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Cirurgia - Prof. Vitor PRINCÍPIOS DA CIRURGIA ONCOLÓGICA Cerca de 90% dos pacientes oncológicos vão precisar de alguma intervenção cirúrgica em algum momento (nem que seja uma simples biópsia até uma cirurgia radical curativa ou paliativa). São divididas didaticamente em 3 grandes grupos: preventiva, diagnóstica e terapêutica. PREVENTIVAS Cirurgias feitas para prevenir o aparecimento do câncer. Podem ser utilizadas nas seguintes situações: ● Conização do colo uterino (feitas em pacientes com displasia de alto grau, com carcinoma in situ). ● Colectomia na PAF (polipose adenomatosa familiar). Quando você tem o diagnóstico genético desse paciente, você espera ele chegar ao final da puberdade, com cerca de 18 anos de idade, e faz a cirurgia, pois sabe-se que 100% dos pacientes irão evoluir para câncer de intestino. ● Esôfago de Barrett. Lesão pré-maligna, com metaplasia intestinal. ● História familiar positiva para BRCA1 e 2 (caso da Angelina Jolie). ● Leucoplasia de cavidade oral (manchas brancas na mucosa que são lesões pré-malignas). No mundo ideal, deveria fazer mais cirurgias preventivas do que curativa, mas não é o que acontece devido a ineficácia do sistema preventivo de saúde. DIAGNÓSTICAS Caracterizadas pelas biópsias e para estadiamento. As biópsias podem ser excisionais ou incisionais. A diferença entre biópsia excisional e incisional é que na excisional retira-se a totalidade da lesão sem me preocupar com margem. Se tenho certeza diagnóstica, como um tumor de pele (melanoma), retira-se com margem, mas não necessariamente é preciso em todos os casos retirar a lesão com margem oncológica A biópsia incisional retira parte da lesão, sendo que a parte mais importante da biópsia incisional é levar junto tecido saudável. É necessário pegar parte da lesão e parte do tecido saudável pois o patologista necessita ver a transição entre o tecido saudável e a lesão PAAF (punção aspirativa por agulha fina) é uma biópsia citológica. Um esfregaço de células não é um diagnóstico anatomopatológico, mas sim citológico. Core biopsy - Trucut. É uma macro biópsia, não uma biópsia citológica (agulha mais grossa do que na PAAF). Congelações. Muito comum fazer no intraoperatório em tumores de ovário, por exemplo, nas quais o paciente tem um ovário aumentado, tira-se o ovário e envia para análise durante o intra operatório, e, uma vez diagnosticado pelo patologista como câncer, complementa-se a cirurgia oncológica, fazendo histerectomia, linfadenectomias. Não são feitas de rotina, geralmente as congelações são feitas em centros de referência Estadiamento: laparotomia para avaliação de tumor ovariano (biópsia de congelamento); laparoscopia para neoplasia gástrica (para ter certeza que o paciente não possui uma doença espalhada, como uma carcinomatose, e pode ser submetido aos ciclos de quimioterapia). É necessário entender que muitas cirurgias oncológicas não possuem fins terapêuticos, como a linfadenectomia axilar no câncer de mama, em que o procedimento da linfadenectomia não altera sobrevida, mas sim serve para estadiamento, por isso não é terapêutica Retirar todo o tumor atualmente é controverso, porque agentes quimioterápicos podem melhorar mais a sobrevida do que cirurgia. TERAPÊUTICAS Conceitos: tipos de disseminação, operabilidade e ressecabilidade, conhecer o estadio das doenças. Disseminação Continuidade: do órgão (tumor de esôfago que invade a cárdia e o fundo gástrico; tumor de reto que invadiu sigmóide). Contiguidade: tumor que invade estruturas adjacentes (tumor de reto que invade vagina; tumor de sigmóide que invade ovário e trompa do lado esquerdo). Requer ressecção em bloco. Hematogênica: célula tumoral tem mais chances de se implantar onde o fluxo sanguíneo é mais lento, de acordo com o caminho anatômico percorrido. Então se cai no sistema cava (como num sarcoma de coxa ou num tumor renal), a metástase é no pulmão (onde há troca de sangue arterial para venoso com redução do fluxo). Já no câncer de cólon, a célula tumoral vai para o sistema porta, originando metástase no fígado. Então a disseminação hematogênica é anatômica. *como explicamos um tumor de reto que origina as chamadas skip-metástases (para pulmão por exemplo)? A veia retal superior vai virar a mesentérica inferior. As veias retais média e inferior vão drenar para ilíacas. Isso que justifica que tumores de reto alto com facilidade produzam metástases que se disseminam pelo sangue lá no fígado. Essas células têm muita chance de ir embora pela via retal superior, que vira mesentérica inferior, que faz parte do sistema porta, que vai parar dentro do fígado. Já tumores de reto baixo, canal anal, períneo drenam para sistema ilíaco e metástases desses casos estarão em outro ambiente, o leito alvéolo capilar nos pulmões . Acompanhe o caminho e veja que faz sentido: A célula tumoral foi da veia retal média ou retal inferior para ilíaca interna, caiu na veia ilíaca comum, foi para veia cava inferior, subiu e entrou no átrio direito, passou para ventrículo direito e saiu pelas artérias pulmonares que foram para os pulmões e lá essa artéria se capilariza e ali que a metástase ocorre, na rede capilar. Linfática: alguns tumores recebem benefício da linfadenectomia, mas não são todos. Um sítio tumoral que é bem conhecido e protocolado é o do tumor gástrico, porém já no câncer de mama, melanoma, ovário, podem existir outros tratamentos melhores. Por implantes: usada na carcinomatose peritoneal Operabilidade e ressecabilidade Operabilidade: referentes ao paciente (aguentar ou não a cirurgia) Ressecabilidade: referentes ao tumor. Estadiamento É o primeiro passo no paciente oncológico para planejamento terapêutico e cirúrgico. Por exemplo, tumor de reto, em estágios iniciais, é encaminhado direto para a cirurgia, mas em estágios intermediários se faz primeiro radioterapia para posterior cirurgia. Os exames de estadiamento tem haver com o tipo de características que esse tumor tem, por exemplo um tumor de cólon, eu sei que pode disseminar-se para fígado e pulmão, então preciso de uma TC de abdome e tórax. Um sarcoma de coxa irá fazer disseminação apenas de pulmão, de forma eu TC de abdômen não é necessária. Pode até se pedir um US para confirmar ou descartar dúvidas, mas via de regra apenas uma TC de tórax é suficiente. Levar em conta: história clínica, exame físico, exames complementares e anatomopatológico. TNM (tamanho, linfonodos e metástase) possui importância prognóstica e de padronização. As letras c, s, p, y e algumas outras são associadas ao TNM para apontar onde foi feito o estadiamento, de modo que o “c” é de um estadiamento clínico, “s” cirúrgico (o que foi visto durante cirurgia), “p” é patológico e o “y” é o estadiamento pós neoadjuvância. OBJETIVOS DA CIRURGIA ONCOLÓGICA ● curativas ● aumento de sobrevida ● paliativas Cirurgia radical: Ressecção do tumor primário com margens adequadas com linfadenectomia locorregional, quando indicado. Cirurgia radical ampliada: ressecção em bloco de estruturas adjacentes comprometidas. De acordo coma visão do cirurgião, a cirurgia pode ser classificada em: R0: acredita que não deixou doença. R1: risco de doença microscópica. R2: risco de doença macroscópica. Tripé do tratamento oncológico: cirurgia, quimio e radio. A maioria necessita de pelo menos 2 em algum momento. Nada cura mais que uma cirurgia oncológica bem realizada. O cirurgião oncológico ainda é o principal fator prognóstico do paciente. É comprovado melhores resultados quando operados em centros oncológicos ou por especialista. Cuidados no intraoperatório: ● cuidados na disseminação na ferida cirúrgica. ● cirurgia centrípeta (tudo que vai “grudando”, sai junto, mexendo o menos possível no tumor) ● ligadura precoce dos vasos na certeza de tumor ressecável. ● evitar manipulação do tumor (por risco de ruptura tumoral, que pode acarretar implante tumoral com maior risco) ● lavagem do leito cirúrgico após ressecção ● troca de luva após a parte de ressecção. Cirurgias paliativas: aliviar a dor, obstrução maligna, tumores sangrantes, citorredução, higiênica.
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