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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ CAMPUS CRATEÚS CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM MATEMÁTICA FRANCISCO ELENILTON OLIVEIRA PAIVA A IRRACIONALIDADE E TRANSCENDÊNCIA DO NÚMERO DE EULER CRATEÚS 2017 FRANCISCO ELENILTON OLIVEIRA PAIVA A IRRACIONALIDADE E TRANSCENDÊNCIA DO NÚMERO DE EULER Trabalho de Conclusão de Curso apresen- tado ao Curso de Graduação em Licencia- tura em Matemática do Campus Crateús do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, como requisito parcial à obtenção do grau de licenciado em Licenciatura em Matemática. Orientador: Elano Caio do Nascimento. CRATEÚS 2017 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Instituto Federal do Ceará - IFCE Sistema de Bibliotecas - SIBI Ficha catalográfica elaborada pelo SIBI/IFCE, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a) Pi Paiva, Francisco Elenilton Oliveira. A Irracionalidade e Transcendência do Número de Euler / Francisco Elenilton Oliveira Paiva. - 2017. 33 f. : il. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Instituto Federal do Ceará, Licenciatura em Matemática, Campus Cratéus, 2017. Orientação: Prof. Me. Elano Caio do Nascimento. 1. Números Algébricos. 2. Irracionalidade do Número de Euler. 3. Transcendência do Número de Euler. I. Titulo. CDD 510 Este trabalho é dedicado à todos que me ajuda- ram nessa trajetória, em especial ao meu pai. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradecer a Deus por tudo que ele me proporcionou ao longo dessa trajetória, por todas as realizações e as oportunidades de me levantar cada vez mais forte de cada tropeço. Agradeço toda a minha família, minha mãe, irmã e em especial meu pai por estar junto comigo todos os dias dessa caminhada. Agradeço a minha esposa pela paciência, por estar me dando força, me incentivando e me ajudando a vencer todo os desafios do dia-a-dia. Agradeço aos professores do curso de Licenciatura em Matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Crateús, em especial ao meu orientador Elano Caio e aos professores Jucivânio Félix, João Luiz e João Victor pelas lições ensinadas no decorrer do curso e por terem me ensinado a gostar cada vez mais da matemática e a todos os colegas que fiz ao longo do curso pelo incentivo. A todos muito obrigado! RESUMO O objetivo principal do trabalho, é demonstrar a irracionalidade e a transcendência do número e (ou número de Euler). Os conceitos utilizados ao longo desse trabalho baseia-se em de- monstrações de grandes matemáticos como, Ivan Niven (1947), que fez uma simplificação da demonstração da irracionalidade pi feita por J. H. Lambert (1761), J. Liouville que demonstra a existência dos números transcendentes em 1844 e Hurwitz (1893) que demonstrou a transcendên- cia do número e. O número de Euler, será apresentado como o limite infinito de uma sequência de números reais, a partir dessa definição mostraremos sua irracionalidade. A demonstração da transcendência de e, será feita por uma série de lemas, teoremas e pelo estudo de um polinômio de coeficientes inteiros, juntamente com fato de supormos que e seja algébrico, a partir dessa su- posição, encontraremos a contradição de que existe um número inteiro, cujo o seu valor absoluto esteja entre os números 0 e 1. Assim, vamos poder concluir que o mesmo é transcendente. Palavras-chave: Números algébricos. Irracionalidade do número de Euler. Transcendência do número de Euler. ABSTRACT The main objective of the paper is to demonstrate the irrationality and transcendence of the number e (or number of Euler). The concepts used throughout this work are based on demons- trations by great mathematicians such as Ivan Niven (1947), who made a simplification of the demonstration of irrationality pi made by JH Lambert (1761), J. Liouville who demonstrates the existence of transcendent numbers in 1844 and Hurwitz (1893) who demonstrated the transcen- dence of the number e. The Euler number will be presented as the infinite limit of a sequence of real numbers, from this definition we will show its irrationality. The proof of the transcendence of e will be made by a series of lemmas, theorems, and the study of a polynomial of integer coefficients, together with fact that we assume that e is algebraic, from this assumption we will find the contradiction that there is an integer whose absolute value is between the numbers 0 and 1. So we can conclude that it is transcendent. Keywords: Algebraic numbers. Irrationality of Euler’s number. Transcendence of Euler’s number. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2 SEQUÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.1 Sequências de números reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.2 Limite de uma sequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 3 OS NÚMEROS ALGÉBRICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 4 IRRACIONALIDADE DO NÚMERO e . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 5 TRANSCENDÊNCIA DO NÚMERO e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 9 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho, tem como principal objetivo, fazer uma demonstração da irracionalidade e transcendência do número e. O número e, conhecido como constante de Euler, é um número irracional cuja sua aproximação é de 2,718.... O número de Euler, aparece em diversas áreas da matemática e entre elas no estudo de logaritmos e juros composto. O estudo dos logaritmos, iniciou-se com John Napier (1550 – 1617), cuja a definição formal temos a seguir. “Dados dois números reais a e b positivos com a 6= 1, chama-se logaritmo de b na base a, o expoente que se deve dar a base a, de modo que a potência obtida seja igual a b”. O principal objetivo no estudo dos logaritmos, era o de proporcionar uma maneira menos trabalhosa, para a realização de cálculos com números de valores muito alto. Uma vez que na época, a realização de cálculos com esses números, era algo extremamente trabalhoso. Henry Briggs (1561 – 1631) sugeriu trabalhar com logaritmos na base 10, poste- riormente surgiu trabalhos apresentando a base natural. O logaritmo natural ou logaritmo na base natural é uma função que é o expoente de uma potência de e, aparece frequentemente nos processos naturais (o que explica o nome "logaritmo natural"). Esta função torna possível o estudo de fenômenos que evoluem de maneira exponencial. Como ja mencionado anteriormente o número e também aparece no estudo de juro composto, imaginemos um exemplo feito Maor (2008) em e: A história de um número (MAOR, 2008), para visualizarmos tal fato. Suponha um investimento com capital de C, em uma conta que paga r por cento de taxa de juros compostos anualmente. Sabemos que a fórmula para calcular juro composto, é dada da seguinte forma: M =C(1+ r)n, onde M é o montante, C é o capital, n o tempo e r a taxa de juros. Na comunidade bancária podemos encontrar todos os tipos de composição de juros anual, semestral, trimestral, semanal e mesmo diário. Suponha que a composição é feita n vezes ao ano. Para cada “período de conversão”, o banco usa a taxa de juros anual dividida por n, que é r/n. E como em t anos existem (nt) períodos de conversão, um capital C, após t anos renderá M =C ( 1+ r n )nt . (1.1) Vamos considerar um caso especial da equação (1.1), onde assumimos que C = 1, r = 100% e t = 1 ano. Assim, 10 M = ( 1+ 1 n)n . Quanto maior o valor de n, o montante dessa operação se aproxima de 2,71828 . . ., ou seja se n tender a infinito o montante será igual a e. Definiremos esse fato de modo formal no capítulo 2. No segundo capítulo desse trabalho falaremos sobre sequências de números reais e limites de uma sequência, além disso, definiremos o número e como o lim n→∞(1+1/n) n. Já no terceiro capítulo, falaremos sobre os números algébricos e a existência de números transcendentes, mostraremos que, o conjunto formado por todos os números transcendentes, é não enumerável. No decorrer do quarto capítulo mostraremos a irracionalidade de e usando o fato, de que o número e é o limite de uma sequência de números reais, definido no segundo capítulo. Finalmente no último capítulo mostraremos a transcendência no número e. 11 2 SEQUÊNCIAS Neste capítulo, abordaremos alguns conceitos, que serão necessários no decorrer deste trabalho. Iniciaremos com as definições de sequência de números reais e limite de uma sequência. 2.1 Sequências de números reais Toda sequência de números reais, é uma função x : N−→ R, onde para cada n ∈ N, temos x(n) = xn ∈ R. Usaremos a notação (xn) para denotarmos uma sequência de números reais. Uma sequência (xn) é dita ser limitada superiormente, se existe b ∈R, tal que xn ≤ b para todo n ∈ N. Analogamente, uma sequência (xn) é dita ser limitada inferiormente, se existe a ∈ R, tal que a≤ xn, para todo n ∈ N. Consequentemente, uma sequência (xn) é dita limitada se for limitada superiormente e limitada inferiormente. Definição 2.1 Dada uma sequência (xn) de números reais, define-se uma subsequência de (xn), à restrição da função x, a um subconjunto infinito A′ = {n1 < n2 < .. . < ni < .. .}, tal que A′ ⊂ N. Usaremos (xni)i∈N, para indicarmos uma subsequência de (xn). Uma sequência (xn) chama-se não-decrescente, quando xn ≤ xn+1 para todo n ∈ N. Se xn < xn+1 para todo n ∈ N, dizemos que (xn) é crescente. Analogamente, uma sequência chama-se não-crescente, quando xn ≥ xn+1 para todo n ∈ N. Se xn > xn+1 para todo n ∈ N, dizemos que (xn) é decrescente. Todas as sequências crescentes, decrescentes, não-decrescentes e não-crescentes são chamadas de sequências monótonas. 2.2 Limite de uma sequência Diz-se que um número real a é limite de uma sequência (xn), e denota-se a = lim n→∞xn ou limxn = a, quando para qualquer número real ε > 0, podemos obter n0 ∈N, tal que |xn−a|< ε , quando n > n0. Quando limxn = a, diz-se que a sequência converge para a, dessa forma, toda sequência que possui limite é uma sequência convergente. Uma sequência que não converge é chamada uma sequência divergente. Os seguintes Teoremas encontram-se demonstrados em (LIMA, 2014) 12 Teorema 2.1 Se limxn = a e limxn = b, então a = b. Teorema 2.2 Se limxn = a, então toda subsequência de (xn) converge para o limite a. Teorema 2.3 Toda sequência convergente é limitada. O próximo resultado fornece, uma condição suficiente para uma sequência ser convergente. Teorema 2.4 Toda sequência monótona limitada é convergente. Demonstração. Seja (xn) uma sequência não-decrescente limitada, ou seja, xn = {x1 ≤ x2 ≤ . . . ≤ xn . . .}. Considere a = sup{xn; n = 1, 2, . . .}. Afirmamos que limxn = a. De fato, dado qualquer ε > 0, como a− ε < a temos que, a− ε não é cota superior do conjunto dos xn. Logo, existe n0 ∈ N tal que n > n0, isso implica que a− ε < xn0 . Como a sequência é monótona não-decrescente, n > n0 implica que xn0 ≤ xn. Portanto, a− ε < xn, como xn ≤ a, pois a = sup{xn; n= 1, 2, . . .}, se n > n0 implica a−ε < xn < a+ε , isto é, |xn−a|< ε. Logo, limxn = a. Analogamente prova-se o caso em que a sequência é não-crescente. A seguir, enunciaremos um resultado conhecido que será utilizado à frente. Ele afirma que a soma e o produto de sequências convergentes, são convergentes. Teorema 2.5 Se limxn = a e limyn = b, então: (i) lim(xn+ yn) = a+b; (ii) lim(xn · yn) = a ·b; (iii) lim xn yn = a b , se b 6= 0 e yn 6= 0, ∀ n ∈ N. Demonstração. Ver o capítulo IV de (LIMA, 2014). Teorema 2.6 Se limxn = a tal que a > 0, existe então n0 ∈N tal que n > n0 implica que xn > 0. Demonstração. Seja ε = a 2 . Como a > 0, tem-se a 2 > 0, portanto, (a− ε, a+ ε) = ( a 2 , 3a 2 ) . Logo, existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica que xn ∈ ( a 2 , 3a 2 ) . Ou seja, xn > a 2 , logo n > n0 implica que xn > 0. Corolário 2.1 Sejam (xn) e (yn) sequências convergentes. Se xn ≤ yn para todo n ∈ N, então limxn ≤ limyn. 13 Demonstração. Se limxn > limyn, então 0 < limxn− limyn. Logo lim(xn− yn) > 0 e dessa forma (xn− yn)> 0 para todo n suficientemente grande. Assim, xn > yn. A seguir temos um outro Teorema importante: Teorema 2.7 Sejam xn ≤ zn ≤ yn para todo n ∈ N. Se limxn = limyn = a então limzn = a. Demonstração. Dado ε > 0 qualquer, existem n1, n2 ∈ N tal que n > n1 implica que xn ∈ (a− ε, a+ ε), e n > n2 implica que yn ∈ (a− ε, a+ ε). Seja n0 = max{n1, n2}. Temos que a−ε < xn≤ zn≤ yn < a+ε , ou seja, a−ε < zn < a+ε, e, consequentemente zn ∈ (a−ε, a+ε). Logo, limzn = a. Exemplo: Considere a sequência, onde seu n-ésimo termo é an = n ∑ j=0 1 j! , para n∈N. Afirmamos que essa sequência é crescente e limitada. Note que essa sequência é crescente. De fato, para cada k ∈ N, temos que ak = k ∑ j=0 1 j! < k ∑ j=0 1 j! + 1 k+1 = k+1 ∑ j=0 1 j! = ak+1. Essa sequência também é limitada. De fato, sabemos que, se j ≥ 4⇒ j! > 2 j. Daí 1 j! < 1 2 j . Segue-se que, n ∑ j=0 1 j! < 1+ n ∑ j=0 1 2 j . (2.1) Afirmamos que 1+ n ∑ j=0 1 2 j < 3. (2.2) Primeiramente, vamos provar que 1+ n ∑ j=0 1 2 j = ( 3− 1 2n ) . Seja S = n ∑ j=1 1 2 j ⇒ S/2 = n+1 ∑ j=2 1 2 j , Subtraindo S/2 de S, temos: 14 S−S/2 = n ∑ j=1 1 2 j − n+1 ∑ j=2 1 2 j ⇒ S/2 = 1 2 − 1 2n+1 ⇒ S = 1− 1 2n . Observe que 1+ n ∑ j=0 1 2 j = 2+S. Consequentemente, 1+ n ∑ j=0 1 2 j = ( 3− 1 2n ) . Por outro lado, 0 < 1 2n implica que 3− 1 2n < 3, para todo n ∈ N. Assim, provamos a afirmação (2.2). Logo, pela desigualdade (2.1), segue-se que 0 < n ∑ j=0 1 j! < 3. Portanto essa sequência é limitada e convergente. � Exemplo: A sequência cujo o n-ésimo termo bn = ( 1+ 1 n )n , é uma sequência crescente. Primeiramente observe que: bn = ( 1+ 1 n )n (2.3) Desenvolvendo a equação (2.3) temos como resultado bn = 1+n 1 n + n(n−1) 2! 1 n2 + · · ·+ n(n−1) · · ·2 ·1 n! 1 nn bn = 1++ 1 1! + 1 2! n(n−1) n2 + 1 3! n(n−1)(n−2) n3 + · · ·+ 1 n! n(n−1)(n−2) · · ·2 ·1 nn bn = 1+1+ 1 2! ( 1− 1 n ) + 1 3! ( 1− 1 n )( 1− 2 n ) + . . .+ 1 n! ( 1− 1 n ) . . . ( 1− n−1 n ) Temos então, 15 bn > 1+ 1 1! + 1 2! ( 1− 1 n−1 ) + 1 3! ( 1− 1 n−1 )( 1− 2 n−1 ) + · · · · · ·+ 1 (n−1)! ( 1− 1 n−1 )( 1− 2 n−1 ) · · · ( 1− n−2 n−1 ) = bn−1 Conclui-se assim que bn > bn−1, para todo n ∈ N. Logo (bn) é crescente. � A partir dos exemplos acima, mostraremos que liman = limbn = e. De fato, como bn < an para todo n ∈ N, então limbn ≤ liman, pelo Corolário (2.1) do Teorema (2.6). Fixando k ∈ N, para todo n > k, obtemos bn ≥ 1+1+ 12! · ( 1− 1 n ) + ...+ 1 k! · ( 1− 1 n ) · .... · ( 1− k−1 n ) . (2.4) Fazendo n→ ∞ e mantendo-se o k fixo, tem-se que o segundo membro da desigual- dade (2.4) tende para ak. Logo, limbn ≥ ak para todo k ∈ N. Portanto, podemos concluir que lim n→∞bn ≥ limk→∞ak, de onde obtemos que lim k→∞ ak ≤ limn→∞bn ≤ limn→∞an. Assim, lim n→∞an = limn→∞bn = e.16 3 OS NÚMEROS ALGÉBRICOS Iniciaremos esse capítulo falando sobre os inteiros algébricos. Em seguida, definire- mos os números algébricos e, a partir dessa definição, mostraremos a existência dos números transcendentes. Um número α é dito ser um inteiro algébrico, se o mesmo for solução de uma equação polinomial da forma xn+an−1xn−1+ . . .+a1x+a0 = 0, (3.1) onde a0, ...,an−1 ∈ Z. Observe que qualquer número b ∈ Z é um inteiro algébrico, pois o mesmo é solução de uma equação polinomial da forma x−b = 0. Teorema 3.1 Um inteiro algébrico real é inteiro ou irracional. Demonstração. Considere que um número α seja um inteiro algébrico. Suponha que α seja um número racional, ou seja, α = p q onde p ∈ Z, q ∈ N,q > 1 e mdc(p,q) = 1. Como α é um inteiro algébrico, o mesmo é solução de uma equação da forma (3.1). Substituindo-o nessa equação, tem-se: ( p q )n +an−1 ( p q )n−1 + . . .+a1 ( p q ) +a0 = 0. (3.2) Multiplicando ambos os lados de (3.2) por qn, temos pn =−an−1 pn−1q−an−2 pn−2q2− ...−a1 pqn−1−a0qn (3.3) Colocando q em evidencia na equação (3.3), temos pn = q(−an−1 pn−1−an−2 pn−2q− ...−a1 pqn−2−a0qn−1). Isso implica que q divide pn. Consequentemente q divide p, porém isso contradiz o fato de p e q serem primos entre si. A contradição vem do fato de supormos que α seja solução da equação (3.1). Dessa forma, a solução de (3.1) é inteiro ou irracional. Definição 3.1 Um número algébrico é definido como uma solução de uma equação polinomial da forma anxn+an−1xn−1+ ...+a1x+a0 = 0, (3.4) onde an, ...,a0 ∈ Z. 17 Qualquer número racional α = p q é algébrico, pois α é solução de uma equação da forma qx− p = 0. E além disso, qualquer inteiro algébrico é um número algébrico. Um número que não é algébrico é dito ser transcendente. Definição 3.2 Um conjunto X é dito ser finito quando é vazio ou quando existir para algum n ∈ N uma bijeção f : In→ X, onde In = {1,2, ...,n}. Se x não for finito então dizemos que X é infinito. Definição 3.3 Um conjunto A é dito ser enumervel quando é finito ou quando seus elementos puderem ser colocados em correspondência biunívoca com o conjunto dos números naturais. Ou seja, se A for infinito, então A a enumerável se existir uma função f : N→ A, tal que f seja bijetiva. Um conjunto que não é enumerável é dito ser não-enumerável. Um exemplo de conjunto enumerável é o conjunto P formado pelos números naturais pares. Basta considerarmos f : N→ P tal que f (n) = 2n. Note que f é uma bijeção dos naturais sobre o conjunto P. Outro exemplo de conjunto enumerável é o conjunto Z dos números inteiros. De fato, considerando f : N→ Z tal que f (n) = n 2 se n for par, f (n) = −n+1 2 se n for ímpar, nota-se que f é bijeção. Enunciaremos dois resultados que estão demonstrados em (LIMA, 2014) Proposição 3.1 Se f : X → Y é injetiva e Y é um conjunto enumerável, então X é enumerável. Proposição 3.2 Seja X um conjunto enumerável. Se f : X → Y é sobrejetiva então Y é enume- rável. É importante destacar que o conjunto Q dos números racionais é enumerável. Para demonstrarmos esse fato, enunciaremos uma proposição que está demonstrada em (LIMA, 2014). Proposição 3.3 Se X e Y são enumeráveis então X×Y é enumerável. Teorema 3.2 O conjunto Q dos números racionais é enumerável. Demonstração. De fato, seja Z∗ o conjunto dos números inteiros diferentes de zero. Como o conjunto Z dos números inteiro é enumerável, segue que o conjunto Z∗ também é. Logo, pela Proposição (3.3), Z×Z∗ é enumerável. Definimos agora a função f : Z×Z∗→Q, tal que (m, n)→ m n . Observe que f é sobrejetiva, pois para todo par (m, n) ∈ Z×Z∗ conseguimos 18 m n ∈Q e como Z×Z∗ é enumerável, segue pela Proposição (3.2) que o conjunto Q dos números racionais é enumerável. Uma reunião enumerável de conjuntos enumeráveis é enumerável. Seja X = ∞⋃ n=1 Xn e tome para cada m ∈ N, uma função sobrejetiva fm : N→ Xm. Defina agora uma função f : N×N→ X , onde f (m, n) = fm(n). Observe que f é sobrejetiva, pois para cada m ∈ N, fm é sobrejetiva. Como N×N é enumerável pela Proposição (3.3), segue da Proposição (3.2) que X = ∞⋃ n=1 Xn é enumerável. Teorema 3.3 O conjunto R dos números reais é não-enumerável. Demonstração. Mostraremos que o intervalo [0, 1) é não-enumerável e consequentemente o conjunto R dos números reais será não-enumerável. Os números x ∈ [0, 1) tem representação decimal da forma 0,a1a2a3..., (3.5) onde a j é um algarismo de 0 a 9. Alguns números têm duas representação da forma (3.5). Exemplo: 1/2 é 0.500... ou 0,4999.... Para esses números escolhemos a representação decimal que "termina", ou seja, eliminamos as casas decimais de (3.5) que a partir de uma certa ordem, todos os elementos são o número 9. Suponhamos agora que o intervalo [0, 1) é enumerável, isto é, podemos listar os números pertencentes ao intervalo [0, 1) x1 = 0,x11x12x13 . . . x2 = 0,x21x22x23 . . . x3 = 0,x31x32x33 . . . ... xn = 0,xn1xn2xn3 . . . ... 19 onde os xi j são algarismos de 0 a 9 para todos i, j = 0, 1, 2, 3.... Construímos agora um número b ∈ [0, 1),b = 0,b1b2b3 . . ., onde b1 6= x11, b2 6= x22, b3 6= x33 e assim sucessivamente. Ou seja, b 6= x1 na primeira casa decimal, b 6= x2 na segunda casa decimal, b 6= x3 na terceira casa decimal e assim sucessivamente. Observe que b será diferente de todos os números listados anteriormente, isto é, b /∈ [0, 1). Mas isso é um absurdo, pois b ∈ [0, 1). O absurdo vem do fato de supormos que o intervalo [0, 1) fosse enumerável, logo [0, 1) é não-enumerável, e consequentemente o conjunto R dos números reais também é não-enumerável. Teorema 3.4 O conjunto dos números algébricos é enumerável. Demonstração. Consideremos o polinômio abaixo de coeficientes inteiros. P(x) = anxn+ ...+a1x+a0 (3.6) Definimos a altura desse polinômio como um número |P| natural, obtido da seguinte forma: |P|= |an|+ ...+ |a1|+ |a0|+n. (3.7) O teorema fundamental da álgebra nos diz que P(x) = 0, com P(x) dado em (3.6) tem exatamente n raízes complexas, podendo ter alguma delas real ou não. Observe agora que o número de polinômios da forma (3.6) com uma altura dada é finito, pois a parcela n que incluímos na equação (3.7) nos garante este fato. Assim, as raízes de todos os polinômios de uma dada altura formam um conjunto finito. Observe também que o conjunto de todas as raízes de todos os polinômios de todas as alturas formam um conjunto enumerável, pois ele é uma união enumerável de conjuntos finitos. O fato demonstrado no Teorema (3.4) mostra a existência dos números transcenden- tes. Por outro lado, veja que o conjunto dos números transcendentes reais é não-enumerável. De fato, o conjunto dos números reais R é não-enumerável. Temos que R é a união dos números algébricos reais com os números transcendentes reais. Pelo Teorema (3.4), o conjunto dos núme- ros algébricos é enumerável. Assim, o conjunto dos números transcendentes é não-enumerável, pois do contrário, teríamos que os reais seria uma união de conjuntos enumeráveis, que já sabemos ser enumerável e isso é um absurdo. 20 4 IRRACIONALIDADE DO NÚMERO e Mostraremos agora que o número e é irracional. Para isso, usaremos fatos que foram demonstrados nos capítulos anteriores. Definiremos o número e da seguinte forma: e = 1+ 1 1! + 1 2! + 1 3! + . . .+ 1 n! + . . . (4.1) Teorema 4.1 O número e é irracional. Demonstração. Vamos supor que e seja racional, ou seja, e = p q , onde p ∈ Z, q ∈ N e mdc(p, q) = 1. Assim, pela equação (4.1) temos que: p q = q ∑ j=0 1 j! + ∞ ∑ j=q+1 1 j! (4.2) Dessa forma temos 0 < p q − q ∑ j=0 1 j! = ∞ ∑ j=q+1 1 j! . (4.3) Agora, observe que ∞ ∑ j=q+1 1 j! = 1 (q+1)! + 1 (q+2)!+ . . . (4.4) Colocando 1 q! em evidência no segundo membro da equação (4.4) temos ∞ ∑ j=q+1 1 j! = 1 q! · ( 1 (q+1) + 1 (q+1)(q+2) + 1 (q+1)(q+2)(q+3) + . . . ) . (4.5) Por outro lado, observe que (q+1) > (q+1) (q+1)(q+2) > (q+1)2 ... (q+1)(q+2)(q+3) · · · > (q+1)i, 21 para todo i ∈ N. Somando termo a termo dessas desigualdades temos: [(q+1)+(q+1)(q+2)+(q+1)(q+2)(q+3)+ . . .]> ∞ ∑ i=1 (q+1)i Dessa forma:( 1 (q+1) + 1 (q+1)(q+2) + 1 (q+1)(q+2)(q+3) + . . . ) < ∞ ∑ i=1 1 (q+1)i . Obtemos então ∞ ∑ j=q+1 1 j! = 1 q! · ( 1 (q+1) + 1 (q+1)(q+2) + ... ) < 1 q! · ( ∞ ∑ i=1 1 (q+1)i ) (4.6) O somatório entre parênteses na equação (4.6), é a soma infinita de uma progressão geométrica de razão 1 (q+1) , onde 0 < 1 (q+1) < 1. Essa soma é igual a: S = 1 q+1 1− 1 q+1 = 1 q (4.7) Usando (4.7) no segundo membro da equação (4.6), tem-se que ∞ ∑ j=q+1 1 j! < 1 q! · 1 q Contudo, pela equação (4.3) temos ∞ ∑ j=q+1 1 j! = p q − ( 1+ 1 1! + 1 2! + 1 3! + . . .+ 1 q! ) . Isso implica que 0 < p q − ( 1+ 1 1! + 1 2! + ...+ 1 q! ) < 1 q! · 1 q . (4.8) Multiplicando a desigualdade (4.8) por q! obtemos 0 < q! ( p q −1− 1 1! − 1 2! − ...− 1 q! ) < 1 q . (4.9) 22 Como q ∈ N, temos q≥ 1. Isso implica que 1 q ≤ 1. Pro outro lado, observe que o termo do meio da desigualdade acima é um número inteiro, pois q! cancela todos os denomi- nadores das frações. Assim, essa desigualdade nos diz que existe um número inteiro entre os números zero e um. Isso é um absurdo, pois não existe nenhum número inteiro entre zero e um. O absurdo vem do fato de supormos que e fosse racional, de onde podemos concluir que o número e é irracional. 23 5 TRANSCENDÊNCIA DO NÚMERO e Veremos agora, que o número e definido no segundo capítulo, além de ser um número irracional é um número transcendente. A demonstração de tal fato será feita por uma serie de lemas. Definimos a função F(x) = r ∑ j=0 P j(x), (5.1) onde P j representa a j-ésima derivada de um polinômio P(x) de grau r. Lema 5.1 A partir da função F(x) definida em (5.1) temos que: d dx (e−xF(x)) =−e−xP(x). (5.2) Demonstração. Observe, que na equação (5.2) tem-se: d dx (e−xF(x)) = d dx (e−x r ∑ j=0 P j(x)) = −e−x r ∑ j=0 P j(x)+ e−x r+1 ∑ j=1 P j(x) = e−x[−P(x)+Pr+1(x)] = −e−x[P(x)−Pr+1(x)] Veja que o polinômio P(x) tem grau r, então Pr+1(x) = 0. Isso implica que d dx (e−xF(x)) =−e−xP(x) Lema 5.2 Para todo k > 0, existe θk ∈ (0, 1), tal que F(k)− ekF(0) =−kek(1−θk)P(kθk). Demonstração. Seja f = e−xF(x), observe que f é continua no intervalo [0, k] e diferenciável no intervalo ]0, k[ (Pois e−x e F(x) têm essas mesmas propriedades). Pelo TVM (GUIDORIZZI, 2000), temos que f (k)− f (0) k−0 = f ′(c), onde c ∈ ]0, k[. Assim temos e −kF(k)− e0F(0) k−0 = −e−cP(c), dessa forma: 24 e−kF(k)−F(0) =−ke−cP(c) ⇒ e−kekF(k)− ekF(0) =−keke−cP(c) ⇒ F(k)− ekF(0) =−kek−cP(c). Observer que como c ∈ ]0, k[, então existe θk ∈ ]0, 1[, tal que c = kθk, consequentemente F(k)− ekF(0) =−kek−kθkP(kθk) ⇒ F(k)− ekF(0) =−kek(1−θk)P(kθk). Lema 5.3 Seja εk =−kek(1−θk)P(kθk). Suponha que e seja algébrico, isto é existem c0,c1, ...,cn; c0 > 0 tais que cnen+ ...+ c1e+ c0 = 0. Então, c0F(0)+ c1F(1)+ ...+ cnF(n) = c1ε1+ c2ε2+ ...+ cnεn. Demonstração. Pelo Lema (5.2) temos que εk = F(k)− ekF(0), logo: c1ε1+ ...+ cnεn = c1[F(1)− eF(0)]+ c2[F(2)− e2F(0)+ ...+ cn[F(n)− enF(0)] = c1F(1)+ c2F(2)+ ...+ cnF(n)−F(0)[c1e+ c2e2+ ...+ cnen] Como por hipotese cnen+ ...+ c1e+ c0 = 0, (5.3) então segue que cnen+ ...+ c1e =−c0, dessa forma c1ε1+ ...+ cnεn = c1F(1)+ c2F(2)+ ...+ cnF(n)−F(0)(−c0) Consequentemente c1ε1+ ...+ cnεn = cnF(0)+ c1F(1)+ c2F(2)+ ...+ cnF(n). A partir de agora consideremos o polinômio P(x) = 1 (p−1)!x p−1(1− x)p · ... · (n− x)p sendo p um número primo tal que p > n e p > c0, onde n e c0 são dados na equação (5.3). 25 Lema 5.4 Seja Q(x) = r ∑ j=0 a jx j um polinômio com coeficientes inteiros e seja p < r. Dessa forma, Qi(x) = r ∑ j=i j! ( j− i)!a jx j−i, i≤ r. (5.4) Além disso pela a equação (5.4) acima tem-se 1 (p−1)!Q i(x), para i ≥ p é um polinômio de coeficientes inteiros divisíveis por p. Demonstração. A demonstração será feita por indução em i. Observe que vale para i = 1, pois Q1(x) = [ r ∑ j=0 a jx j]′ = [a0+a1x+ ...+arxr]′ = a1+2a2x+3a3x2+ ...+ rarxr−1 = 1! (1−1)!a1+ 2! (2−1)!a2x+ 3! (3−1)!a3x 2+ ...+ r! (r−1)!arx r−1 = r ∑ j=1 j! ( j−1)!a jx j−1 Supomos que seja verdade para i = k. Então Qk(x) = r ∑ j=k j! ( j− k)!a jx j−k. Agora veja que: Qk+1 = [Qk]′ = [ r ∑ j=k j! ( j− k)!a jx j−k]′ = [ k! (k− k)!akx k−k + ...+ r! (r− k)!arx r−k ]′ = (k+1− k) (k+1)! [(k+1)− k]!ak+1x (k+1−k−1)+ ...+(r− k) r! (r− k)!arx (r−k−1) = (k+1)! [(k+1)− (k+1)]!ak+1x (k+1−k−1)+ ...+ r! [r− (k+1)]!arx (r−k−1) = r ∑ j=k+1 j! [ j− (k+1)]!a jx ( j−(k+1)) Por outro lado observe que: 1 (p−1)!Q i(x) = 1 (p−1)!Q i(x) r ∑ j=0 a jx j Considerando que b j = 1 (p−1)! · j! ( j− i)! , então queremos mostrar que b j é divisível por p. Observer então que 1 (p−1)! = p p! . Assim temos: b j = p p! · j! ( j−1)! = pa j · j! p!( j− i)! 26 Como os números p e a j são inteiros, para que b j seja um número inteiro basta mostrar que j! p!( j− i)! é um número inteiro. Para isso observe que: j! p!( j− i)! = j( j−1)( j−2) . . .(p+1)p! p!( j− i)! = j( j−1)( j−2) . . .(p+1) ( j− i)! . Como j ≥ i≥ p, temos que j( j−1)( j−2) . . .(p+1) ( j− i)! irá cancelar eu denominador para todo p≥ 2. e dessa forma teremos que b j ∈ Z. Lema 5.5 Considere P(x) = 1 (p−1)!x p−1(1− x)p · ... · (n− x)p. (5.5) Então P(x) é da forma P(x) = (n!)p (p−1)!x p−1+ b0 (p−1)!x p+ .... Onde b0 = p{−np−1 · [(n−1)!]p · [(n−2)!]p · (n−1)p−1. Além disso Pi(k) = 0 para k = 1, ...,n e i < p, Pp−1(0) = (n!)p e Pi(0) = 0 para todo i < p−1. Demonstração. Primeiramente vamos observar que para todo α ∈ N temos: (α− x)p = α p+ pα p−1(−x)+ ...+ pα(−x)p−1+(−x)p. Deselvolvendo os produtos notáveis da equação (5.5) tem-se: (1− x)p · . . . · (1− x)p = (n!)p+ xp{−np−1 · [(n−1)!]p ·−[(n−2)!]p · (n−1)p−1} = (n!)p+b0x Agora veja que P(x) definido em (5.5) tem a seguinte forma: P(x) = 1 (p−1)!x p−1 · [(n!)p+b0x] = (n!)p (p−1)!x p−1+ 1 (p−1)!x p−1 ·b0x+ . . . = (n!)p (p−1)!x p−1+ b0 (p−1)!x p+ . . . Observe agora pela equação (5.5) Pi(k) = 0 para k = 1, ...,n e i < p. Pois quando aplicarmos k em Pi(x) algum de seus termos irá se anular, isso resulta que Pi(k) = 0. Por outro lado Pp−1(x) = (n!)p+b0x+b1x2+ ..., logo ao aplicarmos essa derivada no ponto x = 0 resulta que: Pp−1(0) = (n!)p+b0(0)+b1(0)2+ ... = (n!)p. (5.6) 27 Já para i < p−1 tem-se que toda parcela do polinômio Pi(x) vai possuir a variavél x, assim se aplicarmos no ponto x = 0 resulta que Pi(0) = 0. Lema 5.6 Pelo os lemas (5.4) e a (5.5) tem-se que F(k), para k = 1, ...,n, é um inteiro divisível por p. E além disso F(0) é um inteiro não divisível por p. (Use o fato de (n!)p não é divisível por p, uma vez que p > n e p é primo). Demonstração. Veja que F(k) = P(k)+P1(k)+P2(k)+ ...+Pp(k). Pelo lema (5.5) Pi(k) é igual a zero para todo i < p, logo divisível por p, e se i = p pelo lema (5.4) Pi(k) é divisível por p. Assim F(k) é uma soma de parcelas que são divisíveis por p e consequentemente F(k) é divisívelpor p. Por outro lado F(0) = P(0)+P1(0)+ ...+Pp−1(0)+Pp(0), dessa forma temos pelo lema (5.5) que: Pi(0) = 0; para i < p−1 Pp−1(0) = (n!)p Pp(0) = b0 p! (p−1)! . Logo dessa forma segue que: F(0) = (n!)p+ b0 p! (p−1)! Mais (n!)p não é divisível por p, pois p > n e p é primo. Dssa forma F(0) não é divisível por p. Lema 5.7 Como 0 < c0 < p, então pelo (5.6) temos que c0F(0)+ c1F(1)+ ...+ cnF(n) é um inteiro não divisível por p. Demonstração. Observe que como c0 < p, e pelo lema (5.6) p não divide F(0) então p não divide c0. Suponha por absurdo que c0F(0)+ c1F(1)+ ...+ cnF(n) = kp tal que k ∈ Z. Por outro lado pelo lema(5.6) temos que F(k) é divisível por p com k = 1, ...,n, dessa forma c1F(1)+ ...+ cnF(n) = λ p, onde λ ∈ Z, logo: c0F(0)+ c1F(1)+ ...+ cnF(n) = c0F(0)+λ p = kp, assim c0F(0) = kp−λ p = p(k−λ ) Dessa forma c0F(0) = p(k−λ ), ou seja p divide c0F(0) e isso é um absurdo. 28 Lema 5.8 Observe que os εk definidos no lema (5.3), e calculados para o polinômio P(x), definido no lema (5.5) tem a forma εk =−kek(1−θk) · 1 (p−1)! · (kθk) p−1(1− kθk)p · ... · (n− kθk)p. Se 0 < θk < 1, então temos que |εk| ≤ e nnpλ p (p−1)! , para k ≤ n. Demonstração. Observe que: |εk|= |− kek(1−θk) · 1 (p−1)! · (kθk) p−1(1− kθk)p · ... · (n− kθk)p| isso implica que |εk| = 1 (p−1)! |− k| · |e k(1−θk)| · |(kθk)p−1| · |(1− kθk)p| · ... · |(n− kθk)p| ≤ 1 (p−1)!ne n(1−θk) ·np−1 ≤ e nnpλ p (p−1)! , onde λ p = |(1− kθk) · ... · (n− kθk)|p. Lema 5.9 Se p for um número primo suficientemente grande, então |c1ε1+ ...+ cnεn|< 1. Demonstração. Observe que: |c1ε1+ ...+ cnεn| ≤ |c1ε1|+ ...|+ cnεn| = |c1 e nnpλ p (p−1)! |+ ...+ |cn ennpλ p (p−1)! | = |c1| e nnpλ p (p−1)! + ...+ |cn| ennpλ p (p−1)! = (|c1|+ ...+ |cn|) e nnpλ p (p−1)! . Por outro lado veja que lim p→∞ ennpλ p (p−1)! = 0. Ou seja existe um número primo p suficientemente grande tal que (|c1|+ ...+ |cn|) e nnpλ p (p−1)! < 1. E consequentemente |c1ε1+ ...+ cnεn|< 1, como queriamos demonstrar. Utilizando-se dos lemas demonstrados ao longo desse capítulo mostraremos agora a transcendência do número e. 29 Teorema 5.1 O número e é transcendente. Demonstração. Pelo lema (5.3) supomos que e fosse um número algébrico, isto é existem c0,c1, ...,cn, tais que cnen+ ...+ c1e+ c0 = 0. E a partir desse fato concluimos que c1ε1+ ..+ cnεn = c0F(0)+ ...+ cnF(0). Utili- zando o lema (5.7) mostramos que c0F(0)+ ...+cnF(0) é um inteiro não divisível por p, ou seja c0F(0)+ ...+ cnF(0) 6= 0. Já pelo lema (5.9) temos que |c1ε1+ ...+ cnεn|< 1. Observe agora que c1ε1 + ...+ cnεn = c0F(0)+ ...+ cnF(0) 6= 0 , isso nos mostra que c0F(0)+ ...+ cnF(0) é um número inteiro não nulo cujo seu valor absoluto é menor que 1 e isso é um absurdo. O absurdo vêm do fato de supormos que e fosse algébrico, logo o número e é transcendente como queriamos demonstrar. 30 6 CONCLUSÃO No decorrer desse trabalho, tentamos desenvolver de forma detalhada as demonstra- ções de que o número de Euler é irracional e transcendente, trabalhamos conceitos principalmente na área de análise matemática, como sequências de números reais e limite de uma sequência, que foram importantes para o desenvolvimento do mesmo. A partir desses estudos e demonstra- ções, podemos citar um outro número irracional e transcendente, extremamente importante para matemática, o número pi . O número de Euler aparece em estudos de diversas áreas da matemática, como por exemplo no estudo de logaritimos que se iniciou com Jhon Napier (1550 - 1617), na área da análise com o estudo das sequências e até mesmo ocorre de outras áreas distintas da matemática que em seus estudos utilizam o número de Euler, temos por exemplo na física e química. O mesmo tem uma grande importancia nos trabalhos do matemático Euler (1707 - 1783), onde muintos consideram como o maior matemático da história. O mais influente entre seus trabalhos foi a obra ”Introcutio in analysin infinitorum”, obra em dois volumes publicada em 1748 e considerada o alicerce da análise matemática. Neste trabalho Euler resumiu suas numerosas descobertas sobre séries infinitas, produtos infinitos e frações contínuas e, pela primeira vez, chamou a atenção para o papel do número e e da função ex. Em seus estudos considerou os desenvolvimentos das séries de potência de ex, cosx e sinx, ou seja. ex = 1+ x+ x2 2 + x3 3 + . . . (6.1) cosx = 1− x 2 2 + x4 4 − x 6 6 + . . . (6.2) sinx = x− x 3 3 + x5 5 − x 7 7 + . . . (6.3) Substituindo x por ix na equação (6.1) temos como resultado eix = cosx+ isinx. Analogamente substituindo x por −ix na equação (6.1) obtemos e−ix = cosx− isinx. Somando e subtraindo as expressões obtidas para ix e −ix, tem-se cosx = eix+ e−ix 2 , sinx = eix− e−ix 2i (6.4) 31 Onde em (6.4) dazendo x = pi , obtemos eipi + 1 = 0. Essa expressão é chamada de identidade de Euler, considerada por muitos considerados por muitos matemáticos como a expressão mais ”bela” da matemática. Esse resultado relaciona as cinco constantes importantes da matemática que podem simbolizar quatro grandes ramos da matemática: aritmética, representada pelo 0 e pelo 1; a álgebra representado pelo i; a geometria pelo pi e a análise pelo e. 32 REFERÊNCIAS FIGUEIRA, R. F. O número de Euler. João Pessoa: Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCEN, 2017. FIGUEIREDO, D. G. Números irracionais e transcendentes. 3. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matamática, 2002. GUIDORIZZI, H. L. Um curso de cálculo. [S.l.]: Grupo Gen-LTC, 2000. v. 1. LIMA, E. L. Curso de análise. 14. ed. Rio de Janeiro: Instituto de Matamática Pura e Aplicada, 2014. v. 1. MAOR, E. e: A história de um número. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008. NIVEN, I. Numbers: rational and irrational. New York: New Mathematical Library, Random House, Inc., 1961. OLIVEIRA, J. P. Introdução à teoria dos números. 3. ed. Rio de Janeiro: Instituto de Matamá- tica Pura e Aplicada, 2015. SPIVAK, M. Calculus. 3. ed. Houston, Texas: Publish or Perish, Inc., 1994. VASCONCELOS, G. d. A. A irracionalidade e transcendência do número e. Rio de Claro: Dissertação (mestrado) - UNESP, Instituto de Geo ciências e Ciências Exatas, 2013. Folha de rosto Agradecimentos Resumo Abstract Sumário Introdução Sequências Sequências de números reais Limite de uma sequência Os Números Algébricos Irracionalidade do Número e Transcendência do Número e Conclusão REFERÊNCIAS
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