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AULA 1 AUDITORIA TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA Profª Sayuri Unoki de Azevedo 2 TEMA 1 – AUDITORIA INTERNA E AUDITORIA EXTERNA A auditoria consiste em analisar, de forma global, todas as transações realizadas pela organização. Isso significa dizer que, ao auditor, compete analisar um grupamento de contas contábeis e não um aspecto específico como faz o perito. Isso se deve ao fato de que determinado setor da empresa certamente afetará outros setores correlacionados (Bdo Trevisan, 2007). A origem da palavra Auditoria vem do latim audire, e significa ouvir. Ferreira (2010) descreve a auditoria como uma “avaliação independente dos processos ou atividades de uma empresa, com o intuito de verificar se estão de acordo com recomendações ou normas predefinidas”. Existem dois tipos de auditoria que podem ser realizadas em uma organização: (1) Auditoria Interna e (2) Auditoria Externa. O trabalho realizado em ambos os tipos de auditoria consiste em, por meio das mesmas técnicas de auditoria, realizar exames em relação ao objeto do trabalho e sugerir melhorias para as deficiências encontradas. Além disso, tanto a Auditoria Interna como a Auditoria Externa “modificam a extensão de seu trabalho de acordo com as suas observações e a eficiência dos sistemas contábeis e de controles internos existentes” (Portal de Contabilidade, 2017). Especificamente, conforme a NBC TI 01: A Auditoria Interna compreende os exames, análises, avaliações, levantamentos e comprovações, metodologicamente estruturados para a avaliação da integridade, adequação, eficácia, eficiência e economicidade dos processos, dos sistemas de informações e de controles internos integrados ao ambiente, e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à administração da entidade no cumprimento de seus objetivos. A Auditoria Interna atua mais como uma forma de controle administrativo para auxílio de verificação de procedimentos e conformidade de normas e legislações, ou seja, eficiência e eficácia de controles internos (Portal de Contabilidade, 2019). A Auditoria Interna também visa auxiliar a gestão da organização e, o exame analítico pode ser realizado em diferentes perspectivas, inclusive para a Auditoria Trabalhista e Previdenciária. A Auditoria Externa, por sua vez, também pode ser denominada Auditoria Independente, pois consiste na verificação patrimonial e financeira de uma organização, realizada por um profissional independente à esta (Portal de Contabilidade, 2017). O auditor independente, portanto, examina as 3 Demonstrações Contábeis de determinada organização e emite sua opinião se estas estão adequadas, ou seja, se refletem adequadamente a situação patrimonial e financeira da empresa auditada (Almeida, 2010). A Auditoria Externa, normalmente, é solicitada por investidores ou por legislações específicas que exigem auditoria externa contábil para determinadas organizações. Portanto, a auditoria externa consiste em análise das Demonstrações Contábeis de determinada organização, verificando se estão adequadas, se necessita de ajustes ou se existem erros. TEMA 2 – AUDITORIA TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA A auditoria trabalhista e previdenciária consiste em uma ferramenta de extrema importância para a gestão organizacional que verifica a adequabilidade dos documentos que precisam estar à disposição da administração em caso de necessidade, certificando que cada procedimento é realizado de forma correta e confiável (Perez Junior et al., 2011). A auditoria trabalhista e previdenciária visa, portanto, revisar os documentos, cálculos e todos os procedimentos que são executados na organização, desde que relacionados à contratação, à permanência e até ao desligamento de um colaborador (Attie, 1986). Segundo dados do Tribunal Superior do Trabalho, as três atividades mais recorrentes de ações na Justiça do Trabalho são Indústria, Serviços diversos e o Comércio, nessa ordem. Considerando-se todas as instâncias, as matérias mais comuns das ações recebidas na Justiça do Trabalho são Aviso Prévio, Multa do Artigo n. 477 da CLT e Multa de 40% do FGTS. Contudo, ao considerar apenas o TST, os assuntos mais recorrentes são Horas Extras, Negativa de Prestação Jurisdicional e Transcendência (TST, 2018). Nesse sentido, a auditoria trabalhista e previdenciária é fator preventivo fundamental, pois qualquer erro na área trabalhista pode trazer danos enormes para a organização, inclusive na esfera financeira, podendo gerar multa e processos judiciais. Muitas vezes, nos casos em que o funcionário se sente injustiçado ou enganado, este pode solicitar, via Ministério do Trabalho e Justiça, a revisão de seus direitos, independentemente dos motivos pelos quais seus direitos não foram pagos conforme a lei (Perez Junior et al., 2011). Oliveira (2012) relata que os passivos trabalhistas ocorrem pela a falta do conhecimento jurídico das empresas nas mais diferentes esferas trabalhistas. 4 Diante disso, as organizações possuem na auditoria uma aliada para a revisão de seus processos na busca pela conformidade com as legislações e normas vigentes, na prevenção de multas e processos e, consequentemente, prevenindo passivos trabalhistas futuros. TEMA 3 – PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES LEGAIS TRABALHISTAS A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) surgiu pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, sancionada por Getúlio Vargas, então presidente do Brasil. Chamada consolidação e não código, justamente pela importância em unificar toda a legislação trabalhista existente no Brasil, consolidando-a. Resultado de mais de 10 anos de trabalho, desde a criação da Justiça do Trabalho em 1939, o principal objetivo da CLT é a regulamentação das relações individuais e coletivas do trabalho nela previstas, de forma a atender à necessidade de proteção do trabalhador. Com a CLT, surge o termo celetista para denominar os trabalhadores que possuem registro em carteira de trabalho, diferindo-os dos profissionais autônomos, dos servidores públicos estatutários e dos microempreendedores individuais (Zanluca, 2017). A CLT foi modificada ao longo do tempo para contemplar as necessidades relacionadas ao trabalho no Brasil, incluindo as alterações com a Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017, e a Lei n. 13.874, de 20 de setembro de 2019. A legislação trabalhista é o conjunto de leis e normas que visam regulamentar as atividades trabalhistas, abordando os direitos e obrigações do trabalhador e do empregador. Pode-se analisar a legislação trabalhista sob duas instâncias: no direito individual (direitos particulares do empregador ou trabalhador) e no direito coletivo (sindicato). Quando o trabalhador conhece os seus direitos, pode exigir efetivamente o cumprimento destes, por meio de reclamatória trabalhista. Uma relação trabalhista precisa ser voluntária (não pode ser forçada), ser retribuível (o trabalhador deve ser retribuído, tem um pagamento como contrapartida de seu trabalho), dependente (as partes devem ser dependentes uma da outra, sendo o trabalhador dependente do salário e o empregador dependente do esforço/trabalho do empregado) (Que Conceito, 2020). 5 3.1 Jornada de trabalho, descanso e trabalho noturno A seção II da CLT (artigos 58 ao 65) trata da jornada de trabalho, sendo relevante destacar: Art. 58 - A duração normal do trabalho, para os empregados em qualquer atividade privada, não excederá de 8 (oito) horas diárias, desde que não seja fixado expressamente outro limite. Art.59 - §2º - Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horasdiárias. Empregados horistas, diaristas e mensalistas: Art. 58-A - Considera-se trabalho em regime de tempo parcial aquele cuja duração não exceda a trinta horas semanais, sem a possibilidade de horas suplementares semanais, ou, ainda, aquele cuja duração não exceda a vinte e seis horas semanais, com a possibilidade de acréscimo de até seis horas suplementares semanais. §1º - O salário a ser pago aos empregados sob o regime de tempo parcial será proporcional à sua jornada, em relação aos empregados que cumprem, nas mesmas funções, tempo integral. Jornadas de trabalho com horários diferenciados: Art. 59-A - Em exceção ao disposto no art. 59 desta Consolidação, é facultado às partes, mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, estabelecer horário de trabalho de doze horas seguidas por trinta e seis horas ininterruptas de descanso, observados ou indenizados os intervalos para repouso e alimentação. Horas extras: Art. 59 - §1 - A remuneração da hora extra será, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) superior à da hora normal. § 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. A seção III da CLT (artigos 66 ao 72) trata do período de descanso, sendo destacados os trechos a seguir: • Descanso Intrajornada: "entre 2 (duas) jornadas de trabalho haverá um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso." (Art. 66) • Intervalo para almoço: Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis) horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo 6 escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas. Cabe aqui, porém, salientar a inclusão feita pela Lei n. 13.467/2017 em seu Art. 611-A e seu item III: Art. 611-A - A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre (...) III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas. Descanso Semanal Remunerado - DSR: Art. 67 - É assegurado a todo empregado um repouso semanal remunerado de vinte e quatro horas consecutivas, preferencialmente aos domingos. Parágrafo único - Nos serviços que exijam trabalho aos domingos, com exceção quanto aos elencos teatrais, será estabelecida escala de revezamento, mensalmente organizada e constando de quadro sujeito à fiscalização. Por fim, o Art. 73, seção IV da CLT, trata da jornada de trabalho noturna: Art. 73 - Salvo nos casos de revezamento semanal ou quinzenal, o trabalho noturno terá remuneração superior a do diurno e, para esse efeito, sua remuneração terá um acréscimo de 20 % (vinte por cento), pelo menos, sobre a hora diurna. § 1º - A hora do trabalho noturno será computada como de 52 minutos e 30 segundos. § 2º - Considera-se noturno, para os efeitos deste artigo, o trabalho executado entre as 22 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte. 3.2 Remuneração ou salário? Martins (2009, p. 212) define remuneração como: O conjunto de prestações recebidas habitualmente pelo empregado pela prestação de serviços, seja em dinheiro ou em utilidades, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades básicas e de sua família. A remuneração é composta de: Horas Extras; Adicional Noturno; Adicional de Periculosidade; Adicional de Insalubridade; Descanso Semanal Remunerado; Comissões; Prêmios habituais; Gratificações (a partir da segunda gratificação); Gorjetas; Ajuda de Custo habitual. O Salário, por sua vez, é um dos tipos de remuneração, sendo especificamente a contraprestação devida ao empregado pela prestação de serviços, em decorrência do contrato de trabalho (Que Conceito, 2020). A empresa pode adiantar o salário dos empregados, realizando o pagamento até o 15º dia útil e limitado a 50% do salário do empregado. 7 No momento do adiantamento, registra-se contabilmente um Débito em conta de Adiantamento de salário, com contrapartida de um Crédito no Caixa/Banco. No momento do lançamento em conta de salários a pagar, por competência, realizar-se-á um Débito em conta de salários a pagar, tendo como contrapartida o adiantamento lançado anteriormente, com um Crédito em conta de Adiantamento de Salário. 3.3 Imposto de renda pessoa física O imposto de renda pessoa física (IRPF) é um imposto federal brasileiro que incide sobre o ganho do empregado, quando ultrapassado um valor mínimo de remuneração (Receita Federal, 2020). O IRPF é retido na fonte como uma forma de antecipação do pagamento e é cobrado pela Receita Federal. A empresa deve realizar o desconto do imposto (obrigatório) mensalmente diretamente no salário do trabalhador e repassar para a Receita Federal. O valor a ser descontado depende do valor da base de cálculo para fins de imposto de renda, incidindo sobre esta as alíquotas correspondentes na Tabela 1. Tabela 1 – incidência mensal a partir do mês de abril do ano-calendário de 2015 Base de cálculo mensal (em R$) Alíquota % Parcela a deduzir do imposto (em R$) Até 1.903,98 – – De 1.903,99 até 2.826,65 7,5 142,8 De 2.826,66 até 3.751,05 15 354,8 De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13 Acima de 4.664,68 27,5 869,36 Fonte: Receita Federal, 2020. Observa-se que a base de cálculo não corresponde ao valor do salário do empregado, como veremos nas próximas aulas. Saiba mais Base de cálculo: R$ 3.500,00 1º– Cálculo da alíquota (15%): R$ 3.500,00 X 15% = R$ 525,00 2º– Dedução da parcela: R$ 525,00 - R$ 354,80 = R$ 170,20 RESULTADO: Imposto a ser retido do salário = R$ 170,20 8 3.4 Faltas e atrasos injustificados O empregado que não cumpre seu horário integral da semana pode ter descontado o valor correspondente ao descanso semanal remunerado. Isso ocorre em casos em que não há, por parte do trabalhador, justificativa da falta ou atraso, conforme estabelecido no artigo 11 do decreto n. 27.048/49: “Art. 11 – Perderá a remuneração do dia de repouso o trabalhador que, sem motivo justificado ou em virtude de punição disciplinar, não tiver trabalho durante toda a semana, cumprindo integralmente o seu horário de trabalho”. Observa-se que o trabalhador perde o valor do DSR da semana em que tiver faltas ou atrasos injustificados, independentemente da quantidade que possuir na semana. No caso das férias e do décimo terceiro, os descontos seguem a regra do artigo 58 e Parágrafo 1º da CLT: "Não serão descontadas nem computadas como jornada extraordinária as variações de horário no registro de ponto não excedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de dez minutos diários”. Além disso, o artigo 473 da CLT estabelece as demais condições em que o empregado poderá deixar de comparecer ao trabalho sem prejuízo do salário. 3.5 Vale-transporte Conforme o parágrafo único do art. 4º da Lei n. 7.418/85 e inciso I do art. 9º do Decreto n. 95.247/87, o vale-transporte deve ser custeado tanto pelo empregado como pelo empregador: Lei 7.418/85 Art. 4º - A concessão do benefício ora instituído implica a aquisição pelo empregador dos Vales-Transporte necessários aos deslocamentos do trabalhador no percurso residência-trabalho e vice- versa, no serviço de transporte que melhor se adequar. Parágrafo único - O empregador participará dos gastos de deslocamento do trabalhador com a ajuda de custo equivalente à parcela que exceder a 6% (seis por cento) de seu salário básico. Decreto 95.247/87 Art. 9°O Vale-Transporte será custeado: I - pelo beneficiário, na parcela equivalente a 6% (seis por cento) de seu salário básico ou vencimento, excluídos quaisquer adicionais ou vantagens; II - pelo empregador, no que exceder à parcela referida no item anterior. Saiba mais No momento do adiantamento: Débito – Adiantamento de vale-transporte Crédito – Banco 9 No final do mês, por competência: Débito – Salários a Pagar (correspondente a 6% - parte empregado) Débito – Despesa com vale-transporte (excedente da parcela do empregado - parte empregador) Crédito – Adiantamento de vale-transporte Para fins de utilização de deslocamento para o local de trabalho e retorno para residência, o trabalhador deverá receber o vale-transporte adiantado. Diante disso, a contabilidade da empresa realizará os lançamentos exibidos na caixa “saiba mais” acima. O vale-transporte, concedido nas condições e limites definidos no artigo 2º da Lei n. 7.418/1985, no que se refere à contribuição do empregador, a) não tem natureza salarial, nem se incorpora à remuneração para quaisquer efeitos; b) não constitui base de incidência de contribuição previdenciária ou de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço; c) não se configura como rendimento tributável do trabalhador. 3.6 Vale-alimentação O empregador não é obrigado por lei a conceder o benefício do vale-refeição ou do vale-alimentação, a menos que este esteja previsto no contrato de trabalho ou na convenção coletiva. No entanto, conforme o artigo 458 da CLT, uma vez concedido pelo empregador, quando não é feito desconto de nenhum percentual do trabalhador, o benefício passa a ter natureza salarial e é incorporado ao salário para todos os efeitos legais, ou seja, refletindo também no pagamento das obrigações tributárias (INSS, FGTS etc.) e das verbas trabalhistas. Em caso de desconto, este não pode exceder a 20% (vinte por cento) do salário-contratual, de acordo com a CLT, art. 458, Parágrafo 3º. Somente não está obrigada de efetuar o desconto do trabalhador a empresa que estiver inscrita no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), desde que o benefício concedido ao trabalhador não seja dado em espécie (dinheiro). Contudo, a empresa que não participar do Programa deverá fazer o recolhimento do FGTS e INSS sobre o valor do benefício concedido para o trabalhador. Observa-se que outros tópicos correspondentes à legislação trabalhista não foram passíveis de serem tratados apenas neste capítulo, como férias (CLT arts. 129,134,136 e 137; CF art. 7º; art. 28 da Lei 8.212/91; Art. 15 da Lei n. 10 8.036/90 e IRRF - Ato Declaratório Interpretativo RFB nº 28/09), Décimo Terceiro (gratificação natalina instituída no Brasil no ano de 1962), dentre outros. Contudo, todos os pontos devem ser atentados pelo auditor trabalhista e previdenciário. TEMA 4 – PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES LEGAIS PREVIDENCIÁRIAS A principal base do Direito Previdenciário é a Constituição Federal (CF) de 1988, que estabelece, em seu artigo 201: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. Visando direcionamento ao que precisará ser de conhecimento do auditor para realização de seu trabalho, não serão contemplados os direitos dos segurados conforme o Regime Geral da Previdência, e sim, tratar-se-á de como ocorre o financiamento da Seguridade Social e das principais obrigações da empresa e do empregado. Importante: a base de cálculo da contribuição previdenciária é o salário de contribuição. Tal denominação decorre do fato de que alguns trabalhadores não possuem salário, como o exemplo dos profissionais autônomos. É sobre o salário de contribuição que incidirão as alíquotas da contribuição previdenciária. 4.1 Contribuição previdenciária do empregado Na folha de pagamentos, consta o valor descontado de cada um dos funcionários a título de contribuição previdenciária, cujo total permanecerá retido pela empresa (registrada no passivo na conta contribuições previdenciárias a recolher), para futuro recolhimento, obedecido o prazo legalmente concedido (Pagamento até o dia 20 do mês subsequente. Se não houver expediente bancário neste dia, o recolhimento deve ser antecipado para o dia útil anterior). O valor a ser recolhido depende do salário de contribuição do empregado, conforme mostra a Tabela 2. 11 Tabela 2 – Alíquotas da contribuição para a Previdência Social (01/01/2020 a 29/02/2020) Tabela Empregado, Empregado Doméstico e Trabalhador Avulso 01/01/2020 a 29/02/2020 Salário de Contribuição (R$) Alíquota Até R$ 1.830,29 8% De R$ 1.830,30 a R$ 3.050,52 9% De R$ 3.050,53 a R$ 6.101,06 11% Fonte: Brasil Brasil, 2020. A base para cálculo de contribuição previdenciária inclui: férias e 1/3 de férias, exceto o abono pecuniário; décimo terceiro; diária de viagem; hora extra; comissão e gratificações; aviso prévio; adicional de insalubridade ou de periculosidade. Contudo, o valor de contribuição está limitado a R$ 671,11 até 2019 (11% de R$ 6.101,06). A partir de março de 2020, as alíquotas serão progressivas conforme salário do empregado. Para o Regime Geral de Previdência Social, as alíquotas serão compostas conforme a Tabela 3: Tabela 3 – Alíquotas para o RGPS (a partir de 01/03/2020) ALÍQUOTAS PARA O RGPS a partir de 01/03/2020 Até 1.039,00 7,5% De 1.039,01 até R$ 2.089,60 9% De R$ 2.089,60 até R$ 3.134,40 12% De R$ 3.134,40 até R$ 6.101,06 14% Fonte: Brasil, 2020. 4.2 Contribuição previdenciária patronal (CPP) A tabela a seguir apresenta as principais contribuições previdenciárias a cargo das empresas: Tabela 4 – Contribuições previdenciárias Contribuições das empresas Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) 8% Contribuição à Previdência Social (INSS) 20% Salário-Educação 2,5% SENAC/SESC 1,5% SENAI/SESI 1% 12 SEBRAE 0,6% INCRA 0,2% Risco de Acidente do Trabalho (RAT) 1%, 2% ou 3% • Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) – Trata-se de um depósito mensal feito obrigatoriamente pelo empregador em uma conta bancária da Caixa Econômica Federal no nome do empregado, não havendo desconto do empregado. É uma garantia do empregado em caso de demissão. • Contribuição à Previdência Social (INSS) – incide sobre o total das remunerações pagas pela empresa, devidas ou creditadas, no decorrer do mês, a segurados que prestem serviços (pessoas físicas); • Salário-Educação – é uma contribuição social prevista no art. 212, § 5º, da CF “para financiamento do ensino fundamental público. O Decreto 6.003/2006 trouxe novas regulamentações para o salário-educação” (Que Conceito, 2020). • Contribuição a Terceiros – O INSS poderá arrecadar e fiscalizar contribuição por lei devida a terceiros, desde que provenha de empresa, segurado, aposentado ou pensionista a ele vinculado, aplicando-se a essa contribuição, no que couber, o disposto nesta lei. Inclui: INCRA; SENAI; SESI; SENAC; SESC; SENAT; SEST; SEBRAE; SENAR; SESCOOP; DPC e FUNDO AEROVIÁRIO. • Riscos Ambientais de Trabalho (RAT) – destina-se ao financiamento da aposentadoria especial e incapacidade decorrente dos riscos ambientais do trabalho. Varia de acordo com o grau de risco de acidentes e moléstias ocupacionais, a saber:1 %, nos riscos de grau leve; 2 %, nos riscos de grau médio, e 3 %, nosriscos de grau máximo. TEMA 5 – PRINCIPAIS SITUAÇÕES PROBLEMÁTICAS TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIAS NAS EMPRESAS As principais situações problemáticas ou erros que ocasionam ações trabalhistas contra as empresas normalmente ocorrem devido ao desconhecimento da legislação. Já tratamos, no Tema 1 desta aula, sobre a necessidade de evitar riscos ou passivos trabalhistas pela ação de auditoria interna ou do Departamento Pessoal. Contudo, devido ao fato do Brasil ser 13 campeão em processos trabalhistas, com mais de dois milhões de casos por ano, faz-se relevante a observação dos principais pleitos trabalhistas (Desidério, 2016): 1 – Integração dos pagamentos efetuados extra oficialmente – Muitas empresas ainda pagam parte dos salários extra oficialmente, ou seja, os valores não transitam em folha de pagamento, portanto, não são considerados nos pagamentos os reflexos trabalhistas, recolhimentos previdenciários e depósitos fundiários; 2 – Ausência de pagamento de horas extras – As empresas ainda manipulam os cartões de ponto e simplesmente não pagam as horas extras laboradas pelos empregados. Estes por sua vez arquivam todo o tipo de prova referente à ausência do pagamento em questão; 3 – Excesso de jornada de trabalho – Prática comum nas empresas é a prorrogação da jornada de trabalho em mais de duas horas extras; 4 – Ausência de horário de intervalo para descanso – Muitos empregados não registram o horário de intervalo para descanso ou efetuam descanso inferior a 1 hora e as empresas não remuneram seus empregados por esse trabalho, uma vez que a súmula 437 do TST estabelece que deve ser paga como hora extra a hora inteira do intervalo e não apenas os minutos não descansados; 5 – Ausência de intervalo entre jornadas – Geralmente as empresas que praticam o excesso de jornada, por consequência possuem o risco em questão, uma vez que não respeitam o horário de intervalo de 11 horas entre jornadas; 6 – Preenchimento de cartão de ponto padronizado – Esta prática inviabiliza o cartão de ponto; este não pode ser considerado como documento nos processos trabalhistas; 7 – Pagamento “extraoficial” de horas extras – As empresas remuneram parte das horas extras em dinheiro ou por meio de transferência/depósito bancário, assim os valores não transitam em folha e não são objeto de tributações e pagamentos dos reflexos; 8 – Vínculo empregatício – Prática disseminada no mercado de trabalho, principalmente em algumas atividades; 9 – Ausência de pagamento de salário – As empresas possuem até o 5º dia útil para pagamento de salário; 10 – Ausência de pagamento de adicional de insalubridade; 11 – Ausência de pagamento de adicional de periculosidade; 12 – Ausência de respeito à estabilidade – Gravidez, licença médica, CIPA etc; 13 – Danos Morais – Isto é extremamente polêmico e atual. Para que não exista este item no pleito trabalhista, é essencial que as empresas tratem seus empregados com zelo e respeito; 14 – Ausência de anotação na Carteira de Trabalho no primeiro dia de início do trabalho; 15 – Ausência de anotação na Carteira de Trabalho das informações pertinentes ao contrato de experiência; 16 – Salário incorreto anotado na Carteira de Trabalho; 17 – Ausência de exame médico admissional; 18 – Ausência de autorização de descontos “extra legais” – Este é um item muito desconhecido pelas empresas, uma vez que estas geralmente não possuem este documento em arquivo, no entanto, a ausência deste documento torna ilícitos todos os descontos efetuados, estando a empresa sujeita ao ressarcimento de todos estes valores; 19 – Ausência de cumprimento das cláusulas das convenções e acordos coletivos; 20 – Ausência de gozo de férias – Muitas empresas ainda não permitem que seus funcionários gozem férias, portanto estes empregados só gozam as férias no “papel”, muitas vezes não recebendo 1/3 de suas férias; e 21 – Ausência de recolhimento do FGTS ou recolhimento parcial. 14 Além disso, dentre as outras situações problemáticas que merecem atenção devido à reforma trabalhista, serão abordados dois pontos: (1) Sistema de escrituração digital (exemplo: eSocial); e (2) terceirização da mão de obra. Em relação ao primeiro ponto, que constituem as mudanças decorrentes da implementação de um sistema de escrituração digital, dentre as questões que podem surgir, tem-se: • Mesmo que a empresa não queira mudar as práticas que não estão em conformidade com a legislação vigente, o profissional de Recursos Humanos tem a obrigação de avisar sobre as possíveis autuações que poderão vir com o sistema. Mesmo que não seja imediatamente, o Fisco tem 5 anos para enviar as autuações; • No caso do sistema de escrituração digital eSocial, não há oportunidade para erros com relação ao RAT (Riscos Ambientais de Trabalho), FAP (Fator Acidentário de Prevenção) e CNAE Preponderante (Classificação Nacional da Atividade Econômica). Isso decorre do fato de haver a devolução do processo em caso de informação errada; • Considerar a base legal do CNAE Preponderante conforme a Instrução Normativa RFB 971/09, artigo 72 é essencial para que esteja compatível com os cargos existentes na empresa e o CNAE Preponderante esteja registrado no CNPJ da empresa. Em relação à terceirização da mão de obra, a Lei n. 13.429/2017 regularizou a terceirização de mão de obra no Brasil. Anteriormente, havia apenas a súmula 331, que permitia sempre a terceirização de serviços de vigilância, segurança, limpeza e conservação. Com a Lei n. 13.429/17, houve a liberação de todas as atividades para a terceirização. Tanto de atividades meio como de atividades fins da empresa. Por exemplo, uma empresa de transporte pode terceirizar o transporte com outra empresa. Contudo, observa-se que a terceirização foi permitida para áreas e atividades e não para a empresa inteira, pois o que se denomina "pejotização" ainda é ilegal. Ocorre que a terceirização pode levar a altas demandas de rescisões (tanto empregado pedir demissão como empregador mandar embora) com o objetivo de terceirizar a mão de obra. Para evitar rescisões em massa, a Lei n. 13.467/17 trouxe que a recontratação de funcionário como terceirizado só pode ocorrer após 18 meses da rescisão, ou seja, a lei impede que um ex-empregado possa ser 15 terceirizado antes dos 18 meses de desligamento da tomadora de serviço. Portanto, atenção redobrada nestes pontos é essencial para as empresas. 16 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 7. ed. São Paulo. Atlas, 2010. AUDITORIA Interna. Portal de Contabilidade, 2019. Disponível em: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/obras/manualauditoriainterna.htm>. Acesso em: 26 fev. 2020. ATTIE, W. Auditoria: Conceitos e aplicações. São Paulo: Atlas, 2011. BDO T. Apostila nº 4 – Assistente I – Programa de Treinamento. São Paulo: BDO Trevisan, 2007. BRASIL. Constituição (1988). 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