Prévia do material em texto
1 Maria Luiza Fernandes - Tutoria Câncer de Pulmão RESUMO O carcinoma pulmonar é a principal causa de morte relacionada com câncer em todo o mundo. Cerca de 85% dos casos estão relacionados com o tabagismo. Os sintomas podem incluir tosse, desconforto torácico, perda ponderal e, menos comumente, hemoptise; mas muitos pacientes apresentam doença metastática sem nenhum sintoma clínico. O diagnóstico é tipicamente feito por radiografia de tórax ou por tomografia computadorizada (TC) e confirmado por biópsia. Dependendo da fase da doença, o tratamento requer cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia. Durante as várias últimas décadas, o prognóstico para um paciente com câncer pulmonar era ruim, com apenas 15% dos pacientes sobrevivendo por > 5 anos a partir do momento do diagnóstico. Em pacientes com estágio IV da doença (metástases), a taxa de sobrevida geral em 5 anos era < 1%. Entretanto, os desfechos melhoraram devido à identificação de certas mutações que podem ser alvo de tratamento. O câncer de pulmão é o segundo mais comum em homens e mulheres no Brasil (sem contar o câncer de pele não melanoma). O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. A taxa de sobrevida relativa em cinco anos para câncer de pulmão é de 18% (15% para homens e 21% para mulheres). Apenas 16% dos cânceres são diagnosticados em estágio inicial (câncer localizado), para o qual a taxa de sobrevida de cinco anos é de 56%. O QUE AUMENTA O RISO? O tabagismo é a principal causa de câncer de pulmão. O risco de ocorrência do câncer de pulmão e de morte pela doença aumenta quanto maior a intensidade da exposição ao tabagismo. A mortalidade por câncer de pulmão entre fumantes é cerca de 15 vezes maior do que entre pessoas que nunca fumaram, enquanto entre ex-fumantes é cerca de quatro vezes maior. A exposição à poluição do ar, infecções pulmonares de repetição, deficiência e excesso de vitamina A, doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica), fatores genéticos e história familiar de câncer de pulmão favorecem ao desenvolvimento desse tipo de câncer. Idade avançada: a maior parte dos casos afeta pessoas entre 50 e 70 anos. Outros fatores de risco são: exposição ocupacional a agentes químicos ou físicos (asbesto, sílica, urânio, cromo, agentes alquilantes, radônio entre outros), água potável contendo arsênico, altas doses de suplementos de betacaroteno em fumantes e ex-fumantes. Os trabalhadores rurais, da construção civil, curtume, fundição de metais, indústrias (alumínio, borracha, cimento e gesso, gráfica e papel, têxtil, metalúrgica, metal pesado, nuclear, eletroeletrônicos, aeronaves, aparelhos médicos, vidro; fertilizantes), mineração, fábrica de baterias, produção de pigmentos, bombeiros hidráulicos, encanadores, eletricistas, mecânicos de automóvel, mineiros, pintores, soldadores, sopradores de vidro, trabalho com isolamento, em navios e docas, conservação do couro, limpeza e manutenção podem apresentar risco aumentado de desenvolvimento da doença. PREVENÇÃO Não fumar. Evitar o tabagismo passivo. Evitar a exposição a agentes químicos (como arsênico, asbesto, berílio, cromo, radônio, urânio, níquel, cádmio, cloreto de vinila e éter de clorometil), presentes em determinados ambientes de trabalho. EPIDEMIOLOGIA Em 2014, foram estimados 224.210 novos casos de câncer de pulmão diagnosticados nos EUA e 159.260 pessoas morreram da doença. A incidência do câncer de pulmão caiu entre homens ao longo das 2 últimas décadas e se estabilizou e começou a declinar levemente entre as mulheres. FATORES GENÉTICOS As células epiteliais respiratórias necessitam de exposição prolongada às substâncias desencadeadoras de câncer e acúmulo de múltiplas mutações genéticas antes de se tornarem neoplásicas (um efeito chamado cancerização de campo). Em alguns pacientes com câncer de pulmão, as mutações secundárias ou adicionais nos genes que estimulam o crescimento celular causam anormalidades na sinalização de receptores de fator de crescimento e inibem a apoptose e podem contribuir para a proliferação descontrolada de células anormais. Além disso, mutações que inibem os genes supressores de tumores podem provocar câncer. Genes como esses, que são os principais responsáveis pelo câncer de pulmão, são chamados ativadores de mutação (oncogênicos). Embora os ativadores de mutação possam causar ou contribuir para o câncer de pulmão entre os fumantes, essas mutações são particularmente susceptíveis de serem uma causa de câncer de pulmão entre os não tabagistas. SINTOMAS Cerca de 25% dos carcinomas pulmonares são assintomáticos, sendo detectados incidentalmente com exames de imagem do tórax. Os sinais e sintomas podem resultar de progressão do tumor local, disseminação regional ou metástases a distância. Síndromes paraneoplásicas e sintomas constitucionais podem ocorrer em qualquer estágio da doença. Embora os sintomas não sejam específicos da classificação ou da histologia do câncer, algumas complicações podem ser mais prováveis em diferentes tipos. TUMOR LOCAL O tumor local causa tosse e, menos comumente, dispneia em decorrência de obstrução das vias respiratórias , atelectasia pós- obstrutiva ou pneumonia e perda de parênquima devido à disseminação linfangítica . Pode ocorrer febre na vigência de pneumonia pós-obstrutiva. Até metade dos pacientes refere dor torácica localizada ou vaga. A hemoptise é menos comum e a perda sanguínea é mínima, exceto em situações raras em que o tumor corrói uma grande artéria, provocando hemorragia maciça e frequentemente morte por asfixia ou exsanguinação. DISSEMINAÇÃO REGIONAL A disseminação regional pode causar dor torácica pleurítica ou dispneia por derrame pleural , rouquidão decorrente de invasão tumoral do nervo laríngeo recorrente e dispneia e hipóxia em decorrência de paralisia diafragmática pelo comprometimento do nervo frênico . 2 Maria Luiza Fernandes - Tutoria SÍNDROME DA VEIA CAVA SUPERIOR Resulta da compressão ou invasão da veia cava superior e pode desencadear cefaleia ou sensação de “cabeça cheia”, edema facial ou das extremidades superiores, rubor e falta de ar quando na posição supina , veias dilatadas no pescoço, face e tronco superior e rubor facial e no tronco (pletora). SÍNDROME DE PANCOAT Ocorre quando tumores apicais , em geral CPCNP (tumor de Pancoast), invadem o plexo braquial, a pleura ou arcos costais , desencadeando dor no ombro ou nas extremidades superiores e fraqueza ou atrofia da mão ipsolateral. A síndrome de Pancoast também pode incluir a síndrome de Horner (interrupção do trajeto dos nervos de um lado do cérebro até o rosto e os olhos). SÍNDROME DE HORNER (ptose, miose e anidrose) Surge quando há comprometimento da cadeia simpática paravertebral ou do gânglio estrelado cervical. A disseminação do tumor para o pericárdio pode ser assintomática ou provocar pericardite constritiva ou tamponamento cardíaco . Em casos raros, a compressão esofágica pelo tumor leva à disfagia. METÁSTASES As metástases eventualmente provocam sintomas que variam de acordo com a localização. Metástases podem se disseminar para o: ❖ Fígado, causando dor, saciedade precoce, náuseas e, essencialmente, insuficiência hepática ❖ Cérebro, causando mudanças comportamentais, confusão mental, afasia, convulsões, paresia (perda parcial da motricidade) ou paralisia, náuseas e vômitos e, por fim, coma e morte ❖ Ossos, causando dor intensa e fraturas patológicas ❖ Glândulas adrenais, raramente causando insuficiência adrenal SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS As síndromes paraneoplásicas são sintomas que ocorrem em locais distantes de um tumor ou de suas metástases. As síndromes paraneoplásicas comuns em pacientes com câncer depulmão incluem: Hipercalcemia (em pacientes com carcinoma de células escamosas, que ocorre porque o tumor produz proteína relacionada com o hormônio paratireoideo) Síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH) Baqueteamento digital com ou sem osteoartropatia pulmonar hipertrófica Hipercoagulabilidade com tromboflebite superficial migratória (síndrome de Trousseau) Síndrome semelhante à miastenia (síndrome de Eaton-Lambert) Síndrome de Cushing Várias outras síndromes neurológicas Outras síndromes neurológicas incluem neuropatias, encefalopatias, encefalites, mielopatias e doenças cerebelares. Os mecanismos das síndromes neuromusculares envolvem a expressão tumoral de autoantígenos, com produção de anticorpos, mas a causa da maioria das outras síndromes é desconhecida. CLASSIFICAÇÃO O câncer de pulmão é classificado em 2 categorias principais: ❖ Câncer pulmonar de células pequenas (CPCP), cerca de 15% dos casos. ❖ Câncer pulmonar de células não pequenas (CPCNP), cerca de 85% dos casos. O CPCP é altamente invasivo e ocorre quase sempre em tabagistas. Ele cresce rapidamente e cerca de 80% dos pacientes têm doença metastática no momento do diagnóstico . O comportamento clínico do CPCNP é mais variável e depende do tipo histológico, mas cerca de 40% dos pacientes terão doença metastática fora do tórax no momento do diagnóstico . Identificaram-se mutações de ativação (oncogênicas) principalmente no adenocarcinoma (tumor maligno de um epitélio glandular ou cuja forma se assemelha à de uma glândula), embora tenha-se tentado identificar mutações semelhantes no carcinoma de células escamosas. Outras características das 2 categorias (p. ex., a localização, os riscos, o tratamento e as complicações) também variam. DIAGNÓSTICO ❖ Radiografia de tórax ❖ TC ou PET-TC combinada ❖ Exame citopatológico do líquido pleural ou do escarro ❖ Normalmente, biópsia guiada por broncoscopia e biópsia de núcleo ❖ Às vezes, biópsia de pulmão aberto EXAMES DE IMAGEM Raio-X do tórax, complementado por tomografia computadorizada (TC) são os exames iniciais para investigar uma suspeita de câncer de pulmão. Em pacientes assintomáticos sob risco de câncer de pulmão ou com sintomas precoces sugestivos (emagrecimento, tosse persistente, padrão de tosse diferente do habitual) a realização do Raio-X de tórax é de grande valor. Ele pode mostrar anormalidades claramente definidas, como uma massa única ou massas multifocais ou um nódulo pulmonar solitário, hilo aumentado, mediastino aumentado, estreitamento traqueobrônquico, atelectasia, infiltrados parenquimatosos que não desaparecem, lesões cavitárias ou espessamento ou derrame pleural inexplicáveis. Esses achados são sugestivos, mas não diagnósticos, de carcinoma pulmonar e exigem o seguimento com tomografia computadorizada de alta resolução (TCAR), TC ou PET- TC combinada e confirmação citopatológica. TC mostra muitos padrões e aspectos característicos que podem sugerir fortemente o diagnóstico. A TC também orienta a biópsia por agulha do núcleo das lesões acessíveis e é útil para o estadiamento. Se uma lesão encontrada em uma radiografia 3 Maria Luiza Fernandes - Tutoria simples tem alta probabilidade de ser decorrente de câncer de pulmão, pode-se realizar uma PET-TC para ajudar no diagnóstico e estadiamento. As imagens da PET podem ajudar a identificar a diferenciar processos inflamatórios e malignos. CITOLOGIA A citologia do escarro ou do líquido pleural é o método menos invasivo. Nos pacientes com tosse produtiva, os espécimes do escarro obtidos ao despertar podem conter altas concentrações de células malignas, mas o rendimento deste método é de < 50% como um todo. O líquido pleural é outra fonte conveniente de células; um derrame maligno é sinal de prognóstico ruim e indica doença em estágio avançado. Em geral, os resultados falso-negativos de citologias podem ser minimizados pela obtenção de grande volume de escarro ou líquido pleural o mais cedo possível no dia, enviando-se os espécimes imediatamente ao laboratório de patologia para minimizar atrasos no processamento porque esses atrasos levam à decomposição celular. Estudos moleculares (genéticos) podem ser feitos em grânulos celulares tumorais embebidos em parafina a partir do líquido pleural se este for centrifugado e o grânulo celular for preservado a tempo. PROCEDIMENTOS BIÓPSIA PERCUTÂNEA É o próximo procedimento menos invasivo . É mais útil para os locais de metástases (linfonodos supraclaviculares ou outros periféricos, pleura, fígado e adrenais) do que para as lesões pulmonares. Os riscos incluem uma probabilidade de 20 a 25% de pneumotórax (presença de ar entre as duas camadas da pleura) (principalmente em pacientes com enfisema significativo) e o risco de se obter um resultado falso negativo. BRONCOSCOPIA É o procedimento usado com mais frequência para o diagnóstico de câncer de pulmão. Na prática, a broncoscopia é frequentemente realizada em associação ou em substituição a procedimentos menos invasivos, porque os resultados diagnósticos são maiores e porque a broncoscopia é importante para o estadiamento. A combinação de lavado, escovação e biópsias das lesões endobrônquicas visíveis e de linfonodos paratraqueais, subcarinais, mediastinais e hilares frequentemente fornece o diagnóstico tecidual. Pode-se fazer biópsia endobrônquica guiada por ultrassom (EBUS) durante a broncoscopia e tem um resultado excelente. EBUS é atualmente o método preferido para o estadiamento do mediastino, exceto nos casos em que não é possível obter uma amostra dos linfonodos devido a considerações anatômicas. MEDIASTINOCOPIA Exame padrão-ouro para avaliar os linfonodos mediastinais, mas é um procedimento de alto risco que normalmente é usado antes da cirurgia torácica para confirmar ou excluir a presença de tumor nos linfonodos mediastinais. BIÓPSIA PULMONAR ABERTA Realizada por meio de toracotomia aberta ou utilizando auxílio de vídeo, quando métodos menos invasivos não propiciarem o diagnóstico de pacientes cujas características clínicas e aspectos radiográficos sugerirem fortemente um tumor passível de ressecção. Biópsia de núcleo é preferível à biópsia por agulha final porque a segunda obtém muito pouco tecido para estudos genéticos precisos. A broncoscopia (endoscopia respiratória) deve ser feita para avaliar a árvore traqueobrônquica e, eventualmente, permitir a biópsia (retirada de pedacinhos do tumor com uma agulha para exame). É fundamental obter um diagnóstico de certeza pela patologia. Uma vez obtida a confirmação da doença, é feito o estadiamento, que avalia o estágio de evolução, ou seja, verifica se a doença está restrita ao pulmão ou disseminada para outros órgãos. O estadiamento é feito por meio de vários exames, como biópsia pulmonar guiada por tomografia, biópsia por broncoscopia, tomografia de tórax, ressonância nuclear, PET-CT, cintilografia óssea, mediastinoscopia, ecobroncoscopia, entre outros. PROGNÓSTICO Para CPCP, o prognóstico geral é ruim. O tempo de sobrevida médio para a doença em estágio limitado é de 20 4 Maria Luiza Fernandes - Tutoria meses, com uma taxa de sobrevida em 5 anos de 20%. Os pacientes com CPCP em estágio extensivo têm prognóstico muito pior, com índice de sobrevida em 5 anos < 1%. Para CPCNP, a taxa de sobrevida em 5 anos varia de acordo com o estádio, de 60 a 70% para os pacientes com estádio I a < 1% para aqueles com doença no estádio IV. Em média, os pacientes com CPCNP metastático não tratados sobrevivem 6 meses, ao passo que a média de sobrevida para os pacientes tratados é de cerca de 9 meses . TRATAMENTO O tratamento do câncer de pulmão requer a participação de um grupo multidisciplinar, formado por oncologista, cirurgião torácico, pneumologista, radioterapeuta,radiologista intervencionista, médico nuclear, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social. Para o adequado planejamento do tratamento, é necessário fazer o diagnóstico histológico e o estadiamento para definir se a doença está localizada no pulmão ou se existem focos em outros órgãos. Para os pacientes com doença localizada, e, particularmente, sem linfonodo (gânglio) aumentado (íngua) no mediastino (região entre os dois pulmões), o tratamento é cirúrgico, seguido ou não de quimioterapia e/ou radioterapia . Para aqueles com doença localizada no pulmão e nos linfonodos, o tratamento é feito com radioterapia e quimioterapia ao mesmo tempo. Em pacientes que apresentam metástases a distância, o tratamento é com quimioterapia ou, em casos selecionados, com medicação baseada em terapia-alvo . Portanto, o tratamento do câncer de pulmão depende do tipo histológico e do estágio da doença, podendo ser tratado com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, e/ou modalidades combinadas. CIRURGIA A cirurgia, quando possível, consiste na retirada do tumor com uma margem de segurança, além da remoção dos linfonodos próximos ao pulmão e localizados no mediastino. É o tratamento de escolha por proporcionar melhores resultados e controle da doença. Cerca de 20% dos casos são passiveis de tratamento cirúrgico. Porém, na grande maioria (80-90% dos casos) a cirurgia não é possível na ocasião do diagnóstico, devido à extensão da doença (estágio avançado) ou à condição clínica debilitada do paciente. As cirurgias para tratamento do câncer de pulmão podem ser: ❖ SEGMENTECTOMIA E RESSECÇÃO EM CUNHA: Quando se retira uma parte pequena do pulmão (somente o segmento ou parte do segmento que envolve o tumor), reservada para pacientes com tumores pequenos e que não suportam cirurgias maiores por apresentarem idade ou condições clínicas e/ou respiratórias limitadas. ❖ LOBECTOMIA: É a cirurgia de escolha para o tratamento do câncer de pulmão. Retira-se todo o lobo pulmonar (grupo de segmentos), onde o tumor está situado. É o mais adequado por remover toda a doença de forma anatômica. ❖ PNEUMECTOMIA: É a retirada de um pulmão inteiro (suas indicações são limitadas e restritas). Procedimento com morbidade maior e não tolerado por alguns pacientes. QUIMIOTERAPIA O tratamento quimioterápico visa a destruir as células cancerígenas, assim como reduzir o crescimento do tumor ou amenizar os sintomas da doença. Pode apresentar efeitos colaterais indesejáveis, não sendo tolerada por todos os pacientes. A quimioterapia adjuvante após a cirurgia agora é prática padrão para pacientes com doença em estádio II ou III e possivelmente também para pacientes com doença em estádio IB e tumores > 4 cm. A decisão de usar a quimioterapia adjuvante depende das comorbidades do paciente e da avaliação de riscos. Um regime de quimioterapia comumente utilizado é um dupleto baseado em cisplatina (combinação de cisplatina e outro fármaco quimioterapêutico, como vinorelbina, docetaxel, paclitaxel). A quimioterapia neoadjuvante (pré-operatória) na NSCLC em estágio inicial também é comumente usada. É composta por 4 ciclos de cisplatina-dupleto. Em pacientes que não podem receber cisplatina, esta pode ser substituída pela carboplatina. Vários estudos estão examinando o tratamento neoadjuvante com fármacos imunoterápicos. RADIOTERAPIA Utiliza radiação para destruir as células cancerígenas. Pode ser utilizada antes ou após a cirurgia . Também pode ocasionar uma série de efeitos colaterais (como pneumonite e esofagite). Tem o risco de desencadear pneumonite por radiação quando grandes áreas do pulmão são expostas a doses elevadas de radiação no decorrer do tempo. Pode surgir pneumonite por radiação até 3 meses depois do tratamento. Tosse, dispneia, febre de baixa intensidade ou dor torácica pleurítica podem sinalizar a condição, da mesma forma que estertores crepitantes ou atrito pleural na ausculta pulmonar. A radiografia de tórax pode ter resultados inespecíficos e a TC pode revelar infiltração inespecífica sem massa distinta. Com frequência, o diagnóstico é de exclusão. Trata-se a pneumonite por radiação com corticoides ajustados ao longo de várias semanas e broncodilatadores para alívio dos sintomas. TERAPIA-ALVO Trata-se de uma nova forma de tratamento de câncer, frequentemente usada em pacientes cujo tumor tenha determinadas características moleculares (genéticas). Essas medicações têm sido reservadas para o tratamento de doenças avançadas. Novos estudos estão em andamento para selecionar o grupo de pacientes que melhor se beneficiará deste tratamento. CPCP O CPCP em qualquer estágio costuma ser responsivo ao tratamento no início, mas em geral as respostas são de curta duração. Administra-se quimioterapia, com ou sem radioterapia, em função do estado da doença. Em geral, utilizam-se regimes de quimioterapia com etoposide e composto de platina (cisplatina ou carboplatina), bem com outros fármacos, como irinotecano, topotecano, alcaloides da vinca (vimblastina, vincristina, vinorelbina), fármacos alquilantes (ciclofosfamida, ifosfamida), doxorrubicina, taxanos (docetaxel, paclitaxel) e gencitabina. DOENÇA EM ESTÁDIO LIMITADO Quando a doença está confinada a um hemitórax, a radioterapia melhora ainda mais os desfechos clínicos; essa resposta à radioterapia era a base que definia a doença em estádio limitado. O uso da radiação craniana profilática para prevenir metástases cerebrais também é defendido em certos casos ; micrometástases são comuns no CPPC, e a quimioterapia tem menos capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica. 5 Maria Luiza Fernandes - Tutoria DOENÇA EM ESTÁGIO EXTENSIVO Tratamento é baseado na quimioterapia, em vez da radioterapia, embora a radioterapia seja frequentemente utilizada como tratamento paliativo para metástases ósseas ou cerebrais. Em pacientes com uma resposta excelente à quimioterapia, às vezes utiliza-se irradiação profilática do crânio, bem como no CPCP em estágio limitado, para impedir o crescimento do CPCP no cérebro. CPCNP O tratamento do CPCNP normalmente envolve a avaliação da elegibilidade para a cirurgia, seguida pela opção por cirurgia, quimioterapia, radioterapia, ou uma combinação de modalidades conforme apropriado, dependendo do tipo e do estágio do tumor. Para a doença nos estágios I e II, a abordagem-padrão é a ressecção cirúrgica, com lobectomia ou pneumonectomia, em combinação à coleta de espécimes dos linfonodos mediastinais ou dissecção completa. Consideram-se as ressecções menores, envolvendo segmentectomia e ressecção em cunha, para os pacientes com baixa reserva pulmonar. ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE PULMÃO DE NÃO PEQUENAS CÉLULAS O estadiamento descreve aspectos do câncer, como localização, se disseminou, e se está afetando as funções de outros órgãos do corpo. Conhecer o estágio do tumor ajuda na definição do tipo de tratamento e a prever o prognóstico do paciente. O câncer de pulmão de não pequenas células inicial é denominado estágio 0 também denominado carcinoma in situ e, em seguida, os estágios variam de 1 a 4 , onde o estágio 4 significa que a doença está mais disseminada. E dentro de um estágio, uma letra anterior significa um estágio inferior. SISTEMA DE ESTADIAMENTO TNM O sistema de estadiamento utilizado para o câncer de pulmão de não pequenas células é o sistema TNM da American Joint Committee on Cancer, que utiliza três critérios para avaliar o estágio do câncer: o próprio tumor, os linfonodos regionais ao redor do tumor e se o tumor se espalhou para outras partes do corpo. TNM é abreviatura de tumor (T), linfonodo (N) e metástase (M): T. Indica o tamanho do tumor primário e até onde se disseminou . N. Descreve se existe disseminação da doença para os linfonodos próximos. M. Indica se existe presençade metástase em outras partes do corpo. Números ou letras após o T, N e M fornecem mais detalhes sobre cada um desses fatores. Números mais altos significam que a doença está mais avançada. Depois que as categorias T, N e M são determinadas, essas informações são combinadas em um processo denominado estadiamento geral . O sistema descrito para o câncer de pulmão de não pequenas células é de janeiro de 2018. Ele usa geralmente o estadiamento clínico, que é baseado nos resultados do exame físico, biópsias e exames de imagem. Se a cirurgia é realizada, o estadiamento patológico é determinado baseado nos resultados das análises da amostra cirúrgica. BIOLOGIA MOLECULAR A carcinogênese pulmonar é um processo caracterizado pelo acúmulo de sucessivas anormalidades genéticas e epigenéticas, resultando na seleção de clones celulares com capacidade de crescimento descontrolado no tecido respiratório. Proto-oncogenes, genes constitucionais presentes nos cromossomos normais, são necessários para uma série de funções fisiológicas, como crescimento normal e regeneração tecidual. Sob algumas circunstâncias, como estímulo químico, físico ou viral, esses genes podem ser alterados em localização, composição de bases, quantidade ou função, transformando-se em oncogenes, definidos como aqueles capazes de codificar proteínas que dirigem a célula para a imortalidade, replicação desordenada ou invasão tecidual. Genes supressores, que codificam proteínas com funções de controle e supressão do crescimento celular, também são suscetíveis aos mesmos agentes externos que os proto-oncogenes; alterações em seu conteúdo podem comprometer sua função supressora, permitindo o cresci- mento desordenado de linhagens celulares anômalas, dando início ao processo neoplásico. A proliferação celular, portanto, depende da interação entre diversos genes, além de fatores de crescimen- to celular. O equilíbrio entre esses fatores é o responsável pela estabilidade tecidual. Existem vários genes envolvidos na carcinogênese pulmonar. Entre os mais estudados estão os da família ras (K-ras, N-ras, H-ras), myc (C-myc, N-myc, L-myc) e erb B2, os oncogenes dominantes, e os genes supressores p53, Rb e p21. Proteínas tirosina-cinases (TK) são complexos enzimáticos associados ao domínio intracitoplasmático de diversos receptores transmembrana de fatores de crescimento celular e controlam o 6 Maria Luiza Fernandes - Tutoria processo de transdução intracelular do estímulo desses fatores de crescimento, participando de processos regulatórios de diversas funções celulares e teciduais normais, como proliferação, sobrevida, apoptose, permeabilidade, migração, adesão, entre outros. Alguns desses receptores de fatores de crescimento associados à tirosina-cinase são os receptores do fator de crescimento epidérmico, EGFR (HER1 ou erbB1), erbB2 (HER- 2/neu), erbB3 (HER30 e erbB4 (HER4). Nas células malignas ou genes codificados por esses receptores, escapam do controle inibitório por meio da amplificação, mutação ou rearranjo estrutural. No momento do diagnóstico, a maioria dos carcinomas pulmonares de células não-pequenas tem expressão aumentada de EGFR, variando de 15 a 80%, dependendo do critério de detecção. A angiogênese é um processo fisiológico necessário para cicatrização, reprodução e desenvolvimento embriológico, e é regulada por fatores estimulantes e inibitórios; o balanço entre eles determina se o tumor é viável e quão invasivo é seu comportamento. O VEGF é o fator pró-angiogênico mais importante. Existem 4 isoformas que se ligam a 3 receptores (VEGFR 1,2,3), encontrados na superfície das células endoteliais. Ligando- se ao receptor, deflagra-se a ativação da proteína cinase por meio da fosforilação de seu resíduo tirosina e começa a sinalização da cascata que inicia a angiogênese. O VEGF aumenta a permeabilidade vascular, facilitando não apenas a invasão vascular, como também a disseminação metastática hematogênica. Outros efeitos decorrem do aumento do aporte de nutrientes ao tumor (pela neoformação vascular) e da inibição da apoptose de células endoteliais pela indução da expressão do bcl215. O conhecimento dos processos moleculares envolvidos na tumorigênese, crescimento tumoral, invasão e metástase tem recentemente embasado a pesquisa por agentes direcionados a esses alvos moleculares específicos, que serão discutidos adiante. ETIOLOGIA E PATOGENIA Os carcinomas relacionados com o tabagismo podem surgir pelo acúmulo de sucessivas alterações genéticas.