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1 Educação corporativa A ideia de modelos educativos oferecidos por empresas a seus funcionários surge nos Estados Unidos por volta da década de 1950, quando o tradicional modelo de treinamento e desenvolvimento começa a ser visto como incapaz de assimilar os novos padrões do modelo produtivo do pós-guerra e as mudanças no mercado de consumo e suas consequências nas empresas. Segundo Quartiero & Cerny, “(...) as características de um setor de treinamento e desenvolvimento padrão se tornaram tão desgastadas que melhorias ou mesmo uma reengenharia mais forte não seriam suficientes para adequá-lo às novas necessidades de educação no espaço das organizações” (QUARTIERO & CERNY, 2005). Desse modo, gradativamente as empresas foram se afastando da premissa inicial em que reinava a ideia de desenvolvimento de qualificações isoladas e o “como fazer”, passando a adotar programas que ambicionavam capacitar o funcionário além de sua função final, mas incorporando valores comuns e transversais a diversos setores da empresa. Mas é nas décadas de 1980 e 1990 que os modelos educacionais dentro das organizações ganham uma estrutura mais próxima ao que temos hoje. A razão disto? Bom, em termos gerais podemos dizer que as mudanças dentro das organizações foram resultado das mudanças ocorridas fora delas, principalmente nos padrões de consumo e na nova adequação – ou necessidade de adequar-se mais rapidamente – das relações entre empresas e clientes, concebendo então seus funcionários como estratégicos para o sucesso da organização. Eis, então, a ideia de estratégia. No “alvorecer” do séc. XXI, a compreensão de estratégia ganha ainda mais espaço no que tange à relação entre os objetivos da organização, a educação corporativa e 2 a função de seus colaboradores. Para as empresas, não basta mais adotar modelos educacionais voltados para o treinamento ou qualificação, mas desenvolver condições autônomas de atuação profissional para pensar e agir em velocidade compatível com a dinâmica do mundo dos negócios e as variáveis do mercado consumidor. No âmbito do mercado de trabalho, essa mudança de paradigma é ainda mais forte, pois mostra que as empresas preocupadas em oferecer condições para aprendizagem e crescimento profissional – também em termos acadêmicos – se tornam muito mais atrativas, em detrimento das organizações onde a função, mesmo sendo estável e segura, não oferece perspectivas de aprendizagem e crescimento como profissional. A este ponto da aula certamente podemos fazer um rápido exercício reflexivo associando todo o conteúdo já estudado, afinal vimos que tanto a educação no século XXI como a perspectiva de educação para adultos – a andragogia – estão pautadas no conhecimento voltado para a prática e amparadas pela consciência do papel do homem em seu contexto social e o conhecimento relevante para a atuação do homem em seu espaço. Assim, a educação corporativa se encaixa harmoniosamente naquilo que compreendemos como a aprendizagem voltada para o profissional atuante na organização e através da qual o homem terá condições de atuar melhor e acumular conhecimentos vitais para seu crescimento no mercado de trabalho. Ao fomentar a aprendizagem através de programas de educação corporativa, a organização estará desenvolvendo e educando colaboradores, clientes e fornecedores de acordo com seus objetivos estratégicos, aperfeiçoando e atualizando para a melhor capacitação técnica e cultural do profissional (MUNDIM, 2002). Embora cada organização implemente seus modelos de aprendizagem de acordo com suas necessidades e condições operacionais, os modelos compreendidos como “universidades corporativas” são cada vez mais comuns, pois além de estruturarem sob um mesmo “guarda-chuva” todas as ações planejadas e aplicadas no âmbito da 3 educação corporativa e a estratégia da empresa, também podem atuar para o público externo à medida que se tornam referência de capacitação na sua área de atuação. Para Fleury e Oliveira, os pressupostos de uma universidade corporativa são os seguintes: As universidades corporativas mais conhecidas no Brasil são justamente as criadas dentro das maiores empresas do país, tais como a Universidade Corporativa do Banco do Brasil, a Universidade Petrobras, as áreas de educação corporativa da Caixa Econômica Federal, da Datasul e do Serpro, entre outras. 1. Desenvolver competências críticas em vez de habilidades; 2. Privilegiar o aprendizado organizacional, fortalecendo a cultura corporativa, e não apenas o conhecimento individual; 3. Concentrar-se nas necessidades dos negócios, tornando o escopo estratégico, e não focado exclusivamente nas necessidades individuais; 4. Atuar para o público interno e externo, e não somente funcionários; 5. Migrar do modelo de “sala de aula” para múltiplas formas de aprendizagem; 6. Criar sistemas efetivos de avaliação dos investimentos e resultados obtidos. (FLEURY & OLIVEIRA, 2011) O que fica evidenciado na proposta dos autores supracitados é que a educação corporativa – neste caso exemplificada pelo funcionamento de uma universidade corporativa – mesmo com uma visão mais ampla ao simples treinamento de funcionários, não pode abdicar da premissa de estratégia da empresa, por isso deve estar voltada para o fortalecimento da cultura corporativa e para as necessidades definidas ou em consequência do negócio da organização. Desse modo, é preciso pensar o papel da educação corporativa dentro da chamada cultura organizacional.