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GESTÃO DA QUALIDADE Conselho Editorial EAD Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Mara Lúcia Machado José Édil de Lima Alves Astomiro Romais Andrea Eick Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. APRESENTAÇÃO A qualidade vem, há muito tempo, deixando de ser um diferencial no mercado para ser uma questão de sobrevivência para as organizações. O consumidor, cada vez mais exigente, leva-as a buscar métodos que direcionem seus processos e sua gestão para a qualidade, garantindo, assim, a geração de valor e a competitividade da empresa. A definição de qualidade constante e preventiva começou durante a Segunda Guerra Mundial, quando técnicas estatísticas começaram a ser usadas para controle de qualidade na indústria bélica. A partir daí, essa concepção de qualidade espalhou-se pelas indústrias de todas as áreas. No início da década de 1960, no Japão já se falava em qualidade estendida às outras áreas das organizações, como recursos humanos, financeiro, administrativo. Cabe salientar que o tema Gestão da Qualidade vem ocupando um papel decisivo dentro das organizações, por apresentar, através de seus fundamentos, ferramentas, métodos e programas, resultados muito positivos e competitivos num mercado globalizado. Atualmente, as organizações precisam garantir a qualidade com redu- ção de custos internos. Por isso, necessitam trabalhar com sistemas sólidos de metodologias avançadas, para atender às necessidades dos clientes e acompanhar os novos desafios de mercado, buscando siste- mas de informação, tecnologia de ponta e atendimento às legislações e assim garantindo seu sistema de gestão de qualidade. Para manter o padrão e monitoramento dos processos, é necessário que a empresa faça uma combinação integrada de recursos humanos, financeiros e tecnológicos para garantir os requisitos de seus clientes e se tornar cada vez mais competitiva. Para que a empresa consiga definir e manter seus ideais, é necessário que sejam traçados objetivos estratégicos que se desdobram por toda organização através da disseminação de suas políticas, missão, visão, procedimentos, diretrizes, normas, requisitos de certificação, progra- 6 mas que deem suporte e forneçam recursos para que seus objetivos possam ser alcançados. O clima organizacional é um fator importante que deve favorecer todas as pessoas envolvidas nos processos, fazendo com que elas se sintam valorizadas e responsáveis por cada atividade, com o objetivo de garantir a qualidade e o bom desempenho do negó- cio. Toda essa visão de crescimento e competitividade justifica o inte- resse das empresas em implementar um Sistema de Gestão da Quali- dade para fortalecer a sua manutenção dentro de um mercado globali- zado e expandir-se cada vez mais, usando modelos e padrões de qua- lidade internacionais e modernos. As metodologias, ferramentas, procedimentos e certificações adotados nas organizações como padrões e modelos de sistemas de gestão con- tribuem com o aprimoramento dos processos visando maiores níveis de competitividade, nos quais a melhoria contínua é um processo que contribui cada vez mais com a evidência de excelência em resultados e gestão de qualidade dentro das organizações. Os capítulos deste livro estão divididos de forma que o leitor consiga estabelecer uma linha de raciocínio na construção do conceito de qua- lidade, tomando conhecimento da história da evolução e das aborda- gens dos grandes mestres além da aplicação das ferramentas, metodo- logias e programas dentro das empresas. Estas, através da evolução de métodos e técnicas, passaram a entender os processos de melhoria da qualidade, buscando o entendimento dos sistemas, certificações, audi- torias e estratégias que deram origem a uma nova visão, a qual deno- minamos de Sistema de Gestão da Qualidade. Dessa forma, este livro traz fundamentos e exemplos de práticas para que o leitor possa entender, de forma clara e didática, através de textos, exercícios e vídeos, o tema em questão. SOBRE O AUTOR Marie Cristine Fortes Rocha É graduada em Administração de Empresas (1998) pela Faculdade Portoalegrense de Ciências Contábeis e Administrativas (FAPCCA atualmente FAPA), mestre em Engenharia Ambiental (2004) pela Uni- versidade Luterana do Brasil (Ulbra) e doutoranda em Gestão Inte- grada pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em Portugal. Extensão em Metodologia do Ensino Superior e Ensino a Distância. Atuou como docente do curso técnico de Gestão da Quali- dade da Ulbra. Possui experiência de 11 anos no mercado automotivo, no qual exerceu por oito anos a função de coordenadora de gestão da qualidade e gestão ambiental e na área de administração, com ênfase em sistemas e gestão da qualidade, meio ambiente e saúde e segurança ocupacional, atuando principalmente com os seguintes temas: Sistema de Gestão Integrado (SGI), programas de melhoria contínua e audito- rias do sistema de gestão da qualidade. Atualmente, é professora de graduação e pós-graduação da Ulbra e também de pós-graduação do Instituto Educacional do Rio Grande do Sul (Iergs) e da Faculdade da Serra Gaúcha - FSP. Atua também como membro do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí e como Consultora de Empresas na área de sistemas integra- dos e auditorias de gestão da qualidade. SUMÁRIO 1 A HISTÓRIA E A EVOLUÇÃO DA QUALIDADE .................................................... 13 1.1 A Evolução da qualidade ......................................................................... 14 1.2 As eras da qualidade ............................................................................... 18 Atividades .................................................................................................... 21 2 CONCEITOS E ABORDAGENS DA QUALIDADE ................................................... 22 2.1 Dimensões da qualidade ......................................................................... 24 2.2 Abordagens da qualidade ........................................................................ 25 Atividades .................................................................................................... 29 3 OS MESTRES (GURUS) DA QUALIDADE ........................................................... 30 3.1 Alguns mestres e suas respectivas contribuições para qualidade .............. 32 Atividades .................................................................................................... 38 4 FERRAMENTAS, METODOLOGIAS E PROGRAMAS DA QUALIDADE ..................... 40 4.1 Brainstorming ......................................................................................... 40 4.2 Histograma ............................................................................................ 41 4.3 Folhas de verificação............................................................................... 43 4.4 Cartas de controle................................................................................... 43 4.5 5W2H .................................................................................................... 44 4.6 Diagrama de Pareto ................................................................................ 46 4.7 Diagrama Espinha de Peixe ou Diagrama de Causa e Efeito ....................... 47 4.8 Metodologias para melhoria do desempenho da qualidade ....................... 48 10 4.9 Outros programas, ferramentas e metodologias para gestão da qualidade . 53 Atividades ....................................................................................................55 5 MÉTODOS E TÉCNICAS PARA MELHORIA DA QUALIDADE .................................. 56 5.1 Excelência e qualidade ............................................................................ 57 5.2 O que é qualidade e por que ela é tão importante? ................................... 59 5.3 A visão do consumidor ............................................................................. 60 5.4 A visão no processo ................................................................................ 60 5.5 Variáveis e atributos ................................................................................ 61 5.6 Conceito de variabilidade ........................................................................ 62 5.7 Controle estatístico do processo (CEP) .................................................... 63 Atividades .................................................................................................... 65 6 SISTEMAS DE QUALIDADE .............................................................................. 66 6.1 Objetivo e aplicação ................................................................................ 69 6.2 Princípios da qualidade .......................................................................... 69 6.3 Atualizações da norma ISO 9000: sistemas de gestão da qualidade........... 71 6.4 ISO 9001:2008: requisitos para a certificação do sistema ........................ 72 Atividades .................................................................................................... 78 7 AUDITORIAS DA QUALIDADE ........................................................................... 79 7.1 Processo de certificação ......................................................................... 80 7.2 Avaliação e retroalimentação do sistema da qualidade ............................ 83 7.3 Auditorias de sistema de gestão .............................................................. 83 Atividades .................................................................................................... 86 8 ESTRATÉGIAS DA QUALIDADE ......................................................................... 87 8.1 A origem da gestão estratégica e sua contribuição para a qualidade total .. 88 8.2 A utilização do benchmarking como estratégia para qualidade .................. 91 8.3 Avaliação de custos como uma estratégia competitiva .............................. 93 Atividades .................................................................................................... 95 11 9 MONITORAMENTO E MEDIÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE ........... 96 9.1 Produtividade significando eficiência....................................................... 97 9.2 Produtividade significando eficácia ......................................................... 97 9.3 Produtividade significando efetividade .................................................... 98 9.4 Produtividade fabril ou gerencial ............................................................. 98 9.5 A produtividade no Brasil ........................................................................ 98 9.6 Economia da qualidade ........................................................................... 99 9.7 Melhoria contínua ................................................................................. 101 Atividades .................................................................................................. 103 10 QUALIDADE COMO GESTÃO DO NEGÓCIO .................................................... 104 10.1 O processo gerencial da qualidade ....................................................... 104 10.2 A gestão da qualidade por processos ................................................... 106 10.3 Gestão para a competitividade ............................................................ 107 10.4 A qualidade nos dias atuais ................................................................. 108 10.5 O foco na excelência ........................................................................... 110 10.6 A inovação .......................................................................................... 112 Atividades .................................................................................................. 114 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 115 GABARITO ...................................................................................................... 117 1 A HISTÓRIA E A EVOLUÇÃO DA QUALIDADE Marie Cristine Fortes Rocha A evolução da história da qualidade vem sendo contada ao longo dos anos. Conforme bibliografias e técnicas aplicadas nas organizações, podemos observar que essa evolução vem acompanhando as necessi- dades humanas em busca da competitividade e excelência no mercado global. Conforme Marshall Junior et al, o tema Gestão da Qualidade é dinâmico, sendo sua evolução fruto da interação dos diversos fatores que compõem a estrutura organizacional e sua administração. Alguns fatores estruturais e tendências apontam para ciclos de vida e perfis quantitativos com influência decisiva nos paradigmas vigentes, pois • criam desafios e transformações multidisciplinares na gestão organizacional, causando impactos surpreendentes na Gestão da Qualidade; • afetam a estruturação, a abrangência, os conceitos e o portfólio de competências, conhecimentos, habilidades, ferramentas, técnicas e metodologias; • expandem as fronteiras atuais e interligam áreas do saber e de especialização em um novo conceito da qualidade, diversificado e holísticoa É importante considerar o que cada autor traz em suas respectivas obras, pois cada um viveu uma situação diferente em um lugar dife- rente, contribuindo, através de suas pesquisas, práticas e experiências, com a mudança de cenário do conceito e das práticas de qualidade. As questões da Qualidade têm existido desde que chefes tribais, reis e faraós governavam. O código de Hamurabi, datado de 2150 a.C., estabelece que “se um construtor erguer uma casa para alguém e seu trabalho não for sólido, e a casa desabar e matar o morador, o construtor deverá ser imolado”. Inspetores fenícios eliminavam quaisquer violações reincidentes de padrões de Qualidade amputando a mão do fabricante do produto defeituoso. Inspetores aceitavam ou rejeitavam produtos e faziam cumprir as especificações governamentais. Por volta de 1450 a Marshall Junior et al., 2006, p. 19. 14 a.C., inspetores egípcios conferiam a forma de bloco de pedra com um barbante, enquanto também usavam esse método. Essas civilizações antigas enfatizavam a retidão do negócio e tratamento de reclamaçõesb Observando historicamente, a qualidade é um conceito originário das práticas de engenharia de produção da indústria americana. Difundiu- se no Japão pós-Guerra com os chamados sistemas de gestão pela qualida- de total. Na Europa, assumiu a forma contratual de Sistema de Gestão da Garantia da Qualidade, espalhando-se rapidamente pelo mundo no bojo das exigências e requisitos de compra do mercado comum euro- peuc. A criação de padrões de controle de qualidade evidenciou-se como necessária durante a Segunda Guerra Mundial, onde os aliados viram- se em situações adversas, possuindo munições e canhões no mesmo local, mas que, por diferentes origens, não podiam ser usados. Cabedad revela que, a partir desse fato, surge um dos primeiros padrões inter- nacionais: o calibre das armas de fogo. A indústria americana desenvolveu as primeiras estruturas formais do controle de qualidade, as técnicas estatísticas de amostragem e os con- troles estatísticosde processo, inclusive o conceito de qualidade como uma forma de gestão, dando origem ao termo qualidade total. 1.1 A Evolução da qualidade Segundo Robes Junior e Bonellie, a partir da implementação da eco- nomia globalizada, a palavra qualidade adquiriu o status de bem eco- nômico, porque ninguém mais compra um produto ou serviço para simplesmente satisfazer seu desejo ou necessidade de consumo: o comprador, pessoa física ou jurídica, deseja usufruir, na verdade, do potencial de benefícios e resultados esperados da qualidade do bem adquirido. A qualidade passou a ser um importante resultado a ser considerado no desenho de um modelo de gestão em qualquer setor da atividade econômica. Em matéria de eficácia organizacional, a qualidade tornou- se, hoje em dia, importante variável para se avaliar a viabilidade de um plano estratégico de negócios, pois ela poderá definir quais serão, em nível de excelência, os direcionadores básicos dos resultados eco- b Gitlow, 1993, p. 1. c Figueira, 2003, p. 9. d Cabeda, 2003. e Robes Junior; Bonelli, 2006. 15 nômico-financeiros dos negócios ou do projeto de uma empresa, em um ambiente de forte competitividade confrontacional. Em suma, a evolução do conceito e da história da qualidade, começou a se desenvolver no início do século XX, onde tivemos a forte influên- cia de Taylor, o qual promoveu a análise científica do trabalho do operário, visando maior qualidade e produtividade na empresa. Cada década trouxe a sua contribuição para a história da qualidade, confor- me ilustrado por período no Quadro 1. Quadro 1 – Gestão da qualidade no processo: a qualidade através dos tempos (compacto) Evolução histórica Acontecimentos Lições do período para os dias de hoje Primeiro período: Antiguidade Esse primeiro período pode ser caracterizado pela alta qualidade e por padrões para as artes em geral e a arquitetura de extrema precisão na Grécia e em Roma. Houve ainda avanços no Egito, onde foram feitas descobertas fundamentais na matemática. � A qualidade é, antes de tudo, um objetivo a atingir. � As ferramentas desenvolvidas sob motivação da qualidade ou com o objetivo de produzi-las tendem a adquirir vida própria. � Seus benefícios, sua utilização e sua área de abrangência vão além do que se esperava em sua concepção original. Segundo período: Idade Média Período marcado pelo aparecimento dos primeiros operadores de controle da qualidade, surgido a partir do crescimento de pequenas empresas e da diversificação de suas linhas de produção. Na Europa, a formação de associações de artesões contribuiu para a regulamentação da economia; preocupação com as condições de trabalho, controle de matéria-prima e regulagem dos processos. As Indústrias da época contavam com indivíduos que produziam bens e serviços e eram responsáveis pela qualidade do que faziam. � Reflexos muito amplos da qualidade, envolvendo benefícios em uma grande diversidade de áreas. � Desde sua origem, a avaliação da qualidade é uma atividade que não pode ser dissociada da própria ação produtiva. 16 Terceiro período: de 1900 a 1930 O início do século XX marca o surgimento do Jornal of the American Statistical Society, um veículo de divulgação da qualidade que se mantém ainda hoje como um dos mais relevantes na área. Esse período registra o aparecimento dos supervisores de controle da qualidade. São formulados conceitos relevantes que perduram até hoje como: "probabilidade de aceitação", "fração defeituosa tolerável" e " nível de qualidade aceitável". Surgem também os primeiros métodos de controle estatístico da qualidade ( A Western Eletric e a American Bell Telepohone Company). � A primeira avaliação da qualidade ocorre nos produtos e serviços, mas a avaliação afetiva se dá no nível do processo produtivo. � A produção e avaliação da qualidade são atividades técnicas. Quarto período: as décadas de 1930 e 1940 No início dos anos 1930, foram desenvolvidas, de forma consistente, as aplicações estatísticas nos processos produtivos com um princípio de popularização de conceitos baseado em aspectos como os gráficos de controle e a aceitação por amostragem. Na Inglaterra, são criados padrões para produtos e serviços e nos Estados Unidos diversos produtos são regulamentados, sobretudo em termos de higiene e segurança. Há a estruturação de planos de amostragem, a preocupação com os recursos humanos e a estruturação dos processos motivacionais. Durante a Segunda Guerra Mundial, acelerou-se o desenvolvimento de técnicas de inspeção e controle de qualidade, sobretudo em termos das relações com os fornecedores. A utilização de mão de obra pouco preparada e o incremento da produção foram aspectos que contribuíram para criação de procedimentos, grupos de pesquisa e programas formais de qualificação de pessoal. � A produção e a avaliação da qualidade não são atividades intuitivas, mas requerem consistentes sustentações técnicas. � O elemento humano, embora não seja único, é o fator fundamental para a produção da qualidade. � A qualidade é uma estratégia de alta estabilidade para se enfrentar situações de crise e elevada competitividade. � Seus benefícios permanecem mesmo quando o ambiente se altera. Quinto período: anos 1950 A década de 1950 pode ser caracterizada, na história da qualidade, como o período da solidificação e disseminação dos sistemas já existentes (ex.: planos de amostragem). Há o reconhecimento e a popularização dos métodos e da essência conceitual do controle da qualidade, descobertos e aplicados principalmente no Japão. Ganha credibilidade o trabalho de � A meta de todo esforço de e para a qualidade em processos produtivos é a qualidade de vida. � A qualidade é, antes de tudo, uma questão de cultura (qualidade = valor social). � A exigência da qualidade na ação produtiva decorre 17 Deming, Juran e Ishikawa, por introduzirem técnicas de controle de processo e conceitos revolucionários (1955). Década também marcada pela implantação e desenvolvimento de modelos de controle de qualidade em vários outros países, como, por exemplo, Inglaterra (1952). da exigência da qualidade na sociedade como um todo e não o contrário. � Até pela sua importância, a produção da qualidade não é intuitiva, mas requer conceitos consistentes e técnicas fundamentais. Sexto período: anos 1960, 1970 e 1980. Décadas que se caracterizam pela extensão do conceito básico da qualidade para novos horizontes, principalmente nos métodos e estratégias que focavam a viabilização da produção e qualidade em função dos processos de bens e serviços. A estruturação do Controle da Qualidade Total (TQC) por Armand Feigebaun, em 1963. Criação do modelo Americano de Defeito Zero. Década marcada ainda pela criação de veículos importantes da qualidade como a Revista Quality (1962), o Jornal of Quality Technology (1965), e a Revista Quality Progress (1967). Na dácada de 1970, a criação da abordagem Sistêmica, Controle da Qualidade Participativo e início de estudos sobre o Custo da Qualidade. Já na década de 80, o computador ampliou e facilitou o uso de técnicas estatísticas, o cliente passou a ganhar atenção especial e criação de leis de proteção ao consumidor. � A qualidade é tarefa e responsabilidade de todos. Ela depende de todos e todos dependem dela. � Produzir qualidade não é difícil, pois as ferramentas para tanto existem e estão disponíveis. A qualidade é fundamentada como uma questão dedecisão. � A estrutura mais adequada para a qualidade é o sistema. � Qualidade: atenção aos clientes. Desenvolvi mento recente e tendências futuras Esforço direcionado para alcançar maior garantia da qualidade desde o projeto do produto. Estruturação de auditorias técnicas, utilização de sistemas como o CAD e o CAM, que unificam a função de projeto e produção com o auxílio do computador. Fornecedores estreitam as relações e começam a ser tratados como parceiros. Aplicação de normas de avaliação do controle da qualidade de nível internacional (ISO900). Envolvimento de todas as pessoas. Dessa forma, o futuro da qualidade parece ser o de que, proximamente, desapareçam os setores específicos da qualidade, pois a empresa toda será um laboratório voltado para produzir com qualidade. � A qualidade é um processo evolutivo. � Toda crise contribui para o processo de evolução e mudanças no contexto da qualidade total. Fonte: Adaptado de Paladini, 1995, p. 32-40. 18 1.2 As eras da qualidade Existem várias classificações para os diversos períodos ou eras da qualidade. Garvinf foi quem desenvolveu uma estrutura para classifi- car as eras correspondentes à história e à evolução do pensamento da qualidade, na qual cada época apresentava uma peculiaridade e eram divididas da várias formas. Era da inspeção • Era do controle estatístico da qualidade. • Era da garantia da qualidade. • Era da qualidade total. Era da inspeção A inspeção foi implementada através de critérios e definições especifi- cadas pelo próprio artesão e sua equipe. A inspeção era considerada uma atividade corriqueira, dentro deste período, até que a evolução das atividades transformou-a rapidamente em um processo indepen- dente e associado ao controle da qualidade. Era do controle estatístico A qualidade passou a ganhar um espaço científico através da publica- ção de livros ao longo dos anos. Por meio dessa forma documentada, tornou-se mais fácil o entendimento e o cumprimento padronizado da aplicação dos critérios de qualidade, utilizando controle e amostragens durante o processo de produção. Segundo Marshall Junior et al.g, um marco dessa nova era foi a publi- cação, em 1931, da obra Economic control of quality of manufactured pro- duct, de Walter A. Shewhart, a qual esclarece a questão dos fundamen- tos, procedimentos e técnicas que transformaram efetivamente a qua- lidade mais presente no processo de produção em todos os estágios. Era da garantia da qualidade Conforme Marshall Junior et al.h, f Garvin, 1992, p. 6-16. g Marshall Junior et al., 2006, p. 22. h Marshall Junior et al., 2006, p.24-25. 19 por volta do final da II Guerra Mundial, a qualidade já conquistara seu lugar e passou a ser uma disciplina bem aceita no ambiente organizacional, com técnicas específicas e resultados efetivos, com profissionais especializados e bem caracterizados na especialidade, basicamente esta era consagrou-se por • abordar a qualidade desde a fase do projeto de desenvolvimento do produto, incluindo os aspectos funcionais e atributos de desempenho; • envolver todos os funcionários, de todos os níveis hierárquicos, assim como fornecedores e clientes, nos processos de melhoria da qualidade, objetivando o comprometimento e a confiança recíproca; • manter e aperfeiçoar as técnicas clássicas da qualidade. Ainda segundo esse autor, a garantia da qualidade foi um importante fator no processo de amadurecimento do conceito qualidade. Em síntese, a era da garantia da qualidade, segundo Camposi, foi mar- cada pela valorização do planejamento e coordenação dos processos, o estabelecimento de padrões e técnicas estatísticas em busca da quali- dade. Com a contribuição dos fundamentos de outros mestres da qua- lidade, como Feigenbaum e Juran, a função especialista da qualidade passou a ser mais do que ter conhecimento estatístico: surgiu então a definição do que chamamos de engenheiros da qualidade, aos quais atri- buía-se funções não só técnicas, mas também gerenciais. Era da qualidade total A era da qualidade total passa a acumular a preocupação com inspe- ção, controles estatísticos de processo e atendimento às necessidades do cliente, o qual passa a ser o papel principal dentro da razão de existência das organizações, de maneira que seus requisitos transfor- mam-se em regras e critérios dentro dos objetivos destas. Uma das características mais relevantes desta era é a de que a organização dire- ciona seus esforços para garantir a qualidade dos produtos, serviços, funcionários e processos de sua responsabilidade. Segundo Barçante11, após a era da garantia da qualidade, o conceito começa a ganhar uma nova forma, evoluindo em termos de estrutura e estratégias, cujos processos passam a ser geridos de forma sistêmica, de tal modo que os inter-relacionamentos e interdependências sejam considerados entre todos os níveis da empresa, recebendo a denomi- nação de era da qualidade total. i Campos, 1996. 20 Durante a evolução da qualidade, muitos programas foram desenvol- vidos e incorporados nos processos visando à busca incessante da melhoria contínua, como, por exemplo, o programa zero de defeito de Crosby. Ainda, segundo o mesmo autorj, para aperfeiçoar técnicas de confiabi- lidade, foi necessário aprofundar os estudos das teorias de probabili- dade e de estatística . Essas técnicas estudadas por ele têm por objetivo evitar que ocorram falhas do produto ao longo do seu ciclo de vida útil. As indústrias foram pioneiras nessa abordagem preventiva, de- senvolvendo técnicas baseadas na detecção de falhas e na análise do quanto essas falhas poderiam impactar no produto ou processo. Essa prévia ocorre por meio de uma ferramenta que foi denominada Análi- se de Efeito e Modo de Falha (FMEA), a qual avalia preventivamente todas as possibilidades de um componente de sistema vir a falhar durante o uso, através de procedimentos e técnicas que detectem o problema antes que ele ocorra e da elaboração de ações para eliminar as causas potenciais de falha, os quais buscam garantir efetivamente a sua qualidade de processamento e aplicação. A Figura 1 evidencia a evolução das quatro eras da qualidade. Figura 1 – Interação das eras da qualidade Fonte: Adaptado de Barçante, 1998. No Brasil, segundo Figueira e Ramalhok, os sistemas de garantia da qualidade começaram a ser implementados a partir das filiais das empresas multinacionais, como forma de unificação dos respectivos processos de gestão pela busca da competitividade. Duas medidas j Barçante, 1998. k Figueira; Ramalho, 2003. 21 governamentais estimularam o desenvolvimento dos programas de qualidade das empresas brasileiras: a sanção do código de defesa do consumidor, instrumentalizando e dando poder ao consumidor para exigir a garantia da qualidade dos produtos e serviços, e o lançamento do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP). Este capítulo visou oferecer ao leitor um melhor entendimento sobre a essência de história da qualidade e como esta evoluiu ao longo dos anos, referenciando alguns conceitos e pensamentos de autores que contribuíram com as primeiras técnicas e fundamentos que originaram a criação de algumas abordagens distintas, as quais estudaremos no próximo capítulo. Atividades 1) Como vem sendo explicada a evolução da história da qualidade ao longo dos anos? 2) Historicamente falando, em quais países a qualidade se difundiu rapidamente? 3) Fale resumidamente sobre como foi o processode evolução da qualidade em cada período. 4) Explique como foram caracterizadas a primeira e a segunda era da qualidade. 5) Explique como foram caracterizadas a terceira e a última era da qualidade. 2 CONCEITOS E ABORDAGENS DA QUALIDADE Marie Cristine Fortes Rocha A qualidade, basicamente, depende da percepção de cada indivíduo. O que tem qualidade para uns, pode não atender às necessidades de outros. Dessa forma, o primeiro conceito a ser entendido é o de que a noção de qualidade depende da visão e da necessidade de cada pessoa. Segundo Caravantesa, as definições da palavra qualidade incluem certas palavras-chave que requerem, elas próprias, definições. • Produto: é a saída de qualquer processo. Consiste, principalmente, em bens, software e serviços. Com relação às características de pro- duto, são consideradas prioridade, para que seja atendida a neces- sidade do cliente, atendendo a sua expectativa com relação ao que lhe foi fornecido. • Cliente: é qualquer um que recebe ou é afetado pelo produto. É propriedade do produto que visa atender a certas necessidades dos clientes e, dessa maneira, prover satisfação destes. • Satisfação com o produto e satisfação do cliente: atinge-se a satis- fação com o produto quando suas características correspondem às necessidades do cliente. • Deficiências: é a falta de um item ou aspecto que resulta na insa- tisfação com o produto. Segundo Bonatob, o conceito de qualidade é relativo, pois está centra- do na necessidade de quem avalia. O produto ou serviço passa a ser de qualidade se atender aquilo que se espera dele. Logo, qualidade é aquilo que o cliente diz que é qualidade. a Cavalcante, 2005. b Bonato, 2008. 23 O contexto qualidade depende do contexto que é aplicado, podendo se considerar diversas percepções em relação a ela, em face da subjetivi- dade e da complexidade. Segundo Almeida , qualidade é cumprir o especificado. Entende-se por especificação, aquilo que é o certo, o que o cliente espera. A qualidade é feita de itens como seriedade, perseverança, treinamento, participa- ção de todos e respeito. Qualidade não é, por exemplo, encantar o cliente com brindes para compensar erros; é fazer o certo já da primei- ra vez e sempre. Esse processo exige persistência, pois a busca da qua- lidade deve ser uma constante nas empresas. À medida que essa cultu- ra se solidifica, os resultados aparecem, o que motiva os funcionários a continuarem a busca pela melhoria contínua. Gilc conceitua qualidade com a seguinte frase: A qualidade nas organizações é interpretada como um fator necessário aos processos e resultados empresariais, os quais, para serem consubstanciados, necessitam da caracterização dos recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros vigentes ou existentes nos diversos ambientes da entidade. O conceito da qualidade total é uma generalização relevante do concei- to da qualidade, principalmente porque atuou em duas dimensões simultaneamente: a externa e a interna. Essa ampliação do conceito fica mais bem caracterizada com a noção de melhoria contínua, a qual dá ideia da componente evolutiva que identifica o esforço pela qualidade. Para Paladinid, as abordagens que geraram uma visão mais generalista da qualidade, enquanto “adequação ao uso”, guardam relação direta com a noção de multiplicidade, o que leva o consumidor a ter não apenas uma, mas várias razões para decidir adquirir um produto ou utilizar um serviço. As abordagens de Garvin reforçam a ideia de que o conceito da quali- dade é dinâmico, pois as razões que determinam a seleção de um pro- duto pelo consumidor alteram-se continuamente. Em sua pesquisa, esse autor fixou cinco abordagens básicas, as quais estão voltadas ao processo, ao produto, ao valor, à transcendência e ao usuário. O conceito qualidade vai mudando ao longo do tempo e, assim, a organização também vai criando novas diretrizes de operação. Dessa forma, as abordagens conceituais da qualidade passam a ser vistas c Gil, 1992, p. 21. d Paladini, 2008. 24 como etapas pelas quais a empresa passa no esforço de diferenciar-se, criando, para bens e serviços produzidos, consistência no mercado. 2.1 Dimensões da qualidade Segundo Bonatoe, para entregar ao nosso cliente o produto que ele deseja, é preciso controlar a sua qualidade. Esse controle se faz por meio de medidas. Nesse contexto, a pergunta a ser respondida é: o que se vai medir para controlar a qualidade do produto? A resposta a essa pergunta está no conceito de qualidade total, que estabelece cinco dimensões para qualidade. 1- Qualidade Intrínseca – Características específicas do produto, que definem a sua adequação à necessidade do cliente. 2- Custo – Refere-se ao custo operacional para produzir o produto. A dimensão econômica é fundamental para o cliente, que tem prioridades a considerar. O custo é componente gerencial de preço e, portanto, se torna uma dimensão significativa. 3- Entrega – Significa entregar ao cliente a quantidade certa, no local certo e na hora certa. O tempo é uma grande dimensão da qualidade. No entanto, caso de serviços prestados na empresa do cliente, esta dimensão engloba o tempo de espera na fila, o tempo de serviço propriamente dito, enfim, a qualidade do atendimento. 4- Segurança – O cliente e a equipe de trabalho devem se sentir seguros ao utilizar os produtos, ou seja, o produto não deve causar danos físicos ao usuário. O conceito moderno de segurança abrange, inclusive, o respeito à natureza, o combate a qualquer forma de depredação dos recursos naturais. Assim, o conceito segurança liga-se ao de confiança e exatidão. 5- Moral – O gerente sabe que o produto a ser entregue ao cliente é aquele produzido por sua equipe; portanto, se ele deseja um produto de qualidade, deverá promover um ambiente de qualidade, que é a única forma de assegurar a satisfação de todos os clientes. Todos os produtos têm essas dimensões, mas como qualidade é um conceito relativo, algumas delas terão maior relevância que outras, dependendo do processo e do cliente. Assim, o que vamos medir para controlar a qualidade do produto são as dimensões mais importantes sob a ótica do clientef. e Bonato, 2008. f Bonato, 2008, p. 10. 25 As dimensões da qualidade foram classificadas por meio de diferentes características, oferecendo uma visão ampla sobre as principais variá- veis que devem ser consideradas na medição da qualidade do produto fornecido. 2.2 Abordagens da qualidade Embora já tenhamos identificado as diferentes características das di- mensões da qualidade, é importante analisarmos os aspectos de quali- dade sob diversos pontos de vista. Por meio da definição dos tipos de abordagens, é possível identificar que fator pode estar interagindo com a qualidade do produto, processo ou serviço. 2.2.1 Abordagem centrada para o processo Segundo Paladinig, o que determina a aquisição de um produto é a confiança que o consumidor tem no processo produtivo que o gerou. O consumidor entende como o produto é feito, conhece o processo, sabe que ele é confiável e, por isso, resolve adquiri-lo. Essa abordagem prioriza o processo produtivo e os aspectos a ele relacionados, como atendimento a especificações básicas, normas operacionais, requisitos legais ou contratuais. O princípio que norteia essa abordagem é simples: “se o processo de produção não pode desenvolver um produto conforme suas especifi- cações, automaticamente a qualidade estará comprometida.”h 2.2.2 Abordagem centrada no produto Estaabordagem caracteriza o primeiro movimento do consumidor em direção à seleção do que vai adquirir, pois nesse momento ele se guia pelas características que vê no produto em si. Para Crosby, citado por Marshall et al., “qualidade quer dizer conformidade com as exi- gências”i e, ainda, é “o grau em que o produto específico está de acor- do com o projeto ou especificação”j. Para Paladinik, a abordagem centra-se na ideia segundo a qual, em um primeiro momento, o consumidor avalia o produto pelas característi- cas que ele apresenta. A seguir, começa a compará-lo com artigos simi- lares. Assim, em termos operacionais, a abordagem viabiliza-se pelo g Paladini, 2008. h Paladini, 2008, p. 36. i Marshall, 2006, p. 25. j Marshall et al., 2006. p, 34. k Paladini, 2008. 26 esforço das organizações em diferenciar seus produtos, criando carac- terísticas que os tornam “melhores” que os demais. Como melhor é um termo relativo, devemos defini-lo: um produto “melhor” tem caracte- rísticas que o consumidor acha mais relevantes, bonitas, úteis, práti- cas etc. que as do concorrente. 2.2.3 Abordagem centrada no valor De acordo com Paladinil, inicialmente essa abordagem considera o valor financeiro, mas, logo em seguida, começa a levar em conta valo- res dos mais diferentes tipos: culturais, éticos, morais, locais, sentimen- tais, determinados pela estima, pela consideração ou, ainda, decorren- tes da importância, do interesse, do mérito, da validade que o consu- midor confere ao produto. Dessa forma, a noção da qualidade “passa a ser associada a baixo pre- ço, visto como oportunidade de aquisição, ou a preço elevado, visto como status.”m Pode também envolver, valores afetivos ou sentimen- tais ou, ainda, valores morais como, por exemplo, um consumidor que se nega a adquirir um quadro que mostra uma pessoa fumando, o que, segundo ele, pode motivar hábitos inadequados. Ainda segundo o mesmo autor, dentro desta abordagem, existe um comportamento do consumidor em que é evidente que o preço deter- mina a escolha do produto. De fato, é comum o consumidor investir em produtos cujo preço ele chama de razoável: não tão barato que pare- ça falsificação, nem tão caro que pareça muito sofisticado para o uso esperado. Atuar nessas faixas intermediárias é uma estratégia de lojas de departamento. Marshall Junior et al.n salientam que a qualidade é baseada no “grau de excelência, levando em consideração o preço adequado e o controle da variabilidade a um custo aceitável”. Qualidade quer dizer o melhor para certas condições do cliente. Essas condições são: a) o verdadeiro uso; b) o preço de venda do produtoo. l Paladini, 2008. m Paladini, 2008, p. 39. n Marshall Junior et al., 2006. o Marshall Junior et al., 2006. 27 2.2.4 Abordagem transcendental Essa abordagem esclarece claramente que a qualidade vai muito além da fabricação do produto ou fornecimento do serviço. Para Paladinip, a relação do consumidor com o bem ou o serviço está centrada em elementos que não estão presentes no produto, nem na forma como foi produzido. O consumidor adquire um produto porque tem identificação com a marca. De forma mais ampla, esta abordagem consolida as marcas que são de tal modo conhecidas, que o nome do produto confunde-se com a própria marca, determinando ações que, embora pareçam especificamente dirigidas a certo produto, são gerais. Exemplo: Tomar uma Brahma, tirar um xérox, fazer a barba com “gillete”. Estas marcas, assim, surgem como referencial para todos os produtos similares. E fixam-se, na mente do consumidor, como as mais representativas entre os produtos similares. A abordagem transcendental “é uma condição de excelência que im- plica ótima qualidade distinta de má qualidade. Qualidade é atingir ou buscar o padrão mais alto em vez de se contentar com o malfeito ou fraudulento.”q Assim, “Qualidade não é uma ideia ou uma coisa concreta, mas uma terceira entidade independente das duas [...] embora não se possa definir qualidade, sabe-se o que ela é”r. 2.2.5 Abordagem centrada no usuário Conforme Paladinis, essa abordagem estabelece uma hierarquia nas ações do consumidor, embora todas tenham uma mesma raiz. A pri- meira razão que determina a aquisição de um produto é o atendimen- to a uma necessidade. A seguir, vêm outras razões, associadas às questões de prioridades, oportunidades, conveniências, utilidade, seleção entre algumas opções para o momento ou para o futuro, maior proveito, preferências, vantagens, benefícios imediatos (ou não), gos- tos, desejos etc. Movida por estes ou quaisquer outros motivos, a com- pra é realizada. Ainda segundo o autor, surgem, então, três novas situações. p Paladini, 2008, p. 41. q Marshall Junior et al., 2006, p. 33. r Marshall Junior et al., 2006, p. 33. s Paladini, 2008. 28 1. O consumidor fica insatisfeito com o produto e deixa de comprá- lo no futuro. 2. O consumidor fica satisfeito com o produto, e pode ser que volte a comprar outro da mesma marca (ou não). 3. O produto supera as expectativas do consumidor e, por isso, ele voltará a comprar outros da mesma marca. Paladinit considera que somente essa terceira opção pode determinar a fidelidade do consumidor e, por essa razão, as empresas que investem nessa direção são as únicas que se posicionam estrategicamente, com ações que apontam para a sobrevivência da organização. Para Edwars, citado por Marshall Junior et al.u, “Qualidade consiste na capacidade de satisfazer desejos”. Assim, “Na análise final de mercado, a qualidade de um produto de- pende de até que ponto ele se ajusta aos padrões das preferências do consumidor.”v. Reforçando essa linha de raciocínio: “Qualidade é a adequação ao uso”w. Segundo Garvin, citado por Marshall Junior et al.x, O conceito qualidade pode ser desdobrado em elementos básicos, como os elencados a seguir: � desempenho – refere-se às características operacionais básicas do produto; � características – são as funções secundárias do produto, que suplementam seu funcionamento básico; � confiabilidade – reflete a probabilidade de mau funcionamento de um produto; � conformidade – refere-se ao grau em que o projeto e as características operacionais de um produto estão de acordo com padrões preestabelecidos; � durabilidade – refere-se à vida útil de um produto, considerando suas dimensões econômicas e técnicas; t Paladini, 2008. u Marshall Junior et al., 2006, p. 34. v Marshall Junior et al., 2006, p. 34. w Marshall Junior et al., 2006, p. 34. x Marshall Junior et al., 2006, p. 34-35. 29 � atendimento – refere-se à rapidez, cortesia, facilidade de reparo ou substituição; � estética – refere-se ao julgamento pessoal e ao reflexo das preferências individuais; � qualidade Percebida – refere-se à opinião subjetiva do usuário acerca do produto. Dessa forma, podemos perceber que o conceito e as abordagens da qualidade servem como direcionadores para que as organizações possam definir os métodos e as técnicas (fundamentadas e desenvolvi- das pelos grandes mestres ou gurus da qualidade) mais adequadas para os seus respectivos processos. Atividades 1) Segundo Caravantes (2005), quais são as palavras-chave que melhor caracterizam a qualidade e suas respectivas definições? 2) Quais foram as cinco abordagens da qualidade definidas para Garvin (2006)? 3) Cite e explique as cinco dimensões da qualidade, segundo Bonato (2008). 4) Expliquea abordagem centrada no processo e no produto. 5) Explique a abordagem centrada no usuário. 3 OS MESTRES (GURUS) DA QUALIDADE Marie Cristine Fortes Rocha As contribuições de Juran, Deming, Crosby, Feigenbaum e Ishikawa (entre outros mestres da qualidade que revolucionaram o mundo dos negócios, contribuindo com técnicas e metodologias de qualidade para organizações), integram um seleto grupo de especialistas da área de gerenciamento, considerados os maiores gurus ou mestres da quali- dade em nível mundial. Segundo Marshall Junior et al.a,“Juran e Deming foram os dois princi- pais responsáveis pelo movimento da qualidade no Japão. Os Japone- ses os consideram os inspiradores do milagre industrial de seu país, iniciado na década de 1950. Os norte-americanos só lhes deram o de- vido valor nos anos 1980.” A melhoria da qualidade nos processos produtivos desencadeia a diminuição de custos envolvidos com a produção de bens e serviços. Essas melhorias foram possíveis através das técnicas, desenvolvidas e utilizadas na indústria japonesa e americana, que foram evoluindo ao longo do tempo em busca do controle de qualidade. Para aplicação das teorias e práticas de qualidade, foi preciso que o Japão e a América do Norte adaptassem as suas respectivas culturas a esse novo padrão de conduta, o qual exigia uma postura mais técnica e o desenvolvimento de ferramentas, estatísticas e controles de processo em prol da quali- dade dos produtos e serviços Segundo Marshall Junior et alb, do lado norte-americano, Philip Crosby contribuiu com sua teoria do zero defeito e Armand Feigenbaum foi o grande impulsionador do conceito de controle da qualidade total. Do lado Japonês, Kaoru Ishikawa e Genichi Taguchi são dois nomes importantes. Ishikawa foi o responsável pela adaptação da cultura japonesa a Marshall Junior et al., 2006, p. 35. b Marshall Junior et al, 2006, p. 35-36. 31 aos ensinamentos de Deming e Juran, também criando as sete ferramentas do controle estatístico da qualidade. Foi ainda o grande inspirador dos círculos de controle da qualidade (CCQ). Taguchi deu forte impulso à produção do design industrial, que marcou a segunda onda do movimento da qualidade no Japão após a primeira fase, assentada no controle estatístico. Os grandes mestres da qualidade definem o conceito de qualidade dentro de seus respectivos princípios, conforme Quadro 2. Quadro 2 – Os grandes mestres e seus respectivos conceitos sobre a qualidade. Mestres O conceito na visão de cada mestre Garvin Qualidade existe há muito tempo, mas recentemente emergiu como forma de gestão. Essa nova abordagem é resultante de um processo evolutivo e vem passando novamente por uma evolução considerável nas organizações do primeiro mundo. Juran Qualidade é fitness for use (adequação ao uso), ou seja, o usuário de um produto ou serviço pode contar com ele para desempenhar o que lhe foi determinado. Essa definição aponta para duas direções: atendimento às características do produto e ausência de deficiência nos processos. Moller Concebe a qualidade como integrada por dois fatores: a qualidade técnica e a qualidade humana. A qualidade técnica: visa satisfazer às exigências e às expectativas concretas, como, por exemplo, tempo, qualidade, finanças, taxa de defeitos, função, durabilidade, segurança, garantia. A qualidade humana, por sua vez, visa satisfazer às expectativas e desejos emocionais, como lealdade, comprometimento, consistência, comportamento, credibilidade, atitudes, atenção. É importante ressaltar que os conceitos de "qualidade técnica" e de "qualidade humana" são complementares. Teboul A qualidade é, antes de mais nada, a conformidade às especificações. É, ainda, a resposta ajustada à utilização que se tem em mente, na hora da compra e também a longo prazo. Mas é também aquele algo mais de sedução e de excelência, mais próximo do desejo que da qualidade. A qualidade é a capacidade de satisfazer as necessidades tanto na hora da compra, quanto durante a utilização, ao menor) custo possível, mini- mizando perdas e fazendo melhor do que os concorrentes. Ishikawa A gestão da qualidade consiste em desenvolver, criar e fabricar mercadorias mais econômicas, úteis e satisfatórias para o comprador. Administrar a qualidade é também administrar preço, custo, preço venda e lucro. Taguchi A qualidade consiste em minimizar as perdas causadas pelo produto não apenas ao cliente, mas à sociedade a longo prazo. Crosby Qualidade quer dizer conformidade com as exigências. Feigenbau m Julga que a qualidade quer dizer o melhor para certas condições do cliente. Essas condições são: a) o verdadeiro uso; b) o preço de venda do produto e c) a satisfação completa do cliente. Lee Qualidade é mais do que um modelo de gestão, é uma filosofia e terá um impacto maior que qualquer outro movimento na economia global do século XXI. 32 Baker Afirma que o paradigma da qualidade é essencial à excelência e que, na virada para o século XXI, já era necessária até para se manter no mercado. Fonte: Adaptado de Caravantes et al., 2007, p. 239. 3.1 Alguns mestres e suas respectivas contribuições para qualidade As principais linhas de pensamento da qualidade foram elaboradas pelos grandes mestres já mencionados: Deming, Juran., Crosby, Fei- genbaum, Taguchi e Ishikawa. Algumas considerações sobre esses principais estudiosos do conceito qualidade serão vistas a seguir. W. Edwards Deming Segundo Brocka e Brockac, W. Edwards Deming nasceu em 14 de outubro de 1900 na cidade de Sioux, Iowa. Logo após, sua família se mudou para Powell, Wyoming. Deming graduou-se com o bacharelado em Física, pela Universidade de Wyoming, em 1921, e com o título de doutor em Física Matemática por Yale em 1928. Trabalhou para o bureau do censo americano duran- te e após a 2ª Guerra Mundial. Em 1950, Deming foi ao Japão ajudar no censo japonês e fez conferências aos líderes empresarias sobre Controle Estatístico da Qualidade. O executivo deve compreender, através dos fundamentos de Deming, que o mais importante na gestão da qualidade é fazer com que os cola- boradores trabalhem melhor, e não mais. Com isso a qualidade do processo que determina o produto passa a ser mais importante do que a quantidade de volumes produzidos. Segundo Bonatod, o sistema empresarial norte-americano foi criticado por Deming por não apostar na participação dos trabalhadores no processo de decisão. Ele argumenta que os gestores são responsáveis por 94% dos problemas de qualidade. O seu principal papel é remover as barreiras na empresa que impedem a realização de um bom trabalho. “Os executivos devem fazer os outros trabalharem melhor, e não apenas mais” é uma de suas frases famosas. Para Marshall Junior et al.e, os 14 pontos de Deming para a melhoria da qualidade tornaram-se uma referência universal no ensino e na prática da qualidade. Os mesmos são apresentados abaixo. c Brocka; Brocka, 1994, p. 76. d Bonato, 2008, p.13. 33 1. Criar uma constância de propósitos para a melhoria dos produtos e serviços. Uma visão organizacional deve guiar a cultura corporativa e fornecer uma meta para a organização. Tal visão equipa a organização com uma perspectiva de longo prazo. Meça o compromisso do gerenciamento e os marcos de excelência da situação da organização em relação às outras. 2. Adotar uma nova filosofia. O gerenciamento do ocidente deve despertar para o desafio e assumir um novo papel de liderança. A Revolução na Qualidade é a mesma na economia de importação como na Revolução Industrial. Ela é concomitante com a globalização da economia.3. Acabar com a dependência da inspeção para alcançar a qualidade. Introduza modernas ferramentas de qualidade, como controle estatístico de processo, operações revolucionárias, projetos de experimentos e o desdobramento da função qualidade. A inspeção somente mede um problema, e não permite qualquer correção dele. Frequentemente se diz que ninguém pode inspecionar em qualidade. 4. Acabar com a prática de negócio compensador baseado apenas no preço. Em vez disso, minimizar o custo total. Insistir na ideia de um único fornecedor para cada item, desenvolvendo relacionamentos duradouros, calcados na qualidade e na confiança. 5. Aperfeiçoar constantemente e continuamente todo o processo de planejamento, produção e serviço, com o objetivo de aumentar a qualidade e a produtividade e, consequentemente, reduzir os custos. 6. Fornecer treinamento no local de trabalho. 7. Adotar e estabelecer liderança. O objetivo da liderança é ajudar as pessoas a realizar um trabalho melhor. Assim como a liderança dos trabalhadores, a liderança empresarial necessita de uma completa reformulação. 8. Eliminar o medo. 9. Quebrar barreiras entre departamentos. Os colaboradores dos setores de pesquisa, projetos, vendas, compras ou produção devem trabalhar em equipe, tornando-se capazes de antecipar problemas que possam surgir durante a produção ou durante a utilização dos produtos ou serviços. 10. Eliminar slogans, exortações e metas dirigidas aos empregados. e Marshall Junior et al., 2006, p. 36-37. 34 11. Eliminar padrões artificiais (cotas numéricas) para o chão de fábrica, a administração por objetivos (APO) e a administração através de números e metas numéricas. 12. Remover barreiras que despojem as pessoas de orgulho no trabalho. A atenção dos supervisores deve voltar-se para a qualidade e não para números. Remover as barreiras que usurpam dos colaboradores das áreas administrativas e de planejamento/engenharia o justo direito de orgulhar-se do produto de seu trabalho. Isso significa a abolição das avaliações de desempenho ou de méritos e da administração por objetivos ou por números. 13. Estabelecer um programa rigoroso de educação e autoaperfeiçoamento para todo o pessoal. 14. Colocar todos da empresas para trabalhar de modo a realizar a transformação. A transformação é tarefa de todos. Philip B. Crosby Philip B. Crosby nasceu em 1926 em Wheeling, Oeste da Virgínia. Crosby graduou-se em ortopedia (profissão de seu pai), mas decidiu não seguir carreira nessa área. Em 1952, tornou-se engenheiro na área de confiabilidade na Crosley Corporation, em Richmond, Indiana. Posteriormente, de 1957 a 1965, trabalhou na Martin Corporation. Foi encarregado da qualidade no projeto do míssil Pershing e, de 1965 a 1979, foi diretor (status de vice-presidente) da Qualidade na ITT. Em 1979, fundou a Philip Crosby Associates (PCA) em Winter Park, Flóri- da. Em 1991, retirou-se da PCA e foi para a Career IV e , Inc. auxiliou na formação de executivos. Segundo Brocka e Brocka , Crosby contri- bui com a melhoria da qualidade através da definição dos seus 14 passos, que seguem abaixo. 1. Esteja certo de que o gerenciamento está comprometido com a qualida- de. 2. Forme equipes de melhorias da qualidade com representantes de cada departamento. 3. Determine como medir onde os problemas correntes e potenciais com a qualidade se assentam. 4. Avalie o custo da qualidade e explane a sua utilização como uma ferramenta de gerenciamento. 5. Faça seguir as advertências a respeito da qualidade e o interesse pessoal de todos os empregados. 35 6. Efetive ações formais para corrigir problemas identificados por meios dos passos anteriores. 7. Estabeleça um comitê para o programa de zero defeito. 8. Treine todos os empregados para carregarem ativamente as suas partes no programa de qualidade. 9. Estabeleça um dia do zero defeito para permitir que todos os empregados participem e contribuam com as mudanças. 10. Encoraje as pessoas a estabelecerem metas de melhorias para si mesmas e para seus grupos. 11. Encoraje os empregados a comunicar à gerência os obstáculos encontrados em face dos objetos de melhoria. 12. Reconheça e dê apreço a quem participa. 13. Estabeleça um conselho de qualidade para comunicação sobre uma base regular. 14. Faça tudo normalmente para enfatizar que o programa de melhoria de qualidade nunca termine. Segundo Marshall Juniot et al.f, Crosby considera as técnicas não pre- ventivas, como inspeção, teste e controle da qualidade, pouco efica- zes.Tal como Deming, ele também definiu os 14 passos citados para a melhoria da qualidade, os quais são encarados como um processo e não como um programa, e devem ser perseguidos de modo permanen- te. Armand Vallin Feigenbaum Feigenbaum contribuiu de forma relevante para tornar os conceitos de qualidade em estratégias de negócio. Com sua visão apurada para a aplicabilidade das técnicas de qualidade, buscou lapidar as metodolo- gias e atitudes corporativas em busca da gestão e do comprometimen- to com a excelência dos processos, visando um melhor desempenho para a organização e a obtenção de um padrão que qualidade orienta- da ao cliente. Segundo Marshall Junior et al.g, f Marshall Junior et al., 2006. g Marshall Junior et al. 2006, p. 39. 36 Feigenbaum foi um dos formuladores do conceito de “controle da qualidade total” – TQC. De acordo com a sua abordagem, qualidade é um instrumento estratégico pelo qual todos os trabalhadores devem ser responsáveis. Mais do que uma técnica de eliminação de defeitos nas operações industriais, qualidade é uma filosofia de gestão e um compromisso com a excelência. Volta-se para fora da empresa e tem por base a orientação para o cliente. A premissa básica do TQC é que a qualidade está ligada a todas as funções e atividades da organização e não apenas à fabricação e à engenharia. Feigenbaum é reconhecido como pioneiro no estudo dos custos da qualidade. Ainda segundo autor, o comprometimento positivo com a qualidade é fundamental para os programas de TQC. As formas de desenvolver e de atingir esse comprometimento dependem da cultura, da história, da política, dos recursos e da personalidade da empresa. Mas é funda- mental que o comprometimento ocorra a partir da alta administração. Joseph M. Juran De acordo com Marshall Junior et al.h, Juran foi pioneiro na aplicação dos conceitos de qualidade nas estratégias de negócios da empresa, no lugar de meramente ficar associando-a somente aos controles e aos métodos da qualidade para os processos. A gestão da qualidade divide-se em três pontos fundamentais, deno- minados Trilogia Juran. São eles: • Planejamento; • Controle; • Melhoria. Para Juran, o processo de negócio é a maior e mais negligenciada oportunidade de melhoria. Uma parcela expressiva dos problemas de qualidade é causada por processos de gestão. Juran considera a melhoria da qualidade a principal prioridade do gestor, e o planejamento a segunda, esforço que deve contar com a participação das pessoas que irão implementá-lo. Na sua visão, separar planejamento e execução é uma noção obsoleta, que remonta aos tempos de Taylor. A terceira prioridade consiste em promover o controle da qualidade. Juran aconselha a sua delegação aos níveis operacionais da empresa. Devido à crescente qualificação dos trabalhadores ele acredita em equipes autogerenciadas.i h Marshall Junior et al. 2006. i Marshall Junior et al., 2006,p. 39. 37 Kaoru Ishikawa Conhecido como o pai do Controle Total da Qualidade (TQC) japonês, Ishikawa enfatizou os aspectos humanos e a implementação dos Círcu- los de Controle da Qualidade (CCQ). De acordo com Marshall Junior et al.j, cada elemento da empresa tem que estudar, praticar e participar do controle da qualidade. O TQC enseja que, com a participação de todos os colaboradores, incluindo o presidente, qualquer empresa ofereça produtos (ou serviços) melhores a um custo mais baixo, aumente as vendas, melhore os lucros e se transforme em uma organização melhor. Genichi Taguchi O Mestre Taguchi desenvolveu bastante a questão da eliminação de desperdícios durante todo o processo de produção – desde o projeto até a destinação final. O planejamento de todo o desenvolvimento e aplicação do produto começa obedecer a padrões de qualidade que estabeleçam controles que possam ser monitorados durante o proces- so, para garantir a boa qualidade do produto ou o serviço final ofere- cido ao consumidor. Segundo Marshall Junior et al.k, a filosofia de Taguchi, por seu turno, abrange todo ciclo de produção, desde o design até a transformação em produto acabado. Ele define a qualidade em função das perdas geradas pelo produto para a sociedade. Essas perdas podem se estimadas em função do tempo, que compreende a fase de expedição de um produto até o final de sua vida útil. Para Taguchi, o segredo para que se consiga reduzir os desperdícios não está na conformidade com as especificações, mas na redução da variabilidade estatística em relação aos objetivos fixados. Desta forma o processo de design e fabricação são fatores fundamentais para garantir a qualidade e reduzir os custos relacionados a cada produto. Dessa forma, a qualidade passa a ser vista não mais como um produto ou atividade isolada, mas como um processo que apresenta elementos de entrada, transformação e saída, e que ainda pode ser monitorada, após a venda dos produtos, através das atividades de pós-vendas, como assistência técnica por exemplo. j Marshall Junior et al., 2006, p. 41. k Marshall Junior et al., 2006, p. 41-42. 38 Masaaki Imai Para Marshall Junior et al.l, o mestre Masaaki Imai definiu que o me- lhoramento contínuo depende de uma profunda transformação na mentalidade, na filosofia, nos métodos e nos objetivos das empresas, pois, para ele, o melhoramento contínuo é a chave do sucesso competi- tivo japonês. Os mestres da qualidade contribuíram com o processo da qualidade total, cada um trazendo a sua respectiva contribuição. Para melhor entendermos como foi a construção desse processo, segue o modelo representado na Figura 2, que demonstra todos os seus elementos. Figura 2 – Componentes da qualidade total Fonte: Campos, 2004. As dimensões da qualidade servem para ajudar no controle desta, por meio de medidas que podem ser facilmente identificadas e quantifica- das. Dessa forma, fica mais fácil satisfazer as necessidades dos clientes quando eles apontam as dimensões de maior relevância para o aten- dimento de suas expectativas. Atividades 1) Quais foram os principais mestres responsáveis pelo movimento da qualidade no Japão. l Marshall Junior et al., 2006. 39 2) Resuma, em tópicos, quais foram os 14 princípios da qualidade segundo Deming. 3) Quais foram os 14 pontos de Crosby, identificados para a melhoria da qualidade? 4) Quais são os três pontos fundamentais da Trilogia de Juran? 5) Qual a contribuição dos mestres para a história da evolução da qualidade? 4 FERRAMENTAS, METODOLOGIAS E PROGRAMAS DA QUALIDADE Marie Cristine Fortes Rocha Segundo Pimentela, a história da origem e evolução dos métodos e ferramentas da qualidade, os quais encontramos até hoje nas biblio- grafias da área administrativa/organizacional e descritos por Taylor, Fayol, Mayo, Maslow, McGregor, Herzberg, entre outros autores da época – verdadeiros missionários da qualidade – se propagam até os dias atuais, evidenciados pela prática da qualidade dentro das organi- zações. Muitas obras desses autores percorreram o mundo com a fina- lidade de nortear as organizações sobre quais seriam os melhores mé- todos de gestão da qualidade. Cabe-nos salientar que a inovação do processo de gestão da qualidade se deu devido à incansável crítica e às pesquisas realizadas por especialistas da área da qualidade e das di- versas Teorias Administrativas estudadas na ciência da Administração. Vejamos, a seguir, as ferramentas utilizadas nos processos de gestão da qualidade que foram se reestruturando, principalmente a partir de 1950, com base em conceitos e práticas desenvolvidos pelos grandes mestres no Japão e na América do Norte. 4.1 Brainstorming Ferramenta consiste em grupos formados entre cinco e doze pessoas, cujas ideias são lançadas por todos em uma atmosfera de descontração, porém com foco. Essa ferramenta auxilia na formação de equipes, incentiva a criatividade livre e coloca em evidência a questão de lidar com as diferenças entre colegas. Sua aplicação é resumida em três fases: apresentação clara do assunto, geração e registro das ideias e, por fim, a seleção destas. a Pimentel, 2005. 41 Segundo Brocka e Brockab, o Brainstorming existe desde 1928 e foi cria- do por Walt Disney, cuja técnica continuou sendo usada e auxiliou diretamente no planejamento do Walt Disney World. Essa é uma ferramenta de grupo na qual as ideias são geradas livre- mente e a criatividade não é impedida, por exemplo, pelo medo das críticas. As ideias são lançadas de forma livre, mas com o enfoque necessário. Um profissional qualificado com o conhecimento da ferra- menta e do comportamento humano deve participar, mas não influen- ciar nas ideias geradas; deverá apenas garantir a ausência das críticas e o clima de paz entre os participantes, não considerando nem mesmo as diferenças hierárquicas. O Brainstorming por si só não garante a solu- ção do problema apresentado, mas várias opções para esse objetivo. Deve-se usar outra ferramenta para determinar qual é a melhor opção. 4.2 Histograma A finalidade do histograma é mostrar e entender como um conjunto de dados se distribui, demonstrando a variabilidade de um processo. Para Marshall Junior et al.c, o histograma pode ser representado por um gráfico de barras que associa os valores de uma característica da qualidade, divididos em pequenos intervalos, com a frequência com que ocorreram na amostra. Este gráfico representa a distribuição de frequência dos dados. O objetivo é resumir um grande conjunto de dados, ressaltando suas características globais, tais como faixa de valores observados, dispersão ou forma de variação Podemos encontrar vários tipos de histograma, como os representado nos gráficos a seguir. b Brocka; Brocka, 1994. c Marshall et al., 2006, p. 106. 42 Gráfico 1– Tipo geral etc. (diagramador, por favor, verifique comigo ao diagramar estes gráficos, separar um por um... vai do nº1 ao nº6. Fonte: Marshall Junior et al., 2006. O histograma representa, também, a distribuição dos resultados cole- tados em uma amostra. A curva sobreposta sobre o histograma repre- senta a distribuição de todos os resultados do processo. Quando ela apresenta um formato de sino, é denominada de distribuição normal, também chamada de curva de Gauss, ilustrada no Gráfico 7: Gráfico 7 – Distribuição normal Fonte: Marshall Junior et al., 2006. 434.3 Folhas de verificação Conforme manual do Sebraed, as folhas de verificação são tabelas ou planilhas usadas para facilitar a coleta e análise de dados, cuja utilização economiza tempo, elimina o trabalho de se desenhar figuras ou escrever números repetitivos e evita o comprometimento da análise dos dados, (Tabela 1). É uma das sete ferramentas básicas da qualidade, representada por uma espécie de lista de itens pré- estabelecidos que serão marcados a partir do momento que forem realizados ou avaliados. Tabela 1 – Modelo de aplicação da folha de verificação Fonte: Marshall Junior et al., 2006. 4.4 Cartas de controle “É um tipo específico de gráfico de controle de dados ao longo do tempo, que serve para acompanhar a variabilidade de um processo, identificando as causas comuns e especiais”e. As causas comuns estão ligadas ao funcionamento da rotina do siste- ma de trabalho, enquanto as causas especiais estão relacionadas às falhas não previstas no processo (Gráfico 8). d Sebrae, 2009. e Marshall Junior et al., 2006. p. 99. 44 Gráfico 8 – Exemplo de uma carta de controle Fonte: Marshall Juniot et al., 2006. 4.5 5W2H O 5W2H ajuda a empresa a organizar suas ações e a definir os respectivos responsáveis e recursos que devem estar disponíveis para que ela consiga a efetiva conclusão de suas ações. O 5W2H, conforme exemplo do Quadro 3, representa as iniciais das seguintes palavras em inglês: why (por que), what (o quê), where (onde), when (quando), who (quem), how (como) e how much (quanto custa). Surgiu no mercado uma variação dessa ferramenta, que passou a se chamar 5W3H, correspondendo o terceiro H à how many (quantos).f f Marshall Junior et al., 2006. 45 Quadro 3 – Modelo de 5W2H Fonte: Marshall Junior et al., 2006. Nesse plano, todos os detalhes da estratégia são analisados para que os erros que normalmente são vistos durante a aplicação sejam evitados. Essa é uma das ferramentas mais utilizadas nas empresas que buscam uma certificação de qualidade, uma vez que é um plano de ação para resolver tanto os problemas existentes quanto para implantar as me- lhorias. Esse plano pode ser aplicado para estabelecer ações de não conformidades ou eliminação de falhas potenciais identificadas no processo, sistema ou produto desenvolvido na organização. Para me- lhorar a forma de controle, podem ser utilizados, como apoio, os servi- ços de tecnologia para gerenciamento de datas e geração e envio de relatórios de acompanhamento a todos os envolvidos. Caso contrário, esse monitoramento também poderá ser realizado manualmente, po- rém demandará um pouco mais de tempo para o alinhar e calcular todos os dados relevantes. 46 4.6 Diagrama de Pareto O Diagrama de Pareto, segundo Marshall Junior et al.g, é uma ferra- menta muito usada para organizar e utilizar os dados estatísticos da empresa. Através dela, podemos verificar onde focar as soluções de problemas, pois a imagem no gráfico deixa claro onde o problema é maior e onde ocorre poucas vezes, evitando, assim, o desperdício de tempo e energia em situações que não representam tanta gravidade para a empresa. Para a aplicação correta da ferramenta, faz-se necessá- rio atentarmos a alguns passos. 1º Definir quais problemas terão sua frequência analisada. 2º Deverá haver um padrão para essas análises. Assim, se o pri- meiro item foi considerado com base no custo atual, todos os outros deverão ser analisados da mesma forma. 3º Essas medições devem ser feitas com um padrão estabelecido de tempo e todos os problemas devem ser verificados com a mesma base, que pode ser, por exemplo, anual ou mensal. 4º Os dados coletados devem ser reunidos por categorias. 5º Cada categoria deverá ter seus dados comparados com as ou- tras, formando, assim, uma lista de ordem crescente. 6º As categorias devem ser listadas em ordem decrescente no gráfico, da esquerda para a direita. 7º No gráfico, faz-se uma barra para cada categoria, represen- tando proporcionalmente sua quantidade. Dessa forma, estará pronta a visualização, como podemos verificar no gráfico a seguir. g Marshall Junior et al., 2006. 47 Gráfico 9 – Modelo de implementação do Gráfico de Pareto Fonte: Campos, 2004. No exemplo mostrado, foi adicionada uma linha de frequência acumu- lada, a qual mostra o crescimento de ocorrências que serão soluciona- das em cada caso. 4.7 Diagrama Espinha de Peixe ou Diagrama de Causa e Efeito Segundo Brocka e Brockah, o Diagrama de Causa e Efeito ou Diagrama Espinha de Peixe, é uma representação em desenho das causas que podem ter levado ao problema estudado. A aplicação dessa ferramenta inicia-se com uma análise em grupo do problema que, uma vez discu- tido, é registrado no lado direito, na ponta, do diagrama. A seguir, completa-se com suas causas divididas em categorias. Existem várias causas para cada problema ou efeito ocorrido em uma organização, as quais deverão ser agrupadas. As principais caracterís- h Brocka; Brocka, 1994. 48 ticas levantadas pelos autores, podem ser analisadas através da defini- ção do 6M: Métodos, Mão-de-obra, Material, Máquinas, Meio e Medi- das. O diagrama pode ser elaborado individualmente ou em grupo. A par- tir da montagem dessa ferramenta, as causas mais prováveis devem ser separadas e analisadas mais detalhadamente. Assim, é resolvida a questão principal, que é a detecção da causa raiz do problema, a fim de que ele seja efetivamente eliminado (Figura 3). Figura 3 – Modelo de utilização da ferramenta Diagrama de Causa e Efeito Fonte: Campos, 2004. 4.8 Metodologias para melhoria do desempenho da qualidade No Brasil, a maioria das organizações, ao decidirem pela implantação de um programa de qualidade total, normalmente buscam a assessoria de consultorias especializadas para melhor esclarecer o conceito e aplicabilidade de cada ferramenta ou metodologia, a fim de verificar qual a melhor maneira de incorporá-las aos seus respectivos processos. Segundo Bonatoi, é fundamental ressaltar a diferença entre método e ferramenta. “O método é sequência lógica para se atingir uma meta desejada e as ferramentas são os recursos a serem utilizados no méto- i Bonato, 2008, p. 29. 49 do.” De nada adianta conhecer várias ferramentas se o método não é dominado. É muito comum dar-se mais importância às ferramentas que ao método. Como consequência, as pessoas ficam exímias conhe- cedoras de ferramentas, mas não sabem o que fazer com elas. As metodologias para melhoria do desempenho da qualidade vêm, então, fortalecer as práticas já desenvolvidas pelas ferramentas da qualidade, porém com técnicas um pouco mais complexas, uma vez que tem como objetivo a manutenção e a melhoria contínua dos pro- cessos. 4.8.1 Ciclo do PDCA O Ciclo do PDCA foi inicialmente desenvolvido por Walter Shewhart, em 1920, e, posteriormente, popularizado por Edward Deming. Essa metodologia contribuiu com a manutenção do controle dos processos. “O ciclo do PDCA é composto das quatro fases básicas do controle: planejar, executar, verificar e atuar corretivamente.”j O PDCA representa um ciclo dinâmico que pode ser desdobrado em cada etapa do processo de uma organização. É uma metodologia que está associada ao planejamento, à implementação, ao controle e à me- lhoria contínua da realização de produto ou serviços resultantes de um
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