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O termo bulose vem de bolhas, e elas são doenças que cursam com vesículas ou bolhas de característica autoimune. Outras doenças que cursam com bolhas são herpes simples, herpes zoster, trauma, impetigo, queimadura, prurigo etc. São divididas em intraepidérmicas e subepidérmicas. As intraepidérmicas são pênfigos, que podem ser vulgar, foliáceo, paraneoplásico e por IgA. Já as subepidérmicas são seis patologias: penfigóide bolhoso, penfigóide cicaricial, penfigóide gestacional, epidermólise bolhosa adquirida, dermatite herpetiforme e dermatose por IgA linear. Do ponto de vista clínico, as bolhas intraepidérmicas tendem a ser mais efêmeras e superficiais e, as bolhas subepidérmicas, por sua vez, tendem a ser maiores e mais duradouras. Pênfigos São um grupo de doenças bolhosas autoimunes da pele e mucosas caracterizadas histologicamente por bolhas intraepidérmicas com tendência à progressão, de evolução crônica e limitada. O vulgar e o foliáceo são os mais comuns, sendo o vulgar mais comum de todos. A produçnao de anticorpos contra componentes estruturais dos desmossomos gera um processo imunoinflamatório que gera a destruição dos desmossomos - a glicoproteína desmogleína presente dentro dos desmossomos é reconhecida como estrutura antigênica. Os anticorpos se ligam a desmogleína, gerando inflamação e fazendo com que os queratinócitos percam a adesão entre si e, portanto, possibilitando a formação da bolha intraepidérmica. No pênfigo vulgar existe anticorpo contra a desmogleína do tipo 3 e do tipo 1, enquanto que no foliáceo existe anticorpo apenas para o tipo 1. Já o pênfigo paraneoplásico, possui anticorpos contra desmogleínas, desmoplaquinas e antígeno penfigóide bolhoso tipo 1 (essa última é uma proteína que faz parte da membrana basal – é considerada uma exceção justamente por ter anticorpos não só para estruturas dos desmossomos). Obs: os pacientes com pênfigos vulgar com acometimento exclusivo das mucosas têm anticorpos apenas contra a desmogleína do tipo 3, já os que tem nas formas mucocutâneas, os pacientes também apresentam anticorpos contra desmogleína do tipo 1. No pênfigo foliáceo, os pacientes apresentam anticorpos apenas anti-desmogleína do tipo 1, e, por isso mesmo, não apresentam lesões de mucosa. Pênfigo Vulgar Acomete mais adultos acima de 40 anos, homens e mulheres de maneira igual, sendo mais comum em pessoas brancas – quando ocorre em menores de 20 anos é mais comum em mulheres (5,5 mulheres para 1 homem). O quadro clínico apresentado são lesões bolhosas na mucosa oral e pele (não é necessario ver a bolha para se fazer a suposição de ser um pênfigo, mas para se ter a confirmação faz uma biopsia). Além disso, as bolhas são efêmeras, deixando áreas erosadas nas mucosas e na pele (“aspecto em bife sangrento”). É importante atentar para aftas recorrentes – são, normalmente, por causas gastrointestinais, mas, o pênfigo pode gerar lesões de mucosa semelhante as aftas. O acometimento de mucosa ocorre em 90% dos casos, podendo existir apenas ele sem acometimento de pele e, também pode aparecer primeiro para que depois apareça o quadro cutâneo. Em 50 a 70% dos casos pode preceder o quadro cutâneo. No foliáceo é uma clivagem intraepidérmica superficial, mais alta, já no pênfigo vulgar essa clivagem é mais profunda, mais baixa e é por isso que esse processo pode atingir anexos cutâneos, sendo de difícil reparação (isso justifica ele ser um processo mais complicado que o foliáceo). Os folículos pilosos podem ser atingidos, gerando uma cicatrização mais difícil. Buloses Intraepidermicas Pênfigo Foliáceo As lesões tendem a ter uma cicatrização melhor quando comparado com o vulgar, porque é mais superficial e não se estende até o folículo piloso. Além disso, esse pênfigo foliáceo é subdividido em dois: o clássico e o endêmico, em que sua diferença é epidemiológica. Antígeno anti desmogleína 1. • O clássico é semelhante ao vulgar, acometendo adultos acima de 40 anos, e ambos os sexos de maneira igual. • O endêmico possui sinônimos: PF brasileiro ou fogo selvagem. • Iniciam-se, de modo geral, por lesões localizadas na face, no couro cabeludo e em região esternal e/ou intraescapular. São lesões vericocrostosas e as bolhas costumam ser pouco evidentes e tão efêmeras que podem passar despercebidas. Pênfigo brasileiro/endêmico ou fogo selvagem Acomete tanto crianças quanto adultos, podendo atingir vários indivíduos da família (ocorrência familial). Além de acometer mais populações rurais (região centro-oeste, triângulo mineiro e oeste paulista) de países sul-americanos, principalmente no Brasil – a explicação para isso são as proteínas presentes na saliva do mosquito borrachudo (Simuliun Nigrimanum), que servem como gatilho para gerar o processo autoimune contra o pênfigo foliáceo endêmico. A questão epidemiológica pelo gatilho, como desencadeante, é o que diferencia do pênfigo clássico. Obs: a sensação de queimadura ou ardor das lesões justifica a denominação “fogo selvagem”. O quadro clínico é composto por lesões vesicocrostosas no couro cabeludo, face, região esternal e interescapular - por definição regiões mais fotoexpostas, embora não haja correlação científica com esse achado. A lesão elementar em si é muito efêmera e, ao diagnóstico, é mais comum serem encontradas erosões e crostas (por serem processos superficiais). É muito dificil serem achadas bolhas em um paciente porque a clivagem é mais alta. Surtos recidivantes podem deixar crostas secas e escamas - aspecto foliáceo. Não acomete anexos cutâneos, como o folículo piloso, com lesões mais superficiais, nem mucosas, logo, sua cicatrização é mais rápida. Pênfigo Paraneoplásico É uma dermatose paraneoplásica, com acometimento intenso de mucosas. Tem característica clinica de mucosite erosiva e dolorosa. A principal característica é esse acometimento mucoso intenso e doloroso, apesar de poder ter bolhas e lesões na pele. Não responde a tratamento convencional (imunossupressores). Histopatologia A histopatologia dos pênfigos caracteriza-se por bolhas intraepidérmicas e fendas decorrentes de acantólise (lise dos desmossomos). No pênfigo vulgar, a localização da clivagem acantolítica é suprabasal, enquanto, no pênfigo foliáceo, é na granulosa. Diagnótico É feito através do quadro clínico e anamnese. Além disso, se faz uma biópsia de pele (lesão), que é um exame histopatológico. E se faz uma segunda biópsia, que é uma biópsia de pele perilesional (uma pele normal próxima a uma lesão) para fazer o exame da imunofluorescência direta – a arquitetura normal da pele ajuda a descobrir onde os anticorpos estão ligados (o IgG está nos espaços intercelulares da epiderme), mas pode ser o C3 também (fração do complemento). A primeira biopsia é para exame histológico e a segunda é da pele normal, sã, próxima a uma lesão, para fazer a imunofluorescência direta para se ver os anticorpos aderidos aos espaços entre os desmossomos. Tratamento O tratamento é através de imunossupressores, como corticoides em doses altas (2-3mg/ kg/dia). Além disso, pode- se fazer uso de imunobiológicos, ou seja, anticorpos contra os autoanticorpos. As bolhas subepidérmicas são divididas em: penfigóide bolhoso, penfigóide cicatricial, penfigóide gestacional, epidermólise bolhsa adquirida, dermatite herpetiforme e dermatose por IgA linear. Importante não confundir pênfico (bulose intraepidérmica) com penfigóide (bulose subepidérmica). Essas buloses subepidérmicas são autoanticorpos contra componen:tes da zona da membrana basal ou junção dermoepidérmica. E os componentes podem ser queratinócitos basais e seus hemidesmossomos, lâmina lúcida, lâmina densa e sublâmina densa (já na derme). Queratinócitos basais são ligados à derme pelo hemidesmossomos.Esses mesmos queratinócitos tem desmossomos para ligá-lo a outros queratinócitos. Abaixo, está a lâmina lúcida, lâmina densa e sublâmina densa (derme). As proteínas que servem de alvo antigênico são as mais diversas, como BPAG1 (um dos mais comuns), BPAG2, integrina, laminina, colágeno tipo I, III, IV e VII. Penfigóide Bolhoso A etiopatologia consiste de anticorpos contra componentes da membrana basal, que são os BPAG1 e BPAG2 (AP1 e AP2). O quadro clínico se caracteriza por bolhas ou vesículas difusas que podem ser hemorrágicas e acometem mucosas em 30% dos casos. O quadro pode iniciar apenas com lesões eritematosas ou placas e depois evoluir para bolhas. O diagnóstico é feito através do quadro clínico somado à histopatologia e imunofluorescência direta. É necessário fazer duas biópsias: uma do exame histológico em que se vê uma bolha subepidérmica com infiltrado de eosinófilos ou neutrófilos e outra para imunofluorescência direta, em que a positividade dela é ao longo da membrana basal (presença de C3 e/ou IgG na membrana basal. O prognóstico é de quadros recorrentes, ou seja, em surtos, mas com boa resposta ao tratamento. Não existe um tratamento que garanta a cura, mas ao mesmo tempo pode ocorrer resolução espontânea e nunca mais aparecer. O tratamento pode ser feito através de Prednisosa, corticoides tópicos em casos localizados ou imunossupressores e plasmaférese – faz uma circulação extracorpórea com o paciente, e a máquina elimina boa parte dos anticorpos, o que melhoraria o quadro clínico do paciente. Penfigóide Cicatricial Subepidermicas É mais comum em idosos, sendo ainda mais recorrente no sexo feminino (2:1). É capaz de formar sinéquias, ou seja, cicatriza e evolui insidiosamente. Além disso, é uma doença autoimune rara, que não há predileção por raça e área geográfica. O principal local onde o anticorpo se liga é na BPAG2, mas também se liga a laminina 5, integrina β4α6, BPAG1, colágeno tipo VII. O quadro clínico é composto de lesões vesicobolhosas efêmeras que cicatrizam formando sinéquias e acometem principalmente as mucosas – acomete, em 91% dos casos a mucosa oral, mas pode acometer a conjuntival, esofageana, laríngea e genital. Como consequência, gera microstomia, estenose esofágica, amaurose (cegueira), disgafia e odinofagia, podendo necessitar de uma nutrição enteral e uma traqueostomia. A pele é comprometida em 25-35% dos casos, sendo o couro cabeludo, face, pescoço e tronco superior as áreas mais afetadas. O diagnóstico é feito através do quadro clínico que é bem característico: úlceras/ exucerações crônicas nas mucosas, com sequela cicatricial (sinéquias) em uma paciente idosa. Além disso, se faz as duas biopsias: uma histopatológica (se vê bolha/clivagem subepidérmica) e outra para imunofluorescência direta (se vê depósito linear de anticorpos na membrana basal, com presença de IgG, C3, IgM e IgA. É uma evolução insidiosa, crônica, e, diferentemente do penfigóide bolhoso, não evolui em surtos. Geralmente não leva ao óbito, mas deixa sequelas importantes se não tratado. O tratamento é feito através de corticoide oral ou intravenoso ou outros imunossupressores, além do tratamento multidisciplinar (pneumologista, gastroenterologista, oftalmologista…). Penfigóide Gestacional Acomete mulheres em períodos de gestação e puerpério. É uma doença autoimune contra o AP1, além da possibilidade do fator hormonal (estrógeno) interferir, mas não há comprovações a respeito disso ainda. O quadro clínico é de lesões polimórficas, que podem ser urticariformes, eritematosas, vesículas, bolhas e escoriações. Vem acompanhada de prurido e a sua localização inicial clássica é a cicatriz umbilical, sendo que, posteriormente, há a disseminação. O diagnóstico é feito a partir da história clínica: gestantes, com quadro polimórfico, pruriginoso. Além disso, se faz as duas biopsias para a histopatologia e a imunofluorescência direta, sendo que essas são semelhantes ao penfigóide bolhoso. O quadro pode recidivar posteriormente por uso de anticoncepcional ou gestação subsequente (a maioria recidiva nesses casos). O tratamento é via corticoide oral ou tópico e anti- histamínicos – é necessário tratar a coceira e a doença autoimune. Epidermólise Bolhosa Adquirida É uma doença autoimune que acomete adultos, em que as bolhas são induzidas por traumas (gatilho). As lesões possuem localização acral e em áreas de trauma, sendo que o antígeno é o colágeno VII. O diagnóstico é feito a partir da identificação de bolhas em locais de trauma, em que na biopsia histopatológica se vê bolhas subepidérmicas com infiltrado de neutrófilos e na imunofluorescência direta se vê IgG ou C3 na membrana basal. O tratamento é feito pelo uso de corticóide oral ou tópico e imunossupressores. Dermatite Herpetiforme Pode ser chamada de dermatite de Duhring- Brocq, e é uma bulose autoimune subepidérmica em que há depósitos de IgA na membrana basal. Além disso, acomete adultos jovens e, de 80-100% tem associação com a doença celíaca. A etiopatogenia é por anticorpos IgA contra transglutaminases – transglutaminase epidérmica. E um fato importante é que tem raro acometimento de mucosa. O quadro clínico é de início insidioso, em que apresenta só o prurido para posteriormente apresentar lesões polimórficas, podendo ser pápulas e placas urticariformes, vesículas agrupadas e bolhas. São lesões de crescimento centrífugo (para fora) e localizam- se em nádegas, região interescapular e sacra, superfície extensora dos antebraços, joelhos e cotovelos. Além disso, pode ser desencadeada ou exacerbada pela ingesta excessiva de glúten e iodo (iodeto de potássio, contraste radiológico, frutos do mar, doenças da tireoide) – o iodo faz com que as transglutaminases dos queratinócitos sejam liberadas na junção dermo-epidérmica, tornando-a antígeno e estimulando a produção de IgA. O diagnóstico é feito através do quadro clínico e a histopatologia – presença de bolha subepidérmica com infiltrado de neutrófilos nas papilas dérmicas. E, na imunofluorescência direta é possível ver depósito granular de IgA. O tratamento é efetuado através de sulfas, Dapsona, Sulfapiridina – são antibióticos, mas também têm efeitos anti-inflamatórios. Além disso, é necessária uma dieta livre de glúten e evitar ingesta de iodo. Dermatose Por IgA Linear É uma doença autoimune com dois picos de incidência, uma quando criança, com um quadro de bulose crônica da infância, e o segundo já quando adulto, acima de 40 anos, sendo mais adultos do sexo feminino. Os antígenos se localizam na membrana basal, e são eles: AP2, AP1 e colágeno VII. O quadro clínico é de lesões polimórficas, mas de formato característico: colar de pérolas. O diagnóstico é feito através de duas biopsias de pele, em que uma é para o exame histológico em que se pega uma parte da lesão bolhosa, e a segunda é a imunofluorescência direta, que pega a pele sã perilesional. É necessário fazer um diagnóstico diferencial com dermatite herpetiforme. O tratamento é feito com Prednisona: 30mg/ dia e Dapsona: 50mg/dia.
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