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Patologia e dietoterapia nas enfermidades do aparelho digestivo e glândulas anexas: Intestino delgado e intestino grosso Professora: Marcella Guedes INTESTINO DELGADO (6 a 7 m) Duodeno – 20 a 30 cm Jejuno – 2/5 (Treitz ao ceco) Íleo – 3/5 (Treitz ao ceco) INTESTINO GROSSO Ceco Cólon ascendente Cólon transverso Cólon descendente Cólon sigmoide Reto Íleo terminal: absorção de vit B12; Válvula íleo cecal: evita o refluxo do conteúdo fecal do cólon para o intestino delgado; INTESTINO DELGADO FUNÇÕES: Completar a digestão do alimento vindo do estômago; Absorver seletivamente os produtos finais da digestão; Propulsão intraluminar do conteúdo alimentar p/ IG; Função imune; IG – intestino grosso INERVAÇÃO INTESTINAL Inervação extrínseca Inervação parassimpática: Aumenta a atividade de todo o sistema nervoso entérico. Acetilcolina – SNP (atividade excitatória sobre o músculo liso e secreções) Inervação simpática: Inibe a atividade do TGI. Noradrenalina – SNS (ação inibitória, diminui a liberação de acetilcolina) Inervação intrínseca Plexo de Meissner: Estimula secreção. Plexo Auerbach: Estimula motilidade. FUNÇÃO IMUNE do TGI BARREIRA INTESTINAL DISBIOSE Alteração da composição da microbiota normal. Principais causas: Alimentação (↑ industrializados, ↑ açúcar, ↓ fibras etc); Uso de antibióticos; Resíduo de antibióticos presentes nos alimentos; Problemas relacionados: Acne; Obesidade; Esteatose hepática não alcoólica / cirrose hepática; Doenças autoimunes; Alergias; Distúrbios intestinais; LPS → lipopolissacarídeo (fragmento de parede de bactéria gram negativa) Endotoxemia → LPS presente na corrente sanguínea → INFLAMAÇÃO BACTÉRIA GRAM POSITIVA BACTÉRIA GRAM NEGATIVA DIARREIA Evacuação frequente de fezes líquidas (normalmente acima de 3 vezes/dia, excedendo 300ml), acompanhadas de perda excessiva de líquidos e eletrólitos, especialmente Na e K. Evacuação normal: conceito amplo, considerando-se normal até 2 ou 3 evacuações nas 24 horas, de consistência variável, em função do tipo da alimentação, desde que não seja acompanhada de desconforto. Peso das fezes: 150 - 200 g/ dia Teor de água: 60 – 85% (150 mL) DIARREIA Classificação segundo o mecanismo fisiopatológico: Osmótica Secretora Normalmente, a diarreia osmótica melhora com jejum, enquanto a diarreia secretora nem sempre. DIARREIA Classificação quanto ao tempo de duração: Diarreia aguda (até 4 semanas) Diarreia crônica (duração > 4 semanas) Consequências: Desidratação moderada, importante ou grave Distúrbios eletrolíticos (mais comum hipocalemia) Julio Coelho, 2012. Julio Coelho, 2012. Antibióticos → Disbiose → Diarreia Destrói as bactérias intestinais e compromete a produção de AGCC que estimulam a absorção de água e eletrólitos no cólon; Alguns antibióticos permitem a proliferação oportunista de organismos competitivos no trato GI → microorganismos e suas toxinas ↓ a absorção e ↑ a excreção de líquidos e eletrólitos; Contaminação por Clostridium difficille → o mais comumente relacionado a esta situação, mas pode ocorrer por Clostridium perfringens, Samonella, Shigella, Campylobacter, Yersínia Enterocolítica e Escherichia coli. DIARREIA Pode ocorrer colite pseudomembranosa (Clostridium difficille). Condição frequente em indivíduos hospitalizados, devido o uso crônico de antibióticos. DIARREIA Tratamento nutricional: Aumentar fracionamento; Priorizar fibras solúveis e reduzir fibra insolúvel; Restringir gorduras, lactose, açúcar simples, álcool, caldos purínicos; Restringir flatulentos; Avaliar necessidade de alterar consistência (de acordo com a tolerância); Evitar temperatura gelada; Avaliar necessidade de suplementação de fibras solúveis (pectina, goma guar parcialmente hidrolisada); DIARREIA Tratamento nutricional: Probióticos As cepas mais utilizadas são Latobacillus casei, L. acidophilus. L. brevis, L. bulgaricus, L. plantarum e E. faecium. L. rhamnosos GG → probióticos mais efetivos na prevenção e no tratamento das diarreias; S. boulardi e E faecium → utilizados para prevenir diarreia associada com antibióticos; S. boulardi → previne a reincidência de diarreia causada por C. difficille. CONSTIPAÇÃO CONSTIPAÇÃO Critérios de Roma III: Para ser considerado constipado, um paciente deve preencher dois ou mais dos seguintes critérios: Dificuldade em 25% das defecações; Sensação de evacuação incompleta após 25% ou mais das defecações; Fezes duras ou caprinas em 25% ou mais da evacuações; Sensação de bloqueio ou obstrução anorretal em 25% das evacuações; Manobras manuais para facilitar a evacuação em pelo menos 25% das evacuações; Menos de 3 evacuações semanais; Causas da constipação: Ausência repetida de resposta ao estímulo de defecar; Insuficiência de fibra na dieta; Ingestão insuficiente de líquido; Inatividade física; Uso crônico de laxantes (irritativos de mucosa e estimulantes do plexo mioentérico); Tensão nervosa (estresse); Disfunções motoras primárias produzidas por miopatia ou neuropatia colônica; Dietas hipocalóricas (pouco volume e fibra); Medicações (anticolinérgicas, opioides, bloqueadores de canais de cálcio, suplementos de cálcio e ferro, antiespasmódicos...) CONSTIPAÇÃO Tratamento nutricional: ▫ Aumentar ingestão de fibras (solúveis e insolúveis); ▫ Aumentar ingestão de líquidos; ▫ Incluir exercício físico na rotina diária pessoal; ▫ Atenção ao estímulo de defecar. Dose recomendada de fibras (FDA): Total: 20 - 35 gramas /dia ¾ ou 75% fibras insolúveis ¼ ou 25% fibras solúveis – Celulose: fibra que tem a maior ação em ↑ peso das fezes e ↓ tempo de trânsito intestinal – mais resistente a digestão que outras fibras insolúveis; – Fibras solúveis: < efeito, algumas nem aparecem nas fezes, sendo fermentadas (nem todas) no cólon; CONSTIPAÇÃO O ↑ na ingestão de fibras pode causar um ↑ produção de gases (especialmente as fibras solúveis fermentáveis); A ingestão de fibras insolúveis produz menos este efeito por agir mais na incorporação de água no bolo fecal; Constipação crônica → necessária maior quantidade de fibra que indivíduos saudáveis e aumentar gradativamente a oferta de fibras para promover tolerância. CONSTIPAÇÃO Suplementos auxiliares: Prebióticos ↑ aumentam o bolo fecal por estimular o aumento das bactérias através da fermentação. Inulina ou FOS: 4-15g/dia; Farinha de banana verde (1cs 2x/dia) / Biomassa de banana; CONSTIPAÇÃO Probióticos Corrige disbiose; Diminui pH colônico, estimulando o peristaltismo intestinal; Estimula secreção de água e eletrólitos com o amolecimento das fezes; Estimula peristaltismo pela alteração na resposta imunológica colônica; Efetiva em constipação média a moderada; Cepas usadas: Bifidobacterium lactis, Bifidobacterium longum, Lactobacillus casei Shirota, Escherichia coli Nissle 1917 CONSTIPAÇÃO INTOLERÂNCIA À LACTOSE INTOLERÂNCIA À LACTOSE Inabilidade em digerir lactose. Deficiência na produção da enzima lactase (na borda em escova); A deficiência pode ser parcial ou total; A produção de lactase ↓ com o > da idade; INTOLERÂNCIA À LACTOSE Existem dois tipos de deficiência de lactase: Primária (condição permanente) - Forma congênita de deficiência de lactase - rara; - Não persistência de lactase do tipo adulto - muito comum e afeta cerca de ¾ da população mundial; Secundária Usualmente, condição temporária causada por dano à mucosa intestinal ou aumento do trânsito intestinal. Ex: Desnutrição, diarreiapersistente, doença celíaca, DIIs, NPT. INTOLERÂNCIA À LACTOSE INTOLERÂNCIA À LACTOSE Sintomas: cólicas, flatulência, náuseas/vômitos, diarreia osmótica (ácida) e em alguns casos constipação (devido a produção de metano). NÃO EXISTE ALERGIA À LACTOSE!!! INTOLERÂNCIA À LACTOSE Diagnóstico: Teste de glicemia para pesquisa de tolerância à lactose O indivíduo recebe 50g (ou 0,2g até 50kg) de lactose diluída em água; É verificada a glicemia em jejum e após 30 min, 60 min e 90 min; Normal Diferença > 30 mg/dl Inconclusivo Diferença entre 20 – 30 mg/dl Intolerante Diferença < 20 mg/dl INTOLERÂNCIA À LACTOSE Diagnóstico: Teste do hidrogênio (H2) expirado Considerado padrão-ouro (sensibilidade do exame é de 80% a 92,3% e a especificidade 100%) Preparo na véspera: - Ingerir dieta não fermentativa com restrição total de lactose; - Sem fumar (o cigarro aumenta o H2 expirado); - Não pode fazer exercícios físicos (aumentam o H2 expirado); - Tem que se apresentar para o exame com jejum de 10 a 12 horas, podendo ingerir água; - Evitar antibióticos por um mês antes do exame (a presença da flora bacteriana é essencial para a produção do H2). INTOLERÂNCIA À LACTOSE Diagnóstico: Teste do hidrogênio (H2) expirado Jejum → mede-se a quantidade de H2 basal; Oferece-se 50g/25g de lactose; Faz-se coletas seriadas a cada 15,20 ou 30 minutos durante pelo menos duas horas; Espera-se que haja pouca ou nenhuma formação de H2 (< 20 ppm); ≥ 20ppm → má absorção de lactose. INTOLERÂNCIA À LACTOSE Diagnóstico: Exame genético É retirada uma pequena amostra de sangue; A Análise Molecular de Hipolactasia Primária busca identificar se o indivíduo possui ou não uma mutação no gene LCT (13910 CT polimosfismo), responsável pela síntese da enzima lactase- florizina hidrolase. INTOLERÂNCIA À LACTOSE Tratamento nutricional: Exclusão parcial ou total da lactose (avaliar tolerância individual); Não recomenda-se a restrição de leite e derivados sem diagnóstico; Atenção ao aporte de cálcio; Pode ser utilizada enzima lactase exógena; - ingerir junto com a refeição - disponível em cápsulas, comprimidos, sachês para dispersão - não há restrição de limite máximo de dose - resultados variáveis (algumas pessoas podem necessitar de dose maior) INTOLERÂNCIA À LACTOSE Probióticos Auxiliam na digestão na lactose, promovendo sua hidrólise intestinal: - S. themophilus - L. bulgaricus - L. delburekii - L. casei Ideal – consumo em iogurtes, contendo no mínimo 108 UFC Estudos demonstraram benefício com a utilização. INTOLERÂNCIA À LACTOSE Fatores responsáveis pela variabilidade dos sintomas entre os indivíduos: Quantidade de lactase residual no intestino; Osmolaridade e conteúdo de gordura do alimento no qual o carboidrato é ingerido; Velocidade do esvaziamento gástrico; Trânsito intestinal; Sensibilidade à distensão abdominal produzida pela carga de lactose; Resposta do cólon à carga de carboidrato. Mattar et al. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 230-6. Iogurte X Leite fermentado -Diferentes no teor de soro; -Diferentes na exigência de quantidade de probiótico. Segundo ANVISA. DOENÇA CELÍACA DOENÇA CELÍACA É uma enteropatia, de origem autoimune, que afeta o intestino delgado proximal em crianças e adultos geneticamente predispostos, precipitada pela ingestão de glúten. DOENÇA CELÍACA Epidemiologia: Afeta, geralmente 1% da população; Devido à falta de sintomas clássicos → subdiagnóstico; Incidência vem ↑ em países em desenvolvimento; Maior prevalência: parentes de 1º grau, pacientes com doenças autoimunes; DOENÇA CELÍACA Formas de apresentação: Clássica: Sintomas de má-absorção GI após exposição ao glúten da dieta: diarreia ou esteatorreia, perda de peso, dor e distensão abdominal e deficiências nutricionais; Se manifesta tanto na criança quanto no adulto. Não Clássica ou Atípica: Pouco ou nenhum sintoma GI (sem diarreia, pode ocorrer constipação); Predomínio das manifestações extraintestinais; Surge mais tardiamente. DOENÇA CELÍACA Fatores de risco: Genética: concordância de 70% em gêmeos e 5-15% em parentes de 1º grau; Sexo: 1,5-2x maior em mulheres; Dieta: redução do risco com o aleitamento materno e relação com a quantidade e o tipo de glúten ingerido; Infecções; Outras doenças autoimunes; DOENÇA CELÍACA Fisiopatologia: É causada por uma reação imunológica às proteínas do glúten. Glutelinas → proteínas do glúten insolúveis em álcool. Prolaminas → proteínas do glúten solúveis em álcool. Potentes ativadores da resposta imunológica na doença celíaca. Glúten Prolaminas Glutelinas Há controvérsias a respeito da aveia. - Possui glúten (prolamina → avenina), porém em quantidade menor (??) - Alguns pesquisadores interrogam se é imunogênica (??) DOENÇA CELÍACA Características: Atrofia das vilosidades (má absorção e desnutrição); ↓ produção de dissacaridasese e dipeptidases na borda em escova; Menor estímulo a secreção colecistoquinina e secretina → prejuízo na digestão e absorção; Fassano A. Surprises form celiac disease. 2009. DOENÇA CELÍACA Manifestações clínicas: Pode variar muito; Depende da gravidade e extensão da lesão principalmente; Depende da idade e do tempo de exposição ao glúten; Quanto mais grave e maior segmento acometido → maior comprometimento na digestão e absorção. DOENÇA CELÍACA DOENÇA CELÍACA DOENÇA CELÍACA DOENÇA CELÍACA Dermatite herpetiforme – manifestação cutânea Afeta até 25% dos pacientes. DOENÇA CELÍACA Diagnóstico: Testes sorológicos + biópsia intestinal (antes da exclusão do glúten!) - Sorologia: autoanticorpos Antitransglutaminase Antiendomísio Antigliadina (quase não é mais usada – menos fidedigna) Os anticorpos podem negativar 3 a 12 meses após a exclusão do glúten. Tratamento nutricional: Excluir os cereais que contém glúten permanentemente: trigo, centeio, cevada e aveia (?) – restrição de aveia é discutida. Ideal: NADA de glúten, porém existe contaminação. Restringir lactose inicialmente na fase inflamatória devido à atrofia das vilosidades. Monitorar possíveis deficiências nutricionais e avaliar suplementação. Em casos de má absorção severa e diarreia incoercível → NPT e/ou dieta oligomérica. DOENÇA CELÍACA DOENÇA CELÍACA Podem ser consumidos: Alimentos industrializados que frequentemente possuem glúten como ingrediente ou espessante: Embutidos (salames, salsichas...) Sorvetes; Sopas enlatadas; Maionese; Achocolatados; Café instantâneo; Enlatados; - Além disso, deve-se orientar os riscos ao comer fora: farinha no feijão, óleo de fritura, contaminação cruzada por liquidificador, equipamentos, utensílios etc... DOENÇA CELÍACA A vigilância da dieta deve ser permanente, já que a ingestão de glúten pode acontecer até sem que a gente perceba, como por exemplo: através de óleo de fritura utilizado no preparo de alimentos com glúten e depois para a fritura de alguma preparação sem glúten; utilização da mesma faca para se passar margarina em pão com glúten e depois passar em bolacha sem glúten; uso de tabuleiros ou formas polvilhadas com farinha de trigo e depois reutilizá-las para os produtos sem glúten, sem que tenham sido bem lavadas. DOENÇA CELÍACA ACELBRA - Associação dos Celíacos do Brasil Site tem receitas / orientações gerais para celíacos. SENSIBILIDADE AO GLÚTEN NÃO-CELÍACA SENSIBILIDADE AO GLÚTEN NÃO- CELÍACA Definição proposta para condições em que sintomas GI ou extra-intestinais são desencadeadas pela ingestão de glúten,na ausência de anticorpos para doença celíaca, atrofia de vilosidades e processo relacionado a alergia ao trigo. Prevalência difícil de ser estimada; 0,5 – 13% em pessoas que se “autodefinem”, mas ainda sem diagnóstico médico; Mais associada em mulheres jovens/meia idade e, alguns estudos falam em idosos; Sintomas: TGI: dor abdominal, gases, alteração do hábito intestinal; Sintomas sistêmicos: fadiga, dor de cabeça, dor óssea e nas articulações, transtornos do humor e manifestações de pele (eczema ou rash); Sintomas podem aparecer horas ou dias após a ingestão e desaparecem se o glúten é excluído da dieta; SENSIBILIDADE AO GLÚTEN NÃO- CELÍACA Diagnóstico: de exclusão! Descartar doença celíaca! Tratamento: Exclusão do glúten. SENSIBILIDADE AO GLÚTEN NÃO- CELÍACA SENSIBILIDADE AO GLÚTEN NÃO- CELÍACA Principais dificuldades: Relacionadas ao diagnóstico Relacionadas ao tratamento Desconhecimento do verdadeiro gatilho Indisponibilidade de marcadores biológicos Não se conhece toda a magnitude da doença Exclusão de glúten antes da realização dos exames Prescrição de enzimas para digestão de glúten* *Eficácia e segurança ainda não comprovadas. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Consistem em inflamação intestinal de caráter crônico e recidivante; A distinção entre as 2 é um desafio; Estima-se que 10 a 20% dos casos não seja possível distinguir entre doença de Crohn e RCUI; DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Etiologia e fisiopatologia: Não completamente compreendida. Associação básica de 4 fatores: 1) Genéticos 2) Fatores luminais (microbiota intestinal) 3) Fatores relacionados à barreira intestinal (↑ permeabilidade intestinal) 4) Imunorregulação da mucosa (imunidadade inata ↓ e adaptativa ↑) DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Epidemiologia: Acomete igualmente ambos o sexos; Mais comum em fumantes; Frequente em parentes de 1º grau de indivíduos acometidos e concordância em gêmeos monozigóticos; Começa a se manifestar com mais frequência após os 10 anos de idade, com maior apresentação entre 5 e 25 anos e 55 e 60 anos; DOENÇA DE CROHN DOENÇA DE CROHN Patologia: Pode envolver qualquer parte do TGI, da boca ao ânus; -principal local → intestino, especialmente o íleo terminal Inflamação segmentar; Envolvimento transmural da parede (atinge todas camadas); A cirurgia não cura a doença, apenas trata as complicações; Fase ativa X remissão; Pode ter manifestações extraintestinais; Lesões segmentadas (alternam com área sadia) Epidemiologia: Incidência maior na terceira e sexta década de vida; Incidência menor em indivíduos < 20 anos, porém pode ocorrer em crianças com < 1 ano e em idosos com > 80 anos; Mais frequente em caucasianos (↓ em negros e orientais); Comum em familiares, principalmente em gêmeos; RETOCOLITE ULCERATIVA INESPECÍFICA (RCUI) Patologia: A doença envolve apenas o cólon e sempre se estende a partir do reto; A lesão inflamatória é contínua, e atinge mucosa e submucosa; O sangramento retal ou diarreia com sangue são comuns; Fase ativa X remissão; Extensão e gravidades estão associadas ao prognóstico; Doença limitada ao reto ou retossigmoide, com manifestação leve → MELHOR PROGNÓSTICO. RETOCOLITE ULCERATIVA INESPECÍFICA (RCUI) Lesões segmentadas Lesão contínua DII – Manifestações clínicas (intestinais e extraintestinais) Diagnóstico: Não existem características clínicas, endoscópicas e histológicas completamente específicas das DII → são consideradas em conjunto para o diagnóstico. Suspeita clínica: sintomas anteriores + anemia + hipoalbuminemia + ↑ VHS + ↑ ptn C reativa + leucocitose Exame físico: chamam a atenção a doença perianal, massa abdominal palpável (alças intestinais edemaciadas) e presença de manifestações extraintestinais. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Diagnóstico: (Exames de imagem) Tomografia ou Ressonância magnética Enterografia por tomografia ou ressonância Trânsito de delgado (DC) Retossigmodoscopia Colonoscopia Cápsula endoscópica → doença de Crohn Endoscopia digestiva alta – dúvida de sintomas mais altos DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Trânsito de delgado Enterografia por tomografia computadorizada Tratamento clínico: Aminossalicilatos (sulfassalazina e 5-ASA) – antiinflamatórios; Corticoides (prednisona, cortisona) – antiinflamátórios e imunossupressores; Imunossupressores (azatioprina, 6-mercaptopurina); Antibióticos (metronidazol e ciprofloxacina) – por ação imunomoduladora, opção nas fístulas e doença anal; Imunomoduladores (Biológicos - Infliximab, Umira) – inibidores do TNF-α CIRURGIA → reservada para complicações específicas (fístulas, estenoses, perfurações) e doença refratária a terapia medicamentosa. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Ressecção das porções intestinais acometidas. Podendo haver anastomose entre as porções restantes do intestino ou colocação de ostomias (colostomias ou ileostomias – a depender da área afetada) Complicações: Estenoses inflamatórias ou associadas à fibrose → suboclusão intestinal (frequente no íleo); Fístulas (mais comuns: entero-cutâneas, entero-vesicais, entero- entéricas, perianais); Início precoce da doença, história familiar e tabagismo estão associados a doença mais agressiva. DOENÇA DE CROHN - Podendo ocorrer sepse, incontinência, distúrbios hidroeletrolíticos, desidratação e necessidade de tratamento cirúrgico. Diminuição da luz (por inflamação ou fibrose cicatricial) DOENÇA DE CROHN Conduta nutricional: adaptar consistência ou pode ser necessário TNE pós- estenose e ↓ fibra insolúvel ou NPT. DOENÇA DE CROHN Complicação comum associada a abscesso. Fístulas entero-entero (entre 2 alças intestinais) DOENÇA DE CROHN Fístula entero-cutânea DOENÇA DE CROHN Fístula entero-vesical DOENÇA DE CROHN Complicações: Megacólon tóxico → risco de perfuração e peritonite; Câncer de cólon e reto. RETOCOLITE ULCERATIVA INESPECÍFICA (RCUI) Megacólon Megacólon tóxico (RCUI) RETOCOLITE ULCERATIVA INESPECÍFICA (RCUI) OSTOMIAS DE DRENAGEM Indicações: proteção de anastomose distal com risco de deiscência; obstrução distal ao estoma (ex: tumor); no sigmoide para tratamento de incontinência fecal; Colostomia terminal à Hartmann (sepultamento do reto) Colostomia terminal em duplo cano (Mikulicz) Colostomia terminal com fístula mucosa Indicações: proteção de anastomose distal; obstrução distal ao estoma (ex: estenose ou tumor); após proctocolectomia total; após colectomia total sem possibilidade de anastomose ileorretal. Ileostomia também pode ser em alça ou terminal. Proctocolectomia + anastomose ileoanal com reservatório ileal (pouch) A consistência do conteúdo fecal drenado vai depender do local da ostomia. IMPACTO NUTRICIONAL NAS DIIS VAI DEPENDER DA EVOLUÇÃO DA DOENÇA, ÁREA ACOMETIDA, PRESENÇA DE FÍSTULAS, MEDICAÇÕES, RESSECÇÕES... Ingestão oral inadequada → dor abdominal, diarreia, anorexia, vômitos, restrições alimentares, efeitos colaterais das medicações; Má-absorção → doença intestinal extensa, ressecções cirúrgicas, deficiência de sais biliares, hipercrescimento bacteriano, fístulas digestivas e efeitos colaterais das medicações; Perdas intestinais → sangramento, fístulas digestivas, enteropatia perdedora de proteínas e sais biliares, perdas de minerais e eletrólitos; Necessidades nutricionais → período de crescimento, inflamação aguda, sepse, fístula, febre, atividade de doença. Interação droga-nutriente. IMPACTO NUTRICIONAL INTERAÇÃO DROGA-NUTRIENTE Sulfassalazina ↓ absorção de ácido fólico; Metotrexato inibe a diidrofolato redutaze - enzima responsável pela redução do ácido diidrofólico em ácido tetrahidrofolato (forma ativa do folato); Corticoide ↓ absorção intestinal de cálcio e reabsorção tubular renal; Altera função da vitamina D; provoca desequilíbrio no metabolismo e remodelamento ósseo → OSTEOPOROSE. TERAPIA NUTRICIONAL Objetivos: Controle dos sintomas e prevenção e correção de deficiências nutricionais; Redução das sequelas a longo prazo → déficit de crescimento em crianças e osteoporose em adultos; Prevenção Uma dieta rica em frutas e vegetais; rica em ômega-3 e baixa em ômega- 6 está associada com ↓ do risco de desenvolver doença de Crohn. Colonização e translocação bacteriana Permeabilidade intestinal Composição microbiota intestinal Dieta TERAPIA NUTRICIONAL Aporte calórico Pacientes com DII não têm um ↑ de gasto energético como resultado direto da doença e equações preditivas são adequadas para estimar requerimentos. No entanto, a ingestão dietética pode ser inadequado para atender a requisitos normais, particularmente durante os períodos de atividade da doença que pode levar à perda de peso. A medição do gasto energético pela calorimetria indireta pode ser usada em casos problemáticos. TERAPIA NUTRICIONAL Aporte proteico Fase de atividade de doença: 1,2 a 1,5 g/kg/dia Fase de remissão: 1,0 g/kg/dia Pacientes com DII desenvolvem perda de massa magra, devido: Ingestão dietética ↓ cronicamente; ↑ turn over proteico e perda de proteína pelo intestino; Uso de corticoide → proteólise. TERAPIA NUTRICIONAL Micronutrientes Deve ser avaliada deficiência e corrigida se houver necessidade. O risco de deficiência deve-se principalmente a: - Diarreia / débito alto de ostomias; - Ingestão dietética inadequada; - Fístulas (principalmente zinco); ATENÇÃO na suplementação!!! Ferro (muito frequente anemia ferropriva) Cálcio e vit D (má absorção de gordura e uso de corticoide) B12 (ressecção de íleo terminal) Ácido fólico (uso de sulfassalazina e metotrexato) TERAPIA NUTRICIONAL TERAPIA NUTRICIONAL Fibras solúveis Auxiliam: no controle da diarreia → retenção de água nas fezes, no retardo do trânsito intestinal; na produção de AGCC (substrato para colonócitos) → contribui para melhora clínica na RCUI. Fibras mais utilizadas: goma-guar (ex: fiber mais) , pectina e psyllium. Não utilizar em inflamação intensa (irritação de mucosa e fermentação/ flatulência contribuindo para desconforto abdominal) Probióticos Pode ser considerado em pacientes com RCUI leve a moderada para induzir remissão e para manter remissão. - Cepas: Escherichia coli Nissle 1917 ou VSL#3. Não devem ser usados no tratamento de doença de Crohn em atividade de doença nem em fase de remissão. Pode ser considerado na prevenção primária ou secundária de ‘’pouchitis’’ (inflamação do reservatório ileal na RCUI). TERAPIA NUTRICIONAL Via de administração Preferir via oral ou TNE!!! TNP está indicada quando: VO ou TNE não suprirem as necessidades nutricionais (associar); TGI disfuncional; Obstrução intestinal; Síndrome do intestino curto; Deiscência de anastomose; Fístulas intestinais proximais (jejuno) e/ou alto débito (> 500ml/dia); TERAPIA NUTRICIONAL Tipo de fórmula Pode ser utilizada fórmula polimérica padrão ou oligomérica quando necessário; Não é recomendada utilização de glutamina e ômega-3 em TNE ou TNP; TERAPIA NUTRICIONAL Na presença de colostomias / ileostomias... Observar débito das fezes; Ileostomias apresentam débito > por não haver absorção de água das fezes pelo cólon; Assim como, quanto mais proximal a colostomia do cólon (ex: cólon ascendente), > o débito fecal; Débitos muito aumentados > 1500ml/dia; Risco de desidratação e perda de minerais e eletrólitos em débitos muito altos (zinco, potássio, sódio...); TERAPIA NUTRICIONAL Para controlar o débito das ostomias (logo após a confecção ou em situações de débitos muito altos) – tratar como diarreia: Restrição de fibras (principalmente insolúvel); Restrição de gordura; Excesso de ingestão de água também pode elevar o débito, por estimular o trânsito intestinal (principalmente ileostomia); Em caso de distensão abdominal, restringir carboidratos simples, lactose e alimentos flatulentos. TERAPIA NUTRICIONAL TERAPIA NUTRICIONAL Dan, 2009. DOENÇA DIVERTICULAR (Intestino grosso) DOENÇA DIVERTICULAR Epidemiologia: A prevalência vem aumentando devido o envelhecimento e a ocidentalização do hábito alimentar (dietas com ↓ fibra e rica em gorduras e carnes); A prevalência é maior em não vegetarianos (33%) e menor em vegetarianos (12%); É similar em ambos os sexos e incomum antes dos 40 anos; Com o envelhecimento ocorre ↓ da força tênsil das fibras colágenas e musculares do intestino; Patologia: O cólon (sigmoide) é o local mais comum de formação diverticular do TGI; O número e o tamanho frequentemente aumentam com o tempo; Variam de 1 a centenas de divertículos; O tamanho pode variar de 1 mm a 1 cm; DOENÇA DIVERTICULAR DOENÇA DIVERTICULAR Patogênese: Ainda não é completamente esclarecida. DOENÇA DIVERTICULAR Doença diverticular Fibra da dieta Estrutura parede intestinal Motilidade colônica ↓ quantidade de resíduos e volume fecal Hipersegmentação colônica ↑ pressão intraluminar colônica Herniação da mucosa e submucosa em pontos de fraqueza muscular DOENÇA DIVERTICULAR Quadro clínico: A maioria dos pacientes (70%) é assintomática; 10% apresentam sintomas inespecíficos, como dor abdominal intermitente, distensão abdominal, excesso de gases, timpanismo e defecação irregular; 15 a 30% dos pacientes com divertículos no cólon apresentam doença diverticular complicada: diverticulite e hemorragia diverticular. DOENÇA DIVERTICULAR Diverticulite: Complicação mais frequente da diverticulose; Estima-se que 10 a 20% desenvolvam diverticulite; Maior probabilidade em pessoas com maior número de divertículos; Pode variar de inflamação leve até peritonite fecal secundária à perfuração do divertículo; O início da inflamação deve-se à obstrução por material fecal no seu interior + proliferação bacteriana; DOENÇA DIVERTICULAR Diagnóstico: Exames laboratoriais (leucocitose com desvio para esquerda); Radiografia simples de abdome (pneumoperitônio no caso de peritonite); Enema opaco; Ultrassonografia; Tomografia computadorizada; Ressonância magnética; Retossigmoidoscopia / colonoscopia. DOENÇA DIVERTICULAR Enema opaco DOENÇA DIVERTICULAR Dieta rica em fibras ↑ peso e do diâmetro das fezes ↓ contrações musculares e a pressão intraliminar DOENÇA DIVERTICULAR Tratamento doença diverticular não complicada: Aumento de ingestão de fibras e líquidos; Restringir sementes que não incorporam ao bolo fecal: gergelim, linhaça, pipoca (casca), milho mal digerido, girassol, abóbora... DOENÇA DIVERTICULAR Tratamento Diverticulite: Tratamento clínico Antibiótico Dieta líquida restrita nos primeiros dias de antibiótico Em seguida, dieta com baixo teor de resíduos até o término do ciclo de antibiótico. Tratamento cirúrgico → divertículo sangrante, perfuração, fístula. Caso clínico C.V.G., 28 anos, sexo masculino, foi hospitalizado devido queixa de forte dor abdominal e diarreia. Diagnosticado há 4 anos com doença de Crohn, em uso de sulfassalazinae azatioprina. Na admissão, a enterografia por ressonância mostrou presença de fístula perianal, estenose subtotal em íleo proximal e inflamação moderada em íleo terminal, evidenciando atividade de doença. Ao exame físico: LOTE; Ausência de depleção em musculatura temporal e bola de bichat; Reservas musculares e adiposas preservadas; Ausência de edema em MMII e MMSS; Abdome algo distendido e dor à palpação em hipocôndrio direito. Exame laboratorial: Hemoglobina 11,7 g/dL; Hematócrito 41 %; Leucócitos 12,6 mil/mm³; PCR 9,4 g/dL; Proteínas totais 6,5 g/dL; Albumina 3,0 g/dL; Globulina 3,5 g/dL. Refere perda ponderal de 2 kg em semana. Peso atual 67 kg, estatura 1,79 m. Alimentando-se por via oral, com parcial aceitação. a) Diagnóstico nutricional; b) Conduta dietoterápica (via de administração e composição); c) Recomendação calórico-proteica seria adequada para este paciente; Caso clínico