Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MANUAL DE FORMAÇÃO UFCD 3296 – HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR FORMADOR Inês Linhares Tipologia da Operação 1.08 – Formação modular para empregados e desempregados Código Universal da Operação: POISE-01-3524-FSE-002947 UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 1 de 51 ENQUADRAMENTO ....................................................................................................................................2 OBJETIVOS ...................................................................................................................................................3 PÚBLICO-ALVO ............................................................................................................................................3 NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA ..................................................................................................................4 SEGURANÇA ALIMENTAR .............................................................................................................................................. 4 PERIGOS ALIMENTARES ................................................................................................................................................. 4 PERIGOS BIOLÓGICOS .................................................................................................................................................... 5 PERIGOS FÍSICOS .......................................................................................................................................................... 11 PERIGOS QUÍMICOS ..................................................................................................................................................... 12 NOÇÕES DE HIGIENE ............................................................................................................................... 13 HIGIENE PESSOAL DOS MANIPULADORES ..................................................................................................................... 13 HIGIENE DAS INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS ............................................................................................................. 21 CONSERVAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE GÉNEROS ALIMENTÍCIOS .......................................... 24 RECEPÇÃO DAS MATÉRIAS-PRIMAS .............................................................................................................................. 24 ARMAZENAMENTO DAS MERCADORIAS ....................................................................................................................... 29 PREPARAÇÃO DE ALIMENTOS ....................................................................................................................................... 30 CONFECÇÃO DE ALIMENTOS ........................................................................................................................................ 33 NOÇÕES DE LIMPEZA E DESINFECÇÃO............................................................................................... 39 HIGIENE DOS UTENSÍLIOS ............................................................................................................................................. 42 HIGIENE DA PRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 43 CONTROLO DE PRAGAS ......................................................................................................................... 43 TIPO DE PRAGAS .......................................................................................................................................................... 44 PLANO DE CONTROLO DE PRAGAS ............................................................................................................................... 45 INTRODUÇÃO À APLICAÇÃO DO APPCC ............................................................................................ 46 Objetivos/Benefícios da Implementação do HACCP ..................................................................................................... 47 Princípios do HACCP .................................................................................................................................................... 48 BIBILIOGRAFIA ........................................................................................................................................ 51 UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 2 de 51 ENQUADRAMENTO A qualidade dos alimentos que ingerimos é influenciada pelo tipo e quantidade de microrganismos existentes nesses alimentos. Os microrganismos necessitam de determinadas condições para viverem e se multiplicarem. Deste modo, é importante conhecer os fatores que favorecem ou inibem a multiplicação microbiana, para que se possa prevenir situações de risco para a saúde dos consumidores. A grande maioria das intoxicações alimentares deve-se ao facto da ingestão de um grande número de toxinas que estão presentes nos alimentos. Grande parte da sua origem provém das superfícies, utensílios de cozinha, mãos contaminadas e na contaminação cruzada, nomeadamente em alimentos cozinhados e produtos ainda crus. Os alimentos devem ser manuseados de forma a proteger a saúde do manipulador e dos consumidores, sendo que a manipulação é um dos principais veículos de contaminação dos alimentos. Os microrganismos estão presentes em diversas partes do nosso corpo (unhas, cabelos, nariz, pele, boca, mãos e garganta) podendo causar doenças. Uma boa prática de higiene e segurança alimentar evita a contaminação dos alimentos confecionados, sendo que todos os manipuladores de alimentos devem adotar uma boa prática destes. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 3 de 51 OBJETIVOS Objetivos Gerais • Desenvolver os procedimentos adequados para as boas práticas de higiene na produção/confeção dos alimentos. Objetivos Específicos • Noções de microbiologia • Noções de higiene • Conservação e armazenamento de géneros alimentícios • Noções de limpeza e desinfeção • Introdução à aplicação do APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo) PÚBLICO-ALVO Este manual destina-se a todos os manipuladores de alimentos e trabalhadores envolvidos no manuseamento de produtos alimentares. O presente manual, cumpre o determinado no Regulamento (CE) nº 852/2004, fornecendo de uma forma compilada a informação necessária em matéria de boas práticas. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 4 de 51 NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA SEGURANÇA ALIMENTAR A larga disseminação dos contaminantes nos alimentos, nomeadamente os perigos microbiológicos, responsáveis por causar incidentes graves na saúde dos consumidores, passou a exigir a implementação de Sistemas de Segurança Alimentar que têm como finalidade a obtenção de alimentos inócuos. Em 2006, o Regulamento (CE) nº 852/2004, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de abril de 2004, relativo à higiene dos géneros alimentícios, e que revoga a Diretiva 93/43/CEE, estipula, no artigo 5º que todos os operadores do sector alimentar devem criar, aplicar e manter sistemas de segurança alimentar baseados nos sete princípios do HACCP. Este regulamento tem como principal objetivo a proteção dos consumidores contra potenciais riscos para a saúde, através da obtenção de alimentos inócuos. A Segurança Alimentar deverá ser assegurada de forma a preservar a saúde do consumidor. Para prevenir, reduzir ou eliminar a contaminação dos alimentos durante a sua armazenagem e preparação, devem ser controlados todos os aspetos inerentes ao processo produtivo.PERIGOS ALIMENTARES Os alimentos são substâncias orgânicas e, portanto, suscetíveis a contaminações. Na maior parte dos casos de contaminação de alimentos, a responsabilidade é dos manipuladores que, inadvertidamente ou por desconhecimento, não cumprem as normas básicas de higiene e segurança, aquando o contacto ou manipulação com alimentos. Segundo o Codex Alimentarius, um perigo é definido como agente biológico, químico ou físico presente no alimento, ou uma propriedade deste que pode provocar um efeito nocivo para a saúde. Deste modo, os perigos podem ser agrupados de acordo com a sua natureza em três categorias principais: ✓ biológicos ✓ químicos ✓ físicos UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 5 de 51 É de salientar que os perigos devem ser de tal natureza que a sua eliminação ou redução para níveis aceitáveis permita obter alimentos inócuos. PERIGOS BIOLÓGICOS Entre as três categorias de perigos, o perigo biológico é o que representa maior risco à inocuidade dos alimentos. Nesta categoria de perigos incluem-se bactérias, fungos, vírus e parasitas patogénicos e toxinas microbianas. Estes organismos estão frequentemente associados à manipulação dos alimentos por parte dos operadores e aos produtos crus contaminados que sejam utilizadas como matéria-prima nas unidades. Muitos desses microrganismos ocorrem naturalmente no ambiente onde os alimentos são processados. Vários são destruídos por via de processos térmicos, e muitos podem ser controlados por práticas adequadas de manipulação e armazenamento, boas práticas de higiene e controlo de tempo e temperatura dos processos. Os perigos biológicos podem subdividir-se em macro ou microbiológicos. ✓ Perigos macrobiológicos – são visíveis a olho nu. São exemplos de perigos macrobiológicos as pragas, nomeadamente, baratas, formigas, insetos, roedores, entre outros. ✓ Perigos microbiológicos – não são visíveis a olho nu e incluem bactérias, vírus, parasitas, fungos e toxinas. O crescimento e multiplicação dos microrganismos patogénicos nos alimentos dependem não só das características físicas e nutricionais dos alimentos, como também de um conjunto de fatores extrínsecos e intrínsecos do próprio alimento. Os principais fatores intrínsecos aos alimentos que afetam o crescimento microbiano são: UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 6 de 51 Os principais fatores extrínsecos aos alimentos que afetam o crescimento microbiano são: A temperatura é um dos principais fatores a controlar para evitar o desenvolvimento de microrganismos. As bactérias responsáveis pela grande parte de intoxicações alimentares desenvolvem-se melhor a uma temperatura de aproximadamente 37°C. ✓ temperaturas entre os 5°C e os 65°C também proporcionam o desenvolvimento de microrganismos e, por isso, é designada de zona de perigo. ✓ os alimentos devem ficar o mínimo tempo possível expostos à gama de temperaturas entre 5°C e os 65°C. Acidez (pH) Composição química do alimento Atividade da água (aw) Estrutura biológica do alimento Presença de substâncias antimicrobianas Temperatura Humidade relativa Composição da atmosfera UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 7 de 51 O tempo de exposição é um facto determinante para o desenvolvimento de microrganismos, principalmente quando estão reunidas as condições ótimas de temperatura e humidade. Num espaço de tempo relativamente curto, uma pequena quantidade de microrganismos de um determinado alimento pode multiplicar-se rapidamente (duplicando a cada 20-30 minutos), tornando-o perigoso para o consumidor. Para evitar o desenvolvimento de microrganismos nos alimentos devem ser controlados os vários fatores que influenciam o crescimento microbiano, nomeadamente, a temperatura, o tempo de exposição, o pH, a humidade e os nutrientes. Nos perigos biológicos, importa salientar a principal causa de intoxicações alimentares, a contaminação cruzada. Resulta da transferência de microrganismos patogénicos ou toxinas de um alimento contaminado para outro não contaminado. Os principais veículos de contaminação cruzada são: ✓ As mãos dos operadores. Por exemplo, no caso em que ocorra o contacto das mãos com alimentos crus seguido do contacto com alimentos confecionados ou prontos para consumo; ou sempre que as mãos que contactam diferentes alimentos não forem lavadas quando se muda de tarefa. ✓ Os salpicos de saliva ou salpicos provenientes de espirros e/ou tosse dos operadores. ✓ Os utensílios (e.g. facas, tenazes, tábuas de corte), superfícies de trabalho, farda ou outros equipamentos – como por exemplo, no caso em que é utilizada a mesma faca para cortar alimentos crus e cozinhados, sem ter havido uma correta higienização entre as duas utilizações; ou quando se usa a mesma bancada para preparar alimentos crus e cozinhados, sem ter havido uma correta higienização entre as duas preparações. ✓ Os alimentos contaminados, como por exemplo, no caso de um produto em fase de descongelação, numa câmara de refrigeração, não estar devidamente embalado e acondicionado e ocorrer a libertação de sucos, que podem contactar com alimentos já confecionados. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 8 de 51 | BACTÉRIAS As bactérias são o tipo de microrganismo mais comum, podem estar presentes em todos os ambientes, como a água, o ar, o solo, no interior dos seres vivos, na pele, entre outros. Podem estar presentes nos produtos alimentares, desde o início, em determinados alimentos ou matérias-primas, ou serem posteriormente introduzidas através de vários agentes. O armazenamento ou a manipulação inadequada de alimentos crus contribuem para a ocorrência de um número significativamente maior desses microrganismos ao longo do processamento, aumentando o risco de se obter um alimento perigoso, caso ocorra alguma falha ao longo do mesmo. Muitas das bactérias são prejudiciais à saúde das pessoas (bactérias patogénicas) podendo causar doenças de origem alimentar, como as intoxicações e/ou infeções alimentares, das quais se destacam: Bactérias Doença provocada Fontes de contaminação Origem (Alimento) Medidas preventivas Salmonella sp. Salmolenose Intestino animal Ovos Carne Aves Lacticínios Pescado Camarão Água Aquecer os alimentos a >65ºC Conservar os alimentos a <5ºC Prevenir contaminação cruzada Boas práticas de higiene Separação dos alimentos crus dos cozinhados Limpeza e desinfeção de equipamentos, utensílios e instalações Shigella sp. Desinteria bacilar Fezes humanas Contaminadas Vegetais crus Lacticínios Aves Charcutaria Saladas Evitar a contaminação através de águas poluídas Boas práticas de higiene dos manipuladores Aquecer os alimentos a>50ºC Conservar os alimentos a 6ºC Escherichia coli Colite hemorrágica Gastroenterite Disenteria Intestino animal Carne crua ou mal passada Leite cru Aquecer alimentos a 65ºC Conservar os alimentos a <3ºC Evitar a contaminação cruzada Boas práticas de higiene Listeria monocytogenes Meningite Septicemia Encefalite Água Intestino animal Plantas Solo Leite cru Queijos Vegetais crus Frango Carnes cruas Pescado cru e defumado Marisco mal cozinhado Aquecer os alimentos a> 45ºC Conservar os alimentos a <0ºC Boas práticas de higiene Prevenir a contaminação cruzada UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 9 de 51 Clostridium botulinum Botulismo Solo Águas paradas Poeiras Quase todos os Alimentos em Conservas e Enlatados Processamento adequado de alimentosenlatados: Temperatura e fecho das latas. Boas práticas de higiene Conservar a <3ºC Aquecer os alimentos a mais de 65ºC durante 15 minutos Clostridium perfringes Intoxicação perfringe Solo Água Intestino animal Carne e derivados Pratos do dia anterior Conservar a < 10ºC os alimentos já cozinhados Aquecer a 65ºC Staphylococcus aureus Intoxicação estafilócocica Mucosa nasal Mucosa oral Cabelo Pele Feridas Abcessos Carnes e derivados Ovos Saladas Pastelaria Leite cru lacticínios Controlo dos tempos/temperaturas após cozimento Evitar preparar alimentos de véspera Cozimento apropriado Higiene pessoal Arrefecimento a <5ºC Aquecimento a mais de 65ºC Yersinia enterocolitica Gastroenterite Diarreia Vómitos Fezes de gado Carnes Ostras Pescado Leite cru Controlo tempos/ temperaturas de cozimento Conservação após cozimento de temperatura <5ºC Campilobacter spp Campilobacteriose Carne bovina Moscas Água não tratada Frango cru Leite cru Cozinhar completamente os alimentos Evitar a ingestão de leite cru Tempo/temperatura Bacillus cereus Intoxicação Ovelhas Aves Carne Leite Vegetais Pescados Produtos de arroz ou amiláceos Eliminação dos esporos produzidos Evitar a germinação de esporos em alimentos cozinhados Vibrio spp Diarreias Cãibras Náuseas Calafrios Cefaleias Mar Peixe Marisco Fervura dos alimentos a 100ºC A maioria das bactérias morre durante a confeção, mas algumas existem sob uma forma resistente denominada esporo. Os esporos apresentam uma resistência superior ao calor, bem como às UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 10 de 51 radiações, antibióticos e aos agentes desinfetantes. Contudo, nem todas as bactérias produzem esporos. As bactérias esporuladas mais vulgarmente presentes nos alimentos pertencem aos géneros Bacillus e Clostridium. Na restauração os fatores de risco mais frequentes que possibilitam a multiplicação microbiana, e que contribuem para a origem de doenças provocadas por alimentos, são: ✓ O binómio tempo/temperatura inadequado; ✓ As preparações com demasiada antecedência; ✓ A manipulação incorreta; ✓ A preparação de grandes quantidades de comida; ✓ O reaquecimento inadequado; ✓ A temperatura inadequada durante a manutenção a quente; ✓ A refrigeração inadequada (permanência à temperatura ambiente várias horas; arrefecimentos lentos); ✓ A descongelação inadequada dos produtos descongelados; ✓ O consumo de alimentos crus; ✓ A utilização de sobras de comida; ✓ A contaminação cruzada; ✓ A insuficiente higienização. | FUNGOS E BOLORES Os fungos estão presentes em número elevado nos vegetais, principalmente nas frutas. São importantes para os alimentos porque provocam deterioração nestes e produzem micotoxinas que são prejudiciais. Os bolores também podem ser utilizados na produção de certos alimentos, como os queijos e alimentos orientais e em medicamento como é o caso da penicilina. adaptam-se bem, a alimentos com pH ácido, preferem temperaturas entre os 20 e 30ºC, são capazes de crescer com pouca disponibilidade de água. É vulgar encontrar bolores nos seguintes alimentos: ✓ Pão ✓ Bacalhau ✓ Chouriço UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 11 de 51 ✓ Amendoins ✓ Pistácio (…) | VÍRUS Os vírus apenas se multiplicam em seres vivos, pelo que não o fazem na maioria dos alimentos, somente naqueles que se consomem vivos como algum tipo de marisco. Os vírus podem ser transmitidos ao homem pelos alimentos, através da água ou por outras vias. Sendo incapazes de se reproduzir fora de uma célula viva, não se reproduzem nem sobrevivem por longos períodos em alimentos, sendo simplesmente transportados por eles. As fontes de viroses transmitidas por alimentos são fezes e urina de indivíduos infetados e a água contaminada, pelo que os alimentos mais frequentemente envolvidos em surtos virais são os pescados crus, incluindo mariscos, os vegetais crus, as saladas e a água contaminada com fezes humanas. A higiene pessoal dos manipuladores, com destaque para a higiene das mãos, é muito importante na prevenção da transmissão destes vírus através dos alimentos. Os vírus associados com transmissão por alimento incluem os vírus das hepatites A e E, vírus Norwalk e rotavírus. | PARASITAS Os parasitas são organismos que habitam sobre ou no interior de outros organismos (hospedeiro), beneficiando desta associação para obter nutrientes. Vários parasitas humanos podem ser transmitidos por alimentos, quando são mal cozinhados ou através de alimentos prontos para consumo já confecionados. Os parasitas mais comuns incluem espécies protozoários (por exemplo, Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium parvum), e vermes (Ascaris lumbricoides, Taenia solium, Trichinella spiralis). PERIGOS FÍSICOS Um perigo físico ocorre quando qualquer objeto estranho ao alimento se incorpora acidentalmente ou não, num alimento. A contaminação física inclui uma enorme variedade de materiais, mas no caso de um estabelecimento de restauração os casos mais comuns incluem: ✓ pedaços de metal, plástico ou madeira; UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 12 de 51 ✓ lascas de tinta ou azulejos; ✓ adornos (brincos, pulseiras, fios, anéis, entre outros); ✓ cabelos, pelos ou pedaços de unhas; ✓ poeiras; ✓ fios provenientes de um esfregão palha-de-aço, entre outros. As situações que mais contribuem para a presença de perigos físicos são práticas alimentares deficientes ou insuficientes ao longo da produção, matérias-primas contaminadas e procedimentos errados devido a má formação dos funcionários. PERIGOS QUÍMICOS Os perigos químicos ocorrem quando um alimento é contaminado por uma substância química tóxica durante as etapas de armazenamento, preparação, confeção e distribuição. Este tipo de contaminação é provocado, normalmente, por: Perigos Químicos Tipos de perigos Exemplos de perigos Exemplos alimentos associados Potenciais doenças Toxinas naturais Poluentes de origem industrial Contaminantes resultantes do processamento alimentar Pesticidas Medicamentos veterinários Aditivos não autorizados Materiais em contacto com alimentos Outros Aflatoxinas Solanina Toxinas marinhas Mercúrio, cádmio e chumbo Dioxinas, PCBs Acrilamida Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos Insecticidas, herbicidas, fungicidas Anabolizantes, antibióticos Sudan I-IV, Para Red (corantes) Alumínio, estanho, plástico Produtos de limpeza, lubrificantes Frutos secos, milho, leite e derivados Batata Bivalves, marisco Peixe Peixe, gorduras animais Batatas fritas, café, biscoitos, pão Fumados, óleos vegetais, grelhados Legumes, frutas e derivados Carne de aves, porco, vaca Molhos, especiarias Alimentos enlatados ou embalados em plástico Cancro, malformações congénitas, partos prematuros, alterações do sistema imunitário, doenças degenerativas do sistema nervoso, alterações hormonais, disfunção ao nível de diversos órgãos, alterações de fertilidade, doenças osteomusculares, alteração de comportamentos. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 13 de 51 NOÇÕES DE HIGIENE As Boas Práticas de Higiene são essenciais para evitar a ocorrência de intoxicações alimentares. A segurança alimentar depende em grande parte do nível de higiene individual e da unidade. O cumprimento das boas práticas de higiene desempenha um papel fundamental na obtenção de alimentos inócuos. As boas práticasde higiene podem ser divididas em quatro grupos: ✓ Higiene pessoal (manipuladores); ✓ Higiene das instalações e equipamentos; ✓ Higiene dos utensílios; ✓ Higiene do processo. É de realçar que todos os grupos referidos são igualmente importantes para a prevenção de perigos e obtenção de alimentos inócuos. HIGIENE PESSOAL DOS MANIPULADORES Os manipuladores de alimentos são o principal veículo de contaminação por microrganismos que vivem e se desenvolvem em certos locais do organismo (ex. cabelo, nariz, boca, garganta, intestinos, pele e unhas). Por esta razão, “as pessoas que não mantém um nível apropriado de higiene pessoal, as que padecem de determinadas doenças/estados de saúde, ou que se comportam de modo inapropriado, não UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 14 de 51 seguindo as regras de higiene, podem contaminar os alimentos e transmitir doenças aos consumidores” (Codex Alimentarius). A Portaria n.º 149/88 de 9 de março que fixa as regras de asseio e higiene a observar na manipulação de alimentos estipulou que o pessoal deve manter apurado o estado de asseio, cumprindo cuidadosamente os preceitos elementares de higiene, de seguida descritos. | ESTADO DE SAÚDE Todos os colaboradores que exerçam as suas atividades na restauração devem apresentar um comprovativo médico – ficha de aptidão – que ateste a sua faculdade para a atividade que desempenham. Todos os colaboradores devem efetuar: ✓ Exames de admissão, antes do início da prestação de trabalho ou, se a urgência da admissão o justificar, nos 15 dias seguintes; ✓ Exames periódicos, que devem ser anuais, para colaboradores com idade inferior a 18 anos e superior a 50 anos e de 2 em 2 anos para colaboradores com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos; ✓ Exames ocasionais, sempre que haja alterações substanciais nos componentes materiais de trabalho que possam ter repercussão nociva na saúde do colaborador, bem como, no caso de regresso ao trabalho depois de uma ausência superior a 30 dias, por motivo de acidente ou doença. Existem doenças, que podem provocar a contaminação dos alimentos e consequentemente, originar uma toxinfeção alimentar. Assim, todos aqueles que manifestem sintomas de doença gastrointestinal, doenças de garganta, gripes, entre outras, devem ser temporariamente afastados dos locais onde contatem diretamente com os alimentos e submeter-se a tratamento adequado até que os exames e/ou análises posteriores confirmem o desaparecimento deste risco. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 15 de 51 Em caso de ferimento ou infeção a nível da mão ou do braço, após tratamento, deve proteger-se o ferimento, ou a infeção, por meio de cobertura impermeável (dedeira, luva ou adesivo impermeável, de preferência de cores vivas para evitar risco de semelhança com qualquer alimento). | HIGIENE DAS MÃOS As mãos são uma das mais importantes fontes de contaminação para os alimentos por estarem quase sempre presentes durante o processo de preparação alimentar. ✓ Deve ser proibido o uso de adornos (anéis, pulseiras, relógios, etc.). o A única exceção são as alianças (se forem lisas), no entanto, devem ser retiradas aquando a lavagem das mãos. Devem ser igualmente desinfetadas e não devem estar largas, para evitar o risco de se soltarem e serem incorporadas nos alimentos; ✓ As unhas devem estar sempre curtas e limpas, não sendo permitido o uso de unhas postiças ou com verniz, nas pessoas responsáveis pela preparação e confeção; ✓ Se existirem ferimentos e/ou infeções nas mãos devem ser tomadas medidas de proteção, utilizando luvas, dedeiras ou outros meios que confiram total proteção; ✓ As tarefas executadas com recurso a luvas descartáveis, devem decorrer sem interrupção. Se tal não for possível, o manipulador ao reiniciar a tarefa tem de proceder novamente à higienização das mãos e calçar luvas novas. As mãos devem ser lavadas: ✓ Antes de manipular alimentos; ✓ Sempre que se mude de tarefa e/ou preparação; ✓ Após manipulação de equipamentos sujos; ✓ Após manipulação de sacos e/ou caixotes de lixo; ✓ Depois de se assoar, tossir, espirrar ou comer; ✓ Sempre após a utilização dos sanitários; ✓ Depois de fumar e de manusear dinheiro; ✓ Antes de manipular alimentos prontos a consumir; ✓ Depois de manusear alimentos crus; ✓ Imediatamente antes de serem calçadas as luvas descartáveis; UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 16 de 51 ✓ Depois de utilizar os produtos de higiene e limpeza; ✓ Sempre que necessário. As mãos devem ser lavadas num lavatório exclusivamente usado para lavar mãos, com comando acionado pelo joelho ou pelo pé (se o lavatório for de comando manual, a torneira deverá ser fechada com um toalhete de papel). A imagem mostra as zonas das mãos que podem ficar mal lavadas, se a sua lavagem não for realizada corretamente. Correta lavagem das mãos: Uma vez que as mãos são a principal fonte de contaminação dos alimentos, a sua adequada e frequente lavagem adquire uma importância fundamental para garantir que não contribuem para a contaminação dos alimentos. Para fazer uma correta lavagem das mãos deve-se: UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 17 de 51 |CABELOS, BARBAS E BIGODES Os cabelos dos colaboradores afetos à preparação e confeção devem apresentar-se lavados, penteados e cobertos por touca ou outro meio equivalente. No caso dos colaboradores que executam serviço de mesa e/ou balcão, devem apresentar os cabelos lavados e penteados e, embora não seja obrigatório estarem completamente cobertos, deve ser assegurada a sua proteção. O uso de barba e/ou bigode são desaconselhados – a barba deve ser feita todos os dias ou em casos especiais de 2 em 2 dias, caso usem barba ou bigode devem usar máscaras naso-bucais. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 18 de 51 | VESTUÁRIO O vestuário deverá ser de uso exclusivo no trabalho e deve estar perfeitamente adequado às funções e às condições ambientais onde o colaborador se encontra. A troca de roupa deve ser efetuada num local apropriado – vestiário, onde a roupa pessoal deve ser guardada num cacifo, assim como todos os objetos pessoais. Deve cobrir todo o cabelo, não deixando pontas de fora, e presa com o elástico da mesma Deve ser substituída quando apresente algum sinal de degradação Deve ser colocada em primeiro lugar, seguida da farda e por fim o calçado Touca/Barrete Limpa Lavável Cor clara - de forma a evidenciar a sujidade Deve apresentar-se em boas condições de higienização e conservação Farda Cor clara Antiderrapante Confortável Fechado Lavável Calçado Descartáveis Utilizadas sempre que o colaborador possua ferimentos/infeções/queimaduras nas mãos É recomendada utilização em operações que requerem muito manuseamento e manipulação de alimentos (cortar limões, cebolas, pimentos...) As tarefas que necessitem de luvas devem ser executadas sem interrupção Luvas UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 19 de 51 | COMPORTAMENTOS A EVITAR Comportamentos que devem ser evitados no local de trabalho: ✓ tossir ou espirrar próximo dos alimentos. Sempre que haja necessidade de o fazer, deve utilizar-se um lenço ou um guardanapo descartável e lavar as mãos imediatamente; ✓ Não devem ser utilizados lenços de assoar em tecido, devem ser de papel e descartados após a primeira utilização; ✓ Deve ainda proibir-se qualquer outro comportamento que possa ter como resultado a contaminação dos alimentos, como, porexemplo, mastigar pastilhas elásticas, cuspir, etc.; ✓ Nas zonas de preparação/confeção deverá existir, em local visível, informação afixada sobre a proibição de fumar e usar adornos; ✓ Não limpar as mãos ao fardamento, mas a toalhetes de papel descartáveis ou solução equivalente; ✓ Não molhar os dedos com saliva para qualquer tarefa, nomeadamente, separar toalhetes e folhas de papel vegetal; ✓ Não soprar para o interior das embalagens destinadas ao contato com os alimentos; ✓ Não soprar para o interior das luvas descartáveis, com intenção de as abrir; ✓ Deve agarrar-se o talher sempre pelo cabo; ✓ Não pegar nos copos, taças ou chávenas pelos bordos e muito menos colocar os dedos no seu interior; ✓ Não tocar no interior dos pratos com os dedos; ✓ Proibir a permanência de medicamentos nas áreas de armazenamento e manipulação de alimentos. Importa salientar que todas as pessoas externas ao serviço que entrem, mesmo ocasionalmente, nas instalações onde há manipulação de alimentos devem usar vestuário adequado. Devem ser disponibilizados kits de visitante em material descartável que incluam bata, touca e protetores para os sapatos. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 20 de 51 | INSTALAÇÕES SANITÁRIAS DO PESSOAL Na área de serviço devem existir armários ou locais reservados para guarda de roupa e bens pessoais dos trabalhadores. Os estabelecimentos devem dispor de instalações sanitárias destinadas ao uso do pessoal separadas das zonas de manuseamento de alimentos, devem (Decreto-Lei n.º 234/2007): ✓ ser adequadas ao número de colaboradores, sempre que possível separadas por sexos; ✓ dotadas de lavatórios com sistema de acionamento de água não manual; ✓ providas de sabonete líquido bactericida, escova de unhas, toalhetes de descartáveis, balde do lixo de pedal; ✓ com iluminação e ventilação suficientes; ✓ Providos de cacifos, para que os colaboradores possuam guardar os seus pertences. | PRIMEIROS SOCORROS No estabelecimento devem existir colaboradores, devidamente identificados, que sejam responsáveis pela aplicação das medidas de primeiros socorros, de combate a incêndios e de evacuação. Para tal, estes colaboradores devem ter formação específica nesta matéria. Paralelamente, também deve existir no estabelecimento, em local conhecido, acessível a todos e devidamente sinalizado, uma caixa de primeiros socorros, que deve incluir o seguinte conteúdo (Direção-Geral da Saúde – Informação técnica 1/2010): ✓ Compressas de diferentes dimensões; ✓ Pensos rápidos; ✓ Rolo adesivo; ✓ Ligadura não elástica; ✓ Solução antisséptica (unidose); ✓ Álcool etílico 70% (unidose); ✓ Soro fisiológico (unidose); ✓ Tesoura de pontas rombas; ✓ Pinça; ✓ Luvas descartáveis em latex. Outros produtos podem ser incluídos no kit de primeiros socorros destinado à restauração, nomeadamente Hidrogel para queimaduras, compressas para queimados e iodopovidona dérmica (Betadine). UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 21 de 51 HIGIENE DAS INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS As instalações de uma dada unidade de fabrico, de um modo geral, nomeadamente os locais onde se manipulam alimentos, como zonas de preparação, confeção e até armazenamento, devem apresentar sempre boas condições de conservação e higiene. Só deste modo é possível que as mesmas nunca possam ser uma fonte de contaminação dos alimentos. As instalações internas da unidade devem ser concebidas de modo a permitirem uma correta e fácil higienização do espaço e evitar a contaminação cruzada durante as diversas etapas dos alimentos. Todos os materiais do interior do estabelecimento devem ser cuidadosamente selecionados e, portanto, devem ser: As instalações devem cumprir determinados requisitos de forma a permitirem que os manipuladores de alimentos realizem o seu trabalho nas melhores condições, nomeadamente: | PAVIMENTOS O pavimento deve ser mantido em bom estado de conservação e de higienização, para tal deverá: ✓ ser impermeável; ✓ não tóxico; ✓ lavável; ✓ antiderrapante; ✓ resistente à passagem de pessoas e equipamentos ou outra qualquer força que seja exercida sobre o mesmo; ✓ provido de caleiras que permitam o escoamento da água, de preferência junto aos locais onde Resistentes à corrosão Lisos Resistentes ao choque (não lascáveis) Facilmente laváveis e desinfetáveis Impermeáveis Cores claras para visualização da sujidade UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 22 de 51 se lavam alimentos ou utensílios; ✓ com declive em direção às caleiras, de forma a permitir o escoamento da água e outros líquidos. | PAREDES As paredes também devem ser constituídas por material lavável, não absorvente nem tóxico, impermeável e liso até uma altura ajustada às operações (aproximadamente 2 m). Assim, impede-se a acumulação de qualquer resíduo e é possível efetuar uma correta higienização. A união das paredes com o teto e destas com o chão deve ser arredondada, de modo a não haver acumulação de sujidade e ser de fácil limpeza. Sempre que se verifique a existência de fissuras, gretas, zonas partidas devem ser reparadas com a maior brevidade, visto que estes locais são propícios à acumulação de sujidades (gorduras/bolores). Os materiais têm ainda que ser resistentes às fontes de calor e humidade. | TECTOS O teto, tal como o pavimento e as paredes, devem ser constituídos por material lavável, impermeável e de fácil limpeza. Deverá impedir o desenvolvimento de bolores, sendo recomendado o uso de tinta anti fungos ou outra solução eficaz. É recomendável que o pé direito das instalações atinja pelo menos 3,5m garantindo assim adequadas condições de trabalho e a instalação de equipamentos necessários. As lâmpadas devem ser protegidas, os inseto caçadores não deverão ser colocados por cima de zonas onde habitualmente há manipulação de alimentos. | PORTAS E JANELAS As portas devem ser revestidas de materiais lisos, laváveis, impermeáveis e de fácil limpeza. Estas constituem uma fonte de contaminação de alimentos devido ao contacto direto das mãos daqueles que as utilizam. De forma a evitar a entrada de pragas as portas devem estar sempre fechadas. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 23 de 51 As janelas, assim como qualquer abertura para o exterior, devem ter dispositivos que impeçam a entrada de insetos ou outras pragas como, por exemplo, redes mosquiteiras. Estas devem ser removíveis para facilitar a sua correta limpeza. À semelhança das portas, também as janelas devem manter-se fechadas durante o período de trabalho para evitar contaminações. | VENTILAÇÃO Todos os compartimentos devem ser corretamente ventilados. Os sistemas usados podem ser quer naturais, quer artificiais desde que se mantenha a contínua renovação do ar. Sempre que existam sistemas de circulação de ar, esta deve sempre ser efetuada de uma zona limpa para uma menos limpa e nunca deve ocorrer o inverso. | EXAUSTÃO A exaustão de fumos e cheiros é outro requisito importante e independente da ventilação do estabelecimento. Os sistemas de exaustão de fumos e cheiros das cozinhas deverão ser sempre construídos em material incombustível, terem uma potência suficiente para retirar todos os fumos e cheiros da cozinha e conduzirem os mesmos diretamente ao exterior. Devem ser periodicamente limpos, pois são um local propício à acumulação de gordura, estando na origem da maioria dos incêndios que ocorrem nos estabelecimentos de restauração e bebidas. | ILUMINAÇÃO Nas zonas de receção de matérias-primas, área de confeção e empratamento a intensidade luminosa deve ser superior a 540 lux, não deve tambémser muito intensa para não causa problemas visuais, noutros loucas a intensidade mínima pode ainda ser de 300 lux. As lâmpadas devem estar protegidas de modo a assegurar a proteção dos alimentos de contaminações, originadas pelo eventual rebentamento das mesmas. A forma que se adotar para proteger as lâmpadas, deverá evitar a acumulação de poeiras e facilitar a sua limpeza. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 24 de 51 | EQUIPAMENTOS E BANCADAS DE TRABALHO As superfícies de bancadas e equipamentos que contactam diretamente com alimentos devem ser de materiais lisos, laváveis, não tóxicos e resistentes à corrosão. As mesmas devem ser sempre mantidas em boas condições de conservação e limpeza e, se necessário, desinfetadas. | SALA DE REFEIÇÕES A legislação europeia referente à higiene dos géneros alimentícios não se aplica às salas de refeições. Existem, no entanto, algumas indicações gerais que se devem cumprir, bem como outras que constam da legislação nacional e específica do sector. As salas onde se presta o serviço de restauração e de bebidas, acompanhado do serviço de cafetaria, devem possuir equipamento e mobiliário adequados ao fim a que se destinam. Todos os materiais utilizados nas referidas salas devem ser resistentes, laváveis e de fácil limpeza. Estes locais devem ser suficientemente iluminados e continuamente ventilados. CONSERVAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE GÉNEROS ALIMENTÍCIOS Para a preparação de refeições seguras é necessário ter em conta algumas regras, nomeadamente na receção, no armazenamento e na confeção dos produtos alimentares. RECEPÇÃO DAS MATÉRIAS-PRIMAS Após a escolha das mercadorias, a sua receção é das fases mais importantes, pois devemos verificar se os produtos estão conformes. Conformidade de um produto – É todo o produto que apresenta as características organoléticas e higiénicas aceitáveis. Produto não conforme – É todo e qualquer produto que não apresente as características organoléticas, higiénicas e de embalagem aceitáveis. Este produto deve ser rejeitado e devolvido ao fornecedor. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 25 de 51 | CARACTERÍSTICAS DA ZONA DE RECEPÇÃO A zona de receção de mercadorias deve ter: ✓ Um caixote do lixo fora e dentro da zona de receção, (as embalagens que vêm no carro de transporte não entram para dentro da zona de receção) ✓ Uma mesa de inox para pousar os alimentos para verificação ✓ Balança ✓ Um inseto caçador à porta Estes equipamentos devem ser LIMPOS e HIGIENIZADOS entre cada utilização (ou seja, entre cada tipo de alimento rececionado). | INSPECÇÃO DAS MATÉRIAS-PRIMAS Na receção de mercadorias faz-se uma inspeção às matérias-primas que estamos a receber devemos ter especial atenção a: ✓ Avaliação das condições de transporte (higiene e temperatura) ✓ Características e estado das embalagens ✓ Rótulos e datas de validade ✓ Avaliação do produto (especto visual, temperatura) ✓ Pesos A verificação do especto adequado das matérias-primas é uma medida simples e eficaz para detetar a frescura dos produtos, principalmente dos perecíveis. Nas tabelas seguintes são descritas as características de alguns dos principais alimentos perecíveis que deverão ser observadas na sua receção. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 26 de 51 Controlo de receção de produtos cárneos Controlo de receção de ovos e lacticínios Qualidade, aparência, textura . Selo de inspeção das autoridades sanitárias. . Não se deve apresentar viscosa ou seca. . A carne de vaca deve apresentar cor vermelho brilhante, e a de porco um rosa claro. . Firme e elástica ao toque. . Temperatura interna . Carne fresca deve apresentar-se a uma temperatura T= 5ºC. . A carne congelada deve apresentar-se completamente sólida (T= -18ºC). Sinais de Contaminação . Descoloração em tons castanho, verde ou púrpura. . Manchas verdes, pretas ou brancas que indicam contaminação por fungos. . Queimaduras pelo gelo. Ovos Qualidade, aparência, textura . Selo de inspeção das autoridades sanitárias. . Devem apresentar-se limpos, secos e sem fissuras. Temperatura . A caixa do veículo de transporte deve apresentar uma T ambiente de 20 ºC. Sinais de Contaminação . Cascas fissuradas ou sujas. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 27 de 51 Controlo de receção de produtos congelados Lacticínios Qualidade, aparência, textura . Embalagens limpas e intactas. . Pasteurizado. . Odor adocicado e suave. Temperatura interna . Veículo de transporte possui sistema de refrigeração. . Temperatura dos produtos = 5ºC. Sinais de Contaminação . Odor a azedo, ou bolor. . Rejeitar produtos com prazo de validade expirado. Alimentos Embalados Qualidade, aparência, textura . Embalagens intactas e limpas . Temperatura interna . Os alimentos congelados devem apresentar-se completamente sólidos . A haste do termómetro deve ser introduzida entre duas embalagens e não perfurar as embalagens Sinais de Contaminação . Indícios de descongelação (presença de líquidos no fundo das embalagens) . Sinais de descongelação e posterior recongelação (grande quantidade de cristais de gelo e/ou blocos de gelo nas embalagens). UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 28 de 51 Controlo de receção de produtos enlatados e secos Controlo de receção de produtos frescos Qualidade, aparência, textura . Ausência de sujidade. . Produto sem defeitos. . Sem evidencia de bolores. . Textura firme. Temperatura interna . Produtos refrigerados com temperatura entre 1 e 5ºC. . Produtos não refrigerados (e.g. bananas, tomate, batata doce, cebolas e batatas) devem apresentar uma temperatura entre 10 e 16 ºC) . Hortícolas frescos devem apresentar uma temperatura entre 1 e 5 ºC (a haste do termómetro deve ser aplicada entre duas embalagens e não no interior das mesmas. . Melões (cortados) devem apresentar uma temperatura de 5 ºC. Sinais de Contaminação . Sinais de infestação por insetos. . Falta de consistência, especto murcho e especto aquoso. . Descoloração ou manchas. . Cortes. . Rejeitar produtos com prazo de validade expirado. Alimentos Enlatados Qualidade, aparência, textura . Latas intactas e limpas Sinais de Contaminação . Latas opadas, perfuradas e/ou amolgadas . Selagem das latas violada . Rejeitar as latas sem rótulo Alimentos secos Qualidade, aparência, textura . Embalagens intactas . Embalagens secas e não danificadas Sinais de Contaminação . Embalagens húmidas e com bolores . Presença de insetos UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 29 de 51 ARMAZENAMENTO DAS MERCADORIAS Um adequado armazenamento dos alimentos é fundamental para a manutenção das condições de higiene e segurança alimentar de qualquer estabelecimento do sector da restauração. A existência de uma falha em qualquer um dos processos implementados para assegurar as condições ideais relativamente à temperatura, humidade, rotação de stocks e integridade das embalagens em que os alimentos se encontram, pode levar a que os produtos se tornem impróprios para consumo, ou provocar uma redução significativa do tempo de vida útil dos alimentos. Deste modo é muito importante a consciencialização de todos os operadores responsáveis pelas diferentes tarefas, associadas ao processo de aprovisionamento (receção, armazenamento). | REFRIGERAÇÃO A refrigeração de alimentos é um processo que permite reduzir a temperatura do alimento para valores entre 0 e 5 °C, e é utilizada para prolongara sua vida útil. Durante a refrigeração, existem alguns cuidados a ter em consideração: ✓ A arrumação dos alimentos no frigorífico deve ser organizada por grupos; ✓ Os alimentos acabados, ou prontos a comer, devem estar num nível superior relativamente aos alimentos semi-processados ou aos alimentos crus; ✓ Todos os alimentos devem encontrar-se etiquetados com a data de entrada nas respetivas câmaras, para garantir o princípio FIFO: First In, First Out - primeiro a entrar é o primeiro a sair; ✓ Todos os produtos devem estar acondicionados, em sacos transparentes ou recipientes próprios, destinados a entrarem em contacto com os alimentos, devendo estar sempre tapados com tampa, ou revestidos, com um material apropriado; ✓ As temperaturas de armazenagem devem ser controladas e registadas duas vezes por dia, devem estar entre os 0 e os 5°C. O controlo das temperaturas permite avaliar o estado de funcionamento do equipamento, detetar anomalias e evitar a deterioração de alimentos UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 30 de 51 quando os equipamentos não funcionam corretamente; ✓ Alguns produtos podem ser expostos em vitrinas refrigeradas, desde que estas estejam devidamente protegidas contra poeiras e insetos, por exemplo com portas de correr. | CONSERVAÇÃO DE CONGELADOS/ULTRACONGELADOS A conservação de congelados/ultracongelados é um processo que permite armazenar os alimentos que já foram adquiridos congelados/ultracongelados. ✓ Os produtos que se encontram nas câmaras de conservação de congelados/ultracongelados, devem estar bem-acondicionados em sacos próprios transparentes. ✓ Se houver necessidade de retirar a embalagem exterior, por risco de contaminação, deve retirar-se o rótulo que acompanha a embalagem e mantê-lo junto aos alimentos ou transpor e arquivar as suas indicações. ✓ Os alimentos congelados/ultracongelados que não são imediatamente utilizados devem, desde a sua receção, ser armazenados e mantidos a uma temperatura igual ou inferior a -12 °C ou -18 °C, respetivamente. ✓ As temperaturas de armazenagem devem ser controladas e registadas duas vezes ao dia. PREPARAÇÃO DE ALIMENTOS O setor da restauração influência de forma direta a saúde das populações, tendo o dever de proporcionar uma alimentação nutritiva, equilibrada e isenta de substâncias tóxicas. A qualidade alimentar implica requisitos especiais na preparação, confeção, manipulação de alimentos, descongelação ou ao arrefecimento. Para a preparação de alimentos é muito importante que todas as operações sejam devidamente organizadas para evitar que se comprometa a segurança e a higiene dos alimentos. Tendo em conta que a preparação ocorre à temperatura ambiente, existe uma probabilidade muito elevada da ocorrência de contaminações cruzadas. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 31 de 51 ✓ Trabalho deve ser organizado de forma a seguir o princípio de "marcha em frente": Proibido que alimentos prontos a servir se cruzem com alimentos que ainda não foram preparados. ✓ Todos os caixotes do lixo que existam no local de manipulação de alimentos têm que ser de pedal, estarem sempre fechados e revestidos com saco de plástico, devendo ser despejados frequentemente. ✓ Instalações devem ser limpas e desinfetadas imediatamente após a conclusão de cada tarefa; ✓ Manipuladores devem respeitar todas as regras de higiene pessoal; ✓ Todos os equipamentos, bancadas e utensílios devem ser cuidadosamente higienizados e desinfetados antes da preparação; ✓ Materiais devem ser utilizados apenas para uma tarefa, sendo lavados e desinfetados quando terminada; ✓ Proibido a existência de alimentos crus e confecionados na mesma bancada; ✓ Alimentos devem permanecer na zona de perigo, entre 6°C e 64°C, o menor tempo possível; ✓ Alimentos preparados devem ser colocados na câmara de refrigeração, 0°C a 5°C, devidamente acondicionados, após a sua preparação e até à sua confeção; ✓ | Preparação de Hortofrutícolas Todos os produtos hortícolas a servir crus, incluindo as ervas aromáticas (salsa, hortelã, coentros) e os frutos sem casca têm que ser obrigatoriamente bem lavados e desinfetados. 1. Rejeitar as folhas exteriores dos vegetais, são as que acumulam mais nitratos entre outros poluentes, insetos e larvas. Rejeitar também as partes velhas ou pisadas; 2. Lavar com água corrente, para remover todas a poeiras entre outros contaminantes; 3. Mergulhar tanto os frutos como os hortícolas numa solução desinfetante de cloro ativo; ✓ Diluir o produto em água numa concentração entre 0,5-1%. Deixar atuar entre 5 a 10 minutos e enxaguar com água abundante. Preparação Confeção Serviço UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 32 de 51 4. Enxaguar novamente e abundantemente com água fria corrente para garantir a total eliminação de qualquer resíduo de desinfetante; 5. Depois de lavados, desinfetados e preparados, os produtos a servir crus devem se guardados numa câmara de refrigeração, devidamente cobertos por uma película aderente; 6. Para empratar utilizar luvas e pinça. | ALIMENTOS QUE REQUEREM CUIDADOS ESPECIAIS Molhos e cremes: devem ser preparados o mais próximo possível do seu consumo; Molhos e sucos: provenientes de assados e estufados devem ser separados dos produtos proteicos (carne e peixe), devem ser mantidos a uma temperatura superior a 65ºC em lume brando ou banho maria e fervidos durante pelo menos 15 minutos imediatamente antes de serem servidos; Aves: devem ficar bem passadas, especialmente na cavidade abdominal e torácica; Produtos desfiados: devem ser desfiados a quente (> 65ºC) ou a frio (< 10ºC). Utilização de luvas descartáveis e o mais próximo possível da confeção final e distribuição da refeição. Entre o fim da confeção e o fim das operações de desfiar não deve decorrer mais de 1 hora e 30minutos. | DESCONGELAÇÃO Frequentemente ocorre que alimentos ainda congelados são cozinhados sem estarem bem descongelados. Levando a que as temperaturas no interior dos alimentos durante a confeção não atinjam valores seguros. ✓ Alimentos devem ser colocados a descongelar com a devida antecedência (no máximo 72 horas); ✓ Produtos congelados devem ser descongelados em ambiente de refrigeração, mantendo a temperatura entre 0 e 5ºC e nunca à temperatura ambiente; Evitar que o alimento esteja em contacto com o suco de descongelação, devendo-se, por isso, colocar o alimento em grelhas de plástico ou inox, ou em tabuleiros adequados, que permitam que os sucos escorram; ✓ Alimentos em descongelação devem ser cobertos com a própria tampa do recipiente, com película aderente ou com um saco de plástico transparente; UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 33 de 51 ✓ Alimentos em descongelação devem ser colocados nas prateleiras inferiores das câmaras de refrigeração; Existem dois tipos de descongelação: Produtos sempre acompanhados da respetiva rotulagem durante a descongelação. NUNCA SE DEVE RECONGELAR ALIMENTOS QUE TENHAM SIDO DESCONGELADOS CONFECÇÃO DE ALIMENTOS O tempo e a temperatura de cozedura adequados são uma forma de garantir que todos os microrganismos são destruídos durante o processo de confeção dos alimentos e na preparação de refeições seguras. ✓ Temperatura de segurança na confeção: pelo menos 75°C durante 2 minuto; ✓ Para a preparação de fritos, a temperatura dos óleos de fritura deve estar compreendida entre os 160°C e os 180°C. Se os óleos fizerem espuma ou libertarem fumos acima dos 170°C devem ser rejeitados; O alimento é descongelado no frigorífico ou na antecâmara a uma T entre os 0 e 5°C O alimento nunca deve estar em contacto com exsudadoDescongelação lenta (processo preferível) O alimento é descongelado debaixo de água corrente O alimento nunca deve estar em contacto com a água, deve estar envolvido num saco de plástico Descongelação rápida (em situação de emergência) UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 34 de 51 ✓ Reaquecimento (apenas para comida que foi sujeita a um arrefecimento em células de arrefecimento rápido e posteriormente armazenada a uma temperatura de 4°C). Reaquecer até aos 82°C, garantindo que depois da regeneração os alimentos se mantêm a temperaturas superiores aos 63°C (banho-maria ou estufa); ✓ Alimentos destinados a serem consumidos quentes devem ser mantidos a temperaturas 65°C (regular as estufas/banhos-maria para 80°C - 90°C). | ALIMENTOS SUSCETÍVEIS DE CONTAMINAÇÃO Alguns pratos são extremamente suscetíveis à contaminação, seja pela manipulação a que são sujeitos por determinados procedimentos culinários que possibilitam a ocorrência de falhas quer pelas matérias-primas que lhes dão origem. Qualquer sobremesa que incorpore cremes ou natas, não pode ser preparada no dia anterior ao seu consumo. Entre os 6° e os 64°C ZONA DE PERIGO • a 10°C pratos frios • a 65°C pratos quentes ZONA DE SEGURANÇA Feijoada Salsichas frescas Chouriço mouro Alheiras Morcelas Cozido à portuguesa Rancho Almôndegas UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 35 de 51 Ovos: ✓ Reduzir ao máximo o tempo de permanência dos ovos na cozinha; ✓ Trazer para a cozinha apenas o número de ovos necessários; | ARREFECIMENTO DE ALIMENTOS CONFECIONADOS Após a confeção, os alimentos que não são consumidos de imediato devem ser arrefecidos o mais rapidamente possível até aos 5 °C, sendo que o tempo de arrefecimento não deverá exceder as 2 horas. Durante esta operação, os alimentos devem ser protegidos de qualquer contaminação, devendo estar acondicionados em recipientes fechados ou revestidos com um material apropriado. São vários os métodos que podem ser utilizados no arrefecimento dos alimentos, como por exemplo: ✓ Dividir o produto em porções mais pequenas; ✓ Utilizar equipamento específico, que promova um rápido arrefecimento (ex. abatedores de temperatura); ✓ Colocar os alimentos, devidamente protegidos, num banho com água fria e gelo, devendo mexer frequentemente os alimentos enquanto arrefecem. | AQUECIMENTO DE ALIMENTOS PRÉ-CONFECIONADOS À semelhança do que sucede na confeção, o aquecimento dos alimentos deve ser concebido, a fim de preservar ao máximo o seu valor nutritivo e tendo em atenção alguns cuidados: ✓ Antes de reaquecer os alimentos, deve pré-aquecer o equipamento. ✓ O reaquecimento deve ser efetuado por forma a que seja atingida uma temperatura de 65 °C, no interior do alimento (centro térmico). ✓ Os alimentos reaquecidos deverão chegar ao consumidor o mais rapidamente possível, e a uma temperatura mínima de 65 °C, a não ser que sejam mantidos quentes em equipamento adequado (exemplo: banho-maria ou estufa); ✓ O reaquecimento dos alimentos deverá ser efetuado o mais próximo possível da hora da sua UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 36 de 51 distribuição, de forma a manter a qualidade organolética e nutricional, e só deve ser efetuado uma única vez. | APROVEITAMENTO DE ALIMENTOS – SOBRAS As sobras consistem em alimentos que foram confecionados em excesso, mas não chegaram a ser servidos ao consumidor final. Assim, determinados alimentos frios, sobremesas e alimentos cozinhados, que não chegaram a ser servidos, mas foram imediatamente refrigerados, podem ser conservados a uma temperatura de 0 a 5 °C e serem utilizados mais tarde. ✓ Nestes casos, deve-se colocar uma etiqueta, com a sua constituição e data de preparação/confeção. ✓ Todos os alimentos confecionados que tenham estado expostos por um período de tempo superior a 2 horas, a uma temperatura inferior aos 65°C, têm que ser eliminados. TODOS OS ALIMENTOS REAQUECIDOS E NÃO CONSUMIDOS TAMBÉM TÊM QUE SER ELIMINADOS | SELF SERVICE ✓ A zona utilizada pelo consumidor deve estar sempre limpa; ✓ Deve possuir os meios técnicos adequados para manutenção dos produtos alimentares nas melhores condições; ✓ Nunca aproveitar alimentos reaquecidos; ✓ Temperatura interna do alimento adequada, de modo a garantir a segurança alimentar (Pratos quentes T ≥65°C, Pratos frios T<5°C); | EXPOSIÇÃO E VENDA DOS ALIMENTOS ✓ Deve ser mantida a separação física entre alimentos crus, prontos a consumir e cozinhados, de modo a evitar contaminações cruzadas. ✓ Na exposição de produtos como carne fresca, pescado, produtos cárneos ou lácteos, não UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 37 de 51 devem ser utilizados produtos (hortícolas ou outros) que para decoração, entrem em contacto direto com o produto. ✓ Os produtos não embalados que sejam expostos em câmaras de refrigeração devem ser devidamente acondicionados em recipientes de material adequado para o efeito. ✓ No que respeita aos produtos de pastelaria, a sua exposição deve ser feita, para além de protegida de poeiras e insetos, a temperaturas controladas; ✓ Os chocolates devem ser mantidos a uma temperatura entre 15 e 18ºC, para evitar alterações de características e coloração; ✓ Os produtos com creme devem ser mantidos a temperaturas entre os 4 e os 6ºC. ✓ Os equipamentos de exposição/venda devem estar munidos de indicadores de temperatura, sendo esta controlada com equipamentos independentes. ✓ Os equipamentos devem ter uma linha de reposição máxima que deve ser respeitada, de modo a que eventuais sobrecargas não prejudiquem a conservação dos alimentos. | ÓLEOS DE FRITURA Na confeção de alimentos deve ter-se em atenção a possibilidade de contaminações químicas através do próprio processo de confeção. ✓ Não ultrapassar as temperaturas máximas da fritura, evitar superar os 180ºC; ✓ Realizar sempre a filtração do óleo após cada utilização e arrefecimento, para remover as partículas de resíduos de alimentos; ✓ Não utilizar a mesma gordura para fritar alimentos com características diferentes ✓ Proteger os óleos do contacto do ar e da luz, tapando-os uma vez finalizado o processo; ✓ Esvaziar e limpar as cubas das fritadeiras após cada utilização, devendo se corretamente cobertas quando não estão a ser utilizadas. Características que indicam a degradação de um óleo: ✓ Odor: queimado, irritante e penetrante; ✓ Cor: escura e turva; ✓ Elevada formação de fumos a 170ºC; ✓ Formação de espuma em elevada quantidade e persistente, com pequenas bolhas. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 38 de 51 Em caso de dúvida relativamente ao estado do óleo deve analisar-se o óleo com a ajuda de um teste colorimétrico. Óleo alimentar em utilização, ou seja, em fritura, que apresentem um resultado de 25% ou superior na medição dos compostos polares (Decreto-Lei n.º 240/94) é considerado CRIME (prisão até 18 meses e multa não inferior a 50 dias, Decreto-Lei n.º 28/84). | RECOLHA DE AMOSTRAS PARA ANÁLISE MICROBIOLÓGICA Procedimento geral: 1. Identificar os sacos da recolha (data, refeição, prato); 2. Recolhidas amostras de todos os pratos propostos na unidade naquela data - refeitório, snack, refeições rápidas, restaurante; 3. Lavar e desinfetar as mãos antes de proceder à recolha; 4. Logo após a conclusão da confeção retirar com uma pinça limpa cerca de 150 g do prato pronto a servir e colocar no saco preparado para a recolha; 5. Manter as amostras na congelação durante 72 horas. Esta tarefa está a cargo da cozinheira ou, na ausência desta,de quem confecionou a refeição. Estas amostras servem como comprovativo se alguma intoxicação alimentar ocorreu na unidade. | RASTREABILIDADE Capacidade de detetar a origem e seguir o percurso do género alimentar ao longo de todas as fases de produção, transformação, distribuição e comercialização. ✓ Todas as matérias-primas armazenadas na unidade têm que estar corretamente identificadas; ✓ Rastreabilidade é assegurada pela informação presente no rótulo de origem; Rastreabilidade de Alimentos confecionados: obrigatório guardar o rótulo ou embalagem dos produtos suscetíveis: ✓ Carne; ✓ Pescado; ✓ Ovo produtos; UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 39 de 51 ✓ Laticínios; ✓ Enlatados; ✓ Transformados; ✓ Charcutaria. Rastreabilidade de Alimentos encetados: ✓ Produtos de charcutaria; ✓ Laticínios; ✓ Ovo produtos; ✓ Condimentos; ✓ Frutos secos; ✓ Enlatados. NOÇÕES DE LIMPEZA E DESINFECÇÃO A limpeza é uma operação extremamente importante. Contudo, é um assunto sobre o qual consideramos frequentemente que já sabemos tudo, pois realizamos esta operação várias vezes durante o dia. LIMPEZA E DESINFECÇÃO As operações de limpeza e desinfeção, por vezes também designadas por higienização, têm por finalidade assegurar que nos locais onde se manipulam, preparam e confecionam alimentos não existem micróbios, ou que, se existirem, seja na menor quantidade possível. Quando limpamos, removemos a sujidade, restos de alimentos, gorduras ou outro tipo de detritos. Quando desinfetamos, eliminamos micróbios, invisíveis aos nossos olhos, e que, portanto, resistiram à limpeza. Rótulos e Embalagens conservados nas 72 horas após a confeção/distribuição do alimento, registando-se a data de utilização bem como a refeição correspondente Identificados com o rótulo respetivo, sendo registada a data de abertura da embalagem UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 40 de 51 Uma boa limpeza compreende as etapas seguintes: 1 – eliminar a sujidade incrustada; 2 – lavar com água morna, à qual se adicionou um detergente; 3 – enxaguar com água quente; 4 – se necessário, desinfetar e enxaguar abundantemente com água limpa e potável. O QUE É NECESSÁRIO DESINFECTAR? Tudo o que estiver em contacto com as mãos, como por exemplo, as facas, as colheres, as bancadas, etc. Todas as superfícies que contactam com os alimentos quer no armazém, quer durante a preparação ou confeção dos alimentos. Todo o equipamento e utensílios, os quais deverão ser desinfetados periodicamente e não apenas após a sua utilização. A desinfeção não deve ser feita a não ser que seja verdadeiramente necessária. COMO DESINFECTAR? O desinfetante deve ser o indicado para cada situação. O tempo de ação do produto deve ser o indicado. Antes de desinfetar, é necessário lavar convenientemente. Na presença de sujidade, a desinfeção não é eficaz e a ação do desinfetante será em grande parte descativada. A quantidade de desinfetante a utilizar deve respeitar a dosagem prescrita para cada situação. A temperatura da água na qual o desinfetante é diluído não pode ser demasiado elevada para não descativar o produto. TRATAMENTO DA LOUÇA A louça merece uma atenção especial. Há necessidade de se tomarem precauções durante o tratamento da loiça que vem da sala de refeições. Para evitar um dos maiores perigos – que consiste nas contaminações cruzadas –, o UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 41 de 51 transporte da louça e dos restos de comida deve ser organizado de forma a evitar o cruzamento com louça limpa. Todos os que aí trabalham devem conhecer os percursos da louça limpa e da suja. ✓ Na copa suja (o local destinado à lavagem da louça e dos utensílios) os restos de alimentos que ficam nos pratos devem ser rapidamente despejados para os recipientes do lixo. ✓ Toda a louça que se encontre danificada (por exemplo rachada, lascada) deverá ser substituída. ✓ A lavagem da louça deverá ser realizada na máquina de lavar. ✓ Uma máquina da louça corretamente regulada é geralmente mais rápida, económica e higiénica. o As instruções de funcionamento devem ser claras e estar, de preferência, afixadas. o As temperaturas da água, do ar, o dispositivo de doseamento, etc. deverão ser aferidos periodicamente. ✓ Quando for necessário lavar alguns utensílios à mão, a água que se utiliza deve estar muito quente e limpa. o Primeiro procede-se à lavagem da louça numa solução a cerca de 40° C e depois deve- se passá-la por água muito quente e limpa. o A água deve ser mudada frequentemente e não se deve deixá-la estagnada no lava- louça. ✓ A louça e os utensílios devem secar ao ar. Não se deve utilizar panos para secar a louça. Os panos são uma das maiores fontes de propagação de microrganismos. ✓ É necessário fazer uma distinção correta entre a louça limpa e a suja. Deve estar previsto um local separado para se colocar quer a louça limpa quer a suja. PLANO DE LIMPEZA E DESINFECÇÃO Em cada estabelecimento deve haver um plano de limpeza e desinfeção, do qual conste: ✓ o que deve ser limpo e desinfetado; ✓ quando deve ser limpo e desinfetado; ✓ como deve ser limpo e desinfetado; ✓ quem deve limpar e ou desinfetar. Os planos de limpeza e desinfeção, bem como as fichas de registo devem ser afixados em locais de boa visibilidade e acessibilidade, de modo a serem cumpridos e respeitados. UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 42 de 51 Os produtos de limpeza devem estar armazenados em locais fechados e identificados, separados dos produtos alimentares. Estes produtos deverão ser guardados sempre nas suas embalagens de origem, no entanto, se for necessário transferi-los para outros recipientes, estes terão de ser identificados com rótulos. Em nenhum caso é possível utilizar embalagens de produtos de limpeza e outros produtos químicos para guardar alimentos e vice-versa. HIGIENE DOS UTENSÍLIOS Os utensílios, por terem contacto direto com os alimentos requerem uma preocupação permanente dos manipuladores. Assim sendo, há vários aspetos que se devem ter em conta/ quando procedemos à manipulação dos alimentos com os utensílios de cozinha. Deve ter-se sempre em atenção, que os utensílios, se não estiverem nas melhores condições de higiene podem ser focos de proliferação microbiana, podendo dar origem a contaminações cruzadas. A utilização de materiais em madeira deve ser evitada. Relativamente a cada um dos utensílios, existem requisitos específicos: | FACAS ✓ Devem, sempre que possível, possuir cabos em materiais não porosos para facilitar a limpeza. Após qualquer manipulação entre alimentos diferentes deve ter-se o cuidado de as higienizar corretamente. ✓ As facas para alimentos cozinhados devem destinar-se exclusivamente a esse fim, sendo estas devidamente desinfetadas após cada utilização. ✓ Para a preparação de alimentos crus devem existir, preferencialmente, facas diferentes para cada família: as carnes, os peixes, os vegetais, etc. | PLACAS DE CORTE Devem ser sempre de materiais não porosos para não permitir que os resíduos de alimentos aí se acumulem e permitir uma melhor eficácia na limpeza. ✓ Devem existir de placas individuais para cada tipo de alimento UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 43 de 51 ✓ As placas de corte para alimentos cozinhados devem destinar-se, exclusivamente, a esse fim, sendo estas devidamente desinfetadas após cada utilização. ✓ Para a preparação de alimentos crus devem existir preferencialmente placas de cores diferentes para cada família: as carnes/ os peixes/ etc. | CONCHAS, COLHERES,GARFOS E DEMAIS UTENSÍLIOS DE PREPARAÇÃO DE ALIMENTOS ✓ Todos estes materiais devem ser preferencialmente em aço inox. ✓ Estes utensílios, após a sua limpeza, devem ser colocados em gavetas perfeitamente limpas ou em qualquer outro local ao abrigo de contaminações. ✓ Quando utilizados para alimentos cozinhados devem ser sempre desinfetados, antes da sua utilização Todo o equipamento deve ser cuidadosamente lavado após cada utilização, para garantir que não exista a possibilidade de restar alguma partícula do alimento cozinhado. HIGIENE DA PRODUÇÃO A higiene da produção está relacionada com a escolha de matérias-primas, com o seu armazenamento, preparação e confeção, que será abordada no tópico referente às “BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO E FABRICO”. CONTROLO DE PRAGAS O Regulamento (CE) nº 852/2004 de 29 de abril (e suas alterações) obriga à existência de procedimentos para controlar estes surtos. Porém não é só por ser um pré-requisito do Sistema HACCP que deve existir um plano de controlo de pragas. Os principais motivos prendem-se com a prevenção de doenças, de acidentes (como fogos e inundações causadas por mordidas de roedores), de contaminação de alimentos (larvas ou excrementos de insetos, por exemplo), servindo também para evitar a perda de clientes (devido à venda de alimentos contaminados por pragas ou às más condições de higiene do estabelecimento). UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 44 de 51 O estabelecimento deve possuir um plano de controlo de pragas que assegure a prevenção, deteção e eliminação das mesmas. TIPO DE PRAGAS O controlo de pragas pode apresentar duas vertentes: preventiva e destrutiva. A vertente preventiva do controlo de pragas tem o objetivo de prevenir a entrada de qualquer tipo de pragas no interior do estabelecimento. Engloba medidas simples da responsabilidade dos colaboradores do estabelecimento. Seguem-se alguns exemplos de medidas preventivas que devem ser tidas em consideração: ✓ Inspecionar as matérias-primas na sua receção, de modo a minimizar a probabilidade de ocorrência de uma infestação; ✓ Inspecionar, periodicamente, as áreas mais suscetíveis de reter humidade, a fim de evitar todos os focos de aparecimento de pragas; ✓ Em alguns casos pode haver a necessidade do uso de iscos ou outros produtos, no exterior do estabelecimento, de modo a evitar a entrada de pragas; ✓ Colocar inseto caçadores junto das portas com acesso ao exterior que deverão estar em Tipo de pragas Roedores Rastejantes insetos voadores Aves Outros Exemplos ratos, ratazanas baratas, formigas moscas, mosquitos, traças pombos, pardais cães, gatos UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 45 de 51 funcionamento contínuo; ✓ Quando existam, manter fechados os reservatórios de água, depósitos e cisternas; ✓ Cumprir o plano de higienização das instalações e equipamentos; ✓ Nas zonas de armazenagem e de manipulação de alimentos, caso existam janelas, estas devem estar protegidas com redes mosquiteiras que impeçam a entrada de animais, facilmente amovíveis para facilitar a sua higienização; ✓ Evitar a acumulação de restos de alimentos em qualquer área ou superfície de trabalho; ✓ Ter os contentores do lixo tapados e limpos diariamente; ✓ Elaborar um Plano de Controlo de Pragas PLANO DE CONTROLO DE PRAGAS O plano de controlo de pragas deve fornecer informações precisas sobre: ✓ Empresa subcontratada: nome e frequência dos serviços contratados, identificação dos produtos utilizados, fichas técnicas, de segurança e respetivas aprovações por organismos oficiais competentes ✓ Ocorrências ao nível da deteção ou existência de indícios de pragas; ✓ Localização de incesto-caçadores de insetos e das estações de iscos para roedores ou insetos rastejantes; ✓ Relatórios de intervenção emitidos pela empresa subcontratada: identificação das pragas detetadas e respetiva localização, local da aplicação dos produtos utilizados, caracterização dos produtos (nome, dosagem). O cumprimento das medidas de caráter preventivo, revelam-se muito mais eficazes e económicas do que as medidas de caráter destrutivo, que são acionadas quando é necessário eliminar pragas já existentes no estabelecimento. | PROCEDIMENTO EM CASO DE INFESTAÇÃO Caso haja uma infestação no estabelecimento deve proceder-se da seguinte forma: UFCD 3296 – Higiene e Segurança Alimentar – Manual de Formação Página 46 de 51 ✓ Identificar a(s) praga(s) em causa; ✓ Identificar quais as áreas em que se evidenciou e problemas associados; ✓ Concluir acerca do tipo de método de intervenção que irá ser adotado; ✓ Verificar a existência de produtos contaminados e consequente destruição; ✓ Avaliar a necessidade de encerrar o estabelecimento para desinfestação; ✓ Estabelecer a ação corretiva de modo a evitar que a situação seja recorrente; ✓ Ponderar a necessidade dos serviços de uma empresa externa de controlo de pragas. Os produtos utilizados na desinfestação têm que ser compatíveis com o setor alimentar, sendo obrigatória a manutenção das respetivas fichas técnicas. No caso de utilização de iscos tóxicos, pela sua perigosidade, é necessário um cuidado especial. Quando se procede à desinfestação de um estabelecimento deve ter-se a preocupação de proteger todos os materiais que contactam com os alimentos, assim como efetuar uma limpeza e desinfeção rigorosas de todo o estabelecimento e materiais antes do contacto destes com os alimentos. INTRODUÇÃO À APLICAÇÃO DO APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo Através de uma correta higiene alimentar e boas práticas na manipulação dos alimentos, bem como, de bons hábitos alimentares, consegue-se assegurar um estado pleno de saúde dos manipuladores e dos consumidores. Hoje em dia, todos os estabelecimentos de produção e manipulação de produtos alimentares
Compartilhar