qual o motivo para a situação em questão. Saiba mais Leia o artigo “Empresas adotam novos canais para se comunicar melhor com o cliente”. RIBAS, R. Empresas adotam novos canais para se comunicar melhor com o cliente. O Globo, 14 jul. 2017. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/ economia/empresas-adotam-novos-canais-para-se-comunicar-melhor- com-cliente-21374699>. Acesso em: 8 maio 2018. Exemplo de aplicação Após a leitura do artigo, faça uma pesquisa sobre os canais de comunicação disponibilizados pelas empresas na sua região. 73 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Observação Várias empresas estão utilizando como canais de comunicação o Youtube, por exemplo: a Coca Cola, Fiat, Boticário, Sony, entre outras. Trata-se de mais um meio para que os consumidores tenham acesso às informações e possam interagir com as empresas. 6.4 Pesquisa de satisfação A pesquisa de satisfação é um instrumento utilizado por várias empresas em diversos segmentos, como saúde, educação, segurança etc. para identificar a opinião dos consumidores em relação aos serviços prestados. Bridi e Paladini (2013) colocam que a pesquisa de satisfação é um tipo de pesquisa de marketing executada para detectar o contentamento ou desgosto em relação a uma ou diversas etapas do consumo. Keller e Kotler apudBridi e Paladini (2013, p. 158) oferecem a seguinte definição para pesquisa de marketing: “elaboração, coleta, análise e edição de relatórios sistemáticos de dados e descobertas relevantes sobre uma situação específica de marketing enfrentada por uma empresa”. A finalidade para a realização de pesquisas de satisfação é: Melhorar a qualidade da tomada de decisão Analisar problemas Figura 60 Nesse sentido, a pesquisa permitirá enfocar a questão de maior importância, que é a manutenção de consumidores existentes e compreender o mercado que está constantemente em mudança. Vamos analisar os tipos de pesquisas que podem ser realizadas pelas empresas de acordo com o seu público-alvo e recursos disponíveis para contratação de institutos de pesquisa. 6.4.1 Tipos de pesquisas As pesquisas de satisfação podem ser: Qualitativa Quantitativa Figura 61 74 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Quando usar a pesquisa quantitativa ou qualitativa? No caso da pesquisa qualitativa, o seu uso será adequado quando for necessário saber o motivo pelo qual o consumidor se comporta (compra ou usa) um bem ou um serviço. Nesse caso, deverá ser aplicada por pesquisadores mais capazes e conhecedores do assunto. Segundo Bridi e Paladini (2013), se for o contrário, se o interesse for quantificar algo, por exemplo, saber quantas pessoas preferem um sapato com solado de couro e quantas dão preferência ao solado de borracha, ou qual foi o grau de satisfação com o atendimento, então, a opção será a pesquisa quantitativa. A escolha se a pesquisa será quantitativa ou qualitativa deve ser tomada pelo gestor em consonância com o objetivo a ser atingido. Outro tipo de pesquisa que vamos analisar é: Observação Comunicação Figura 62 De acordo com Bridi e Paladini (2013), em princípio, caso fosse indiferente para o problema de pesquisa, poder-se-ia dizer que o método de observação é melhor, pois as pessoas que fazem parte da amostra não alteram seu comportamento ao serem pesquisadas, uma vez que o pesquisador não tem contato com o pesquisado, somente o observa. Por exemplo: definir qual tipo de comida a maioria dos consumidores deixou no prato após o jantar. Tal observação revela um possível item a ser excluído do cardápio. No entanto, se for necessário, é preciso conversar com a pessoa que detém a informação, tal como perguntar se ela está satisfeita com o conjunto de equipamentos da academia de ginástica ou, ainda, se o entrevistado indicaria o seu produto a um amigo. Muitas empresas adotam esse tipo de pesquisa, empresas que operam com reservas de hotéis, bancos etc.; que, ao fim do atendimento, solicitam ao cliente que assinale se indica o serviço para amigos, em uma escala de 0 a 10. Bridi e Paladini (2013) destacam que uma das vantagens da pesquisa de comunicação é a possibilidade de conhecer quais os motivos que levam uma pessoa a ter o comportamento observado. Em contrapartida, esse tipo de pesquisa poderá possuir viés devido ao entrevistado ter vergonha, receio de responder ou, até mesmo, por sua vontade de querer abandonar rapidamente o entrevistador. Exemplo de aplicação Você já participou desse tipo de pesquisa? Qual a sua opinião sobre o modelo? 75 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Conforme destacam Bridi e Paladini (2013), em pesquisa de satisfação, normalmente, são utilizados dados primários ou dados secundários. Os dados secundários poderão ser usados quando houver necessidade de comparação. Por exemplo, foi publicado que o concorrente A tem um índice de 85% de satisfação e o concorrente B tem 92%. Então, se houver acesso à metodologia aplicada, a pesquisa poderá ser realizada com metodologia idêntica para que seus resultados sejam comparados. Observação Os dados secundários são aqueles que já foram coletados por alguém ou algum instituto de pesquisa. Diferentemente, os dados primários ainda estão na cabeça do público-alvo da pesquisa, ou seja, eles vêm direto da fonte. Ainda temos outra forma que poderá ser utilizada pelas empresas, são elas: Censo Amostragem Figura 63 O censo ou amostragem são utilizados quando há um número muito grande para entrevistas. Nesse caso, a empresa poderá escolher uma amostra de acordo com o público-alvo a ser pesquisado. Temos, ainda, a pesquisa: Probabilística Nãoprobabilística Figura 64 Segundo Bridi e Paladini (2013), a pesquisa probabilística envolve critérios mais rígidos em sua confecção, principalmente na coleta das unidades amostrais (consumidores ou eleitores ou cidadãos), devendo ser de forma aleatória, ou seja, por sorteio. Sendo realizada dessa maneira, os resultados descobertos podem ser inferidos para o restante do universo e respaldados por preceitos estatísticos. Por outro lado, se a decisão não for tão importante, talvez seja mais conveniente empregar a não probabilística, que também é mais utilizada em situações em que é muito difícil achar ou contatar as unidades amostrais (por exemplo: piloto de avião, executivos de grandes empresas ou pessoas com renda muito alta). Dessa forma, a empresa deve estar ciente que a pesquisa de satisfação envolve a comunicação com consumidores que participaram de alguma fase da venda ou tiveram contato com a empresa, seja por telefone, pessoalmente ou respondendo a um instrumento autopreenchível em papel ou na web. 76 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 Unidade II Figura 65 Os resultados das pesquisas, segundo Bridi e Paladini (2013), deverão ser utilizados com a finalidade de buscar uma melhoria na prestação dos serviços, ou seja, oferecer e ampliar sua entrega de valor; as ações poderão ser focadas em eventos como: • Melhorar a qualidade do atendimento. • Aprimorar o desempenho do serviço. • Aumentar a confiança. • Elevar a conveniência. • Aumentar a segurança do processo. • Melhorar a imagem da empresa. • Diminuir o tempo de execução. Para Bloom, Hayes e Kotler apud Bridi e Paladini (2013), a avaliação da satisfação dos consumidores deve ser como um circuito fechado, um círculo contínuo em que se ouve e se analisa, traçam-se planos e os implementam, conforme demonstrado na figura a seguir: Traçar os planos Ouvir os clientes Implementar as mudanças Analisar os dados Figura 66 77 GQ U - Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 6/ 05 /2 01 6 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS Após analisarmos os tipos de pesquisa, vamos verificar o processo de avaliação, destacando o objetivo da pesquisa, o orçamento necessário e a análise dos riscos. Fatores fundamentais para decidir o melhor método a ser utilizado. 7 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS Conforme Bridi e Paladini (2013), a obtenção da avaliação (desenvolvimento da pesquisa) pode ser feita por meio de funcionários da própria empresa ou através da contratação de empresas que atuam na área (institutos especializados). A escolha de como deverá ser conduzida a pesquisa é do gestor juntamente com a área de marketing. Essa decisão deve ser embasada por quatro fatores (descritos na figura a seguir) que devem estar claros na mente do gestor: Orçamento disponível Capacidade dos funcionários Objetivo da pesquisa Nível de risco tolerável Figura 67 Bridi e Paladini (2013) colocam que, basicamente, os objetivos das pesquisas servem para entender os motivos de comportamentos e atitudes,
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