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GESTÃO DE CONFLITOS CRÍTICOS AULA 01 EM: 04/05/2020 Entendendo o conflito A evolução social x os conflitos de interesses Desde o surgimento do homem, através da evolução histórica social, percebemos que ele necessitou se organizar em sociedade, das mais primitivas às atuais, para defender seus interesses. Em função da diversidade cultural das pessoas, os diferentes interesses surgidos, nas diversas localidades de nosso país, por vezes, fazem com que haja colisão entre eles, ou seja, o interesse de “A” choca-se com o interesse de “B”, gerando um impasse e surgindo assim o conflito. Imaginemos agora, o que iria ocorrer se a sociedade deixasse por conta de seus próprios cidadãos a regulagem de seus conflitos, que por sua conta e risco, iriam viabilizar a solução dos conflitos surgidos. Bem, como todos nós sabemos não foi isso que ocorreu, ou pelo menos nos dias atuais não ocorre mais. Pois, quando os interesses conflitantes surgem e geram uma crise, o Estado, em regra, procura através das normas editadas, gerenciar os códigos de convivência em sociedade, visando evitar que a solução desses conflitos fosse feita através da força, o que acabaria por gerar mais violência em torno deles, ou seja, mais problemas do que solução. A maior preocupação que o Estado deve ter é não deixar que a violência acabe sendo uma resposta ao conflito e, ao invés de solucioná-lo, gere outros momentos de crise. Pode-se dizer afinal, que da maneira que os interesses são diversos e distintos, o homem se viu na necessidade de disciplinar determinadas condutas em sociedade. Daí podemos dizer que ocorre uma das formas de Gestão dos Conflitos, notadamente, quando a solução vem de um órgão público, ou seja, de cima para baixo, de maneira vertical, como ocorre com atuação dos órgãos de Segurança Pública, na maioria dos casos, visando manter o equilíbrio social. Normalmente, tal ação acontece de forma imperativa, assinalando uma pronta e rápida resposta para o conflito surgido. Conflito e seu conceito Hoje já podemos entender a importância dos conflitos, sejam eles sociais, familiares ou de relacionamentos interpessoais, para a sociedade ou até mesmo, para um pequeno grupo, pois na medida em que são superados percebe-se claramente a evolução que os envolvidos podem alcançar. Agora sem mais aquela impressão inicial sobre a negatividade atrelada ao conceito de conflito, na verdade, o que irá determinar se ele será algo positivo ou negativo é a resposta a ser dada na sua gestão e consequente solução. o que é conflito? Vejamos o conceito segundo Dora Schnitman (1999, p. 170): [...] os conflitos são inerentes à vida humana, pois as pessoas são diferentes, possuem descrições pessoais e particulares de sua realidade e, pós-conseguinte, expõem pontos de vista distintos, muitas vezes colidentes. A forma de dispor tais conflitos mostra-se como questão fundamental quando se pensa em estabelecer harmonia nas relações cotidianas. Pode-se dizer que os conflitos ocorrem quando ao menos duas partes independentes percebem seus objetivos como incompatíveis; por conseguinte, descobrem a necessidade de interferência de outra parte para alcançar suas metas. Segundo a Wikipédia: O conflito surge quando há a necessidade de escolha entre situações que podem ser consideradas incompatíveis. Segundo o Novo Dicionário Aurélio, a definição de conflito é a seguinte: 1. Embate dos que lutam; 2. Discussão acompanhada de injúrias e ameaças; desavença; 3. Guerra; 4. Luta, combate; 5. Colisão, choque. Veja a definição de Sun Tzu (544-496 a.C): “O conflito é luz e sombra, perigo e oportunidade, estabilidade e mudança, fortaleza e debilidade. O impulso para avançar e o obstáculo que se opõe a todos os conflitos contêm a semente da criação e da desconstrução”. Agora sim, podemos finalmente conceituar conflito Podemos dizer que conflito é quando há um assunto de comum interesse entre duas ou mais pessoas, que venham a ter opiniões divergentes sobre esse tema e que não conseguem lidar com as diferentes opiniões apresentadas, vindo a gerar uma situação tal que poderá acarretar a necessária gestão do fato em litígio, pois a situação envolve expectativas, por vezes, valores e inspirações próprias. Formas de lidar com os conflitos No passar dos anos, através da evolução social, diversos foram os escritores e teóricos do assunto que propuseram diferentes modelos com estilos próprios para lidar com o conflito. antes Não há dúvidas de que uma das primeiras formas em que se pensou para gestão dos conflitos foi através da força, seja ela física ou bélica, daí o surgimento de diversas guerras e brigas sociais. Obviamente a solução pela força não representava a melhor a ser seguida, sendo assim passou-se a buscar a solução através do império da lei, ou seja, seguindo o princípio da legalidade. O que também nem sempre representa a melhor solução. atualmente Podemos citar, a solução através dos interesses identificados das pessoas evolvidas, assim como na análise da possibilidade em atendê-los. figura 1 Figura 1 Manejo de conflitos interpessoais Fonte: Adaptação de Kilmann, R e Thomas, 1975 "Interpersonal conflict- handling behavior as reflections of Jungian personality dimensions", Psychological Report 37, pág. 971-980 Competição: O indivíduo busca seus interesses à custa dos interesses de outras pessoas. Evitação: Representa a supressão ou a negação do conflito. Colaboração: O indivíduo se esforça para trabalhar com o outro na busca de uma solução que atenda, plenamente, o interesse de ambos. Concessão: As partes buscam o consenso ou uma solução mútua, que atenda parcialmente seus interesses. Estilos e formas de lidar com os conflitos dominador Uma pessoa ou grupo de pessoas, que se envolve em um conflito e possui um grau elevado de interesse, em si mesma, e pouca vontade de cooperação, poderá ser uma pessoa de estilo dominador. Para ela a solução do conflito será perder ou ganhar, onde naturalmente, haverá a imposição da vontade do vencedor ao vencido. Na verdade estaremos diante de uma competição, para ver quem é o mais forte para se sagrar vencedor. acomodação Em outro extremo, temos o caso daqueles que têm baixo ou quase nenhum interesse próprio e alta preocupação em colaborar. Normalmente, são pessoas que negligenciam seu próprio interesse em detrimento ou em favor da outra pessoa, ou seja, aceitam claramente a concessão em favor de terceiro, por vezes, por achar e entender que estão mesmo errados e que o mais importante no caso será a prevalência da correção de atitudes. Muitas delas abrem mão de seus interesses, por acreditar que, em um próximo evento, a recíproca será verdadeira. Estamos diante do estilo de acomodação. Ele cede em primeiro momento esperando um reconhecimento futuro. integração Temos também a ocorrência em que os participantes, embora tenham um grau elevado de interesse em si próprio, possuem muita vontade em cooperar. Percebemos que tal conduta envolve a possibilidade de dialogar, trocando informações, para chegar a uma solução aceitável para todos os envolvidos. Podemos denominar como o estilo de integração das partes, através da colaboração. evasão ou evitação No caso daqueles que possuem pouca ou quase nenhuma preocupação com interesses próprios e baixa vontade de cooperação, vemos claramente o caso das pessoas que fingem que nada está acontecendo, ou seja, se omitem e evitam se envolver no conflito. Seria o estilo de evasão ou evitação. negociador Por acreditar que os extremos não são os caminhos esperados para o melhor manejo dos conflitos, entendemos que deverá haver um meio termo, ou seja, as pessoas que possuem médio interesse próprio e média vontade de cooperação deveriam analisar os prós e os contras de suasopiniões, seria verdadeiramente o que chamamos do estilo negociador (conciliador). Todos visando chegar ao ponto de equilíbrio cedem parte de seu interesse em favor do outro, dando para poder receber. Negociação X Integração Não se confunde a negociação com o estilo de integração/colaboração, pois naquele, os ânimos podem facilmente se exaltar e, ao invés de uma solução pacífica, poderemos ter resultados inesperados, pois os interesses estão em graus elevadíssimos. E um debate um pouco mais acalorado pode ser o suficiente para acender o estopim e o resultado poderia ser danoso para os envolvidos e para os que dependeriam daquela gestão conflitante. Aspectos importantes sobre conflitos conflitos não são problemas Devemos, mais uma vez, ressaltar que os conflitos são normais e não há, na verdade, uma definição de positividade ou negatividade relacionada a eles, assim como ele será mau ou ruim. Não há também nenhuma correlação no binômio conflito e problema, o segundo sim, sempre que surge é negativo, apresenta-se como uma dificuldade. diferença entre briga e conflito Briga é uma resposta ao conflito e não o conflito propriamente dito. A forma como solucionar um conflito é que pode resultar em brigas crônicas e em uma escalada de violência, vide o que ocorre no histórico conflito entre palestinos e judeus. Por outro lado, o conflito pode ser terra fértil para cultivar e criar boas opções. frente ao conflito pode ser assumida 3 atitudes básica: Ignorar os conflitos da vida; Responder de forma violenta aos conflitos; Lidar com os conflitos de forma não violenta, por meio do diálogo. os benefícios do conflito Estimula o pensamento crítico e criativo; Melhora a capacidade de tomar decisões; Reforça a consciência da possibilidade de opção; Incentiva diferentes formas de encarar problemas e situações; Melhora relacionamentos e a apreciação das diferenças; Promove a autocompreensão Mahatma Gandhi – o defensor do Satyagraha “Olho por olho, e o mundo acabará cego.” Mahatma Gandhi foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha como um meio de revolução. O princípio do satyagraha, frequentemente traduzido como "o caminho da verdade" ou "a busca da verdade", também inspirou gerações de ativistas democráticos e anti-racismo, incluindo Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela. Freqüentemente Gandhi afirmava a simplicidade de seus valores, derivados da crença tradicional hindu: verdade e não-violência. A resolução não violenta de conflitos Nós sabemos, mesmo que empiricamente, que há diversas formas de solução de conflitos, sejam elas formais ou informais; violentas ou não violentas. Uma coisa é certa, não é papel exclusivo do Estado a gestão dos conflitos. Já verificamos, nesta aula, as possibilidades e os modos de como se dará a solução dos conflitos, vamos relembrar, de forma resumida: finalidade: A sua principal finalidade está relacionada ao fato de retirar das pessoas envolvidas nos conflitos, o papel numérico, transformando-as em seres efetivos e atuantes na solução dos conflitos que lhe afligem. dificuldades: Nossa sociedade prepara de maneira um tanto quanto errônea, o cidadão para quando crescer adotar uma postura de ser sempre vitorioso. O perdedor é ser de segunda classe. As crianças querem sempre ganhar nas brincadeiras e jogos infantis. características: Conforme declara Daniel Seidel (2007): Todo o processo de resolução não violenta de conflitos supõe, ao menos, os seguintes elementos: 1) a possibilidade de cada parte expor seus sentimentos através de frases como: - “Eu sinto isso”; 2) uma avaliação racional do processo através de frases tipo: - “Eu penso que isso é a melhor opção por causa daquilo”; ou – “Eu penso que isso não é melhor a melhor opção por causa daquilo”; 3) o empenho na busca de soluções para o conflito Resolução alternativa de disputa Dentre outros instrumentos de resolução pacífica de conflito, escolhemos estudar a resolução alternativa de disputa. Entender a diferença entre conciliação, arbitragem, mediação e negociação; e o sistema multiportas será nosso objetivo na aula 2. Estes instrumentos não vieram substituir os anteriores e ainda aplicados, na verdade você pode até pensar assim, mas esses são respostas às novas necessidades da sociedade e são utilizados como mais uma opção de resolução de conflito pacífico. Temos e sempre teremos a necessidade das resoluções informais e do Estado, o que se faz é adequar novas realidades de resolução, que buscam atender mais rápido e com mais eficácia a sociedade. AULA 02 EM: 06/05/2020 Meios de resolução de conflitos Resoluções alternativas de disputa x métodos tradicionais de resolução de disputa os métodos tradicionais de resolução de conflito são: o método pela força, pela lei, e pelos interesses identificados das pessoas evolvidas, assim como na análise da possibilidade em atendê-los. Temos que ter em mente que o profissional de Segurança Pública não será parte do conflito e sim o responsável por geri-lo. Há que se ressaltar a importância que tem que ser dada a resolução alternativa de disputa (RAD), que possui benefícios não só para a sociedade, como também, para o próprio agente de Segurança Pública onde haverá profunda transformação nas relações entre eles e a comunidade. A sociedade já percebeu que os métodos tradicionais atuavam sempre na função de haver um ganhador e um perdedor e por vezes, todos os envolvidos acabavam por saírem perdendo, pois o próprio sistema, já o torna cansativo e dificultoso o suficiente para que não haja um ganhador. Características históricas mundiais e a RAD há que ser dado um destaque importante às transformações históricas ocorridas após a Segunda Grande Guerra. Inicialmente com a queda do regime nazista, foi percebida a bipolaridade mundial, tudo girava em torno do capitalismo americano e do socialismo soviético, em suma, iniciava a “guerra fria”, que só veio a terminar com a queda do muro de Berlim e a consequente fragmentação da União Soviética, acarretando o surgimento do Estado em que vivemos hoje, denominado pelos escritores, como o Estado pós-social. Com isso, foram inúmeros os conflitos ocorridos neste período pós-guerra. Destaque-se ainda, os inúmeros movimentos sociais daquela época, tais como os protestos de jovens; grevistas; prós e contra socialistas; feministas; e pacifistas. Sem sombra de dúvida estes movimentos alteraram sobremaneira as formas das relações interpessoais, tais como o movimento hippie que se intensificou e influenciou muito os rumos sociais, já na segunda metade dos anos 1960. Aliado a todos esses fatores históricos, temos que trazer ao seu conhecimento que a Organização das Nações Unidas, através da resolução do Conselho Econômico e Social, estimulou bastante a criação de métodos alternativos de resolução de conflitos (ADR – Alternative Dispute Resolution). Estamos diante do que a doutrina passou a chamar de justiça restaurativa. Arbitragem A arbitragem envolve um meio não judicial, em regra, de solução de conflitos. No Brasil, esta modalidade de RDA é regulada pela Lei n.º 9.307/96. A arbitragem não é algo novo, em nossa sociedade, como podemos perceber pela leitura do Código de Direito Canônico de 1983. Na atualidade, pela simples leitura da lei que regula arbitragem, em nosso país, percebemos que ela poderá ser utilizada para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Já entendemos que a arbitragem se dá quando as partes, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, decidem pela escolha de um terceiro que será o juiz arbitral. Agora, podemos ainda dizer que há duas modalidades de arbitragem em nossa nação, por força do art. 3º. As partes interessadas podem submetera solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Cláusula Compromissória, O que vem a ser esta cláusula? “A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes, em um contrato, comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato” (art. 4º). Conforme se entende pela cláusula a estipulação é previa ao fato que gerou o conflito de interesse entre as partes. • Requisitos: os constantes no art. 4º, §1º. Compromisso Arbitral Encontramos, na legislação, a seguinte definição para o termo compromisso arbitral: “art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial”. • Requisitos obrigatórios (art. 10) • Requisitos facultativos (art. 11) Sentença arbitral e vantagens da arbitragem Conforme se verifica através do art. 31, a sentença arbitral produzirá os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo. Querendo dizer que a solução do conflito poderá ser cobrada junto ao poder judiciário através do processo de execução de título executivo extrajudicial. Podemos citar ainda, as seguintes vantagens, para se optar pela arbitragem, como forma de gestão e solução de um conflito: Rápida, Eficiente, Possui melhor custo benefício se comparada com um processo judicial ordinário, Definitiva e constitucional, Informalidade, Autonomia de vontade das partes, Especialidade Mediação A mediação é um processo de resolução alternativa de disputa, que utiliza da prática não violenta e não interventiva, tendo como maior premissa, a destinação de um terceiro para literalmente mediar a disputa em foco. Na mediação não há uma solução imposta pelo mediador, na verdade ela é produzida pelos próprios envolvidos. A mediação não visa única e exclusivamente um acordo, mas sim uma possibilidade de entendimentos entre os envolvidos, abrindo espaço para que as pessoas possam ter uma visão maior de respeito ao próximo, percebendo os limites dos seus direitos em detrimento dos direitos dos demais integrantes de sua sociedade. O conflito na mediação é protagonizado pelas partes, onde elas próprias poderão, após diversas conversas e trocas de informações, todas mediadas através de um terceiro, aqui denominado mediador, que terá a responsabilidade de conduzir o processo, de maneira que não haja a solução violenta de disputa e sim uma solução que tenha grandes possibilidades de se perpetuar. Nesta forma de solução, por ser oriunda das partes envolvidas, terá mais possibilidade de ser definitiva, pois como foi produzida por elas, terá mais chance de ser satisfatória para todos os envolvidos, evitando que o conflito ressurja e com maior força muitas vezes. Formas de mediação Vejamos a seguir as formas de mediação conhecidas e destacadas pelos doutrinadores: mediação técnica: Aquela em que ocorre normalmente a associação às empresas. Onde os mediadores são recrutados e treinados para tal função, muitos possuem inclusive vínculo empregatício. mediação comunitária: Como o próprio nome já nos faz concluir, este tipo de mediação ocorre na própria comunidade da qual seus mediadores, em regra, são oriundos. mediação forense: Está relacionada ao poder judiciário. mediação penal: Utilizada em alguns países, com objetivos de dar soluções aos problemas carcerários. mediação familiar: Por esta modalidade pretende-se oferecer as famílias que passam por crises, maneiras de solucioná-las através de apoio profissional, com o comprometimento mínimo da estrutura psicoafetiva dos envolvidos. Conciliação Cuidado, não se confunda, a mediação e a conciliação são processos de resolução alternativa de disputas diferentes. Na conciliação, as partes não atuam de forma própria para resolverem o conflito, na verdade é resolvido por meio ou intermédio de um terceiro, igual na mediação, mas aqui ele sugere as soluções; lá, as próprias partes é que sugeriram as propostas de soluções. Há uma transferência para esse terceiro, que agora passamos a denominá-lo conciliador, da responsabilidade pela solução do conflito. De forma resumida, o conciliador, serve como um facilitador e estimulador, para que as partes sejam aproximadas, e com isso ocorra a restauração do diálogo. O conciliador possui papel importante, no momento em que sugere soluções ao conflito, pois ele está apto a analisar todos os prós e os contras que o caso apresenta e possui assim competência para elaborar as propostas que acreditar serem as mais viáveis para a solução positiva do caso. Outro ponto a ser destacado é que a conciliação, hoje em dia, poderá ser realizada tanto no âmbito do poder judiciário (conciliação judicial), como também, por mecanismos fora do poder judiciário (extrajudiciais). A conciliação na Lei n.º 9.099/95 Percebe-se pela intelecção da lei, que seu maior objetivo é a conciliação ou a transação penal (Art. 2º) visando com isso, acelerar o processo de solução das demandas propostas com base neste diploma legal e, assim, garantir a efetividade da prestação jurisdicional às partes envolvidas. Na lei, verificamos que, antes do julgamento da lide pelo juiz, haverá uma tentativa de conciliação onde as partes poderão chegar a um acordo. Outra importante característica é o fato de haver previsão legal de remeter a disputa ao juízo arbitral caso as partes não cheguem a um acordo e decidam por tal medida (vide art. 24. - Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei). Nota-se que a conciliação judicial remete para outra forma de resolução alternativa de disputa (RAD) que é a arbitragem, já estudada por nós em nossa disciplina. Negociação Estamos diante do procedimento mais comum e mais utilizado na administração de conflitos, pois negociar faz parte da natureza humana. A negociação ocorre nos relacionamentos cotidianos. Existem diversos conceitos sobre a negociação, preferimos nos filiar ao seguinte: “Negociação é um processo de comunicação bilateral, com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta” Todos os cidadãos vivem negociando. Podemos dizer que ela é praticamente, sempre a primeira tentativa que as partes utilizam para tentar solucionar um conflito e para elas próprias chegarem a uma solução, ou melhor, um acordo. Na negociação, as partes buscam, por si só uma solução para o conflito que lhe afligem. Normalmente esta busca se dá através de uma boa conversa. A regra é que não há a intervenção de uma terceira pessoa, como na mediação, na arbitragem e na conciliação. Aqui conforme se pode notar, serão apenas as pessoas diretamente envolvidas no conflito. Não há mediador, conciliador ou mesmo árbitro. Sistema de multiportas No Brasil, não temos a cultura da participação popular nas decisões, sejam elas políticas ou não, temos o imaginário popular que uma situação conflitante terá que ser resolvida pela edição de uma simples lei ou que o problema será solucionado pelo governante. Aliado a todos esses fatores culturais, o povo procura entregar suas demandas nas mãos do poder judiciário, que através dos juízes irá proferir uma decisão. Percebendo que os meios tradicionais de resolução de conflitos pelo poder judiciário não estavam dando conta da demanda, o Conselho Nacional de Justiça editou a resolução n.º 125 de 29 de novembro de 2010, que foi inspirada no modelo americano denominado multi-door ou simplesmente multiportas. Previa a existência dentro de tribunais, de opções específicas para que cada caso fosse tratado com a sua peculiaridade específica, ou seja, o caso erapreviamente analisado e a pessoa interessada era encaminhada para a porta certa em que haveria a possibilidade de obter uma solução de seu conflito. Observa-se a preocupação em colocar a efetiva participação social na solução dos conflitos. Já que temos uma noção do que vem a ser o sistema de multiportas, podemos conceituá-lo como sendo: a possibilidade de oferta de métodos complementares de resolução pacíficas de conflitos, através da não violência, diferentes dos meios tradicionais e rotineiramente ofertados pelo poder judiciário. Aula 03 em: 06/05/2020 Convém iniciarmos com uma ressalva que, apesar de já sabermos o que é mediação de maneira conceitual, devemos lembrar que rotineiramente os profissionais de Segurança Pública, em suas ocorrências diárias, não estão realizando mediação. Basta pensarmos em uma ocorrência na qual o policial, ao chegar e se inteirar dos fatos, percebe tratar-se do que, na gíria policial, é chamado de “feijoada”, ou seja, ocorrências pequenas que geralmente são resolvidas no próprio local ou até mesmo aquelas mais assistenciais. Bem, nesse caso, não são raras as vezes em que o policial civil ou militar consegue, por meio do diálogo, mandar os envolvidos embora e não registra nenhuma ocorrência. Quando não há nenhuma hipótese de mediação, pelo fato de o policial não dar a devida atenção às denominadas “feijoadas”, muitas delas podem evoluir e até se transformar em crimes de maior potencial ofensivo, causando inclusive descrédito ao serviço do profissional de Segurança Pública. Outros tipos de conflito Além das denominadas “feijoadas”, os policiais e os guardas municipais são rotineiramente procurados para a solução de conflitos diversos que, a princípio, nada teriam a ver com sua função estatal. No entanto, como eles são a única manifestação da presença do Estado em determinadas comunidades, acabam tendo de lidar com algumas questões. Vejamos os problemas mais comuns: • infiltração na parede; • odor insuportável em virtude de animais, falta de higiene ou problemas com esgoto; • som muito alto; • estacionamento de veículo impedindo a saída e/ou entrada de seu veículo; • divergência entre familiares ou problemas na educação dos filhos/netos; • e diversos outros. A despeito de muitos casos serem considerados de menor importância, tachados como simples, insignificantes, recebendo do profissional de Segurança Pública, por vezes, a ironia ou o pouco caso, é importante lembrar as razões pelas quais essas pessoas chegaram a tal momento: • ausência de comunicação, • egoísmo, • inveja, • orgulho, • pequenos conflitos ignorados e/ou malconduzidos que acabaram por agravar a situação. Considerações Devemos ainda lembrar que a mediação deve ser utilizada para tratamento de conflitos interpessoais, e não para eventos de crise, atentando para as considerações a seguir: Princípio da Legalidade Convém ainda ressaltar que, como profissionais da Segurança Pública, estamos todos atrelados a esse princípio constitucional. Sendo assim, nada mais justo lembrarmos que até a presente data não há um lei que discipline o assunto em nosso país. Ocorre que, o projeto de lei n.º 4.827/98, Conceito e aplicação da mediação inserida no projeto de lei Inicialmente podemos extrair do art. 2º o conceito do que vem a ser mediação, ou seja, é: “a atividade técnica exercida por terceiro imparcial que, escolhido ou aceito pelas partes interessadas, as escuta, orienta e estimula, sem apresentar soluções, com o propósito de lhes permitir a prevenção ou a solução de conflitos de modo consensual.” Como se percebe, o legislador manteve a finalidade principal da mediação até aqui estudada, que é a prevenção ou a solução de conflitos de forma amigável e com atuação do mediador de maneira não intervencionista. Mediação x justiça penal Outro ponto de destaque se verifica na leitura do projeto de lei (PL), que somente haverá mediação de natureza civil (art. 1º), o que, sendo o PL aprovado na integra, não deixará de ser um grande retrocesso, pois é de conhecimento geral, o que já ocorre, nos diversos juizados especiais criminais e irá gerar grandes discussões doutrinárias a respeito. Mediação de todo ou parte do conflito A mediação poderá atuar sobre todo ou parte do conflito, tal fato se prende há existirem conflitos complexos, que deverão ter sua abordagem fragmentada. Sigilo da mediação Fato já visto por nós é o caráter sigiloso que a mediação possui e foi materializada no art. 6º do PL. Acordo resultante da mediação Não obstante já ser na arbitragem, aqui neste PL, o acordo resultante da mediação se denominará Termo de Mediação e constituirá um título executivo extrajudicial. Propiciará aos mediados ingressarem em juízo para pedirem a execução do citado termo, caso não haja o seu adimplemento voluntário. Modalidades de mediação Conforme se verifica, no momento da leitura do art. 3º, percebemos que existem 4 modalidades de mediação: Prévia – será prévia quando inexistir processo judicial, podendo ser judicial ou extrajudicial. Incidental – será incidental quando já estiver ocorrendo uma demanda e durante o processo de solução, de maneira incidental, venha ocorrer um conflito, ou seja, é regra a existência de um processo judicial de conhecimento. Judicial – quando o mediador for alguém indicado conforme preconizado pelo art. 19 do citado projeto de lei pela OAB. Princípios norteadores da mediação Conforme ensina Lia Sampaio e Adolfo Neto (2007, p. 38), devemos observar os seguintes princípios: autonomia da vontade das partes, imparcialidade, independência, credibilidade, competência, confidencialidade, diligência, boa-fé, respeito, equidade, celeridade, cooperação, informalidade e acolhimento das emoções dos mediados. Como pode ser notado, o tema exige muita atenção e um estudo mais detalhado, principalmente, pelo fato de quase todos os princípios norteadores da mediação estarem afetos a conduta do mediador. O que será estudado mais detalhadamente na próxima aula em que trataremos desse tema. Áreas de atuação da mediação Mediação familiar: Percebemos que a família é a base da sociedade e, por força constitucional, estará sob a proteção do Estado. Os conflitos familiares são encarados de maneira equivocada pela sociedade, pois deveriam ser vistos como algo natural ao laço familiar que une essas pessoas, mas, por estarem intimamente ligados à estrutura das famílias e à sua essência, podem abalar todas as relações existentes naquele grupo e acabam sendo analisados de forma negativa. Por isso, em alguns momentos, os envolvidos podem precisar da ajuda de um terceiro para solucionar o conflito aparente. Normalmente, tal incumbência fica a cargo de um advogado e, por consequência, chega ao Judiciário a fim de que o magistrado, ao final do processo, aponte o culpado pela existência de tal conflito. Mas o que se pretende com a mediação? O que se pretende, na mediação, é justamente abolir esse paradigma social de encarar o conflito familiar como algo negativo. A intenção aqui é propiciar ao Direito de Família um momento de diálogo, em que os atores principais serão os conflitantes e estes deverão buscar uma solução sem a preocupação de se encontrar um culpado. Acabando por fim com a lógica de que terá de haver o bem e o mal, o culpado e o inocente, na verdade, deverá haver uma conscientização de todos os envolvidos para que tenham a real noção da responsabilidade de cada um naquele conflito. Outra atuação importante na mediação familiar é quando não ocorre, ou melhor, inexiste a relação de filiação. Neste caso, a mediação atuará para que tal dissolução ocorra de maneira pacífica e equilibrada para os envolvidos, pois, notadamente, neste tipo de dissolução conjugal, prevalece o interessematerial em detrimento do conjugal, mas não se exclui o interesse sentimental, porque conflito poderá abarcar relacionamentos de irmãos, primos, sobrinhos e outros envolvidos. Mediação empresarial e organizacional Estamos diante da mediação em que haverá, como partes a serem mediadas, pessoas jurídicas versus pessoas jurídicas. Nesta mediação, busca- se evitar desperdícios de tempo, afinal de contas, como dito por Benjamin Franklin, “tempo é dinheiro” Conforme ensina Lia Sampaio e Adolfo Neto (2007, p. 109): “A mediação deve levar os envolvidos a pensar que o presente e o futuro dependem deles e a eles cabe construir uma relação mais madura, ou, ainda, que eles poderão encerrá-la de modo mais pacífico.” Mediação trabalhista Nesta mediação, estamos diante da relação entre partes que, por vezes, estão em total dissonância de interesses, ou seja, empregado e empregador. Com as experiências surgidas na administração de discussões trabalhistas, procurou-se dar mais efetividade no papel do Ministério do Trabalho na solução desses conflitos. Não foi à toa que houve a promulgação da Lei n.º 10.101/00. Nota-se claramente que esta lei visa envolver o capital e o trabalho em benefício do desenvolvimento da empresa, incentivando o empregado a melhorar seu desempenho e, desta forma, impulsionar as atividades das empresas e com isso a sua própria remuneração. Importante destacar que a cultura brasileira faz com que a mediação trabalhista seja colocada em um segundo plano e subutilizada, pois, em função da grande desconfiança mútua entre as partes que poderiam procurar a mediação, transforma a procura por esta forma de solução de conflito muito aquém do esperado, fazendo com que a demanda na justiça do trabalho, no Brasil, seja algo extremamente elevado em comparação com outros países. Mediação Ambiental o Direito Ambiental foi alçado à categoria de Direito Constitucional, ou seja, houve previsão em nossa carta magna de 1988. Devemos realçar o especial destaque que foi dado ao meio ambiente, tendo em vista que o poder constituinte originário, destinou o capítulo VI do Título VIII, exclusivamente para tratar do assunto. E conforme se denota no art. 225, percebemos a importância que a ele foi dada. “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Ainda em nossa constituição, foi instituída competência comum a todos os entes da Federação para legislar de maneira a preservar o meio ambiente (art. 23, inciso VI), o que só fez aumentar sobremaneira a legislação atinente ao assunto. O Direito Ambiental vem a ser o que a doutrina chama de direito difuso, pois é caracterizado pela indeterminação dos sujeitos, sua indivisibilidade e pela existência de vínculos decorrentes de eventos naturalísticos, impossíveis de diferenciar na qualidade e separar na quantidade de cada titular. Mediação escolar É na escola que há possibilidade à prevenção, com o uso da mediação (preventiva) ou mesmo, repressiva, no caso do conflito já haver sido instalado. Diversos órgãos públicos têm instituído a mediação escolar, pois já perceberam a sua importância em lidar com questões que podem ser resolvidas, propiciando uma comunicação maior entre alunos, professores e funcionários em geral que trabalham com a educação, incluindo, nesse papel importante, as rondas escolares instituídas pelas polícias militares e pelas guardas municipais no Brasil. A implementação desses programas de mediações escolares são facilitadores de redução dos níveis de violência, tudo isso pelo fator comunicacional, gerado de maneira constante entre todos os atuantes desse cenário. Mediação comunitária Visa promover uma busca para a criação de espaços destinados ao diálogo, onde antes não haveria qualquer possibilidade. Outro fator importante a ser observado é o pensamento que logo vem à cabeça de que mediação comunitária e polícia comunitária têm estreita relação. A conjugação desses vetores é de suma importância para mudar a política de Segurança Pública no Brasil. Para tanto, trouxemos para você a experiência que vem ocorrendo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, com a implantação das diversas UPPs. Inicialmente, as UPPs começaram como os velhos métodos de policiamento ostensivo de antes, ou seja, saturação de uma pequena área geográfica com grande número de policiais, de forma que pela presença maciça de policiais os criminosos iriam sair da localidade, apesar de algumas autoridades continuarem a afirmar que se trata de algo inovador. Os benefícios primários e secundários Benefícios primários: celeridade, efetividade de resultados, preservação da autoria, alinhamento do interesse mútuo, redução do custo emocional, redução de custos financeiros e sigilo/privacidade. Benefícios secundários: prevenção na formação de conflitos, prevenção na reincidência de conflitos, fluidez na comunicação, melhoria no relacionamento inter/intragrupal e no relacionamento interpessoal. Aula 04 em: 06/05/2020 Mediação de conflitos Características do ambiente de mediação Inicialmente, queremos lembrar que, por mais que a pessoa escolhida como mediador seja capaz e possua condições técnicas e práticas para mediar o assunto que lhe for apresentado, ela necessitará de alguma ajuda externa, que possibilitará uma melhor atuação mediatória, tais como os elementos complementares do escritório de mediação de conflitos citados por Fiorelli e Junior (2008, p. 14-16), que veremos a seguir. Para tanto, ressaltamos que iremos tratar de aspectos físicos e ambientais do local onde ocorrerá a mediação. Esses aspectos que, em primeira mão, possam ser considerados desprezíveis ou até mesmo imperceptíveis, podem, no mínimo, contribuir para que a mediação seja positiva, pois não podemos deixar de lembrar que estamos diante de uma tentativa de resolução de conflitos e os envolvidos, em regra, estão com os ânimos exaltados. Aspectos a serem considerados: 1 Cores das paredes do ambiente: Deve-se preferir cores neutras, com paredes pisos e tetos combinando, para dar uma impressão de harmonia e paz no ambiente utilizado. 2 Quadros: Paredes sem quadros parecem dar impressão de grande vazio e ausência. Mas temos que ter cuidado com a escolha deles, pois imagine situações conflitantes que as pessoas já não estão tão propensas a conversar e para decorar o ambiente colocamos quadros com pinturas de guerras, ideologias políticas e religiosas, tem tudo para atrapalhar o trabalho do mediador. Deve-se optar por quadros com pinturas bucólicas, tais como colheitas, campos, fazendas, flores, animais silvestres e outras imagens que transmitam ideia de paz e sossego. 3 Iluminação: Nesta opção procura-se obter um meio termo, pois luz em excesso pode agitar demais os mediados, enquanto luz em falta pode induzir uma pessoa com tendência a depressão a agravar seus sintomas. Temos que ter cuidado também, com a luz natural, está apesar de ser mais indicada, deve ser em quantidade suficiente para que não ofusque a visão dos mediados e transforme o ambiente em calorento. Não obstante, devemos atentar que as partes deverão estar expostas da mesma forma, ou seja, não cabe priorizar uma em detrimento de outra, pois poderá causar desconforto e prejudicar a mediação. 4 Ventilação: Neste caso opta-se pela ventilação natural. Mas não poderemos abrir mão da ventilação artificial. O aparelho condicionador de ar deve ser instalado e usado para manter a temperatura em equilíbrio, atentando para as pessoas que, em geral, quando expostas a situações conflitantes acabam por sentirem mais calor e transpiram em excesso, nesta situação deverá haveruma regulagem na temperatura. O objetivo é proporcionar o maior conforto possível aos envolvidos. Outro cuidado que deve ser observado é evitar que os mediados sejam expostos a correntes de ar, pois pode causar mal estar neles. 5 Música ambiente: Deve ser colocada apenas na sala de espera e a opção de escolha será sempre por músicas de ritmo calmo. A escolha errada poderá acarretar sérios prejuízos ao mediador, que poderá acabar mediando uma pessoa que foi negativamente influenciada pela música ambiente. Não se deve optar por rádios que transmitem notícias nem mesmo televisões, pois, nestas opções acabaremos por expor as pessoas mediadas à situações estressantes e incapacitantes no tocante a concentração e meditação. 6 Material de leitura: Aqui encontramos uma boa opção para já prepararmos os mediados ao que eles serão expostos, para isso podemos disponibilizar folhetos explicativos de como ocorrerá a mediação, objetivos e finalidades, ou seja, estaremos fazendo uma preparação da mediação. Lembrando que a linguagem e a escrita empregada nos folhetos devem ser totalmente adequadas ao público alvo que o mediador está trabalhando. Mediador: seu papel, suas funções e características Papel e funções O mediador tem papel de destaque e relevante durante todo o processo de mediação. Líder: Ele atua como um terceiro que vai ser o interlocutor dos mediados durante a tentativa de resolução alternativa de disputa, funcionando como um verdadeiro líder durante a mediação, que se materializará através da gestão e coordenação de todo o processo. Agente transformador: Outro papel de destaque do mediador é o de ser um agente transformador, sobretudo quando atua propiciando condições para que as pessoas possam dialogar e chegarem a um denominador comum, de interesse mútuo, que servirá como parâmetro para prevenção de próximos conflitos que poderão surgir, ou seja, ele transforma a conduta das pessoas e desta maneira, atua de forma preventiva inibindo a ocorrência de outros conflitos. Facilitador de processo: Por fim, o último papel que ao mediador merece ser atribuído é o de facilitador do processo, pois ele servirá como uma válvula de escape durante a mediação para que os envolvidos possam desabafar e colocar para fora toda a sua angústia e nervosismo, visando com isso que a comunicação entre os mediados seja restabelecida. Princípios e características A seguir iremos apontar alguns princípios e características básicas que deve ser inerente a todos os mediadores e que eles deverão buscar em sua atuação diária na mediação: 1- Sensibilidade: compreender sem tomar partido, devendo ser totalmente imparcial com as questões envolvidas no conflito, apesar de haver por parte do mediador pré-conceitos estabelecidos, estes deverão ser deixados de lado para melhor análise do conflito. 2- Ética e conhecimento dos direitos humanos: respeito à dignidade do outro, procurando sempre estar atento às violações de Direitos Humanos, lembrando que o princípio da dignidade da pessoa humana é o fundamental princípio constitucional que norteia a atuação dos profissionais da Segurança Pública. A questão ética está relacionada ainda, ao sigilo que a mediação está vinculada, pois o mediador deve guardar segredo dos assuntos tratados na mediação, de forma que a sua manutenção fornece aos envolvidos segurança e confiança. 3- Conhecimento mínimo da legislação brasileira: o mediador deverá conhecer de forma mínima principalmente: - a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB); - o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA); - o Estatuto do Idoso; - o Código Civil em assuntos referentes à mediação familiar e comunitária; - o Código do Consumidor também poderá ser útil, além da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), para mediação trabalhista, e outras legislações que somente analisando o caso concreto poderá ser percebida sua necessidade. 4- Capacidade comunicativa: podemos dizer que a mediação está apoiada em dois pilares fundamentais, a ética e a comunicação. Na comunicação não podemos esquecer que ela estará intimamente ligada ao processo como um todo, pois sem uma boa comunicação todo ele poderá ficar prejudicado. Esta capacidade está também na obrigação do mediador atuar de forma a manter o equilíbrio entre os mediados. Para isso deverá orientá-los a buscarem todas as informações necessárias para obter uma solução pacífica para o conflito. O equilíbrio é fundamental para que ocorra a autonomia da vontade dos mediados de forma genuína e livre, sem que haja interferência danosa de terceiros. 5- Capacidade de escuta: escutar com atenção e respeito. Para isso o mediador não poderá esquecer-se de como surgem os conflitos e deverá buscar as raízes de suas origens através da escuta de seus mediados. 6- Capacidade de manter sigilo: já mencionado na questão ética, mas merece ressalva. O sigilo só deverá ser quebrado em casos de condutas criminosas como: homicídio, violência, abuso sexual etc., não podemos confundir sigilo com omissão criminosa por parte do mediador. 7- Criatividade: o mediador deverá ter bom humor, pois se ele for mais uma pessoa que não possua condições de tentar quebrar o gelo entre os mediados, de nada adiantará sua presença. Para isso poderá utilizar de comparações, histórias do cotidiano da comunidade, exemplos de fatos ocorridos (sem quebrar o sigilo), tudo para facilitar o início do diálogo entre os mediados. 8- Estilo cooperativo: busca da solução do conflito de forma amistosa e de comum acordo entre as partes. O mediador não pode desempenhar função que pareça estar liderando as partes da mediação, pois conforme se verifica no site http://www.conima.org.br/etica_mediadores.html, o mediador é: “... um terceiro imparcial que, por meio de uma série de procedimentos próprios, auxilia as partes a identificar os seus conflitos e interesses, e a construir, em conjunto, alternativas de solução visando o consenso e a realização do acordo...”. Como se verifica no conceito abstraído do site citado, percebemos que o mediador é uma pessoa, em regra, comum, que se dispõe ajudar os envolvidos em conflito a retomar o diálogo e buscar assim, soluções. Funções O mediador desempenha, ao longo do processo de mediação, inúmeras funções, dentre elas podemos citar: Recebe e acolhe as partes, e seus advogados se houver; Estará prestando todos os esclarecimentos necessários à mediação de forma clara, precisa, objetiva e correta a respeito dos procedimentos e dos objetivos daquela resolução alternativa de conflitos; Gerencia a atuação dos envolvidos, preservando e buscando sempre o bom andamento dos trabalhos, mantendo a ordem, o respeito à integridade física e emocional dos mediados, atentando sempre para a livre expressão dos mesmos, sem que com isso ocorra o desrespeito; Estará sempre pronto a formular perguntas construtivas e agregadoras, visando à retomada do diálogo; Procura buscar a clareza de todas as ideias envolvidas no conflito; Proporciona o equilíbrio de poder entre os mediados, para que a autonomia de vontade ocorra de maneira livre e espontânea; É o responsável e o guardião do processo de mediação; Impede que comportamentos repetitivos venham a ocorrer; Busca sempre a facilitação da comunicação; Orienta oportunamente os mediados, para que no futuro não venha ocorrer novo conflito, sempre pegando por base o presente e pregando o respeito pelos fatos anteriores; Proporciona condições entre as partes para que haja pleno atendimento da solução pactuada, se ela for alcançada. O que mediador não é: Aproveitando as lições extraídas do livro O que é mediação de conflitos, de Sampaio e NETO (2007, p. 91), mediador não pode ser considerado: Juiz nem árbitro: na mediação quem decide não é o mediador e sim os mediados. Sua participação está em ajudar aspartes em tomar as decisões conscientemente, responsabilizando-se por elas. Se o mediador fosse juiz ou árbitro, apesar de ser uma terceira parte, teria o poder de julgar, decidir ou arbitrar. Não é advogado: o advogado procura obter alternativas legais e boas para seu cliente, aponta-as para ele. O mediador não, ele não defende nenhum dos envolvidos; ao invés disso, tem preocupação de maneira isonômica com todos os envolvidos, ficando sempre imparcial e de maneira equânime. O advogado se prende apenas às questões legais que o caso requer, ou seja, a solução para ele será também algo proporcionado pela lei. Para o mediador, o problema é percebido como algo relativo às relações interpessoais, busca-se analisar o plano social e após, poderão advir algumas consequências jurídicas, mas estas não serão as prioridades do mediador. Não é psicólogo: o psicólogo visa explorar e ampliar os assuntos emotivos ligados ao lado psicológico da pessoa, aqui, na mediação, o mediador não faz tal análise aprofundada. Ele apenas analisa os aspectos superficiais que estão sendo apresentados naquele momento. O que não impede que as pessoas tenham uma mudança comportamental e relacional. Não é conselheiro: o conselho pode acabar sendo uma via onde o mediador irá atuar deixando suas convicções pessoais falarem por si e influenciar de maneira negativa a mediação. Podemos ainda entender que os conselhos poderão acabar afastando os mediados, pois eles poderão ter pouco ou nada a ver com os interesses dos mesmos. O mediador deve apenas orientar a quem os mediados deverão procurar para obter conselhos e opiniões diversas para melhor compreensão do conflito. Não é professor: o mediador deve apenas coordenador o trabalho da mediação, apesar dele possuir conhecimentos técnicos, não poderá achar que tem supremacia intelectual absoluta sobre os mediados, pois se isso acontecer, a mediação se transformará em aulas dominadas pelo ego alterado do mediador. Mas não podemos perder de vista que o mediador, geralmente, estará ensinando, em sua condição de profissional de mediação. Ocorre que sua postura não pode e não deve servir de influência para a decisão tomada. Não é assistente social: a postura do mediador deve ser de gestor da mediação e suas atitudes devem servir apenas para auxiliar os mediados a escolherem uma solução, caso seja possível, para o conflito e por eles próprios. Em hipótese alguma deve o mediador ser assistencialista amparando os mediados e por possuírem limitações que acabarão por influenciar na gestão do conflito. Não é médico ou outro profissional da área de Saúde: o profissional da área de Saúde procura saber qual o sintoma da doença e administra medicamentos para que a causa termine, ou seja, ele ataca o sintoma do problema, neste caso o conflito. O mediador deve buscar de maneira profunda e pessoal a relação existente entre os mediados, de forma a colaborar para que estes possam, sob seu gerenciamento, buscar um “tratamento” profundo para a “doença”. Não é administrador: o papel do mediador não é o de comandar as pessoas mediadas ditando regras estabelecidas por ele. Se isto ocorrer poderemos estar diante de uma conciliação em que a solução do conflito partirá do conciliador. Não é engenheiro ou outro profissional da área de exatas: a mediação é uma forma de gestão de conflito originada entre pessoas, que por razões óbvias não podem ser tratadas como números e cláusulas fechadas, o relacionamento interpessoal deve ser mais aberto e tratado de maneira a privilegiar a espontaneidade das ações e atitudes e promover a reflexão das pessoas sobre os conflitos. Como o mediador deve ser Bem, já vimos o que o mediador não pode ser e afinal de contas como ele deve ser? De forma resumida, o mediador deve ser: - sempre imparcial na condução do processo de mediação. Não poderá agir de maneira a fornecer qualquer privilégio a uma das partes deixando a balança da mediação desequilibrada; - independente, não estará vinculado à nenhuma das partes envolvidas na resolução do conflito; - competente, para isso deverá ser profundo conhecedor dos processos de mediação e assim terá pleno domínio e poderá coordená-lo de maneira plena objetivando o melhor resultado possível; - confidente, já vimos que a mediação é um processo reservado, para isso, o mediador deverá ser discreto e sigiloso em função dos dados e conhecimentos que vierem a ser tratados na mediação; - e diligente, o mediador não poderá ser estático, deve sempre procurar, sem poupar esforços, maneiras de solucionar o conflito, buscando sempre as informações que se fizerem necessárias. Negociador: seu papel, suas funções e características Somos conhecedores que a negociação que nos interessa e estará em análise é aquela originada em função da gestão de um evento crítico e, normalmente, executada por um profissional técnico e treinado denominado negociador. O negociador possui papel importantíssimo durante a negociação em um evento de crise, ele é o elo entre o tomador de refém e o gerente da crise. Nas próximas aulas, iremos estudar o gerenciamento de uma crise e estes termos serão mais bem esclarecidos. Neste momento, se faz necessário apenas, saber que o gerente é o comandante da cena de ação. Síndrome de Estocolmo Antes de falarmos propriamente dito do negociador, devemos fazer um breve parênteses para lembrarmos o que vem a ser a Síndrome de Estocolmo. Diversos são e serão os momentos em que os profissionais de Segurança Pública estarão diante de eventos de crise envolvendo tomadores de reféns, que a partir de agora passaremos a chamá-los apenas de TRs. Funções do negociador Ganhar tempo: O negociador deve caminhar no sentido de diminuir a tensão no ambiente de confinamento a fim de que se possam estabelecer estratégias de resolução pacífica da crise. Abrandar exigências: Através da conversação deverá tentar formas para que o TR venha a diminuir suas exigências. Colher informações: Buscar informações sobre os TRs, reféns, armas, ambiente etc. Provê suporte tático: Com sua atuação, estará o negociador possibilitando atuação do suporte tático, que poderá ser utilizado, caso a negociação não ocorra como esperado. O negociador deve ser: - Especializado em técnica de Negociação e Gerenciamento de Crise – não poderá ser qualquer pessoa, o melhor negociador é sempre um militar, um policial ou um elemento especializado. - Ser bom ouvinte - ouça bastante e deixe o indivíduo falar, é mais importante ser um “ouvinte atento” do que um falante ativo. - Ter facilidade de comunicação - evite as palavras reféns, sequestrados, vítimas; procure se referir sempre como as “pessoas”. - Ter boa dicção - fale devagar e tranquilamente e procure sempre estimular a rendição. - Ter controle emocional – o negociador será alvo de diversas agressões verbais e não deverá respondê-las. - Ser calmo e sereno - não ameace o TR e evite negociar cara a cara, mantenha-se abrigado e em segurança. - Ter facilidade de passar credibilidade e confiança - evite truques e blefes, não prometa o que não pode cumprir, seja tão honesto o quanto possível, evite truques, garanta a integridade do TR, procure dentro das possibilidades atender as exigências; - Ter raciocínio rápido - nunca diga não, diga que vai tentar; não estabeleça e nem aceite prazos fatais. - Ter resistência à fadiga – a negociação poderá levar horas e até mesmo dias. - Ter bom vocabulário - saiba usar o poder de barganha, através de análise de exigências cedidas, através de um vocabulário técnico e inteligível para o TR. - Ter bom estado físico e mental – desta forma poderá manter o nível de negociação inicial por mais tempo, sem perder na qualidade técnica. Aula 05 em: 06/05/2020 Modelos e técnicas de mediação Tipos de mediação: Como já estudamosna aula 3, a mediação possui diversas áreas de aplicação e tipos de atuação, para tanto vamos recordar quais são os tipos que a doutrina dá destaque, esclarecendo que dão ênfase aos campos de atuação da mediação: Mediação forense: Realizada no poder judiciário. Mediação penal: É aquela relacionada aos problemas carcerários que embora possa ser confundida com a mediação forense, em nada tem a ver com ela. Mediação comunitária: nesta, se torna fácil o seu entendimento, pois é relativa à ação da própria comunidade ou realizada na comunidade. Mediação técnica: normalmente é aquela usada em empresas, feita por pessoas qualificadas pelos próprios empresários e normalmente são sujeitos vinculados às instituições que promovem a mediação. Mediação familiar: ocorre para gestão de conflitos familiares, onde as pessoas estão em crise, tais como casais em processo de divórcio. Modelos de mediação Diferentemente dos tipos de mediação os modelos estão afetos às escolas que estudaram os processos mediativos e servem de suporte a sua aplicação prática. Os modelos são divididos em dois grupos, os focados no acordo entre as partes e os que têm como objetivo a relação entre elas.A doutrina costuma instituir três modelos comumente utilizados, que são: 1. Modelo tradicional-linear Teve sua origem na escola de Harvard, onde pregava a aplicação de princípios através de uma negociação cooperativa. Foi neste modelo que se buscou, inicialmente, apresentar procedimentos sobre como deveria ser a postura e os interesse dos mediados; criaram-se técnicas para que fosse possível a elaboração de opções satisfativas dos interesses presentes na mediação; deu-se importância para que houvesse observação dos dados disponíveis que refletissem a realidade; assim como padrões éticos, jurídicos, econômicos e técnicos. Foi na escola de Havard que houve a separação do conflito subjetivo, relativo à questão interpessoal, que tratava pormenorizadamente dos fatos concretos. O modelo ora em análise, como já citado anteriormente, faz parte do grupo em que se tem como objetivo o acordo entre as partes. Para tanto, busca-se através de um histórico, a origem do conflito, analisa-se as suas raízes. 2. Modelo transformativo Este modelo não foi criado para se buscar única e exclusivamente um acordo, mas sempre pensando no futuro, pois as soluções que forem dadas no presente estarão voltadas para auxiliar a relação dos mediados daquele momento em diante. Percebe-se claramente a diferença deste para o modelo satisfativo, aqui o objetivo está na relação interpessoal dos mediados e não o acordo, pelo contrário, o que se pretende é uma melhora nas relações dos mediados e com isso um restabelecimento do diálogo e assim, o acordo surgirá naturalmente. Para os doutrinadores que se filiaram a este modelo de mediação, há claramente uma diferença entre mediação e conciliação, pois esta é um acordo imposto por um terceiro e aquela é um acordo que poderá surgir naturalmente com o auxílio de um terceiro, denominado mediador, como já foi amplamente explicado o seu papel na aula passada. A contribuição maior da mediação transformativa está na área de comunicação, pois aperfeiçoou as técnicas e as formas de escuta que o mediador deveria possuir, além de melhorar sua capacidade investigativa e de procedimentos pré-determinados para facilitar a comunicação e a modificação de postura dos mediados sobre as questões inerentes ao conflito. Há a transformação, sobretudo, pelo fato de se possibilitar aos mediados as condições deles próprios modificarem aquela relação inicialmente destrutiva e conflituosa em algo bom para todos, ou seja, busca-se através da interação entre as partes as decisões que mais serão produtivas para todos, pois através da mediação poderemos romper padrões relacionais e identificar os interesses comuns. 3. Modelo circular-narrativa O atual modelo em estudo é diferente dos demais já vistos por nós, pois aqui se pretende unir o objetivo do modelo tradicional linear, que é o acordo ao modelo transformativo, que são as relações interpessoais. Os estudiosos adeptos deste modelo entendem que o conflito, os mediados e toda a história, não podem ser analisados e observados separadamente como se fossem situações independentes. Daí o entendimento de que tudo faz parte de um único sistema. Nota-se claramente que este processo gira em torno de uma atitude conversacional, onde se reconhce a importância da conversa. O mediador passa a ser uma pessoa com uma capacidade de ouvir e analisar o que lhe é contado, mas não confundamos, ele não é psicólogo. Aqui se pretende que através de uma orientação para o futuro, as soluções encontradas para os conflitos atuais sirvam de auxílio nas relações interpessoais dos envolvidos na mediação e com isso venham a prevenir novos fatos conflituosos. Para esta mediação, que a nosso entender é a mais completa, é necesário aplicação de algumas técnicas, que são divididas na obra de Carlos Eduardo de Vasconcelos (2008, p. 81) em: • “as microtécnicas (aplicadas sobre o aspecto inicial das narrativas), • as minitécnicas (aplicadas sobre os desdobramentos mais amplos das narrativas, mas ainda não sobre a sua totalidade) e • as técnicas propriamente ditas (que permitem a construção da história alternativa desestabilizadora das histórias prévias)”. Técnicas do modelo tradicional-linear Vamos adotar os princípios preconizados pela SENASP, em sua apostila sobre mediação de conflitos, que são: A separação das pessoas do problema: Todo mediador deve ter a percepção de que as pessoas, normalmente, possuem dois interesses quando procuram a mediação, que são o interesse na relação pessoal e, no caso concreto, no conflito propriamente dito. Para melhorarmos nossa percepção é sugerido que nos coloquemos no lugar das pessoas mediadas, que não façamos nossas conclusões baseadas em nossas próprias concepções pré-estabelecidas, pois poderemos acabar, ao invés de sermos imparciais, por adotar uma postura de parcialidade total. Quando for lidar com as emoções, deixar a pessoa falar e desabafar, seja um ouvinte atencioso, não se surpreenda com os relatos, ou pelo menos não demonstre isso. Adote uma postura que gere impressão positiva aos mediados, para que eles se sintam à vontade para relatar e esclarecer o conflito. A comunicação não resta dúvida de que é um dos pontos mais importantes a ser dada atenção. Procure sempre fazer registro do que está sendo-lhe dito, fale e ouça, tente quebrar a barreira inicial entre os mediados. Deixem que falem deles próprios, evite que seja feita troca de discursos ofensivos, o melhor é cada um falar de si. Devemos lidar com as pessoas como seres humanos, por mais óbvio que possa parecer. Focalização nos interesses e não nas posições: Devemos nos concentrar nos interesses que estão colocados em debate. Poderemos, por mais difícil que pareça encontrar interesses comuns aos mediados. A principio pode-se perceber pelas posições radicalmente opostas que será inviável achar um interesse comum. Devemos sempre procurar estar no lugar do outro e verificar o porquê, examinar quais as consequências que determinada decisão poderá refletir individualmente ou no grupo. Não podemos esquecer que existe uma gama enorme de interesses pessoais, mas, indubitavelmente, os mais importantes são aqueles referentes às necessidades básicas dos seres humanos. Criação de opções para benefício mútuo: Para que ocorra a real identificação proposta, devemos através dos ensinamentos de Carlos Eduardo de Vasconcelos (2008, p. 77) superar quatro obstáculos que dificultam o processo. Que são 4: 1) O julgamento prematuro Este ponto deve ser evitado a qualquer custo, pois levará consequências danosas e acarretará descrédito ao processo de mediação. Não devemos ficarinventando soluções para o problema, ele deverá ser analisado de maneira prática e lógica, sem devaneios. 2) A busca de uma resposta única O ser humano procura sempre o caminho mais fácil, faz parte da natureza humana. Fica sempre aquele pensamento de que do jeito que está a situação, já é difícil, então para que inventar mais? Não devemos pensar assim, pois novas ideias são sempre bem-vindas. O mediador deverá colocar sobre a “mesa de negociação” as opções possíveis e prováveis, não se limitando a uma única alternativa, pois imagine se houver apenas uma saída e se ela não for aceita, o que será do processo de mediação? 3) A pressuposição de posição fixa A tendência natural é que pensemos logo em dividir o prejuízo ou o lucro. Bem, neste ponto deixaremos um questionamento: - será que é melhor dividir ou agregar valores ao conflito? 4) Pensar que o problema do outro lhe é estranho Não se pretende aqui que o problema seja tratado com indiferença, mas sim que não haja envolvimento emocional com as partes, de maneira que possa prejudicar a mediação. Temos que legitimar e reconhecer de forma imparcial as pretensões das partes, sem que para isso ocorra o envolvimento. Utilização de critérios objetivos: Quando se tenta resolver conflitos estamos diante de um problema grave e que pode colocar toda a mediação a perder, que é a subjetividade das pretensões dos mediados. Para evitar que tal subjetividade possa influenciar negativamente no processo, devemos estabelecer critérios mais objetivos possíveis. Para isso podemos utilizar indicadores diversos. Uma coisa é certa, quanto mais critérios objetivos forem utilizados na mediação, maior será a credibilidade que alcançará o resultado final, evitando com isso decisões injustas, tendentes que a solução encontrada não se torne algo durador Conhecer as chances de retirada: Primeiramente não podemos perder de vista que de forma genérica a mediação não deixa de ser uma maneira de negociar, sendo assim, devemos perceber que, durante uma negociação, poderá haver uma parte irredutível adotando uma postura dominadora. Bem, quando isto ocorrer, temos que ter em mãos o que a doutrina chama de “chance de retirada” conhecido também como MAPAN (Melhor Alternativa Para um Acordo Negociado) ou ainda, MAANA (Melhor Alternativa À Negociação de um Acordo). Quando nos encontrarmos em uma situação na qual a balança da negociação esteja pendendo demais para um lado, devemos pensar em alternativas para minimizar esta diferença, porque a falta de chances de retirada tende a abater todo o processo e deixa o mediador enfraquecido. Técnicas do modelo transformativo Essa modalidade de mediação além de utilizar todos os princípios e regras da escola de Harvard, propõe que o mediador atue como facilitador de diálogo, com objetivo no restabelecimento das relações para se chegar a um possível acordo. Apesar de não havermos estudado, na mediação, o seu passo a passo, devemos destacar que, neste modelo, se torna importante que o processo se inicie com a apresentação das partes e do mediador, onde haverá uma breve explicação de como será realizado o processo. Iniciado os trabalhos procura-se deixar os mediandos falarem suas visões e análises dos conflitos e após serão questionados de maneira pertinente e em igualdade; não se deve saturar uma parte de perguntas, enquanto a outra fica praticamente como ouvinte, sem ser questionada, pois isso poderá acarretar uma imparcialidade na decisão. Estes questionamentos servem para que os mediados comecem uma transformação, onde irão procurar os interesses comuns que estão subjacentes, para depois poderem chegar a um acordo que seja bom para todos os envolvidos. Outras técnicas que podem ser utilizadas são as entrevistas de pré- mediação. O mediador poderá realizar reuniões com cada mediado separadamente. Quando os ânimos encontram-se muito alterados esta técnica é sugerida para evitar trocas mútuas de ofensas. Técnicas do modelo circular-narrativo, microtécnicas, minitécnicas e técnicas propriamente ditas Microtécnicas: São aplicadas sobre o aspecto inicial das narrativas. E podem ser divididas em dois modos: o interrogativo e o afirmativo. No primeiro, busca-se através de perguntas informativas e desestabilizantes, atingir o conhecimento necessário e produzir condições para que as partes comecem a ser estimuladas e acompanhem a contextualização do que está ocorrendo. Já as perguntas afirmativas tendem a facilitar o mediador, para que ele possa saber quais são os conhecimentos que os mediados possuem; assim como podem através delas, buscar esclarecer informações obtidas anteriormente. Nestas objetiva-se que ocorra uma reformulação do que foi dito e interpretado de maneira errada por um dos mediados, ou seja, falar a mesma coisa só que de forma diferente sem ferir suscetibilidades. Outro papel importante é o das perguntas desestabilizastes, que tendem a proporcionar, nos mediados, um momento de reflexão sobre as relações interpessoais envolvidas e o propósito Minitécnicas: São aquelas aplicadas sobre os desdobramentos mais amplos das narrativas, mas ainda não sobre a sua totalidade. As minitécnicas abrangem a externalização, os resumos e a equipe reflexiva. Sobre externalização podemos dizer que foi uma técnica originária da terapia familiar e consiste, resumidamente, em especificar o problema; que o problema seja tratado de maneira positiva, pois conflito não é algo negativo como pensamos. O resumo nada mais é do que aplicação desta minitécnica nas reuniões onde os mediadores poderão fazer constar a fala das partes, reformulações com suas conotações positivas e os mediados deverão ser colocados em situação positiva. A equipe reflexiva nada mais é do que a possibilidade que, no processo de mediação, o mediador conte com pessoas de apoio para acompanhar o processo mediativo de maneira presencial ou através de meios eletrônicos (câmeras transmissoras de imagem, por exemplo). Neste momento, não cabe à equipe emitir qualquer opinião, após assim, em conjunto com o mediador deverá refletir e procurar novas formas de relatar, através de outras palavras, o que foi narrado pelos mediandos. Durante esta reflexão não haverá diálogo entre os mediandos e a equipe de reflexão. Esta reflexão deve se basear exclusivamente nos relatos das pessoas; não se devem considerar as impressões pessoais que a equipe porventura possa ter em relação aos mediados. Percebe-se que esta equipe é pouco utilizada na prática, pois demanda custos elevados que normalmente não estão disponíveis no processo de mediação. Técnicas propriamente ditas: Permitem a construção da história alternativa desestabilizadora das histórias prévias. Nota-se que, no modelo circular-narrativa, esta história é o ponto central na mediação. Devemos ter a percepção que a melhor história alternativa nem sempre é a mais real, porém deverá ser aquela que propicie mais opções de que os mediados possam reatar o diálogo interrompido com as histórias prévias, ou seja, o objetivo principal é iniciar a conversação para que finalmente possa ocorrer a negociação mediativa. Modelos de negociação Negociação integrativa: Aqui se busca ampliar e aumentar o campo dos interesses comuns aos negociantes. Priorizam-se todos os fatores que possam auxiliar na análise dos problemas, propiciando uma maior quantidade de opções na tomada de decisão. Podemos dizer que esta negociação ocorre em forma de um processo devidamente planejado e compartilhado. Negociação distributiva: Nesta, se pretende que ocorra uma divisão dos interesses, ou seja, uma troca entre as partes. Negociação apoiada em terceiros: Este último modelo de negociação já amplamente estudado por nós, refere-se ao processo de mediação. O processo de mediação e suas etapasPré-mediação: Estes deverão receber a pessoa que procura pelo escritório de mediação para solucionar o seu conflito. Neste primeiro evento, o mediado será informado como é o processo de mediação e como ele se dará. O mediador deverá ouvir atentamente o que está sendo relatado pelo candidato a mediado. Objetiva-se aqui obter o maior número de informações possíveis para que possa identificar a outra parte do processo mediativo. Após a identificação das demais partes, elas serão convidadas a comparecer ao escritório de mediação e recebidas como foi o primeiro mediado, que já teve oportunidade de relatar seus pontos de vistas e contar sua história pretérita. As partes, aceitando a participação no processo de mediação, iniciará de maneira formal o processo. Primeira etapa – apresentação e recomendações Esta primeira etapa é onde ocorre o primeiro contato entre os mediados e o mediador. Ele irá explicar os objetivos da mediação e parabenizar os mediados pela escolha realizada. Informa o seu papel como ente facilitador no processo e o sigilo que deverá ser observado. Esclarece que havendo necessidade poderão ocorrer reuniões em separado, caso seja necessário visando à manutenção sempre do respeito mútuo e o restabelecimento do diálogo. Na primeira etapa, ocorrerá a assinatura do termo de compromisso e mediação que será colocado para as partes e o mediador. Dentre os itens constantes no termo, deverá constar um no qual o mediador declara não possuir ou não possuiu qualquer vínculo familiar ou profissional com qualquer das partes envolvidas na mediação. Segunda etapa – Narrando o conflito Mesmo já tendo ocorrida na pré-mediação, esta fase se inicia com a solicitação do mediador para que as partes narrarem o problema através de suas versões. Neste momento não se deve interromper os mediandos e deve-se pedir que a outra parte fique apenas escutando, para evitar debates desnecessários e prematuros. Nesta etapa, o papel do mediador é de ser um ativo ouvinte e sempre anotando ou gravando tudo que está ocorrendo no processo. Após todos falarem as suas versões e não havendo mais perguntas, o mediador encerra a fase fazendo um breve resumo do que foi dito, resumo este que dará início a outra etapa. Devemos lembrar que, em alguns processos de mediação, envolvendo questões familiares, o fator emocional estará muito presente e caberá ao mediador administrar tal problema. Não podemos esquecer que o mediador deve atuar para evitar trocas de acusações entre as partes, pois isto em nada irá contribuir. Terceira etapa – identificação dos interesses Após a conclusão e a discussão do resumo, os mediandos já estão em condições de verificar quais são os interesses comuns. Nesta etapa, poderão surgir possibilidades de acordos prévios, o que deve ser incentivado pelo mendiador, pois agora que a comunicação já foi restabelecida entre as partes e houve a quebra daquela barreira inicial o terreno está fértil para a mediação. É possível, nesta etapa, que com o surgimento dos interesses comuns, os mediandos possam sentir a necessidade de realizar consulta a terceiros (estranhos à mediação), desta feita, o mediador deverá suspender a seção para que as dúvidas sejam tiradas pelas partes da forma que desejarem. Ainda há a possibilidade do mediador, percebendo viabilidade e necessidade, propor entrevistas separadas para superar pequenas divergências no tocante aos objetivos comuns. Quarta etapa – Criação de opções Nesta etapa, iremos finalmente idealizar as opções que poderão solucionar o conflito. Para tanto, quando houver uma diversidade de alternativas sugere-se uma “tempestade de ideias” de forma que os mediandos possam escolher as que melhor os atenderão. Ressaltamos que não havendo a possibilidade de acordo não irá significar que a mediação fracassou, pois como vimos anteriormente os tipos de mediação nem sempre visam ao acordo. Quinta etapa – O acordo Que é a etapa final da mediação é o resultado obtido e quase sempre desejado e esperado em uma mediação exitosa Aula 06 em: 07/05/2020 Evento crítico ou crise e seu gerenciamento As ocorrências policiais mal gerenciadas Nos dias atuais, quando ocorrências policiais em que nos deparamos com crises não são gerenciadas da maneira correta, tal fato se dá, na maioria das vezes, por puro despreparo dos agentes atuantes nas crises, e não por falta de existência de uma doutrina própria, como já vimos. Tal conduta ocorre por vezes baseada em questões e em suposições pessoais do agente e também calcada em rivalidades profissionais e sem o menor teor objetivo. Crise Há, na doutrina, diversos conceitos para o termo crise. Até nos noticiários, esse termo vem sendo bastante banalizado e perdendo muito de seu significado preponderante. Vejamos alguns conceitos de crise. SENASP: Em nossa disciplina, vamos nos filiar ao conceito disposto na apostila do curso de gerenciamento de crises da SENASP (p. 5): “Uma manifestação violenta e inesperada de rompimento do equilíbrio, da normalidade, podendo ser observada em qualquer atividade humana.” ACADEMIA NACIONAL DO FBI: “Um evento ou situação crucial, que exige uma resposta especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável.” SEGUNDO ÂNGELO SALIGNAC (2001): “A ciência política considera uma crise quando o Estado percebe uma brusca mudança na vida em sociedade, com teor manifestamente violento, repentino e rápido, traduzindo-se em um momento perigoso ou difícil de um processo do qual deve emergir uma solução.” A quem cabe o gerenciamento de uma crise? Geralmente, cabe à polícia o gerenciamento de uma crise. Trata-se de um ponto crucial em seu gerenciamento, daí não ser utilizado, ou melhor, não devem ser utilizados religiosos, psicólogos, elementos da mídia, políticos e outros na condução e na resolução desse tipo de evento. Isso é inteiramente inconcebível, podendo gerar consequências irreparáveis. Outro destaque a ser dado é que o objetivo principal do gerenciamento de uma crise é a obtenção de uma solução que seja socialmente aceitável e que deva sempre procurar assegurar a integridade física das vítimas, respeitar a lei e restabelecer a paz pública. Vamos analisar um exemplo? Tentativa de assalto à farmácia em PE Em Garanhuns, agreste de Pernambuco, em março de 2011, houve uma tentativa de assalto a uma farmácia perto do Fórum da cidade. Havia dois bandidos, mas um conseguiu fugir. Com a chegada da Polícia, o outro fez a atendente refém. No momento do crime, não havia um atirador de elite no local. As negociações duraram cerca de duas horas e terminaram com a morte do assaltante, atingido por um tiro ao ameaçar esfaquear a vítima, posta de joelhos no momento dessa ameaça mais contundente. Antes do desfecho, as negociações foram feitas por um promotor de justiça, que chegou a oferecer ao assaltante carro e dinheiro para a fuga. Repare: quem negociou com o assaltante foi um promotor de justiça! Atuação dos órgãos de Segurança Pública Não podemos deixar de considerar também o fato de uma crise ser algo que envolva prioritariamente o acontecimento relativo ao cometimento de algum ilícito regulado na esfera penal de nosso Direito e que envolva normalmente o risco de vida, deflagrado pela atuação proposital de uma ou mais pessoas. Nessa esfera de atuação, em eventos críticos ou crises, podemos citar alguns exemplos em que se fará necessária atuação dos órgãos de Segurança Pública, tais como: Roubos diversos com tomada de reféns; Rebelião em estabelecimentos prisionais; Ameaças de bombas; Atos terroristas; Manifestações de caráter violento; Sequestro de aeronaves; Captura de fugitivos em zona rural; Invasões de terras, dentre tantas outras possíveis. Cenário de crise Partindo ainda do estudo dos conceitos analisados,
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